Lula quer tirar dinheiro de ministério do MDB para inflar órgãos dados ao centrão
O governo Lula (PT) quer retirar dinheiro do Ministério das Cidades, ocupado pelo MDB, e inflar o orçamento de órgãos comandados pelo centrão.
A proposta é transferir mais R$ 602 milhões para a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) e o Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), que foram loteados para o grupo liderado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
O Ministério das Cidades entrou na mira do centrão por críticas de demora na liberação de recursos usados por parlamentares para irrigar suas bases eleitorais e obter ganho político com projetos e obras públicas.
O cargo do ministro Jader Filho (Cidades) não foi colocado na mesa de negociação para a dança de cadeiras da Esplanada para que o PP e o Republicanos entrem no primeiro escalão do governo Lula.
No entanto, o centrão tem cobrado mais celeridade na distribuição de emendas. A desidratação da pasta de Cidades surgiu como uma solução para dar mais verba a dois órgãos com engrenagem azeitada para atender aos pedidos de parlamentares.
O pedido de remanejamento partiu de integrantes da Câmara dos Deputados e foi acolhido pelo governo. A proposta foi enviada em despacho da Presidência no dia 2 de agosto.
Segundo lideranças do governo, a pasta das Cidades ainda tem dificuldade para executar emendas pois conta com uma equipe insuficiente. Ela foi criada no começo do governo com o desmembramento do Ministério do Desenvolvimento Regional, movimento que também retirou recursos da Codevasf.
Para interlocutores do centrão, o dinheiro deveria ter ficado na companhia desde o início do mandato de Lula. A pasta está sob guarda-chuva do ministério comandado por Waldez Góes (Integração e Desenvolvimento Regional), indicado pela União Brasil.
A Codevasf cresceu no governo de Jair Bolsonaro (PL), com recursos de emendas parlamentares depois do aumento do loteamento de cargos no órgão. Essa prática tem sido mantida por Lula como forma de conseguir governabilidade.
A presidência do órgão, por exemplo, continuou com Marcelo Andrade Moreira Pinto –indicado pelo deputado Elmar Nascimento (BA), líder da União Brasil na Câmara e um dos mais próximos de Lira.
No ano passado, a Folha revelou indícios de fraudes na estatal, que foi alvo de operação da Polícia Federal. Em março, o governo Lula assinou contratos herdados de Bolsonaro envolvendo empreiteiras e condutas suspeitas de cartel em obras de pavimentação. A Codevasf nega irregularidades e diz colaborar com órgãos de fiscalização e controle.
A verba a ser perdida pelo Ministério das Cidades é justamente na área de qualificação viária, ou seja, responsável por pavimentação. Essa não era uma tarefa comumente executada pela Codevasf. A estatal ganhou força nesse setor principalmente no governo passado, quando foi tomada pelo centrão.
A Codevasf informou que já "tem realizado levantamento de necessidades, para emprego eficiente dos recursos em caso de aprovação do [projeto de] remanejamento". A proposta do governo, se aprovada, cria dentro do orçamento da estatal uma nova rubrica com foco em pavimentação.
No caso do Dnocs, as negociações políticas do centrão mantiveram Fernando Marcondes de Araújo Leão na diretoria-geral. Ele foi nomeado na gestão Bolsonaro e foi indicado pelo deputado Luis Tibé (Avante-MG), que é um dos mais próximos de Lira.
A principal linha de atuação do Dnocs é a construção de poços, que também tem histórico de suspeita de irregularidades.
A movimentação financeira para dar mais recursos às estatais do centrão foi apresentada ao Congresso Nacional, que ainda precisa aprovar o projeto.
O texto foi enviado pela Presidência da República, mas teve o aval também do ministro Rui Costa (Casa Civil).
O dinheiro a ser perdido por Jader Filho faz parte da verba das antigas emendas de relator, principal moeda de troca com o Congresso na gestão Bolsonaro e que foi derrubada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) no fim do ano passado.
Na época, Lula e articuladores políticos entraram em campo e negociaram com a cúpula do Congresso uma divisão da verba dessas emendas extintas. Uma parte continuou nas mãos dos parlamentares.
O presidente Lula, então, herdou cerca de R$ 9,9 bilhões, que foram colocados no caixa de ministérios, mas, como vem mostrando a Folha, têm sido usados para atender a pedidos de parlamentares e destinados a bases eleitorais sem transparência e sem critérios técnicos.
O centrão, portanto, também tenta manter o controle sobre essa fatia das antigas emendas.
A pasta de Cidades ficou com R$ 2,5 bilhões. Até hoje, liberou somente R$ 147 milhões.
Procurado, o Ministério das Cidades disse que foi informado pelo Planalto sobre a perda de recursos e disse que "a orientação para retirada dos recursos foi realizada pela Secretaria de Relações Institucionais (SRI)", comandada por Alexandre Padilha, responsável pela gestão de emendas parlamentares. Ou seja, isso revela que a verba herdada por Lula ainda funciona como uma emenda, apesar de não ter esse carimbo oficial.
