A parada do PIB
O desempenho da economia brasileira no terceiro trimestre e os sinais preliminares deste final de ano confirmam que é provável um crescimento em torno de 3% em 2023. Se não chega a ser brilhante, o resultado mostra um biênio bem acima das expectativas após a recuperação das perdas da pandemia.
Até aqui, a boa surpresa do ano se deve basicamente ao primeiro semestre. No terceiro, houve desaquecimento considerável, embora esperado. Depois dos avanços de 1,4% entre janeiro e março e de 1% entre abril e junho, o Produto Interno Bruto ficou praticamente estagnado nos três meses seguintes, com oscilação de 0,1%.
Já ficou para trás boa parte do impacto do excepcional desempenho da agropecuária, que também deu grande impulso aos serviços, como o de transporte.
Ainda assim, o consumo das famílias mostra vigor. Um percentual surpreendente de pessoas ocupadas, algum aumento de rendimento real, auxiliado também pela queda da inflação, e a oferta de crédito para pessoas físicas sustentaram as compras.
Continuaram a fazer efeitos, ademais, o grande aumento da despesa com Bolsa Família, aposentadorias, pensões e benefícios assistenciais. A expansão desses programas em 2024 será muito menor.
As exportações de commodities, em particular de petróleo e grãos, além de seus efeitos secundários na economia explicam o restante do resultado do terceiro trimestre. Prevê-se que a produção dos artigos primários se mantenha em níveis altos, mas não deve haver crescimento significativo em 2024.
O aspecto negativo e muito preocupante do PIB foi a quarta queda seguida dos aportes em construções, equipamentos, máquinas e softwares; a taxa de investimento se aproxima dos piores níveis do século, em 16,6% do produto.
As altas taxas de juros devem explicar em parte o mau resultado; a baixa da Selic não tem sido suficiente para reduzir de modo significativo o custo de capital, impactado pela política monetária dos EUA e pela piora fiscal do Brasil. O quanto há de incerteza no motivo da retranca dos empreendedores é a questão em aberto.
Nas últimas semanas, tem havido um desafogo nas condições financeiras, em particular nos juros domésticos e externos.
É razoável esperar certa melhora do crédito bancário e mais ânimo no mercado de capitais, que vinha se recuperando nesta segunda metade do ano. Menos provável é uma melhora expressiva, se alguma, no mercado de trabalho.
Mesmo no curto prazo, portanto, o crescimento depende da retomada do investimento, que requer também mais previsibilidade na política econômica.
Governo Lula prometeu protagonismo internacional, mas reforça Brasil como anão diplomático
Por J.R. Guzzo / O ESTADÃO DE SP
Uma das miragens mais festejadas do primeiro ano do governo Lula foi a de que, com a liderança do novo presidente, o Brasil passou a ter uma posição de “protagonismo” no cenário internacional. Não se sabe com precisão o que significa isso. “Protagonismo” é uma dessas palavras da moda que surgem de repente, ficam baratas rapidamente e logo acabam nos programas de auditório da televisão – onde se juntam à linguagem dos cientistas políticos, dos jornalistas e dos comentaristas de futebol.
No caso de Lula, “protagonismo” tornou-se o termo semioficial quando se fala no papel imaginário que o Brasil de Lula teria passado a exercer no mundo – uma posição de primeira fila, em que somos ouvidos com reverência pelas grandes potências e como o novo líder por todas as demais, incluindo aí um ectoplasma que chamam de “Sul Global”. O problema, como ocorre com o PAC, o fim da pobreza e a picanha para todos é que o “protagonismo” não existe.
Na vida real, o que se tem mesmo é a permanência irremediável do Brasil como anão diplomático – grande país, grande povo, grande economia, mas um pigmeu na política internacional. A única diferença é que o anão, agora, desfila pelo mundo levando consigo comitivas com 1.337 pessoas para ir à uma única reunião, exibe-se ocupando andares inteiros em hotéis de paxá e, sobretudo, sempre pede a palavra para dizer um caminhão de bobagens. Lula, logo no começo, quis “negociar” a guerra da Ucrânia. Achou uma boa ideia, então, dizer que a Ucrânia era responsável pela invasão militar do seu próprio território – e acabou aí mesmo o seu “protagonismo” no embate pela paz mundial. Propôs o fim do dólar como moeda para o comércio internacional, com os efeitos que se pode imaginar – ou seja, nada. Quis ser o líder da “América do Sul”. Não conseguiu, sequer, ganhar a eleição na Argentina. Intrometeu-se na política interna do vizinho, apostou tudo num candidato e viu seu inimigo dar-lhe uma surra histórica.
