Justiça triplica concessão de BPC para pessoas com deficiência em 3 anos e dificulta ajuste fiscal
Por Alvaro Gribel / O ESTADÃO DE SP
BRASÍLIA - Enquanto a equipe econômica estuda medidas para cortar gastos e tentar recuperar a confiança nas contas públicas, uma nova fonte de preocupação cresce no Ministério da Previdência: a concessão de Benefício de Prestação Continuada (BPC) pelas vias judiciais. Nos últimos três anos, decisões de tribunais triplicaram os benefícios para pessoas com deficiência, que saltaram de 48,4 mil em 2021 para 155,8 mil em 2024.
Com esse crescimento acelerado, a fatia que as decisões jurídicas representam no total concedido para pessoas com deficiência subiu de 21,3% para 30% (a outra forma de concessão é via perícia do INSS) de 2022 a 2024. O entendimento, segundo apurou a reportagem, é de que isso dificulta o planejamento orçamentário da pasta, já que as determinações da Justiça deixam técnicos do ministério sem controle sobre essas despesas.
Segundo dados do Tesouro Nacional, o BPC representou um gasto de R$ 73 bilhões de janeiro a agosto deste ano, com R$ 107 bilhões em despesas no acumulado em 12 meses. O benefício é dividido em duas categorias, ambas para pessoas de baixa renda: o BPC Idoso, para quem tem pelo menos 65 anos, e o BPC pessoas com deficiência (PcD), de qualquer idade, mas que sejam diagnosticadas como inaptas para trabalhar.
Segundo o especialista em contas públicas Fábio Serrano, economista do BTG Pactual, o aumento das concessões pela via jurídica ajuda a entender o crescimento acelerado do BPC para pessoas com deficiência em relação ao benefício para os idosos.
“O porcentual de BPC para pessoas com deficiência em relação aos benefícios totais ficou ao redor de 54% nos últimos anos, mas começou a aumentar a partir do terceiro trimestre de 2023 e se encontra em 56% atualmente. Em agosto, o número de beneficiários do BPC PcD cresceu 15,7% em relação ao mesmo mês de 2023, enquanto os benéficios para idoso cresceram 8%”, afirmou.
O BPC tem um agravante para as contas públicas porque, diferentemente das aposentadorias e pensões, não é necessário ter tempo de contribuição ao INSS para receber o benefício, uma vez que o objetivo da Constituição de 1988 foi proteger os mais vulneráveis.
O problema é que, nos últimos anos, três fatores fizeram disparar o orçamento dessa despesa: a indexação do salário mínimo ao PIB pelo governo Lula em 2023; uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de 2021 que afrouxou parâmetros de renda para dar direito ao benefício; e as decisões judiciais de tribunais federais regionais, que não seguem regras de perícias internacionais para definir o que são pessoas com deficiências graves, que as tornam inaptas para trabalhar por um período prolongado.
‘Indústria do BPC’
No Ministério da Previdência, há a visão de que a reforma trabalhista empurrou advogados para o chamado “direito previdenciário”. Com o endurecimento das regras no direito do trabalho e a queda no número de processos, advogados enxergaram no BPC um novo ramo, oferecendo gratuitamente o serviço a clientes para entrarem na Justiça e conseguir o benefício. A cobrança muitas vezes acontece posteriormente e não há custos em caso de perda da causa.
Este mês, o Estadão revelou que esse movimento está beneficiando até venezuelanos que entram no País pelo Estado de Roraima. A lei garante o direito ao BPC a estrangeiros que residem no País com a documentação correta; mas, na região, há um mercado de intermediários que usa falsos comprovantes para que venezuelanos usufruam dos benefícios sem que façam jus.
Em todo o País, segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), houve uma explosão de requerimentos para o recebimento de BPC a pessoas com deficiência. Em 2020, foram 101 mil pedidos. Em 2023, o número já havia subido para 562 mil. Neste ano, foram 413 mil de janeiro a agosto.
