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Após denúncias, MPCE cobra explicações a Hospital da Mulher sobre falta de insumos e atraso salarial

diarionordeste

 

A administração do Hospital e Maternidade Dra. Zilda Arns Neumann, o Hospital da Mulher de Fortaleza, terá um prazo de cinco dias para explicar ao Ministério Público do Estado (MPCE) sobre o cancelamento de cirurgias, atrasos salariais, falta de insumos e outras falhas no serviço denunciadas por trabalhadores ao Diário do Nordeste.

 

O MPCE, por meio da 137ª Promotoria de Justiça de Fortaleza, cobrou explicações à gestão do hospital municipal por meio de ofício expedido nessa terça-feira (3). 

 

No documento, a promotora de Justiça Ana Cláudia Uchoa solicitou que o hospital informe, dentro do prazo de cinco dias:

  • a relação de todos os medicamentos e insumos utilizados pela unidade, apresentando a situação atual de estoque de cada item; 
  • o consumo médio mensal e o consumo de cada item listado entre os meses de dezembro de 2023 e janeiro de 2024, com as quantidades existentes em estoque à época.

O órgão explica que as informações sobre estoques e consumos anteriores são necessárias “para efeito comparativo”. Além da situação de insumos e medicamentos, o MP cobrou que o Hospital da Mulher envie:

  • a lista atualizada de quantas e quais cirurgias ocorreram nos últimos seis meses no hospital;
  • quantas e quais cirurgias foram canceladas nesse mesmo período; 
  • quantos leitos de UTI estão funcionando atualmente e quantos estão fechados; 
  • e a relação dos profissionais que trabalham no hospital e os que estão com seus pagamentos em atraso.
  • Na última segunda-feira (2), o Diário do Nordeste publicou reportagem com relatos de trabalhadores e de usuários sobre problemas no funcionamento do Hospital da Mulher.
    • O Sindicato dos Médicos do Ceará atestou que a falta de cateter de infusão, equipamento necessário para injetar medicações em bebês recém-nascidos, causou o bloqueio de quatro leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

      Somado a isso, uma fonte ligada ao hospital afirmou à reportagem que cirurgias eletivas gerais têm sido “canceladas por falta de material”, e apontou que alguns profissionais médicos “não receberam ainda os salários de setembro nem de outubro”.

      Procurada, a Prefeitura de Fortaleza afirmou que “a unidade segue em pleno funcionamento”, e justificou que os outros pontos (atrasos de salários e faltas de materiais) estavam em processo de regularização.

      hospital da mulher ff

TSE julga nesta quinta (5) ações que podem cassar todos os deputados estaduais do PL Ceará

Escrito por Bruno Leite / diarionordeste

 

Tribunal Superior Eleitoral (TSE) julga, nesta quinta-feira (5), as quatro ações judiciais que podem cassar a chapa do Partido Liberal (PL) eleita para a Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece) em 2022. Ao todo, quatro parlamentares integram a bancada. A legenda é acusada de ter cometido fraude à cota de gênero.

O caso foi julgado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE), que proferiu, em maio do ano passado, sentenças que determinaram a cassação dos deputados Carmelo Neto, Dra. Silvana, Marta Gonçalves e Pastor Alcides Fernandes. A condenação ocasionou na anulação de todos os votos recebidos pelos partidários. 

Ao que concluiu o TRE-CE, o PL utilizou ilegalmente o nome de mulheres para cumprir o que prevê a legislação acerca do número mínimo de candidaturas femininas que cada agremiação deve lançar em um pleito.

Pelo que consta nas ações ingressadas contra o Partido Liberal, o diretório estadual teria lançado ao menos seis mulheres como postulantes de maneira fraudulenta para preencher a cota de gênero.

Após a decisão de maio de 2023, recursos foram apresentados e, ao serem acolhidos, acabaram suspendendo os processos. Houve um recurso que chegou a defender a suspeição do juiz eleitoral Érico Carvalho, que participou do julgamento, mas a medida não foi acatada.

Em novembro do ano passado, o julgamento dos embargos foram retomados. A primeira parte foi julgada ainda naquele mês e a finalização ocorreu neste ano. Assim, em janeiro, Corte Eleitoral cearense rejeitou os últimos embargos de declaração ingressados pela chapa do PL, de modo que foi mantida a cassação.

Os embargos foram os últimos recursos antes das ações serem direcionadas para o TSE. Como ainda há tramitação vigente, os parlamentares seguiram com suas cadeiras na Assembleia Legislativa.

Um parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR)emitido em maio deste ano, no âmbito da Corte Superior Eleitoral, foi favorável à medida tomada pela instância inferior.

No documento da PGR, além de manter a cassação, o vice-procurador-geral Eleitoral, Alexandre Espinosa Bravo Barbosa, recomendou a inelegibilidade de Acilon Gonçalves, que presidia a sigla no Ceará na época da montagem da chapa proporcional.

O que dizem os citados

Nesta terça-feira (3), o atual dirigente do PL Ceará e um dos réus das ações que tramitam na Justiça Eleitoral, o deputado estadual Carmelo Neto, publicou um vídeo nas redes sociais em que mostrou a intimação recebida por ele e que comunicou a inserção do assunto na pauta do TSE. 

Segundo o político, o documento foi recebido por ele com "muita serenidade". "Porque sei que não fiz nada de errado", continuou. Apesar disso, disse Carmelo, haveria "muita revolta" da parte dele. 

"Se estou na Assembleia é porque o povo quis, me elegeu o deputado mais votado do Ceará, com 118.603 votos", argumentou. De acordo com ele, a ação judicial que o colocou como réu demonstraria uma perseguição contra sua atuação na Alece.

Uma das Ações de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) foi proposta pela Federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV), por Adelita Monteiro e pelos suplentes de deputado estadual Audic Mota, Bruno Pedrosa, Élvilo Araújo e Nizo Costa.

Procurado pela reportagem para que pudesse se manifestar, Carmelo Neto encaminhou o mesmo registro postado em seu perfil na internet.