O Ministério da Integração e Desenvolvimento Regionais (que cuida dos órgãos do centrão) não respondeu sobre o assunto. A Casa Civil disse que o texto é assinado pelo Planejamento.
O Ministério do Planejamento, de Simone Tebet, que é do MDB, disse que a proposta de remanejamento foi encaminhada pelas pastas. Porém, não respondeu qual foi o critério e justificativa para a transferência do dinheiro.
A proposta do governo é acrescentar R$ 422 milhões ao orçamento da Codevasf, e enviar outros R$ 180 milhões ao Dnocs.
A companhia tem R$ 1,87 bilhão disponíveis, enquanto o orçamento atual do Dnocs é de R$ 936,5 milhões.
Parecer da AGU contraria Marina e dá sinal verde para exploração de petróleo na Foz do Amazonas
Por Rafael Moraes Moura e Johanns Eller — Brasília e Rio / O GLOBO
Em uma vitória para a Petrobras, a Advocacia-Geral da União (AGU) finalizou um parecer para ajudar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a liberar a exploração de petróleo em alto mar na região da Bacia da Foz do rio Amazonas, que foi negada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) em maio passado, desencadeando uma crise no governo.
A conclusão do parecer, aguardado com muita expectativa na Petrobras, no Ministério de Minas e Energia e no Palácio do Planalto, foi antecipada pela equipe da coluna– e marca uma derrota política para a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
Para a AGU, a Avaliação Ambiental de Área Sedimentar (AAAS) não é indispensável nem pode atrapalhar o licenciamento ambiental de empreendimentos de exploração e produção de petróleo e gás natural no território brasileiro.
O Ibama já negou a licença de perfuração do bloco FMZ-59 à Petrobras duas vezes, mas Lula e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, vêm fazendo pressão para que ela seja concedida. Uma das razões consideradas pelo Ibama é a falta de uma AAAS, que analisa se a região, e não apenas o bloco a ser perfurado, está apta para ser explorada. Esse tipo de avaliação leva de um a dois anos para ser concluída.
O parecer da AGU recorreu a uma portaria interministerial de 2012 para dizer que essa avaliação não é obrigatória. "A AAAS é acima de tudo um instrumento de auxílio, de apoio ao licenciamento ambiental, e não um fim em si mesma", diz o documento.
"Da integral leitura da portaria interministerial, de nenhum artigo é possível extrair que a AAAS seria conditio sine qua non, seja para a outorga, seja para o licenciamento ambiental, seja do ponto de vista estritamente jurídico, seja do ponto de vista fático (como está exigindo o Ibama no presente caso)."
Toda a área em questão está localizada na margem equatorial brasileira - que vai do litoral do Amapá ao litoral do Rio Grande do Norte. O poço que a Petrobras quer perfurar fica em alto mar, a 175 km da costa do Amapá e a 500 km da Foz do Rio Amazonas.
Além de defender no parecer a dispensabilidade da AAAS para o licenciamento ambiental, a AGU decidiu encaminhar para a Câmara de Mediação e de Conciliação da Administração Pública Federal (CCAF) outros pontos em torno da exploração de petróleo na Foz do Amazonas.
De acordo com o órgão, a ideia é buscar uma “resolução consensual” para outras questões apontadas pelo Ibama, como o plano de proteção à fauna e os impactos de sobrevoos para as comunidades indígenas da região.
Segundo a AGU, serão chamados consultores jurídicos e representantes dos ministérios de Minas e Energia, do Meio Ambiente, “além dos demais órgãos públicos e empresas públicas ou privadas envolvidas com o assunto, para conversas com o objetivo de realizar as primeiras análises de risco relativas ao caso”.
No dia 17 de maio, o Ibama negou pela segunda vez a licença para perfuração do poço, desencadeando uma batalha interna no governo e com políticos da base aliada.
Conforme revelamos em maio, logo depois que a licença de perfuração foi negada pelo Ibama, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, disse a conselheiros da companhia que a autorização sairia "em seis meses".
No início deste mês, Lula afirmou em entrevista a emissoras de rádio da região amazônica que a posição do Ibama não é definitiva e que o Amapá pode "continuar sonhando" com a exploração de petróleo em seu litoral.
“Vocês podem continuar sonhando. E eu também quero continuar sonhando. Esse estudo do Ibama não é definitivo. Eles apontam falhas técnicas que a Petrobras tem o direito de corrigir”, disse o presidente.
A manifestação da AGU não soluciona a controvérsia por si só. Ainda assim, espera-se no governo que o parecer sirva como “reforço argumentativo” para Lula arbitrar o conflito e tomar uma decisão sobre o caso, a favor da Petrobras e contra os interesses de Marina Silva.
A AGU foi chamada para opinar sobre a controvérsia porque entre as competências do órgão “fixar a interpretação da Constituição, das leis, dos tratados e demais atos normativos, a ser uniformemente seguida pelos órgãos e entidades da Administração Federal”.
