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Projetos em fase inicial ou ainda no papel são obstáculo para ‘ano da colheita’ anunciado pelo presidente Lula

Por  e  — Brasília / O GLOBO

 

 

A 43 quilômetros do Palácio do Planalto, o pedreiro Luiz Chagas, de 58 anos, vive em um barraco sem banheiro na Sol Nascente, a maior favela do Distrito Federal. Em uma casa de paredes de madeira, telhado de amianto e o chão de cimento, ele costuma encher um balde para tomar banho do lado de fora. No local improvisado, não há privada nem fossa.— Faço minhas necessidades em sacos e papéis e jogo para a terra adubar — diz ele.

 

A exemplo da casa do pedreiro de Brasília, em mais de 1 milhão de domicílios do país não há banheiro, de acordo com o Censo de 2022. A situação levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a anunciar, em novembro do ano passado, que o Ministério das Cidades apresentaria um plano para resolver o problema.

Mas, diferentemente da intenção do petista, repetida em discursos, de fazer de 2025 o “ano da colheita”, o ministro Jader Filho disse que ainda discute um cronograma para zerar o déficit e admite que o programa esbarra nos custos elevados, que variam de R$ 11 bilhões a R$ 18 bilhões.

 

‘2026 já começou’

A pressão de Lula para que seus auxiliares apresentem resultados tem por trás um cálculo político de que “2026 já começou”, como ele próprio declarou na primeira reunião ministerial do ano, em janeiro. A preocupação é ainda não ter conseguido imprimir uma marca da sua terceira gestão, como foram o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida em seus primeiros mandatos.

 

A tentativa de mostrar resultados se intensificou após pesquisas de avaliação do governo mostrarem queda na popularidade do presidente. Segundo levantamento do Datafolha divulgado na sexta-feira, a avaliação positiva do petista desabou de 35% para 24%, atingindo o pior patamar dos seus três mandatos.

 

O resultado negativo foi divulgado no mesmo dia em que Sidônio Palmeira completou um mês como ministro da Secretaria de Comunicação Social, em uma tentativa do governo de impulsionar ações positivas. A pasta de Jader Filho não é a única a enfrentar obstáculos. A lista inclui iniciativas dos ministérios da Saúde, Justiça, Integração Nacional, Trabalho, Mulheres e Povos Indígenas.

 

Uma das principais apostas do petista está na Saúde. A ministra Nísia Trindade tenta impulsionar o Programa Mais Acesso a Especialistas, que tem como meta ampliar a oferta de consultas, exames e cirurgias na rede pública. A iniciativa, contudo, avança a passos lentos e chegou à marca de 99% dos municípios do país atendidos só em fevereiro, dez meses após ter sido lançado. Lula cobrou Nísia em reuniões no fim do ano passado.

 

Em nota, o ministério afirma que o programa “representará um novo salto no acesso a tratamento especializado pelo SUS em uma lógica de cuidado que prioriza a jornada do paciente”. Ainda assim, a avaliação de integrantes da pasta é que, por ser uma política estruturante, só mostrará resultados a médio e longo prazo, não podendo ser usado como vitrine eleitoral por Lula.

 

Enquanto isso, na pasta das Mulheres, a promessa de redução do número de feminicídios também segue a passos lentos. De acordo com os dados do último Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 2023 teve recorde de casos, além de registrar altas taxas de estupros.

 

Ao mesmo tempo, uma das principais iniciativas da pasta para combater a violência contra as mulheres, a reformulação do Ligue 180, ainda não foi concluída. Apesar de ter contratado equipe especializada para atender o canal, o ministério ainda sofre com a falta de dados e tenta firmar acordos com estados para saber, por exemplo, de onde a ligação é feita para poder dar andamento às denúncias.

 

— Precisamos aumentar a capilaridade, chegar nos municípios. Sei que a redução de feminicídio é um processo a médio e longo prazo, mas o que me interessa mais é ter engajamento, outras pessoas fazendo denúncia, tendo conscientização — disse a ministra Cida Gonçalves.

 

Outra área que o governo tem sido mal avaliado, a segurança pública encontra suas principais ações travadas. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que aumenta o papel do governo federal na área, carro-chefe de Ricardo Lewandowski no Ministério da Justiça, ficou meses parada na Casa Civil. Agora, passa por novos ajustes na Secretaria de Relações Institucionais. “O ministro levou em consideração parte substancial das preocupações manifestadas pelos governadores”, disse a pasta, em nota, ao justificar o fato de a medida apresentada em julho de 2024 ainda não ter sido enviada ao Congresso.

 

Já no Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes ainda não conseguiu lançar o Plano Nacional de Proteção e Defesa Civil, importante para a gestão de risco de desastres. A previsão era que o lançamento ocorresse no segundo semestre de 2024. Procurado, o ministério não respondeu se há nova previsão. A falta de um sistema de alertas eficaz está entre as preocupações de quem precisou sair de casa e teve prejuízos com as inundações no Rio Grande do Sul em maio do ano passado.

 

— Quando estava quase estourando os diques, o governo simplesmente mandou a população ficar calma que não haveria risco. Faltou a parte do governo de alertar a população, mandar evacuar as casas — critica Maicon Vaz, mecânico morador de Canoas (RS).

 

Sem previsão

Algumas iniciativas não têm previsão de entrega. Entre elas está a regulamentação do trabalho de motoristas e entregadores de aplicativo, promessa de Lula na campanha. O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, enviou, no ano passado, um projeto ao Congresso prevendo regras para os motoristas. O formato do texto, contudo, repercutiu mal na categoria. A parte dos entregadores também não avançou. E Lula nunca mais falou disso. A pasta não comentou.

 

Lula enfrenta cobranças até em grupos que apoiaram a sua eleição. Durante a Cúpula Social do G20 em novembro, no Rio, representantes de povos indígenas protestaram. Entre as pautas está a aprovação da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI), que prevê ações para proteger terras demarcadas.

