Governo Lula vê Brasil com alguns ganhos na crise do tarifaço, mas teme imprevisibilidade de Trump
Por Eliane Oliveira e Manoel Ventura / O GLOBO
Os últimos acontecimentos relacionados à crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos, todos concentrados nesta quarta-feira, acabaram melhorando a posição de desvantagem do governo brasileiro em relação à Casa Branca. No entanto, interlocutores envolvidos no assunto, em Brasília, afirmam que não é possível cantar vitória neste momento, devido ao quadro de imprevisibilidade que se tornou marca da gestão do presidente americano Donald Trump.
Em uma avaliação preliminar, o adiamento, em sete dias, da data da vigência da sobretaxa de 50% sobre as exportações brasileiras, antes prevista para esta sexta-feira, e a exclusão de alguns itens da medida, como aviões da Embraer e suco de laranja, são resultados de um esforço que envolveu, principalmente, diplomatas e empresários brasileiros e americanos. A ideia era tentar rever o quadro de politização de uma questão comercial, que começou no início deste mês.
Essa politização começou no último dia 9, em uma carta de Trump dirigida ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na correspondência — devolvida ao governo americano no mesmo dia pelo Itamaraty, por ter sido considerada inaceitável — o líder dos EUA relacionava o tarifaço ao que chamou de perseguição do ex-presidente Jair Bolsonaro. O mandatário americano também citou a regulação das big techs e disse, de forma equivocada, que o Brasil tem superávit no intercâmbio de bens com seu país.
Um ponto de destaque, que foi comemorado nesta quarta-feira por integrantes do Palácio do Planalto e do Itamaraty, foi o encontro entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado americano, Marco Rubio.
Desde que o chefe da diplomacia dos EUA assumiu o posto, Vieira tentava um contato, tendo em vista a densa agenda nas relações entre Brasil e EUA. Somente ontem essa reunião aconteceu, o que indica que os canais com Washington estão reabertos no campo diplomático.
Empresários brasileiros afirmam que o momento é de intensificar os contatos nos EUA, para protegerem suas exportações. Além de contatos com parlamentares republicanos, do partido de Trump, o próximo passo é buscar o apoio de governadores em que estados que serão afetados pelo encarecimento dos insumos importados do Brasil.
Com apoio das indústrias americanas, os empresários brasileiros vão reiterar que o Brasil exporta mais produtos primários e insumos para os EUA e, por isso, não há competição. Dirão que há investimentos importantes naquele país, que máquinas e equipamentos sobretaxados não poderiam ser enviados a curto prazo para outros mercados e que pelo menos um terço do comércio entre Brasil e EUA se dá entre as mesmas companhias.
Para integrantes do governo Lula, o cenário é incerto. Existe a expectativa de Trump continuar tentando interferir nas decisões do Judiciário brasileiro, apesar de Lula dizer, repetidas vezes, que o Brasil é soberano e tem poderes independentes.
A atual percepção é que os EUA querem mais do que dificultar o comércio. Além de terem acesso a minerais críticos e estratégicos, como lítio, nióbio e terras raras, a Casa Branca abriu uma investigação sobre práticas comerciais no Brasil, sujeitas à elevação de tarifas como punição, que atingem o sistema de pagamentos instantâneos brasileiros largamente utilizado no país, que é o Pix.
Governo libera R$ 15,9 bilhões para ministérios e R$ 4,7 bilhões para emendas após alta nas receitas
FOLHA DE SP
O governo federal detalhou nesta quarta-feira (30) a liberação de R$ 20,7 bilhões do Orçamento que estavam congelados para cumprir regras fiscais, medida que dará alívio aos ministérios e vai destravar uma parte das emendas parlamentares, verbas usadas pelos congressistas para bancar ações em seus redutos eleitorais.
O governo liberou R$ 15,9 bilhões para despesas discricionárias (investimentos e custeio de atividades administrativas) dos ministérios e R$ 4,7 bilhões para gastos com emendas parlamentares.
Do total congelado, foi mantido o bloqueio de R$ 10,7 bilhões em despesas discricionárias para o atendimento de despesas obrigatórias. O Ministério do Planejamento também anunciou que adotou medidas de faseamento que limitam o empenho em R$ 52,8 bilhões até setembro para garantir o cumprimento da meta fiscal e os limites do arcabouço fiscal.