No caso do BPC para idosos, a judicialização é menor porque é preciso comprovar apenas a idade de 65 anos e a renda per capita, que tem de se enquadrar nos parâmetros do programa assistencial.
Propaganda nas redes
Nas redes sociais, há inúmeros escritórios de advocacia oferecendo o serviço de entrada de requerimentos para o BPC, com posterior judicialização, em caso de negativa pelo INSS. “Autismo leve dá direito a BPC”, “Quem recebe BPC Loas pode comprar carro popular” e “Nova lei garante benefício a pessoas com deficiência leve” são alguns dos chamativos utilizados para atrair “clientes”.
“A explosão de requerimentos (para o BPC) se deve à busca ativa feita junta a população. Existe ampla publicidade nesse sentido nas redes sociais e na internet em geral”, afirmou o secretário do Regime Geral de Previdência Social, Adroaldo da Cunha Portal.
Procurada, a Ordem Dos Advogados do Brasil (OAB) afirmou que lançou uma cartilha para orientar advogados sobre publicidade ética na profissão, além de criar um Comitê Regulador do Marketing jurídico para tratar do tema.
Segundo técnicos da Previdência ouvidos pela reportagem, essa explosão de pedidos tem tido também o efeito colateral de sobrecarregar as perícias do INSS. Este ano, as solicitações para o recebimento do benefício tiveram um aumento mensal médio de 50%, saltando de 96 mil em 2023 para 142 mil em 2024 (de janeiro a outubro).
No Nordeste, a alta nos pedidos chega a 66%, com crescimento de 120% no Piauí, 88% no Maranhão, e 87% em Alagoas. No Norte, houve alta de 44%, com aumento de 76% em Rondônia, e 64% em Tocantins.
A Associação Nacional dos Médicos Peritos (ANMP) diz que já vem alertando há anos para o problema, e que é preciso reforçar a perícia médica federal. “As mais diversas autoridades dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário já receberam inúmeros ofícios da Associação com a previsão sobre o colapso que a concessão do BPC sem a correta avaliação técnica por parte da Perícia Médica Federal causaria aos cofres públicos, como se observa agora”, afirmou.
No livro “A reforma Inacabada - o Futuro da Previdência Social no Brasil”, os economistas Fábio Giambiagi e Fábio Tafner explicam que há “zonas cinzentas” na concessão do BPC, já que há “flexibilidade interpretativa” da legislação para definir o que seriam “impedimentos de longo prazo” de natureza física, sensorial ou intelectual.
Segundo o secretário Adroaldo Portal, a Justiça Federal não segue a Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF), adotada pelos peritos do INSS - e, por isso, acaba sendo mais flexível para a concessão do BPC do que o instituto. “A grande divergência que há entre a concessão administrativa do BPC e a judicial é que o INSS segue a lei, que determina seguir a Classificação Internacional de Funcionalidade. Assim, leva-se em conta também as barreiras sociais e econômicas que aquela deficiência impõe à pessoa”, diz o secretário. “O Judiciário, não. Faz avaliação biomédica, e, se tem a deficiência, dá o benefício. Além disso, a Justiça Federal também flexibiliza em muitos casos os critérios de renda.”
AGU acompanha, Previdência acha pouco
A Advocacia-Geral da União (AGU), órgão que tem a função de defender o governo em teses que têm impacto fiscal contra a União, afirmou que “tem acompanhado o aumento” da judicialização do BPC. Duas ações foram criadas para tentar diminuir os litígios, o “DesjudicializaPrev” e o “Pacifica”.
“A Advocacia-Geral da União tem acompanhado o aumento da judicialização do BPC/LOAS e sobre os gastos judiciais decorrentes dessas ações. Para enfrentar essa situação, a AGU tem trabalhado conjuntamente com o INSS, o Poder Judiciário e as demais pastas ministeriais para aprimorar a defesa judicial e auxiliar na correta concessão dos benefícios para que sejam beneficiados aqueles que demonstrem ter esse direito”, afirmou a pasta.