 

Kleber Karipuna, coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), afirma que poucos pontos da política estão sendo implementados:

— Fomos para a rua em 2022 apostando nesse projeto e ainda estamos esperançosos. Em nota, o Ministério dos Povos Indígenas afirmou que tem entre as prioridades a “criação e fortalecimento de mecanismos de financiamento para políticas públicas voltadas aos povos indígenas, como a PNGATI”.

 

Cientista político da Universidade do Estado do Rio, Christian Lynch vê Lula se baseando em um modelo eleitoral antigo, em que o bom resultado das políticas sociais seriam suficientes para angariar votos: — O mundo mudou. A onda que levou ao poder a extrema direita é duradoura. Em 2010 não havia acirramento ideológico. Já para a cientista política Flávia Biroli, da Universidade de Brasília, questões como falta de articulação do próprio governo e limitações orçamentárias explicam a dificuldade dos ministérios em tirar os projetos do papel: — Há uma pressão grande por ajustes, que limitam a capacidade de atuação dos governos em benefício da população. Como se faz política pública sem orçamento ou com orçamento baixo?

Veja quando vale a pena refinanciar o consignado do INSS com o novo prazo

Ana Paula Branco / FOLHA DE SP

 

 

São Paulo

Aposentados e pensionistas do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e beneficiários do BPC (Benefício de Prestação Continuada) podem ter um ano a mais de prazo para quitar um empréstimo consignado desde o último dia 6 de fevereiro. O governo federal ampliou de 84 meses para 96 meses o tempo máximo para quitar a dívida na modalidade de crédito com os juros mais baratos do mercado.

De acordo com o INSS, o número de beneficiários que têm ao menos um contrato de empréstimo ativo neste mês supera os 15,4 milhões.

Com o novo prazo, esses beneficiários podem considerar reduzir o valor das parcelas, estendendo o tempo do contrato, ou contratar um valor adicional de um empréstimo ativo. Eles também têm a opção de realizar a portabilidade do seu empréstimo consignado de um banco para outro com prazo maior.

O empréstimo consignado do INSS é uma modalidade de crédito controlada pela Previdência Social, onde o pagamento das parcelas é descontado diretamente da folha de pagamento do beneficiário. De acordo com as regras atuais, o segurado do INSS pode comprometer até 45% do valor do benefício para essa modalidade de crédito.

 

Desse total, 35% podem ser destinados ao empréstimo pessoal, 5% ao cartão de crédito consignado e 5% ao cartão de benefício.

O teto dos juros cobrados em empréstimos consignados do INSS passou para 1,80% ao mês. No cartão de crédito consignado e no cartão de benefício, sobe para 2,46%.

 

Atualmente, 78 instituições financeiras conveniadas operam o consignado. Bancos como Caixa, Bradesco, C6 Bank e Itaú já aceitam a renegociação e a contratação de crédito consignado do INSS com prazo ampliado.

De acordo com Tulio Oliveira, diretor executivo de negócios digitais do Bradesco, nas primeiras 24 horas, mais de 10 mil clientes fizeram novas contratações e ou renegociações com o banco

Os bancos podem exigir um tempo mínimo de pagamento antes de permitir o refinanciamento para garantir que o cliente tenha capacidade de pagamento. Em geral, é preciso ter de 15% a 30% das parcelas quitadas para conseguir refinanciar o consignado.

Ao analisar a opção de um refinanciamento, o credor deve se atentar ao seu planejamento financeiro. Se ampliar o número de parcelas e reduzir o seu valor vai ajudar a equilibrar o orçamento, por exemplo, a alternativa pode ser positiva.

No entanto, embora a taxa máxima de juros tende a ser mais baixa do que a de outras operações de crédito devido à garantia da folha de pagamento, ela foi reajustada recentemente. Por isso, quem pegou empréstimo com juro abaixo de 1,80% ao mês deve fazer as contas se refinanciar em mais parcelas valerá a pena.

Além disso, em caso de portabilidade, é importante considerar as tarifas administrativas e outros encargos que podem ser cobrados e verificar se há a exigência de seguros.

De acordo com dados do Ministério da Previdência, cerca de 90% dos segurados que contratam o consignado tomam novos empréstimos para desafogar o orçamento. Em dezembro de 2024, havia mais de 48 milhões de contratos ativos de empréstimo consignado, mais de 10 milhões de contratos de cartão de crédito consignado e outros mais de 5 milhões de contratos do cartão consignado de benefício.

"Refinanciar repetidamente pode levar a um ciclo de endividamento, onde o crédito constantemente renovado e os juros pagos aumentam significativamente essa dívida. É preciso avaliar o impacto no longo prazo. Mesmo que a parcela fique menor, o refinanciamento pode estender a dívida por muitos anos, aumentando o valor total pago", afirma Rafaela de Sá, planejadora financeira pela Planejar.

A orientação da especialista é ler todas as cláusulas do contrato com atenção para entender todos os custos envolvidos antes de optar pelo refinanciamento e analisar se o novo valor será sustentável dentro do orçamento mensal.

Prazos muito longos podem reduzir a parcela mensal, mas tende a aumentar o custo total da dívida

Rafaela de Sá

planejadora financeira CFP pela Planejar

A pedido da Folha o advogado Wagner da Silva e Souza, sócio do escritório Roberto de Carvalho Santos e Wagner Souza Sociedade de Advogados, simulou quanto ficam as parcelas de um empréstimo refinanciado até 96 vezes. Para o cálculo foi utilizada a taxa máxima de juros em vigor para empréstimo consignado do INSS, de 1,80%.

