Número de mortes por Covid no Brasil ainda é alto e se equipara à queda de 6 Boeings em 2025
Patrícia Pasquini / FOLHA DE SP
Cinco anos após o início da pandemia de Covid, o Brasil ainda registra um índice alto de mortes pela doença.
De janeiro a 1º de março de 2025, a Covid matou 761 pessoas no país. É o que mostram os dados do Ministério da Saúde analisados pela plataforma SP Covid Info Tracker.
O número equivale à queda de seis Boeings 737-700, em média. A aeronave possui 126 assentos.
São 13 mortes por dia e 89 por semana. O dado é 57,46% menor se comparado ao total do mesmo período do ano passado, quando houve 1.789 mortes — cerca de 30 por dia e 209 por semana.
Em São Paulo, o cenário segue a mesma tendência. Em 2025, até 1º de março, foram 262 mortes —como se dois desses Boeings tivessem caído no estado.
São cerca de quatro óbitos diários e 31 por semana. O número é 43,04% menor se comparado ao total do mesmo período de 2024, quando foram registrados 460 mortes — oito por dia e 53 por semana. Os dados do estado de São Paulo são da Fundação Seade.
Ao observar as nove últimas semanas epidemiológicas de 2024 e as nove iniciais de 2025, é possível constatar um aumento de 21% nas mortes ocorridas no Brasil. O percentual sobe para 58 quando é considerado apenas o estado de São Paulo.
De 2020 até 1º de março de 2025, o país já registrou 715.295 mortes por Covid. A primeira vítima da doença foi a diarista Rosana Urbano, 57. Um dia antes do óbito, ela visitou a mãe, Gertrudes, internada com pneumonia no Hospital Municipal Doutor Cármino Caricchio, no Tatuapé, zona leste da capital paulista.
Quando soube que a mãe estava intubada, a diarista passou mal e foi internada no mesmo local. Morreu às 19h15 do dia 12 de março de 2020, após uma parada cardiorrespiratória. Ela tinha diabetes e hipertensão.
Para Wallace Casaca, coordenador da plataforma SP Covid-19 Info Tracker, a doença continua perigosa. Os números estão altos e a expectativa é de aumento.
"Não é possível fazer comparações com o início da pandemia, quando não tínhamos nenhuma arma para nos proteger contra a doença. No entanto, é possível afirmar que esses números são elevados. Se você pegar o dado semanal de 2025, o número de óbitos pela doença é quase o equivalente ao que morre na queda de um avião de médio porte", diz Casaca.
"No ano passado, a maior parte dos óbitos ocorreu nos primeiros três meses, um período normalmente com pouca circulação de vírus respiratórios, mas marcado por festas, como a virada de ano e o Carnaval, além da presença de uma subvariante muito agressiva no Brasil, o que também foi relevante", afirma o pesquisador.
Renato Grinbaum, consultor da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) ressalta os grupos vulneráveis correm maior risco. São os maiores de 60 anos, doentes crônicos, cardíacos e imunodeprimidos. Para os demais, com o esquema vacinal completo, a probabilidade de evoluir para a gravidade e morte é baixa.
"Como nós já tivemos vacinação prévia e episódios prévios do coronavírus, criamos uma imunidade que faz com que os episódios subsequentes sejam mais leves. Hoje, encontramos todos os dias com pessoas com Covid e que são formas mais leves porque o sistema imune já está preparado e conhece previamente o vírus", explica Grinbaum.
"O importante é a proteção dos vulneráveis. Se você tem um familiar ou um conhecido idoso ou vulnerável, você não vai, com resfriado, procurar essa pessoa por mais amiga que ela seja. Você terá que higienizar as mãos, usar máscara perto dela. Tem que ter um cuidado especial", diz o infectologista da SBI.
Na opinião de André Bon, infectologista do Hospital Nove de Julho, a doença não mudou em relação a 2020, quando surgiu. A diferença é o arsenal terapêutico para tratar e prevenir.
"O que mudou de maneira significativa é o nosso acesso e a disponibilidade de ferramentas de prevenção como vacinas que são atualizadas periodicamente com as cepas circulantes. Temos acesso a medicações, inclusive, através do SUS, para tratamento de Covid leve e moderada, e também para a Covid grave —essas não no SUS, mas amplamente através da rede privada", afirma Bon.
"Os fatores de risco para desenvolvimento e evolução para formas graves nas pessoas não vacinadas continua exatamente igual a 2020. O número de óbitos no Brasil ainda é alto, mas é muito melhor do que poderia ser se a gente não tivesse vacina e tratamento", reforça.
Estar com o esquema vacinal em dia, com os imunizantes mais recentes, é essencial para evitar complicações e mortes, segundo Bon.
"O que sabemos de evidência é que quem está vacinado com bivalentes, por exemplo, que são as vacinas mais recentes, tem metade da chance de morrer de Covid do que as pessoas que tomaram só as vacinas monovalentes, mais antigas", explica o infectologista do Hospital Nove de Julho.
André Bon reforça que as comorbidades são importantes, mas o principal fator de risco para óbito na Covid é a idade, em especial, acima de 80 anos. Mas a cada década acima dos 50, o risco aumenta de maneira significativa. "A estimativa é que o risco de óbito de um paciente acima de 85 anos seja 340 vezes maior do que quem tem de 18 a 29 anos", afirma.
