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O poder da maioria silenciosa

O Estado de S.Paulo

21 de março de 2022 | 03h00

As discussões políticas nas redes sociais, muito agressivas, transmitem a impressão de que a sociedade brasileira estaria cindida ao meio e o debate público, interditado pela intolerância. Na realidade, não é bem assim, como revelou uma pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva, publicada há poucos dias pelo jornal Valor.

Em que pese o fato de um em cada três brasileiros (31%) dizer que cerra fileiras com os extremos do espectro político (13% à extrema-esquerda e 18% à extrema-direita), 36% dos eleitores não se identificam com qualquer campo político e outros 22% se declaram de centro. Segundo a pesquisa, esse grupo mais radical, embora minoritário, é o que mais se engaja nas redes sociais e o que mais se “informa” por meio delas, ávidos que são por conteúdos que confirmam suas crenças, ainda que não encontrem respaldo na verdade dos fatos. Em outras palavras: a maioria da população (58%) não dá a mínima para as virulentas discussões online e está mais ocupada em tocar o dia a dia e sonhar com um governo que trabalhe, apenas isso, provendo emprego, saúde, segurança e educação – ou ao menos um governo que não atrapalhe a vida dos cidadãos.

Essa é a principal conclusão que se pode tirar da pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva a pedido da organização não governamental Despolarize. Entre os dias 26 e 30 de novembro do ano passado, o instituto ouviu 1.315 pessoas – homens e mulheres com mais de 16 anos – em 142 municípios de todos os Estados e do Distrito Federal.

Não se sabe ainda quem serão os candidatos à Presidência da República em 2022. Os nomes que ora circulam ainda precisam ser confirmados pelos partidos políticos no prazo definido pela lei eleitoral. Contudo, é seguro afirmar que quem quiser governar o Brasil a partir de 1.º de janeiro de 2023 terá de dialogar, necessariamente, com aqueles 58% da população que esperam propostas muito concretas para solucionar problemas que afligem milhões de brasileiros, principalmente os de natureza econômica. Para esse enorme contingente de eleitores, que não parecem ser prisioneiros da ideologia dos extremos, a escolha eleitoral deverá ser mais pragmática do que ideológica. Ou seja, a maioria dos brasileiros está menos aflita com “guerra cultural”, “ascensão do fascismo”, “ameaça comunista” ou outra bobagem do gênero do que com a ameaça de desemprego e o preço dos alimentos nas gôndolas do supermercado.

Apenas para os grupos mais radicais, que se dizem infensos ao diálogo e à mudança de opinião, pouco importa se os candidatos de sua predileção apresentarão ou não propostas responsáveis para tratar das renitentes mazelas do País. Dos eleitores ouvidos pelo Instituto Locomotiva, 25% se disseram “altamente intolerantes”, o que significa que não admitem nem por hipótese rever suas convicções e, menos ainda, considerar outro candidato à Presidência da República que não o que representa a personificação de suas estreitas visões de mundo.

A pesquisa confirmou a percepção geral de que os brasileiros estão divididos politicamente, fato que não chega a surpreender em um país democrático, de dimensões continentais e com mais de 212 milhões de habitantes. Do total de eleitores ouvidos pelo Instituto Locomotiva, 89% veem a sociedade “muito dividida”. Apenas 11% acreditam que o País não está politicamente fragmentado. No entanto, só 23% acreditam que os brasileiros estão divididos entre dois polos políticos; 39% veem a divisão em vários polos; e 27% dos entrevistados acreditam que os brasileiros estão divididos em dois polos maiores e outros grupos menores agregados.

A sete meses da eleição, as certezas de hoje envolvendo o pleito valem tanto quanto uma nota de três reais. Sejam quais forem os candidatos que disputarão o Palácio do Planalto, resta evidente que há uma maioria silenciosa, longe das diatribes das redes sociais, com quem eles deverão dialogar. E essa parcela dos eleitores, que detêm o poder de definir o futuro próximo do País, provavelmente não se deixará convencer por gritaria ideológica, e sim por propostas concretas para estimular o desenvolvimento econômico e humano.

