Com mais famílias na rua, número de moradias improvisadas em SP cresceu 230% em dois anos
Por Aline Ribeiro — São Paulo O GLOBO
Numa manhã chuvosa, um homem varria uma calçada do Centro de São Paulo como se limpasse a porta de casa. Na mesma via pública, conhecidos dele dividiam um sofá encardido enquanto batiam papo e bebiam tragos de cachaça. No fogão feito de tijolos, lata de refrigerante e álcool, um integrante do grupo cozinhava uma sopa de macarrão e frango e se preparava para fritar uns “zóio estalado”. Quando a equipe do GLOBO se aproximou, o dono da moradia improvisada, com espaços simulando sala, quarto e cozinha, fez o convite:
— Vem conhecer meu castelo de madeira — disse Eliel Sales da Conceição, de 39 anos, que mora na rua há pouco mais de dois. — É aqui que durmo com a minha neguinha. Faço um bico aqui, outro ali, para sair dessa condição.
Durante a pandemia de Covid-19, a paisagem urbana da capital paulista foi tomada por barracas de camping e de madeira, papelão e lona. Elas abrigam uma população em situação de rua que igualmente explodiu. As tendas forjam o lar onde até pouco tempo essas pessoas moravam. Segundo o último Censo da População em Situação de Rua, encomendado pela Prefeitura de SP e divulgado em janeiro, em dois anos a capital paulista registrou aumento de 230% dessas moradias improvisadas instaladas em vias públicas. Em 2019, eram 2.051 pontos do tipo. Em 2021, 6.778.
— A barraca é um fenômeno intimamente ligado à pandemia. Está relacionado ao maior número de pessoas com menos tempo na rua — afirma Carlos Bezerra, secretário municipal de Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo. — Elas usam a barraca para se proteger das intempéries, da violência e violação de direitos, e para preservar o núcleo familiar. A barraca remete a esses elementos simbólicos todos.
Na de Eliel, rosas vermelhas de plástico e uma bandeira do Palmeiras decoram a parte externa. Dentro, há uma cama box de casal sem colchão, coberta com pedaços de espumas, um pequeno armário com itens de higiene pessoal, um carrinho de supermercado e um varal que faz as vezes de guarda-roupa. Eliel divide o espaço com a companheira Silvia Conceição, de 48 anos, e uma cadela e seus cinco filhotes. Para lavar louça e escovar dentes, o casal armazena água em baldes, coletada da torneira de um prédio abandonado. O banho é tomado diariamente em banheiros públicos.
O censo mostrou que, entre 2019 e 2021, saltou de 24.344 para 31.884 o número de pessoas em situação de rua na capital paulista, um aumento de 31%. Na pandemia, também houve uma mudança de perfil dos sem-teto. Se antes era mais comum se deparar pelas calçadas com homens solteiros, em geral usuários de álcool e drogas, hoje não é raro ver famílias, muitas despejadas de suas casas pela crise econômica. Segundo o censo, quase dobrou a quantidade de famílias que foram para as ruas neste período: de 4.868, em 2019, para 8.927 pessoas, em 2021.
Nabil Bonduki, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, explica que, historicamente, o centro do problema da população em situação de rua não era habitacional. Isso porque, diz, o caminho que levava uma pessoa a ficar sem lar passava essencialmente por conflitos familiares, abandono, uso excessivo de álcool e drogas. Diante do novo perfil dessa população, de famílias que perderam empregos e renda e foram parar nas ruas, a moradia passou a ser a questão determinante.
— Muita gente ficou sem condição nenhuma. Até recebeu a renda emergencial, que era importante, mas que não dava para pagar aluguel e comer — pondera Bonduki. — É muito mais fácil ter uma ação social voltada para esse perfil do que para o tradicional. Nesse caso, é uma questão de política de habitação.
Sem emprego e somente com R$ 400 mensais do Auxílio Brasil, as irmãs Evelin e Rafaela Conceição da Silva, 19 e 22 anos, estão há cinco meses na rua. Vindas de Salvador, na Bahia, elas chegaram a SP a convite da tia, em busca de trabalho e uma vida melhor. Evelin trouxe o filho Breno, de um ano. Rafaela veio acompanhada da filha Rebeca, de dois, e do marido Luiz Henrique de Jesus, de 28 anos. Ao chegarem aqui, se desentenderam com a tia, na casa de quem moravam de favor. Em suas palavras, ela estava “malucada”.