Dra. Silvana, por sua vez, quando indagada, nessa quarta-feira (4), afirmou que não houve fraude na participação do PL no processo eleitoral de 2022. Ao que alegou, todas as mulheres que se candidataram foram votadas. "E não foi negócio de um ou dois votos", completou.

"Elas foram votadas, assinaram tudo e, o próprio TRE, na época, abriu mão de perícia nas assinaturas, porque eram mesmo delas. Então, estamos sendo julgados por uma suposta fraude cometida pelo presidente do partido", frisou.

Pelo que afirmou a parlamentar, ela não teve envolvimento no processo de registro das candidaturas ou até mesmo na participação das mulheres que teriam sido utilizadas como "laranjas". "Não conheço nenhuma dessas mulheres, não participei de formação de chapa, assim como os outros deputados [também não participaram]", salientou. 

Silvana, entretanto, admitiu estar preocupada, porque há, no entendimento dela, uma "judicialização" da política no país. "Estamos vivendo uma situação perigosíssima", considerou, revelando ainda que não irá acompanhar o julgamento e que está "com o coração sossegado". 

O sentimento de confiança também foi compartilhado pelo deputado Pastor Alcides Fernandes. Ele falou que espera um "julgamento técnico" e "com sabedoria". "Eles vão ver que foram quatro deputados, os quatro deputados somando quase 400 mil votos, inclusive as duas mulheres sendo as mais votadas aqui do estado de Ceará", argumentou.

"Então, a minha palavra é essa, é crer, é acreditar que Deus nos dará vitória e usará aquele Tribunal para fazerem um julgamento justo. É tudo que eu espero", disse o religioso ao PontoPoder quando foi contatado.

Marta Gonçalves, no entanto, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que não iria se pronunciar agora. "Quem está falando em nome do partido é o deputado Carmelo Neto", justificou a equipe em um breve texto enviado como resposta.

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Juíza põe no banco dos réus Odebrecht e mais 38 alvos da Lava Jato por propinas na Torre de Pituba

Por Pepita Ortega / o estadão de sp

 

A juíza Rejane Zenir JungBluth Suxberger, da 1ª Zona Eleitoral de Brasília, colocou no banco dos réus o empresário e delator Marcelo Odebrecht, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, o ex-diretor de serviços da Petrobrás Renato Duque e mais 36 investigados da antiga Operação Lava Jato. Eles eram acusados de supostos crimes de corrupção, gestão fraudulenta de instituição financeira, lavagem de ativos e organização criminosa na construção e ampliação da “Torre de Pituba”, nova sede da Petrobras em Salvador.

 

O Estadão busca contato com a defesa dos investigados. O espaço está aberto para manifestações.

 

O caso nasceu da Operação Lava Jato e era conduzido pela 13ª Vara Federal de Curitiba. Depois, foi remetido para a Justiça Eleitoral de Brasília após o Supremo Tribunal Federal reconhecer a competência da mesma para analisar ações conexas a crimes eleitorais. Além disso, o processo foi atingido pela anulação das provas do acordo de leniência da Odebrecht, mas ainda assim permaneceu de pé.

 

O Ministério Público Federal ofereceu nova denúncia no processo, apontando que mesmo com a exclusão de inúmeras provas, a acusação ainda se mantinha de pé. No último dia 13, Suxberger considerou que “estão presentes os pressupostos processuais e as condições da ação para o recebimento da denúncia”.

“A justa causa reside na probabilidade do cometimento dos fatos atribuídos aos denunciados, que se sucederam em torno das obras de ampliação do Conjunto Torre de Pituba, destinada a abrigar a nova sede da Petrobrás em Salvador/BA. Nesse contexto, se verificou possível prática dos crimes de corrupção ativa, corrupção passiva, gestão fraudulenta, desvio de recursos de instituição financeira e lavagem de dinheiro, no bojo de organização criminosa”, anotou a magistrada.

 

Segundo a juíza, há “indício de materialidade” dos crimes, considerando documentos e depoimentos colhidos ao longo do inquérito, seja com diligências em operações, com acordos de colaboração e no próprio curso da ação penal, enquanto tramitou perante a 13ª Vara Federal de Curitiba. O despacho foi publicado no último dia 18.

 

A treva do ministro Barroso: STF quer criar sozinho uma lei para as redes sociais

Por J.R. Guzzo / O ESTADÃO DE SP

 

O presidente do STF, pelo que diz em público e pelas decisões que toma, é uma lanterna que funciona ao contrário: sempre que aponta para algum lugar, cria a escuridão imediata sobre tudo aquilo que até então estava claro. A liberdade de expressão, um dos pontos mais luminosos da aventura humana, é para ele e seus colegas uma doença social. Tem de ser combatida, como a febre amarela, e o ministro Luís Barroso faz isso criando o máximo possível de treva no debate sobre o tema.

 

Sua última barragem de artilharia contra o direito constitucional à palavra livre é uma aula magna sobre os usos da sua lanterna da escuridão. A possível revisão das normas que hoje regulam as redes sociais é claramente um assunto do Congresso Nacional, e de ninguém mais. Só o parlamento está autorizado a fazer leis no Brasil – uma auto evidência óbvia como o sol do meio-dia. Não interessa se são boas, médias ou ruins. São as únicas possíveis. Barroso e o STF discordam. Acham só eles fazem as leis “certas”.

 

No caso, o presidente do STF diz que os ministros estão criando a legislação de fato sobre a questão, ao julgarem processos relacionados a ela, porque o Congresso ainda não aprovou nenhuma lei para regulamentar as redes sociais. “O tribunal aguardou, por um período bastante razoável, a sobrevinda de legislação por parte do Poder Legislativo”, diz Barroso. “Não ocorrendo, chegou a hora de decidirmos essa matéria”.

 

É a treva absoluta do oceano a 10 mil metros de profundidade – ali onde a luz não entra, nunca. Na verdade, é raro encontrar tanta falsidade num único pensamento. Onde está escrito, para começar, que o Congresso tem “prazo” para aprovar qualquer tipo de lei? Isso não existe. E quem define o que seria um prazo “razoável”? Prazo, na lei, é prazo: 24 horas, 10 dias, 30 anos. Se não está escrito, não é nada. “Razoável” é um adjetivo; expressa uma opinião, e lei não tem adjetivo, nem opinião.