A Covid não é maisuma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional desde 5 de março de 2023, pouco mais de três anos do seu início. A pandemia foi declarada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) no dia 11 de março de 2020.
O projeto Saúde Pública tem apoio da Umane, associação civil que tem como objetivo auxiliar iniciativas voltadas à promoção da saúde
Evandro reúne vereadores do PDT e articula conversão de mais um nome para a base
O prefeito Evandro Leitão (PT) recebeu, na manhã desta segunda-feira (10), a bancada de vereadores de Fortaleza do PDT para reunião no Paço Municipal. No encontro, o petista indicou a articulação para incorporar mais um pedetista à sua base na Câmara de Fortaleza. Agora, a sigla comandada pelo ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT), tem apenas um nome no rol de opositores à gestão do PT na Capital.
A conversa no Paço Municipal contou com a presença do deputado federal e presidente nacional interino do PDT, André Figueiredo, e do chefe de gabinete do prefeito, Eudes Bringel (PSD). Já entre os vereadores do partido, todos participaram: Paulo Martins, Marcel Colares, Jânio Henrique, Kátia Rodrigues, Luciano Girão, Adail Júnior, Gardel Rolim e PP Cell.
Do grupo, a participação de Jânio Henrique e PP Cell chamou atenção. Até então, os dois eram referenciados pelos colegas como parte da oposição, contudo, o primeiro apareceu na foto ao lado de Evandro, sinalizando uma adesão à base.
"Eu, particularmente, nunca falei que era oposição ou situação, estava independente, como ainda estou. Eu tenho um alinhamento tanto com os vereadores da situação quando tenho uma aproximação com os vereadores da oposição. Como eu disse em outros momentos, eu não poderia dizer que eu era situação ou oposição sem antes ter uma conversa com o prefeito, então, eu disse tudo isso a ele e a gente combinou que vou ligar para a ele, vamos sentar e conversar, a partir disso, vou definir", disse Jânio.
Já PP Cell participou do encontro, mas não apareceu na foto. Em entrevista à reportagem, ele reforçou que segue na ala de oposição.
Demandas
O grupo conversou com o prefeito sobre os suplentes do PDT, que tiveram votações significativas no último pleito, mas não conseguiram ser eleitos. O diálogo entre os pedetistas e o prefeito foi em defesa de que tais nomes sejam contemplados com a possível indicação para cargos na gestão.
O PDT tem a maior bancada da Casa, somando oito parlamentares. O partido lançou o então prefeito José Sarto (PDT) como candidato à reeleição no ano passado, mas o político ficou em terceiro lugar na disputa. No segundo turno, a sigla ficou dividida, com parte dos parlamentares apoiando André Fernandes (PL) e outra parte ao lado de Evandro Leitão.
Com a eleição do petista, a ampla maioria dos vereadores do PDT passou a integrar a base. O partido, no entanto, segue dividido, já que parte da cúpula, sob comando de Roberto Cláudio, mantém a postura de críticas ao grupo governista.
Empresas cada vez mais encalacradas
Por Notas & Informações / O ESTADÃO DE SP
A combinação entre juros altos, inflação elevada e economia menos pujante perfaz um cenário difícil para os consumidores, mas não somente para eles. Empresas, sobretudo as de menor porte, também têm tido dificuldades para gerar caixa e honrar seus débitos, e a perspectiva de que essa conjuntura não mude no médio prazo torna tudo ainda mais desafiador.
Reportagem do Estadão mostrou que 120 empresas de capital aberto e volume baixo de negociações em bolsa, conhecidas como small caps, precisariam de um caixa três vezes maior do que aquele que geram atualmente para pagar suas dívidas, segundo levantamento da assessoria financeira Sêneca Evercore. Entre 2021 e 2022, o indicador estava mais próximo de duas vezes. Já o índice de cobertura, que mede a capacidade de saldar custos financeiros, caiu de 2,6 em 2021 para 1,4 no ano passado. Quanto mais baixo, menor é a capacidade de a empresa liquidar suas despesas.
Outro estudo mencionado na reportagem, este da RK Partners, escritório responsável por algumas das principais reestruturações de empresas do País, tomou como base uma amostra de 307 companhias de capital aberto e revelou que 25% delas não têm como pagar suas despesas financeiras.
Não há como não associar essa piora à evolução da taxa básica de juros ao longo desse período. Entre agosto de 2020 e março de 2021, durante a pandemia de covid-19, a Selic permaneceu em 2% ao ano. De um lado, isso contribuiu para aliviar as dificuldades das empresas em um momento desfavorável para o mundo todo. De outro, muitas companhias aproveitaram os juros historicamente baixos para se financiar e fazer aquisições.
Mas a situação foi passageira e pegou muitas empresas de surpresa. Com o retorno da inflação, o Banco Central (BC) rapidamente começou a elevar os juros, e em menos de um ano e meio eles saltaram de 2% ao ano para 13,75% ao ano – patamar em que ficaram de agosto de 2022 a agosto de 2023. A Selic voltou a cair nos meses seguintes, mas a trégua acabou em setembro de 2024, quando o BC iniciou o mais recente ciclo de alta.