Numa tarde de abril, eles haviam montado suas barracas recém-doadas numa rua do Centro. Mas a água acumulada na sarjeta, onde proliferavam larvas e mosquitos, fez com que buscassem outro ponto. É a primeira vez que a família vive na rua. Antes, as meninas faziam bicos na capital baiana e Jesus era entregador de água. Sobre a rua, eles reclamam de ter de deixar as crianças no mesmo ambiente de usuários de crack. Das ratazanas que cercam a barraca. Do frio e da chuva. Da falta de rotina, tão essencial para bebês e crianças. (Os horários de comer, dormir, acordar e tomar banho são definidos pela chegada das doações).
— A gente não toma café da manhã e só almoça lá por quatro da tarde, quando os irmãos chegam com marmita ou quando conseguimos pegar a senha do padre (de distribuição de comidas). Se a gente perde, só vamos comer à noite — conta Rafaela.
De acordo com o censo, a maioria da população em situação de rua é de fora da cidade de SP (60,8%) e está há menos de dois anos (42%) sem um lar. É o caso de Rosângela Mariano, de 42 anos, oriunda de Campinas. Após terminar um relacionamento, há cinco meses ela pegou um ônibus para a capital acompanhada do filho Gabriel, de 8 anos, autista. Tinham como destino Brasília, onde havia para ela uma promessa de emprego, mas foram roubados na rodoviária e acabaram na rua.
Até aquela tarde de abril, ela e o filho dormiram debaixo de uma marquise na Praça da Sé. No dia em que Rosângela conversou com o GLOBO, havia acabado de comprar uma barraca por R$ 150, com o dinheiro do auxílio do governo. Ainda ajeitava seus objetos pessoais, roupas e brinquedos do filho, para deixar “tudo arrumadinho”. Tirando o cheiro do crack, Rosângela pouco reclama da vida na rua. Diz que as marmitas doadas são boas e que a polícia os protege.
— Vivo melhor aqui do que com meu ex-companheiro — defende Rosângela. — Mas é claro que quero sair, arrumar um emprego e tentar dar o melhor para o meu filho, uma casa, estudo. Meu sonho é que ele vá para a escola e tenha o que eu não tive— diz.
Apesar do impacto da pandemia e da crise econômica na mudança do perfil dessa população, o conflito familiar (34,7%) ainda é a razão que mais leva as pessoas às ruas de São Paulo, seguido da dependência de álcool e outras drogas (29,5%) e da perda de trabalho e renda (28,4%), detalhou o censo. Foi uma desavença com os parentes que levou Rosana Bueno, de 44 anos, a deixar sua casa. Na época, ela trabalhava como cozinheira e, ao sair do restaurante diariamente a caminho de casa, passava por moradores de rua que viviam no entorno. Acabou se relacionando com um, e a família não aceitou.
Há três anos, Rosana mora numa barraca perto da Avenida Paulista. Passou um tempo cuidando do pai no interior, mas voltou há cerca de dois meses. Ao lado dela, há outra tenda de camping, igualmente doada, ocupada pelos amigos Aparecido Souza, de 54 anos, e Sebastião Fagundes, de 64. Ex-usuários de álcool e drogas, respectivamente, os dois homens se conheceram anos atrás numa clínica de reabilitação. Depois de saírem, casaram-se com duas mulheres, se separaram, arrumaram trabalho, dividiram casa e, mais recentemente, a barraca.
- Lilia Schwarcz: 'Ainda não demos o grito de independência', diz a historiadora
Hoje vizinhos de Rosana, os dois compartilham com ela uma área comum — varal para pendurar roupas, um fogão e baldes com água, cadeiras que funcionam como sofá. Lavam a calçada com água sanitária, colocam ratoeira e repelentes contra mosquitos. O complexo ganhou recentemente energia elétrica, puxada da fiação do parque. Além do auxílio, conseguem dinheiro vendendo cigarro e corote para usuários de drogas que vivem sob um viaduto. No fim da tarde, recolhem-se nas barracas.
— Na rua, me reencontrei e pude ser eu mesma, sem me preocupar com que meus pais, meu ex-marido, meus filhos iriam pensar. Hoje essa é minha família — diz Rosana.
