Um país em conflito
POR FERNANDO GABEIRA / O GLOBO
Num artigo sobre pesquisas, mencionei a polarização política como dado constante e crescente no país. Apenas esbocei a necessidade de atenuá-la. É preciso reconhecer que a polarização de certa forma interessa a algumas forças políticas, mas não só a elas. O país rigidamente dividido cria uma espécie de zona de conforto onde, não importa o que se defenda, sempre será bem-visto quem favorecer um dos lados. Criar, portanto, estreitas superfícies de contato em que se possa desenvolver algo em comum é muito difícil e, além do mais, desperta a suspeita de que se está sutilmente trabalhando para um dos lados.
Da mesma forma, iniciativas de vizinhança podem aumentar a segurança de suas áreas. Não proponho que substituam as polícias, nem que criem comitês de defesa ou coisa parecida. Discussões permanentes, acordos, medidas comuns, troca de informações, tudo isso cria uma cultura que torna mais eficaz e também monitorado o trabalho policial.
Lembro-me de estar viajando de ônibus em Israel e, subitamente, o motorista parar e sair correndo para apagar um incêndio na margem da estrada. Ele se sentia responsável, achava que era sua tarefa iniciar o combate ao fogo.
Outro aspecto que me parece importante é a preparação das comunidades para eventos extremos oriundos do aquecimento global. É preciso que estejam treinados, que conheçam os moradores vulneráveis, que armazenem pequenos barcos, enfim, algo parecido com o que fazem os japoneses. Isso também torna-se possível quando há um nível razoável de convivência.
Tenho uma querida amiga que é petista. Suas bananeiras dão frutos que caem no quintal da vizinha. Elas brigam na Justiça por isso, por causa de bananas. A amiga diz que é coisa de bolsonarista; provavelmente a vizinha responde que petistas não podam suas árvores. A verdade é que tanto Bolsonaro como o PT nada têm a ver com isso, não há o mínimo vestígio em seus programas sobre a evolução dos cachos de bananas.
Quantos episódios não estão artificialmente politizados? Quantas amizades não se romperam, quantas famílias não se falam com medo de a política irromper na mesa de jantar?
Parece quixotesco remar contra a polarização excessiva. É assim nos Estados Unidos, está ficando assim na Europa. Acontece que, nos países do Norte, existe um fator ausente aqui: os grandes fluxos migratórios. Os estrangeiros passam a ser uma espécie de linha divisória, despertando o medo de perda de emprego, violência urbana.
O Chega cresceu em Portugal com discurso contra imigrantes e contra a corrupção. Este último fator tem peso na polarização brasileira, mas é muito mais fácil de ser superado, a partir de um denominador comum: a tese aceita por todos do aumento da transparência.
As diferenças políticas na sociedade brasileira, como em todas as outras democracias, continuarão a existir. Mas é preciso determinar um ponto em que passam a ser prejudiciais aos dois lados e, consequentemente, ao próprio país.
Não é um caminho fácil insistir nessa tecla. Mas tenho algumas razões para supor que isso é possível, por meio da repercussão do meu próprio trabalho. Sempre que tentei, de uma certa forma, deu certo.
Impulsionando o futuro do agronegócio
Por Amauri Brazil , Vinicius Baracat , Hitalo Ribeiro e Gian Di Gregorio / O ESTADÃO DE SP
Há décadas o Brasil desfruta de uma posição de destaque no cenário global do agronegócio, sendo reconhecido como um dos mais relevantes provedores de alimentos do mundo. O modelo econômico de crescimento é função do acúmulo de capital, da população produtiva, do capital humano e dos ganhos em produtividade via inovação tecnológica. O Brasil, como qualquer outra economia em desenvolvimento, também colhe benefícios relevantes por meio do investimento de capital em infraestrutura.
Como o principal fornecedor de soja, carne bovina, café, milho, suco de laranja e açúcar do mundo, o País demonstra ser uma potência no setor agro, que já representa 24% do PIB nacional (Cepea). Apesar disso, o segmento ainda tem muitos desafios. Em 2024, prevê-se uma redução na safra de grãos por causa de fatores climáticos como o El Niño. Neste cenário, o governo federal anunciou, no início de fevereiro, dois grandes planos de investimento para o agronegócio, buscando manter o País competitivo e potencializar ao máximo as safras deste ano.