No presente conflito entre Israel e os terroristas do Hamas, vacilou no começo, mas logo passou para o campo do terror; desde então não fala outra coisa que não seja acusar Israel de “genocídio”, de “matar crianças” e de jogar bombas sem se importar com as consequências. Só ganhou com isso o desprezo das nações democráticas, sem levar nada do “Sul Global”. Jogou o Brasil no apoio aos aiatolás do Irã, uma das mais venenosas ditaduras do mundo, e classificado como terrorista por todas as democracias sérias. Só vai aos países ricos para reclamar de seus governos - e pedir dinheiro a eles. Afastou o Brasil de tudo o que é prosperidade, avanço e democracia no mundo e juntou-se a tudo o que é atraso e ditadura.
Na sua última viagem, para a conferência internacional do “clima” quis trapacear. Foi essa em que levou a comitiva de 1.377 peixes graúdos, ou semigraúdos, com dinheiro do pagador de impostos. Fez discursos a favor da “redução no consumo de combustível fóssil”, desentendeu-se com a Petrobras e entrou na Opep+, o clube dos produtores de petróleo que só aceita ditaduras como sócios. Como o ano está acabando, o prejuízo deve ficar por aí. Mas o futuro promete. O mandamento número 1 do governo Lula é não abandonar, nunca, o que está dando errado.
Crime na Amazônia: quais são as facções estrangeiras que disputam o domínio da floresta
Por Ítalo Lo Re / O ESTADÃO DE SÃO PAULO
Embora o avanço do crime organizado na Amazônia Legal passe principalmente pela atuação de organizações brasileiras, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), a presença de grupos estrangeiros na região também chama a atenção de autoridades e de especialistas. De pelo menos 22 facções identificadas por lá, cinco surgiram em países vizinhos, segundo relatório divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública na semana passada.
A maioria vem da Colômbia, com avanço por cidades próximas à fronteira do Amazonas, mas também há um grupo venezuelano, o Trem de Aragua, que tem se expandido por cidades de Roraima. Segundo pesquisadores, essas facções entram no Brasil principalmente por interesses financeiros ligados ao tráfico de cocaína. Depois de um tempo, acabam envolvidas com outros tipos de atividade, como venda de armas.
“Esses grupos (estrangeiros) não têm uma onda de rivalidade com C ou com B. A onda deles é comercializar a droga que entra no Brasil”, afirma Aiala Colares Couto, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e professor da Universidade do Estado do Pará (UEPA).
Os grupos de países vizinhos, diz o pesquisador, usam a Bacia Amazônia para transportar drogas há pelo menos três décadas, mas a presença dessas organizações em território brasileiro, continua, se ampliou na medida em que a região passou a ser ainda mais estratégica para o mercado de cocaína.
Conforme o Relatório Mundial sobre Drogas 2023, publicado em agosto pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC, na sigla em inglês), houve crescimento de 35% das plantações de coca nos principais países onde há cultivo (Colômbia, Peru e Bolívia) em 2021.
O documento apontou ainda que o narcotráfico impulsiona a ocorrência de crimes ambientais na Amazônia Legal, com a ocupação irregular de terras, extração de madeira e garimpo ilegal. A situação, alertam pesquisadores, tem relação direta com o avanço de facções por cidades da região.
Quais são as facções estrangeiras que atuam na Amazônia Legal?
- Frente Carolina Ramirez (Ex-Farc) - com atuação no Amazonas (principalmente no município de Japurá);
- Frente Acácio Medina (Ex-Farc) - com atuação no Amazonas (principalmente no município de São Gabriel da Cachoeira);
- Estado Maior Central (EMC) - com atuação no Amazonas (principalmente no município de Japurá);
- Exército de Libertação Nacional (ELN) - com atuação no Amazonas (principalmente no município de São Gabriel da Cachoeira);
- Trem de Aragua - com atuação em Roraima (sem município específico).
“O Brasil é uma área de trânsito e um mercado consumidor importante, que só fica atrás dos Estados Unidos. Isso acaba orientando o esquema de organização deles”, diz Couto. A fronteira entre Paraguai e Mato Grosso do Sul, hoje dominada pelo PCC, é considerada a principal rota de cocaína do País, mas a Amazônia também é uma importante área de disputa.