Hoje, a Selic está em 13,25% ao ano, e a tendência é de que ela chegue a 14,25% na reunião deste mês. No mercado, a previsão é de que ela encerre o ano em 15%. Com juros nesse patamar, qualquer empresa que tenha uma dívida superior a 2,5 vezes sua geração de caixa já pode ser considerada muito endividada, disse Ricardo Knoepfelmacher, sócio da RK Partners.
Previsivelmente, muitas empresas entraram em recuperação judicial e extrajudicial nos últimos anos. Entre as pequenas, os pedidos aumentaram 70% nos últimos dois anos, e entre as médias, o avanço foi de 35%. Mesmo as companhias de grande porte, que têm acesso a capital mais barato, tiveram aumento de 8% nos pedidos de proteção entre o quarto trimestre de 2022 e o mesmo período de 2024.
Com taxas tão altas, é compreensível que os empresários prefiram ativos sem muito risco, como títulos públicos, a investir em projetos próprios que muitas vezes exigem captação de recursos. Recentemente, o empresário Rubens Ometto declarou que, se há “condição de aplicar o seu dinheiro a 15%, 16%, em alguns casos a 20%, 25% ao ano”, graças aos juros altos, não há razão para investir em produção e correr riscos. Em suas palavras, o empresariado fica “vagabundo”, “sentado na cadeira sem fazer nada, e o dinheiro não produz”.
Em contrapartida, quem tem a ousadia de investir em um cenário tão adverso pode rapidamente se encalacrar caso não consiga gerar caixa suficiente para se manter até que os novos projetos comecem a dar retorno. Mesmo grandes geradoras de caixa têm dificuldades para reduzir seu endividamento.
Nesse contexto, aderir ao apelo de Lula da Silva, que defende a redução da taxa de juros no grito, seria tão fácil quanto enganoso. É justamente a política fiscal expansionista que está por trás do aquecimento da economia e do aumento da inflação – e se a Selic voltou a níveis tão elevados, é porque essa é a principal arma do BC para tentar domá-la.
O presidente, no entanto, prefere culpar os outros a reconhecer que também cabe a ele contribuir para a criação de um ambiente favorável a uma redução estrutural da taxa básica de juros. Atitudes como essa garantem que ela permaneça elevada por ainda mais tempo.
Patrimonialismo escancarado
Por Notas & Informações / O ESTADÃO DE SP
O presidente Lula da Silva indicou a advogada Verônica Abdalla Sterman para a vaga no Superior Tribunal Militar (STM) a ser aberta pela aposentadoria do ministro José Coêlho Ferreira, em abril. A data escolhida para o anúncio da indicação, o Dia Internacional da Mulher, celebrado no sábado passado, não poderia ser mais ilustrativa das reais intenções do petista: fazer política por meio da ocupação de tribunais superiores e, de quebra, agraciar amigos ou aliados políticos com sinecuras, ao custo do abastardamento do Poder Judiciário e do vilipêndio do melhor interesse público.
Em que pese a prerrogativa do presidente da República de indicar para a mais alta instância da Justiça Militar qualquer advogado maior de 35 anos, de notório saber jurídico e conduta ilibada, não se tem ideia dos conhecimentos da sra. Sterman no campo do Direito Penal Militar, o que poderia ser atestado por sua produção acadêmica e/ou experiência profissional nessa área, ambas desconhecidas. Sabe-se, isso sim, que a advogada ostenta credenciais que Lula da Silva valoriza mais do que qualquer outra coisa quando tem de preencher vagas abertas em tribunais superiores: lealdade a companheiros petistas e apoio político graúdo.
Verônica Sterman foi responsável pela defesa jurídica de Gleisi Hoffmann e Paulo Bernardo no auge das agruras do então casal durante a Operação Lava Jato. Ademais, a indicada para o STM contou com o apoio explícito da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja. A ausência de afinidade da sra. Sterman com a legislação militar, ao que parece, não é nada comparada à força de patrocinadoras de sua causa tão influentes junto ao presidente da República, como sua mulher e sua nova ministra de Relações Institucionais.
A indicação de mais mulheres para altos cargos da administração pública e para compor os tribunais superiores não é apenas desejável, como também mandatória para um país que se pretende mais republicano, justo e civilizado, deixando os rastros de misoginia e preconceito no passado. Mas a questão que obviamente se impõe é: sem prejuízo das qualidades que a sra. Verônica Sterman possa ter para exercer sua profissão, não havia outra mulher no Brasil um tanto mais preparada para tomar assento no STM? É algo sobre o que o Senado há de se debruçar em futura sabatina.
Se a indicação demonstra descaso com a Justiça Militar, em particular, e desprestigia o Poder Judiciário como um todo, a ninguém é dado alegar surpresa com a escolha de Lula da Silva para o STM. Afinal, é esse o padrão do petista em seu terceiro mandato presidencial, qual seja, a ocupação de tribunais superiores com o claro objetivo de fortalecer politicamente o governo nos embates com o Poder Legislativo e, como se isso não bastasse, presentear com altos cargos na magistratura quem se dedicou à defesa pessoal do próprio presidente ou de seu aliados, como é o caso da defensora de Gleisi Hoffmann e de seu ex-marido.
