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Choque entre Lula e Ciro por 2022 afasta PT e PDT nos estados

Bernardo Mello e Marcelo Remigio / O GLOBO

 

RIO — Com o acirramento da rivalidade entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-ministro Ciro Gomes, ambos pré-candidatos à Presidência, PT e PDT entraram em choque por alianças locais a pouco mais de um ano para as eleições de 2022. Em estados como São Paulo e Pernambuco, o foco da disputa é o PSB, aliado pedetista nas disputas municipais de 2020 que passou a ser cortejado pelo PT. No Rio, a aproximação entre o PSB e Lula, após a filiação do deputado federal Marcelo Freixo, levou o PDT a acelerar a pré-candidatura de Rodrigo Neves ao governo.

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Ex-prefeito de Niterói, Neves foi filiado ao PT até 2016 e mantém boa relação com lideranças locais do partido, como o vice-presidente nacional petista, Washington Quaquá. Ao lançá-lo como candidato, além de garantir um palanque fluminense para Ciro Gomes, o PDT busca também atrair apoio de nomes de centro como o deputado Rodrigo Maia (sem partido) e o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), que vêm sendo cortejados por Freixo, que deixou o PSOL para viabilizar sua candidatura ao governo, e por Lula.

Está previsto, ainda nesta semana, um encontro entre Neves e caciques petistas no Rio, numa tentativa de aproximação inspirada nas alianças entre PDT e PT em 2020 que renderam vitórias em municípios como Niterói, Maricá, Itaboraí e Saquarema. Não está descartado um palanque duplo para Lula e Ciro, mas o arranjo nacional é um obstáculo.

— Rodrigo Neves é um bom nome, com pouca rejeição. Mas o problema todo é o Ciro Gomes, que ainda não entendeu que a disputa para o governo federal será polarizada. E isso tem dificultado a aproximação (com o PDT) nos estados — afirma Quaquá.

No Maranhão, onde há impasse semelhante, Lula conversou com o senador Weverton da Rocha (PDT-MA), pré-candidato ao governo. Weverton é aliado de Ciro e também do governador Flávio Dino (PSB), que apoia Lula.

Em São Paulo, o PT tenta abrir caminho para uma candidatura de Fernando Haddad ao governo e, para isso, fez acenos ao ex-governador Márcio França (PSB). A sondagem petista para lançá-lo ao Senado numa chapa com Haddad esbarra na vontade do próprio França, que tende a apoiar uma candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) ao governo. De olho nos movimentos do PT e tentando manter-se aliado ao PSB paulista, o PDT passou a incentivar nos bastidores um apoio a Alckmin, que deve sair do PSDB e poderia ter França como vice, repetindo o arranjo que foi vitorioso em 2014.

Em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país, PT e PDT disputam a melhor posição numa chapa do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), ao governo. Kalil ainda não sinalizou apoio nem a Lula, nem a Ciro. Alguns dos nomes que orbitam a provável candidatura de Kalil, como o presidente da assembleia legislativa, Agostinho Patrus (PV), têm boa relação com lideranças petistas. Uma alternativa costurada pelo PDT para garantir palanque a Ciro é trazer de volta à política o ex-prefeito Márcio Lacerda (PSB), rival do PT local.

- Foto: Editoria de Arte
- Foto: Editoria de Arte

Nordeste em disputa

No Ceará, Lula tem se empenhado em lançar o governador Camilo Santana (PT) ao Senado e pode costurar um apoio do PT ao ex-senador Eunício Oliveira (MDB) para a sucessão estadual. Eunício vem defendendo publicamente a candidatura de Lula contra Ciro, de quem é rival. Já a chapa pedetista ao governo deve ser encabeçada pelo ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio, aliado de Camilo. Recentemente, Eunício alfinetou Cláudio nas redes sociais, insinuando que o adversário teria dado apoio a Eduardo Girão (Podemos), hoje aliado do governo Bolsonaro no Senado, para deixá-lo sem mandato em 2019.

Com a candidatura de Camilo, o PT busca ampliar sua base no Congresso e retirá-lo de palanques do PDT, ou ao menos dividir seu apoio.

— Não creio que Lula vá querer comprar essa briga no Ceará. Camilo vai ter uma certa dificuldade para se equilibrar, mas acredito que, sendo candidato ao Senado, apoiará o PDT ao governo — afirmou o presidente do PDT, Carlos Lupi.