Conforme o relatório do Fórum, dos 772 municípios da Amazônia Legal (o que inclui todos os sete Estados do Norte, além de Mato Grosso e parte do Maranhão), há presença de facções em ao menos 178 deles. Vivem nessas cidades mais da metade dos cerca de 26 milhões de habitantes da região (57,9%).
Em paralelo, ao menos 80 municípios estão em situação de disputa territorial entre duas ou mais organizações criminosas. O cenário afeta quase um terço (31,12%) da população da Amazônia, o equivalente a quase 9 milhões de pessoas.
Hoje, mesmo com a presença de organizações estrangeiras entre as ao menos 22 facções em atuação na Amazônia Legal – como as frentes Carolina Ramirez e Acácio Medina, dissidências das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) –, só o Comando Vermelho e o PCC estão em todos os Estados.
Qual é a principal rota de cocaína na região da Amazônia Legal?
O Amazonas é considerado a principal porta de entrada da droga pela Amazônia, enquanto Pará e Amapá são vistos como locais de passagem, seja para o envio da droga a outros Estados, seja para a exportação para África, Ásia e Europa. Nesses destinos, um quilo de cocaína pode ser comprado por cerca de US$ 50 mil (quase R$ 250 mil), dez vezes mais do que em países vizinhos do Brasil.
Couto destaca que, interessado em fazer parte dessa dinâmica, o grupo venezuelano Trem de Aragua começou a dialogar com integrantes do PCC entre 2018 e 2019. Embora o Comando Vermelho seja considerado hegemônico no Norte, a organização criminosa paulista é vista por pesquisadores como a principal força de Roraima.
“Com o massacre de 2016 e 2017, o PCC conseguiu ganhar o presídio daqui e conseguiu ganhar Roraima”, afirma Rodrigo Chagas, professor da Universidade Federal de Roraima (UFRR) e pesquisador sênior do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. “Nas outras regiões, principalmente Amazonas e Pará, que são gigantescos, predomina o Comando Vermelho.”
Segundo ele, normalmente a presença na Amazônia de organizações criminosas de países vizinhos não envolve domínio de território. “É uma relação muito mais de chegar até a fronteira”, diz ele, que relembra que os grupos colombianos se reconfiguraram após o tratado de paz entre a Colômbia e as FARC, em 2016.
“É visível como o PCC traz uma dimensão ideológica para dominar o território. O Trem de Aragua tem um discurso muito forte também. Ao que parece, os grupos da Colômbia são bem mais utilitários, precisam de um canal para escoar a droga, sem sse importar para quem”, descreve o pesquisador.
Como surgiu o Trem de Aragua, facção venezuelana presente em Roraima?
Já a movimentação do Trem de Aragua chama a atenção de pesquisadores. “É uma facção relativamente nova – nasce em 2015, no Estado do Aragua – e toma por base uma prisão da Venezuela chamada Tocorón. Essa prisão virou uma coisa meio Pablo Escobar (em referência ao megatraficante colombiano, que morreu em 1993) com zoológico, discoteca e até piscina”, afirma Chagas.
Há dois meses, o governo venezuelano fez uma grande operação no presídio para recuperar o controle do local, mas o grupo segue forte em outros espaços.
“A grande questão dessa facção é que ela acabou tomando conta de tudo que é atividade na Venezuela. Até de escolinha de beisebol, que é o esporte popular por lá, eles passaram a cobrar taxas. É uma coisa bem baixa, de dominação territorial”, afirma Chagas. Como paralelo no Brasil, ele cita a atuação das milícias no Rio de Janeiro.
Chagas destaca que muito do crescimento do grupo se deu por deterioração do Estado venezuelano, sob a ditadura de Nicolás Maduro. Como mostrou o Estadão, a escolha da Venezuela a favor da anexação de Essequibo, área rica em petróleo que corresponde a 70% do território da Guiana, ainda colocou um fator a mais nisso tudo: elevou a crise e o temor de um conflito militar entre as duas nações.
“Quando o Estado venezuelano não dá conta de uma série de processos, esses caras vão tomando o papel do Estado. Começam a regular a vida do território”, diz o pesquisador. “A falência econômica e política da Venezuela tem influência grande no crescimento tão rápido dessas facções.”
Outra particularidade, destaca o pesquisador, é que o grupo explora a dinâmica migratória característica da região. “Eles intervém para atuar como coiotes, que levam de um lugar para outro prometendo coisas, no tráfico de pessoas, e coagem venezuelanos a levar droga para eles”, diz Chagas.