Nesse sentido, a indicação de Verônica Sterman para o STM não é essencialmente diferente das indicações de Cristiano Zanin e Flávio Dino para o Supremo Tribunal Federal (STF). No primeiro caso, Lula da Silva decidiu premiar seu advogado e amigo pela forma aguerrida, digamos assim, com que Zanin atuou na defesa do petista nos processos da Lava Jato. Em relação a Dino, a motivação foi outra, mas igualmente antirrepublicana: preencher o Supremo com um ministro notavelmente político, disposto a exercer, na Corte, o mesmo enfrentamento político que realizava como ministro da Justiça e Segurança Pública. Não custa lembrar que, ao indicar Dino, Lula chegou a verbalizar que “sonhava” com uma “cabeça política” na mais alta Corte de Justiça do País.
Houve um tempo em que as maiores preocupações dos brasileiros em relação às indicações para os tribunais superiores eram o grau de parentesco do ministro Marco Aurélio Mello com o ex-presidente Fernando Collor e o fervor religioso do ministro André Mendonça, indicado por Jair Bolsonaro.
Lula da Silva aí está para provar que a degradação institucional motivada por interesses pessoais ou políticos sempre pode ir mais fundo num governo do PT.
Governo Tarcísio aumenta R$ 1 bi de investimento na concessão de rodovia do ‘corredor do agro’
Por Roseann Kennedy e Eduardo Barretto / O ESTADÃO DE SP
O governo Tarcísio de Freitas aumentará em R$ 1 bilhão o investimento na concessão do Lote Paranapanema, que consolida a ‘rota do agro’ em São Paulo e transforma a Rodovia Raposo Tavares (SP-270) no novo corredor de escoamento da produção agroindustrial no País. O projeto incluiu sugestões enviadas pela sociedade e agora está estimado em R$ 5,7 bilhões. O edital para transferir os trechos para a iniciativa privada deve ser publicado em abril.
“A inclusão de novas obras e ajustes no projeto demonstram compromisso do governo do Estado em ouvir a sociedade e aprimorar a concessão para garantir infraestrutura eficiente e segura para os usuários”, afirmou à Coluna do Estadão a diretora econômico-financeira da Companhia Paulista de Parcerias (CPP), Raquel Carneiro.
O que muda: O governo de São Paulo analisou 250 contribuições, de consulta pública e audiências realizadas em em Ourinhos, Itapetininga e São Paulo. As sugestões aceitas estão basicamente em três frentes.
- Novos investimentos em vias marginais, dispositivos em desnível e melhorias no acesso a municípios
- Ampliação de trechos rodoviários, como a inclusão da SPA-326 e da SPA-312
- Revisão da localização dos pórticos de pedágio
Extensão do projeto: O Lote Paranapanema impactará diretamente 13 municípios. Além da Rodovia Raposo Tavares, inclui trechos das rodovias Engenheiro Lauri Simões de Barros (SP-189) e Mello Peixoto (SP-278), além de outros acessos rodoviários.
Mais detalhes da rota: A rota atravessa o Estado de leste a oeste. Com a concessão, o governo de São Paulo quer deixar a Rodovia Raposo Tavares como uma alternativa à Rodovia Castelo Branco, especialmente no transporte de insumos agrícolas para o Porto de Santos.
O projeto prevê quase 150 km de duplicações, mais de 10 km de pistas marginais e mais de 50 km de acostamentos novos ou recuperados, além de novas passarelas para pedestres e pontos de ônibus.
Governo inflacionário acena com mais irresponsabilidade em prol da reeleição em 2026
Por Carlos Andreazza / O ESTADÃO DE SP
O PIB de 3,4% em 2024 expressa o último adejar da galinha, cujas asas – sob as quais as famílias se endividam – não são de águia. Esborrachar-se-á. Quebrados, nós. Já vimos esse filme. Não será bonito. A questão sendo: quando? O governo não aceita a desaceleração da economia. Que tenta rolar-enrolar. Quer chegar a 2026. Pedalar – pendurar contas para fora – até o ano eleitoral.
Não admitirá a desaceleração; que combate lançando mão dos mesmos expedientes que a provocam-garantem. Esse é o principal componente da radicalização a que já se lança Lula com vistas à reeleição. Dobrar – triplicar – a aposta. Para além de Gleisi na política, Dilma na economia.
O plano é camuflar o endividamento até o ano que vem e então fazer com que a premência eleitoral empurre a bomba para o próximo governo. Que pode ser Dilma IV. O governo é Dilma III e, para ser IV, precisará – como Bolsonaro em 2022 – arrumar uma PEC Kamikaze para si em 26. Mais bilhões inventados para que financiemos uma tentativa de reeleição.
O governo é Dilma III. Aquele que quer “encontrar uma solução pacífica”, mas que, não a encontrando, vai “ter que tomar atitudes mais drásticas”. O governo é inflacionário, bancou a deformidade que tornou caro o alimento – e agora nos comunica que responderá com mais irresponsabilidades para “levar comida barata ao prato do povo brasileiro”.
A culpa é sempre do outro, esse ser oculto. Sobre o preço do ovo, por exemplo. O presidente especula-insinua – e pelo menos isenta a bicha: “A galinha não está cobrando caro. Eu não encontrei uma galinha pedindo aumento no ovo. A coitadinha sofre, ainda canta quando põe o ovo, mas o ovo está saindo controle”.