O anúncio do primeiro pacote veio pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com R$ 6 bilhões, sendo R$ 4 bilhões para financiamento dos produtores por meio de linhas de crédito dolarizadas e R$ 2 bilhões para o programa Procapcred. Já o segundo pacote, de R$ 4,7 bilhões, foi anunciado pelo governo federal e será destinado à infraestrutura.
Os R$ 4 bilhões em linhas de crédito são atrativos aos produtores rurais, já que oferecem proteção contra flutuações cambiais e diversificação de crédito, e são especialmente importantes para produtores exportadores que têm receitas atreladas ao dólar.
Entretanto, nas duas safras passadas, o produtor sofreu com a alta nos preços dos insumos agrícolas e com a queda no preço de venda das commodities, afetando as margens do setor. A linha de crédito dolarizada pode servir de motor ao setor, reduzindo custos e melhorando a competitividade, mas pode excluir micro e pequenos produtores, que têm maior dificuldade de acesso a crédito, afetando a inclusão financeira no agronegócio.
Por outro lado, o BNDES Procapcred foi melhorado, beneficiando cooperativas com financiamento direto aos associados. O limite aumentou para R$ 100 mil por cliente, com taxas menores e prazos mais longos, especialmente para cooperativas do Norte e do Nordeste, buscando equilibrar o acesso ao crédito.
Apesar do caráter complementar, esse investimento parece ter o intuito de desafogar o pequeno produtor de suas dívidas atuais, sem gerar reais impactos e inovações em áreas críticas nas quais a falta de investimento contribuiu para as margens apertadas e para o alto endividamento. Possivelmente, investimentos diretos na produção nacional de insumos agrícolas ou o acesso mais barato a eles pudessem impactar o pequeno produtor de forma mais objetiva. Apesar de fornecer um respiro a pequenos produtores, a solução apenas adia o problema e os mantém sujeitos às intempéries mercadológicas.
Adicionalmente, o governo federal apresentou um pacote de R$ 4,7 bilhões para infraestrutura, focando em ferrovias e rodovias nos corredores do Arco Norte e Sul/Sudeste, visando a melhorar o escoamento da safra 23/24. Os recursos também serão direcionados para portos e hidrovias, facilitando o acesso ao mercado externo. Esse plano aborda os problemas estruturais do agronegócio, impactando produtores de todos os tamanhos, desde agricultores familiares até grandes exportadores. A qualidade e a escassez de vias de escoamento prejudicam a eficiência e a escalabilidade do setor, tornando sua cadeia mais vulnerável.
Neste contexto, o governo federal prevê um investimento de R$ 349 bilhões para o setor logístico nos próximos anos, direcionando R$ 221 bilhões até 2026. Assim, o plano apresentado representa apenas 1,3% do total projetado para a logística nacional, parcela pouco representativa. Além disso, não fica claro em que momento serão feitos os próximos investimentos e quais serão os valores investidos.
Além da questão logística, a falta de infraestrutura de armazenamento primário de grãos também deveria ser foco de investimento, o que resultaria em maior proteção dos agricultores e aumento da competitividade. Melhores e mais sistemas logísticos e de armazenagem oferecem ao produtor espaços temporais de negociação de preços mais favoráveis e o colocam menos à mercê do preço spot da commodity.
Assim, cabe ao governo focar investimentos para o aumento da robustez das cadeias de produção de insumos agrícolas, em especial para fertilizantes; e facilitar o acesso às linhas de financiamento mais baratas a esses insumos, aliviando a margem dos produtores e gerando um impacto e retorno maiores dos recursos.
Os anúncios parecem atingir pontos críticos do agronegócio. Ao buscar equilibrar os impactados, pelo anúncio da linha de crédito dolarizada e do suporte às cooperativas, o governo demonstra entender que todos os níveis da cadeia do agro sofrem pressões monetárias no momento. E o pacote voltado para a infraestrutura demonstra uma visão de longo prazo.
