Ofensiva publicitária do governo Lula tenta reverter queda na popularidade
O governo lança a partir desta semana um pacote de campanhas publicitárias na tentativa de deter a queda de popularidade do presidente Lula (PT).
A ofensiva terá três grandes eixos: propaganda sobre isenção de Imposto de Renda até R$ 5.000, nacionalismo brasileiro e defesa de grandes programas, como Farmácia Popular e Pé-de-Meia.
Em janeiro, na primeira reunião ministerial de 2025, o recém-empossado Sidônio Palmeira, titular da Secom (Secretaria de Comunicação), apresentou um cronograma para reversão do quadro dentro de três meses. O prazo se encerra em abril.
De acordo com pesquisa Datafolha em fevereiro, a aprovação do governo é de 24%, o menor índice nos três mandatos de Lula, contra 41% de rejeição, também um recorde.
A isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 é uma das vedetes dessa contraofensiva de comunicação. As peças serão lançadas no digital e em rádio e TV. A cargo da agência Nacional, a divulgação começou nesta quinta-feira (20).
Uma ala do governo chegou a defender o adiamento dessa campanha, por avaliar que poderia se confundir com a declaração do Imposto de Renda de 2025, que começou no dia 17. Mas prevaleceu entendimento que é melhor já veiculá-la.
Antes mesmo de tomar posse, Sidônio defendeu que a campanha fosse levada ao ar em meio ao ajuste fiscal anunciado pela equipe econômica. Mas o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), se opôs sob o argumento de que a proposta nem sequer havia sido encaminhada ao Congresso Nacional e estava sujeita a alterações no Parlamento.
Auxiliares de Lula esperam melhorar a popularidade do mandatário junto à classe média com a proposta, que chegou à Câmara dos Deputados na quarta (19).
Na tarde desta quinta, cards e vídeos começaram a rodar nas redes sociais sobre o projeto. O principal mote é de que a proposta se trata de justiça, lembrando que a compensação será por taxação dos mais ricos.
"Sabe o que é justo? Renda mais baixa, menos imposto, e um pouco mais de contribuição de quem ganha muito mais. É isso que vai virar realidade no nosso país", diz um dos posts no Facebook, com informação de que o governo enviou o projeto ao Congresso.
As propagandas destacam ainda que quem ganha entre R$ 5.000 e R$ 7.000 terá isenção parcial. Nesses casos, o desconto sobre o imposto a pagar será decrescente, até zerar.
Em um dos cards, o governo compara como é hoje e como ficará no ano que vem, se a proposta for aprovada, para quatro profissionais diferentes: motorista, professora, profissional autônomo e enfermeira.
Além do IR, o governo lançará uma campanha com a marca "Brasil dos brasileiros", descrita como uma tentativa de furar a bolha de eleitores bolsonaristas e retomar os símbolos nacionais.
A frase é a mesma do boné azul utilizado por governistas, durante as eleições no Senado e na Câmara, que gerou uma disputa entre a base e a oposição no plenário, em fevereiro.
De acordo com integrantes do governo, a campanha buscará valorizar o povo brasileiro, como ele lida com o dia a dia, com um tom de empatia com o próximo. Ela terá a cara que o governo Lula 3 buscará passar.
Produzida pela Calia e com lançamento previsto para a segunda (23), a campanha faz alusão a diferenças regionais para apontar que, em comum, há o orgulho de ser brasileiro.
Essa campanha será dividida em três etapas, e rodada em diferentes estados, começando pela Bahia —estado dos ministros da Secom e da Casa Civil, e um dos principais redutos petistas.
A ideia do Planalto era ter começado a veicular esta campanha há meses, mas ela acabou adiada diante de sucessivas crises, como a do Pix e a do preço dos alimentos.
Em outra frente, haverá uma terceira campanha –produzida em parceria pela Nacional e pela Nova S/B– de balanço dos dois anos do governo. A ideia é mostrar programas como Farmácia Popular e Pé-de-Meia como conquista de todos os brasileiros.
O governo também está elaborando uma campanha cujo mote é "prospera mais". A ideia é reunir medidas voltadas a empreendedores. A estratégia inclui a distribuição de material a parlamentares da base e apoiadores do governo.
A veiculação de propaganda nos meses de abril e maio também serve para o cálculo da média anual que servirá de base para o primeiro semestre de 2026, um ano eleitoral. Se o governo não gastar o dinheiro reservado para publicidade até maio, data de vencimento dos contratos, cairá a cota a que tem direito para o próximo ano.
Em reunião fechada com assessores no último dia 14, o ministro Sidônio Palmeira apresentou um novo slogan, cobrou organização e unificação da comunicação e disse que não pensa na eleição de 2026, pois precisa ganhar 2025 para o presidente.
Ele ainda anunciou a realização de um evento com a presença de Lula e de ministros no dia 2 de abril para apresentar um balanço das entregas dos dois anos de gestão.
Segundo ele, o encontro, que acontecerá no centro de convenções Ulysses Guimarães, em Brasília, terá "o Brasil dando a volta por cima" como mote. Ele não substituirá o atual slogan do governo, "União e reconstrução", que, contudo, tem sua reformulação estudada pela Secom.
O evento é um dos passos do governo para tentar jogar luz sobre o que seus representantes veem como pontos fortes e realizações da gestão e também reverter a queda de popularidade do presidente.
Lula inaugura hoje hospital que será o maior do Ceará; unidade inicia atendimentos quinta (20) com 30% da capacidade

O presidente Lula (PT) estará em Fortaleza, nesta quarta-feira (19), para inaugurar o Hospital Universitário do Ceará, no campus da Universidade Estadual do Ceará (Uece), em Fortaleza. A projeção, feita pelo Governo do Estado, é que esta será a maior unidade hospitalar da rede estadual, tanto em tamanho, como em complexidade de atendimento. Na quinta-feira (20), o novo equipamento começa a receber os primeiros pacientes e, ao menos até abril, funcionará com 30% da capacidade, projeta a Secretaria Estadual da Saúde (Sesa).
O funcionamento começará com especialidades como hematologia, oncologia, urologia e cirurgia vascular, e de cabeça e pescoço. A unidade vinculada à Sesa não terá emergência e será “porta fechada”, ou seja, receberá pacientes, advindos de qualquer área do Ceará, que precisarão passar antes pela regulação.
“Pela dimensão, ele (Hospital Universitário) tem a possibilidade de atender pacientes de todo o Estado. Mas, na gestão do governador Elmano foram abertos dois serviços muito grandes no interior do Estado, que foi o serviço de oncologia e politraumatologia no Sertão Central e no Vale do Jaguaribe. Então, a gente está atendendo a população daquelas regiões naqueles espaços”.
Outro serviço que também começa a funcionar na quinta-feira (20) é o Centro de Quimioterapia, segundo a secretária da Saúde, Tânia Coelho. A unidade, a exemplo do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), será de alta complexidade.
r diagnóstico de câncer e imediatamente o paciente vai ter que ter seu seguimento. Ao menos, vamos abrir o centro cirúrgico, centro de imagens, ou seja, toda a logística para ter um paciente internado dentro de uma unidade hospitalar. A gente espera com isso contemplar os maiores vazios e dificuldade de leitos que os pacientes têm neste momento no Ceará”.
O hospital, no campus do Itaperi, ocupará uma área de 78.6 mil m². Ele tem três torres construídas e sete andares. No total, o equipamento terá 652 leitos (incluindo também os da Unidade de Terapia Intensiva - UTI), mas nesta quinta, começam a funcionar 159 leitos.