A Foz do Amazonas faz parte da Margem Equatorial, área considerada nova fronteira exploratória que vai do litoral do Amapá ao Rio Grande do Norte. A Petrobras pretende realizar investimentos da ordem de US$ 2 bilhões para as atividades exploratórias nessa região, considerando o plano de negócios até 2026.
Durante a turbulência na Esplanada, Marina Silva e o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, defenderam enfaticamente o parecer técnico do instituto contra a exploração de petróleo na região.
O principal defensor na ocasião foi o titular de Minas e Energia, Alexandre de Silveira, que criticou duramente o trabalho do Ibama e chegou a classificar o documento como "absurdo". O líder do governo no Congresso, o senador Randolfe Rodrigues (AP), também divergiu publicamente da posição de Marina, sua então correligionária, e se desfiliou da Rede Sustentabilidade.
Toda a área em questão está localizada na margem equatorial brasileira - que vai do litoral do Amapá ao litoral do Rio Grande do Norte. O poço que a Petrobras quer perfurar fica em alto mar, a 175 km da costa do Amapá e a 500 km da Foz do Rio Amazonas.
Além de defender no parecer a dispensabilidade da AAAS para o licenciamento
ambiental, a AGU decidiu encaminhar para a Câmara de Mediação e de Conciliação da Administração Pública Federal (CCAF) outros pontos em torno da exploração de petróleo na Foz do Amazonas.
De acordo com o órgão, a ideia é buscar uma “resolução consensual” para outras questões apontadas pelo Ibama, como o plano de proteção à fauna e os impactos de sobrevoos para as comunidades indígenas da região.
Segundo a AGU, serão chamados consultores jurídicos e representantes dos ministérios de Minas e Energia, do Meio Ambiente, “além dos demais órgãos públicos e empresas públicas ou privadas envolvidas com o assunto, para conversas com o objetivo de realizar as primeiras análises de risco relativas ao caso”.
No dia 17 de maio, o Ibama negou pela segunda vez a licença para perfuração do poço, desencadeando uma batalha interna no governo e com políticos da base aliada.
Conforme revelamos em maio, logo depois que a licença de perfuração foi negada pelo Ibama, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, disse a conselheiros da companhia que a autorização sairia "em seis meses".
Lula dará pausa de dois meses em viagens internacionais
Com uma intensa agenda de viagens internacionais desde o começo do ano, Lula dará uma pausa de cerca de dois meses em agendas fora do Brasil. O presidente permanecerá no país durante outubro e novembro. Integrantes do governo relataram que Lula também vai usar esse período para cuidar da saúde, já que as viagens demandam agendas intensas.
Em setembro, o presidente irá para a reunião da cúpula do G20 na Índia e para a Assembleia Geral da ONU, em Nova York, com possíveis passagens por Cuba e pelo México antes de chegar aos Estados Unidos.
A previsão é que Lula retome as viagens internacionais só na 8ª Conferência das Partes na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP28, nos Emirados Árabes, que começa em 30 de novembro. O presidente passará na Alemanha durante a viagem de retorno ao Brasil. O GLOBO
Lula gasta R$ 3 milhões com desfile de 7 de Setembro para desvincular feriado de Bolsonaro
Por Weslley Galzo / O ESTADÃO DE SP
BRASÍLIA - O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já desembolsou R$ 3 milhões na contratação da empresa que vai fazer a montagem e organização do desfile do 7 de Setembro, valor mais que o dobro do gasto por Jair Bolsonaro (PL) em seu primeiro ano de mandato.
A vencedora da licitação foi a mesma que realizou o primeiro desfile cívico-militar de Bolsonaro, em 2019, mas, neste ano, ela embolsará R$ 1,8 milhão a mais do que quatro anos atrás. Não é possível comparar os gastos deste ano com os eventos promovidos em 2021 e 2022, pois os contratos não estão disponíveis na plataforma da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) - em 2020, não houve desfile por causa da pandemia do covid-19. Os dois últimos feriados da gestão Bolsonaro foram os de maior repercussão política por causa dos enfrentamentos do ex-presidente às instituições democráticas.
Neste ano, a empresa M.M Faleiros Montagens e Eventos receberá R$3,1 milhões pela organização do feriado de 7 de Setembro. Em 2019, a licitante venceu o pregão organizado pelo governo por R$ 971.500 mil, que, corrigidos pelo índice IPCA, equivalem a R$1,2 milhão atualmente.
A cifra destinada à empresa poderia ser ainda maior, já que o Palácio do Planalto chegou a estimar o gasto de R$ 6,8 milhões somente com a contratação do serviço de montagem de arquibancadas, instalação de banheiros químicos e demais instalações para o evento.
Além do pagamento pela estrutura, a cifra total gasta ainda incluíra outros repasses, já que a realização do evento envolve o Ministério da Defesa, que costuma repassar milhões de reais a seus soldados a título de diárias. No 7 de Setembro do ano passado, somente a Defesa gastou R$ 8,4 milhões. Além de ser o bicentenário da Independência, o governo Bolsonaro turbinou o evento num contexto de politização das festividades pelo Planalto em meio à disputa eleitoral.
