Gleisi apela para o impeachment: 'Esse Congresso engole a gente'
Josias de Souza / Colunista do UOL
Com companheiras como Gleisi Hoffman, Fernando Haddad não precisa de inimigos. Decidida a torpedear a meta do ministro da Fazenda de zerar o déficit em 2024, batizada pelo petismo de "austericídio fiscal", a presidente do PT levou a carta do impeachment ao baralho… - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/colunas/josias-de-souza/2023/12/09/gleisi-agita-a-carta-impeachment-esse-congresso-engole-a-gente.htm?cmpid=copiaecola
Gleisi sacudiu o lençol do fantasma da deposição de Lula ao discursar para a plateia da Conferência Eleitoral do PT, encerrada neste sábado. Disse ela: "Precisamos ter recursos, precisamos ter a parte do crescimento econômico como uma meta e um mantra nosso. Gente, se cair a popularidade do presidente Lula, vocês não têm dúvida sobre o que o Congresso Nacional pode fazer. Fizeram com Dilma. Se acontecer qualquer problema, esse Congresso engole a gente"… - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/colunas/josias-de-souza/2023/12/09/gleisi-agita-a-carta-impeachment-esse-congresso-engole-a-gente.htm?cmpid=copiaecola
O alerta de Gleisi foi construído à moda do Chacrinha. Assim como o Velho Guerreiro, a presidente petista não foi ao palco para explicar, mas para confundir. Seu raciocínio está escorado num sofisma, uma ferramenta linguística que cria a ilusão de uma verdade partindo de premissa hipoteticamente lógica para sustentar teses inconsistentes, erradas e delirantemente enganosas… - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/colunas/josias-de-souza/2023/12/09/gleisi-agita-a-carta-impeachment-esse-congresso-engole-a-gente.htm?cmpid=copiaecola
Pela Constituição, cabe à Câmara dos Deputados abrir processos de impeachment. Hoje, a Casa está submetida aos desígnios das falanges do centrão. Esse aglomerado partidário é comandado pelo imperador Arthur Lira, discípulo de Eduardo Cunha, que articulou a deposição de Dilma. Os resquícios de lógica param por aí… - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/colunas/josias-de-souza/2023/12/09/gleisi-agita-a-carta-impeachment-esse-congresso-engole-a-gente.htm?cmpid=copiaecola
O espantalho de Gleisi é inconsistente porque Geraldo Alckmin não é Michel Temer. O principal traço da biografia política do atual vice-presidente é a lealdade. A assombração flerta com o erro porque Lula não é Dilma. O tirocínio do criador é inversamente proporcional à inépcia da criatura. O delírio é enganoso porque a abertura irrefletida dos cofres públicos não se confunde com prosperidade econômica. Sob Dilma, deu em ruína…
Convocada a pretexto de organizar o PT para as eleições municipais de 2024, a conferência ocorreu às vésperas de uma semana decisiva para Haddad no Congresso. O ministro da Fazenda rala para aprovar projetos remanescentes da agenda que estruturou para tentar extrair do Legislativo reformas que permitam cobrar impostos de quem brinca de esconde-esconde com a Receita Federal…
O encontro petista foi ornamentado com um debate de Gleisi com o próprio Haddad. A certa altura, o ministro foi ao ponto: "Talvez poucos possam imaginar a luta que é aprovar essas medidas. Semana que vem será decisiva para 2024. O governo vai ter que aprovar meia dúzia de leis, maduras para serem aprovadas, que precisam passar para garantir um Orçamento mais consistente e possam dar fundo de financiamento para aquilo que precisa ser pago -direitos dos trabalhadores, saúde, educação"…
Ao contrapor a tese do impeachment ao esforço fiscal de Haddad, Gleisi usou um canhão para matar um mosquito. A bala, por falaciosa, não surtirá o efeito desejado. Mas a chefe do partido de Lula forneceu munição para Lira e suas falanges. Se Gleisi conseguiu alguma coisa foi inflacionar o mercado persa em que Haddad trafega para obter a aprovação das propostas que considera estratégicas
Opinião
Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL / NEM A MINHA
Assim é se lhe parece
Por Merval Pereira / O GLOBO
Nada mais exemplar da “calcificação” das posições ideológicas na sociedade brasileira, termo já consagrado pelo livro “Biografia do abismo”, do cientista político Felipe Nunes e do jornalista Thomas Trauman, que a constatação de que as mesmas atitudes criticadas por um lado são adotadas por esses mesmos críticos quando lhes convém.