O DesjudicializaPrev é fruto de uma parceria com o CNJ, que prevê a redução de litígios previdenciários e assistenciais. O objetivo é buscar acordo para que haja desistência de recursos. Segundo a pasta, a previsão é de que 137 mil ações deixem de ser ajuizadas no próximo ano por causa do programa. “A AGU considera que parcerias como esta são fundamentais para reduzir a judicialização”, diz a nota.
Já o Pacifica (Plataforma de Autocomposição Imediata e Final de Conflitos Administrativos) é uma plataforma online, criada em julho deste ano para resolver de forma mais ágil litígios entre cidadãos e a administração pública federal. “Neste primeiro momento de implementação, o foco da plataforma são as questões previdenciárias”, diz a AGU.
Para o secretário Adroaldo Cunha Portal, no entanto, as medidas ainda não insuficientes para resolver o problema. Em linhas gerais, a AGU acaba por seguir as regras definidas pelo Poder Judiciário - o que, no fim, representa mais gastos. “Desjudicialização não é solução para o problema. Fazer acordo significa aderir às teses que o Judiciário tem feito prevalecer nas suas decisões”, diz Cunha Portal.
STF e governo Lula agravaram problema
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social, podem requerer o BPC pessoas com renda per capita familiar menor do que um quarto do salário mínimo. A atuação de advogados, em muitos casos, auxilia pessoas a se enquadrar nesta regra, sugerindo até o divórcio de casais para que formalmente a renda de cada um fique mais baixa. Uma decisão do STF de 2021 também afrouxou esse cálculo, permitindo a dedução de despesas médicas para a composição da renda. Gastos com medicamentos (R$ 45), consultas e tratamentos médicos (R$ 90), fraldas (R$ 99) e alimentação especial (R$ 121) são abatidos da renda bruta familiar.
Fábio Giambiagi, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), diz que a despesa com BPC como proporção do PIB era de 0,2% do PIB em 2001 e chegará a 1% no ano que vem. Na sua visão, contudo, o que mais agrava o problema, neste momento, é a indexação do salário mínimo feita pelo governo Lula, ao crescimento do PIB.
“O governo precisa se convencer de que, sem mexer na regra do salário mínimo, a despesa com BPC continuará aumentando. Ela era 0,1 % do PIB em 1997 e será 1,0 % do PIB em 2025″, diz Giambiagi. O presidente Lula, porém, vem demonstrando, até o momento, resistência a essa desvinculação. Procurado, o Ministério do Desenvolvimento Social não se manifestou sobre essa questão.
PF mira advogados e delegado por fraudes em BPC para idosos venezuelanos
Por Rayssa Motta / O ESTADÃO DE SP
A Polícia Federal deflagrou nesta quinta-feira, 24, a Operação Cessatio para aprofundar uma investigação sobre fraudes no Benefício de Prestação Continuada (BPC). Foram cumpridos 14 mandados de busca e apreensão nas cidades de Boa Vista e Pacaraima. A Justiça Federal também determinou o bloqueio de bens, ativos e dinheiro dos investigados até o limite de R$ 16 milhões.
O BPC é um benefício assistencial de um salário mínimo pago pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) a pessoas com deficiência e idosos de baixa renda.
Segundo a investigação, “agenciadores” cooptavam idosos venezuelanos e falsificavam documentos e cadastros para obter benefício irregularmente em troca de um percentual do auxílio. Sete escritórios de advocacia e um delegado da Polícia Civil aposentado são suspeitos de envolvimento no esquema.
Para ter direito ao BPC, não é preciso ter contribuído para o INSS. Basta comprovar residência fixa no Brasil e renda familiar abaixo de um quarto do salário mínimo e não receber outro benefício social, como aposentadorias e pensões.
Depois de providenciar os documentos necessários, o atendimento é presencial, em centros de assistência social. A Polícia Federal afirma que os idosos eram atendidos em Roraima, mas depois retornavam à Venezuela e continuavam recebendo o benefício ilegalmente.