 

É integralmente falso, também, que não exista lei regulamentando o uso das redes sociais do Brasil. Existe, sim, há dez anos – é o marco civil da internet. O que não existe, na verdade, é uma lei que o STF goste. O regulamento em vigor preserva a liberdade de expressão, e a liberdade de expressão é a besta-fera fundamental que o STF quer eliminar no Brasil. Exigem a censura prévia e eterna, onde o cidadão é proibido de dizer até mesmo o que ainda não disse - é o que acontece quando lhe cassam o “perfil” e não devolvem.

 

A liberdade de palavra é uma conquista essencial da humanidade. Barroso, Moraes, Dino etc. acham que é propriedade privada do Estado, a ser dada nas doses que eles querem. Não há nada mais escuro.

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Opinião por J.R. Guzzo

Jornalista escreve semanalmente sobre o cenário político e econômico do País

Tribunais federais e estaduais pagam ‘bônus’ a juízes sem decisão do Senado sobre PEC do Quinquênio

Por Weslley Galzo / O ESTADÃO DE SP

 

BRASÍLIA - Os magistrados de ao menos 14 Tribunais de Justiça (TJs) e cinco Cortes federais do País têm recebido mensalmente benefícios extras em seus contracheques, a título de Adicional por Tempo de Serviço (ATS), mesmo sem o Congresso ter finalizado a discussão da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Quinquênio, que prevê o pagamento do “bônus” a juízes e procuradores.

 

A PEC do Quinquênio em tramitação no Senado propõe pôr um fim nas resoluções e atos administrativos aprovados em cada tribunal ao reconhecer o pagamento do penduricalho como um direito constitucional.

 

O texto é de autoria do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e prevê a volta do pagamento de ATS para carreiras do Judiciário e do Ministério Público a cada cinco anos e, por isso, é chamado de quinquênio. O texto que tramita no Congresso estabelece um acréscimo de 5% nos salários a cada período, que podem chegar até o máximo de 35% do teto constitucional.

 

O proposta foi debatida intensamente em abril deste ano e chegou a ser pautada para votação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, mas não avançou na Casa por causa da pressão de diversos setores, incluindo o governo do presidente Luiz Inácio Lula Silva.

 

Levantamento realizado pelo Estadão em consulta aos Tribunais de Justiça mostra que o ATS é pago a magistrados em Goiás, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia e São Paulo. Os Tribunais Regionais Federais da 1ª Região (TRF-1) e da 5ª Região (TRF-5) também constam na lista.

 

Além disso, o Estadão identificou em consulta ao DadosJusBR, projeto da Transparência Brasil que agrega R$ 144 bilhões em contracheques do Judiciário e Ministério Público, outros cinco tribunais de unidades da Federação (Paraíba, Pará, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal e Acre) e três federais (TRF-2, TRF-4 e TRF-6) que pagaram rubricas intituladas de ATS e Quinquênio, em 2023.

 

O Estadão questionou os tribunais sobre as estimativas de custo e impacto financeiro com o pagamento do penduricalho, mas a maioria dos procurados não respondeu. O TRF-5 foi o único a informar o quanto desembolsa com o custeio do benefício. São R$ 62.762,74 por mês com magistrados ativos, R$ 25.744,98 com inativos e R$ 14.758,70 com pensionistas.

 

A Corte Federal afirmou que não expediu ato administrativo para autorizar o pagamento do quinquênio, como fizeram outros tribunais. O TRF-5 argumentou que “apenas cumpriu a determinação do Conselho da Justiça Federal (CJF), amparada por julgados do Tribunal de Contas da União (TCU) e do Supremo Tribunal Federal (STF)”.

 

Em 2022, o CJF autorizou o retorno do pagamento de ATS. O benefício havia sido extinto em 2006, mas foi reincorporado os holerites a partir da mobilização de associações de magistrados, As estimativas da época eram de que os juízes federais com direito ao penduricalho poderiam embolsar até R$ 2 milhões com o pagamento de valores retroativos.

 

Como revelou o Estadão, em 2023, o então corregedor nacional de Justiça, Luís Felipe Salomão, chancelou o pagamento do penduricalho. Na época, técnicos do TCU realizaram uma auditoria na qual identificaram que o benefício custaria R$ 1 bilhão aos cofres públicos. Foi a partir do ano passado, com respaldo na decisão do CNJ, que as cúpulas das Cortes intensificaram as autorizações de pagamento do bônus.

 

“São autorizações dos conselhos que não encontram respaldo impresso na legislação. É importante que todo benefício tenha uma lei autorizativa específica e que não seja (criado) via interpretação, ou algo que surgiu do nada”, analisou o coordenador de projetos da Transparência Brasil, Cristiano Pavini. “Deveria ter uma padronização, na qual os órgãos dos Estados não pudessem criar benefícios sem aval dos conselhos nacionais, que seriam atinentes ao que está previsto nas legislações”, completou.

 

Um exemplo do comportamento dos órgãos do Judiciário é o TJ de Goiás, que restabeleceu o pagamento do penduricalho em janeiro deste ano. Como mostrou o Estadão, a autorização do pagamento foi feita por meio de um procedimento sigiloso. Antes mesmo da volta do ATS, uma série de benefícios pagos pela Corte fez com que 58 juízes recebessem mais de R$ 1 milhão em salários em 2023, conforme levantamento da Transparência Brasil. A instituição figura entre as que pagam os maiores salários do País aos seus membros.

 

A vice-presidente da ong República.Org, Vera Monteiro, explica que “o fundamento (técnico-jurídico) para que o Judiciário aprove remuneração extra aos magistrados baseada exclusivamente na passagem do tempo, sem considerar desempenho e o teto (remuneratório do funcionalismo público), está na sua autonomia administrativa e financeira”.