Como a pulverização de candidaturas pode impactar para base e oposição no Ceará

Escrito por  / DIARIONORDESTE

 

O Ceará terá duas candidaturas competitivas ao Governo do Estado em outubro: Capitão Wagner (Pros) e a indicação do PDT. Ambos, ao saberem do favoritismo, correm contra o tempo para reunir o maior número de aliados possíveis.  

A principal missão dos dois lados é agregar o máximo de aliados e evitar candidaturas paralelas que possam limitar o crescimento dos dois grupos. 

O tamanho da aliança poderá ser decisivo em uma eleição que começa com cara de segundo turno. A disputa que se aproxima tem o mesmo perfil da que vimos em 2014. 

Há oito anos, o candidato Camilo Santana tinha dezoito siglas na chapa majoritária. Enquanto o principal adversário, Eunício de Oliveira, tinha a metade disso, nove legendas no arco de alianças. 

No primeiro turno, o petista obteve 47,81% dos votos válidos, enquanto o emedebista atingiu 46,41%. Com a mesma polarização, a disputa seguiu acirrada no segundo turno, dando vitória apertada ao aliado do então governador Cid Gomes. 

É claro que não dá pra apontar qual fator foi determinante para o resultado da eleição. No entanto, pode-se afirmar que, quanto maior o número de aliados, maior também serão as chances de êxito na abertura das urnas. 

Os irmãos Ferreira Gomes sabem bem disso. A receita que fez de Camilo o candidato com o maior número de aliados em 2014 é a mesma adotada no dia a dia da governabilidade. Camilo chegou a ter na ampla base da Assembleia Legislativa mais de 20 partidos com ele. 

Em um embate bastante polarizado, como se espera neste ano, qualquer liderança ou partido que agregue a uma candidatura, seja da base ou oposição, poderá ser decisivo para o resultado das urnas, inclusive com risco de “resolver” o pleito já no primeiro turno. 

UNIDADE 

É por isso que o União Brasil, maior partido do País, foi tão disputado entre Capitão Wagner e Chiquinho Feitosa, que é aliado do governador. A conquista da agremiação pela oposição equilibra a disputa e torna o duelo ainda mais competitivo

A base em torno de Camilo Santana, antes da virada do ano, fazia as contas incluindo o DEM, que viria a ser o União Brasil, além do PL, comandado pelo prefeito de Eusébio, Acilon Gonçalves. Duas legendas com boa musculatura parlamentar que injeta um bom dinheiro para a campanha e garante expressiva minutagem na propaganda eleitoral. 

Com quem o governo deve ficar de olho nos próximos dias é com o PP, que nacionalmente integra a base do presidente Jair Bolsonaro. Embora o deputado estadual Zezinho Albuquerque tenha reafirmado aliança local, ele tem se movimentado para ser candidato a governador. 

Caso essa candidatura seja formalizada, independentemente da posição dos pedetistas e mesmo na base de Camilo, a duplicidade de palanques poderá fragilizar a estrutura liderada pelo PDT. 

As perdas recentes para o grupo não são comprometedoras a ponto de colocar em risco a força da base, mas liga o sinal de alerta para as costuras que estão sendo feitas nos bastidores pela oposição. 

A arma do grupo governista ainda é a força dos líderes no grupo, principalmente no interior. Ciro, Cid e Camilo serão cabos eleitorais importantes para a candidatura escolhida pelo partido. 

OPOSIÇÃO 

Capitão Wagner vai precisar dialogar bastante com dirigentes do PL na instância nacional. O movimento de lançamento de candidatura própria ao Palácio da Abolição, com o nome do ex-deputado federal Raimundo Gomes de Matos, pode fracionar os votos oposicionistas e colocá-lo em desvantagem na corrida eleitoral. 

Nesse esforço de aglutinar as forças, o pré-candidato a governador, inclusive, tem feito um discurso bastante elástico em torno dos palanques nacionais. 

A estrutura partidária que dará sustentação à candidatura de Wagner poderá reunir forças que pedem votos para Bolsonaro, Moro e Lula. O esforço de união da oposição segue até o apagar das luzes.