Entretanto, é preciso atentar aos dogmas políticos do governo, que busca aproximar-se das cooperativas, porém sem um plano concreto para tornar a agricultura familiar mais resiliente e competitiva no cenário global. Apesar de o plano de infraestrutura endereçar áreas críticas da cadeia logística do agronegócio, é necessário um olhar cuidadoso sobre a velocidade e a qualidade das obras públicas para que estas resultem em impactos positivos para os agricultores do País. O onde é feito o investimento parece bem direcionado, falta apenas entender quais novos investimentos serão anunciados para a área logística e do agronegócio, para atingir os montantes previstos pelo governo, e quando os investimentos já anunciados serão implementados.
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SÃO, RESPECTIVAMENTE, DIRETOR, ANALISTAS E DIRETOR SÊNIOR DA ALVAREZ & MARSAL (A&M)
170 anos para universalizar o saneamento
Por Luana Pretto / O ESTADÃO DE SP
O governo federal, por meio do Ministério das Cidades, publicou em janeiro a atualização do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (Snis), com os indicadores setoriais referentes ao ano-base de 2022. O Snis é o maior banco de dados sobre saneamento do Brasil, oferecendo preciosas informações dos mais de 5,5 mil municípios brasileiros e de seus prestadores de serviços.
E qual a importância disso? Sem dados e informações, não é possível avaliar o que vem sendo feito, o que está dando resultado e o que está aquém do esperado. A utilização inteligente e estratégica de dados desempenha um papel crucial na formulação e implementação de políticas públicas voltadas para o setor de saneamento básico.
Eles são ainda mais importantes em nosso atual contexto, com o já aprovado Novo Marco Legal do Saneamento Básico, a Lei n.º 14.026/2020, que estipula que até 2033 99% da população brasileira tenha acesso à água tratada e 90% à coleta e ao tratamento de esgoto. Considerando o abastecimento de água, atendimento e tratamento de esgoto, o que vimos, comparando os dados de 2021 e 2022, é apenas uma pequena variação positiva. Apesar de uma melhora marginal em todos os indicadores, o cenário estável encontrado mantém ligado o sinal de alerta para atingirmos o proposto. O Índice de Atendimento Total de Água (IN055) evoluiu de 84,2%, em 2021, para 84,9%, em 2022. O Índice de Atendimento de Esgoto (IN056) foi de 55,8% para 56%; o Índice de Tratamento de Esgoto Gerado (IN046) foi de 51,2% para 52,2%; e o de Perdas na Distribuição de Água (IN049) diminuiu de 40,3% para 37,8%.
Nesse ritmo, em passos de tartaruga, o desafio de alcançarmos as metas propostas pelo novo marco fica maior, diante do prazo a cada ano mais curto. Se continuarmos evoluindo nesta velocidade, por exemplo, a universalização do acesso a coleta de esgoto levará 170 anos para se concretizar, comparando a evolução de um ano a outro. A lógica é: se avançamos apenas 0,2% em um ano, para evoluir 34% levaremos 170 anos.
E, para cumprirmos a lei, o rápido avanço no investimento é primordial. Apesar do aumento de 30%, se compararmos os valores de 2021 e 2022, indo de R$ 17,3 bilhões para R$ 22,5 bilhões, os valores ainda estão muito aquém do necessário para a universalização. De acordo com o estudo do Instituto Trata Brasil, utilizando dados do Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab), do próprio Ministério das Cidades, serão necessários investimentos anuais médios de aproximadamente R$ 44,8 bilhões para chegarmos à meta proposta.
Outro ponto crítico é a gritante diferença regional entre a carência nos serviços e o porcentual de investimento. A Região Norte do País, por exemplo, que apresenta os piores índices de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto, também conta com baixos índices de investimento. De acordo com o Diagnóstico Temático Serviços de Água e Esgoto, publicado pelo Ministério das Cidades, considerando os dados entre 2018 e 2022, a região conta com 20,7% da população brasileira com déficit de abastecimento de água, e, na contramão da necessidade de recursos, concentra apenas 6,1% dos investimentos.
O aumento significativo nos investimentos em saneamento básico é uma necessidade urgente diante destes colossais desafios em todo o País. A carência de infraestrutura adequada impacta diretamente a saúde pública, a qualidade de vida e o desenvolvimento socioeconômico. De acordo com estudo do Instituto Trata Brasil, com a falta de acesso ao saneamento básico de milhões de brasileiros, o País deixa na mesa mais de R$ 1 trilhão em benefícios socioeconômicos para a população. A destinação de recursos substanciais para projetos de saneamento não apenas proporciona acesso a água potável e tratamento de esgoto, mas também gera empregos, estimula o crescimento econômico local e reduz os custos associados aos problemas de saúde decorrentes da falta de saneamento.