A possibilidade de o ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski vir a ser o próximo ministro da Justiça do governo Lula, tratada com naturalidade por petistas e associados, tem o mesmo significado de o então juíz Sérgio Moro ter aceitado ser ministro da Justiça do governo Bolsonaro.
A aceitação por parte de Moro foi considerada uma confissão de que ele condenou o ex-presidente Lula para beneficiar Bolsonaro, o que é desmentido pelos fatos. Ficou famoso o vídeo em que Bolsonaro, ainda candidato inexpressivo, bate continência para o juíz Sérgio Moro, então o todo poderoso da Operação Lava Jato. Moro nem lhe dá confiança, parece não saber de quem se trata. Tanto que, depois da repercussão, sentiu-se na obrigação de ligar para o deputado para se desculpar pela deselegância.
Fatos posteriores demonstraram, porém, que Moro cometeu um erro politico trágico ao associar-se a Bolsonaro. Na ocasião em que aceitou o convite, disse a interlocutores que estava indo para controlar os exageros do presidente eleito na questão das armas e dos direitos humanos, ao mesmo tempo em que considerava possível ganhar espaço no governo para acelerar a política de combate à corrupção. A ida para o STF seria um bônus ambicionado. Não conseguiu nada disso e, como aconteceu com muitos, inclusive militares, acabou enredado numa associação política tóxica.
Depois de romper com Bolsonaro, apareceu a seu lado como assessor em debate eleitoral na televisão, explicitando que seu alvo preferencial sempre foi Lula, não importando a quem se aliasse. E que sua proximidade com Bolsonaro, da mesma forma que seu antagonismo a Lula, eram bem mais ideológicos do que deveriam ser.
O que dizer do ministro Ricardo Lewandowski no ministério da Justiça de Lula? Por que sua eventual aceitação do cargo ser avaliada com normalidade, depois de toda sua história ligada ao presidente, desde a nomeação por influências familiares até sua atuação sempre coerente a favor do ex-presidente, mesmo quando preso por acusações de corrupção? O que dizer da teratológica interpretação da Constituição que permitiu que a presidente Dilma fosse impedida para o exercício do cargo, mas pudesse concorrer ao Senado dois anos depois? Coube ao eleitorado mineiro fazer valer a vontade constitucional, derrotando-a nas urnas.
A atuação do ministro Lewandowski a favor dos governos petistas pode ser vista como lealdade, ou mesmo uma coerência ideológica, o que lhe favorece na avaliação dos seus iguais, mas não difere da do ex-juiz Sérgio Moro. Da mesma maneira, os erros de português do hoje senador Sérgio Moro são usados abusivamente pelos petistas para desmoraliza-lo.
Quando falou “conge” em vez de “conjuge”, foi ridicularizado, sem que se ao menos se desse a chance de ter sido uma decorrência do sotaque caipira. No áudio em que supostamente fala “com mim” em vez de “comigo”, não fica claro o erro, mas os ataques a ele são os mesmos. Quando se criticam os erros de português do presidente Lula, os que o fazem são corretamente taxados de elitistas, arrogantes, preconceituosos. Por que não qualificar da mesma maneira os que criticam Moro?
Pode-se dizer quer, sendo um juiz, Moro deveria dominar melhor o português. É um fato. Acho até que a história de superação de vida de Lula merece todas as homenagens, e sua origem humilde justifica erros de português (que já são raríssimos hoje, e às vezes até propositais), enquanto, como professor universitário e magistrado, os erros de Moro não deveriam existir. Só quero chamar a atenção para a situação esdrúxula de o erro depender do lado em que nos encontramos politicamente.
Existe uma cegueira do Brasil em relação à Amazônia, diz Moreira Salles
Gabriel Araújo / FOLHA DE SÃO PAULO
O jornalista e documentarista João Moreira Salles retomou a origem do nome Amazônia para demonstrar um problema de séculos durante a 25ª edição do ciclo de diálogos Perguntas sobre o Brasil, realizada no último dia 6.
Em fevereiro de 1542, o frei dominicano Gaspar de Carvajal, que estava em viagem com o colonizador espanhol Francisco Orellana, chegou à região norte do país e relatou o encontro que teve com as Icamiabas, mulheres indígenas que, como escreve a historiadora Patrícia Valim, viviam numa "sociedade matriarcal dotada de leis próprias".
Como conta Moreira Salles, autor de "Arrabalde: Em Busca da Amazônia", lançado no ano passado pela Companhia das Letras, Carvajal deu a elas o nome de "amazonas" devido à referência que tinha das guerreiras da mitologia grega. Logo, a região passou a ser conhecida dessa forma.
