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É verdade que quem ganha eleição em Minas leva o País?

Por Carlos Eduardo Cherem / o estadão

 

BELO HORIZONTE - A máxima de que os candidatos à Presidência que vencem em Minas Gerais são eleitos naquele ano encontra paralelo nos fatos. Desde a República Velha, todos os candidatos que ganharam a disputa no Estado triunfaram também o pleito nacional. A exceção que confirma a “regra” é a eleição de 1950, quando Getúlio Vargas perdeu em Minas mas foi eleito presidente.

Segundo cientistas políticos consultados pelo Estadão, Minas é fundamental na eleição presidencial não só por ser o segundo maior colégio eleitoral do País, com 15,9 milhões de eleitores – atrás apenas de São Paulo, que tem 33, 1 milhões de votantes –, mas por ser uma de síntese do Brasil. É uma espécie de microcosmo do País, que espelha características de outros Estados e acaba reproduzindo internamente os votos gerais dos brasileiros.

O professor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em direito eleitoral, Antônio Carlos Freitas Júnior, avalia que Minas Gerais é o “Estado que melhor espelha as eleições” no Brasil.

“Minas Gerais em toda sua diversidade contando com uma megalópole de capital e regiões interioranas de diferentes características apresenta representatividade suficiente de uma espécie de inconsciente coletivo brasileiro, reverberando as opiniões públicas em diferentes segmentos econômicos e sociais servindo, assim, de interessante termômetro para a atuação política e ideológica em todo o Brasil”, afirma Freitas.

Na eleição de 2018, por exemplo, o então candidato do PSL Jair Bolsonaro obteve 58% (6.100.107) dos votos válidos em Minas, enquanto seu principal concorrente, Fernando Haddad (PT), ficou com 41% (4.382.952). Naquele ano, Bolsonaro se elegeu presidente no segundo turno com 53% dos votos no País (57.797.847), e Haddad obteve 44% (47.040.906).

No pleito anterior, em 2014, o resultado em Minas espelhou a eleição nacional não só nos números finais, mas também no porcentual dado aos candidatos no segundo turno. Naquele ano, dois mineiros protagonizaram a disputa.

A então presidente da República e candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT), obteve 51,64% dos votos válidos dos mineiros, enquanto o deputado Aécio Neves teve 48,36%. Naquele ano, Dilma se reelegeu com 51,36% dos votos válidos no País, enquanto Aécio obteve 49,36%. Até em números absolutos a diferença entre Dilma e Aécio foi parecida, No Brasil foi de 3.459.963 votos, e em Minas, de 345.963.

Na primeira eleição de Dilma, em 2014, ela venceu o hoje senador José Serra (PSDB) por 58,45% dos votos válidos a 41,55%. Na contagem de votos em todo o País, a então candidata petista ficou com 56%, e o tucano com 43,9%.

No segundo turno da eleição de 2006, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu Geraldo Alckmin, do PSDB – hoje no PSB e seu pré-candidato a vice – por 60% a 39%. Em Minas, o resultado foi 65% a 34%.

Eleitorado

“A robustez e as características próprias do eleitorado mineiro fazem com que o Estado mantenha um protagonismo eleitoral nas eleições presidenciais”, disse o cientista político, Marco Antônio Teixeira, professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP).

“Isso por causa não só do tamanho do eleitorado, mas pela sua geografia, por estar no centro do País, e ter fronteiras com diversos Estados, recebendo a influência de outras regiões, e com isso espelhando o quadro eleitoral brasileiro.” Teixeira lembra que Minas é o segundo Estado mais populoso do Brasil e tem influência dos vizinhos, como Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia. “Minas Gerais é uma síntese do Brasil”, reforça.

Para o professor, o sul de Minas, que é uma região mais rica e próxima a São Paulo, tende a votar de maneira semelhante aos paulistas. Já o norte do Estado e o Vale do Jequitinhonha, que é uma região do semiárido próxima à Bahia, têm o mesmo comportamento eleitoral de algumas partes do Nordeste. O Triângulo Mineiro, por sua vez, que é uma região mais rica do agronegócio, tem um eleitorado mais típico dos Estados do Centro-Oeste. É como se o Estado fosse uma “versão reduzida” de um conjunto de regiões nacionais.

Vargas

A única exceção à máxima de que a eleição presidencial em Minas espelha a votação em nível nacional, em 12 disputas presidenciais desde a República Velha, foi na disputa de 1950. Naquele ano, o gaúcho Getúlio Vargas (PTB) perdeu em Minas Gerais para o brigadeiro Eduardo Gomes, da UDN, por uma pequena margem.

