Sergio Moro desiste de candidatura à Presidência
O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro anunciou nesta quinta-feira (31) que desistiu de se candidatar à Presidência da República no pleito deste ano. Em nota, ele informou que aceitou convite do presidente nacional do União Brasil, Luciano Bivar, para se filiar ao partido.
“A troca de legenda foi comunicada à direção do Podemos, a quem agradeço todo o apoio. Para ingressar no novo partido, abro mão, nesse momento, da pré-candidatura presidencial e serei um soldado da democracia para recuperar o sonho de um Brasil melhor.”
Sergio Moro se filiou ao Podemos no dia 10 de novembro de 2021. O ato ocorreu em Brasília, em evento para cerca de 2 mil pessoas. Até a publicação dessa reportagem, o Podemos ainda não havia divulgado nota sobre a saída.
Edição: Bruna Saniele / AGÊNCIA BRASIL
Doria renuncia ao governo de SP e diz que será candidato à Presidência pelo PSDB
31 de março de 2022 | 17h52
Depois de sinalizar a aliados que desistiria de se candidatar à Presidência da República e concluiria seu governo, o governador João Doria (PSDB) anunciou na tarde desta quinta, 31, que renunciará ao cargo para concorrer ao Palácio do Planalto. “Sim, serei candidato à Presidência da República e pelo PSDB. Teremos um novo Brasil”, afirmou, em referência indireta às especulações de que poderia sair do partido.
Durante pronunciamento feito no Palácio dos Bandeirantes precedido de gritos de “Brasil, à frente, Doria presidente”, e de uma bateria de escola de samba, o tucano fez críticas aos governos do PT e à gestão de Jair Bolsonaro e disse que a pressão dos “extremistas” têm dificultado a construção de um consenso para confrontar os erros do petismo e do bolsonarismo.
Em tom emocionado e, às vezes, exaltado, Doria afirmou que o que as pesquisas mostram hoje é que nem Bolsonaro nem Lula têm a confiança da maioria dos brasileiros. “Estamos em uma disputa de rejeitados. A desaprovação de um e de outro é o que alimenta o voto de um contra o outro, e não o voto a favor. Agora é hora de o voto ser a favor do Brasil”, disse.
Antes de tratar diretamente da pré-candidatura, Doria fez um longo discurso enaltecendo seu vice e tentando mostrar união. Classificou Garcia como um “amigo, colega e parceiro leal e dedicado”, e destacou que teve o “privilégio” de governar com ele ao longo dos últimos três anos graças a sua decisão de “delegar força, poder e autonomia ao vice”.
Mais discreto, Garcia tentou seguir o script e também demonstrou união. Aplaudido pelos políticos presentes, o futuro governador afirmou que o “Brasil merece João Doria” e que ele é quem deveria brilhar no evento de despedida. “Hoje não sou eu que tenho que brilhar, o momento é seu. Ninguém está aqui para te dizer adeus, mas até breve", disse.
Estratégia
Ainda não se sabe se as informações repassadas a aliados desde a tarde de quarta, 30, sobre a eventual desistência à pré-candidatura foram um movimento planejado pelo tucano para se fortalecer dentro e fora do partido ou se houve realmente um recuo político.
Na segunda hipótese, Doria teria voltado atrás em sua decisão de desistir da pré-candidatura com a divulgação da carta assinada pelo presidente do partido, Bruno Araújo, de que a vaga de presidenciável do PSDB está assegurada a ele e mais, que a legenda começará a colocar recursos em seu plano. Mas até os aliados mais próximos consideraram a jogada arriscada, especialmente na relação futura com seu vice, Rodrigo Garcia, que, ameaçado de traição, cogitou trocar o PSDB pelo União Brasil ou mesmo desistir de se lançar à sucessão de Doria.
Coincidência ou não, o recuo foi vazado depois de anúncio feito pelo ex-juiz Sérgio Moro. Agora filiado ao União Brasil, ele divulgou nota retirando, “neste momento”, sua pré-candidatura à Presidência e colocando-se como um “soldado da democracia para recuperar o sonho de um Brasil melhor”.
Datafolha cai sobre terceira via como uma lápide.
A pouco mais de seis meses da eleição presidencial, o Datafolha divulgou uma pesquisa que reforça a perspectiva de uma disputa de segundo turno entre Lula (43%) e Bolsonaro (26%). Os números potencializam uma tendência já esboçada em outras pesquisas. Os principais candidatos alternativos —Sergio Moro (8%), Ciro Gomes (6%), João Doria (2%) e Simone Tebet (1%) — não esboçaram reação. Continuam perambulando pela conjuntura como figurantes. Juntos, somam 17%. Não dão um Bolsonaro.
O capitão oscilou quatro pontos para cima em relação ao levantamento anterior. Lula escorregou cinco pontos para baixo. Embora as duas pesquisas não sejam absolutamente comparáveis, pois houve um entra e sai de candidatos no rodapé da lista de candidatos, a melhoria da situação de Bolsonaro é reforçada pela avaliação do seu desempenho no Planalto. O índice de reprovação do presidente continua alto, mas caiu sete pontos percentuais -de 52% para 46%. A taxa de aprovação oscilou três pontos para cima —de 22% para 25%.