"A Amazônia foi assim batizada por um erro de interpretação, pois, evidentemente, Carvajal não viu isso", afirmou o jornalista, fundador da revista piauí. "Desde o início, a gente entendeu, interpretou e compreendeu errado a floresta. Não quisemos vê-la".
Tamanho desconhecimento, que se intensificou ao longo da história e resultou numa indiferença em relação às culturas tradicionais daquele espaço, é um dos motivos que levaram o Brasil, enquanto país e povo, a não reconhecer a importância da Amazônia.
A percepção é compartilhada pela geógrafa Ane Alencar, diretora de ciência do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), que também participou do debate. O evento foi mediado pelo jornalistaVinicius Sassine, correspondente da Folha em Manaus.
Segundo Alencar, a maior parte das pessoas que vivem nas regiões urbanizadas da Amazônia ainda não tiveram "o ‘clique’ sobre a importância da floresta que rodeia as cidades" da região. Em outras palavras, "vivem de costas para a floresta".
A grande migração interna para a Amazônia, incentivada pelo governo brasileiro durante as décadas de 1960 e 1970, em meio à ditadura militar, povoou a região com pessoas que não compreendiam as dinâmicas socioambientais daquele espaço, lembrou Moreira Salles no debate.
É o caso de Luiz Gonzaga, um silvicultor entrevistado pelo jornalista em Capitão Poço (PA). Gonzaga só se deu conta de que não conseguiria alimentar seus animais --não havia capim na mata-- ao chegar à Amazônia. "Ninguém sabia nada de floresta", ele disse ao autor.
"Isso, de certa maneira, encapsula o mundo mental dessas pessoas que chegaram à Amazônia. Não vieram para conhecer a floresta, mas para substituí-la. A floresta era um empecilho, algo a ser eliminado. O nosso modo de ocupação sempre foi esse", afirma Moreira Salles.
"Existe uma cegueira epistemológica do Brasil em relação à Amazônia", ele diz. "O Estado nunca se esforçou para saber como a floresta de pé pode gerar renda e modos de vida para as pessoas que foram pra lá. Os ribeirinhos sabem como fazer isso, assim como indígenas, quilombolas e populações tradicionais. Mas ninguém foi perguntar pra eles."
Como lembra Alencar, quem, de fato, reconhece a relevância da Amazônia são as pessoas "que têm nela seu supermercado, sua farmácia e sua forma de eternizar a cultura". São elas, segundo a geógrafa, "que sabem que a degradação da floresta vai impactar na sua própria sobrevivência".
De acordo com Moreira Salles, precisamos "estabelecer um diálogo entre aquilo que se produz, culturalmente, em São Paulo, Rio de Janeiro, Sudeste e Nordeste, e o que está sendo produzido na Amazônia. Fazer uma espécie de encontro de imaginações para que a gente se deixe fertilizar pela floresta".
Realizado de forma online, o debate também abordou o domínio do crime na região e a força de artistas e pensadores indígenas na contemporaneidade. Veja a íntegra abaixo.
O ciclo Perguntas sobre o Brasil é organizado pelo Centro de Pesquisa e Formação (CPF) do Sesc São Paulo, pela Associação Portugal Brasil 200 anos (APBRA) e pela Folha.
Desde setembro do ano passado, a série tem discutido questões ligadas à identidade, à cultura e aos desafios do país, tendo como inspiração a lista elaborada pelo projeto 200 anos, 200 livros, que reúne duas centenas de obras relevantes para entender o Brasil a partir da indicação de 169 intelectuais.
O evento é sempre transmitido pelos canais do //www.youtube.com/@SescSP"
Gleisi vira defensora de Lula contra imprensa e amplia críticas nas redes
Painel / FOLHA DE SP
Editado por Fábio Zanini, espaço traz notícias e bastidores da política. Com Guilherme Seto e Danielle Brant
Presidente nacional do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) tem usado suas redes sociais para criticar e responder a reportagens e editoriais de jornais que considera negativos para o governo Lula 3 e seus aliados, ou que vão de encontro a teses econômicas e políticas defendidas pelo partido.
Em novembro, ela intensificou o ritmo dessa prática, com 13 postagens criticando a imprensa, quase uma a cada dois dias. Em comparação, foram 24 entre maio e outubro, ou uma por semana, em média.
A conduta tem incomodado membros do PT, que acham que Gleisi deveria se resguardar mais nas redes sociais pela posição institucional que ocupa.
O Painel analisou postagens feitas no X (ex-Twitter) desde abril. Em todos os meses, exceto julho, houve críticas à imprensa, em especial aos três maiores jornais do país: Folha, O Globo e O Estado de S. Paulo.