A melhoria nas condições sanitárias cria um ambiente propício para o desenvolvimento educacional, uma vez que crianças saudáveis têm maior probabilidade de frequentar a escola regularmente. Além disso, a valorização das áreas urbanas e rurais com infraestrutura adequada atrai investimentos, impulsionando setores como o imobiliário e o turismo. Ao priorizar o saneamento básico, o Brasil não apenas cuida do bem-estar de sua população, mas também cria as bases para um crescimento sustentável e equitativo.
A falta de saneamento básico não é apenas um problema de saúde, mas também uma questão de justiça social. As comunidades carentes são frequentemente as mais afetadas pela ausência de infraestrutura sanitária adequada. A transformação do cenário do saneamento básico no Brasil exige uma abordagem proativa, com a alocação de recursos financeiros substanciais para essa causa. Investir em saneamento é, sem dúvida, construir um futuro mais saudável e igualitário para todos os brasileiros.
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PRESIDENTE-EXECUTIVA DO INSTITUTO TRATA BRASIL
O inquérito dos mil dias
O ESTADÃO DE SP
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes prorrogou pela décima vez, a segunda apenas neste ano, o Inquérito 4874, que desde julho de 2021 investiga a ação das chamadas “milícias digitais” contra o Estado Democrático de Direito. Como a investigação da Polícia Federal (PF) está sob sigilo, não é possível dizer se essa nova concessão de prazo – mais seis meses – faz sentido. Razoável ela não é, definitivamente.
Tanta obscuridade dá azo à inferência de que Moraes possa estar agindo, pura e simplesmente, orientado pelo mero exercício de poder, na linha “faço porque posso” – o que seria lamentável. Outra conclusão possível, dado o alongamento inexplicado das investigações, é a incompetência dos agentes da PF incumbidos das diligências para encontrar provas irrefutáveis contra os investigados depois de tanto tempo. Seja como for, as prorrogações praticamente automáticas do Inquérito 4874 – e de outros instaurados no âmbito da Corte a fim de investigar as investidas liberticidas dos bolsonaristas – não fazem bem ao próprio STF.
Um inquérito policial que facilmente passará dos mil dias de duração é em tudo contrário ao espírito da Constituição de 1988. Em outras palavras: a pretexto de investigar a atuação das “milícias digitais”, o STF tem enfraquecido a mesma democracia que pretende defender.
Lá está, consagrado no artigo 5.º, LXXVIII, da Lei Maior, o princípio da razoável duração do processo no rol dos direitos e garantias fundamentais dos cidadãos. Inquéritos sem fim não se coadunam com o regime democrático. A razão é elementar: a mera posição de investigado já é estigmatizante por si só; ademais, não é outra coisa senão truculência estatal submeter quem quer que seja à força persecutória do Estado por tempo indeterminado.
Não há dúvidas de que a Corte esteja, de fato, imbuída da missão de resguardar a Constituição e, desse modo, zelar pela plena vigência do Estado Democrático de Direito no País – como este jornal, aliás, já sustentou não uma, mas diversas vezes. O busílis é que os excessos que foram cometidos pelo STF em nome do resguardo da democracia em tempos de ameaças excepcionais já não se justificam. As ameaças que os ensejaram, como é notório, já não existem mais. Há muito o STF já deveria ter voltado ao leito da normalidade institucional.
É dever da PF concluir, de uma vez por todas, as “diligências ainda pendentes”. E é dever de Moraes, como ministro relator do Inquérito 4874 no âmbito do STF, exigir dos policiais federais esse profissionalismo. Dessa conclusão depende o envio das provas coletadas para o Ministério Público, o eventual oferecimento da denúncia e o julgamento dos acusados.
Ao sinalizar que o Inquérito 4874 seguirá aberto, no mínimo, até setembro deste ano, às vésperas das eleições municipais, Moraes alimenta a especulação de que a PF pouco tem de concreto nas mãos e o STF, por sua vez, tem se valido dessas investigações sem fim para levar adiante uma agenda política, o que é péssimo para a Corte e pior para o País.