Bolsonaro chegou a ser investigado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por suspeita de abuso de poder na maneira como o evento foi realizado. O então presidente fez um discurso a milhares de apoiadores na Esplanada dos Ministérios que foi acusado de ser de cunho eleitoral.
A data de 7 de Setembro ficou atrelada ao bolsonarismo, sobretudo após a celebração do feriado da Independência de 2021, quando o então presidente Bolsonaro inflamou seus apoiadores com discursos de ataque ao Poder Judiciário e ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Na ocasião, Bolsonaro disse que não iria mais cumprir decisões judiciais que o atingissem. Depois, voltou atrás.
Neste ano, assessores de Lula afirmam que o presidente quer ressignificar a data. A organização do desfile cívico-militar deste ano está sob a coordenação do ministro da Secom, Paulo Pimenta, que montou uma força-tarefa para dar conta da missão passada pelo presidente. O governo estima que 30 mil pessoas vão comparecer à Esplanada para ver a passagem de efetivos militares, blindados e o voo da esquadrilha da fumaça.
A ordem que circula no Palácio do Planalto é de transformar o 7 de Setembro deste ano em um “ato de resgate das cores da bandeira e dos símbolos patrióticos” que ficaram associados a Bolsonaro e seus apoiadores. Em seu discurso de vitória, em 30 de outubro do ano passado, o atual presidente sinalizou essa intenção: “Esse verde-amarelo e essa bandeira pertencem ao povo brasileiro”, afirmou na Paulista.
Dentre as mudanças preparadas para este ano, o governo realizará uma exposição em homenagem às Forças Armadas na área externa do Museu Nacional. A data e o cortejo aos militares também são apontados como uma oportunidade de Lula se aproximar da categoria e diminuir a tensão dentro do governo diante do avanço das investigações da Polícia Federal (PF) que miram oficiais envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro.
“O 7 de Setembro vai ser uma boa oportunidade para Lula verificar em que pé está sua relação com os militares brasileiros de modo mais geral”, avaliou o professor de ciência política na Fundação Getúlio Vargas (FGV) Sérgio Praça. “Nos anos sob Bolsonaro, o feriado foi uma oportunidade para oficiais adesistas ao governo demonstrarem boa vontade e lealdade com o presidente”, completou.
O cientista político e professor do Insper Leandro Consentino, por sua vez, destacou o aspecto negativo e “desaconselhável” da “disputa política em torno de uma data de Estado e cívica para o País”. “A data tem a ver com valores da República e não com valores de determinada facção ou partido estabelecidos. Os símbolos nacionais, tal qual a bandeira e a data da Independência do País precisam ser, de fato, resgatados pelo Estado brasileiros e não pertencentes a um candidato ou outro”, afirmou.
Para Consentino, a data pode, sim, vir a ser usada para melhorar a relação do governo com as Forças Armadas, mas que essa iniciativa não pode redundar em “dispêndio de recursos”. “É preciso tomar muito cuidado com o que é resgate dos símbolos nacionais e dessa boa relação entre os militares e o presidente da República; e o que é simplesmente um gasto perdulário que não precisaríamos ter”, concluiu.
Cesta básica custa R$ 34,7 bi à União com itens como salmão e picanha
Idiana Tomazelli / FOLHA DE SP
Idealizada como uma política para baratear alimentos e itens essenciais para famílias de baixa renda, a desoneração de tributos federais sobre a cesta básica proporciona uma redução média de 5% nos preços dos produtos, a um custo de R$ 34,7 bilhões para a União, em valores atuais.
Embora seu impacto seja relevante no bolso da população mais vulnerável, o diagnóstico do governo é que a medida pode ser mais focalizada, afirma o secretário de Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas do Ministério do Planejamento, Sergio Firpo.
Os dados compõem um dos boletins que serão lançados pelo órgão nesta terça-feira (22), durante o 1º Seminário de Avaliação e Melhoria do Gasto Público, promovido em parceria com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). O documento foi antecipado à Folha.
O foco desta edição é a primeira fase da Reforma Tributária, que trata da tributação sobre o consumo. A PEC (proposta de emenda à Constituição) aprovada na Câmara dos Deputados prevê a criação de uma cesta básica nacional, que terá isenção integral dos novos tributos. O texto ainda está em tramitação no Senado.
A definição dos itens contemplados ainda dependerá de regulamentação, em uma etapa posterior à conclusão da votação PEC. Mesmo assim, o governo teme desde já que a lista de produtos fique muito grande, o que tornaria o benefício menos focalizado e poderia onerar os demais setores da economia com uma carga tributária mais elevada.
O desenho atual da desoneração da cesta básica está em vigor desde 2013. Na época, o então governo Dilma Rousseff (PT) zerou as alíquotas de PIS/Cofins e IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) incidentes sobre alimentos como carnes, peixes, café, açúcar, óleo de soja, manteiga e margarina, além de artigos de higiene como sabonete, papel higiênico e pasta de dente. Outros produtos, como pães, leite, arroz e feijão, já eram isentos.