O QUE CONSIDERAR ANTES DE REFINANCIAR O EMPRÉSTIMO

TAXAS DE JUROS MAIS BAIXAS

Se você consegue um refinanciamento com taxas de juros menores do que as do empréstimo original, pode ser uma boa oportunidade transferir a dívida para outro banco para reduzir o custo total do crédito, diminuindo o valor das parcelas mensais ou até mesmo o total pago ao final.

Mas quando o beneficiário está próximo de quitar o empréstimo, os custos de um novo financiamento podem não compensar.

NECESSIDADE DE REDUZIR AS PARCELAS

Caso o valor das parcelas do empréstimo consignado esteja pesando no seu orçamento, refinanciar em mais vezes pode ajudar a diminuir esse valor, estendendo o prazo de pagamento e, assim, proporcionando um alívio financeiro.

CONSOLIDAÇÃO DE DÍVIDAS

Se você tem mais de um empréstimo consignado ou outros tipos de dívida com juros mais altos, refinanciar pode ser uma forma de consolidá-las em um único empréstimo, o que pode ajudar a organizar suas finanças.

MELHORA NO PERFIL DE CRÉDITO

Se a sua situação financeira melhorou desde que você contratou o empréstimo, é possível que você consiga condições mais vantajosas ao refinanciar.

CUSTO TOTAL

Mesmo com parcelas menores, o refinanciamento pode aumentar o custo total do empréstimo se o prazo for muito mais longo. Avalie sempre o impacto no valor total pago ao final.

CUIDADO COM ARMADILHAS

Alguns refinanciamentos podem envolver taxas e custos adicionais, que tornam a operação menos vantajosa do que parece à primeira vista.

Antes de decidir refinanciar, faça uma simulação do novo empréstimo, verifique as taxas de juros e analise o impacto no seu orçamento.

QUANTAS PARCELAS DEVEM ESTAR PAGAS PARA O BANCO LIBERAR O REFINANCIAMENTO

Considerando que, no geral, os bancos exigem de 15% a 30% do empréstimo pago para aceitar refinanciar o contrato, para refinanciar um consignado de 84 parcelas para 96 parcelas, é necessário ter de 13 a 25 parcelas quitadas.

Entidades ocultam pagamentos que rendem salário anual extra de até R$ 257 mil a ministros de Lula

Por Weslley Galzo / O GLOBO

 

 

BRASÍLIA - Duas das mais proeminentes instituições do Sistema S, o Sesc e o Senac contam com ministros de Estado em seus conselhos fiscais. As duas entidades estão submetidas à Lei de Acesso à Informação (LAI), o que as obriga a fornecer dados abertos das suas atividades, porém ambas têm omitido os valores pagos a parte dos integrantes do primeiro escalão do governo Lula que integram os seus quadros.

 

O Sesc conta com os ministros Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais) e Luiz Marinho (Trabalho e Emprego) em seu conselho fiscal, mas forneceu ao Portal da Transparência da União apenas os valores pagos ao titular da SRI .

 

Procurada, a instituição não se manifestou. O Senac também não retornou aos contatos do Estadão, assim como os ministros.

 

Entre janeiro e outubro de 2024, Padilha participou de duas reuniões na instituição, segundo informações da sua agenda oficial. Recebeu R$ 28 mil por mês em honorários, também conhecidos como “jetons”. Ao final daquele ano, o ministro somou R$ 257 mil, o equivalente a R$ 128,5 mil por reunião, de acordo com os dados do Portal da Transparência. Já Marinho, que participou de seis encontros no mesmo período, não teve os seus pagamentos divulgados pelo Sesc.

 

O mesmo cenário se repetiu no Senac. Desta vez, com os ministros Marcio Macêdo (Secretária-geral da Presidência) e Camilo Santana (Educação). O ministro palaciano esteve presente em sete encontros do conselho fiscal do Senac e acumulou R$ 129 mil ao longo do último ano.

 

O Senac diz pagar R$ 5 mil por reunião do Conselho, mas Macêdo recebeu R$ 21 mil em seis meses de 2024. Santana, por sua vez, participou de ao menos um encontro de conselheiros, em junho do ano passado, segundo publicação da entidade, mas não teve os eventuais valores recebidos disponibilizados.

 

O Estadão questionou o Senac e o Sesc sobre o número de reuniões que contaram com a participação de ministros e os respectivos valores recebidos por eles para contrastar com as informações disponíveis no Portal da Transparência, porém ambas não retornaram ao contato.

 

Na avaliação da diretora de programas da Transparência Brasil, Marina Atoji, as entidades descumprem a Lei de Acesso à Informação. “É uma violação direta da lei, porque a LAI determina claramente que as informações a serem divulgadas têm que ser íntegras e atualizadas. Se não há informação completa, já tem a violação desse princípio da lei”, afirmou.

 

A Controladoria-Geral da União (CGU), que mantém o Portal da Transparência e fiscaliza o cumprimento da LAI, afirmou em resposta ao Estadão que as entidades do serviço social autônomo (Sistema S) estão submetidas à lei, “o que alcança as obrigações de transparência ativa a partir dos próprios sítios eletrônicos”.

 

Uma portaria conjunta editada pela CGU e pelo antigo Ministério da Economia durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) obriga as instituições a divulgarem em seus sites os “valores efetivamente pagos a título de remuneração ou ‘jetons’ para os membros dos conselhos fiscais, de administração ou similares, quando houver”.

 

Na resposta ao Estadão, a CGU também afirmou que a “obrigação primária” de divulgação é do Sistema S. No entanto, Atoji pondera que, embora a CGU não seja a autoridade responsável pelo monitoramento dessas entidades, é dever da instituição garantir que as informações fornecidas no Portal da Transparência sejam “o mais fidedignas e completas possível”.