 

A independência dos órgãos do Poder Judiciário permite que cada tribunal defina como aplicar os recursos dos seus respectivos orçamentos. Esse modelo permite que valores discricionários, que poderiam ser utilizados em investimentos, por exemplo, sejam realocados na concessão de verbas indenizatórias adicionais aos salários dos juízes e desembargadores.

 

Outro caminho adotado por alguns tribunais é emitir portarias espelhando as decisões do CJF e CNJ que autorizaram o pagamento dos benefícios.

O Estadão revelou que os pagamentos de valores milionários a título de ATS e saldos retroativos do penduricalho nos TJs de São Paulo e Paraná têm sido comunicados por mensagens informais de WhatsApp. Na Corte paranaense, a tônica da eleição para presidente foi marcada por promessas de quem garantiria o maior número de vantagens e asseguraria os depósitos dos valores retroativos do benefício.

 

Somente em outubro deste ano, o chefe do Poder Judiciário do Paraná autorizou o pagamento de R$ 27,4 milhões aos juízes e desembargadores a título de ATS e Gratificação por Acúmulo de Função (GAF), benefícios estes que são regulamentados por atos do próprio TJPR. O presidente do TJPR, Luiz Fernando Tomasi Keppen, argumenta que os valores foram distribuídos a 12 mil pessoas e são relativos a salários e passivos trabalhistas.

 

Na discussão em curso sobre o tema no Senado, os principais argumentos contra a volta do Quinquênio estão relacionados ao privilégio setorial e ao impacto financeiro que a medida geraria. Caso passe pelo crivo do Congresso Nacional, a proposta vai gerar um impacto anual de R$ 40 bilhões, de acordo com uma estimativa do governo federal.

 

Já as associações e grupos organizados do Poder Judiciário argumentam que o benefício é necessário para compensar defasagens salariais e reter talentos no funcionalismo público.

Bolsonaro planejou, atuou e teve domínio de plano para golpe, diz Polícia Federal

Cézar Feitoza / FOLHAS DE SP

 

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) liderou a trama golpista no final de 2022, e a ruptura democrática não foi concretizada por "circunstâncias alheias à sua vontade", disse a Polícia Federal no relatório final da investigação sobre a tentativa de golpe de Estado.

Declarado inelegível pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) até 2030 por ataques e mentiras sobre o sistema eleitoral, Bolsonaro teve seu papel detalhado pela PF nas conclusões do inquérito entregues ao STF (Supremo Tribunal Federal) e tornadas públicas nesta terça-feira (26) pelo ministro Alexandre de Moraes.

Segundo a PF, "os elementos de prova obtidos ao longo da investigação demonstram de forma inequívoca" que Bolsonaro "planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva dos atos executórios realizados pela organização criminosa que objetivava a concretização de um golpe de Estado e da abolição do Estado democrático de Direito".

O ex-presidente foi indiciado neste ano pela PF em três inquéritos: sobre as joias, a falsificação de certificados de vacinas contra a Covid-19 e, agora, a tentativa de golpe de Estado.

O relatório da PF foi enviado para análise da PGR (Procuradoria-Geral da República), responsável por avaliar as provas e decidir se denuncia ou não os investigados.

Segundo a corporação, os 37 indiciados cometeram três crimes: tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado e organização criminosa, cujas penas somam de 12 a 28 anos de prisão, desconsiderando os agravantes.

O texto do relatório diz que o grupo investigado era "liderado por Jair Bolsonaro" e "criou, desenvolveu e disseminou" desde 2019 a narrativa falsa de vulnerabilidade das urnas eletrônicas para justificar intenções golpistas em caso de derrota do então presidente na tentativa de reeleição.

Após a derrota na eleição de 2022, segundo a PF, Bolsonaro "elaborou um decreto que previa uma ruptura institucional, impedindo a posse do governo legitimamente eleito". O então presidente apresentou a minuta do golpe aos comandantes da Forças Armadas, de acordo com a investigação.

A PF diz que uma série de diálogos entre interlocutores, análise da localização de celulares e datas e locais de reuniões indicam que Bolsonaro sabia dos planos do general da reserva Mario Fernandes, ex-chefe dos chamados "kids pretos" do Exército, para matar o presidente Lula (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e Moraes.

"Enquanto as medidas para ‘neutralizar’ o ministro Alexandre de Moraes estavam em andamento, o núcleo jurídico do grupo investigado finalizou o decreto que formalizaria a ruptura institucional, mediante a decretação de estado de defesa no Tribunal Superior Eleitoral e a instituição da Comissão de Regularidade Eleitoral", afirma.

Segundo a PF, a ação para prisão e assassinato de Moraes em 15 de dezembro de 2022 foi abortada quando Bolsonaro "não obteve o apoio" do general Freire Gomes, então comandante do Exército, "e da maioria do Alto Comando do Exército".

Bolsonaro negou na segunda-feira (25) que tivesse conhecimento sobre planos apurados pela PF para matar Lula, Alckmin e Moraes. "Esquece, jamais. Dentro das quatro linhas não tem pena de morte."

O ex-presidente, porém, confirmou que discutiu com aliados e militares a possibilidade de decretar estado de sítio após a derrota na disputa eleitoral de 2022 —o que, para Bolsonaro, não configuraria golpe nem crime. "A palavra golpe nunca esteve no meu dicionário."

Nesta terça, após a divulgação do relatório da PF, ele republicou em rede social um vídeo bebendo caldo de cana, acompanhado de uma trilha risadas, mas sem menção direta à investigação.

A investigação da PF mostrou que, no fim de 2022, Bolsonaro, aliados e militares passaram a discutir minutas de decreto golpistas com o objetivo de anular o resultado das eleições presidenciais, sob a falsa alegação de fraudes nas urnas eletrônicas.

Os textos passaram por mudanças ao longo de novembro e dezembro, algumas feitas por ordem de Bolsonaro. Com o texto alinhado entre aliados, o então presidente convocou os chefes das Forças Armadas para sondar o apoio dos militares à proposta golpista.