A liberação parcial, segundo a pasta, ocorreu porque houve melhora na projeção de receitas líquidas, com alta de R$ 25,4 bilhões puxada por receitas como exploração de recursos naturais (R$ 17,9 bilhões) e no Imposto de Renda (R$ 12,2 bilhões). O aumento das despesas obrigatórias com créditos extraordinários e benefícios assistenciais exigiu a manutenção de parte da contenção.
As pastas mais beneficiadas pelo descontingenciamento são o Ministério das Cidades (R$ 1,93 bilhão), da Defesa (R$ 1,92 bilhão), da Saúde (R$ 1,71 bilhão), do Desenvolvimento e Assistência Social (R$ 1.694 bilhão), dos Transportes (R$ 1,37 bilhão) e da Fazenda (R$ 1,124 bilhão).
O chamado faseamento é uma espécie de contenção preventiva dos limites de gastos para os ministérios, com liberação gradual até o fim do ano. Pelo novo decreto, os limites de empenho fixados para os órgãos são distribuídos em três fases: setembro, novembro e dezembro.
Até setembro, haverá um limite de empenho de R$ 52,8 bilhões, além do bloqueio de R$ 10,7 bilhões. Em novembro, o limite cai para R$ 31,3 bilhões e, em dezembro, é zerado.
"O governo mantém as medidas de restrição refletidas no faseamento dos limites de empenho dos órgãos e seguirá monitorando a execução orçamentária e financeira, nos termos da legislação em vigor, adotando as medidas necessárias para garantir o atendimento do resultado fiscal do exercício", disse a pasta.
ENTENDA A DIFERENÇA ENTRE BLOQUEIO E CONTINGENCIAMENTO
O novo arcabouço fiscal determina que o governo observe duas regras: um limite de gastos e uma meta de resultado primário (verificada a partir da diferença entre receitas e despesas, descontado o serviço da dívida pública).
Ao longo do ano, conforme mudam as projeções para atividade econômica, inflação ou as próprias necessidades dos ministérios para honrar despesas obrigatórias, o governo pode precisar fazer ajustes para garantir o cumprimento das duas regras.
Se o cenário é de aumento das despesas obrigatórias, é necessário fazer um bloqueio.
Se as estimativas apontam uma perda de arrecadação, o instrumento adequado é o contingenciamento.
Como funciona o bloqueio
O governo segue um limite de despesas, distribuído entre gastos obrigatórios (benefícios previdenciários, salários do funcionalismo, pisos de saúde e educação) e discricionários (investimentos e custeio de atividades administrativas).
Quando a projeção de uma despesa obrigatória sobe, o governo precisa fazer um bloqueio equivalente nas discricionárias para honrar todas as obrigações sem descumprir o limite global de gastos.
Como funciona o contingenciamento
O governo segue uma meta fiscal, que mostra se há compromisso de arrecadar mais do que gastar (superávit) ou previsão de que as despesas superem as receitas (déficit). Neste ano, o governo estipulou uma meta zero, que pressupõe equilíbrio entre receitas e despesas, com margem de tolerância de 0,25% do PIB para mais ou menos.
Como a despesa não pode subir para além do limite, o principal risco ao cumprimento da meta vem das flutuações na arrecadação. Se as projeções indicam uma receita menos pujante, o governo pode repor o valor com outras medidas (desde que tecnicamente fundamentadas) ou efetuar um contingenciamento sobre as despesas.
Pode haver situação de bloqueio e contingenciamento juntos?
Sim. É possível que, numa situação de piora da arrecadação e alta nas despesas obrigatórias, o governo precise aplicar tanto o bloqueio quanto o contingenciamento. Nesse caso, o impacto sobre as despesas discricionárias é a soma dos dois valores.
Fortaleza tem 314 mil à espera de eletrocardiograma e Prefeitura promete que postos ofertarão exame
A secretária municipal de Saúde, Riane Azevedo, afirma que, dessa forma, o eletrocardiograma poderá ser feito assim que houver solicitação do médico, na própria unidade básica. O laudo será emitido de forma online.
Para isso, a gestora afirma que técnicos de enfermagem serão treinados para realizar o procedimento. Não foi informado um cronograma ou prazo para a oferta dos ECGs nos postos ser iniciada.
Com o laudo do ECG em mãos, então, os médicos dos postos de saúde podem realizar o atendimento inicial dos pacientes. Caso seja identificada alguma patologia, será feito o encaminhamento para um cardiologista, explica Riane.