Contrariando as expectativas dos rivais, que esperavam ultrapassá-lo, Bolsonaro não derreteu. E ainda atraiu de volta para sua órbita um pedaço do eleitorado conservador que parecia desencantado com suas diatribes, mas não se encantou com as opções disponíveis no mercado eleitoral..
Partidos como o PSDB de Doria, o MDB de Simone e o franco atirador União Brasil articulam uma improvável candidatura única. Tentam atrair para a mesa Moro e Ciro. Alegam estar vivos, pois a campanha só começaria para valer no meio do ano. O diabo é que o eleitorado parece enxergar abaixo de Lula e Bolsonaro vivos tão pouco militantes que se apressa em enviar-lhes coroas de flores.
Antecipar resultado de eleição é sempre uma temeridade. Mas vai ficando evidente que a ascensão de Bolsonaro encurta a margem de manobra dos que ainda sonham em retirá-lo do segundo turno. Os dados do Datafolha caem sobre a chamada terceira via com o peso de uma lápide.
João Doria desiste de se candidatar a presidente da República
31 de março de 2022 | 03h01
Atualizado 31 de março de 2022 | 09h08
O governador de São Paulo, João Doria, surpreendeu aliados e auxiliares na manhã desta quinta-feira, 31, ao comunicar que desistiu de concorrer à Presidência pelo PSDB e avisou que não vai mais deixar o cargo hoje, como estava previsto. O tucano cancelou todas as agendas externas nas quais faria sua "despedida" do governo paulista e vai fazer o anúncio oficial em um ato com prefeitos à tarde no Palácio dos Bandeirantes. Segundo aliados, Doria também vai deixar o PSDB, mas não pretende concorrer à reeleição.
Também surpreendido pela notícia na manhã de hoje, o vice-governador Rodrigo Garcia , que era apresentado por Doria como o "CEO" de sua administração e assumiria o cargo, pediu demissão da Secretaria de Governo, escancarando a crise no PSDB.
A senha para a mudança de planos foi dada na noite desta quinta-feira, 30, em um discurso de 53 minutos para uma plateia de amigos, empresários, aliados e secretários, sem a presença de Garcia, no qual disse que "não parte do pressuposto" que será candidato e sinalizou que aceitaria abrir mão da disputa. "Não faço imposição do meu nome, pelo contrário. Não parto do pressuposto que tem ser eu. É preciso ter grandeza e espírito elevado", afirmou o governador paulista.
Ontem, Doria participou de um jantar organizado pelo empresário Marcos Arbaitman, seu amigo de longa data, e usou tom conciliador no momento em que o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, sinaliza que vai lutar pela vaga de candidato do PSDB, apesar de ter perdido as prévias do ano passado.
A desistência de Doria acentua a crise interna que o PSDB enfrenta desde a realização das prévias. Agora, além do racha entre aliados de Doria e de Eduardo Leite, derrotado no ano passado, há desconforto por parte de Rodrigo Garcia, que aguardava assumir o posto de governador para ter uma plataforma eleitoral que o ajudasse nas eleições de outubro. Com a permanência de Doria no cargo, Garcia perde os meses que teria à frente do governo e, consequentemente, a oportunidade de fortalecer seu nome na disputa.
Lula faz ataques seletivos a Petrobras e Congresso e ignora escândalos sob PT
Temas priorizados pelo ex-presidente Lula (PT) em declarações públicas na pré-campanha, a gestão da Petrobras e a relação com o Congresso também serão vidraças eleitorais para o pré-candidato na eleição deste ano.
Em discursos e entrevistas nas últimas semanas, o ex-presidente tem feito distorções acerca do histórico de seu governo em relação ao tema dos combustíveis. Também mirou o Legislativo ao pedir em eventos com a militância mais esforço para eleger aliados.
A Petrobras e a negociação com o Congresso estão na gênese das duas principais crises vividas nos mandatos petistas na Presidência: a revelação do mensalão, em 2005, e as descobertas da Lava Jato, já no governo Dilma Rousseff, a partir de 2014.
No último dia 19, no interior do Paraná, Lula afirmou que a atual legislatura representa "talvez o pior Congresso da história do país" e que é preciso mudar "a qualidade dos deputados e senadores", declaração que motivou resposta do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
O petista afirmou também que o governo Jair Bolsonaro (PL) concebeu um orçamento secreto que "serve para comprar voto de deputado para fazer desgraceira".
O ex-presidente se referia ao pagamento das chamadas emendas de relator do Orçamento, incluídas pelo Congresso a partir de 2020 e hoje principal moeda de troca do governo com o Legislativo. Na prática, a destinação dessas verbas, que chegaram a R$ 16,8 bilhões no ano passado, é decidida sem transparência pela cúpula da Câmara e do Senado, sem especificação do parlamentar que a indicou.
Na terça-feira (22), Lula voltou ao tema, de maneira mais amena, em entrevista para uma rádio de Santa Catarina. Disse, sobre o centrão, que qualquer presidente, eleito democraticamente, "tem que conversar com essas pessoas, independentemente de gostar ou não".