 

Além de Sesc e Senac, as empresas Itaipu Binacional, Apex Brasil e Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) também têm ministros entre os seus conselheiros. A Apex e a ABDI não remuneram os membros dos seus respectivos conselho. A Itaipu, por outro lado, historicamente não divulga os valores pagos aos membros do seu conselho de administração. Mas, como mostrou o Estadão, a remuneração prevista em 2024 era de R$ 34 mil para cada integrante.

 

Integram o conselho da Itaipu os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Rui Costa (Casa Civil), Esther Dweck (Gestão) e Alexandre Silveira. O vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, fazem parte do conselho fiscal da Apex, totalizando dez titulares de Ministérios com acentos em conselhos de instituições.

 

A Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu em maio de 2023 que as verbas recebidas por ministros de Estado pela participação em conselhos fiscais ou de administração em instituições estatais não estão sujeitas ao teto remuneratório do serviço público, que atualmente é de R$ 46 mil. 

 

Isso significa que os beneficiários dos jetons, como Padilha e Macedo, que acumularam respectivamente R$ 257 mil e R$ 129 mil, receberam esse valor adicional em suas contas como uma espécie de salário extra.

Datafolha: Governo Lula admite que crise de popularidade não se limita a comunicação

Catia SeabraVictoria Azevedo / FOLHA DE SP

 

Integrantes da gestão Lula (PT) avaliam que a queda acentuada na aprovação da atual gestão vai aumentar a pressão por uma reforma ministerial mais ampla, para abrir mais espaço para os partidos e criar uma blindagem ao governo. Aliados falam em uma "sacudida" no governo para reverter o quadro, impedindo assim que o petista ou eventual candidato apoiado por ele chegue em condição de fragilidade para a eleição presidencial de 2026.

 

A avaliação é que a baixa popularidade se deve à crise do Pix nas primeiras semanas do ano e também à alta no preço dos alimentos. Em relação a esse último, o governo tornou público o problema e prometeu agir, mas nenhuma medida concreta foi anunciada e a resposta ainda foi marcada por patinadas e polêmicas.

Uma ala também aponta que o resultado da pesquisa Datafolha evidencia que o problema do governo não era apenas de comunicação e sim estrutural, colocando no foco os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Fernando Haddad (Fazenda).
 

Pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira (14) mostrou que a aprovação de Lula desabou em dois meses, de 35% para 24%, chegando a um patamar inédito para o petista em suas três passagens pelo Palácio do Planalto. A reprovação também é recorde, passando de 34% a 41%. Acham o governo regular 32%, ante 29% em dezembro passado, quando o Datafolha havia feito sua mais recente pesquisa sobre o tema.

A situação é vista como preocupante por aliados, considerando que a maior queda ocorreu entre seus próprios eleitores.  O declínio foi de 20 pontos percentuais entre quem votou nele nas últimas eleições, contra 11 pontos na média geral. Se, em meados de dezembro, data do último levantamento, 66% desse grupo classificavam seu trabalho como ótimo ou bom, agora são 46%.
 

A leitura de alguns aliados, nos bastidores, é que Lula pode ter um choque de realidade pela primeira vez em seu terceiro mandato, após demonstrar uma certa empáfia nos primeiros dois anos da gestão, em particular pela falta de interlocutores fortes e próximos o suficiente para apontar o dedo para os problemas. Alguns integrantes do governo, no entanto, acreditam que o governo vai ter a coragem para promover agora as mudanças necessárias e a leitura do cenário para reagir ao momento. Além disso, citam que alguns focos de desgaste vão sendo contornados, com a previsão de melhora na inflação, com a queda do dólar e a perspectiva de uma supersafra —com impacto no preço dos alimentos.

 

"O presidente Lula tem a humildade e experiência necessárias para ler e a força e vigor adequados para reagir e mexer no que tem que ser mexido no segundo tempo do jogo. O IPCA de janeiro já foi o menor desde 2012, o dólar já tem trajetória de queda, com trabalho, sem truques ou malabarismos", afirmou o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.

Integrantes do governo apontam que o governo vai precisar repensar a reforma ministerial mais pontual, que estava em gestação. Será necessário, avaliam, abrir mais espaço para os partidos aliados e do centrão, mesmo que isso signifique a substituição de petistas.

Um aliado lembra a crise de 2005, quando a aprovação do primeiro governo Lula atingiu índices semelhantes, em particular após a crise do mensalão. Lula então fez uma reforma ministerial ampla, substituiu ministros fortes e os mandou de volta para o Congresso. No ano seguinte, garantiu a reeleição para um segundo mandato.

 

A avaliação de integrantes do centrão é que além de uma reforma ministerial mais ampla, é necessário repensar os nomes da "cozinha" do governo, como os ministros palacianos. Apesar disso, dizem que o Executivo só terá mudanças na sua popularidade se tiver uma melhora na economia. Eles citam que é necessário uma solução para a alta dos preços dos alimentos e novas propostas de corte de gastos.

 

Em relação à reforma ministerial, auxiliares de Lula consideram que será necessário garantir ainda mais a fidelidade das grandes bancadas, para controlar os humores dentro do Congresso. O objetivo é garantir o andamento da pauta do governo, sem nenhum percalço, e evitar prejuízos maiores em períodos de crise.

Esse é o primeiro levantamento do instituto medindo a aprovação da atual administração, após a troca no comando da área de comunicação, sempre apontada como um dos focos do problema.

 

No mês passado, o publicitário Sidônio Palmeira assumiu a Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência), em substituição ao deputado petista Paulo Pimenta (RS).

 

O novo ministro assumiu com alguns planos para melhorar a comunicação do governo, que foram divulgados durante reunião ministerial, no dia 20 de janeiro. O objetivo era justamente turbinar a publicidade. Ele pediu aos ministérios para fazerem um levantamento de projetos e ações, que possam ser divulgadas com destaque. Sidônio também pediu para ministros centralizarem no Planalto as ações e afinarem os discursos, para evitar dar munição para a oposição.