O recado que o governador Ratinho Júnior mandou a Lula em visita ao Paraná

Por Bela Megale / O GLOBO

 

O governador Ratinho Júnior (PSD) deu ordens expressas para que a segurança fornecida pelo Estado em torno das agendas de Lula no Paraná fosse reforçada. Por meio de um interlocutor, Ratinho Jr. também enviou um recado ao petista. Mandou dizer que não é seu inimigo nem adversário. Lula está no Paraná desde sexta-feira, onde participou da filiação do ex-senador e ex-governador Roberto Requião, em Curitiba. Esses foi o primeiro retorno de Lula ao Estado desde que foi solto, em novembro de 2019.   

Roberto Requião é o pré-candidato apoiado por Lula ao governo do Paraná. No evento de sexta, o ex-presidente fez elogios ao novo colega de partido e o comparou ao ex-governador de São Paulo Mario Covas, do PSDB. Lula disse que não se incomodava quando o tucano falava mal do PT e que tinha o mesmo sentimento sobre as manifestações de Requião, que por 40 anos foi do MDB. Afirmou que, nos dois casos, as críticas eram construtivas e pediu que o ex-senador seguisse com a mesma postura, agora como membro do PT.  

Neste sábado, o ex-presidente visitou um assentamento do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) em Londrina, num ato que reuniu cerca de 10 mil pessoas. A ordem de Ratinho Júnior na cidade foi a mesma, fornecer o máximo de segurança para que visita do petista não tivesse intercorrências. Um grande aparato da Polícia Militar foi mobilizado no trajeto até o assentamento do MST. O governador concorrerá à reeleição, provavelmente com o apoio de Bolsonaro.

Ainda os ciclos eleitorais

Em sete eleições federais realizadas desde a volta da democracia, de 1982 a 2014, captadas pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), a pobreza cai em todos os anos eleitorais e sobe em todos os anos pós-eleitorais, com exceção de 2007. A queda média de pobreza em ano eleitoral foi 12,82% e o aumento no ano pós eleitoral foi de 14,92%. Essa é uma das conclusões de estudos levados a cabo pelo economista Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas do Rio, especialista em distribuição de renda. Neri foi presidente do IPEA e ministro de Assuntos Estratégicos do governo Dilma.

Ele diz que se retirarmos o ano de 1986 da amostra, que corresponde ao ano do Plano Cruzado, onde o ciclo eleitoral foi mais marcado, a queda de pobreza foi de 8,34% em ano eleitoral seguido de aumento médio de 8,2% em anos subsequentes. A literatura sobre ciclos eleitorais, como tratamos na quinta-feira, descreve o comportamento de políticos que embelezam seus sucessos em anos de eleição, de forma a influenciar os resultados do pleito, e no ano seguinte apresentam ajustes na economia, gerando o resultado oposto.

Os instrumentos usados eleitoralmente no Brasil são diversos, desde flutuação macroeconômica promovida por políticas fiscais ou planos de estabilização sintonizados com o calendário das urnas, passando pelo controle seletivo de preços públicos administrados como eletricidade e gasolina, chegando a mudanças nas transferências públicas como benefícios sociais e previdenciários.  

De oito eleições federais de 1978 a 2013 analisadas, nos anos eleitorais houve oito aumentos reais na renda mediana, enquanto nos anos imediatamente após as eleições foram sete reduções. Observando o período entre 1981 e 2013, nos anos de eleição, o crescimento real médio da renda mediana foi de 11,33% enquanto, nos anos seguintes àqueles em que ocorreram os pleitos, a queda líquida foi de -7,3%. Resultados qualitativamente semelhantes foram encontrados nas estatísticas relacionadas com a pobreza.

Os estudos coordenados por Marcelo Neri na FGV-Rio mostram que, de 1992 a 2006, os aumentos de renda foram maiores nos anos de eleição, caracterizando o ciclo  eleitoral. Naqueles anos, em média, a renda oriunda de programas sociais teve o maior aumento (22,57%), seguido dos benefícios da previdência social (10,51%) e da renda do trabalho em geral (3,16%). Nos anúncios recentes os R$ 400 mínimos por Família do Auxílio Brasil praticamente dobra o benefício médio do antigo Programa Bolsa Família. Entretanto, este benefício deixa de vigorar em janeiro de 2023, logo depois das eleições. Ou seja, funciona como um piso temporariamente retrátil em termos nominais.