A unidade será inaugurada quase 6 anos após ter sido anunciada. A ordem de serviço foi assinada, em janeiro de 2021, pelo então governador do Ceará e hoje ministro da Educação, Camilo Santana (PT). Em outubro de 2023, a estrutura ficou pronta.
Nesta quarta, além de Lula e Camilo, a inauguração terá o ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT), do governador Elmano de Freitas (PT), o reitor da Uece, Hidelbrando Soares, além de outras autoridades.
A estimativa é que o novo hospital terá um custo mensal de R$ 196 milhões ao ano, que, conforme a secretária, será pago pela gestão estadual. Mas, o auxílio do Governo Federal é um pleito, indica ela.
Com a abertura do equipamento, a rede estadual da Saúde passará a ter 14 hospitais, sendo 10 deles em Fortaleza. O último inaugurado havia sido o Hospital Leonardo da Vinci, na Aldeota, adquirido pelo Governo da iniciativa privada, em 2020, durante a pandemia de Covid. Ele foi incorporado à rede pública já com a estrutura já construída.
Ampliação de atendimento em fases
A abertura do Hospital Universitário ocorrerá de forma gradual. Nesta quarta-feira, o equipamento começa a funcionar com 30% da capacidade. O primeiro mês, relata ela, será de avaliação e adequação às necessidade constatadas. Em abril de 2025, informa, deverá ter abertura de outros leitos e serviços. A promessa é que a unidade funcionará 100% até dezembro de 2025.
Nesse momento, serão transferidos para o equipamento pacientes que estão internados e precisam de tratamento nas especialidades mencionadas. Logo, diz a secretária, o atendimento ambulatorial para a população no geral não começa exatamente agora.
Ela destaca que: “os serviços que estamos abrindo agora são os que a gente visualizou como sendo o de maior necessidade pela população”.
Uma das críticas em relação ao momento da inauguração é que outra unidades hospitalares da rede estadual ainda não estão funcionando 100%. Mas, a secretária destaca que dos hospitais regionais, equipamentos mais recentes do Governo, somente o do Vale do Jaguaribe não opera com 100% da capacidade. Na unidade, o funciona está em 90%.
Confira detalhes do funcionamento do Hospital Universitário do Ceará
Quais especialidades serão atendidas no hospital?
Segundo a secretária da Saúde, o novo hospital foi projetado para atender às maiores necessidades da população. Dessa forma, irá atender as seguintes especialidades:
- Hematologia
- Oncologia clínica e cirúrgica
- Urologia
- Tratamento de cabeça e pescoço
- Vascular
- Além de um Centro de Quimioterapia
Qual a quantidade de leitos?
No total, segundo a Sesa, o novo hospital terá 652 leitos, mais 180 leitos complementares, quando estiver com 100% da capacidade em funcionamento. No atual momento, 159 leitos estarão em funcionamento. Dentre os leitos totais, há:
- 10 leitos de UTI
- 20 leitos de infusão de quimioterapia
- 10 leitos de recuperação pós anestésica
- 2 leitos da sala vermelha - unidade de internamento breve
Como ser atendido no Hospital Universitário do Ceará?
Para ser atendido na unidade o paciente precisará ser encaminhado via regulação, ou seja, deverá ter passado por outro serviço/unidade de saúde, que pode ser uma UPA ou um hospital municipal ou estadual, por exemplo. Assim, entrará em uma fila e, conforme a necessidade e disponibilidade de vagas, ser transferido para o novo equipamento.
Quem vai fazer a gestão do Hospital Universitário?
O novo equipamento será gerido pelo Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH), uma Organização Social da Saúde que já gerencia outras unidades da rede estadual, como Hospital Waldemar Alcântara, os hospitais regionais do Cariri, Norte, Sertão Central e Vale do Jaguaribe, além do Leonardo da Vinci. O ISGH também gerencia UPAS em Fortaleza.
“Essa organização tem experiência nos nossos hospitais regionais. Fizemos um pacote de metas, tanto qualitativas, quanto quantitativas, e a gente vai avaliar como vai ser essa gestão deste hospital”, afirma a secretária da Saúde, Tânia Coelho.
Quem será contratado para trabalhar no Hospital Universitário?
Sobre os profissionais que irão atuar na nova unidade, a secretária apontou que a contratação ficará a cargo do ISGH. Mas, ela reforça que o equipamento também poderá receber servidores concursados já que a Sesa tem permissão de ceder servidores para a organização social a depender da necessidade.
“A gente contrata a Organização Social e ela faz a gestão. Então, ela tem que prestar conta das qualidade do atendimento, do quantitativo”, diz a secretária.
Não foi divulgada a quantidade de profissionais que a unidade deverá ter nem agora, com 30% do funcionamento, nem quando atingir a capacidade máxima.
Como a Uece irá atuar no hospital?
Segundo o reitor da Uece, professor Hidelbrando Soares, a Lei Complementar 347/2025, determinou que caberá à Uece a Diretoria de Ensino, Pesquisa e Inovação em Saúde do Hospital Universitário. Logo, essa será uma das atuações da academia na unidade. Mas ainda falta garantir a regulamentação da estrutura organizacional e definir quem assumirá a Diretoria.
Sobre as residências, ele diz que elas estão abrigadas na Diretoria, tanto as geridas pela Escola de Saúde Pública do Estado, quanto as vinculadas diretamente à Uece.
No campo das pesquisas, o reitor aponta que a Uece já tem uma base consolidada de programas de pós-graduação na área da saúde e correlatas. Os esforços serão direcionados para a “maior qualidade na assistência, na geração novas tecnologias e atração de investimentos na economia da saúde para o Ceará”.”
Os serviços do Hospital César Cals irão migrar para o Hospital Universitário?
Embora o Governo tenha afirmado, em 2024, que o Hospital Geral César Cals, no Centro de Fortaleza, seria desativado ao ter os serviços transferidos para o Hospital Universitário, agora a gestão estadual garante que o futuro da unidade ainda está em avaliação.
Segundo a Sesa, nenhuma decisão foi tomada ainda e há duas definições sobre a relação entre os dois hospitais: alguns procedimentos realizados no César Cals serão transferidos para o novo equipamento e, em paralelo, não haverá descontinuidade de nenhum serviço do Hospital César Cals.
Na prática, a gestão estadual garante que todo o serviço ofertado pela unidade vai continuar, mas isso não significa em definitivo que o hospital, um dos mais antigos do Estado, com 96 anos de funcionamento, seguirá aberto.
Reprovação do governo Lula no mercado cai de 90% para 88%
Por Luis Eduardo Leal (Broadcast) / O ESTADÃO DE SP
A avaliação do governo Lula pelo mercado financeiro foi considerada negativa por 88% dos ouvidos em pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira, 19. O resultado do levantamento anterior, em dezembro, mostrava insatisfação ainda maior, correspondente a 90%.
Foram feitas 106 entrevistas junto a fundos de investimentos em São Paulo e no Rio de Janeiro, com coleta por meio de questionários online entre os dias 12 e 17 de março. Participaram gestores, economistas, analistas e tomadores de decisão.
A avaliação positiva do governo Lula passou de 3% para 4%, entre dezembro e março, enquanto a percepção de que a administração é regular foi de 7% para 8% no mesmo intervalo, aponta a pesquisa Genial/Quaest.