Covid-19: Brasil tem 30,5 milhões de casos e 664 mil óbitos
O Ministério da Saúde divulgou hoje (9), em Brasília, novos números sobre a pandemia de covid-19 no país. De acordo com o levantamento diário, o Brasil tem, no acumulado, 30,5 milhões de casos confirmados da doença e 664 mil mortes registradas.
As ocorrências de pacientes recuperados somam 29,6 milhões (97% dos casos). Nas últimas 24 horas, o ministério registrou 9,7 mil novos casos e 53 mortes.
O estado de São Paulo tem o maior número de ocorrências acumuladas desde o início da pandemia, com 5,4 milhões de casos e 168,3 mil óbitos. Em seguida, vêm Minas Gerais (3,3 milhões de casos e 61,3 mil óbitos); Paraná (2,4 milhões de ocorrências e 43,1 mil óbitos) e Rio Grande do Sul (2,3 milhões de casos e 39,3 mil óbitos).
Conforme o vacinômetro do Ministério da Saúde, 418,8 milhões de doses de vacinas contra a covid-19 já foram aplicadas, sendo 175 milhões (primeira dose) e 155,7 milhões (segunda dose); além de 77,5 milhões (dose de reforço) e 2,1 milhão (segunda dose de reforço).
Edição: Kleber Sampaio / AGÊNCIA BRASIL
Projeto prevê saúde bucal entre condicionantes do Auxílio Brasil
O acompanhamento da saúde bucal poderá se tornar mais uma das condicionalidades do Programa Auxílio Brasil. Essa é a proposta do Projeto de Lei (PL) 1.015/2022, que altera a Lei 14.284, de 2021. Atualmente, são exigências para o pagamento do benefício a realização de pré-natal, o cumprimento do calendário vacinal, o acompanhamento do estado nutricional e a frequência escolar.
Apresentado pelo senador Plínio Valério (PSDB-AM), ouvidor-geral do Senado, o projeto é resultado de uma proposta feita à Ouvidoria por Greice da Silva Garcia, residente em Manaus. Ela apresentou sua sugestão por meio do Portal e-Cidadania,
A ideia, segundo o senador, é que responsáveis conduzam as crianças, desde cedo, aos dentistas e demais profissionais do setor, o que iria contribuir para a diminuição do índice de cáries, doenças da boca e perda precoce de dentes.
“Se a consulta com profissionais de saúde bucal passar a ser condicionalidade, as crianças poderão receber atendimento continuado desde o primeiro ano de vida, recebendo tratamento odontológico e orientações sobre higiene bucal. Esperamos estimular o aumento da procura por serviços odontológicos e, assim, reduzir a ocorrência de sérios agravos de saúde causados por uma má higiene oral”, argumenta Plínio Valério .
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
Fonte: Agência Senado
Câmara pode analisar seis medidas provisórias nesta semana
Na segunda semana de maio, o Plenário da Câmara dos Deputados pode analisar seis medidas provisórias, como a MP 1099/22, que cria um programa de serviço civil voluntário remunerado por bolsas pagas pelos municípios e vinculado à realização de cursos pelos beneficiários.
A matéria conta com um substitutivo preliminar da relatora, deputada Bia Kicis (PL-DF), que retoma a criação do Programa Primeira Oportunidade e Reinserção no Emprego (Priore), constante do projeto de conversão da MP 1045/21, que perdeu a vigência antes de votação no Senado.
Por meio do Programa Nacional de Prestação de Serviço Civil Voluntário, vinculado ao Ministério do Trabalho e Previdência, os municípios pagarão bolsas a jovens de 18 a 29 anos e pessoas com 50 anos ou mais sem emprego formal há mais de doze meses em razão da prestação de serviços em atividades consideradas pela cidade como de interesse público. O substitutivo incluiu ainda como público-alvo as pessoas com deficiência.
Ambos os programas terão duração de 24 meses a contar da futura lei e serão aplicáveis também ao Distrito Federal. O prazo original para a vigência do serviço voluntário era até 31/12/2022.
Indústria química
Por meio da MP 1095/21, o governo pretende acabar com incentivos tributários para a indústria química e petroquímica no âmbito do Regime Especial da Indústria Química (Reiq).