O governo – que canta de galo – está descontrolado. Dilma III, que se iniciou com a PEC da Transição, fabricou esse crescimento sem lastro produtivo, plantou a inflação que lhe é a única colheita até aqui e contratou a desaceleração da economia; que ora quer minimizar-adiar artificialmente.
Lula não se conforma. O país cresce acima de sua capacidade. Crescimento sustentado pela indução estatal ao consumo. E ele avisa que expandirá a gastança – multiplicadas as medidas fiscais, parafiscais e creditícias. Se as famílias tiram o pé do ritmo de consumo, o governo reage disparando estímulos para que tomem dinheiros e voltem a consumir. É corrida com a inflação, essa tolerada.
O presidente disse: “O ano de 2025 é o ano que nós vamos colher tudo que preparamos entre 2024 e 2023. Esse ano não tem explicação, não tem choradeira, nós temos que entregar as coisas que nós prometemos durante a nossa campanha (...)”.
Tem explicação, sim. Está explicado. Sobre a choradeira: o homem quer que fique para 2027.
Malária chega a 33 mil casos em um ano na terra yanomami, e quase metade é em crianças de até 9 anos
Vinicius Sassine / FOLHA DE SP
O Ministério da Saúde registrou 33,3 mil casos de malária na Terra Indígena Yanomami em 2024, uma quantidade superior à própria população do território –são 27,1 mil indígenas na região, segundo dados do Censo de 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Das 33,3 mil notificações de malária no território, 14.672 (44%) se referem a crianças de 0 a 9 anos de idade. É a maior incidência entre faixas etárias, seguida da de 10 a 19 anos, com 8.889 casos (26,6%).
As notificações da doença em 2024 representam um aumento de 10,2% em relação a 2023, quando houve 30,2 mil registros, e um acréscimo de 118% ante 2022, quando o sistema registrou 15,3 mil casos.
Os dados, compilados pela Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, foram obtidos pela Folha por meio da LAI (Lei de Acesso à Informação). Os números de 2024 são considerados preliminares e ainda sujeitos a alteração, conforme a pasta.
A reportagem pediu, na mesma solicitação, os dados de óbitos de yanomamis em todo o ano de 2024, o que foi negado pelo ministério.
As informações fornecidas sobre mortes são apenas do primeiro semestre do ano. O ministério oculta os dados, e parou de atualizar com periodicidade certa os boletins com os números.
Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que houve queda de 35,7% nas mortes por malária, numa comparação por semestres. Houve mais diagnósticos, com aumento de 73% no número de exames, e mais tratamento por profissionais de saúde, segundo a pasta.
"A análise exclusiva pelas notificações pode gerar falsa sensação de aumento de casos de malária na região, uma vez que um único paciente pode ser testado várias vezes até o fim do tratamento", disse a nota.
Segundo o documento da Secretaria de Vigilância em Saúde do ministério, fornecido à reportagem na resposta via LAI, os dados de notificações não incluem lâminas de verificação de cura, que são testes relacionados a "recaídas e recrudescências" e que não tratam de "novas infecções".
As ações de saúde tiveram início no primeiro mês do governo Lula (PT), diante da crise humanitária causada pela explosão do garimpo ilegal no território, tolerado e estimulado pela gestão passada, de Jair Bolsonaro (PL). Cerca de 20 mil garimpeiros exploravam ouro e cassiterita de forma ilegal, em muitos casos em áreas bem próximas das aldeias.
A emergência em saúde pública foi declarada em janeiro de 2023. Em fevereiro do mesmo ano, teve início uma operação federal para expulsão de invasores , em cumprimento a uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal).
Os dados fornecidos por meio da LAI mostram uma diminuição das mortes por malária, apesar do aumento das notificações. Esses dados, porém, estão incompletos: nos casos de 2023 e 2024, referem-se apenas ao primeiro semestre de cada ano.
Em 2022, houve 16 mortes por malária na terra yanomami, sendo 10 casos de crianças de 0 a 9 anos, conforme o Ministério da Saúde. No primeiro semestre de 2023, foram 14 óbitos, dos quais 7 foram de crianças com menos de 10 anos de idade. Já no primeiro semestre de 2024, houve menos mortes, 9, sendo a grande maioria, 8, de crianças de 0 a 9 anos.
Crianças e adolescentes são um público prioritário e têm maior acesso a medicamentos, segundo a pasta.
Em 2023, conforme registros do ministério, houve 363 mortes de indígenas yanomamis, levando em conta o total de óbitos, uma quantidade de notificações superior aos registros (343 mortes) em 2022, o último ano do governo Bolsonaro. Profissionais de saúde não comparam os dois anos em razão da subnotificação elevada na gestão passada.
O governo Lula não divulgou até agora os dados completos de 2024. Os números existentes se referem ao primeiro semestre do ano, quando houve notificação de 155 óbitos. A queda foi de 27% em relação ao primeiro semestre de 2023, quando o Ministério da Saúde registrou 213 mortes .
A malária é uma doença que drena a energia do paciente. A maneira como está difundida na terra yanomami, com vários casos de reincidência, e com danos graves em órgãos como o fígado, impacta a capacidade de trabalho dos indígenas nas roças nas aldeias, o que alimenta o ciclo de insegurança alimentar e a dependência de cestas básicas.
