Dia do Humorista será celebrado na Alece nesta sexta-feira
Por Lincoln Vieira / ALECE
- Foto: Divulgação
A Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece) celebra, nesta sexta-feira (12/04), às 14h, em sessão solene no Plenário 13 de Maio, o Dia do Humorista. A solenidade é de autoria do deputado Bruno Pedrosa (PDT).
Segundo ele, a atividade dos humoristas é fundamental para a promover bem-estar social. O parlamentar argumenta que a categoria é a responsável por “levar sorrisos”, contribuindo para promover um “ambiente mais leve”. “O Ceará tem um número muito grande de humoristas que precisam de apoio do poder público. Dessa forma, a solenidade é uma forma de valorizar a categoria”, ressaltou.
Bruno Pedrosa reforçou ainda que a data é celebrada todos os anos no mês de julho. O dia é em alusão ao nascimento do mestre do humor, o cearense Chico Anysio.
“Chico Anysio é um grande ícone do humor cearense, ao lado de Renato Aragão e Tom Cavalcante. Chico marcou gerações com seu legado no humor político construtivo para o Ceará e para o Brasil”, destaca o parlamentar.
Edição: Lusiana Freire
Direitos dos povos indígenas em pauta no mês que celebra lutas e conquistas
Por Geimison Maia / ALECE
- Arte: Núcleo de Publicidade da Alece
No mês em que se celebra o Dia dos Povos Indígenas, em 19 de abril, a luta histórica desses povos e as conquistas alcançadas entram em pauta com mais ênfase, reforçando a busca pela efetivação de direitos.
A Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece), engajada nesse debate, possui, na atual legislatura, projetos de parlamentares que garantem direitos aos povos indígenas, além de matérias em tramitação que tratam sobre o assunto.
O projeto de lei n.º 57/24, de autoria do deputado Renato Roseno (Psol) e coautoria da deputada Larissa Gaspar (PT), em tramitação no Legislativo, propõe a inclusão do tema “Normas sobre Educação Escolar Indígena” como conteúdo transversal na grade curricular das escolas públicas indígenas mantidas pelo Governo do Estado. A matéria aguarda por votação na Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJR) da Casa.
De acordo com Renato Roseno, a sugestão do projeto foi feita pela Escola Indígena Povo Caceteiro, situada no município de Monsenhor Tabosa. O parlamentar lembra que essas normas estão presentes em documentos internacionais e nacionais, como as convenções e os tratados internacionais, as constituições Federal e Estadual, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), as normas infralegais, entre outras.
Na avaliação de Renato Roseno, “durante mais de 500 anos, os indígenas vêm sendo violentados em sua cultura, vida e tendo suas terras usurpadas, tendo muitas vezes que se esconder e negar sua história por uma questão de sobrevivência”. Ele lembra que, no Ceará, “somente no final da década dos anos de 1970, através da mobilização dos índios Tremembé e Tapeba, com mediação da ONG Missão Tremembé, da Igreja Católica e das universidades, é que se iniciaram as articulações em torno da garantia de direitos desses povos”. E, desde então, os povos originários lutam pelo reconhecimento e demarcação dos territórios.
Para o coordenador da Organização dos Professores Indígenas do Ceará (Oprince), Fábio Alves, em entrevista à TV Assembleia, esse projeto de lei, caso aprovado, vai fortalecer a formação pedagógica de alunos e professores nas escolas indígenas. Segundo ele, há 23 anos existem escolas voltadas a esse público no Ceará. “Temos conquistas, mas ainda temos muitas dificuldades dentro da educação escolar indígena”, avalia. No Ceará, atualmente existem 39 escolas indígenas, com cerca de oito mil alunos.
Já o secretário executivo dos Povos Indígenas do Estado, Jorge Tabajara, ressalta, na mesma reportagem, que “é muito importante trazermos para o Poder Legislativo estadual essas temáticas indígenas. Com certeza, essa lei contribuirá para reforçar ainda mais esse trabalho dentro das escolas (indígenas)”.
Outro projeto de lei em tramitação é o n.º 568/23, do deputado Renato Roseno, que reconhece a língua nativa Tupi-Nheengatu como língua cooficial das escolas indígenas do Estado. O parlamentar comenta, na justificativa da matéria, que “legislação de tal natureza não é inédita em território cearense. A Lei Municipal n.º 13, de 03 de maio de 2021, dispõe sobre o reconhecimento da língua nativa Tupi-Nheengatu como língua cooficial do município de Monsenhor Tabosa.” A matéria também aguarda apreciação pela CCJR.