O problema identificado ao longo dos anos é que, ao incluir na cesta básica a categoria "carnes", o governo estendeu o benefício tanto para carnes de segunda, consumidos pelas famílias de menor renda, quanto para cortes mais nobres, como filé-mignon e picanha, usualmente adquiridos por quem tem maiores salários.
No caso dos peixes, o código de registro daqueles mais populares e o que identifica ovas (uma iguaria) ou salmão começam com os mesmos dígitos. Por isso, não há como isolar um ou outro para aplicar a desoneração.
Governos passados cogitaram restringir o alcance da política, mas esbarraram no temor de aumento de preços nas gôndolas e na repercussão política negativa que uma decisão nesse sentido teria na população.
Na Reforma Tributária, a guerra de narrativas em torno do aumento ou não dos preços dos alimentos mobilizou entidades, parlamentares e criou um problema político para o governo. A solução do relator, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), foi prever no texto a isenção total da cesta básica.
O avanço na discussão da PEC é visto como uma oportunidade para retomar o debate em torno do tema, a partir do diagnóstico de possíveis melhorias na política.
"A desoneração não é ineficiente, ela tem impactos importantes sobre a população mais pobre, basicamente porque o consumo é decrescente com a renda, sobretudo com alimentos. Então, na hora em que desonera, privilegia o consumo dos mais pobres. Os ricos se beneficiam também, mas, no aspecto distributivo, ele [o benefício] é progressivo", diz Firpo.
Os dados mostram que os mais pobres gastam quase 30% de sua renda com alimentação, enquanto os mais ricos destinam um percentual menor, próximo a 10%.
Mesmo assim, o secretário afirma que a política pode ser aperfeiçoada em termos de focalização. Para isso, é preciso saber qual é seu objetivo central. Ele cita exemplos de metas e soluções que poderiam ser adotadas para cada uma delas.
Para atender aos mais pobres, o governo poderia desonerar menos produtos e concentrar recursos no "cashback", mecanismo de devolução de tributos pagos por famílias que cumprem determinados critérios (como ser de baixa renda). A PEC já prevê essa possibilidade, embora ainda não haja clareza suficiente de como o sistema seria colocado em prática.
Para fomentar uma alimentação mais saudável, independentemente da renda das famílias, o governo poderia isentar produtos com esse perfil e excluir da cesta básica alimentos ultraprocessados, prejudiciais à saúde.
Hoje, cinco categorias alcançadas pela desoneração incluem alimentos ultraprocessados, entre eles margarina e preparações compostas para bebidas não alcoólicas —por exemplo, refrigerantes.
"Tem uma série de discussões, depende muito do objetivo da política. Os ultraprocessados devem estar nessa cesta? O objetivo é reduzir insegurança alimentar? Uma desoneração total dos produtos não está focando aqueles mais propensos a terem insegurança alimentar", afirma Firpo.
Segundo ele, uma política mais focalizada gera, consequentemente, maior eficiência no uso dos recursos públicos. "Temos que entender por que vamos criar essa exceção [ao pagamento de tributos]", diz.
Simulações já realizadas por técnicos do Executivo mostram que o fim da desoneração, acompanhada de uma redução geral de 1,5 ponto percentual nas alíquotas de PIS/Cofins sobre todos os produtos, compensaria a perda de renda das famílias, sem impulsionar a inflação nem prejudicar a atividade econômica.
Eventuais impactos negativos sobre o poder de compra da população mais pobre também poderiam ser compensados por um aumento nas transferências de renda, focadas nas famílias mais vulneráveis.
"A combinação de redução de alíquotas de PIS/Confins para todos os produtos com aumento nas transferências de renda, portanto, poderia trazer ganhos de eficiência econômica e redução de desigualdades, além de dar mais transparência ao orçamento público ao explicitar quem são os principais beneficiados por essas medidas", diz o documento.
A iniciativa de lançar os boletins busca disseminar os resultados de estudos já realizados no âmbito do CMAP (Conselho de Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas) nos últimos anos.
"Queremos contribuir para o debate conjuntural, que muitas vezes carece de informações sobre os benefícios que as políticas públicas geram", diz Firpo.
"Muitos têm discutido o valor das novas alíquotas, o impacto das exceções setoriais, mas tem se discutido pouco o impacto para além do fiscal. A gente tem uma noção do custo, mas não tem clareza sobre os benefícios, e queremos contribuir para esse debate mais específico", acrescenta.
O Governo escanteia técnicos e politiza apagão que atingiu 25 estados e DF
Nicola Pamplona / FOLHA DE SP
Embora ainda não haja comprovações de que o apagão desta terça-feira (15) tenha sido responsabilidade da Eletrobras, governo e aliados passaram o dia relacionando, direta ou indiretamente, a ocorrência com a privatização da maior empresa de energia do país.
O tema esteve em posts em redes sociais, por exemplo, da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e de influenciadores petistas. E foi reforçado pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, em entrevista a jornalistas para falar do apagão.