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Ainda no Nordeste, PT e PDT estão decididos a ficar em lados opostos em Pernambuco. Após uma disputa familiar tensa em Recife entre os primos João Campos (PSB), eleito em segundo turno, e Marília Arraes (PT), lideranças petistas acenaram com um apoio ao PSB em 2022 para a sucessão do governador Paulo Câmara, que tem mostrado simpatia à candidatura de Lula. Campos, por sua vez, encabeça a ala do PSB que prega uma terceira via, mas não defende publicamente, por ora, a candidatura de Ciro, que o apoiou em 2020. Para diminuir as resistências à aliança, o PT tem sinalizado ao PSB que Marília perdeu espaço e tenta agendar um encontro entre Lula e Campos.

O movimento desagradou o PDT, que passou a conversar com nomes de oposição ao PSB, como o ex-senador Armando Monteiro (PSDB) e o prefeito de Petrolina, Miguel Coelho (MDB), filho do líder do governo Bolsonaro no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE).

— Nada contra o Lula, que está no seu direito, mas esse assédio ao PSB ligou o sinal amarelo para nosso plano de ter palanque para o Ciro. Conversamos com nomes da oposição e podemos buscar outras siglas, como o DEM, com as quais temos boa relação em outros estados — disse o deputado Wolney Queiroz (PDT-PE).

No Piauí, como o governador Wellington Dias (PT) deve reunir sua base em torno de Lula, o PDT já abriu conversas com o Ciro Nogueira (PP-PI), aliado de Bolsonaro e pré-candidato ao governo.

4 em cada 10 brasileiros não sabem indicar em quem votaria para presidente

Por Gilson Garrett Jr / EXAME

 

A mais recente pesquisa EXAME/IDEIA mostra que a eleição presidencial de 2022 deve ser polarizada entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (sem partido). Apesar disso, 42% dos brasileiros ainda não conseguem indicar em quem votariam no primeiro turno, em uma sondagem espontânea, sem que os nomes sejam apresentados previamente.

 

Quando os entrevistados são questionados com opções de candidatos de maneira prévia, este número de pessoas que não sabe cai para 7%. Maurício Moura, fundador do IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública, explica que a questão espontânea consegue capturar o imaginário do eleitor, aquele nome em que ele já está pensando em votar.

 

“Vamos precisar acompanhar com muito afinco o resultado da pergunta espontânea de intenção de voto para eleição presidencial. Isso dá a exata noção que essa ainda é uma disputa muito aberta e bastante cheia de nuances daqui para diante”, diz.

A pesquisa EXAME/IDEIA, projeto que une EXAME e o IDEIA, ouviu 1.200 pessoas entre os dias 22 e 24 de junho. As entrevistas foram feitas por telefone, com ligações tanto para fixos residenciais quanto para celulares. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.

A indecisão é menor entre os moradores do Centro-Oeste (20%). A região tem o voto definido em favor de Bolsonaro, que aparece com 46% das intenções de voto. Já Lula tem 19%. Por outro lado, o Sudeste concentra a maior parcela de pessoas que não sabe em quem votar, com 49%.

No recorte por escolaridade, o grupo de pessoas com ensino superior é o que concentra o maior número de eleitores sem um nome definido para votar na eleição presidencial de 2022 (45%).

Lula tem vantagem sobre Bolsonaro

Na sondagem de primeiro turno, Lula aparece à frente de Bolsonaro, ainda que dentro da margem de erro da pesquisa. Em um eventual segundo turno, o petista venceria o atual presidente por 44% a 39%. O ex-presidente mantém a vantagem há três meses.

Na avaliação de Maurício Moura, as eleições de 2022 devem ser muito polarizadas e ainda não está claro se haverá um candidato de terceira via capaz de se destacar. A pesquisa EXAME/IDEIA testou três possíveis candidatos do PSDB, Ciro Gomes, Luiz Henrique Mandetta, e Sergio Moro.

"O ex-presidente vence em todos os simulados de segundo turno. A diferença de potenciais candidatos à terceira via numa simulação contra Jair Bolsonaro diminuiu. O presidente continua numericamente à frente, mas alguns cenários estão estatisticamente empatados, como na simulação com Ciro Gomes”, diz.


O podcast EXAME Política vai ao ar todas as terças-feiras. Clique aqui para ver o canal no Spotify, ou siga em sua plataforma de áudio preferida, e não deixe de acompanhar os próximos programas.