Caso sejam aprovados nas comissões técnicas da Alece, os projetos de lei seguem para votação em plenário.
PROJETOS APROVADOS
Além dos projetos de lei em tramitação, a Casa já aprovou, na atual legislatura, dois projetos de indicação que abordam os direitos dos povos indígenas. O primeiro é o n.º 108/23, apresentado pelo deputado Júlio César Filho (PT), que propõe a adoção de normas específicas para ingresso dos povos indígenas nas universidades estaduais do Ceará.
O texto estabelece a criação de vagas suplementares nos cursos de graduação e pós-graduação para estudantes indígenas. Para Júlio César Filho, é necessário “que a universidade pública seja instrumento de reconhecimento do direito de indivíduos de diferentes povos ao acesso à educação específica e diferenciada”. Entretanto, o deputado avalia que isso não é garantido aos povos indígenas nos vestibulares e no Sistema de Seleção Unificada (Sisu).
O outro projeto de indicação é o n.º 121/23, apresentado pela deputada Larissa Gaspar e pelo deputado Stuart Castro (Avante). Nele, o chefe do Poder Executivo estadual fica autorizado a criar o Museu da Cultura e História Afro-Cearense e Indígena, vinculado à Secretaria da Cultura do Estado do Ceará.
Segundo Larissa Gaspar, o museu “se configura como um equipamento cultural importante para a promoção da produção cultural afro-brasileira, africana e indígena, além de preservar a resistência e a memória histórica de formação do povo brasileiro”.
No caso dos projetos de indicação, por se tratarem de sugestão parlamentar ao Executivo, cabe ao Governo do Estado, se acatar, enviar as propostas em forma de mensagem para a apreciação da Casa.
CRIAÇÃO DE CONSELHO
A Alece também aprovou, este ano, legislações relativas aos povos indígenas. Uma delas é a Lei n.º 18.693/24, apresentada pelo Governo do Estado, que institui o Conselho Estadual dos Povos Indígenas (Cepin). Ele deve atuar como órgão colegiado, consultivo, deliberativo e fiscalizador, integrando a estrutura organizacional da Secretaria dos Povos Indígenas (Sepin).
Com a lei, busca-se a inclusão das pautas do movimento indígena na gestão pública, participando tanto da elaboração de políticas como da fiscalização delas. O Cepin será composto por 40 membros, entre representantes do poder público e dos povos e das organizações indígenas do estado do Ceará, de acordo com o estabelecido na lei.
Edição: Clara Guimarães
Assembleia Legislativa celebra os 216 anos de fundação da Polícia Civil do Ceará
Por Lincoln Vieira / ALECE
- Foto: Portal Governo do Estado do Ceará
A Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece) comemora, em sessão solene, na sexta-feira (19/04), às 17h, no Plenário 13 de Maio, os 216 anos de fundação da Polícia Civil do Ceará. A solenidade atende a requerimento dos deputados Romeu Aldigueri (PDT) e Sargento Reginauro (União).
De acordo com o líder do Governo na Assembleia Legislativa, deputado Romeu Aldigueri (PDT), a Polícia Civil estadual desempenha um papel importante no combate ao crime. O trabalho dos profissionais para garantir os direitos fundamentais em defesa da democracia é incansável, conforme avalia. “A Polícia Civil tem se constituído como um dos pilares fundamentais para manter a ordem da segurança pública e da justiça em nosso Estado. Portanto, essa é uma justa e merecida homenagem para celebrar sua história, conquistas e contribuição para a segurança pública do nosso Estado”, argumenta.
O parlamentar ressalta ainda que a fundação da Polícia Civil, em 1808, não representa apenas um marco na segurança pública cearense, mas um testemunho de dedicação e serviço.
O deputado Sargento Reginauro (União), por sua vez, acrescenta que a solenidade se propõe a refletir sobre a trajetória do órgão, seus desafios e conquistas. Ainda conforme o parlamentar, a celebração também será para expressar gratidão aos trabalhos prestados pela instituição. “A Polícia Civil desempenha um serviço crucial na preservação da ordem pública, como na investigação de crimes e na busca pela justiça. Ao celebrar o aniversário da instituição, não estamos apenas destacando sua importância, mas reconhecendo o comprometimento e a dedicação dos profissionais que a integram”, salienta.