Há 72 anos, os mineiros depositaram nas urnas 441.690 votos (34,8% do total de votos válidos) para o brigadeiro, frente aos 418.194 (32,9%) de Vargas. O candidato gaúcho, no entanto, venceu Gomes por 48,7% ante 26%, e foi eleito presidente.

Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não tem o registro dos resultados das eleições presidenciais nos Estados nos pleitos anteriores ao de 1930. Segundo a assessoria da Corte eleitoral, como se trata de documentos antigos, que eram registrados em meio físico, muitos deles se perderam ao longo do tempo.

“Minas Gerais é um Estado demograficamente muito diverso e as suas regiões representam as regiões do Brasil”, afirmou o professor do Departamento de Ciências Políticas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Cristiano Rodrigues. “Minas Gerais é uma versão reduzida do que são as regiões brasileiras. Por isso que o Estado é tão importante nas eleições presidenciais. O humor do eleitor mineiro vai se inclinando para um candidato ou outro”, disse.

Rodrigues faz a mesma avaliação que o professor Marco Antônio Teixeira sobre a importância das regiões vizinhas e seu entorno para a formação do voto dos mineiros. “O eleitor do Sul de Minas Gerais tem um comportamento muito parecido com o eleitor do interior de São Paulo”, disse.

“No Norte do Estado, Vale do Jequitinhonha e semiárido mineiro, tanto do ponto de vista climático quanto de sua população, se assemelha muito com o Nordeste e esse eleitorado tende a se comportar como o eleitorado da região. O Triângulo Mineiro, por sua vez, que tem agricultura e pecuária muito forte, tem também um eleitorado com um comportamento muito parecido com o comportamento dos eleitores dos Estados do Centro-Oeste”, completou o professor da UFMG.

Articulações

Segundo Cristiano Rodrigues, outro fator no atual quadro eleitoral brasileiro que mostra a relevância do eleitorado mineiro na disputa presidencial é a importância que os dois principais candidatos à Presidência nas eleições deste ano estão dando às articulações no Estado.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as pesquisas de intenções de votos, já esteve em Minas ao menos duas vezes nos últimos 30 dias e fechou aliança com o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD).

Já o presidente Jair Bolsonaro, que visitou o Estado em maio, tem uma aliança “tácita” com o governador Romeu Zema (Novo), que pretende tentar um novo mandato. Embora não tenha declarado apoio à reeleição do presidente – uma vez que seu partido tem o cientista político Luiz Felipe d’Avila como pré-candidato à Presidência – Zema é identificado pelos eleitores mineiros como aliado de Bolsonaro.

Rodrigues vê vantagem na aproximação entre os presidenciáveis e os pré-candidatos ao governo mineiro. “A articulação que se dá no momento entre candidatos fortes (Lula e Bolsonaro) à Presidência com candidatos também fortes (Kalil e Zema) ao governo estadual faz com que o eleitor passe a conhecer os candidatos a governador a partir da força que o candidato a presidente tem. E vice-e-versa. Essa situação faz com o eleitorado mineiro tenha também grande importância no resultado do pleito devido a esse aspecto.”

Polarização nacional deve marcar disputa no Estado

A comparação entre os números de duas pesquisas de intenção de votos para presidente, em nível nacional e em Minas Gerais, divulgadas pela Genial/Quaest em maio seguem a máxima de que o Estado reflete o humor do eleitor brasileiro.

Segundo o levantamento, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera a disputa presidencial com 46% das intenções de votos, enquanto o presidente Jair Bolsonaro segue em segundo com 29%. Os demais pré-candidatos à Presidência somam 14%, segundo este levantamento.

Em Minas, a pesquisa feita pelo mesmo instituto, também em maio, aponta que 44% dos mineiros têm intenção de votar em Lula, enquanto 28% dos entrevistados disseram que votam em Bolsonaro. A soma dos demais pré-candidatos alcança 11% em Minas.

Na disputa pelo governo do Estado, a pesquisa Genial/Quaest apontou, em maio, que o governador Romeu Zema (Novo) lidera com 41% das intenções de votos, seguido do ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), com 30%. Os números se referem à pesquisa estimulada, quando o eleitor é instigado a escolher um nome numa lista apresentada pelo pesquisador.

A pesquisa espontânea – quando o eleitor é perguntado em quem votaria, sem lista de nomes previamente estabelecida –, no entanto, sinaliza que a disputa está longe de estar definida. Neste quesito, apenas 10% dos eleitores demonstraram intenção de votar em Romeu Zema, enquanto 5% afirmaram votar em Kalil.

Sem uma lista prévia, nada menos que 82% dos eleitores mineiros afirmaram que ainda não escolheram seu candidato a governador.

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