‘Para cada cinco pancadas no Bolsonaro, uma no Lula’, diz Carlos Lupi

Bernardo Mello / O GLOBO

 

RIO - Para o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, as mudanças partidárias do governador do Maranhão, Flávio Dino, e do deputado Marcelo Freixo (RJ) indicam uma tentativa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de “tomar o PSB por dentro”. Lupi diz que a pré-campanha de Ciro Gomes apostará em alternar críticas a Lula e ao presidente Jair Bolsonaro.

As idas de Freixo e Dino ao PSB colocam o partido no projeto presidencial de Lula?

Lula trabalha para tomar o PSB por dentro, fazer do PCdoB um satélite petista e tirar o PSOL. Isso faz parte da artimanha, da sabedoria política dele. Com o (Guilherme) Boulos, veio com a conversa que Papai Noel vai trazer um presente em 2024 se ele retirar a candidatura agora ao governo de São Paulo.

Depois da união nas eleições municipais, a relação entre PDT e PSB anda estremecida?

Eu diria que é uma DR de um lado só. Fizemos todas as declarações de amor possíveis, apoiamos o PSB em todos os lugares que nos pediram em 2020. Em Recife, numa eleição apertada, nosso apoio foi decisivo para a vitória do João Campos contra o PT. Continuo dialogando, mas é aquele amor complicado. Pisca para um, mas faz o outro acreditar que tem condição. Só que não posso prever como vai chocar o ovo da serpente, que se chama Lula. Não sei qual será a capacidade dele de convencer o PSB a comprar terreno no céu.

A força do lulismo no Nordeste atrapalha os planos de Ciro?

Com o PSB, acho que Pernambuco vai ser crucial para decidir isto. O João Campos não tem sinalizado apoiar o Lula, por exemplo. Ninguém vai fechar nada este ano. Se a eleição fosse hoje, pelas pesquisas, eu estaria lutando para sobreviver. Como é só ano que vem, aposto que Lula, e Bolsonaro vão diminuir, e acredito num segundo turno entre Lula e Ciro. Acho que Lula já está no seu teto. Bolsonaro tem navegado nos efeitos do auxílio emergencial, mas porque ainda não caiu a ficha para a maioria da população sobre a responsabilidade dele nas mortes por Covid-19. E vai cair, é inevitável.

Ciro terá condições de driblar seu próprio teto?

Ciro tem uma largada boa. Sozinho, fez 12% em 2018. Acho improvável que fique abaixo desse patamar. Minha expectativa é chegar a 20% em março. Não temos plano A, nem plano B, mas sim um plano C, de Ciro Gomes. Ele será candidato independente de ter 30%, 20% ou 10%.

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A expansão do Bolsa Família não dá fôlego a Bolsonaro?

Isso vai tirar votos do Lula, não nossos. A base popular que Bolsonaro tenta cativar, formada pelos mais dependentes de políticas públicas e por grupos mais religiosos, hoje está com o Lula. Bolsonaro vai dividir essa base, mas sempre haverá os mais lúcidos que podem sobrar para nós já no primeiro turno. Ciro tem se programado para buscar segmentos em que Bolsonaro e Lula não têm tanta entrada.

As desistências de Huck e Amoêdo indicam que o caminho “nem Lula, nem Bolsonaro” já se afunilou?

Romper essa falsa polarização é para os fortes. Bolsonaro vai ter muito mais dificuldade para atrair o antipetismo em 2022. O João Doria creio que conseguirá ser o candidato do PSDB, mas está fazendo movimentações ruins, inviabilizou uma aliança com o DEM ao tirar o vice Rodrigo Garcia do partido. Nós, por outro lado, temos boa relação com o DEM em vários estados.

O PDT lançará o ex-prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, no Rio?

Ele será nosso candidato. Inclusive, na segunda-feira (21) estou levando ele para visitar o túmulo de Brizola em São Borja (RS). É o nosso batismo no Rio Jordão (risos). Hoje, entendo que o (prefeito do Rio) Eduardo Paes (PSD) se movimenta considerando uma candidatura do Lula, mas acho pouco provável, até pelo partido em que está, que apoie o Freixo ao governo.

O marqueteiro João Santana, que foi delator e preso pela Lava-Jato, ficou conhecido por ataques a Marina Silva na campanha de Dilma Rousseff. Por que o PDT foi buscá-lo para a campanha de Ciro?