Edição: Adriana Thomasi
Desarmonia entre poderes atrasa o país
Por Merval Pereira / O GLOBO
A desarmonia reina entre os três poderes, que brigam entre si e internamente. E é um problema difícil de resolver, pois cada um entende que seus pensamentos e suas vontades são os mais importantes. Nos últimos dias, o Legislativo aprovou projetos e decretos que obrigam o governo a gastar muito mais do que estava previsto, inclusive com aumento de ministros do STF e de tribunais superiores.
O governo não consegue segurar o equilíbrio fiscal porque o Congresso pressiona por mais gastos. O Judiciário briga pela Lava-Jato - ainda tem uma turma antilavajatista; o Congresso ameaça o governo com CPIs. Arthur Lira precisa demostrar força porque está terminando o mandato e quer provar que ainda tem bala na agulha. Está difícil chegar a um acordo que permita ao país se desenvolver com calma. Estamos há muito tempo numa vibe de agressão e disputas.
Outro problema é que o controle fiscal do governo é na base de aumento de receita; corte de custos, nem pensar. Há uma reação muito grande da base petista e do centrão a qualquer corte de custos. Todos só pensam em gastar sempre e a arrecadação a mais já se mostrou insuficiente para o equilíbrio.
Petrobras quer retomar obras em navios inacabados pré-Lava Jato
Nicola Pamplona / FOLHA DE SP
A Petrobras estuda uma maneira de retomar as obras de dois navios petroleiros remanescentes das encomendas feitas ainda no primeiro programa de revitalização da indústria naval brasileira, nas primeiras gestões do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
As embarcações eram construídas pelo estaleiro Mauá, em Niterói (RJ), que fechou as portas em 2015 após a descoberta do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato. Hoje, elas pertencem ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que financiou as obras.
Os dois navios eram parte de um contrato de quatro embarcações do tipo Panamax assinado entre o Mauá e a Transpetro, subsidiária da Petrobras para o transporte de petróleo e derivados.
Delas, apenas uma foi entregue. Outras duas estavam em fase avançada de construção e a quarta, ainda em estágio inicial. Os navios mais avançados passaram anos no cais do estaleiro Mauá e hoje estão no estaleiro Ilha, na zona norte do Rio, que pertence ao mesmo grupo.
Em evento sobre o setor nesta quinta-feira (18), o presidente da Transpetro, Sergio Bacci, disse que a empresa vem negociando com o BNDES a compra dos navios para concluir as obras. "É intenção da Transpetro retomar esses navios", afirmou.
Uma das embarcações sofreu inundações na casa de máquinas durante o período em que esteve parado no Mauá, o que danificou o motor. A troca demandaria abrir novamente o casco, o que é um desafio ao projeto.
"Não é simples", afirmou Bacci. "Para trocar o motor tem que fazer uma cesariana no navio", comparou. A ideia seria contratar um estaleiro para realizar a operação e concluir as obras.
Na época, os navios foram encomendados por US$ 87 milhões, cada um. Foi a última licitação de navios do programa naval dos primeiros governos Lula, que tenta novamente fomentar a atividade do setor.
A Transpetro prepara-se para lançar licitação para a encomenda de quatro navios para o transporte de combustíveis, já aprovadas pela Petrobras, mas cujo leilão depende de medidas do governo para ampliar competitividade dos estaleiros brasileiros.
Entre elas, está a retomada da cobrança de imposto de importação sobre navios, que ficaram isentos em lei aprovada pelo governo Jair Bolsonaro (PL). Outra é a aprovação pelo Senado de projeto de lei que acelera a depreciação de ativos industriais no país, que já passou pela Câmara.
Bacci reforçou que a Transpetro estuda contratar mais doze navios —quatro de combustíveis líquidos e oito de gás de cozinha— mas a encomenda ainda não foi aprovada pela Petrobras e, portanto, deve ficar para 2025.
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, defendeu que, apesar dos problemas do passado, o Brasil deve voltar a fomentar a indústria naval "sem nenhum sentimento de culpa".