Para 64%, a alta de preços dos alimentos é o principal motivo para a perda de popularidade de Lula, enquanto 56% consideram ser os equívocos na política econômica e 41%, o aumento de impostos.
De forma quase unânime, o mercado financeiro considera que a popularidade do presidente é um fator de preocupação para o governo. Segundo a pesquisa, 99% dos entrevistados apontaram este fator como preocupante para o governo, ante 86% que deram a mesma resposta no levantamento anterior, em dezembro.
Para 80% dos ouvidos, a taxa de juros é outro fator que preocupa o governo — em dezembro, eram 70% os que assim pensavam. E para 76% do mercado, a alta do dólar é outro ponto de preocupação para o governo Lula, enquanto, em dezembro, eram 58% os que avaliavam este fator da mesma forma.
A pesquisa mostra ainda que 60% do mercado financeiro consideram que Lula será candidato à reeleição em 2026, comparado a um porcentual de 70% que assim pensavam no levantamento anterior, em dezembro.
Se Lula de fato se candidatar, 66% avaliam que não será o favorito a vencer — um porcentual igual ao que se viu no levantamento de dezembro. Para 93% do mercado, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, é o nome que teria a maior chance de vencer a esquerda em 2026. E 68% dos participantes na pesquisa consideram que o ex-presidente Jair Bolsonaro será preso — em dezembro, eram 55%.
Nomeação de Gleisi
A pesquisa mostra também que 90% dos participantes consideram que o presidente errou ao nomear Gleisi Hoffmann para o ministério das Relações Institucionais, pasta responsável pela articulação política do governo. Para 5%, a decisão foi um acerto.
O levantamento mostra que 98% consideram que a reforma ministerial não resolverá os problemas de governabilidade. E 89% a avaliam como um movimento do presidente Lula para defender sua base, e apenas 10% para ampliá-la.
Para 58%, a capacidade de o governo aprovar agenda no Congresso é baixa, em comparação a 39% que assim pensavam em dezembro.
Governo Trump
O levantamento procurou também tirar o pulso sobre a percepção que se tem sobre o governo Trump para a economia brasileira. E para 66% do mercado, o governo do republicano será negativo para o Brasil, enquanto 20% esperam que não haverá impacto. Somente 9% consideram que será positivo.
Para 78% dos ouvidos, as tarifas de Trump vão impactar pouco a economia brasileira, enquanto 10% acreditam que não terão efeito algum. E 8% esperam muito impacto das tarifas sobre a economia brasileira.
Para 39% do mercado, haverá espaço para que o Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) volte a cortar juros no próximo semestre. Para 61% dos ouvidos no levantamento, os Estados Unidos não correm risco de recessão no próximo semestre.
Renda até R$ 5.000 será isenta, e quem ganha até R$ 7.000 terá desconto de imposto
Esse modelo evita que uma pessoa que ganhe abaixo de R$ 5.000 receba um auOs contribuintes que ganham até R$ 5.000 por mês ficarão 100% isentos do IR (Imposto de Renda), de acordo com projeto de lei encaminhado nesta terça-feira (18) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Congresso Nacional.
Para esse grupo de contribuintes, a proposta prevê um desconto de até R$ 312,89 do imposto a pagar para garantir que ao final o IR devido seja zero. O governo estima que 10 milhões de contribuintes que hoje são tributados ficarão isentos com a medida.
Quem tiver renda na faixa entre R$ 5.000,01 até R$ 7.000 também será beneficiado, mas a isenção será parcial. Nesses casos, o desconto sobre o imposto a pagar será decrescente, até zerar para rendimentos a partir de R$ 7.000.
Dessa forma, quem ganha R$ 5.500 mensais, por exemplo, terá um desconto de 75% sobre o imposto a pagar. Esse desconto cai para 50% para quem ganha R$ 6.000 de renda e para 2% no caso de quem ganha acima de R$ 6.900.
mento salarial e passe a pagar o IR de forma muito abrupta, ainda que a nova remuneração fique pouco acima desse valor (R$ 5.010, por exemplo).
Veja mais exemplos de como vai funcionar a cobrança:
Renda mensal | Imposto sem o desconto | Desconto | Imposto final a pagar |
R$ 5.000 | R$ 312,89 | 100% | R$ 0,00 |
R$ 5.500 | R$ 436,79 | 75% | R$ 202,13 |
R$ 6.000 | R$ 574,29 | 50% | R$ 417,85 |
R$ 6.500 | R$ 711,79 | 25% | R$ 633,57 |
R$ 7.000 | R$ 849,29 | 0% | R$ 849,29 |
Quem ganha a partir de R$ 7.000 não será beneficiado pelo desconto. Para esses contribuintes, segue a aplicação da tabela do IRPF (Imposto de Renda da Pessoa Física). Mas esse grupo de contribuintes passará a pagar um pouco menos, pois a tabela atualmente em vigor será ajustada ainda em 2025.
O ajuste decorre do fato de que a primeira faixa da tabela do IRPF está vinculada atualmente ao valor do salário mínimo, que passou em 2025 de R$ 1.412 para R$ 1.518.
Assim, a faixa de isenção da tabela do IRPF, que corresponde a 80% de dois salários mínimos, será ampliada de R$ 2.259,20 para R$ 2.428,80 mensais. Ou seja, uma parte maior da renda ficará livre da tributação.
Na prática, quem ganha até dois salários (R$ 3.036 mensais) já ficaria isento de imposto com esse ajuste, uma vez que a tabela do IRPF se aplica não sobre a renda bruta, mas sobre a renda líquida, após deduções legais previstas no IRPF.
O ato formal de assinatura do projeto pelo presidente ocorreu nesta terça-feira (18) em cerimônia no Palácio do Planalto, após quase quatro meses do anúncio oficial.
Para entrar em vigor em 2026, a proposta precisa ser aprovada ainda este ano pelo Congresso Nacional.
O mecanismo do desconto mitiga a perda de arrecadação que ocorreria se a isenção fosse feita por meio da correção de toda a tabela progressiva do IRPF, o que acabaria beneficiando não só quem ganha até R$ 5.000, mas todos as pessoas hoje sujeitas ao pagamento do imposto.
Nesse caso, o custo da isenção chegaria a R$ 120 bilhões, segundo estimativas da Receita Federal. Restringir a isenção somente para as pessoas que ganham até R$ 5.000 reduz a renúncia para R$ 25,84 bilhões em 2026, como antecipou a Folha na semana passada. Em 2027, o valor sobe para R$ 27,7 bilhões.
A previsão inicial era uma perda de arrecadação de R$ 35 bilhões, mas os técnicos refizeram as contas com base nos dados novos coletados da declaração de ajuste do IRPF de 2024 (ano-base 2023). Os números anteriores usaram como referência valores da declaração de ajuste de 2023 (ano-base de 2023).
Pela proposta do governo, a perda de arrecadação será compensada com a criação de um imposto mínimo sobre a alta renda (quem ganha a partir de R$ 600 mil por ano).
O ajuste na faixa de isenção da tabela do IRPF de 2025 só será feito depois da aprovação do Orçamento deste ano pelo Congresso. A data será definida pelo presidente Lula. A perda de arrecadação é de R$ 5 bilhões em termos anuais, mas o impacto efetivo neste ano será menor porque a medida entrará em vigor no decorrer do exercício.