"É importante que uma empresa estratégica como a Eletrobras tenha uma sinergia muito grande com o poder público. Porque é do poder público que a sociedade pede respostas", disse o ministro. "Por isso sou crítico a um setor tão estratégico para o Brasil estar completamente privatizado."
A Eletrobras, porém, não costumava participar das primeiras entrevistas sobre apagões nem mesmo em gestões petistas anteriores, quando a empresa ainda era controlada pelo Estado brasileiro.
Essa missão era dada a técnicos responsáveis pela operação, regulação e planejamento do setor, como o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e a EPE (Empresa de Pesquisa Energética).
Nesta terça, eles até estavam ao lado de Silveira durante a entrevista, mas só o ministro falou. Falou pelo ONS quando especulou sobre as causas da ocorrência, falou pela Aneel quando prometeu punições a eventuais responsáveis pelo corte no fornecimento.
Se antecipou à investigação técnica ainda não concluída ao dizer que ao menos dois eventos causaram a queda de energia e, sem provas, sugeriu indícios de sabotagem na rede, como as verificadas no início do ano, em protesto contra a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022.
"O fato de o evento ter acontecido nesse horário da manhã, da forma em que aconteceu, nos incita a estarmos pormenorizadamente pedindo para que outros ministérios, mais especializados na apuração de eventuais práticas que não coadunam com o que é importante para o setor, participem conosco na apuração", afirmou.
A primeira grande crise do setor elétrico brasileiro no terceiro mandato de Lula mostrou que o governo preferiu politizar o apagão a deixar os técnicos trabalharem.
Um governo que, quando na oposição, fez justas críticas à politização da pandemia por seu antecessor, que desconsiderou pareceres técnicos e preferiu conselhos políticos para definir suas estratégias no enfrentamento da maior crise sanitária da história.
Governo escanteia técnicos e politiza apagão que atingiu 25 estados e DF
Nicola Pamplona / FOLHA DE SP
Embora ainda não haja comprovações de que o apagão desta terça-feira (15) tenha sido responsabilidade da Eletrobras, governo e aliados passaram o dia relacionando, direta ou indiretamente, a ocorrência com a privatização da maior empresa de energia do país.
O tema esteve em posts em redes sociais, por exemplo, da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e de influenciadores petistas. E foi reforçado pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, em entrevista a jornalistas para falar do apagão.
"É importante que uma empresa estratégica como a Eletrobras tenha uma sinergia muito grande com o poder público. Porque é do poder público que a sociedade pede respostas", disse o ministro. "Por isso sou crítico a um setor tão estratégico para o Brasil estar completamente privatizado."
A Eletrobras, porém, não costumava participar das primeiras entrevistas sobre apagões nem mesmo em gestões petistas anteriores, quando a empresa ainda era controlada pelo Estado brasileiro.
Essa missão era dada a técnicos responsáveis pela operação, regulação e planejamento do setor, como o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e a EPE (Empresa de Pesquisa Energética).
Nesta terça, eles até estavam ao lado de Silveira durante a entrevista, mas só o ministro falou. Falou pelo ONS quando especulou sobre as causas da ocorrência, falou pela Aneel quando prometeu punições a eventuais responsáveis pelo corte no fornecimento.
Se antecipou à investigação técnica ainda não concluída ao dizer que ao menos dois eventos causaram a queda de energia e, sem provas, sugeriu indícios de sabotagem na rede, como as verificadas no início do ano, em protesto contra a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022.
"O fato de o evento ter acontecido nesse horário da manhã, da forma em que aconteceu, nos incita a estarmos pormenorizadamente pedindo para que outros ministérios, mais especializados na apuração de eventuais práticas que não coadunam com o que é importante para o setor, participem conosco na apuração", afirmou.
A primeira grande crise do setor elétrico brasileiro no terceiro mandato de Lula mostrou que o governo preferiu politizar o apagão a deixar os técnicos trabalharem.
Um governo que, quando na oposição, fez justas críticas à politização da pandemia por seu antecessor, que desconsiderou pareceres técnicos e preferiu conselhos políticos para definir suas estratégias no enfrentamento da maior crise sanitária da história.
Lula tem aprovação de 60%; avaliação melhora entre evangélicos e em reduto de Bolsonaro, diz Quaest
Por Gabriel de Sousa / O ESTADÃO DE SP
BRASÍLIA - Uma nova pesquisa de avaliação de governo indicou que 60% dos eleitores brasileiros aprovam o trabalho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Esse é o maior índice já registrado pela série histórica do levantamento Genial/Quaest, iniciada em fevereiro. Lula também teve uma melhora entre evangélicos e moradores da Região Sul, agrupamentos que concentram um grande número de eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A avaliação do trabalho feito pelo petista cresceu quatro pontos percentuais em comparação à pesquisa anterior feita em junho pela Quaest. 35% do eleitorado disse que desaprova a atuação do presidente, porcentual cinco pontos abaixo do registrado na pesquisa anterior.
Na avaliação geral do governo, 42% consideram positivo mandato do chefe do Executivo, um crescimento de 5 pontos percentuais em comparação com o estudo anterior. Outros 29% avaliaram como regular o desempenho da gestão petista e 24% qualificam como negativo. Em junho, a reprovação do governo estava na casa dos 27%.