A investigação é um desdobramento da Operação Ataktos, deflagrada em 2024, e de denúncias sobre beneficiários que não residiriam no Brasil. “Foi identificada a atuação de diversos grupos criminosos, organizados e independentes, que obtinham o benefício de forma fraudulenta”, informou a PF. É a sexta operação da PF em Roraima para combater fraudes na concessão do BPC. Os investigados poderão responder por crimes como estelionato majorado e associação criminosa.
Gastos com BPC saltam 11% e atingem a marca inédita de R$ 10 bilhões por mês em 2025
Por Alvaro Gribel / O ESTADÃO DE SP
BRASÍLIA - Em meio a negociações com o Congresso para conseguir alternativas ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o Ministério da Fazenda vê disparar os gastos com Benefício de Prestação Continuada (BPC), além de outras despesas do Orçamento, como o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) e seguro-desemprego.
Segundo dados do Tesouro Nacional, os gastos com BPC - benefício pago a idosos e pessoas com deficiência de baixa renda - saltaram 11,62% de janeiro a abril deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, já descontada a inflação. Foram R$ 41,83 bilhões neste ano, contra R$ 37,48 bilhões nos mesmos meses de 2024.
Desde janeiro, essa rubrica atingiu um novo patamar de gasto, permanecendo na casa dos R$ 10 bilhões por mês. Em dezembro de 2024, o Ministério da Fazenda chegou a propor uma série de medidas para conter essa despesa, dentro do pacote fiscal enviado ao Congresso, mas as ideias foram derrubadas no Parlamento, com atuação tanto da oposição e quanto de partidos da base aliada, incluindo o PT.
Procurada, a pasta não se manifestou, assim como os ministérios do Planejamento, do Trabalho e Emprego, e da Educação. O Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), por sua vez, afirmou, por meio de nota, que o BPC atua na redução da pobreza e da desigualdade no País. A pasta afirma que desde 2024 implementa revisões bienais na concessão do benefício, e que também atua em colaboração com o Tribunal de Contas da União (TCU) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) para aprimorar a gestão do programa.
“Diversas leis aprovadas desde 2020 impactaram diretamente o direito de acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC) para pessoas idosas e com deficiência. Em um contexto mais amplo, fatores como o envelhecimento populacional e o aumento do número de pessoas com deficiência, evidenciado pelo Censo e pela série histórica da PNAD Contínua, também influenciam na expansão do benefício”, diz o MDS. O BPC também entrou para o programa de revisão de despesas comandado pelo Ministério do Planejamento.
Gasto em alta como proporção do PIB
Além do aumento na concessão do BPC, muitos deles por decisões judiciais, os gastos com esse programa são pressionados pela política de valorização do salário mínimo, recriada no governo Lula, que estabelece a correção da inflação do ano anterior mais o PIB de dois anos antes, até o teto de 2,5% ao ano.
O economista Rogério Nagamine, especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, aponta que o gasto com BPC passou de 0,2% do PIB no ano 2000 para 0,9% em 2024.
“Essa despesa vem crescendo há mais tempo, mas foi impulsionada pela política de valorização do salário mínimo, pelo crescimento de judicialização e também houve mudanças na gestão do programa”, afirmou. Ele entende o debate sobre alterações no BPC como “difícil” no Legislativo, que já derrubou propostas feitas pela equipe econômica. “É um debate muito difícil no Congresso, porque é um benefício concedido a idosos, e deficientes de baixa renda. A equipe econômica tentou fazer alterações no ano passado, mas o Congresso desidratou as medidas”, afirmou.
Nos últimos 12 meses até abril, os gastos com BPC atingiram R$ 120 bilhões. Pelas contas do economista Fábio Serrano, do BTG Pactual, a rubrica ainda vai acelerar até dezembro e fechará 2025 com um gasto de R$ 127,5 bilhões. “No relatório de Receitas e Despesas de maio, divulgado há duas semanas, o governo elevou sua projeção com o BPC em R$ 2,72 bilhões. Ainda assim, avalio que o número esteja subestimado em R$ 5,7 bilhões”, disse Serrano.