O Trem de Aragua, segundo o pesquisador, costuma ter modus operandi violento, até com episódios de esquartejamento de criminosos rivais. Ao mesmo tempo, destaca que a atuação de brasileiros também é forte em Roraima, por isso é precipitado dizer que há algum tipo de domínio do grupo venezuelano por lá.
“Tem uma xenofobia grande em relação a venezuelanos em Roraima e uma tendência grande de jogar a culpa de toda a criminalidade atual na região, que cresceu muito, nas costas dos venezuelanos”, alerta Chagas.
Como mostrou o Estadão, a taxa de mortes violentas intencionais no Brasil no ano passado foi de 23,3 mortes para cada 100 mil habitantes, segundo dados reunidos pelo Fórum, em parceria com o Instituto Mãe Crioula. Nas cidades que compõem a Amazônia Legal, foi de 33,8, índice 45% superior à média nacional.
Governo diz que pretende investir R$ 2 bi em segurança da região
O Ministério da Justiça e Segurança Pública afirmou, em nota, que “tem ciência dos números e lamenta o crescimento do crime organizado nos últimos anos”.
Para enfrentar esse cenário, o ministério destaca a criação do Plano Amazônia, Segurança e Soberania (Amas), que pretende investir um total de R$ 2 bilhões na região, provenientes do Fundo Nacional de Segurança Pública e do Fundo Amazônia.
“Entre as estruturas previstas com parte do montante, estão 34 novas bases integradas (terrestres e fluviais) de segurança (PF, PRF e Forças Estaduais), implementação da Companhia de Operações Ambientais da Força Nacional de Segurança Pública e estruturação e aparelhamento do Centro de Cooperação Policial Internacional da Polícia Federal”, diz.
Conforme o ministério, a ideia, com a iniciativa, é ter maior presença física da força policial e garantir maior repressão aos crimes na região. “A Amazônia Legal ocupa 59% do território brasileiro e faz fronteira com sete países, o que torna a região singular, com desafios que envolvem logística e a soberania nacional do Brasil”, acrescenta a pasta.
Empresária é multada por dirigir carro com 'viseira de capacete levantada' em Fortaleza
A empresária Vanessa Rabelo, de 37 anos, teve uma surpresa no mês de junho deste ano quando foi multada pela Autarquia Municipal de Trânsito de Fortaleza (AMC) sob a justificativa de que estaria conduzindo uma motocicleta com a viseira do capacete levantada. A questão, entretanto, é que ela estava dirigindo um carro modelo Ford Ka, e não uma moto.
Vanessa foi autuada no dia 29 de maio na avenida Paulino Rocha, e tentou recorrer, mas ainda segue com a multa ativa.
Nesta terça-feira (5), contudo, procurada pelo Diário do Nordeste, AMC afirmou que o "auto de infração foi arquivado pelo próprio órgão e seu registro considerado insubsistente".
"Quanto eu vi fiquei sem entender. Como assim, andar sem capacete no carro? Tive que conferir se estava no meu nome, olhei a placa do veículo, o modelo. E quando vi que estava tudo correto nos meus dados e do veículo, a reação de início foi rir. Depois já fiquei pensando na chateação que seria para resolver isso", relembra Vanessa.
A infração apontada pela AMC descreve que a motorista teria conduzido uma moto sem capacete de segurança "em desacordo com regulamentação do Contran".
A multa possui o valor de R$ 244, uma infração média, que também prevê a perda de 4 pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
MULTA ATIVA CAUSA PREOCUPAÇÃO
Apesar de AMC afirmar que o processo foi arquivado, a cobrança segue em aberto no sistema para Vanessa. Ela checou a situação no sistema da Carteira Digital na tarde desta terça (5) e a multa ainda consta como "Infração vencida".
A empresária relata que recorreu desde o dia 17 de junho, quando anexou todos os documentos comprobatórios no Sistema de Protocolo Único (SPU) da Prefeitura. Após isso, houve algumas movimentações até o dia 29 do mesmo mês, quando a solicitação mudou para "tramitando".
Desde então, não houve modificação no processo, e Vanessa reclamou por meio de ouvidoria e um e-mail da AMC. Ela foi informada que sua solicitação seguia em análise e não havia previsão, e ainda que esses casos demoram de 30 dias a um ano para serem julgados.