Eu tinha tido apenas um breve contato com ele em 2010, antes da campanha da Dilma, e brinquei: “Você se acha tão bom que ninguém pode ser melhor, né?”. Foi ele que nos procurou agora. Não podemos culpar o funcionário pelas chibatadas. O conteúdo é responsabilidade do candidato. Deixamos claro ao João Santana que a forma cabe a ele, mas o conteúdo, a nós. Queremos mostrar um lado mais humano do Ciro, tirar um pouco a imagem do professor que fala um monte de números. Professor bom não é o que faz o aluno decorar, e sim questionar, porque é sinal de que se interessou.

Haverá artilharia pesada contra os adversários de Ciro?

O que temos feito são pancadas substantivas. Para cada cinco no Bolsonaro, uma no Lula. Eu não gosto disso, de artilharia pesada. Acho que precisamos usar a ironia, um pouco de humor. No último vídeo, o Ciro diz que o brasileiro não quer saber só de picanha e cerveja, e reclamaram que ele estava batendo no Lula. Ora, como chegaram a essa conclusão? Ele nem citou o nome do Lula...

Lula mantém vantagem e venceria Bolsonaro em 2022 com 44%, diz EXAME/IDEIA

Por Gilson Garrett Jr / EXAME

 

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Caso as eleições fossem hoje, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceria Jair Bolsonaro (sem partido) no segundo turno. Lula aparece com 44% das intenções de voto, e o atual presidente com 39%. Em relação à última pesquisa, os números oscilaram dentro da margem de erro, que é de três pontos percentuais para mais ou para menos, mas o petista mantém a vantagem sobre Bolsonaro há três meses.

 

Os dados são da mais recente pesquisa EXAME/IDEIA, projeto que une EXAME e o IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública. O levantamento ouviu 1.200 pessoas entre os dias 22 e 24 de junho. As entrevistas foram feitas por telefone, com ligações tanto para fixos residenciais quanto para celulares.

 

Ao analisar os dados por região, Lula vence Bolsonaro no Nordeste (51% X 35%), Sudeste (47% X 37%), e no Norte (41% X 34%). A situação se inverte em favor do atual presidente no Centro-Oeste (64% X 25%), e no Sul (40% X 33%). Por faixa etária, Bolsonaro só vence entre aqueles com idade entre 30 e 39 anos (44% a 40%).

Na última quarta-feira, 23, o ex-presidente teve seus direitos políticos restabelecidos e pode se candidatar para um terceiro mandato em 2022. A decisão ocorreu após o Supremo Tribunal Federal (STF) concluir o julgamento sobre a suspeição do ex-juiz Sergio Moro ao condenar Lula no caso conhecido como Tríplex do Guarujá. Por sete votos a quatro, a corte entendeu que Moro foi parcial e anulou todo o processo.

Na sondagem do primeiro turno, Lula aparece à frente de Bolsonaro, mas com margem apertada (22% X 19%). Logo atrás deles está Ciro Gomes (PDT), com 6%, Sergio Moro (sem partido) e João Dória (PSDB), ambos com 2%, Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Tasso Jereissati (PSDB), ambos com 1% das intenções de voto. A testagem foi feita com abordagem espontânea, sem que os candidatos fossem apresentados previamente.

Para Maurício Moura, fundador do IDEIA, o que mais chama a atenção na pesquisa de primeiro turno é a parcela que ainda não sabe em quem votar. “42% não sabem em quem votar para presidente em uma pergunta espontânea. Isso dá a exata noção que essa ainda é uma disputa muito aberta e cheia de nuances daqui para diante”, diz.

Outro ponto destacado por Moura é que nesta semana a CPI da Pandemia no Senado investiga um possível superfaturamento na compra da vacina indiana contra a covid-19 Covaxin. “Percebemos, a julgar pelas últimas 24 horas, que houve uma recepção negativa por parte da opinião pública sobre o tema e que impacta Bolsonaro”, diz.

Esta é a primeira sondagem EXAME/IDEIA após Luciano Huck afirmar que não vai concorrer à presidência em 2022. O apresentador estava com 6% das intenções de voto em perguntas estimuladas (quando os candidatos são apresentados previamente). Em um eventual segundo turno, ele aparecia empatado tecnicamente, concorrendo tanto contra Bolsonaro quanto contra Lula.

Terceira via

Na avaliação de Maurício Moura, as eleições de 2022 devem ser muito polarizadas e ainda não está claro se haverá um candidato de terceira via capaz de se destacar. A pesquisa EXAME/IDEIA testou três possíveis candidatos do PSDB, Ciro Gomes, Luiz Henrique Mandetta, e Sergio Moro.