Lula ‘ensaia’ ministros para enfrentar bolsonarismo e vai a Estados com forte oposição
Por Roseann Kennedy e Eduardo Gayer / O ESTADÃO DE SÃO PAULO
A reunião ministerial desta segunda-feira, 18, evidenciou que segurança pública e saúde são o calcanhar de Aquiles do governo Lula. O presidente reconhece a pessoas próximas que o Executivo está perdendo a guerra com o bolsonarismo nessas pautas. Sua aposta, agora, é ensaiar o discurso para todos os ministros defenderem o governo, e não apenas suas pastas, em meio à queda de popularidade.
Para avançar no terreno da oposição, Lula também pretende viajar, em breve, a redutos da direita, como Goiás, que tem o governador mais bem avaliado do País, Ronaldo Caiado (União Brasil). Ele é pré-candidato ao Palácio do Planalto com o enfrentamento ao crime organizado como principal bandeira.
Entre os poucos ministros que tiveram direito à fala, a ministra Nísia Trindade (Saúde) teve de explicar, por exemplo, a recente nota técnica do Ministério da Saúde — depois suspensa — estabelecendo que não deveria haver um limite temporal para a interrupção da gravidez nos casos previstos em lei. O documento teve forte impacto na opinião pública e abalou a já complicada relação do governo com o mundo evangélico. A ministra afirmou que a nota não passou por ela.
Como mostrou a Coluna do Estadão, na reunião desta segunda-feira, Lula deu uma bronca em Nísia pela situação dos hospitais federais no Rio. Ela chorou ao comentar a pressão do Centrão pela sua cadeira.
O presidente também reclamou do Ministério da Saúde no enfrentamento à dengue. Bolsonaristas têm recortado falas de Lula com críticas à gestão de Jair Bolsonaro durante a pandemia de covid-19 para criticar a falta de vacinas contra a doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti.
A resposta à crise humanitária na Terra Yanomami foi outro ponto que Nísia precisou se defender. Já são 363 mortes no território, mais do que as 343 em 2022 sob Bolsonaro.
Já Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública) teve de dar explicações aos colegas sobre a fuga inédita de detentos da prisão de segurança máxima de Mossoró (RN). Ele destacou que o ocorrido foi apenas seis dias após sua posse, mas que as equipes estão mobilizadas para encontrar os criminosos.
As justificativas de Nísia e Lewandowski deverão ser usadas por todos os ministros para defender o governo em entrevistas e agendas pelo País, que foram novamente incentivadas pelo presidente na reunião desta segunda-feira.
Em sua exposição, o ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta, reconheceu desafios do governo na comunicação das políticas públicas em andamento. Prometeu que, em breve, uma agência de publicidade digital será contratada via licitação pelo Palácio do Planalto e fará comunicações segmentadas, para falar de forma diferenciada com os diferentes públicos.
Com a ida de Flávio Dino, ex-ministro da Justiça, para o Supremo Tribunal Federal (STF), o governo Lula ficou sem um personagem para fazer o enfrentamento com os bolsonaristas na internet. Lewandowski tem um perfil discreto, sem redes sociais, e os outros titulares da Esplanada ainda não conseguiram suplantar esse papel.
Além deles, apenas os ministros Rui Costa (Casa Civil), Fernando Haddad (Fazenda) e Cida Gonçalves (Mulheres) puderam falar na reunião ministerial. Ou seja, seis ministros dos 38. O vice-presidente Geraldo Alckmin, que também comanda a pasta do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, falou na condição de “número dois” do governo.
PT traça estratégia para o difícil embate nas urnas nas maiores cidades do Ceará em 2024
Escrito por Inácio Aguiar / diarionordeste
Partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT perdeu espaço, na última década, no tabuleiro eleitoral das prefeituras municipais. De volta ao Palácio do Planalto, entretanto, o partido montou uma ofensiva e está projetando um resultado expressivo no Brasil e, claro, também no Estado do Ceará nas eleições municipais de 2024.
Se, por um lado, o retorno ao poder nacional representa um peso positivo ao partido na nova empreitada, por outro o cenário nas principais cidades cearenses apresenta desafios que poderá frustrar os planos das lideranças locais e nacionais petistas em caso de deslize nas estratégias ou vácuos na condução das alianças para montar as chapas eleitorais.