Em depoimento à PF, o então comandante da Aeronáutica, brigadeiro Baptista Júnior, disse que o general Freire Gomes, à época comandante do Exército, chegou a dizer que prenderia Bolsonaro se ele avançasse com os intentos golpistas.

"Depois de o presidente da República, Jair Bolsonaro, aventar a hipótese de atentar contra o regime democrático, por meio de alguns institutos previsto na Constituição (GLO ou estado de defesa ou estado de sítio), o então comandante do Exército, general Freire Gomes, afirmou que caso tentasse tal ato teria que prender o presidente da República", declarou.

O único chefe militar que apoiou os planos de Bolsonaro foi o comandante da Marinha, Almir Garnier Santos. Segundo a PF, ele colocou as tropas à disposição do ex-presidente para a consumação do golpe. O almirante ficou em silêncio diante da Polícia Federal.

Mesmo após a negativa dos chefes do Exército e da Aeronáutica, o então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, fez novos apelos para os comandantes das Forças Armadas. O militar foi a peça principal do governo Bolsonaro no ataque às urnas eletrônicas.

O plano do general da reserva Mario Fernandes, que trabalhava no Palácio do Planalto, para matar Lula, Alckmin e Moraes foi descoberto pela PF na reta final do inquérito. O militar conseguiu apoio de outros colegas de farda, que executaram parte do planejamento, segundo a investigação.

O documento com o passo a passo desse plano foi impresso por Fernandes no Planalto com o título "Punhal Verde Amarelo". Ele previa a participação de seis pessoas, com celulares descartáveis e formatados, e o uso de armamento exclusivo do Exército para o assassinato das autoridades.

Projetava ainda outras possibilidades de execução dos alvos, por exemplo com uso de artefatos explosivos e envenenamento em evento público.

Segundo a PF, no dia em que o golpe seria executado, com a prisão ou assassinato de Moraes, o general Mario Fernandes enviou uma mensagem para o ministro Luiz Eduardo Ramos. "Kid Preto, algumas fontes sinalizaram que o comandante da Força sinalizaria hoje, foi ao Alvorada para sinalizar ao presidente que ele podia dar uma ordem."

O general Freire Gomes realmente havia conversado com Bolsonaro na manhã do dia 15 de dezembro, no Palácio da Alvorada. Mario pede então a Ramos: "Blinda ele [Bolsonaro] contra qualquer desestímulo, qualquer assessoramento diferente. Isso é importante".

De acordo com a PF, o plano de execução das autoridades foi abortado já com os militares em campo porque o golpe só seria viável com a participação de "um elemento fundamental, o apoio do braço armado do Estado, em especial a força terrestre, o Exército".

As investigações apontaram uma estrutura na tentativa de golpe por meio de divisão de tarefas, com a existência dos seguintes grupos:

  • Núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral
  • Núcleo responsável por incitar militares a aderirem ao golpe de Estado
  • Núcleo jurídico
  • Núcleo operacional de apoio às ações golpistas
  • Núcleo de inteligência paralela
  • Núcleo operacional para cumprimento de medidas coercitivas

O lado golpista de Bolsonaro é conhecido de longa data.

Saudosista da ditadura militar (1964-1985), ele reiterou ao longo de anos sua tendência autoritária e seu desapreço pelo regime democrático. Negou a existência de ditadura no Brasil e se disse favorável a "um regime de exceção", afirmando que "através do voto você não vai mudar nada nesse país".

Na Presidência, deu a entender em 2021 que não poderia fazer tudo o que gostaria por causa dos pilares democráticos. "Alguns acham que eu posso fazer tudo. Se tudo tivesse que depender de mim, não seria este o regime que nós estaríamos vivendo. E apesar de tudo eu represento a democracia no Brasil."

Durante seu mandato e após a derrota para Lula em acirrada disputa de segundo turno, o hoje inelegível Bolsonaro acumulou declarações golpistas.

Questionou a legitimidade das urnas, ameaçou não entregar a Presidência ao petista após a derrota eleitoral, atacou instituições como o STF e o TSE e estimulou a população a participar de atos golpistas.

Saiba quem são os deputados e senadores citados em relatório de inquérito da PF sobre golpe

Por Heitor Mazzoco e Hugo Henud / O ESTADÃO DE SP

 

O relatório final da Polícia Federal (PF) sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado no Brasil cita diversos deputados federais e senadores aliados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que teriam algum tipo de participação no movimento antidemocrático. Figuram no documento, por exemplo, Marcos do Val (Podemos-ES),Carla Zambelli (PL-SP) e Alexandre Ramagem (PL-RJ). Dos parlamentares citados no relatório e na reportagem, apenas Ramagem foi indiciado por abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.

O documento com 884 páginas foi enviado ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que retirou o sigilo e o encaminhou à Procuradoria-Geral da República (PGR) na terça-feira, 26. O Estadão aguarda retorno dos citados, procurados diretamente ou por assessores. Ramagem publicou nesta terça-feira, 26, em sua rede social não haver crimes, mas “só narrativas para perseguição”. “Narrativas e invenção de crimes. Criminalizam quem age dentro da lei. Já abusos se tornaram parte do sistema”, disse. O deputado federal Filipe Barros afirmou que participou de uma reunião para atualizar autoridades sobre tramitação da PEC do voto auditável, que era relator. “Qualquer comentário além disso não passa de mera ilação”.O senador do Val afirmou que participar de reunião não é crime (leia mais abaixo). Apenas Tenente Portela não foi encontrado. O espaço está aberto.

 

Outros parlamentares também são mencionados no relatório da Polícia Federal, mas de forma secundária e sem grande relevância, aparecendo apenas como parte da contextualização dos fatos, sem papel identificado na empreitada investigada. Entre eles estão o senador Eduardo Girão (Novo-CE) e os deputados Eduardo Pazuello (PL-RJ) e Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

Marcos do Val e o plano para gravar Moraes

 

Citado 17 vezes no relatório, o senador Marcos do Val ganhou um capítulo à parte intitulado “Das Ações do senador Marcos do Val”, que detalha seu envolvimento na suposta trama golpista. O documento descreve diversos momentos em que o senador esteve ligado aos eventos investigados, incluindo uma reunião realizada no dia 8 de dezembro de 2022, no Palácio da Alvorada, em Brasília, com o então presidente Bolsonaro e o ex-deputado federal Daniel Silveira.