Ele apresentou a demanda da Petrobras para o setor, que inclui módulos de plataformas de produção de petróleo, desmantelamento de plataformas antigas e a construção de navios e embarcações de apoio à produção.
A companhia já lançou licitação para 12 barcos de apoio a plataformas em alto mar e planeja licitar mais 10 ainda este ano. Outros 11 serão necessários até 2030. Ao todo, são previstos investimentos de US$ 2,5 bilhões, com a geração de 28 mil empregos.
Prates defendeu também a retomada de obras de refino paralisadas pela Lava Jato, como a Refinaria Abreu e Lima e o antigo Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro).
"Temos que terminar, vamos retomar uma por uma. Vai virar o quê? Elefante branco, com 80% concluído, como essa planta de fertilizantes do Mato Grosso do Sul? Se for viável, faremos."
Wálter Maierovitch diz que STF precisa voltar a ser técnico: ‘Hoje é um tribunal político’
Por Heitor Mazzoco / O ESTADÃ DE SP
Ex-desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), o jurista, professor e escritor Wálter Fanganiello Maierovitch diz ser positiva a condução de Luís Roberto Barroso à frente do Supremo Tribunal Federal (STF), a quem atribui uma posição equilibrada.
É neste ponto que, para Maierovitch, a Corte Suprema deve voltar a ser técnica, depois da turbulência causada por quatro anos de Jair Bolsonaro (PL) no poder e dos atos indicativos de golpismo contra a democracia.
“Parece que houve uma união no Supremo para se combater, para se preservar a Constituição e o Estado de Direito. Houve uma união, e o Supremo tem essa atividade. Num momento em que o Brasil não tinha o procurador-geral da República, porque essa é a função dele. Nós tivemos o (Alexandre de) Moraes usurpando funções do procurador-geral da República (Augusto Aras), que era filo-bolsonarista, e a gente viu que era. Agora, isso (complacência do Ministério Público) acabou”, disse o jurista. A entrevista foi feita na quinta-feira, 17, antes da divulgação de decisões de Moraes pela ala republicana da Comissão de Justiça da Câmara dos Representantes dos EUA.
Maierovitch também defende que se amplie e encontre a cúpula que defendeu e ajudou na tentativa de golpe. Para ele, aqueles que invadiram a Praça dos Três Poderes são massa de manobra. “Na cúpula, provavelmente, não vai se chegar. Quem aproveitava tudo isso a não ser o Bolsonaro? O Bolsonaro está aí, livre, leve e solto”, critica.
Leia abaixo a entrevista:
Muito do que acontece no Congresso, entre oposição e situação, acaba no Supremo Tribunal Federal. A judicialização é perigosa?
Eu tenho uma visão diferente desse problema da judicialização. Eu acho importante o controle constitucional. O que não se pode é ter, de repente, ministros que passam a não ser mais técnicos e viram políticos. Mas essas são questões de segurança. Eu acho que se a situação é de conflito, bata à porta do Supremo para ver se é constitucional ou não. Eu acho isso salutar à democracia. Muita gente fala: “Ah, por que está tudo judicializado?” Porque emperra, porque, de repente, tem decisão monocrática que o cara põe na gaveta.
Veja que o (Luiz) Fux colocou na gaveta auxílio moradia aos juízes. Parou durante mais de um ano. E ele também não se deu por impedido. A filha dele é a desembargadora no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. O Brasil passa por uma fase em que nenhum ministro se dá por impedido. E você pega o caso do Alexandre de Moraes, onde ele é vítima. Isso abre um caminho, e o Supremo não está percebendo, está no caminho para os bolsonaristas terem um discurso. E, às vezes, com razão. Então, num país polarizado, o Supremo dá muita coisa de bandeja para o bolsonarismo de matriz fascista.
Inquéritos que não foram encerrados ainda são exemplos?
Veja bem, o que diz o Código de Processo Penal? Diz que o inquérito com relação ao indiciado, ou ao suspeito solto, tem duração de 90 dias. Você não pode eternizar.
A decisão da maioria do STF em definir como inconstitucional o inciso VIII, do artigo 144, do Código de Processo Civil, sobre juiz poder julgar casos que envolvam escritórios de parentes é legítima?
Isso é um pontapé na história. Os romanos já falavam que não basta a mulher de César ser honesta, tem que parecer honesta. Imagina alguém advogando, vamos pegar o caso concreto, que foi com a mulher do (ministro Dias) Toffoli. Um caso bilionário de multa da J&F. Hoje se fala muito disso, que são advogados associados.