Se aprovado pelo Congresso, o projeto de aumento da faixa de isenção, combinado com a criação do imposto mínimo, promoverá uma forte mudança na estrutura do Imposto de Renda no Brasil. O IR foi criado há mais de 100 anos, em 1922, sendo que o primeiro regulamento só saiu do papel em 1924.
O diagnóstico do Ministério da Fazenda é que, ao longo de todas essas décadas, a tributação do IR sempre foi mais pesada sobre a renda do trabalhador e mais leve em relação a outros tipos de renda que não as do trabalho.
Entre as razões, as inúmeras exceções do sistema tributário brasileiro adotadas ao longo desses 100 anos que acabaram gerando distorções do sistema tributário brasileiro. A renda recebida de lucro e dividendos e aplicações financeiras, por exemplo, é isenta de IR. São rendas obtidas na maioria das vezes obtidas pela pela população mais rica.
Hoje, praticamente toda a renda do trabalhador que ganha em torno de R$ 5.000 é tributada pela tabela do Imposto de Renda. Esse modelo faz com que, na prática, a carga tributária sobre os contribuintes mais ricos seja mais baixa do que a dos mais pobres.
O projeto da desoneração do IR para quem ganha até R$ 5.000 foi anunciado no dia 27 de novembro pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em cadeia de rádio e TV junto com as medidas de contenção de despesas.
Cinco agências concentram quase 80% da verba de publicidade do governo Lula
Mateus Vargas / FOLHA DE SP
Cinco agências de propaganda concentram a verba de publicidade federal, que é controlada pelo governo Lula (PT).
Dados da execução do Orçamento mostram que, em 2024, essas empresas receberam cerca de R$ 755 milhões destinados pelo governo para propagandas e campanhas de interesse público, como de estímulo à vacinação e contra a dengue.
O valor representa 78% dos quase R$ 966 milhões empenhados (etapa que antecede o pagamento) no último ano para a promoção do governo na mídia. Menos de 1,5% do valor total das campanhas foi executado por órgãos de outros Poderes, como o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
A Nacional Comunicação, destino de R$ 225 milhões, foi a maior beneficiada de 2024. Em seguida, ficaram as agências Calia (R$ 180 milhões), Nova (R$ 177 milhões), Propeg (R$ 111 milhões) e DeBrito (R$ 62 milhões).
Essa concentração de verba em algumas agências também se deu no governo de Jair Bolsonaro (PL). Em 2022, cerca de 86% dos recursos ficaram nas mãos de cinco empresas, sendo que a Calia foi a que geriu a maior cifra —R$ 208 milhões dos R$ 806 milhões empenhados naquele ano.
Em geral, a concentração ocorre porque essas empresas venceram as licitações dos órgãos federais com mais verba para publicidade, como a Secom (Secretaria de Comunicação Social) da Presidência e o Ministério da Saúde. Essas duas pastas respondem por mais de 70% do valor investido pela gestão Lula em campanhas no último ano.
A verba é usada para a produção das campanhas publicitárias e para a inserção de anúncios em canais de TV, internet, jornais, outdoors e outros meios. Uma parcela vira lucro das agências.
Os dados dos portais da transparência do governo federal mostram os valores distribuídos para publicidade pela Secom e ministérios.
Os principais bancos públicos e estatais, por sua vez, não revelam quanto pagam para agências e veículos e não tiveram as despesas consideradas no levantamento da Folha.
Os valores disponíveis (ou seja, sem somar campanhas do Banco do Brasil, Caixa, Petrobras e outros órgãos) mostram que a Nacional Comunicação assumiu a liderança em verbas de publicidade no governo Lula. Sob Bolsonaro, a empresa teve um crescimento em 2022, quando geriu campanhas de cerca de R$ 100 milhões.
A Nacional disparou nesse ranking após a agência vencer as licitações da Secom, em 2021, e do Ministério da Saúde, também conduzida pela gestão Bolsonaro.
Sócio da Nacional Comunicação desde 2023, o cientista político Juliano Corbellini é amigo do deputado federal Paulo Pimenta (PT), ex-ministro da Secom. A amizade entre Pimenta e Corbellini remonta à época do movimento estudantil no Rio Grande do Sul. O publicitário é padrinho de um dos filhos do petista.
Em nota, a agência disse que presta serviços para a Presidência "após ter sido uma das escolhidas em processo licitatório ocorrido em 2021".
"Assim como os demais contratos que a Nacional mantém com outros órgãos federais, todos resultados de processos públicos e transparentes. Os valores empenhados são relativos à soma destes contratos, e todos estão sob permanente escrutínio dos órgãos de fiscalização", afirmou a Nacional Comunicação.
Os órgãos públicos com contas de publicidade mais valiosas, como a Secom (R$ 563 milhões anuais) e o Ministério da Saúde (R$ 260 milhões), selecionam mais de uma agência a cada licitação. Depois que o contrato é assinado, as empresas disputam entre si para assumir cada campanha que será lançada.
Considerando ministérios, bancos e estatais, os contratos de publicidade federal devem subir a cerca de R$ 3,5 bilhões no governo Lula, após a conclusão de licitações que ainda estão abertas. O valor efetivamente desembolsado pelos órgãos públicos é menor, pois depende do Orçamento de cada ano.
Em nota, a Secom disse que mantém contrato com as agências selecionadas em licitação. "As ações de publicidade realizadas pela Secom estão atreladas diretamente à missão institucional da pasta, que deve dar amplo conhecimento à sociedade das políticas e programas do Poder Executivo Federal, divulgar direitos dos cidadãos e serviços à sua disposição, estimular a participação da sociedade no debate e na formulação de políticas públicas, entre outras", disse a secretaria, comandada por Sidônio Palmeira.
A pasta também afirmou que as contratações de publicidade e patrocínio por empresas públicas e sociedade de economia mista são definidas, em cada exercício, pelo limite de até 0,5% da receita bruta do exercício anterior.
A Calia afirmou que segue a legislação sobre licitações e para prestação de serviços de publicidade ao poder público.
"Em cumprimento às normas de compliance e a fim de preservar o sigilo e a confidencialidade das campanhas de nossos clientes, esclarecemos que as informações sobre os contratos administrativos do poder público podem ser acessadas através do portal da transparência e também nos sites dos órgãos", disse a empresa.
A agência Propeg afirmou, em nota, que todos os seus contratos públicos são firmados após licitações. "Ademais, a Propeg segue rigorosamente as regras contratuais na prestação dos serviços", disse a empresa.
A Nova disse que assumiu contas do governo por meio de licitações vencidas nos últimos 20 anos. A agência afirmou que apresenta no seu site as informações sobre as concorrências públicas.
Procurada, a DeBrito não se manifestou.
Sete ônibus escolares têm baterias furtadas em Mulungu, interior do CE; aulas foram suspensas nesta segunda-feira (17)
DIARIONORDESTE
As aulas na rede pública municipal de Mulungu, no Maciço de Baturité, estão suspensas nesta segunda-feira (17). A decisão foi comunicada nas redes sociais da Prefeitura neste domingo (16).
Segundo o Executivo municipal, os estudantes não terão como ir à escola porque, nesta madrugada, sete ônibus escolares tiveram suas baterias furtadas neste fim de semana. Foram levados, ao todo, 14 equipamentos.
"Não haverá aula na rede pública de ensino na próxima segunda-feira. O motivo é o furto de 14 baterias de sete ônibus escolares, impossibilitando o transporte dos alunos. A Prefeitura já tomou as providências cabíveis e as autoridades estão investigando o caso. Estamos trabalhando para resolver a situação o mais rápido possível", informou a gestão.