A deputada já dedicou caracteres para rebater editorial da Folha contra aumento de despesas públicas e do Globo sobre a tentativa do governo e do PT de politizar o apagão no país.
Também mencionou uma reportagem do Globo sobre as viagens do presidente Lula (PT) ao exterior e uma da Folha sobre gastos no cartão corporativo.
A partir da deflagração da guerra entre Israel e o Hamas, a deputada passou também a criticar textos e editoriais que tratavam do tema, geralmente os que têm viés contrário ao grupo palestino.
Em novembro, o Estadão se tornou um dos principais alvos da presidente do PT após o jornal publicar reportagem sobre a visita da mulher de um líder do Comando Vermelho no Amazonas ao Ministério da Justiça.
Gleisi dedicou 6 posts ao tema, de um total de 13 —também fez críticas à forma como a imprensa tratava o conflito em Gaza e sobre a meta fiscal.
Em uma das postagens, usou a rede social para engrossar os ataques à jornalista Andreza Matais, do Estadão. Em outra, rebateu reportagens de Estadão e Folha que falavam da ofensiva e disse não ter atacado ninguém.
Procurada pelo Painel via assessoria do PT, Gleisi não quis se manifestar.
Se puder, PT pega, mata e come Haddad
Vinicius Torres Freire / FOLHA DE SP
O governo tem dez dias para aprovar no Congresso aumentos da receita de impostos e a reforma tributária. Às vésperas desses dias decisivos para o sucesso econômico de Lula 3, o PT pendurou Fernando Haddad em um poste e o malhou feito um Judas. Faltou chama-lo de traidor.
No sábado (9), Gleisi Hoffman, presidente do PT, disse que, por ela, o déficit seria "de 1%, 2%" do PIB em 2024. Um dia antes, no texto de uma resolução do PT, que ainda pode ser revisado, lia-se que "não faz sentido" "a pressão por arrocho fiscal exercida pelo comando do BC, rentistas e seus porta-vozes na mídia e no mercado. O Brasil precisa se libertar, urgentemente, da ditadura do BC ‘independente’ e do austericídio fiscal...".
Na prática, os manifestos do PT não fazem quase diferença alguma. Lula decide; Haddad tem evitado as besteiras maiores propostas por colegas de ministério e partido.
No entanto, o Congresso pode apresentar a conta para o ministro da Fazenda: "você quer dinheiro, mas seu partido não ajuda". Além do mais, o PT chutou o centrão, o que é legítimo, mas não alivia o desespero desta quinzena legislativa final.
Não é novidade que o PT tenha tais ideias. Lula começou a abrir as porteiras para esse pensamento mágico-tosco na virada para seu segundo mandato. De início, não causou muito dano. A dívida caía e o governo tinha burras cheias de dinheiro. Agora, o país está estagnado faz uma década, o dinheiro acabou, a dívida é enorme e é difícil arrumar receita para pagar ao menos a despesa primária. Lula pode voltar a liberar a boiada? Essa dúvida custa caro.
Notem que Gleisi fala de déficit PRIMÁRIO de "1%, 2%" do PIB. A meta de Haddad é zero; dificilmente o déficit será menor do que 0,7%. Porém, o déficit total ("nominal") do governo central, nos últimos 12 meses, foi de 6,84% do PIB (R$ 724 bilhões). O déficit primário foi de 1,03% do PIB (falta para pagar despesas correntes) e a conta de juros foi de 5,8% do PIB (pagos com mais dívida).
Essa conversa está podre de velha, mas ainda causa estupefação, inclusive para não-liberais; dá vergonha discutir coisa tão tosca.
O PT acusa rentistas, entre outros, de querer limitar o déficit. De onde vai tirar dinheiro para financiar o déficit e o pagamento dos juros? Vai tomar emprestado dos rentistas, entre outros.
De quanto será a taxa de juros? Em parte, será a Selic, definida pelo Banco Central. Na maior parte, para empréstimos de prazos maiores, não. A Selic influencia essas outras taxas, mas não as determina.
Quem diz quanto vai custar o empréstimo? Rentistas e outros credores: 27,4% da dívida mobiliária federal fica com previdência privada e seguradoras (que precisam deixar dinheiro em lugar seguro, para fazer os pagamentos que devem); 23,5% com fundos de investimento (poupança privada, dos mais ricos e mesmo remediados que tenham um "fundo de banco"); 4% com instituições do governo; 10,2% com não-residentes no país; 28,3% com instituições financeiras (mas nem todo esse dinheiro "é do banco").