Tiago Sbardeloto, da XP Investimentos, também entende que a revisão feita pelo governo na previsão de gastos com o BPC foi tímida e terá de ser elevada nas próximas revisões do Orçamento. Com isso, a tendência é de aumento no bloqueio de gastos, ou seja, com o cancelamento das despesas discricionárias (que incluem gastos de custeio, emendas parlamentares e investimentos).
Ele diz que houve um crescimento na fila de benefícios do BPC em mais de 250 mil pedidos.
Fundeb e seguro-desemprego sobem fortemente
Além do BPC, outros gastos também têm pressionado o Orçamento deste ano. Um deles são os repasses do governo federal para o Fundeb, com a elevação desses aportes aprovada em lei no governo Jair Bolsonaro, com amplo apoio de partidos de esquerda e direita, e sem vetos pelo presidente.
De janeiro a abril deste ano, essa despesa cresceu 20,59%: de R$ 18,57 bilhões no ano passado para R$ 22,4 bilhões este ano. Nos 12 meses acumulados até abril, as despesas com o Fundeb pelo governo federal chegaram a R$ 53,65 bilhões, contra R$ 44,43 bilhões do mesmo mês do ano passado. Em 2020, o novo Fundeb determinou que os aportes da governo federal para o fundo terão crescimento ano a ano até 2026. Com isso, a participação federal saiu de 10% em 2020, para 12% em 2021; 15% em 2022; 17% em 2023; 19% em 2024; 21% em 2025; e 23% a partir de 2026.
Mesmo com o desemprego na mínima histórica, as despesas com seguro-desemprego saltaram 5,61% nos primeiros quatro meses do ano, chegando a R$ 21,46 bilhões no período. Sbardelotto diz que houve pagamento antecipado de seguro-defeso (benefício pago a pescadores artesanais) este ano, que pressionou esta rubrica, mas também há um problema de desenho do programa, já que o gasto aumenta com o desemprego em queda, pela rotatividade do mercado de trabalho. Ele diz que o governo também terá que subir a projeção de gastos com seguro-desemprego.
“Um fator é mais pontual, que é a antecipação dos pagamentos do seguro-defeso neste ano, e outro mais conjuntural, relacionado ao mercado de trabalho mais aquecido o que, pela alta rotatividade da mão de obra no país, acaba por colocar mais pressão nas despesas. Esse segundo fator é o que deve exercer maior pressão neste ano, e ainda vemos a necessidade de um pequeno ajuste nas projeções do governo”, afirmou. No acumulado de janeiro a abril, a despesa do governo federal está em queda de 1,9% em relação ao mesmo período do ano passado. Há três motivos principais para essa redução, segundo Sbardelotto.
“No ano passado, os precatórios foram pago em fevereiro. Este ano, serão pagos em julho. Além disso, por conta do atraso na votação do Orçamento, também atrasou o reajuste dos servidores, e houve aumento na fila de pedidos previdenciários”, explicou.
Lula nega erro em anúncio do IOF e atribui medida ao ‘afã’ de Haddad em responder à sociedade
BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta terça-feira, 3, que o anúncio do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) não foi um erro do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e atribuiu a medida a um “afã” do ministro para dar respostas à sociedade sobre esse tema.
Ele garantiu que outras possibilidades serão discutidas, mas não respondeu se está disposto a discutir desvinculações como alternativa ao IOF. O presidente disse que o aumento do IOF foi uma tentativa de fazer um “reparo”, porque o Senado descumpriu uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de compensar a desoneração da folha de pagamentos.
“Em nenhum momento o companheiro Haddad teve qualquer problema de rediscutir o assunto, em nenhum momento. A apresentação do IOF foi o que tinham pensado naquele instante”, ele disse. “Se alguém tiver uma ideia melhor, vamos discutir.”
O presidente relatou que houve uma reunião no domingo à noite, no Palácio da Alvorada, para debater alternativas ao IOF. Defendeu, ainda, que é necessário dialogar com “parceiros” — citando os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) e líderes partidários — antes de enviar qualquer medida ao Congresso. Ele afirmou que a Fazenda está em um esforço para “dar tranquilidade ao povo” nas negociações.