As baterias serão repostas ainda nesta segunda.
Furto foi registrado por câmeras de segurança
O furto foi registrado por câmeras de videomonitoramento. Nas imagens, é possível ver dois homens de boné se aproximando dos ônibus escolares, abrindo o compartimento e iluminando a parte interior do veículo, à procura das baterias.
O Diário do Nordeste solicitou mais informações sobre o caso à Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) e aguarda retorno para atualização desta matéria.
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Enchentes e deslizamentos causam danos e afetam 21 mil pessoas em áreas de risco em Caucaia; ‘acordei com tudo boiando’
“Se na Aldeota entra água, imagine aqui.” A frase poderia ter, mas já até perdeu o possível tom de ironia: é conformada. O sentimento afoga a comunidade espremida em uma vila no bairro Tabapuá, em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), um dos diversos pontos da cidade com problemas crônicos evidenciados pelas fortes chuvas do início do ano.
A prefeitura decretou situação de emergência, na última terça-feira (11), uma semana após o Rio Ceará transbordar e causar inundações e deslizamentos de terra no município. O decreto foi publicado no Diário Oficial, vale por 6 meses e registra que 7.900 foram afetadas pelos desastres e estão em áreas de risco.
Em entrevista ao Diário do Nordeste na manhã desta sexta-feira (14), durante a 5ª Conferência Estadual do Meio Ambiente do Ceará, porém, o prefeito da cidade, Naumi Amorim, informou que já são cerca de 21 mil pessoas impactadas, em diversos bairros e no “interior” de Caucaia. Ele estimou ainda que o município precisa construir mais de 100 passagens molhadas para facilitar os deslocamentos.
Na manhã de quarta-feira (12), quando choveu apenas 18 milímetros, a via de acesso à Rua Um K (conhecida como Vila da Cagece) estava totalmente alagada. Na semana anterior, a água chegou a subir cerca de um metro – informação confirmada pelas marcas nas paredes das casas e por vídeos gravados pela população.
“Tava dormindo com meus filhos de 1 e 9 anos e acordei com as costas da gente molhadas, com tudo boiando”, relata Emanoela de Lima, 32, ao mostrar o colchão ensopado no quarto úmido, com o ar pesado de mofo. “Minha geladeira tá ligada porque preciso, mas tá dando choque”, confessa.
O relato dela se encontra com os dos vizinhos: “toda chuva que dá é isso, mesmo que nem seja tão forte”. Emanoela mora com o pai, que já vive por lá há 40 dos 67 anos de vida. Marceneiro, Francisco Carlos hoje assiste aos móveis da própria casa se desmancharem “sem poder fazer nada, só olhar”.
“Essas enchentes são mais na madrugada. A gente procura abrigo na casa de familiar com as crianças e depois volta pra limpar. É assim”, conforma-se Emanoela. Na porta de casa, durante a nossa entrevista, o pai solta: “tá fazendo um vento frio, já... Esse tanto de vento a gente já fica nervoso e cabreiro. É vento de chuva.”
Na vila estreita, “a água bate no meio do muro”, como afirma Josiana Belarmino, vizinha de Emanoela. “Todo ano as pessoas perdem as coisas todas dentro de casa. Aqui a gente sofre”, diz. Para prevenir o problema, a mulher “aterrou” a casa, ou seja, subiu o nível do alicerce – não adiantou.
A enfermeira Silvia Galdino, 40, mora na “Vila da Cagece” há 21 anos, e reconhece que as famílias “tiram de onde não têm pra fazer obra e evitar esse sofrimento”. “Mas conto nos dedos as casas que são aterradas. E, mesmo assim, a gente passa com a água na cintura. É um sofrimento que só um cego não consegue entender”, dispara.
“Tem pessoas que se acham no direito de julgar, perguntam por que a gente continua aqui. Infelizmente é a nossa realidade. A gente não mora aqui por opção, são as condições que a gente tem.”
No decreto publicado no DOM de Caucaia, assinado pelo prefeito Naumi Amorim, a gestão cita “o baixo senso de percepção de risco das comunidades locais” como agravante para “a qualidade de vida da população, gerando clima de tensão social”.
A cerca de 8 km dali, no bairro Conjunto Metropolitano, conhecido como Picuí, as enchentes não foram como as já esperadas todos os anos. “Dessa vez foi bem mais forte”, relata Gabriele Luzia, 25. “De repente, a água subiu. Foi muito rápido, de uma vez”, relembra.
A casa da jovem fica bem acima do nível da rua, erguida por um batente alto. Ainda assim, a lama escalou cerca de 40 cm parede acima. Ao sair de casa com a filha recém-nascida para se abrigar na casa da sogra, ela e o marido mergulharam o corpo até a altura do peito.
“Peguei o que dava pra pegar da bebê, e meu vizinho veio pra tentar ajudar a gente a salvar algumas coisas. Salvamos a geladeira e a máquina, mas os guarda-roupas, berço, perdemos tudo”, contabiliza. O material de trabalho como manicure também foi levado pela água.
No Picuí, parte da comunidade precisou sair de casa e se abrigar em uma escola municipal. Quando visitamos o bairro, as residências já estavam novamente ocupadas. “Todos os anos é o mesmo sofrimento, as pessoas já correm pra escola, que é o ponto de apoio”, descreve Nilce Costa, 52, moradora do bairro há 23.
“Eu não precisei ir, fui pra minha sogra. De repente começou a encher, encher, encher de uma hora pra outra. Muita gente perdeu tudo. Eu consegui salvar uma coisa ou outra, mas o resto… Minha casa é em cima e embaixo, e a água subiu 5 degraus”, diz.
“A gente já fica assustada. Quando chove de madrugada, todo mundo fica acordado, com medo de a enchente vir e pegar as pessoas de surpresa.”
Lama invadiu casas
Mais 16 km distante dali, no Icaraí, as chuvas causaram outro tipo de desastre: um deslizamento de terra. As mesmas precipitações do dia 4 de março, terça-feira de carnaval, abriram uma cratera na rua Raimundo Mendes de Carvalho, onde a lama invadiu diversas casas. Uma semana depois, as residências ainda estão desocupadas.
Em uma delas, visivelmente a mais afetada, a lama derrubou o muro e preencheu o local quase até o teto. Enquanto um trator trabalhava na recuperação da via, que ficou totalmente intrafegável, nenhum morador das construções afetadas apareceu.
As casas mais afastadas da avenida principal do Icaraí, que ficam abaixo do nível do mar, são o destino certo da lama que despenca pelas ruas de calçamento em dia de chuva forte, como testemunha Edvaldo Pereira, 49, morador de uma via paralela à Raimundo Mendes.
“Invadiu minha casa três vezes, já. Eu fiz um muro pra tentar impedir, mas ano passado a terra desceu desse mesmo jeito aí. Botamos tábuas e enchemos de areia pra não derrubar o muro. Toda vida que chove com força é assim”, relata.
Antes de construir o muro de contenção, Edvaldo afirma que “perdia tudo”. “Uma vez acordei de madrugada com o lamaçal: quando corremos, a água tava entrando com tudo. No meu vizinho, o muro dele já caiu três vezes.”
O homem afirma que chegou a morar na via onde a cratera se abriu, mas se mudou para a paralela na tentativa de escapar “do aguaceiro que desce”. Na região, nenhuma rua é pavimentada com asfalto.