De acordo com a MP, as alíquotas cheias de 1,65% para o PIS e de 7,6% para a Cofins começaram a valer desde 1º de abril deste ano. A expectativa de aumento de arrecadação é de R$ 573 milhões em 2022, de R$ 611 milhões em 2023 e de R$ 325 milhões em 2024.
Essa é a segunda tentativa do governo de retirar os incentivos ao setor de uma só vez. A primeira tentativa foi por meio da MP 1034/21, de março do ano passado, cujos efeitos começariam em julho daquele ano.
Educação digital
Entre os projetos de lei destaca-se o Projeto de Lei 4513/20, que institui a Política Nacional de Educação Digital, prevendo um plano plurianual específico com vigência por dez anos para promover a inclusão, a qualificação, a especialização, a pesquisa e a educação escolar digitais.
De autoria da deputada Ângela Amin (PP-SC), o plano deverá prever, para as escolas públicas de educação básica e superior, a instalação ou melhoria de infraestrutura tecnológica, o desenvolvimento de planos digitais para as redes de ensino, a formação de lideranças digitais, a qualificação digital, a produção de recursos de aprendizagem e avaliações interna e externa. Deverá prever ainda metas concretas e mensuráveis aplicáveis para o ensino público e privado.
Antenas no meio urbano
Também em pauta consta o PL 8518/17, do deputado Vitor Lippi (PSDB-SP), que prevê o licenciamento temporário de infraestrutura de telecomunicações em áreas urbanas, como antenas de telefonia celular, se não for cumprido o prazo para emissão de licença pelo órgão competente.
A matéria conta com um substitutivo da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática, elaborado pelo deputado Eduardo Cury (PSDB-SP), que determina a instalação, nesses casos, de acordo com as condições estipuladas no requerimento apresentado e com as demais regras de leis e normas municipais, estaduais, distritais ou federais.
Atualmente, a Lei 13.116/15 estabelece prazo de 60 dias para os órgãos emitirem parecer a favor ou contra o requerimento de instalação dessas antenas.
Reportagem - Eduardo Piovesan
Edição - Geórgia Moraes
Fonte: Agência Câmara de Notícias
Bolsonaro se une a PSDB e União Brasil nos estados e empareda terceira via
A adesão informal de candidatos da centro-direita a Jair Bolsonaro (PL), que marcou a reta final do pleito de 2018, começa a ganhar novo fôlego em 2022, faltando cinco meses para as eleições.
Em busca de palanques fortes que ancorem sua candidatura à reeleição em outubro, Bolsonaro iniciou um movimento de aproximação com pré-candidatos a governador de PSDB e União Brasil em seis estados e já recebeu apoio público em quatro deles.
A iniciativa do presidente empareda os partidos que nacionalmente tentam construir uma terceira via e amplia o isolamento das possíveis candidaturas de Luciano Bivar (União Brasil), João Doria (PSDB) e Simone Tebet (MDB).
O apoio a Bolsonaro já foi selado em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Amazonas e Rondônia. Também há movimentos de aproximação no Ceará e na Paraíba.
Aliados de Bolsonaro afirmam que o presidente tentará ampliar seus palanques para além da sua coligação formal. E avaliam que o recente respiro dele nas pesquisas e a força da máquina federal tendem a atrair candidatos da centro-direita nos estados.
As parcerias avançam a despeito do histórico de atritos entre Bolsonaro e governadores que ganhou força na pandemia, quando o presidente abriu guerra contra medidas sanitárias contra a Covid-19 e foi alvo de críticas de parte dos gestores estaduais.
Foi o que aconteceu em Mato Grosso, estado que tem economia ancorada no agronegócio e tem forte viés antipetista. O governador e candidato à reeleição Mauro Mendes (União Brasil), que havia se afastado Bolsonaro na pandemia, agora anunciou apoio ao presidente.
A aliança foi selada há duas semanas após uma visita de Bolsonaro a Mato Grosso. Em entrevista à rádio Metrópole FM de Cuiabá, o presidente confirmou que apoiará a reeleição do governador.
"Não tem atrito entre nós, estamos em paz. Mato Grosso é um estado importantíssimo para o Brasil, e harmonia entre mim e o Mauro Mendes interessa não só para Mato Grosso, mas para todo mundo. Então, estamos fechados e vamos tocar o barco aí", afirmou.