"O ex-presidente vence em todos os simulados de segundo turno. A diferença de potenciais candidatos à terceira via numa simulação contra Jair Bolsonaro diminuiu. O presidente continua numericamente à frente, mas alguns cenários estão estatisticamente empatados, como na simulação com Ciro Gomes”, diz.

A EXAME/IDEIA ainda testou a rejeição dos candidatos. Lula e Bolsonaro lideram o índice, com 37% e 40%, respectivamente. Os demais candidatos ficam na faixa dos 25%, o que indica um claro debate centrado nos dois nomes nas eleições em 2022, como destaca Maurício Moura.

“Os candidatos chamados de terceira via têm um grau de rejeição que não é desprezível, mas Lula e Bolsonaro lideram. Ou seja, além de terem um grau superior de intenção de voto no cenário tanto de primeiro quanto de segundo turno, eles carregam as maiores rejeições. No caso de Bolsonaro mais centrada na região Nordeste [50%], e o Lula sendo mais rejeitado no Centro-Oeste [51%]”, diz.


O podcast EXAME Política vai ao ar todas as terças-feiras. Clique aqui para ver o canal no Spotify, ou siga em sua plataforma de áudio preferida, e não deixe de acompanhar os próximos programas.

 

Erro da oposição com Lula no mensalão estimula pressão por impeachment de Bolsonaro

SÃO PAULO

O que faz mais sentido, priorizar o impeachment de Jair Bolsonaro (sem partido), correndo o risco de que um eventual fracasso do processo o fortaleça, ou fazer a aposta de que o presidente vai sangrar politicamente no cargo até a eleição?

Este dilema tem sido debatido na oposição a Bolsonaro, com uma certa vantagem, até o momento, para a defesa do afastamento imediato do presidente —opositores de Bolsonaro vão às urnas de novo neste sábado (19) em protesto contra o presidente.

Em parte, o motivo dessa vantagem agora pelo impeachment é uma lição aprendida 16 anos atrás. Muitos dos que hoje estão envolvidos na discussão foram protagonistas de uma situação parecida em 2005, durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Na ocasião, a aposta da oposição por deixar o presidente se desgastar no cargo saiu pela culatra.

O contexto era o mensalão, revelado em junho de 2005 pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ), em entrevista à Folha.

Em 11 de agosto daquele ano, o responsável pelo marketing político da campanha de Lula, Duda Mendonça, deu um depoimento bombástico à CPI que investigava o escândalo, confessando ter recebido pagamentos em caixa dois da campanha em contas vindas do exterior.

Imediatamente, abriu-se uma crise no PT e entre aliados do governo, e a palavra impeachment começou a ser pronunciada.

“Assim que o Duda fez essa revelação eu saí da sala da CPI e fui à tribuna do Senado para dizer que ali havia uma confissão de crime e que isso poderia gerar o impeachment do presidente”, diz o senador Álvaro Dias (PR), à época no PSDB e atualmente no Podemos.

Naquela mesma noite, advogados do PFL (atual DEM) começaram a desenhar um pedido de impeachment de Lula, que era defendido por diversos caciques do partido, como o então prefeito do Rio de Janeiro, César Maia.

Mesmo líderes de outras legendas, como então presidente do Senado, Renan Calheiros (MDB-AL), viam um presidente no fim da linha. “O governo passa por uma insolvência política”, disse.

Até na esquerda houve pressão, com o recém-criado PSOL cogitando um plebiscito sobre a permanência ou não de Lula no poder.

O ânimo inicial arrefeceria nos dias seguintes, no entanto. Quatro dias após o depoimento-bomba de Duda, líderes de PFL, PSDB, PPS, PDT e PV reuniram-se para uma discussão sobre o cenário.

Concluíram que pressionar pelo impeachment daria aos opositores a pecha de golpistas. Além disso, concordaram que Lula mantinha ainda apoio político considerável no Congresso e nas ruas, o que colocava em dúvida a viabilidade de aprovar o afastamento.

Mais importante, avaliaram de forma unânime que este era um governo mortalmente ferido em sua credibilidade e que não se recuperaria a tempo da eleição presidencial de 2006, a meros 14 meses de distância. Faria mais sentido portanto deixar Lula desgastado no cargo.

“Queremos ganhar o jogo, mas não por WO. Não queremos transformar o presidente Lula em mártir, queremos vencê-lo pelo voto”, discursou o então líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), que chegou a bradar “fica, Lula!” da tribuna.