 

De acordo com as apurações, Bolsonaro e Silveira tentaram persuadir do Val a gravar clandestinamente o ministro Alexandre de Moraes, então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O plano visava gravar declarações de Moraes que pudessem sugerir supostas ações inconstitucionais, enfraquecendo sua credibilidade e criando justificativas para medidas excepcionais, como a decretação de um Estado de Defesa ou uma intervenção federal, com o objetivo de impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e garantir a permanência de Bolsonaro no poder.

 

As investigações também indicaram que Marcos do Val adotou estratégias para dificultar o andamento das apurações. O senador chegou a revelar publicamente o plano de gravar Moraes, alegando que o fez para “proteger a democracia”. No entanto, em mensagens trocadas com Carla Zambelli, do Val admitiu que suas declarações faziam parte de uma estratégia calculada para atrair a atenção da mídia e impulsionar a criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.

 

Em uma troca de mensagens com Zambelli, o senador celebra a repercussão de suas declarações, afirmando: “Bom, acho que eu consegui chamar a atenção da imprensa, né? Agora vamo pra CPI.” Na conversa, do Val compartilha uma lista das matérias publicadas na imprensa “em um único dia” sobre as informações que havia revelado.

 

Ao Estadão nesta quarta-feira, 27, do Val afirmou que não partiu de Bolsonaro a ideia de gravar Moraes, mas de Silveira. “Tudo fumaça. Nada vai para frente. No dia da reunião, que não é crime se reunir, o Silveira veio com essa ideia. O Bolsonaro me olhou na mesma hora (sendo contra)”. Toda hora aparecia gente com ideias do tipo. Nada partiu de Bolsonaro, posso te garantir”, afirmou. Do Val diz ser perseguido, como o ex-presidente.

 

Carla Zambelli: ‘Brigadeiro, o senhor não pode deixar Bolsonaro na não’

A deputada federal Carla Zambelli é citada nominalmente nove vezes no relatório final das Operações Tempus Veritatis e Contragolpe. Além da troca de mensagens com do Val, a parlamentar teria abordado um tenente-brigadeiro durante formatura na Força Área Brasileira (FAB), em Pirassununga, interior de São Paulo.

 

De acordo com a PF, o tenente-brigadeiro Baptista Junior afirmou que Zambelli afirmou que ele não poderia abandonar o então presidente Bolsonaro. “Baptista Junior relatou que as pressões para anuir ao golpe de Estado ultrapassaram as redes sociais. O depoente disse que no dia 8 de dezembro de 2022, após a formatura dos aspirantes da FAB, na cidade de Pirassununga, o depoente foi interpelado pela deputada federal Carla Zambelli, com a seguinte indagação: “Brigadeiro, o senhor não pode deixar o presidente Bolsonaro na mão”. O depoente afirmou que entendeu que a deputada estava propondo que aderisse a um ato ilegal”, diz trecho do relatório da Polícia Federal.

 

Em março deste ano, o Estadão mostrou que Baptista Junior rechaçou o pedido de Zambelli. Em seu depoimento à PF, ele afirmou que não aceitaria o pedido. “Deputada, entendi o que a senhora está falando e não admito que a senhora proponha qualquer ilegalidade.” À época, a defesa de Zambelli afirmou que nunca fez pedido ilegal, não se recorda do fato e “se, porventura, pediu acolhimento, o fez por causa da derrota nas eleições”.

 

Mourão teria negociado saída de Bolsonaro

 

O ex-vice-presidente de Jair Bolsonaro, senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), é citado em prints de uma conversa entre o tenente-coronel Sérgio Cavaliere — identificado pela PF como integrante do “núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral” — e Mauro Cid, ocorrida em 4 de janeiro de 2023. Segundo as mensagens, Cavaliere compartilhou informações atribuídas a um interlocutor identificado como “Riva”, que relatou que Mourão teria negociado com outros generais a “saída do 01″, uma referência à renúncia ou ao afastamento de Bolsonaro da Presidência da República. Caso Bolsonaro deixasse o cargo, Mourão assumiria a Presidência.

 

Ainda na conversa, “Riva” afirma que os militares teriam rasgado um documento assinado por Bolsonaro, possivelmente relacionado ao decreto de golpe de Estado. Ele menciona: “Rasgaram o documento que o 01 assinou”, indicando que houve resistência dentro das Forças Armadas à tentativa de implementar a medida golpista.

 

Ramagem e o aparelhamento da Abin

 

O relatório coloca o deputado federal Alexandre Ramagem, que ocupava o cargo de diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) em 2022, como uma figura central nas ações para deslegitimar as instituições democráticas e o processo eleitoral. Citado 67 vezes, Ramagem é associado à produção de relatórios ilícitos, à disseminação de desinformação para subsidiar os ataques de Jair Bolsonaro ao sistema eleitoral e ao Judiciário.

 

De acordo com a investigação, Ramagem utilizou a estrutura da Abin para produzir documentos que alimentaram ataques contra as urnas eletrônicas, além de ministros do STF, como Luís Roberto Barroso, Luiz Fux e Alexandre de Moraes. Um dos principais materiais identificados pelos investigadores foi o arquivo “Presidente TSE informa.docx”, que antecedeu a live de Bolsonaro, em 29 de julho de 2021, na qual o então presidente apresentou alegações sobre fraudes no sistema eleitoral.

 

Ramagem também é apontado como peça central na disseminação de notícias falsas, incluindo alegações de fraudes nas eleições de 2018. A investigação revela que o ex-diretor da Abin criou grupos técnicos para investigar supostas falhas nas urnas eletrônicas e fornecer dados que embasassem os ataques de Bolsonaro e seus aliados.