 

Mesmo com as novas diretrizes, o começo do ano foi marcado por uma série de polêmicas e focos de desgastes para o governo. A primeira delas foi a chamada crise do Pix, quando a Receita Federal editou uma norma que ampliou a fiscalização sobre transações de pessoa física com esse mecanismo. A medida foi usada pela oposição para disseminação de fake news sobre taxação do Pix, forçando o governo a recuar da medida.

 

O governo também trouxe para si uma nova crise com a questão do preço dos alimentos. O primeiro ruído aconteceu quando o ministro Rui Costa disse que o governo vai buscar um "conjunto de intervenções" para baratear o preço dos alimentos.

O mesmo ministro depois acabou virando alvo de críticas nas redes sociais, ao sugerir que a população deveria trocar a laranja por outra fruta, por causa do alto preço.

 

Lula ‘esnobou’ parlamentares e agora recebe recados de aliados: ‘não adianta chamar na eleição’

Relato foi feito à Coluna do Estadão por oito lideranças, da esquerda ao Centrão; a pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira, com recorde de reprovação do governo Lula e pior avaliação positiva em suas três gestões, piora o quadro e muitos já falam que nem querem mais o encontro porque o petista “pode ser tóxico” para eles em suas bases eleitorais

 

 

Por Roseann Kennedy e Iander Porcella / O ESTADÃO DE SP

 

Ao mesmo tempo em que amplia viagens pelo País para tentar resgatar sua popularidade, que entrou em queda livre, e chama o marqueteiro para turbinar a comunicação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mantém o gabinete fechado para a sua base. O petista “esnoba” deputados e senadores sem recebê-los para audiências, reclamam aliados. Agora, nomes de peso no Congresso começaram a mandar recados ao Planalto: “não adianta chamar na eleição”.

 

O mal-estar que já era grande ficou pior após a pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira, 14. Lula amarga uma marca inédita: em dois meses, caiu de 35% para 24%, e atingiu o pior índice de aprovação em seus três mandatos. A reprovação também é recorde, 41%, remetendo àquele antigo bordão do petista: “Nunca antes na história”.

 

O relato sobre o desdém do presidente foi feito à Coluna do Estadão por oito lideranças, da esquerda ao Centrão. São pessoas com cargos de destaque em partidos da base. Houve queixas até do PT, mas, neste caso, os integrantes da sigla sabem que não têm como se negar a atuar como cabos eleitorais em 2026, exceto que mudem de legenda.

 

Mas, se antes eles esperavam uma reunião ou um convite para um churrasco - algo que era comum ocorrer nos tempos do Lula 1 e Lula 2 -, muitos aliados agora começam a não querer mais o encontro. Até porque, alguns passaram a considerar que o aumento da avaliação negativa de Lula pode torná-lo “tóxico” em suas bases eleitorais. Ou seja, talvez agora seja melhor para os parlamentares se manterem afastados do governo para não serem “infectados” com a impopularidade presidencial.

 

Um político que costuma defender Lula lamentou que o presidente não tenha recebido os aliados nem para um “ fazer um retratinho”, enquanto estava em alta. Dessa forma, deputados e senadores se sentiriam minimamente prestigiados e teriam pelo menos uma foto com o presidente da República para mostrar a seus eleitores. Agora, vai ser mais difícil.

 

Fato é que, parlamentares frequentam tão pouco o Palácio do Planalto que, quando participam de eventos do governo, chegam a ser confundidos pela equipe de Lula. Há relatos de constrangimento.

 

A Coluna do Estadão mostrou em maio de 2023, no início do primeiro ano da gestão petista, que o Congresso já alertava Lula sobre o risco de ficar afastado de parlamentares. O presidente da República foi aconselhado a se reunir, por exemplo, com lideranças do Senado a cada 15 dias, o que nunca aconteceu.

 

Tombo na aprovação do governo faz Lula acelerar reforma ministerial e investir em pautas populares

Por Vera Rosa / O ESTADÃO DE SP

 

 

BRASÍLIA – A queda acentuada de aprovação do governo em um período de dois meses mostrou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a necessidade de acelerar a reforma ministerial para tentar imprimir outro ritmo à segunda metade de seu mandato. Em conversas reservadas, dois interlocutores de Lula disseram que o presidente está convencido de que precisará mudar a cara do governo e dar respostas rápidas sobre como enfrentar a alta de preços dos alimentos, se quiser ser candidato à reeleição, em 2026.

 

Pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira, 14, revelou a pior avaliação de Lula em todos os seus mandatos, superando até mesmo o índice de desapontamento verificado na crise do mensalão, em 2005. A aprovação do presidente caiu de 35% para 24%. O tombo foi ainda maior quando se analisa o grupo de eleitores que deu a vitória ao petista, em 2022, na disputa contra o então presidente Jair Bolsonaro (PL). Na lista estão os mais pobres, moradores do Nordeste e mulheres.

 

Antes mesmo desse levantamento, o novo ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Sidônio Palmeira, já dizia esperar nova queda de aprovação do presidente após as crises provocadas por notícias falsas sobre taxação do Pix e pelo preço caro dos alimentos.

 

Sidônio pediu um prazo de três meses para o governo começar a reagir. Foi por causa desse diagnóstico sombrio que Lula voltou a viajar e a dar mais entrevistas.

 

Na avaliação do ministro – que nesta sexta-feira, 14, completou 30 dias no cargo –, a crise não se resume, porém, a problemas de marketing. “A expectativa da população é muito grande frente aos mandatos anteriores”, afirmou Sidônio ao participar de plenária do PT, no mês passado. “Mas a comunicação não está apenas na Secom. Ela envolve todo o governo: a política, a gestão e a comunicação são interligadas, transversais. É importante que essas áreas trabalhem em conjunto.”