Quando janeiro de 2023 chegar, diz Neri, a inflação já terá reduzido este valor. Além disso, os R$ 400, embora eficazes em termos de marketing político, não levam em conta o tamanho nem o grau de pobreza de cada família. O princípio de que quanto mais pobres e maiores as famílias maiores são as necessidades de recursos envolvidas é perdido. “No bojo da crise de 1999, gestamos e depois parimos o Bolsa Escola federal; em meio às agruras da crise de 2003, nasceu o Bolsa Família. Na atual crise desaprendemos lições básicas e voltamos ao tempo de distribuição de cestas básicas em período eleitoral”, lamenta o economista.

Em termos de multiplicadores de gastos públicos, segundo Marcelo Neri, cada real gasto com Bolsa Família dispara um multiplicador 3 vezes maior que o dos gastos previdenciários com anúncio de antecipação de 13º benefício; 5 vezes maior que os do FGTS - usado de novo em 2022 como ferramenta anticíclica; 1,68 mais que o abono salarial do PIS-Pasep. Para Marcelo Neri, uma lição é que se olharmos primeiro para os mais pobres, buscando protege-los, freando os aumentos da desigualdade, preservamos também o movimento da economia como um todo.

As medidas adicionais anunciadas pelo governo federal como consignação de empréstimos de beneficiários do Auxílio Brasil e do BPC, aumento da parcela consignável das pensões e aposentadorias inovam no oportunismo eleitoral. A eleição de 2022, a décima realizada desde a histórica eleição direta para governadores em 1982, parece inovar em resgatar práticas antigas marcadas de oportunismo eleitoral.

Bolsonaro desfez ilusão do PT de que Lula poderia prevalecer já no 1º turno... - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/colunas/josias-de-souza/2022/03/17/bolsonaro-desfez-ilusao-do-pt-de-que-lula-poderia-prevalecer-ja-no-1-turno.

Josias de Souza
 

Colunista do UOL

17/03/2022 09h23

Bolsonaro e seus operadores do centrão vivem situação parecida com a de um time de futebol que perde de 4 a zero e marca dois gols num adversário mais forte. Ciro Nogueira, líder do centrão e chefe da Casa Civil, exagerou ao prever que Bolsonaro vencerá a eleição no primeiro turno. Mas a animação do ministro, exibida em entrevista a Pedro Bial, não é despropositada. As pesquisas mais recentes sinalizam que Bolsonaro tornou-se um adversário mais duro de roer do que supunham Lula e seus aliados.

Desfez-se a ilusão de que Lula poderia prevalecer no primeiro turno. Num instante em que a deterioração da economia encurta os horizontes do brasileiro, Bolsonaro torna-se mais competitivo. Deve-se o paradoxo à ausência de recato com que o candidato à reeleição utiliza a máquina governamental e seus cofres. Antigo crítico do Bolsa Família, que chamava de "cabresto" eleitoral do PT, Bolsonaro saboreia uma expressiva queda da rejeição ao seu governo entre os beneficiários do auxílio Brasil de R$ 400.

Como antídoto contra a inflação desenfreada, o presidente joga a culpa pelo aumento dos combustíveis no colo de Joaquim Silva e Luna, o general que ele próprio nomeou para presidir a Petrobras. E atropela Paulo Guedes com um populismo que já inclui vale gás, perdão de dívidas dos estudantes no Fies, reajuste para professores, redução do IPI de fogões, geladeiras e afins, antecipação do 13º dos aposentados e liberação do FGTS. A generosidade eleitoral terá um custo. Mas Bolsonaro crê que a conta só será apresentada depois da eleição. A alternativa seria perder de goleada. Hoje, a derrota ainda está à espreita. Entretanto, o candidato à reeleição continua vivo em campo. Parece disposto a vender caro uma eventual derrota.

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