Mas afirmou que "não dá para ver o Congresso funcionando da forma como está hoje", com mais poder em detrimento do papel do presidente da República.
O pagamento de emendas parlamentares é um antigo foco de fisiologismo e cooptação na relação entre o Executivo federal e o Legislativo.
Em escala menor, no governo Lula, em 2007, a Folha noticiou o pagamento na semana de votação na Câmara da prorrogação da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) de 10% de tudo o que havia destinado para emendas naquele ano. O valor somava só naqueles cinco dias R$ 159 milhões, em valores não atualizados.
O atual bloco de apoio de Bolsonaro, criticado pelo PT, também contém ex-integrantes da base aliada de Lula, incluindo o PL, hoje sigla do presidente, mas que foi longeva aliada dos governos petistas.
Eleito por coligação minoritária no Congresso, em 2002, Lula teve que abrir as portas do governo e de ministérios a legendas distantes de seu campo político, como PTB e PP.
Foi no âmbito dessa negociação que surgiu o esquema apelidado de mensalão, a compra de apoio parlamentar no Congresso que motivou denúncia julgada no STF (Supremo Tribunal Federal) em 2012.
A mais alta corte do país condenou 25 pessoas, incluindo políticos petistas, por integrar esquema destinado a garantir sustentação do governo no Legislativo.
A divisão de espaço entre aliados no governo do PT também está no cerne da outra grande foco de controvérsia relacionada ao partido: o loteamento de diretorias da Petrobras entre partidos, origem do esquema de desvios na estatal alvo da Lava Jato.
A tese das autoridades da operação, repetida em documentos judiciais até hoje, inclusive do Supremo, é a de que existia um cartel de construtoras na Petrobras no qual havia o pagamento de propina, sendo parte destinada aos partidos aos quais os então diretores eram ligados –PT, PP e MDB.
O diretor de Abastecimento nos governos Lula e Dilma, Paulo Roberto Costa, foi o primeiro delator da Lava Jato.
Na esteira de críticas à alta da gasolina sob Bolsonaro, Lula tem trazido a estatal a seus discursos de pré-campanha, comparado iniciativas do atual presidente com as tomadas por seu governo no setor de combustíveis, como a construção de refinarias e a política de preços da época.
"Foi um momento de ouro. Porque a Petrobras não era tratada como uma empresa de petróleo. Ela é uma empresa de petróleo, de óleo, de gás, mas também é uma empresa que investe no desenvolvimento do país", afirmou o petista em entrevista a uma rádio da Paraíba no último dia 15.
Os projetos da estatal naquela época começaram a sofrer questionamentos ainda antes da Lava Jato, por exemplo, quando o TCU (Tribunal de Contas da União) recomendou em 2011 o bloqueio de verbas à construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, uma das mais mencionadas posteriormente na Lava Jato.
Em 2021, a corte de contas afirmou em relatório que o custo de construção do complexo pulou dos US$ 2,4 bilhões estimados inicialmente para US$ 20,1 bilhões e que o empreendimento era "economicamente inviável".
O ex-presidente tem dito que a elite brasileira está tentando vender a ideia de que a empresa não é produtiva nem rentável apenas como estratégia para preparar sua privatização.
Em viagem ao México, neste mês, o ex-presidente afirmou que a descoberta do pré-sal, em seu governo, esteve por trás do impeachment de Dilma, em 2016, e da cassação de sua candidatura à Presidência em 2018.
"Querem entregar o nosso petróleo para as empresas que sempre mandaram no petróleo no mundo", disse ele, na ocasião.
A Folha procurou a assessoria do petista para comentar o assunto, mas não obteve resposta.
CÁLCULO POLÍTICO
O cientista político Marco Antonio Teixeira, que é professor da escola de administração da FGV (Fundação Getulio Vargas), vê a ênfase de Lula na questão da Petrobras menos como uma vacina diante de eventuais críticas acerca do histórico do PT na estatal e mais como um cálculo político em um assunto de enorme impacto no eleitorado, a inflação.
"É o maior fator de desgaste do governo Bolsonaro e que pode de alguma maneira, pela memória retrospectiva do período dele [Lula], trazer algum tipo de vantagem", diz.
Também afirma que o ex-presidente tem como trunfo nessa seara o fim dos processos em que era réu no âmbito da Lava Jato e que os escândalos de corrupção já foram "exaustivamente explorados em eleições anteriores", podendo até ser ofuscados por casos mais recentes, como a crise que eclodiu no Ministério da Educação nos últimos dias.
O cientista político também vê o atual momento eleitoral como de muita instabilidade, inclusive no tom dos discursos, que só ficarão mais claros com a definição das alianças dos partidos.
Em relação às críticas do petista ao atual Congresso, Marco Antônio Teixeira considera uma tentativa equivocada de explorar a baixa popularidade do Legislativo hoje.
"Dificilmente vamos ter um Congresso tão diferente deste. Dificilmente vamos ter um governo que não vai depender do centrão."