 

Lula vai fazer uma reforma ministerial para fortalecer a articulação política do governo no Congresso, a relação do Palácio do Planalto com movimentos sociais e tentar construir alianças nos Estados com setores de centro-direita.

 

O governo também aposta agora em propostas como a da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil para se aproximar da classe média. Outras medidas, como a da total gratuidade de 41 medicamentos do programa Farmácia Popular e um projeto de lei que tem o objetivo de oferecer gás de cozinha de graça para 22 milhões de famílias, são consideradas importantes para alavancar a popularidade do presidente. Além disso, o governo também vai anunciar uma nova modalidade de crédito consignado privado.

 

“Eu tenho certeza de que é possível virar o jogo ainda este ano”, argumentou o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ). “Perdemos muitos dos nossos eleitores após a fake news do Pix e a alta do preço dos alimentos, mas mas dá para recuperar. A economia cresceu, o desemprego é o menor desde 2012 e a renda dos trabalhadores subiu 11%. Só que as pessoas não ligam isso ao governo Lula.”

 

Questionado sobre o que é preciso ser feito para que o governo se reconecte com seus eleitores, Lindbergh respondeu: “Agora é ir para a disputa política porque a pauta de 2025 tem de estar focada na vida do povo. Não podemos ficar perdendo tempo com a Faria Lima.”

 

O tímido anúncio da ampliação da gratuidade do programa Farmácia Popular foi considerado um erro por setores do governo e do PT. A medida foi divulgada nesta quinta-feira, 13, pela ministra da Saúde, Nísia Trindade, no encerramento do Encontro de Novos Prefeitos e Prefeitas, em Brasília. “Isso é uma pauta muito boa. Não pode ser anunciada assim”, disse Lindbergh.

Aprovação de Lula cai para 24%, em pior marca de todos os seus mandatos, diz pesquisa Datafolha

Por Karina Ferreira / O ESTADÃO DE SP

 

 

A aprovação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou a uma marca inédita: em dois meses, caiu de 35% para 24%, atingindo o pior índice dos seus três mandatos na Presidência. De acordo com a pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira, 14, a reprovação do governo do petista também é recorde, passando de 34% para 41%.

 

“crise do Pix” e a alta no preço dos alimentos ajudam a explicar a queda da popularidade do presidente, que tem apostado na comunicação do governo para reverter a imagem ruim.

 

Segundo o instituto, 32% acham que o governo está regular, três pontos porcentuais a mais do que em dezembro do ano passado, na penúltima pesquisa. Foram ouvidas 2.007 eleitores entre os dias 10 e 11, em 113 cidades brasileiras. A margem de erro é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos.

 

Na série histórica da pesquisa, que avaliou os outros dois mandatos que o petista esteve no poder, Lula nunca chegou a um patamar tão baixo de aprovação. O pior índice havia sido no final de 2005, quando o PT atravessava o escândalo do mensalão, e chegou a 28% de avaliação “bom e ótimo”. Na penúltima pesquisa, em dezembro, foi o auge da avaliação ruim, com 34%.

 

A reprovação de Lula está um pouco pior do que a do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a essa mesma altura do mandato, quando marcava 40% de “ruim ou péssimo”, apenas um ponto porcentual de diferença. A aprovação, no entanto, estava sete pontos acima que a do petista, com 31%.

 

Entre os segmentos, a aprovação de Lula caiu de 44% para 29% entre os mais pobres, que recebem até dois salários mínimos (com margem de erro de três pontos), e 15 pontos, de 53% para 38%, entre os que estudaram até o ensino fundamental.

 

É a inflação, presidente

Por Vera Magalhães / O GLOBO

 

 

A pior aprovação de Lula em todos os seus mandatos, constatada por pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira, reflete um momento delicado de seu governo, em que o presidente evidencia a falta de projeto claro para o terceiro mandato, adota medidas e falas contraproducentes no afã de melhorar sua avaliação e flerta com aquela que é a principal razão do descontentamento de amplos espectros da população brasileira com ele: a inflação descontrolada.

 

Vamos aos números: segundo o Datafolha, Lula é considerado ótimo ou bom por 24% dos brasileiros. Eram 35% em dezembro, o que mostra uma erosão de 11 pontos percentuais em apenas dois meses. O petista faz um trabalho ruim ou péssimo para 41% do universo pesquisado, ante 34% que respondiam o mesmo há dois meses.

 

Nesse intervalo de tempo, o preço dos alimentos explodiu e o governo viveu duas crises que deixaram clara sua falta de rumo: a lambança da portaria da Receita sobre o Pix, que, por ter sido mal explicada, ensejou uma onda de desinformação segundo a qual o governo federal iria taxar o popular e gratuito meio de transferência de dinheiro, e a própria procura por medidas infrutíferas para controlar o preço dos alimentos.

 

Nesse segundo round, salta aos olhos uma contradição importante: embora pareça compreender o quanto a inflação descontrolada é fatal para qualquer governo, inclusive para o seu, Lula continua todos os dias fustigando o Banco Central, mesmo agora, que é comandado por Gabriel Galípolo, indicado por ele, pela alta dos juros --necessária justamente para tentar levar a inflação para a meta, que é fixada, diga-se, pelo CMN, integrado por dois ministros... de Lula! Mais inteligente para se livrar do mau humor de quem vai à feira ou ao mercado que sugerir que as troquem itens caros por outros mais baratos, o que é óbvio e denota desespero, seria fechar a matraca por uns meses e deixar o BC fazer seu trabalho.

 

Enquanto isso, o presidente deveria dedicar seu tempo e sua energia menos a entrevistas sem roteiro em que invariavelmente produz arsenal contra si --como foi esse caso da sugestão de apertar os cintos em vez de cumprir a promessa da picanha com cerveja-- e mais a descobrir qual a marca que quer deixar deste mandato.