Em uma delas, visivelmente a mais afetada, a lama derrubou o muro e preencheu o local quase até o teto. Enquanto um trator trabalhava na recuperação da via, que ficou totalmente intrafegável, nenhum morador das construções afetadas apareceu.
As casas mais afastadas da avenida principal do Icaraí, que ficam abaixo do nível do mar, são o destino certo da lama que despenca pelas ruas de calçamento em dia de chuva forte, como testemunha Edvaldo Pereira, 49, morador de uma via paralela à Raimundo Mendes.
“Invadiu minha casa três vezes, já. Eu fiz um muro pra tentar impedir, mas ano passado a terra desceu desse mesmo jeito aí. Botamos tábuas e enchemos de areia pra não derrubar o muro. Toda vida que chove com força é assim”, relata.
Antes de construir o muro de contenção, Edvaldo afirma que “perdia tudo”. “Uma vez acordei de madrugada com o lamaçal: quando corremos, a água tava entrando com tudo. No meu vizinho, o muro dele já caiu três vezes.”
O homem afirma que chegou a morar na via onde a cratera se abriu, mas se mudou para a paralela na tentativa de escapar “do aguaceiro que desce”. Na região, nenhuma rua é pavimentada com asfalto.
Alvo nas redes, Lula repete histórico de gafes de primeiros mandatos e vê repercussão negativa das falas aumentar
Por Rafaela Gama — Rio de Janeiro / O GLOBO
Conhecido pela facilidade ao falar de improviso e de transformar discursos de assimilação simples em capital político, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) passou a ver, neste terceiro mandato, a própria retórica alimentar a oposição e render críticas até entre simpatizantes. Embora deslizes verbais já tivessem ocasionado dores de cabeça pontuais no passado, especialistas avaliam que as declarações atuais — algumas de viés machista ou racista, por exemplo — refletem a dificuldade do petista em se adaptar a um mundo “mais exigente” sobre esses temas e no qual informações repercutem mais intensamente graças às redes sociais. Além disso, Lula ainda se depara com rivais à direita preparados para explorar seus erros à exaustão na arena digital.
O episódio mais recente se deu na última semana, quando o chefe do Executivo destacou, diante de parlamentares, ter escolhido “uma mulher bonita” para comandar a Secretaria de Relações Institucionais (SRI) — em referência a Gleisi Hoffmann (PT). De acordo com dados da consultoria Bites, o caso gerou a segunda maior reação negativa ao presidente nas redes, superado apenas pela comparação feita pelo petista dos ataques israelenses à Faixa de Gaza ao Holocausto, em fevereiro do ano passado. Os dados foram obtidos pela coluna de Lauro Jardim, do GLOBO.
Nas plataformas da Meta (Instagram, Facebook e Threads), a fala mobilizou mais de 3.300 comentários nas horas seguintes, que associaram o presidente a termos como “absurdo” e “vergonha”, aponta relatório da consultoria GoBuzz para o GLOBO. “A frase desagrada não apenas mulheres e defensores da igualdade de gênero, mas também dá munição aos adversários, que relembram episódios polêmicos do passado para desgastar ainda mais sua imagem”, destaca a análise.
O levantamento esmiuçou 5,9 milhões de conteúdos das mesmas redes postados nos últimos 365 dias tratando de declarações de Lula, apontando as ocasiões com maior impacto negativo para o petista. A lista inclui a menção a Gleisi e também outros momentos de cunho sexista, como quando disse que “homens são mais apaixonados pela amante”, em janeiro. Com a popularidade em queda nas pesquisas, um dos segmentos nos quais a aprovação ao presidente mais recuou este ano foi justamente junto a mulheres.
Entre os momentos mais críticos para Lula, surge ainda uma declaração sobre a escravidão, descrita em março de 2024 como “uma coisa boa” por gerar “miscigenação”. Um mês antes, ele já havia afirmado, ao lado de uma jovem negra no palco de evento, que “afrodescendente assim gosta de um batuque de tambor”.
'Submissa porque gosta'
Mas as patinadas não se restringem a pautas identitárias. Também estão entre as declarações de repercussão digital mais desfavorável a sugestão de que a população deixasse de comprar produtos caros para conter a inflação, em fevereiro, e uma fala sobre o “padrão de vida que não tem na Europa” supostamente exibido pela classe média brasileira — essa ainda da pré-campanha à Presidência, em 2022, mas até hoje explorada.
— Com as redes, esses conteúdos não morrem. A frase mal colocada fica se reciclando. E, a cada episódio, há uma reoxigenação e associação a novas situações, fortalecendo argumentos contrários ao governo — explica Rafael Bergamo, diretor da GoBuzz.
Apesar da guinada recente, a trajetória política de Lula guarda outras passagens delicadas. Em 2000, dois anos antes de vencer a primeira disputa pela Presidência, ele protagonizou uma cena que acabaria explorada por rivais do PT na eleição municipal de Pelotas (RS). Ao arrumar a gravata do então prefeito, Fernando Marroni (PT), o petista foi flagrado dizendo que a cidade seria “um polo exportador de viados”.
Uma década depois, já no segundo mandato, o presidente discursou que “uma mulher não pode ser submissa ao homem por causa de comida”, mas sim “porque gosta dele”. Seis anos mais tarde, escutas tornadas públicas pelo ex-juiz da Lava-Jato e hoje senador Sergio Moro mostraram Lula questionando onde estariam “as mulheres de 'grelo' duro do PT”. Embora tais episódios tenham alcançado um certo nível de repercussão, especialistas destacam que o dano, nos tempos modernos, é maior.
— Antes não se falava em politicamente correto. As falas rodavam mais entre paredes, só ganhava tração se ocorria diante do microfone. E hoje, com celulares e redes, ele está sempre ligado. O mundo fica mais exigente sobre o que é dito — diz o professor do Insper e cientista político Carlos Melo. Já Christhian Lynch, também cientista político e professor da Uerj, destaca a “força da inércia” dos 80 anos de Lula: — Para ele, há dificuldade de se acomodar a essa mudança de pensamento, mas também dúvidas sobre valer a pena investir nessas pautas.
Após a fala sobre Gleisi, a oposição bolsonarista iniciou uma ofensiva imediata nas redes. A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) destacou o “ataque com uma fala misógina dias após o Dia Internacional da Mulher”. Já seu colega de Câmara Nikolas Ferreira (PL-MG) afirmou que “faltaria pano para as feministas”, em referência à defesa que aliadas fariam do governo. A própria ministra argumentou que o correligionário é o líder que “mais empoderou mulheres”.
— Existe uma direita mais experiente para lidar com esse cenário. No ambiente digital, além de radicalizar a discussão, eles se opõem e expõem Lula com muito mais intensidade do que no passado, quando a briga era com o PSDB — reforça Rafael Cortez, cientista político e professor do IDP.
Verborragia presidencial
A partir da análise de 5,9 milhões de comentários, a consultoria GoBuzz apontou as oito falas de Lula mais exploradas negativamente nas redes ao longo de um ano. Na lista, há tanto declarações recentes quanto mais antigas, mas que seguem sendo recuperadas por críticos do petista.
- "Coloquei essa mulher bonita para ser ministra (...). Não quero mais ter distância de vocês." — 12 de março de 2024, durante evento no Planalto com a presença de parlamentares. Fala considerada sexista por sugerir que a aparência de Gleisi Hoffmann foi determinante para sua nomeação.