A maior quantidade de notificações reflete a ampliação do atendimento em saúde no território, desde a declaração da emergência, com mais busca ativa de casos. Polos de saúde que estavam fechados passaram a funcionar, com mais identificação e tratamento para malária.
Ao mesmo tempo, os dados de notificações mostram a disseminação da malária pelo território e a persistência dos focos do mosquito transmissor, inclusive da forma mais grave da doença, chamada de falciparum. Em nenhuma outra parte da amazônia há tanta malária como na terra yanomami.
Das 39 mortes registradas desde 2022, 18 foram causadas pelo protozário da falciparum, conforme os dados fornecidos pelo Ministério da Saúde. Em parte dos casos, com complicações cerebrais.
"O aumento do número de locais de diagnóstico e tratamento e o aumento das equipes de saúde resultam em maior cobertura dos serviços de saúde e de diagnósticos, e maior número de pessoas diagnosticadas e tratadas", afirmou Milena Kanindé, chefe de gabinete da Secretaria de Saúde Indígena do ministério, em um dos pareceres em resposta ao pedido via LAI.
Segundo ela, há uma dificuldade de diagnóstico em até 48 horas, a partir da manifestação dos sintomas, em razão de a terra yanomami ser vasta e com áreas de acesso muito difícil. Outro aspecto citado é o fato de a população ser nômade.
"No início de 2023, aproximadamente 5.224 indígenas não tinham acesso aos serviços de saúde nos polos base de Kayanaú, Homoxi, Hakoma, Ajarani, Haxiú, Xitei e Palimiú", disse a chefe de gabinete. "Até abril de 2024, todos esses polos foram reabertos, alguns parcialmente, o que aumentou consideravelmente o acesso dos indígenas ao diagnóstico e tratamento de malária."
A notificação do caso entra no sistema 45 dias após a confirmação, em média, conforme Kanindé. Por isso os dados são tratados como preliminares, sujeitos a alteração.
O secretário de Saúde Indígena, Weibe Tapeba, afirmou, em outra manifestação no pedido formulado via LAI, que os números de mortes de yanomamis no segundo semestre de 2023 e de 2024 estão "em processo de qualificação". A fase é de finalização e análise dos dados epidemiológicos, segundo o secretário, e os dados devem ser divulgados em breve, disse.
Com Gleisi no Planalto, governo Lula ficará ainda mais petista
Joel Pinheiro da Fonseca / Economista, mestre em filosofia pela USP / FOLHA DE SP
Um governo com notória dificuldade na relação com o Congresso; que perdeu a confiança do mercado financeiro; e que assiste à queda acentuada de sua aprovação popular. Algo precisa mudar. O caminho mais natural seria caminhar para o centro. O Congresso está à direita do governo. Os segmentos em que ele é pior avaliado na população. Do mercado financeiro nem se fala.
Ao tirar Gleisi Hoffmann da presidência do PT e trazê-la para a Secretaria de Relações Institucionais —que negocia a articulação com o Congresso, estados e municípios— , Lula dá a resposta contrária: caminha para longe do centro. Para você que achava que já havia PT demais e frente ampla de menos neste novo governo Lula, as mudanças de ontem respondem: o governo acaba de ficar ainda mais petista.
Gleisi representa o "PT raiz", defende as bandeiras históricas do partido —desenvolvimentismo sem equilíbrio fiscal na economia, regime ao estilo bolivariano como ideal na política. Por mais que seu cargo não inclua política econômica, é evidente que, no Planalto, ela será mais uma voz contra a agenda difícil do ajuste fiscal. Afinal, a economia bate na política, ainda mais nesta segunda metade do mandato e com a popularidade em queda. Ajuste fiscal não costuma alegrar o eleitorado. Será que o erro não foi ter moderado demais a visão econômica do PT?
A confusão que ela deixa no PT é o índice de sua capacidade de articulação. O partido do governo, que deveria ajudar o governo a potencializar sua mensagem, passou esses dois anos criando embaraços perante a opinião pública e agora se devora numa briga sucessória que tem sobrado até para Lula.
Há quem espere que Gleisi, ao colocar o chapéu das Relações Institucionais, mude seu perfil para melhor se adaptar ao cargo. Sonhar não paga imposto. Sempre que esperamos que o cargo transforme a pessoa, é a pessoa que transforma o cargo. Dado seu histórico, veremos a defesa intransigente da posição do presidente —que ela ajudará a formular.
Com o novo regramento das emendas de comissão, dando-lhes mais transparência, abre-se uma janela de oportunidade para aprimorar a relação com o Congresso. Relação que, contudo, segue desigual. Para usar a metáfora favorita do Trump, o Congresso tem mais cartas na mão. Se a ordem do dia for bater cabeça e comprar briga, ao mesmo tempo em que colhe a antipatia do público em geral, não irá longe.
Abrir mão do Congresso nunca é uma boa ideia. Bolsonaro passou o primeiro ano de seu governo em guerra com o Congresso. Recebeu de presente a impositividade das emendas de bancada. Hoje, a agenda que volta e meia aparece nos discursos dos congressistas é a mudança da forma de governo. Parece algo distante, quase impossível, mas será?