 

O tombo do Datafolha se deu em praticamente todos os segmentos do eleitorado, inclusive nos que garantiram a vitória apertada de Lula sobre Jair Bolsonaro em 2022. Entre os mais pobres, a queda foi de nada menos que 15 pontos. Sinal de que é urgente para ele compreender de fato o que deseja o novo eleitor de baixa renda, baixa escolaridade e que vive no Nordeste, porque a velha receita de salário mínimo e Bolsa Família não atende mais esse público.

 

Pelo contrário: toda vez que chega no ouvido desse eleitor que o governo estuda a volta do imposto sindical, o fim do saque-aniversário do FGTS ou está bolando formas de regular o trabalho por aplicativos o entendimento que se consolida na ponta é o de que o Estado guloso quer morder o pouco que esse empreendedor que rala dia e noite consegue juntar.

 

Para esse eleitor, o discurso pisado e repisado por Lula de defesa da democracia tem pouco ou nenhum apelo. Trata-se de um contingente que ou votou em Bolsonaro ou mesmo votou nele, mas não vê o 8 de Janeiro como golpe ou não coloca isso no centro de suas preocupações. Por isso, flertar com a ideia de enfrentar Bolsonaro, como Lula fez em outra entrevista recente, é duplamente problemático: porque é contraditório justamente com a ênfase no risco que ele representa para a democracia, e porque talvez Gilberto Kassab tenha dado um alerta correto e, com as variáveis de hoje, seria de fato imprevisível um embate entre os representantes dos dois polos da política brasileira hoje.

 

Nem no auge da crise do mensalão, em 2005, tanta gente disse rejeitar Lula, segundo o Datafolha. Isso porque, naquela época, não havia um antilulismo e um antipetismo tão arraigados quanto hoje, 20 anos depois, e porque Lula conseguiu, mesmo enfrentando sucessivas tempestades naquele ano e em 2006, acenar com conquistas econômicas e sociais que lhe garantiram a reeleição.

 

Agora, mesmo com indicadores positivos de macroeconomia e tendo aumentando a renda média do país e o tirado do mapa da fome, ao qual havia regressado nos anos Bolsonaro, o presidente não consegue reverter essas conquistas a seu favor, porque parece ter perdido um pouco o mapa de como alcançar esse eleitor e o tom para falar com ele.

 

A reforma ministerial que demora demais a fazer é outro sinal da descalibragem que fica evidente pelos números do Datafolha: as peças que ele fala em trocar não estão em pastas-chave para atingir a população e, nessas últimas, ele pretende manter ministros ineficazes ou porque são amigos de longa data ou porque transformou em questão de honra sua permanência.

O único alívio para Lula no cenário atual se chama justamente Jair Bolsonaro: além de estar na iminência de se tornar réu por tentativa de golpe, o capitão, autocentrado, embola o meio de campo na oposição ao se recusar a deixar que se escolha um candidato para 2026. Lula precisaria aproveitar essa contingência para arrumar seu próprio time, sob pena de chegar fraco a uma eleição em que outros tantos fatores imprevisíveis, como o caos Donald Trump, podem influenciar a decisão do eleitor para um lado ou para o outro.

 

Fica evidente que a tentação de deixar de vez a austeridade fiscal de lado e apelar a medidas populistas no desespero de se reeleger vai ser cada vez maior, ainda mais se Lula cumprir o que parece disposto a fazer e nomear para o governo mais petistas contrários a Fernando Haddad. Enveredar pelo caminho da gastança não vai resolver a crise de avaliação e pode ainda ser muito deletério para o país.


Nordeste, mais pobres e eleitor de 2022: queda na popularidade de Lula é puxada por segmentos ligados à base do PT

Por  — Rio de Janeiro / O GLOBO

 

 

A queda na avaliação positiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) apontada pela pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira foi puxada pelos segmentos que formam a base eleitoral do petista, em especial a população com renda de até dois salários mínimos, fatia que representa pouco mais da metade da amostra da pesquisa. A percepção positiva do governo também teve um recuo acentuado no Nordeste, região tradicionalmente alinhada com o PT, e entre os eleitores de Lula no segundo turno de 2022.

 

avaliação positiva do governo caiu 11 pontos percentuais, de 35% para 24%, nos últimos dois meses. O atual patamar de ótimo/bom, no início da segunda metade do terceiro mandato de Lula, é inédito para o petista em todas as suas gestões à frente do Palácio do Planalto. A avaliação negativa do governo (ruim ou péssima) também é recorde e subiu, no período, de 34% para 41%. Já o percentual da população que considera a gestão regular variou de 29%, em dezembro, para 32% no levantamento mais recente.

 

No segmento com menor renda, a avaliação de que a gestão é ótima ou boa caiu de 44% para 29%. Já entre eleitores do Nordeste, tradicional reduto do petismo, o mesmo índice passou de 49% para 33%, equanto a avaliação negativa entre quem mora na região chega a 30%.

 

Na parcela com escolaridade até o ensino fundamental, a queda na avaliação positiva foi de 15 pontos percentuais, passando de 53% para 38%. Ainda assim, a gestão Lula tem avaliação ótima/boa superior à negativa, com uma margem de dez pontos percentuais.

 

Outra redução expressiva ocorreu entre os eleitores que declaram ter votado em Lula no segundo turno de 2022. A avaliação de que o governo é ótimo/bom caiu 20 pontos percentuais, chegando a 46%. Já a percepção negativa quase dobrou nesse grupo, de 7% para 13%. A parcela que avalia o governo como regular, porém, foi a que mais cresceu, passando de 27% para 40%.

 

Entre as mulheres, a parcela que aprova o governo caiu 14 pontos percentuais, passando de 38% para 24%. Pela primeira vez nesta gestão de Lula, houve uma igualdade no nível de insatisfação feminino e masculino — entre eles a queda foi de 9 pontos. A margem de erro é de 3 pontos percentuais. No segmento católico, por sua vez, a queda foi de 14 pontos percentuais na comparação com dezembro.