Para selar a parceria, o presidente pediu que aliados locais como o deputado federal José Medeiros (PL) e ao pastor Victório Galli (PTB) baixassem a temperatura nas críticas ao governador.
Medeiros, que é um dos mais fiéis aliados de Bolsonaro no estado, diz que não vai criar obstáculos para a aliança: "Eu, pessoalmente, não tenho condições de caminhar com governador. Mas não serei um empecilho para a aliança. Voto não se joga fora."
O acordo faz de Mauro Mendes favorito à reeleição, já que o governador não terá adversários competitivos no campo da direita e aliados do ex-presidente Lula seguem sem um nome para a disputa.
O cenário é semelhante em Mato Grosso do Sul, onde o ex-secretário Eduardo Riedel (PSDB) será candidato à sucessão do governador tucano Reinaldo Azambuja em uma aliança com PP e PL.
Mesmo com a pré-candidatura ao Planalto do tucano João Doria, ex-governador de São Paulo, Riedel afirmou que está "fechado com Bolsonaro".
"Estou em um partido que até hoje não decidiu se tem [candidato à] presidente ou não tem. [...] Entre os projetos que aí estão, eu coloco claramente minha posição pelo presidente Bolsonaro", disse Riedel há duas semanas em entrevista à imprensa local.
Pré-candidata ao Senado na chapa de Reidel, a ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina (PP) deve atuar como ponte para consolidar o apoio do presidente ao tucano.
O movimento isola o deputado estadual Capitão Contar, que ensaia concorrer ao governo de Mato Grosso do Sul representando o bolsonarismo raiz. Ele chegou a se filiar ao PL, mas acabou migrando para o PRTB após se ver sem espaço para uma candidatura majoritária no partido.
Outro tucano que iniciou um movimento de aproximação com o presidente é o deputado Pedro Cunha Lima (PSDB), pré-candidato ao governo da Paraíba. Na última quinta-feira (5), ele prestigiou Bolsonaro em uma solenidade na cidade de Itatuba (110 km de João Pessoa).
Uma possível aliança, contudo, demandaria negociações em âmbito local, já que os bolosnaristas lançaram o radialista Nilvan Ferreira (PL) como pré-candidato a governador. Procurado, Cunha Lima não respondeu aos contatos da reportagem.
No Amazonas, o governador Wilson Lima (União Brasil) também anunciou neste mês que vai endossar a candidatura à reeleição de Bolsonaro e negocia o apoio exclusivo do presidente.
O endosso acontece em um momento de tensão entre Bolsonaro e o governo do Amazonas em torno de um decreto do governo federal que altera a tributação e reduz a competividade das indústrias de bebidas não alcoólicas da Zona Franca de Manaus.
O governador tenta reverter a decisão em Brasília, mas tem evitado críticas diretas ao presidente.
Caso a aliança se consolide, Lima deve ter Coronel Menezes (PL), ex-superintendente da Zona Franca de Manaus e amigo de Bolsonaro, como candidato ao Senado. Bolsonaro trabalha para derrotar o senador e candidato à reeleição Omar Aziz (PSD), que presidiu CPI da Covid.
"É como o presidente fala: tem a fase do namoro, do noivado e do casamento. Estamos entrando na fase do noivado", afirma Menezes sobre a provável aliança entre Bolsonaro e Wilson Lima.
Rondônia é outro estado em que a União Brasil estará com Bolsonaro. Eleito governador em 2018 pelo PSL, Marcos Rocha permaneceu no partido após a fusão e mantém apoio ao presidente.
Ele deve dividir as atenções do presidente com o senador Marcos Rogério (PL), líder de tropa de choque de Bolsonaro na CPI da Covid e também pré-candidato ao governo.
Outro possível aliado é pré-candidato ao Governo do Ceará, deputado federal Capitão Wagner (União Brasil). Ele tem afirmado diz que trabalhará por um palanque amplo e aberto a outros presidenciáveis apoiados por aliados.
Mesmo sem cravar o apoio a Bolsonaro, o deputado já recebeu uma sinalização de apoio em agosto do ano passado, quando o presidente visitou o estado: "Tenho certeza que, assim como o Brasil tem um capitão, o Ceará terá brevemente um capitão também".