Lula disse ainda que vai se reunir às 13h com as pessoas que participam da discussão sobre alternativas ao aumento do IOF no Palácio da Alvorada. Haddad se reuniu na noite de segunda-feira com os presidentes da Câmara e do Senado para tratar do tema.
“Vai ter um almoço na minha casa, com todas as pessoas que estão participando dessa discussão, para a gente saber se o acordo está feito ou não, para anunciar o que vai fazer, a compensação que o Brasil precisa ter para colocar as nossas contas fiscais em ordem”, disse Lula.
Mais cedo, Haddad disse que havia apresentado a Motta e Alcolumbre um conjunto de medidas para sanear as contas públicas estruturalmente, e que ainda se reuniria com o presidente para definir detalhes./Gabriel Hirabahasi, Cícero Cotrim, Gabriel de Sousa e Victor Ohana
Zambelli diz que deixou o Brasil após ser condenada à prisão e afirma que não voltará
Marianna Holanda / FOLHA DE SP
Condenada a dez anos de prisão, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) disse nesta terça-feira (3) ter deixado o Brasil e que não voltará.
Ela afirmou estar fora do país "há alguns dias" e que ficará baseada na Europa, por ter cidadania de um país do continente, mas não entrou em detalhes sobre a localidade. A parlamentar disse querer ter no continente uma atuação como a de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos, fazendo que chama de "denúncias" contra os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).
"Queria anunciar que estou fora do Brasil, já faz alguns dias, vim à princípio buscar tratamento médico, que já fazia aqui, e agora vou pedir inclusive para que eu possa me afastar do cargo. Tem essa possibilidade na Constituição. Acho que as pessoas conhecem um pouco mais disso hoje em dia, é o que o Eduardo [Bolsonaro] fez também", disse.
"Então, eu passo a não receber mais salário e meu gabinete vai ser ocupado pelo meu suplente. [Ele] assume e fico fora do país neste período. Vou me basear na Europa", completou.
Eduardo Bolsonaro tem defendido junto a autoridades do governo de Donald Trump, nos Estados Unidos, sanções contra ministros do Supremo e criticado o que classifica como perseguição do judiciário brasileiro contra bolsonaristas.
Na semana passada, o STF abriu investigação contra o deputado, pelos supostos crimes de coação, obstrução de investigação e abolição violenta do Estado democrático de Direito.
O ministro Alexandre de Moraes atendeu a um pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República), que apontou atuação de Eduardo contra "integrantes do Supremo Tribunal Federal, da Procuradoria-Geral da República e da Polícia Federal" nos Estados Unidos.
Quando ele deixou o país, não era investigado pelo STF e alegou temor de ter o passaporte apreendido.
Carla Zambelli já foi condenada na Primeira Turma da corte e seus advogados recorrem internamente da decisão. Durante a entrevista, ela citou diversas vezes a atuação de Eduardo.
"Estou escolhendo a Europa, porque ele já está fazendo trabalho exemplar nos Estados Unidos", disse.
"Vou denunciar, sim, tudo que está acontecendo. (...) Quero expor isso para o mundo para que eles saibam quem são os ministros da Suprema Corte do Brasil", completou.
Carla afirmou ainda que quer buscar lideranças de ultradireita na Itália, em Portugal e na França. Ela disse que a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, precisa "entender" o que está acontecendo, que os espanhois precisam "acordar, que a esquerda está fazendo muito mal para o país".
Questionada sobre André Ventura, presidente do partido Chega, e líder de ultradireita em Portugal, ela disse que vai procurá-lo e quer mostrar o que está "acontecendo no Brasil".
"Está acontecendo um movimento mundial de supremas cortes tentando entrar no legislativo e no executivo e afogar as pessoas conservadoras", disse.
A deputada federal fez ainda críticas ao sistema de urnas eletrônicas do Brasil e disse que Jair Bolsonaro (PL) não perdeu a eleição de 2022 porque ela perseguiu armada um homem em São Paulo nas vésperas do segundo turno -- episódio pelo qual foi denunciada pela PGR e disse nesta terça-feira que não estava errada.