- "Não adianta o Trump ficar gritando de lá, porque eu aprendi a não ter medo de cara feia." — 11 de março de 2025, durante cerimônia de inauguração em Minas. Declaração direcionada ao presidente dos EUA foi recebida como um desafio direto a outra nação.
- "Se tal produto está caro, você não compra." — 6 de fevereiro de 2025, em entrevista a rádios da Bahia. Sugestão foi interpretada como insensível ao desafio dos brasileiros diante da alta nos preços dos alimentos.
- "Eu sou um amante da democracia (...) porque, na maioria das vezes, os homens são mais apaixonados pela amante do que pelas mulheres." — 8 de janeiro de 2025, em ato que lembrava os ataques de 8 de janeiro. Metáfora foi tida como inadequada e machista, aponta a consultoria.
- "Depois de jogo de futebol, aumenta a violência contra a mulher. Inacreditável. Se o cara é corinthiano, tudo bem." — 16 de julho de 2024, durante reunião no Palácio do Planalto. O comentário foi recebido como uma relativização da violência de gênero.
- "Toda desgraça que isso (a escravidão) causou ao país, causou uma coisa boa, que foi a mistura, a miscigenação." — 14 de março de 2024, ao visitar reserva indígena em Roraima. Foi interpretado como uma minimização dos horrores da escravidão, gerando críticas de movimentos negros.
- "O que está acontecendo na Faixa de Gaza (...) só existiu quando Hitler resolveu matar os judeus." — 18 de fevereiro de 2024, durante a Cúpula da União Africana, na Etiópia. A comparação com o Holocausto foi considerada antissemita por muitos, incluindo autoridades israelenses.
- "A classe média ostenta um padrão de vida que não tem na Europa." — 6 de abril de 2022, em entrevista à Folha de S. Paulo. Fala, ainda da pré-campanha, foi vista como desconectada da realidade econômica do país, indica a GoBuzz.
Histórico de controvérsias
- "Pelotas é cidade polo, exportadora de viado." — Dita em conversa privada a político da cidade no ano 2000, frase acabou captada por microfones de equipes de TV. "A dor da escravidão é como a de um cálculo renal: não adianta dizer, tem que sentir." — Declaração durante visita ao Senegal, em abril de 2005, no primeiro mandato do petista.
- "A Venezuela vive um excesso de democracia." — Frase de setembro de 2005, ao assinar parceria com o país então comandado por Hugo Chávez, ilustra posição controversa de Lula sobre o tema. "O buraco é tão fundo que qualquer dia a Petrobras vai trazer um japonesinho na broca." — Em setembro de 2008, ao ressaltar o trabalho da estatal de petróleo.
- "Uma mulher não pode ser submissa ao homem por causa de um prato de comida. Tem que ser submissa porque gosta dele." — A fala de teor machista ocorreu em janeiro de 2010, já na reta final do segundo mandato na presidência.
- "Cadê as mulheres de 'grelo duro' do PT?" — Em conversa privada com o ex-ministro Paulo Vannucchi, em 2016, grampeada e tornada pública por decisão do ex-juiz da Lava-Jato Sergio Moro.
Entre a fila do SUS e a vida: espera para consultas bate recorde e dura em média 57 dias; veja quanto tempo leva em cada estado
Caio de Melo Ramos tinha três anos de idade quando foi diagnosticado com transtorno do espectro autista por um médico do Sistema Único de Saúde (SUS), que indicou a realização de consultas com especialistas. Sua mãe, a dona de casa Priscila Melo, foi então em busca de neurologista, psicólogo e fonoaudiólogo. Após cinco anos de espera, só conseguiu levar o filho no primeiro. Nas demais especialidades, segue na fila.
— Não me deram previsão. Entrei em contato com a agente de saúde que me atendia e ela disse que tenho que esperar, não tenho o que fazer. Ficamos à mercê. Enquanto isso, meus filhos precisando e regredindo — disse Priscila, moradora de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, cujo segundo filho também foi diagnosticado com autismo.
A situação de Priscila e dos filhos não é exceção. Uma radiografia inédita das filas do Sistema Único de Saúde (SUS) revela que nunca se levou tanto tempo para se conseguir uma consulta médica com um especialista na rede pública do país.
Números do Ministério da Saúde obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI) mostram que pacientes precisaram aguardar, em média, quase dois meses (57 dias) para serem atendidos em 2024. A espera durou mais até do que o registrado durante a pandemia de Covid-19, em 2020, quando a média foi de 50 dias, até então a maior marca da série histórica iniciada em 2009.
Ferramenta desenvolvida pelo GLOBO com base nos dados permite consultar o tempo médio de espera em cada estado e no Distrito Federal, tanto em caso de consulta quanto de cirurgia, de acordo com a especialidade buscada.
O levantamento foi possível após cruzamento de dados do Sistema Nacional de Regulação (Sisreg), software usado pelo governo federal para gerir o acesso à saúde. Os dados mostram que, a exemplo do filho de Priscila, 5,7 milhões de pessoas aguardavam por uma consulta em janeiro deste ano em todo o país. É como se 4 de cada 5 habitantes do Rio estivessem esperando um atendimento médico naquele momento.
5,7 milhões
de pessoas estavam na fila do SUS para consultas em janeiro
O tempo médio para uma consulta, que engloba as 84 especialidades disponíveis no SUS, nas 27 unidades da federação, contudo, mascara a realidade de locais onde conseguir ser atendido é um exercício de paciência. O maior prazo, segundo os dados, é para quem precisa de uma avaliação de um especialista em genética médica, indicada para casos de anomalias congênitas, no Mato Grosso. Do pedido de agendamento até o paciente ser recebido no consultório médico são, em média, 721 dias — ou seja, dois anos de espera.
O tempo pode ser menor quando se trata de especialidades menos complexas. A principal demanda do SUS no ano passado, por exemplo, foram pelas consultas oftalmológicas, que tiveram 175,9 mil solicitações. Neste caso, considerando a média do país, a espera pelo atendimento foi de 83 dias, quase três meses.
O Ministério da Saúde afirma que a redução no tempo de espera de consultas, exames e cirurgias no SUS é a prioridade do novo ministro, Alexandre Padilha, que tomou posse na segunda-feira no lugar de Nísia Trindade. A troca teve como um dos principais motivos as dificuldades da ex-titular da pasta em avançar com o Programa Mais Acesso a Especialistas, lançado em abril do ano passado com o intuito de tornar mais rápido o acesso da população ao atendimento em cinco áreas com mais demanda (oncologia, oftalmologia, cardiologia, ortopedia e otorrinolaringologia). Em busca de uma marca para seu terceiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem cobrado resultados, pois quer transformar o programa em vitrine eleitoral em 2026.
Em nota, a pasta afirmou que tem adotado iniciativas que já ajudaram a reduzir filas e, no ano passado, "registrou recorde histórico" de cirurgias eletivas. "Foram mais de 14 milhões de procedimentos realizados, um crescimento de 37% em relação a 2022", diz a nota.
Foram mais de 14 milhões de procedimentos realizados, um crescimento de 37% em relação a 2022 — diz o Ministério da Saúde, em nota
Apesar de o sistema usado pelo Ministério da Saúde ser a única base de dados do governo federal para saber a situação das filas, a pasta afirma que os números são falhos. Nem todos os estados preenchem o sistema de forma adequada. Capitais como São Paulo, Rio e Belo Horizonte, por exemplo, possuem ferramentas próprias de controle, que não são integradas ao da Saúde.