Com a multa em aberto, ela relata que teme ter o carro apreendido. "Minha maior preocupação é que este é o único carro a minha família. Que utilizo tanto para trabalho, levar minha filha à escola e lazer. Minha preocupação é ser parada numa Blitz e ter meu veículo apreendido por conta de uma multa como essa", comenta.
diarionordete
Lula admite à Justiça infração ambiental e vai aderir a Refis para pagar multa de R$ 41,7 mil
Por Pedro Augusto Figueiredo e Heitor Mazzoco / O ESTDÃO DE SP
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reconheceu, judicialmente, ter cometido infração ambiental em uma obra realizada em 2017 em seu sítio “Los Fubangos”, em São Bernardo do Campo (SP). Ele retirou terra do local, uma área com restrição ambiental, sem autorização da Prefeitura. Após uma disputa judicial que se arrastava desde 2019, a defesa do presidente e o Executivo municipal pediram à Justiça que o processo fosse extinto. Lula retorna nesta terça-feira, 5, ao Brasil, após ter participado da COP-28, principal conferência sobre o clima no planeta, em Dubai, nos Emirados Árabes.
As duas partes entraram em um acordo e Lula concordou em pagar a multa de R$ 41.740, sem considerar juros e correção monetária, depois de aderir ao Plano de Regularização Tributária de São Bernardo do Campo, uma espécie de “Refis”. Em 2021, os valores atualizados já estavam em R$ 67,6 mil. Porém, com a adesão ao programa, o presidente se beneficiará da redução de 100% dos valores relativos a juros, multa e acréscimo compensatórios se pagar a dívida à vista ou em até seis parcelas mensais consecutivas.
No processo, a defesa do petista disse que o presidente “jamais cometeu qualquer infração contra o meio ambiente” ao alegar que “toda a base fática em que se sustenta a autuação é de origem burocrática”. Em nota ao Estadão, o advogado do presidente disse que a admissão foi “apenas com a finalidade de encerrar o litígio” (veja abaixo).
O sítio está localizado em uma área de proteção e recuperação dos mananciais do reservatório da represa Billings. O local está efetivamente no nome de Lula e não tem relação com as acusações feitas pela Operação Lava Jato, que atribuiu a ele a propriedade de um sítio em Atibaia (SP).
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No processo, um documento assinado em conjunto pela defesa de Lula e pela Prefeitura de São Bernardo do Campo, protocolado em 21 de novembro, afirma que, para usufruir do programa, “o autor (Lula) confessa, de forma expressa e irrevogável, como devida a obrigação fiscal e legítima a autuação ambiental impingida, renunciando ao direito pretendido, e, consequentemente, desiste da presente ação, com o que expressamente concorda a Municipalidade.”
Segundo o auto de infração ambiental de 2017, foram retirados 1.358 m³ de terra do sítio Los Fubangos. Porém, o alvará de construção concedido para a obra no local autorizava apenas uma edificação nivelada através de pilotis, e não uma movimentação de terra, conhecida como terraplanagem.
O embasamento legal utilizado na aplicação da multa é um decreto de 2015 editado pelo ex-prefeito da cidade Luiz Marinho (PT), hoje ministro do Trabalho de Lula, que proíbe a terraplanagem sem autorização dos órgãos ambientais competentes.
A defesa do presidente da República tentou cancelar a multa até outubro deste ano. Antes de entrar no programa criado pela Prefeitura de São Bernardo, a defesa de Lula sustentou que o presidente não cometeu nenhum ato ilícito e a questão foi meramente burocrática.
“O executado (Lula) jamais cometeu qualquer infração contra o meio ambiente, é preciso que se diga. Toda a base fática em que se sustenta a autuação é de origem burocrática: o executado pagou corretamente a guia de arrecadação municipal referente à obra antes de dar início a ela, mas o alvará respectivo não teria computado a terraplanagem necessária para o projeto”, diz peça assinada pelos advogados Roberto Ricomini Piccelli e Marina Muniz Matos.
Eles também argumentaram que jamais tiveram acesso à íntegra dos autos do processo que originou a multa e que o fiscal ambiental não conseguiu comprovar a fórmula de cálculo do volume de terra “supostamente movimentado”. De acordo com os advogados, a Prefeitura concedeu um novo alvará ambiental para a obra, emitido em 2019, no qual foi apontado que o volume de terraplanagem era de 598,62 m³ e não 1.358 m³.
O relatório de fiscalização ambiental lavrado às 15h30 do dia 28 de novembro de 2017 aponta que técnicos da Prefeitura encontraram a presença de terra que, segundo o proprietário de um imóvel vizinho, teria sido retirada do sítio “Los Fubangos”, pertencente a Lula.