 

Filipe Barros e o discurso contra urnas

O deputado Filipe Barros (PL-PR) é citado no relatório da PF por propagar mentiras sobre as urnas eletrônicas. De acordo com a PF, ele participou de uma apresentação em julho de 2022 com a presença do então presidente Bolsonaro para atacar o sistema eleitoral brasileiro. “Em sua fala, o deputado federal, novamente, utiliza informações falsas relativas à invasão do sistema administrativo do TSE para alegar uma possível vulnerabilidade nas urnas eletrônicas, que possibilitaria fraudar as eleições, repetindo o conteúdo disseminado na live realizada em 29 de julho de 2021, objeto de inquérito pela Polícia Federal, que comprovou a autoria e participação na preparação e difusão de informações sabidamente falsas pelos investigados”, diz trecho do documento.

 

A referida live foi realizada por Bolsonaro em julho de 2021 com ataques às urnas eletrônicas, o que se tornou alvo de inquérito no STF. Bolsonaro disse diversas vezes que até mesmo a eleição que venceu, em 2018, havia sido alvo de fraude. O então presidente afirmava ter tido mais votos do que os registrados na ocasião em que venceu Fernando Haddad (PT).

 

O assessor de Tereza Cristina que ajudou no planejamento

O relatório identifica Aparecido Portela, conhecido como Tenente Portela, como uma figura relevante na rede de apoio às manifestações antidemocráticas que culminaram nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Primeiro suplente da senadora Tereza Cristina (PP-MS), posição para a qual teria sido indicado por Bolsonaro, Portela é apontado como intermediário entre o governo Bolsonaro e os financiadores das manifestações em Mato Grosso do Sul. A senadora não é apontada como tendo qualquer papel no caso.

 

De acordo com as investigações, mensagens trocadas com Mauro Cid, então ajudante de ordens de Bolsonaro, revelam que Portela utilizava o termo “churrasco” como codinome para o golpe de Estado. Em uma das conversas, ele relatou pressões de financiadores, referindo-se ao grupo como “o pessoal que colaborou com a carne”, enquanto cobrava a execução do plano. Apesar da hesitação de Cid, Portela demonstrava otimismo com a possibilidade do golpe, afirmando: “Vamos vencer de alguma forma.”

 

O relatório também detalha sua proximidade com Bolsonaro, destacando visitas frequentes ao Palácio da Alvorada no final de 2022 e uma amizade de longa data com o ex-presidente, construída desde que serviram juntos no Exército. Além disso, aponta que Portela teve um papel ativo na solicitação e obtenção de recursos para financiar os atos antidemocráticos, funcionando como elo entre financiadores e o governo Bolsonaro.

 

Deputado estadual e as manifestações de 2022

O relatório da Polícia Federal menciona Tomé Abduch (Republicanos), deputado estadual eleito por São Paulo e líder do movimento “Nas Ruas”, como uma figura que desempenhou papel relevante na mobilização de manifestações em Brasília em 2022. De acordo com o documento, em 11 de novembro daquele ano, Mauro Cid compartilhou com um interlocutor chamado “Joe” um link de um vídeo em que Abduch convocava apoiadores para participarem de uma manifestação marcada para o dia 15 de novembro, na Praça dos Três Poderes.

 

No vídeo, amplamente divulgado, Abduch justificava o ato com base em uma nota assinada pelos comandantes das Forças Armadas, que ele interpretou como um respaldo às manifestações. Embora tenha pedido que os participantes evitassem faixas pedindo intervenção militar, sua mensagem, segundo os investigadores, contribuiu para reforçar a narrativa de contestação ao sistema democrático.

 

STF tipifica ‘bolsonarismo qualificado’, enquanto apaga crimes confessos de corrupção

Por J.R. Guzzo / O ESTADÃO DE SP

 

O jornal The New York Times, tido como o Alcorão da correção política e do avanço civilizatório mundiais, acaba de publicar uma reportagem dizendo para o resto do planeta o que os brasileiros já sabem de cor: o STF anula em massa crimes confessos das empresas comprovadamente mais corruptas do Brasil, e devolve a cada uma delas o dinheiro que roubaram. Justo agora, quando o mesmo STF diz que continua salvando o país de um golpe militar devastador? Justo agora.

 

Há duas perguntas a respeito do tema. Primeira: o New York Times é um jornal bolsonarista? Segunda: um STF apontado, com base nas sentenças que assina, como o maior incentivador da corrupção no mundo pode ser levado a sério em alguma coisa? O artigo 1º. da Constituição Federal brasileira, conforme ela é executada hoje pelos ministros, estabelece que qualquer objeção ao STF tipifica o delito de bolsonarismo qualificado. Mas no caso não é assim, obviamente. Como fica?

 

Nossa “suprema corte” colocou o Brasil numa situação inédita em toda a sua história. Só a Odebrecht e a Braskem, só elas, confessaram nos Estados Unidos sua culpa em crimes de corrupção ativa, e aceitaram pagar 3,5 bilhões de dólares de multa. No Brasil a mesma Odebrecht e a JBS fizeram exatamente a mesma confissão, e jamais retiraram uma sílaba de tudo o que confessaram. Mas aqui, por decisão do STF, e só dele, recebem de volta todo o dinheiro que prometeram pagar para sair da cadeia.

 

Os fatos descritos acima são apenas isso – fatos concretos, certos e consumados às vistas do público. Está acima de qualquer discussão, também, que o STF e a Polícia Federal violaram objetivamente a lei, em mais de uma ocasião, para executar desejos políticos. Basta ver, para ficar num caso só, o que estão fazendo com o ex-assessor presidencial Filipe Martins. É uma fotografia da Justiça brasileira de hoje.

 

Martins ficou seis meses preso sob a acusação de ter ido para os Estados Unidos se esconder de crimes que, segundo a PF, teria cometido ou iria cometer. O suspeito provou, com passagem de avião, recibos do Uber e localização geodésica do seu celular, que tinha para Ponta Grossa, e não para a Flórida – e que o documento da sua suposta entrada nos EUA foi falsificado por um funcionário da Imigração americana. É acusado agora de não ter ido. Para a PF, ele teria “forjado” a viagem para embaralhar as “pistas”. É esse o nível.