Um escritório com 80 advogados associados. A mulher do ministro é uma delas. E ela não estava na procuração. Se fala isso. Pergunta-se: “Advogados associados no final do mês dividem o lucro?” Ou falam: “Não, nós vamos tirar isso aqui porque você é mulher do ministro, então você não vai entrar na partilha. Você não assinou a inicial”.
Se a gente pegar, por exemplo, a mulher do Gilmar Mendes não assina inicial nenhuma. E ela é, por competência, diga-se, a que chefia o maior escritório do Brasil, em Brasília. Então, ministro do Supremo, com relação a esposa, irmão, prima, o que tiver, é sempre problemático. Alguém vai falar: “Mas a mãe, a mulher não pode trabalhar?” Mas não é isso. É o contrário. É ele que deve se declarar impedido.
O impedimento é mais, digamos, grave do que a suspeição…
Sim. Não sei se existe ainda no Tribunal de Justiça, quando você era promovido por um desses tribunais, você colocava uma lista, porque a distribuição é eletrônica, para já se dar por impedido. Se é do escritório e tal, estou impedido. E funcionava. Se um ministro, um juiz, que a mulher trabalha num escritório, mesmo sem procuração, sem assinar, por motivo de foro íntimo, tinha que se dar por suspeito, por impedido.
Se torna um efeito cascata…
Exatamente. Gera uma desconfiança, uma desconfiança com procedência, evidentemente, não é uma desconfiança sem fundamento, não. Então, eu acho péssimo. O Supremo tinha que voltar a ser um tribunal técnico, e não mais um tribunal onde se está verificando é um tribunal político. Parece que houve uma união no Supremo para se combater, para se preservar a Constituição e o Estado de Direito. Houve uma união, e o Supremo tem essa atividade. Num momento em que o Brasil não tinha o procurador-geral da República, porque essa é a função dele. Nós tivemos o (Alexandre de) Moraes usurpando funções do procurador-geral da República, que era filo-bolsonarista, e a gente viu que era. Agora, isso acabou.
Se você vê essa briga com o (Elon) Musk, estão tomando o lugar do procurador-geral da República. Está na hora do Ministério Público, que falhou ao tempo do (Augusto) Aras, e o Conselho Federal do Ministério Público também falhou ao tempo do Aras, porque podia tacar um processo administrativo contra ele (Aras). E o Senado falhou duplamente, porque está na Constituição que o Senado pode dar o cartão vermelho para o procurador-geral da República a qualquer tempo do mandato, pode cassar o procurador-geral da República. Além de não fazer isso, reelegeram o Aras. Eu acho que agora nós tivemos essa turbulência, tivemos um risco, mas esse risco não existe mais. Bolsonaro não é mais presidente da República, não é mais chefe de Estado e nem de governo. Está na hora do Brasil voltar a respirar ares de Estado de Direito e se aperfeiçoar nisso.
Cabe ao STF julgar o casos dos golpistas que invadiram a Praça dos Três Poderes no dia 8 de janeiro?
Tem um ataque ao Estado Democrático de Direito, um golpe de Estado, mas nós temos também uma Constituição que não estabelece o foro sendo o Supremo Tribunal Federal. Acho que não (deve ficar no STF). Não tem competência, não tem legitimação. E, dentro de uma política judiciária, o Supremo deve ficar como órgão revisor, mantidas as instâncias. A última palavra vai ser dele, lá em sede de revisão, se chegar. Mas eu acho que usurpação de instâncias não é bom. Como também é péssimo essa decisão de mudança de foro por prerrogativa de função. A jurisprudência estava amadurecendo, porque data de 5, 6 anos. Porque está claro, se tem o foro por garantia, é uma garantia esse foro, uma garantia de imagem, por prerrogativa de uma função. Se a função acabou, acabou o foro. Então, como eu te falei lá atrás que isso dá discurso aos bolsonaristas, é aí que dá. Como se vai justificar? Bolsonaro já não é mais nada. Por que ele não vai para o foro adequado? E o Supremo, de repente, muda e fala “não”. Antes nós decidimos, e tinha a jurisprudência, que acabou a função, acabou o foro. Como é que o Bolsonaro ainda tem foro por prerrogativa de função?