 

A pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira ouviu presencialmente com 2.007 eleitores de 16 anos ou mais em 10 e 11 de fevereiro. A margem de erro geral da pesquisa é de dois pontos percentuais.

 
 

Datafolha: Aprovação de Lula desaba para 24% e é a pior de todos os seus mandatos

Igor Gielow / FOLHA DE SP

 

A aprovação do presidente Lula (PT) desabou em dois meses de 35% para 24%, chegando a um patamar inédito para o petista em suas três passagens pelo Palácio do Planalto. A reprovação também é recorde, passando de 34% a 41%.

Acham o governo regular 32%, ante 29% em dezembro passado, quando o Datafolha havia feito sua mais recente pesquisa sobre o tema. Neste levantamento, foram ouvidos 2.007 eleitores em 113 cidades, na segunda (10) e na terça-feira (11), com margem de erro geral de dois pontos para mais ou menos.

O tombo demonstra o impacto de crises sucessivas pelas quais passa o governo, sendo a mais vistosa delas a do Pix. Ela ocorreu em janeiro, com a divulgação de que o governo iria começar a fiscalizar transações superiores a R$ 5.000 pela modalidade instantânea de transferência bancária.

 

Ato contínuo, houve uma cobrança da oposição, sugerindo controle indevido, e uma enxurrada de fake news dizendo que haveria uma taxação do Pix. O governo ficou atônito, e restou à Fazenda do ministro Fernando Haddad (PT) revogar a medida.

Lula preferiu atribuir o fiasco à sua comunicação e trocou a chefia do setor, promovendo o marqueteiro baiano Sidônio Palmeira, que de todo modo já estava ativo no Planalto, para a vaga do petista Paulo Pimenta. Os problemas, contudo, continuaram.

A inflação de alimentos é um foco constante de preocupação, e o presidente não contribuiu com frases como aquela na qual sugeriu que as pessoas parassem de comprar comida cara. Se na teoria parece lógico, soou como um lavar de mãos, devidamente aproveitado pela mais ágil oposição.

Resultado: Lula colheu a pior avaliação de sua vida como presidente. Antes, havia atingido 28% de ótimo e bom em outubro e dezembro de 2005, no auge da crise do mensalão, em seu primeiro mandato (2003-06). Já o maior índice de ruim e péssimo fora registrado em dezembro passado (34%).

Novo Datafolha

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Seu terceiro mandato, iniciado em 2023, vinha sendo marcado por uma certa estabilidade na avaliação. Na média entre nove levantamentos do Datafolha, sua aprovação era de 36% e a reprovação, de 31%. Os números atuais falam por si.

Seu antagonista principal na polarização brasileira, o antecessor Jair Bolsonaro (PL), tinha uma reprovação semelhante a essa altura de seu mandato, marcando 40% de ruim/péssimo. Sua aprovação, contudo, era algo melhor: 31%.

A pesquisa mostra a erosão da popularidade de Lula inclusive em grupos usualmente próximos do petista, o que deve tornar as luzes amarelas acesas no Planalto em vermelhas. São estratos com grande importância eleitoral pelo tamanho.

Na parcela dos que ganham até dois salários mínimos, por exemplo, a aprovação caiu de 44% para 29%. Eles representam 51% da amostra populacional do Datafolha, e a margem de erro no grupo é de três pontos percentuais apenas.

Nos 33% dos ouvidos que só têm ensino fundamental, o tombo foi também de 15 pontos: de 53% para 38%. Aqui, a margem de erro é de quatro pontos.

Mesmo na fortaleza Nordeste, reduto eleitoral por excelência do petismo apesar do avanço do bolsonarismo, houve grande prejuízo, com o ótimo/bom deslizando de 49% para 33%, numa região que concentra 26% do eleitorado, com margem também de quatro pontos.

Entre eleitores de Lula no segundo turno contra Bolsonaro em 2022, o recuo foi de 20 pontos, chegando a 46%. Aqui, a desaprovação quase dobrou (7% para 13%), mas a desconfiança fez a opinião migrar mais para o regular, que foi de 27% para 40%. A margem de erro é de quatro pontos.

Colocando os números de aprovação na forma de saldo, Lula só se sai no azul entre os menos escolarizados, com uma margem positiva de dez pontos, e numericamente entre os nordestinos, com magros três pontos.

Já os piores grupos, em termos de saldo, são as três faixas de renda acima dos 2 mínimos: de 2 até 5 e de 5 até 10 salários (33 pontos negativos em ambos) e acima de 10 (45 negativos), ressalvando que aí as margens de erro são respectivamente de 4, 8 e 12 pontos, para mais ou menos.

A pesquisa não fez especulações eleitorais, mas servirá de combustível para o debate surdo que se ouve nas hostes governistas acerca das chances de Lula em 2026.

Outros levantamentos publicados recentemente apontam que ele segue favorito, mas ainda é cedo e não se sabe o impacto de longo prazo de uma exposição à chuva da desaprovação.

O próprio presidente tem tentado sugerir cautela, dizendo que será candidato no ano que vem "se estiver legal de saúde". Ele já escolheu uma linha argumentativa, repetida por seus ministros, para explicar a crise em que seu governo se encontra.

"Esse é o meu ano. Eu quero desmascarar essa quantidade de mentira que tem nas fake news, no celular, todo mundo mentindo para todo mundo", disse em viagem à região Norte na semana passada, restando sabe se isso será suficiente para inverter a curva ora desfavorável de sua aprovação.

Enquanto isso, a oposição se mexe, com os presidenciáveis mais óbvios, como o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), e variantes do bolsonarismo das redes, como Pablo Marçal e Gusttavo Lima, testando as águas. Bolsonaro segue inelegível até 2030.

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