Há uma desconexão entre Lula e a opinião pública. Encastelado no palácio, cercado de bajuladores, não deve faltar quem lhe encoraje a não mais ceder espaço, a governar apenas com a ala fiel, a única que está com ele de verdade. Enquanto Alckmin anunciava medidas ortodoxas para reduzir o preço dos alimentos, Lula já alertava: se não caírem logo, tomará "medidas drásticas". Com Gleisi a seu lado, quem pode garantir que é só bravata?
Consumo bomba e faz imposto sobre produto crescer mais que o PIB
Eduardo Cucolo / FOLHA DE SP
Os setores mais tributados da economia foram também os que mais cresceram em 2024, o que resultou em um aumento dos impostos sobre produtos superior ao desempenho do PIB (Produto Interno Bruto) no ano passado.
Houve ainda uma explosão do consumo e recuperação do investimento no país, uma demanda que foi suprida, em parte, por produtos importados, que enfrentam, em geral, carga tributária mais elevada.
É necessário colocar na conta ainda a recuperação da arrecadação dos estados, que cresceu acima da inflação, puxada por aumento de alíquotas, cortes de benefícios e programas de parcelamento e fiscalização.
Com isso, a participação dos tributos sobre produtos no PIB voltou a crescer, segundo o IBGE. O instituto, que divulgou na sexta (7) os dados das Contas Nacionais, atribui a recuperação ao desempenho da indústria e dos serviços, setores mais onerados, e ao aumento das importações no período para atender ao consumo no país.
Estamos falando de algo que representa cerca de 40% da carga tributária brasileira e que vai para os cofres de União, estados e municípios, R$ 1,6 trilhão em valores correntes (dentro de um PIB de R$ 11,7 trilhões. A maioria desses tributos será modificada ou extinta pela reforma tributária a partir de 2027.
Em 2023, ocorreu o contrário. Os impostos sobre produtos registraram a menor participação no PIB desde 1998. Corresponderam a 12,7% da soma dos bens e serviços produzidos pelos três grandes setores (agropecuária, indústria e serviços) no período. Em 2024, o percentual subiu para 13,8%.
O aumento foi expressivo, mas é necessário lembrar que o número já foi de quase 16% na década passada, o que mostra que houve redução dessa carga, compensada por uma maior tributação da renda.
Naquele ano, o crescimento da economia foi puxado pelo setor agropecuário e pelas exportações. Ambos são desonerados, embora não totalmente.
O impacto da intervenção federal no ICMS de 2022 também foi sentido. Desde então, vários estados aumentaram esse imposto para repor sua arrecadação, que cresceu 7% acima da inflação em 2024.
Vamos aos números. Os impostos sobre a produção cresceram 5,5% em 2024, ritmo superior ao do PIB brasileiro (3,4%). A diferença entre os dois números é a maior desde 2010, ano de forte crescimento industrial. O volume do imposto de importação cresceu 20,5%; no IPI (imposto federal sobre produtos industrializados), 8%; no ICMS (imposto estadual sobre mercadorias e serviços), 4,7%.
Aliás, é curioso notar que tributo também é PIB, já que esse valor é incorporado no cálculo do indicador. Se a soma dos impostos fosse retirada da conta, o crescimento no ano passado teria sido de 3,1% —percentual que equivale à expansão do valor adicionado pelos três grandes setores ao PIB brasileiro.
Como destacou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, ao divulgar o número, "o volume dos impostos sobre produtos até ajudou no crescimento da economia".
Os dados do IBGE incluem impostos líquidos de subsídios. A carga tributária total era de 32,44% do PIB em 2023, pelo cálculo da Secretaria do Tesouro Nacional/Ministério da Fazenda. O número de 2024 deve ser divulgado no final de março.
A partir das informações já divulgadas pela Receita Federal e pelos estados —e agora também pelo IBGE—, dá para apostar em aumento, já que os municípios representam menos de 10% do total. Os números mostram que o ministro da Fazenda não será o único responsável pelo resultado.
Governo Lula expande publicidade e pode alcançar R$ 3,5 bi em contratos
Mateus Vargas / FOLHA DE SP
Os contratos de publicidade de ministérios, bancos e estatais no governo Lula (PT) podem alcançar R$ 3,5 bilhões neste ano, após a conclusão de licitações que estão abertas para a seleção de agências de propaganda.
A expansão ocorre no momento em que o presidente tenta reverter a queda de popularidade de seu governo. Em janeiro, Lula mudou o comando da Secom (Secretaria de Comunicação Social) da Presidência após criticar publicamente o trabalho da pasta.
O petista deseja ainda ampliar a divulgação de programas que pretende emplacar como marcas do terceiro mandato, como os programas Pé-de-Meia, do Ministério da Educação, e Mais Acesso a Especialistas, do Ministério da Saúde.
Os órgãos públicos ligados ao governo federal argumentam que a expansão dos contratos de publicidade melhora a transparência e a promoção de informações sobre as políticas públicas, com a divulgação das ações tocadas por ministérios e estatais.
O valor total da previsão de gastos com publicidade considera 21 órgãos ligados ao governo federal que têm contratos já firmados com agências de propaganda ou licitações abertas. Entre eles, há quatro seleções em andamento que somam cerca de R$ 700 milhões.
A principal disputa é pela conta de R$ 380 milhões dos Correios, estatal que deixou de investir em propaganda em 2019. Agora, a empresa afirma que deseja "reposicionar a marca" e que disputa o mercado nacional de encomendas e logística com grandes companhias, "inclusive multinacionais que investem fortemente em publicidade".