Começando por Fortaleza, a maior cidade do Estado e da região Nordeste, o PT caminha para lançar candidatura própria, a ser anunciada no próximo dia 21 de abril no Encontro Municipal da Legenda. Pelas perspectivas de bastidores, o presidente da Assembleia Legislativa do Estado, Evandro Leitão, deverá ser o ungido do petismo, mas há questões a serem consideradas como desafiadoras.
Quem detém a Prefeitura da Capital é o PDT de José Sarto. Nacionalmente, os dois partidos estão aliados. O pedetista Carlos Lupi, por exemplo, ocupa o Ministério da Previdência no governo Lula. Porém, o clima entre os partidos no Ceará é de rompimento e racha desde a eleição de 2022.
Com Sarto disputando a reeleição, o PT sabe das dificuldades que terá em um cenário com outros pré-candidatos fortes como caso de Capitão Wagner (União) e André Fernandes (PL). Do outro lado do cenário, há a composição com partidos aliados ao PT que anda, aparentemente, tranquila e conta com PP, Republicanos, MDB, PSD e PSB. Este último, porém, um caso a se observar. Depois de filiar Cid Gomes, a sigla cresceu e passou a significar uma força a ser ouvida no processo de definição.
Caucaia
Ainda na Região Metropolitana, em Caucaia, o partido também terá candidatura própria. A costura política culminou no recente anúncio do nome do secretário de Articulação Política do Governo Elmano, Waldemir Catanho – ligado à deputada Luizianne Lins – para a cabeça de chapa com apoio do prefeito Vitor Valim. Um nome local, da própria cidade, deverá ocupar a vaga de vice-prefeito.
Mesmo com o poder, o cenário em Caucaia é conturbado. O fato de o prefeito abrir mão da reeleição gerou muitas especulações entre os aliados no próprio município. O fim do mandato marca ainda desgastes de imagem de uma gestão que começou apresentando projetos interessantes e vai passar por um teste de fogo nas urnas.
Juazeiro do Norte
Outro ponto focal da estratégia petista é o maior município do Interior do Estado: Juazeiro do Norte. Lá, o governador Elmano chegou a ensaiar uma aliança com o prefeito Glêdson Bezerra (Podemos), mas atualmente, as partes estão rompidas. E já é praticamente certo que o vice-presidente da Assembleia, deputado Fernando Santana, será o candidato petista na Cidade, na oposição ao prefeito.
Juazeiro tem uma tradição de não reeleger prefeitos. Até hoje, nenhum gestor conseguiu renovar o mandato nas urnas. Uma peculiaridade no Cariri poderá tornar a jornada petista mais difícil: a cidade do Padre Cícero está bem perto de chegar aos 200 mil eleitores, tendo, portanto, disputa eleitoral em dois turnos.
Essa particularidade poderá apresentar novos elementos para a disputa. Além disso, Fernando Santana terá o desafio de unir as forças governistas no município para a empreitada. O grupo tem nomes como o deputado estadual Davi de Raimundão, o ex-deputado Nelinho e o ex-prefeito Arnon Bezerra.
Maracanaú
Em Maracanaú, há duas hipóteses para o partido: apoiar a reeleição do prefeito Roberto Pessoa (União) ou apresentar candidatura própria. O deputado estadual Júlio César Filho, ex-líder do governo Camilo Santana na Assembleia, é um nome que tenta se viabilizar.
Nos bastidores, entretanto, há uma possibilidade real de aliança com o prefeito da Cidade, que tem prestado apoio ao governador Elmano de Freitas. Essa disputa poderá ter reflexos, inclusive, em cidades vizinhas como Pacatuba.
Sobral
Por fim, não é provável que o PT tenha candidato próprio em Sobral, na região Norte do Estado. No berço político dos irmãos Ferreira Gomes, o partido mantém aliança, mas a relação entre a vice-prefeita Crhistianne Coelho e o prefeito Ivo Gomes já foi melhor.
Recentemente, a gestão promoveu exonerações no gabinete da Vice-Prefeitura e até a devolução do prédio sede que era alugado.
O momento ainda é de indefinições na sucessão municipal em Sobral, mas é praticamente certo que o partido não deve ter candidato próprio a prefeito da Cidade.