Aprovação cresce entre evangélicos e na Região Sul
A aprovação de Lula também aumentou entre o grupo evangélico que, nas eleições de outubro, foi um público-alvo da campanha do ex-presidente Jair Bolsonaro. Em junho, 44% aprovaram o trabalho feito pelo petista, agora, 50% avaliam positivamente. Os que desaprovavam eram 51% e passaram a ser 46%, uma redução de cinco pontos percentuais.
Na região Sul, também houve resultados positivos para o presidente. O sua aprovação subiu de 48% para 59%, um crescimento de 11 pontos percentuais. A sua rejeição também caiu em 11 pontos, diminuindo de 49% para 38%. Nas eleições de outubro, Bolsonaro venceu por 58,9% a 41,1%, uma diferença de quase três milhões de votos válidos. Pela primeira vez desde o início da série histórica, o trabalho feito por Lula é mais aprovado do que rejeitado em todas as cinco regiões do País, com destaque ao Nordeste, tradicional reduto petista, onde 72% apoiam a sua gestão.
Entre aqueles que disseram que votaram em Bolsonaro no segundo turno, 70% desaprovam o petista, com uma redução de seis pontos percentuais comparado à pesquisa feita em junho pela Quaest, que estimou a rejeição deste público em 76%. A aprovação do petista entre os eleitores do ex-presidente cresceu de 22% a 25%.
Economia, o maior problema
A percepção sobre os rumos da economia nos próximos 12 meses é positiva para 59% e negativa para 22%, o que pode ter um peso importante para a melhora da avaliação do petista atestado pelo instituto de pesquisas. O tema foi apontado como o maior problema atual do País por 31% dos entrevistados, sendo seguido por questões sociais, com 21% das respostas.
Perguntados sobre programas feitos pelo governo nos sete primeiros meses de mandato, dois projetos se destacaram entre os respondentes: o Plano Safra, que dá fomentos à agricultura, foi aprovado por 79%, e o Desenrola, que promove a renegociação de dívidas, foi avaliado como positivo por 70% do eleitorado.
O único resultado negativo, segundo a Quaest, foi a avaliação geral do governo entre aqueles que recebem mais do que cinco salários mínimos. A reprovação do Executivo cresceu de 33% para 36%, enquanto que a sua aprovação subiu de 29% para 34%. Deste grupo, 28% consideram o mandato como regular. Recentemente, o Palácio do Planalto revelou o objetivo de aumentar a taxação dos “super-ricos” através de um projeto que deve ser enviado à Câmara dos Deputados ainda neste mês de agosto.
Eleitorado vê melhora em relação com o Congresso
A Quaest também perguntou aos entrevistado as suas avaliações sobre a relação entre Lula e o Congresso Nacional. 43% disseram que Lula está tendo uma maior facilidade do que o ex-presidente Bolsonaro em discutir com os parlamentares, um crescimento de 12 pontos percentuais comparado à última pesquisa. 38% analisaram que o presidente está tendo uma maior dificuldade, 13 pontos a menos do que em junho. Atualmente, o petista trabalha para incluir o Centrão no governo, com o objetivo de melhorar a sua governabilidade
A pesquisa da Quaest ouviu 2.029 pessoas entre os dias 10 e 14 de agosto, em entrevistas presenciais que utilizaram questionários estruturados. A margem de erro da pesquisa é de 2.2 pontos percentuais para mais e para menos e o nível de confiabilidade é de 95%.
Petrobras vai pagar parte do ajuste fiscal prometido por Haddad para 2024 com acordo do Carf
Por Adriana Fernandes e Mariana Carneiro / o estadão de sp
BRASÍLIA – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, negocia com o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, um acordo para a companhia pagar pelo menos R$ 30 bilhões para encerrar litígios com a Receita Federal com base nas regras do projeto do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). O acordo é a principal fonte de arrecadação com que conta o governo para atingir a meta de zerar o rombo das contas públicas no ano que vem. O avanço, porém, depende de aprovação do projeto de lei no Senado.
Haddad e Prates negociam as condições e o prazo para o pagamento no momento em que a petrolífera já anunciou um programa de recompra de ações, que também consome recursos da empresa. Os valores em discussão ainda não estão fechados e, no governo, há a defesa para que o valor suba para R$ 50 bilhões. Segundo fontes envolvidas na negociação, Prates sinalizou que a companhia poderia arcar com 30% do valor total do passivo no Carf no curto prazo.
O Carf é o tribunal administrativo onde é possível recorrer de autuações da Receita Federal. O projeto de lei que tramita no Senado assegura a volta do chamado voto de qualidade (espécie de voto de minerva) da Receita nas decisões em que houver empate e trata das regras para as empresas regularizarem os débitos.