 

Uma democracia está com problemas sérios se depende, para a sua sobrevivência, deste tipo de tribunal supremo e deste tipo de polícia. Hoje é obrigatório mostrar fé cega na PF e no STF, mesmo quando ela diz que um documento crítico para provar o golpe ora em apreciação não pode ser exibido por que foi “rasgado” – ou quando o presidente da Corte afirma que um grupo de magistrados que apaga crimes confessos de corrupção “recivilizou” o Brasil. Faz nexo, no mundo do pensamento racional?

 

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Opinião por J.R. Guzzo

Jornalista escreve semanalmente sobre o cenário político e econômico do País

Não é papel do Supremo agir como fiscal de preços

Numa canetada, o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, determinou que os cemitérios paulistanos privatizados voltem a cobrar as tarifas vigentes antes da concessão, em março de 2023, reajustadas pelo IPCA. A decisão vale até que o plenário da corte julgue a constitucionalidade da lei que permitiu a privatização.

Há de fato uma espécie de crise nos cemitérios da cidade. O número de queixas contra o serviço subiu significativamente. Até novembro deste ano, o Procon registrava 442 reclamações; em 2023, foram 272. Boa parte delas está relacionada a preços.

Segundo reportagens de diversos veículos, funcionários das empresas gestoras tentam induzir clientes a contratar os serviços mais custosos, além de esconder a possibilidade de desconto, e mesmo de gratuidade, para a população mais pobre.

Foi nesse contexto que o PC do B propôs a ação de descumprimento de preceito fundamental, que Dino acatou em parte.

O problema começa na imparcialidade. Como a proverbial mulher de César, que deve ser e parecer honesta, o ministro eliminaria dúvidas se tivesse se recusado a relatar ação do partido que integrou por muitos anos.

Em sua decisão, afirma haver violações ao princípio da dignidade humana, o que seria suficiente para justificar a intervenção. Faltou, contudo, um tanto de autocontenção, mercadoria que anda escassa no STF, como demonstram decisões recentes do próprio magistrado.

No começo deste mês, contrariando a Constituição, Dino ordenou recolhimento e destruição de livros jurídicos; em setembro, interveio no Orçamento ao determinar que despesas de combate às queimadas ficassem fora do teto de gastos. No caso agora em tela, não cabe à mais alta corte do país tornar-se fiscal de preços.

Ademais, o ministro recorreu a argumento perigosamente amplo. Com boa retórica, não há norma que não possa ser descrita como violação à dignidade humana ou à moralidade pública.

Esses princípios, quando não consubstanciados em dispositivos legais mais concretos, convertem-se num coringa judicial. Precisam, portanto, ser utilizados com extrema parcimônia.

Note-se ainda que, ao imiscuir-se em preços de serviços privatizados, Dino emite sinal negativo ao setor de parcerias público-privadas —tão necessário para o desenvolvimento do país, principalmente em infraestrutura. Por receio quanto à segurança jurídica dos contratos, empresários pensarão duas vezes antes de participar dos processos de licitação.

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Não tem cabimento STF intervir no preço cobrado por cemitérios

Por Editorial / O GLOBO

 

O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que a Prefeitura de São Paulo volte a cobrar por serviços funerários valores iguais aos anteriores à concessão dos cemitérios, em 2023, corrigidos pela inflação. A liminar atendeu parcialmente a pedido do PCdoB numa ação que questiona a privatização dos cemitérios na cidade. O plenário deveria rever a decisão.

 

Dino argumenta que ela visa a evitar danos “em face de um serviço público aparentemente em desacordo com direitos fundamentais e com valores morais básicos”. Nas palavras dele, apesar de a privatização dos serviços objetivar a modernização, “o caminho trilhado até agora possui fortes indícios de geração sistêmica de graves violações a diversos preceitos fundamentais”. Cita a dignidade humana e a manutenção de serviço público adequado e acessível.

 

Ainda que provisória, a decisão causa estranheza. A bem-sucedida concessão dos serviços funerários foi feita dentro das regras estabelecidas pela lei aprovada democraticamente na Câmara de Vereadores. E a prefeitura tem autonomia para conceder os serviços que bem entender, com o objetivo de dar mais eficiência a um setor abandonado, melhorando as condições dos cemitérios e o atendimento à população. É verdade que existem queixas, mas os preços seguem a lei. Tais questões não exigem interferência do Judiciário.

 

A despeito da intenção, a decisão pode ter efeito contrário para a população de baixa renda. Segundo a prefeitura paulistana, ela elimina o desconto de 25% garantido pelas novas regras a funerais sociais. Famílias em situação de pobreza já usufruem gratuidade. “A medida é um retrocesso às ações adotadas pela administração para atender os mais pobres”, afirma a prefeitura.

 

Não é a primeira vez que uma decisão de Dino gera controvérsia. No fim de outubro, ele mandou retirar de circulação e destruir o estoque de quatro livros jurídicos que continham passagens com conteúdo homofóbico e preconceituoso. Alguns trechos eram repugnantes, mas a decisão deveria caber às instituições pedagógicas. Não é tarefa do STF editar conteúdo de livros.

 

A concessão de cemitérios tem sido uma tendência no país. No Rio, eles foram transferidos em 2013, resultando em mais vagas e melhorias na conservação. Em Belo Horizonte e Manaus, convivem modelos públicos e privados. Salvador iniciou estudos no ano passado para privatizá-los. A Prefeitura de São Paulo agiu corretamente ao concedê-los. “A gente percebeu que houve melhoria na zeladoria e até na segurança”, disse ao GLOBO a historiadora Viviane Comunale, que atua num projeto de visitas a cemitérios.

 

Entende-se que, dadas suas atribuições constitucionais, o Supremo seja demandado a dirimir toda sorte de conflito. Mas não é razoável que se ocupe de quanto cobram os cemitérios de São Paulo ou de qualquer outra cidade. Queixas contra preços hão de existir numa infinidade de serviços. Devem ser resolvidas de acordo com as normas estabelecidas nos contratos. Não faz sentido o STF agir como agência reguladora de cemitérios.

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