Carla classificou o momento ocorrido na Avenida Paulista como seu "inferno astral", e disse que o ex-secretário de Comunicação e advogado de Bolsonaro, Fábio Wajngarten, contaminou o ex-presidente contra ela. "Quando na verdade todo mundo carrega um pouco das coisas que poderiam ter sido feitas", disse.
Ela afirmou ainda que ainda que não "abandonou" o país. "Não estou desistindo da minha luta, pelo contrário, é resistir. Poder continuar falando o que eu quero falar", completou. Ele se comparou ainda à tatuagem de fênix que disse ter, e afirmou que vai renascer das cinzas.
Foi em uma conversa com o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos que ela disse ter se convencido de não voltar ao Brasil. Ele tem um pedido de extradição nos Estados Unidos, mas as autoridades americanas não dão prosseguimento ao caso.
Segundo a parlamentar, ele questionou se ela veria nas próximas semanas ou meses o Brasil "voltar a ser uma democracia". Bolsonaristas repercutem a narrativa de que há hoje no país uma ditadura, por não reconhecerem o resultado das eleições de 2022, apesar de não apresentarem provas sobre irregularidades, e por criticarem a atuação do STF.
"Eu poderia ir para a prisão. Esperar um tempo, continuar no meu país, e depois me entregar para a justiça. Mas que justiça? Que judiciário? Que prende a Débora [Rodriges] por 14 anos. Quer prender Carla Zambelli por 15? Uma pessoa que matou outra acabou de pegar 14 [anos]. Eu não roubei, não estuprei, não matei. Eu falei", disse.
No último dia 9 de maio, a parlamentar foi condenada por unanimidade pela Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) sob acusação de ter comandado invasão aos sistemas institucionais do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), com o auxílio do hacker Walter Delgatti. O objetivo seria emitir alvarás de soltura falsos e provocar confusão no Judiciário.
Ela teria orientado Delgatti a forjar documentos falsos, entre os quais um mandado de prisão para o ministro Alexandre de Moraes, com a finalidade de causar tumulto político no país.
A deputada, que nega as acusações, disse em entrevista à Folha no mês passado ter medo do que poderia acontecer com ela na prisão.
"Eu tenho um pouco de receio das outras mulheres na cadeia, né? Porque eu nunca sei o que vou encontrar, mas eu também luto, então não tenho medo de apanhar. O maior problema é ficar longe da família", diz a deputada, relatando temer por sua saúde.
Nesta terça, Zambelli disse que pedirá para se afastar do cargo com uma licença não remunerada, assim como fez o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). O prazo para este tipo de afastamento é de quatro meses.
Fachada do Plenário 13 de Maio ganha iluminação alusiva à doação de sangue
Por Guilherme de Andrade / ALECE
- Foto: Máximo Moura
Para apoiar o Dia Mundial do Doador de Sangue, celebrado em 14 de junho, a fachada do Plenário 13 de Maio, da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece), ganha iluminação na cor vermelha. Essa é mais uma ação do Parlamento cearense em alusão a datas ou campanhas de conscientização, ressalta o diretor administrativo da Casa, Manuel Jucá.
A homenagem acontece em junho justamente por este ser o mês de incentivo à doação de sangue. A iniciativa tem como objetivo conscientizar e incentivar a população cearense a realizar doações voluntárias. A iluminação vermelha é acesa a partir das 17h30 e permanecerá até o final do mês, com exceção do dia 5, data em que é celebrado o Dia Mundial do Meio Ambiente.
Anteriormente, o Plenário 13 de Maio já havia sido iluminado com a cor laranja, em alusão ao Maio Laranja, iniciativa que busca conscientizar sobre o enfrentamento ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes no Brasil, e também na cor verde, para celebrar o Dia Nacional da Defensoria Pública e o Dia da Defensora e do Defensor Público.
Edição: Clara Guimarães