Novo sistema
Cinco dias após o GLOBO procurar o ministério para comentar os números, a pasta publicou em 10 de março uma portaria que prevê a substituição do Sisreg por um novo sistema, batizado de E-SUS Regulação. A norma obriga gestores locais a enviarem dados sobre as filas de atendimento de forma periódica, independentemente do sistema utilizado pelos estados e municípios. Ainda não há prazo para que a nova plataforma seja implementada.
Já a Secretaria de Saúde de Nova Iguaçu, que atende o filho de Priscila, informou que ter agendado consultas com um psicólogo, na semana que vem, e um neurologista, em maio. Os agendamentos foram realizados na sexta-feira passada, após a reportagem entrar em contato com a pasta municipal.
Espera 'angustiante'
Além da demora recorde para se conseguir uma consulta no SUS, especialistas em saúde pública apontam que o principal gargalo do atendimento especializado atualmente é a sucessão de filas que um paciente precisa enfrentar quando necessita de um tratamento. A depender da patologia, esse processo pode levar anos, colocando em risco a vida do paciente.
É o drama vivido atualmente pela aposentada Vera Lúcia Gentil, de 61 anos, moradora do Riacho Fundo, na região administrativa de Brasília. Ela descobriu um tumor no cérebro em abril do ano passado após uma enfermeira levantar a suspeita durante uma consulta de rotina em uma unidade de saúde da família. A indicação era que ela realizasse uma tomografia, exame que no ano passado o tempo médio de espera foi de 34 dias. Aflita, a aposentada decidiu não aguardar e pagou do próprio bolso em um laboratório particular.
Com os resultados em mãos, Vera buscou o SUS novamente para se consultar com um neurologista, que por sua vez encaminhou o caso para um neurocirurgião. Foram sete meses neste processo até que ela fosse finalmente atendida e, só então, entrasse em outra fila, desta vez para a retirada do tumor, em novembro.
Falaram que tinha caso mais grave que o meu, que tinha pacientes na fila que já estavam cegos. A sensação é péssima. A gente fica angustiada, porque primeiro foi o susto descobrir o tumor. Tem uma coisa dentro da minha cabeça e eu sinto dores diárias. Não durmo bem, não como bem, não vivo bem. A sensação que a gente tem é que não estão nem aí para a gente. É angustiante
— Vera Lúcia Gentil, que espera uma cirurgia para retirada de um tumor no cérebro no SUS Os dados mostram que, em casos de cirurgia oncológica, o tempo médio de espera de um paciente pode chegar a 188 dias, ou seja, mais de seis meses. O prazo descumpre o estabelecido em uma lei federal aprovada em 2012, que dá 60 dias para que pacientes diagnosticados com câncer tenham o tratamento iniciado. A legislação prevê penalidades administrativas a gestores responsáveis pela demora.
Ex-diretora do Ministério da Saúde e professora do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB), Carla Pintas Marques defende uma mudança no sistema atual adotado no SUS para que o paciente entre em uma linha de cuidado, sem a necessidade de idas e vindas em filas.
— O tratamento de câncer tem que ser iniciado em até 60 dias após o diagnóstico, mas, antes disso, é preciso saber o tipo de tratamento, onde vai ser feito. E aí o paciente entra tudo de novo na (fila de) regulação. Fica 80 dias para conseguir uma consulta e depois entra na regulação novamente para exames e para consultas especializadas — diz Carla.
Para o secretário-executivo do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Jurandi Frutuoso, o tempo médio para o atendimento especializado no SUS ainda é reflexo de um represamento ocorrido na pandemia, quando cirurgias eletivas, por exemplo, foram suspensas para abrir leitos a pacientes de Covid.
— Havia também represamento de pacientes que não tinham diagnóstico e não iam aos ambulatórios por causa da pandemia — disse ele. — Com o aumento de diagnósticos pós-pandemia, houve também um aumento de indicação de cirurgias, por isso a fila se mantém no patamar elevado.
REPORTAGEM
Sarah Teofilo
Dimitrius Dantas
Karolini Bandeira
EDIÇÃO
Thiago Faria
IDEALIZAÇÃO
Thiago Bronzatto
DESIGN
Mario Martinho
DESENVOLVIMENTO
Hudson Lessa
GRÁFICOS
Mario Martinho
Thiago Quadros
Vinicius Machado / O GLOBO
Plano Diretor: ‘Vamos ver o que se aproveita do feito pelo Sarto, o que não servir, vamos refazer’, diz Bruno Mesquita
Líder do prefeito Evandro Leitão (PT) na Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor), o vereador Bruno Mesquita (PSD) disse, na quinta-feira (13), que a atualização do Plano Diretor de Fortaleza é uma das prioridades tanto para o Executivo quanto para o Legislativo municipal neste ano. O político defendeu que os planejamentos feitos pelo ex-prefeito José Sarto (PDT) para a Capital sejam revisados.
“Vamos ver o que se aproveita do que foi feito pelo Sarto, o que não servir, vamos refazer. Eu disse para o prefeito que, se a gente for começar tudo de novo, vamos passar três ou quatro anos, eu acho que nem na gestão dele teremos como fazer algum tipo de mudança no Plano Diretor”, completou.
O parlamentar participou da live do PontoPoder e concedeu entrevista aos editores Jéssica Welma e Wagner Mendes. Na conversa, ele apontou alguns problemas gerados pela desatualização da legislação que orienta sobre a ocupação e desenvolvimento na Cidade.
“O prefeito já falou até publicamente, ele defende essa revisão porque está ultrapassada até pelo tempo da pandemia. Essa é uma questão que a gente está vendo com muito zelo para vermos o que se aproveita e o que muda. Aliás, tem alguns locais de Fortaleza que deixaram de avançar por conta dessa questão do Plano Diretor”, disse.
Atualmente, a legislação vigente sobre isso em Fortaleza é de 2009, aprovada e sancionada ainda durante o mandato da ex-prefeita Luizianne Lins (PT). As atualizações ocorrem a cada década, portanto, desde 2019, o Plano Diretor da Capital está defasado.
Atraso na conclusão do Plano Diretor
As tentativas de revisão da norma começaram ainda durante a administração de Roberto Cláudio (PDT), em 2020. As movimentações ocorreram após atraso de um ano e pressões de entidades ligadas ao tema. Contudo, os trabalhos foram interrompidos em julho daquele ano, por conta das medidas de isolamento social adotadas na pandemia da Covid-19.
Ao tomar posse, Sarto seguiu articulando a atualização do Plano Diretor. O prazo de conclusão foi reavaliado sucessivas vezes ao longo da gestão, tanto pelo próprio mandatário quanto por aliados que ocupam cadeiras na Câmara Municipal.
“O Plano Diretor é um assunto que estamos nos debruçando mais. Eu fui da Comissão do Plano Diretor no primeiro biênio do mandato anterior e agora sou vice-presidente da Comissão, presidida pelo vereador Benigno Júnior”, disse Mesquita.
“O prefeito quis saber a nossa opinião, principalmente a minha e a do vereador Léo Couto (presidente da CMFor), que fomos da legislatura passada. Eu participei de alguns eventos, de algumas oficinas (na gestão Sarto) sobre o Plano Diretor. Dei essa opinião ao prefeito Evandro, que a gente veja o que foi feito pelo Sarto, como as reuniões temáticas de bairro, que isso ele fez, eu participei de várias”, concluiu.