O contrato dos Correios só será inferior aos do Banco do Brasil (R$ 750 milhões), da Secom (R$ 562,5 milhões) e da Caixa (R$ 468,1 milhões). A menor conta desse grupo é a da Infraero, que prevê investimento de R$ 7 milhões por ano.
No fim da gestão de Jair Bolsonaro (PL), os contratos de publicidade dos órgãos federais somavam cerca de R$ 2,5 bilhões em valores corrigidos pela inflação. Esta cifra considerava as contas de R$ 83 milhões da Eletrobras e da Chesf (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco), que foram privatizadas em 2022.
O valor dos contratos leva em conta uma previsão do total que pode ser gasto pelos órgãos. Por isso, essa cifra costuma ser maior do que a verba efetivamente desembolsada, que depende dos planos de propaganda e da demanda por publicidade.
O Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, por exemplo, destinou R$ 90,3 milhões para publicidade em 2024, embora o contrato da pasta tivesse uma previsão de despesas de até R$ 120 milhões por ano.
Além dos Correios, outros órgãos decidiram investir em publicidade sob Lula.
O Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) assinou recentemente um contrato de R$ 40 milhões, dividido por duas agências. O Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados) fez um acordo de R$ 10 milhões.
Antes dessas contratações, os dois órgãos não possuíam contas de publicidade.
No caso específico da Petrobras, o levantamento da Folha considerou os valores efetivamente investidos pela empresa em publicidade em 2022 e 2024, em vez da cifra fixada no contrato. A razão é que a estatal não utiliza um contrato de valor anual, mas um acordo de prazo mais longo com as agências.
Em julho de 2022, a Petrobras assinou um contrato de 900 dias, no valor de R$ 375 milhões, com duas agências. Este acordo foi renovado em janeiro de 2025, pelo mesmo período, com previsão de investimentos de mais R$ 474,25 milhões.
De forma geral, as verbas de publicidade são utilizadas na produção das propagandas e, principalmente, na compra de espaço em veículos de comunicação. As agências ficam com um percentual do valor das campanhas.
Sob Lula, veículos do Grupo Globo se consolidaram como principais escolhas do governo para anúncios publicitários. A empresa chegou a ser a terceira colocada em verbas publicitárias no governo Bolsonaro, atrás da Record e do SBT.
O TCU (Tribunal de Contas da União) concluiu, em 2020, que faltavam critérios técnicos na distribuição das verbas a TVs abertas pelo governo Bolsonaro. Nos anos seguintes, a Globo voltou a liderar o ranking da publicidade federal, ainda que próxima da Record.
Em outubro passado, o tribunal citou novas falhas e determinou que sejam incluídos mecanismos para estimar melhor os custos e o retorno das propagandas. O processo avaliava as "campanhas publicitárias vultosas financeiramente" da Secom.
Campanhas visam informar sociedade e divulgar direitos, diz Secom
Procurada, a Secom afirmou que as suas campanhas de mídia seguem a tarefa institucional da pasta de "dar amplo conhecimento à sociedade das políticas e programas do Poder Executivo Federal" e de "divulgar direitos", entre outros pontos.
Em nota, o MEC afirmou que os recursos direcionados para propaganda "refletem a expansão das novas políticas educacionais" e que o orçamento da pasta também subiu 40% em relação a 2022. O ministério comandado por Camilo Santana (PT) tem uma licitação aberta que deve elevar a R$ 140 milhões o contrato anual de publicidade, hoje de R$ 27,4 milhões.
A Caixa disse que é a principal parceira do governo federal na operacionalização de políticas públicas e que desenvolve atividades comerciais "que requerem à instituição se manter competitiva frente aos concorrentes, inclusive com relação à publicidade".
"Os investimentos do banco nessa área observam rigorosamente os limites legais e orçamentários e são compatíveis com o porte e a complexidade de seus negócios", disse a instituição.
O Banco do Brasil afirmou que possui contratos "compatíveis" com a atuação no "acirrado mercado financeiro" nacional e internacional. Ainda afirmou que mede a participação das campanhas publicitárias no seu resultado financeiro.
"Por exemplo, em uma dessas operações, a cada R$ 1 investido em publicidade apuramos R$ 1.200 em resultado financeiro, para além de outros critérios, como formação de imagem da marca", disse.
Já o Inmetro disse que, apesar de o contrato ter um valor de R$ 40 milhões, a previsão de gastos com publicidade neste ano é de R$ 10 milhões.
"As campanhas publicitárias têm caráter preventivo e educativo, buscando esclarecer a sociedade sobre o correto manuseio, exposição e comercialização de produtos e serviços, de forma a reduzir riscos à segurança da população e coibir crimes contra a economia popular, com fraudes e irregularidades", disse o instituto.
O Serpro declarou que atua em mercado concorrencial e que 70% das ações de marketing serão voltadas aos "desafios mercadológicos".
"Isso significa cobrir um portfólio de mais de 80 soluções, enquanto os 30% restantes são direcionados para o fortalecimento da marca institucional", afirma o órgão. Na licitação para escolha de agências, o Serpro também citou que deve realizar uma campanha publicitária sobre os seus 60 anos.