Os fiscais então foram à propriedade do agora presidente. No local, foram recebidos por José de Fillipi Jr., hoje prefeito de Diadema, que informou ser o responsável técnico da obra. Contudo, não foi apresentada planta de aprovação do projeto e, por isso, a obra não deveria ter sido iniciada. O relatório de fiscalização apresenta imagens da terra depositada nas ruas e das escavações para a construção de uma casa no local.
Ao analisar o alvará de construção, os técnicos da Prefeitura descobriram, também, que o projeto em andamento era diferente do que estava sendo de fato executado. No projeto apresentado ao município, não havia previsão de movimentação de terra, mas, sim, uma edificação nivelada através de pilotis. “Ou seja, a movimentação de terra executada não foi autorizada ou mesmo prevista no projeto proposto”, dizem os técnicos no relatório.
Em meio à disputa judicial que já dura quatro anos, a Prefeitura de São Bernardo do Campo chegou a pedir, em abril de 2021, a penhora de bens de Lula para o pagamento do débito, inscrito em dívida ativa. Uma nova perícia no sítio estava agendada para o próximo dia 15 de dezembro. Contudo, com a desistência por parte de Lula, nesta terça-feira, 5, e o acordo com a Prefeitura, o caso deve ser encerrado com o pagamento da multa.
Em nota enviada ao Estadão, o advogado Roberto Ricomini Picceli, que representa Lula na ação, afirmou que a admissão se deu apenas para encerrar o processo. “A ação havia sido ajuizada para questionar o procedimento adotado pelo fiscal responsável ao inspecionar a obra, devidamente autorizada, em 2017. O valor da taxa havia sido recolhido, mas o fiscal realizou um cálculo diferente sobre o volume de terraplanagem previsto na respectiva guia, e a divergência formal deu ensejo à autuação. A despeito da existência de alvará expedido pela Prefeitura de São Bernardo do Campo e da convicção do autor e de sua defesa pelo equívoco da fiscalização, optou-se pela adesão a um parcelamento amplo e geral oferecido pelo município, apenas com a finalidade de encerrar o litígio”, aponta a nota.
Ruína educacional evidencia vocação para a mediocridade
Josias de SouzaColunista do UOL
Aplicado a cada três anos, o exame do Pisa é a principal avaliação internacional de educação. O Brasil participa do programa há 23 anos. Nesse período, passaram pelo Planalto cinco presidentes: FHC, Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro. As notas dos jovens estudantes brasileiros mantiveram duas características imutáveis: são baixas e estáveis. No resultado divulgado nesta terça-feira, referente a 2022, o Brasil continua entre os 20 piores do mundo num ranking de 81 nações…
Sete em cada dez alunos brasileiros na faixa dos 15 anos não sabem fazer contas básicas. Metade dos estudantes tem dificuldade para entender o que lê e não compreende conceitos elementares de ciência. Não se chega a um desastre desse tamanho por acaso…
Graças ao esforço de governadores e prefeitos, o país atenuou na educação os efeitos ruinosos produzidos pelo negacionismo de Bolsonaro e pela inépcia do MEC durante a pandemia…
O penúltimo teste do Pisa, fechado em 2018 e divulgado em 2019, também colocava o Brasil entre os 20 piores. Abraham Weintraub, a piada que dirigia o MEC na época, atribuiu os maus resultados à "doutrinação esquerdófila" do PT. O novo levantamento revela que as teorias direitófilas do capitão tampouco deram em boa coisa…
Normalmente, notícias sobre o MEC saem na editoria de educação. Sob Bolsonaro, o excesso de ideologia empurrou o ministério para seção de política. Com o tempo, o assalto praticado por pastores lobistas e por prepostos do centrão levou o MEC às páginas de polícia… -
O Pisa foi aplicado pela primeira vez no Brasil em 2000, ainda sob FHC. Avaliaram-se na época apenas os conhecimentos em leitura. Nas provas subsequentes, entraram matemática e ciência…
Em duas décadas, a variação positiva mais expressiva ocorreu com a média de matemática, entre 2003 e 2009, no primeiro mandato de Lula. O ponto fora da curva não foi suficiente para retirar o Brasil do ranking dos piores…
Desde então, as notas atribuídas aos estudantes brasileiros registram variações estatisticamente negligenciáveis. A cada triênio, o Pisa expõe a raiz do atraso brasileiro. A ruína educacional do Brasil evidencia vocação nacional para a mediocridade…
Opinião
Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL NEM A MINHA