Acuado, o presidente se cercou de fiéis aliados para se blindar politicamente.

“Fizemos uma reunião no Palácio do Planalto, com umas 100 organizações que foram recebidas pelo Lula. Foi uma conversa muito dura, em que cobramos mudança na economia, afastamento do grande capital e fim da relação fisiológica com o Congresso”, diz João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).

Em 16 de agosto, cerca de 10 mil pessoas de movimentos de esquerda saíram às ruas em Brasília para defender o presidente. Seguiram-se manifestações em outras cidades do país, que esfriaram ainda mais o ânimo da oposição pela via do impeachment.

O então líder da minoria na Câmara, deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA), afirma que a percepção naquele momento é que Lula estava fragilizado e num processo de deterioração progressiva.

O que veio a seguir, diz ele, não tinha como ser previsto. “O presidente estava frágil, mas tinha uma base de população com ele. Ele foi reeleito, se recuperou, é do jogo democrático”, afirma.

A mobilização popular, afirma Aleluia, foi levada em conta naquele momento, mas não foi a razão fundamental para o recuo da oposição.

“O apoio popular é importante, e quem é político não pode deixar de considerar as ruas. Mas não foi a razão principal. O que nós avaliamos é que o Brasil não podia viver de impeachment em impeachment”, afirma ele.

Curiosamente, uma década depois, nas mobilizações contra a presidente Dilma Rousseff (PT), a cautela em não submeter o país ao traumático processo de afastamento desapareceu nas mobilizações de oposição.

Para Tarso Genro, que era o presidente do PT em 2005, o que garantiu a continuidade do governo Lula foram as condições políticas do momento.

“Impeachment é sempre determinado por uma relação de forças. Independente do depoimento [de Duda], não ocorreram fatos políticos que retirassem a legitimidade do governo. A CPI demonstrou que havia problemas no governo, mas ficou claro que não havia o que deslegitimasse a eleição de Lula”, afirma.

Tendo sobrevivido no cargo, o presidente passou a recuperar força política, ajudado pela melhora da economia. Em 2005, o PIB cresceu 3,2%, taxa que subiu para 4% no ano eleitoral de 2006. Lula acabaria se reelegendo em segundo turno, contra o tucano Geraldo Alckmin, apesar dos escândalos de corrupção.

“Mesmo no auge daquela CPI, no momento da confissão do Duda, a economia já estava empinando, puxada pelas altas nos preços das commodities. Seis meses depois, a situação do Lula já era bem melhor. Talvez esse fato tenha evitado gerar uma crise que pudesse fortalecer um processo de impeachment”, diz o presidente do PPS, Roberto Freire, partido que havia acabado de romper com Lula.

Dezesseis anos depois, há semelhanças claras nos cenários político e econômico. Desgastado em razão da pandemia, Bolsonaro também aposta num novo ciclo de alta das commodities para turbinar o crescimento econômico e elevar sua popularidade. Alguns analistas já falam em subida de 5,5% no PIB.

O timing eleitoral também é parecido, com uma eleição a apenas 16 meses de distância, o que leva de volta à discussão sobre se vale a pena avançar com um processo de impeachment.

Para Genro, defensor do afastamento de Bolsonaro o quanto antes, as semelhanças param por aí.

“Estamos numa situação diferente, há uma questão relacionada à putrefação do Estado, que o próprio governo está promovendo. Quanto mais Bolsonaro permanecer no poder, mais deteriorada fica a institucionalidade democrática do país”, diz.

João Paulo, do MST, concorda. “O resultado das urnas no ano que vem será o das ruas agora. Não adianta deixar para depois, até porque desde que criaram a reeleição, todos os presidentes que foram candidatos venceram. Não vamos cair nessa”.

Já o senador Alvaro Dias, que na época defendeu o impeachment de Lula, hoje é mais cauteloso. “Temos que fazer todo o possível para evitar a confirmação dessa polarização atual. O impeachment certamente acirraria a polarização”, diz ele, que defende uma “terceira via” contra Lula e Bolsonaro.

Sobre a escolha da oposição em 2005, ele não mede as palavras. “Foi um equívoco naquele momento, uma aposta errada. Faltou coragem à oposição”, diz.

Fábio Zanini / advogdo de Lula / folha de SP - o jornal omitiu quem é FÁBIO ZANINI / OS LEITORES SABEM DE QUEM SE TRATA, EU INCLUSIVE

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