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), iniciou um movimento de reaproximação. Mas enfrenta desgaste entre as alas mais radicais do bolsonarismo após ter rompido com o presidente em meio a divergência sobre o enfrentamento à pandemia.
Dias atrás Caiado participou de um ato com Bolsonaro em Goiás e foi vaiado. Na última quarta-feira (4), o presidente comentou sobre a situação com apoiadores na saída do Palácio da Alvorada: "Eu não tenho culpa disso não, tá? Ele colhe o que ele planta. Político colhe o que ele planta".
Para o secretário-geral da União Brasil, ACM Neto, a aproximação com Bolsonaro em alguns estados não é uma surpresa, já que cada diretório tem liberdade para adotar a estratégia seja mais adequada. Ele nega que haja um movimento coordenado dentro do partido para apoiar o presidente.
"O que eu posso assegurar que não existe nenhum tipo de orientação partidária nacional de aproximação nem de distanciamento com ninguém. [...] Essa não é uma tendência ou uma articulação nacional. O que existe é liberdade total para cada estado seguir o seu caminho", diz o ex-prefeito de Salvador.
Pré-candidato ao governo da Bahia, ACM Neto diz que manterá o seu palanque aberto e deve permanecer neutro na eleição nacional, mesmo com a possível candidatura de Luciano Bivar.
Procurado, o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, preferiu não comentar sobre a adesão de tucanos à candidatura de Bolsonaro.
Bolsonaro burla regras para exibir propaganda eleitoral com primeira-dama... - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/colunas/josias-de-souza/2022/05/09/bolsonaro-burla-regras-para-exibir-propaganda-eleitoral-com-primeira-dama.htm?cmpid=copiaecola
Bolsonaro transformou uma rede nacional obrigatória de rádio e TV em horário eleitoral gratuito. Em comunicado enviado às emissoras, o governo informou que seria transmitido na noite de domingo um pronunciamento de cerca de cinco minutos da ministra da Mulher, Família e dos Direitos Humanos, Cristiane Britto. Era lorota. No vídeo levado ao ar, a ministra foi mera coadjuvante de uma propaganda da campanha de Bolsonaro à reeleição. A peça foi estrelada pela primeira-dama Michelle Bolsonaro.
A pretexto de celebrar o Dia das Mães, Michelle e a ministra trombetearam iniciativas do governo voltadas ao atendimento das mulheres. A aversão do eleitorado feminino a Bolsonaro é um dos principais pontos fracos da campanha do presidente. Michelle vem sendo usada em eventos políticos para tentar suavizar a péssima imagem do marido junto às mulheres.
O aviso remetido às emissoras de rádio e TV citou a lei artigo 26 da Lei 13.844, de 2019. Inclui entre as atribuições do Ministério das Comunicações a convocação de redes obrigatórias de rádio e televisão. Um decreto de 1979 prevê que, para a "preservação da ordem pública e da segurança nacional ou no interesse da administração", as emissoras poderão ser convocadas" para compor redes nacionais. O decreto estabelece que podem falar em rede nacional os presidentes da República, do Supremo e das duas Casas do Congresso. Inclui também os ministros de Estado, desde que autorizados pelo presidente.
Regulamentos escritos do próprio Planalto preveem que a formação de rede nacional de rádio e televisão serve para transmitir pronunciamentos dos chefes dos três Poderes e, "eventualmente, para transmissão de comunicados de ministros de Estado em temas de relevância e interesse nacional." O texto cita como exemplo as "campanhas de vacinação para evitar epidemias". A vacinação foi negligenciada pelo atual governo. Mas o Dia das Mães, data comercial, ganhou súbito interesse nacional..
Não há vestígio de previsão legal para que a primeira-dama leve o rosto à casa dos brasileiros em rede nacional. Mais uma vez, Bolsonaro violou leis e regras em seu benefício eleitoral. A presença da ministra no vídeo não atenua a ilegalidade. A coisa funciona mais ou menos como a gravidez que transforma as mulheres em mães.
Assim como uma mulher não pode estar um pouquinho grávida, não pode haver uma rede nacional obrigatória de rádio e TV um pouco regular porque uma ministra serviu de adorno para que a primeira-dama exercitasse o papel de cabo eleitoral do marido. De acinte em acinte, o uso eleitoral da estrutura do Estado vai se tornando um fenômeno banal..