Bolsonaro deixou a Presidência da República no dia 31 de dezembro de 2022. Quase um ano e meio depois o STF vai mudar a regra e, digamos, regularizar a questão e deixar os inquéritos no STF...
Veja, é sempre difícil para um legalista, porque às vezes falam: “Você está com esse raciocínio favorecendo o bandido ou aquele apontado como bandido”. Mas, veja, será que só a justiça do Supremo é boa? Só ele sabe julgar? O que está fazendo o (Chiquinho) Brazão no Supremo? Ele tem foro por prerrogativa de função? Ele era vereador quando ocorreram os fatos. Tem correlação entre os dois homicídios e uma tentativa? A tentativa da assessora no caso Marielle Franco. Tem alguma correlação com a função dele à época de vereador? Olhando claramente, o que diz a Constituição com relação à prisão de parlamentar? Só pode ser em flagrante delito. Tem situação de flagrância? E como é que se decreta isso? Então, fica sempre uma suspeita de que é tudo um ajeito político.
O que o senhor acha da atuação do ministro Alexandre de Moraes?
Eu acho que o Alexandre de Moraes ultrapassa o sinal. Ele invade atribuições do Ministério Público. Em vários casos. Inclusive desses dos inquéritos. Inclusive chamando a competência, inclusive não se afastando em alguns casos. E, às vezes, promovendo coisas risíveis, como o episódio no aeroporto de Roma. O juiz tem que saber engolir sapos. O Alexandre de Moraes vai até o extremo que ele se habilitou como assistente de acusação no caso de Roma. O Alexandre de Moraes, acho que ainda não vestiu a toga. Ele continua com a beca de promotor de Justiça.
E o corregedor nacional de Justiça, Luís Felipe Salomão?
O Salomão, eu me surpreendo nesse quadro aí (sobre afastamento da juíza Gabriela Hardt, o que foi revogado no dia seguinte pelo CNJ). Diante dessa decisão dele. Não tem outros elementos para ele. E o que se fala nesse jogo político é que ele foi o candidato do Moraes e do Gilmar Mendes para o Supremo na vaga do (Ricardo) Lewandowski (que se aposentou e hoje é ministro da Justiça). Não foi feliz por causa disso. Tinha um (Flávio) Dino (escolhido para a vaga) ali, forte. Então, em cima disso, o Supremo agachado. Barroso já percebeu que aquela união necessária já está ultrapassada. Até ele tem um discurso recente falando de volta, não sei a expressão exata, mas uma volta à normalidade. Ainda bem que ele, Barroso, está na presidência, porque ele tem se comportado sempre de uma maneira mais equilibrada.
Como o senhor vê a relação entre Senado e Supremo?
O sistema do check and balance (freios e contrapesos) passa a não funcionar a partir do momento em que o senador vai apreciar, julgar impeachment. Por outro lado, ele está sujeito à jurisdição do Supremo. Geralmente tem muito processo. Então, como é que o Supremo vai julgar o senador? E como é que o senador vai julgar o impeachment do ministro do Supremo? Um fica julgando o outro. O que acontece nesse sistema? É um sistema falho, porque um inibe o outro. Agora, é preocupante que o Supremo, tendo em vista o que aconteceu, queira ainda ter uma atribuição extra. De repente, vamos manter tudo aqui para a gente manter o poder, quando o sistema, criado pelo Montesquieu, é que os poderes são independentes e harmônicos.
E, por outro lado, respostas que não convencem. Por exemplo, veja a resposta ao golpismo do 8 de janeiro. Você viu um monte de golpistas processados e presos. São golpistas que foram usados como massa de manobra. E aí? E o resto? Cadê? Ontem (terça-feira, 17) aconteceu uma (fase de operação) da Polícia Federal (26ª etapa da Lesa Pátria) e disseram: “Estamos atrás dos que financiaram o golpe”. Tinha quatro ou cinco aí de financiadores suspeitos. E os militares? Pegaram esse pessoal de massa de manobra. Não estou dizendo que são inocentes, ao contrário, são golpistas. Pena exagerada, exageradíssima. Na cúpula, provavelmente, não vai se chegar. Quem aproveitava tudo isso a não ser o Bolsonaro? O Bolsonaro está aí. Livre, leve e solto.