Uma dívida que cresce sem controle vai fazer com que os credores peçam taxas de juros maiores, tudo mais constante.
Qual é o plano, então, afora um calote explícito e suicida? Tabelar os juros, de modo direto ou indireto, com financiamentos ou intervenções do BC (ora ilegais)? Supondo que essa ideia não cause tumulto imediato (causará), o que fazer da inflação, que subirá também por causa da desvalorização do real (muito rentista não ficará com seus haveres em reais)? Para quem lê ao menos jornais, é fácil perceber que isso lembra a Argentina.
Melhor do que tomar emprestado dos ricos é cobrar-lhes imposto, mas até isso tem limite e é politicamente difícil. Dívida maior enriquece rentista.
O desânimo é muito grande.
‘Se tudo der certo, logo Bolsonaro vai estar preso’, diz Janja à militância do PT
Por Julia Affonso / O ESTADÃO DE SP
A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, afirmou à militância do PT neste sábado, 9, que é preciso parar de usar o termo “bolsonarismo” e substituí-lo por “fascismo”. Janja participou de uma mesa na Conferência Eleitoral e Programa de Governo PT, em Brasília, e afirmou que “se tudo der certo”, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) logo estará preso. O ex-presidente, que está na Argentina para a posse de Javier Milei, foi procurado por meio de sua assessoria, mas ainda não se manifestou. Seu assessor, porém, publicou nas redes que Janja tem “experiência” em prisões (veja abaixo).
“Eu estou convencida que a gente precisa deixar de usar o termo ‘bolsonarismo’. Esse cara, o inominável, está inelegível e, se tudo der certo, logo ele vai estar ó (faz o símbolo de ‘atrás das grades’ com as mãos)”, afirmou.
“A gente precisa começar a chamar as pessoas de fascista, porque é isso que elas são. É o fascismo que mata, que nos anula, que quer nos anular. Então, a gente precisa deixar esse período para trás e mudar, virar essa chave, começar a usar o termo ‘fascista’. Deixar esse cara lá no lugar que lhe é de direito para a história, que é nada, a lata do lixo.”
Assessor e advogado de Bolsonaro, Faio Wajngarten, que está com ele na Argentina, não retornou os contatos da reportagem, mas comentou a fala de Janja nas redes sociais, ironizando a primeira-dama. “Com a palavra quem mais tem experiência em prisões no Brasil. Resta saber o que precisa dar certo…???”, disse.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tornou Bolsonaro inelegível por duas vezes neste ano. Em junho, a Corte enquadrou o ex-chefe do Executivo por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação em razão da reunião em que atacou as urnas eletrônicas diante de diplomatas por 5 votos a 2.
Em outubro, o TSE impôs outro revés a Bolsonaro e o condenou novamente à inelegibilidade por um novo placar de 5 votos a 2. O general Walter Braga Netto, vice na chapa, também foi declarado inelegível. Os ministros também estabeleceram uma multa no valor de R$ 425 mil.
A Corte Eleitoral julgou três ações que atribuíram ao ex-presidente e ao general abuso de poder político, abuso de poder econômico e conduta vedada nas comemorações do dia 7 de setembro de 2022. A maioria considerou que Bolsonaro e seu vice usaram as cerimônias oficiais para fazer campanha e tentaram instrumentalizar as Forças Armadas para turbinar sua candidatura.
Bolsonaro é investigado em inquéritos da Polícia Federal (PF) perante o Supremo Tribunal Federal (STF). O ex-presidente é alvo, por exemplo, de apurações envolvendo o casos das joias e dos cartões de vacinação.
O ex-presidente é suspeito de ter ter feito uma intervenção, pessoalmente e por meio de funcionários do próprio gabinete, para conseguir para si a liberação de um conjunto de joias, dado pelo governo da Arábia Saudita. Como foi um presente institucional, ele deveria ser catalogado e incorporado ao patrimônio da União. O caso foi revelado pelo Estadão.
Em maio, Bolsonaro foi alvo de uma operação da PF e teve o celular apreendido. Ele é suspeito de ter fraudado o próprio cartão de vacinação e o da filha mais nova, Laura, antes de ir para os Estados Unidos, nos últimos dias de dezembro de 2022.
O ex-presidente afirma que não tomou nenhuma dose do imunizante contra a covid-19, mas a PF identificou que duas doses da vacina constavam do cartão do Conecte SUS. O ajudante de ordens da Presidência, tenente-coronel Mauro Cid, foi preso nesta investigação. O militar foi solto após fechar delação premiada.