O projeto permite, entre outros pontos, o cancelamento das multas e representação fiscal para fins penais nos casos em que o julgamento foi favorável ao governo. Os débitos já inscritos em dívida ativa da União em discussão judicial que tiverem sido resolvidos favoravelmente à Fazenda Pública também poderão ser objeto de proposta de acordo de transação tributária específica, de iniciativa da empresa.
O Estadão apurou que o governo conta com cerca de R$ 90 bilhões no caixa decorrente da aprovação do projeto do Carf. O texto já foi aprovado pelos deputados em junho e, por isso, a expectativa do governo é que não seja contaminado pela mais recente crise aberta pelas declarações de Haddad sobre o que ele considera ser “poder muito grande” da Câmara.
Na última sexta-feira, Haddad disse que, para 2024, um terço do ajuste fiscal prometido virá do projeto do Carf, no que fontes do governo atribuem à Petrobras. A estatal também pode fazer depósitos judiciais para continuar nos casos em que a companhia entender que pode vencer o litígio. Os depósitos entram como receita primária.
“Eu penso que é uma lei que vai passar no Senado. Isso aí é quase um terço do nosso problema, essa lei do Carf”, disse Haddad, no Rio.
Medidas ‘Robin Hood’
O governo também conta outras medidas para reforçar o caixa. Há uma necessidade em torno de R$ 130 bilhões de aumento de arrecadação. Entre as medidas está a mudança na tributação de fundos exclusivos de investidores de alta renda e de investidores fora do País, conhecidos como offshore.
Essas medidas, chamadas de “Robin Hood”, por terem como foco a população de mais alta renda, enfrentam resistências do Congresso. Os fundos exclusivos podem render cerca de R$ 26 bilhões, mas o governo, ao enviar a proposta ao Congresso, deve fazer uma projeção mais conservadora, entre R$ 10 bilhões e esse valor.
A equipe econômica também estuda mudanças no instrumento de Juros sobre Capital Próprio (JCP), mecanismo criado após o Plano Real, com o fim da correção monetária sobre os balanços. O JCP é uma forma que as grandes empresas usam para remunerar seus acionistas, cuja despesa pode ser deduzida do imposto a pagar - ou seja, pagar menos imposto. Dessa forma, o pagamento de JCP estimula o uso de capital próprio das empresas, ao rebaixar o custo do uso de recursos do acionista em projetos de investimento.
Dessas iniciativas, apenas a que taxa investimentos no exterior (offshore) já iniciou a discussão no Congresso. Por iniciativa do governo, a tributação foi incluída no relatório que tratou da nova regra de correção do salário mínimo. A medida provisória, porém, está prestes a perder a validade. Ontem, Haddad afirmou que, caso a medida caduque, no próximo dia 28, o governo irá enviar um projeto de lei com a medida.
As demais propostas têm de ser enviadas ao Congresso até o fim deste mês para serem computadas como possíveis fontes de receita no Orçamento de 2024.
Caso os projetos não avancem, o governo poderá indicar até o ano que vem novas fontes de receita para cobrir a previsão contida nessas propostas. Não se descarta que mais recursos extraordinários possam ajudar, como o pagamento de um passivo da Caixa, no valor de R$ 12 bilhões, assim como a entrada de recursos por meio do pagamento de outorgas de concessões.
Procurada, a Petrobras não se manifestou.
Lula diz que polícia precisa diferenciar pobre de bandido após adolescente ser morto no Rio
Por Rayanderson Guerra /O ESTADÃO DE S
RIO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou a política de segurança pública do Rio de Janeiro ao lamentar que Thiago Menezes Flausino, de 13 anos, foi morto a tiros pela Polícia Militar durante uma operação na Cidade de Deus no domingo, 6. Ao lado do governador do Estado, Cláudio Castro, o petista afirmou que os agentes precisam ser preparados para “diferenciar o que é um bandido e o que é um pobre que anda na rua”.
“Precisamos criar as condições para a polícia combater o crime, mas, ao mesmo tempo, essa ser eficaz e saber diferenciar o que é um bandido e o que é um pobre que anda na rua”, afirmou Lula.
O presidente evitou culpar Castro e a PM do Rio pela morte do adolescente, e disse que o governo federal precisa assumir a responsabilidade de auxiliar os governadores na Segurança Pública.
“O governo federal tem que assumir responsabilidade de ajudar os governadores no combate à violência porque o crime organizado está tomando conta do País”, disse.
Moradores da Cidade de Deus e parentes acusam a PM de atirar contra Thiago sem qualquer abordagem ou critério. De acordo com testemunhas, a polícia “chegou atirando”.
Aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Castro foi vaiado pelos apoiadores do presidente durante o evento de anúncio de investimentos na capital fluminense. Lula chegou a defender Castro e disse que “a eleição acabou”.
Os aportes na capital fluminense, além de atender a um dos principais cabos eleitorais do petista na eleição passada, o prefeito Eduardo Paes (PSD), buscam “sufocar” o bolsonarismo.
Para ampliar a influência no berço político do ex-presidente Bolsonaro, Lula e Paes escolheram Campo Grande, o bairro mais populoso do País, com cerca de 400 mil moradores, para a cerimônia da manhã desta quinta.