A ideia, reforça a secretária, é não sobrecarregar a assistência especializada, além de conferir maior celeridade no atendimento à demanda do usuário da atenção primária.
Novos postos de saúde
Além da aquisição de equipamentos, o "Saúde Que Cuida" inclui reformas estruturais em 87 postos de saúde, 25 a serem entregues ainda neste ano. Entre as unidades a serem requalificadas estão:
- Floresta/CEO, no bairro Álvaro Weyne;
- Maciel de Brito, no Conjunto Ceará 1ª etapa;
- Quatro Varas, no bairro Pirambu;
- Guiomar Arruda, no Pirambu;
- Odorico de Morais, no Pirambu.
Para dar conta das ampliações, a Prefeitura projeta a seleção de novos gestores das UBS e o chamamento de 411 profissionais da extinta Fundação de Apoio à Gestão Integrada em Saúde de Fortaleza (Fagifor), que serão distribuídos entre postos e hospitais.
O QUE É O ECG, COMO É FEITO E PARA O QUE SERVE
O exame médico registra a atividade elétrica do coração, auxiliando a descoberta de doenças cardíacas como infarto do miocárdio, arritmias cardíacas e hipertensão arterial. O infarto é a segunda principal causa de morte entre os cearenses, conforme o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde.
O eletrocardiograma é um exame médico registra a atividade elétrica do coração, auxiliando a descoberta de doenças cardíacas como infarto do miocárdio, arritmias cardíacas e hipertensão arterial.
O infarto é a segunda principal causa de morte entre os cearenses, conforme o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde.
Rápido, indolor e não invasivo, ele utiliza eletrodos nos braços, pernas e tórax da pessoa que medem magnitude e a direção das correntes elétricas no coração durante cada batimento cardíaco. A realização do exame dura cerca de 3 minutos.
Esse exame pode detectar se o coração está batendo muito rápido (taquicardia), muito lento (bradicardia) ou de forma irregular (arritmia); e se não está recebendo oxigênio suficiente devido a bloqueio nas artérias (infarto ou angina).
Dessa forma, ele é essencial para monitorar os pacientes que possuem doenças cardíacas e rastrear pessoas assintomáticas durante exames de rotina.
Ministro é oportunista sobre autoescolas e acha que está 'na fazenda dele', diz chefe de federação
Marcos Hermanson / FOLHA DE SP
A proposta de eliminar a obrigatoriedade das aulas práticas e teóricas para obtenção da carteira de habilitação foi classificada pelo presidente da Feneauto (Federação Nacional das Autoescolas), Ygor Valença, como um oportunismo do ministro Renan Filho (Transportes). A entidade promete questionar na Justiça a medida, caso ela se concretize.
O governo Lula (PT) quer acabar com a obrigatoriedade da autoescola para obtenção da carteira de motorista, como revelou a Folha nesta terça-feira (29). Renan Filho relatou o plano ao C-Level Entrevista, videocast semanal.
O dirigente da Feneauto diz que a medida não foi debatida e deveria passar pela consulta da sociedade por meio das instâncias do próprio ministério.
"Não sentaram com a gente. Não dialogaram, não propuseram nada. Estranho por ser um governo democrata, de esquerda", diz. "Renan pensa que está na fazenda dele."
"Isso vindo por resolução, nós vamos judicializar. Ele é ministro, tem a autonomia de propor, mas queremos a ampla discussão da sociedade, com médicos, prefeitos, gestores dos Detrans", completa.
O ministro dos Transportes defendeu, na entrevista, que as aulas práticas e teóricas que precedem o exame para obtenção da carteira de habilitação sejam facultativas.
"O Brasil é um dos poucos países no mundo que obriga o sujeito a fazer um número de horas-aula para fazer uma prova", disse o ministro, citando custos de R$ 4.000 a R$ 6.000 para obter o documento, a depender do estado.
"A autoescola vai permanecer, mas ao invés de ser obrigatória, ela pode ser facultativa." Segundo Renan, a proposta já foi concluída pela pasta e será levada para aprovação do presidente Lula. Pelos seus cálculos, o plano poderia reduzir em 80% os custos de obtenção da CNH.
Segundo a proposta do ministério, o candidato poderia assistir às aulas teóricas presencialmente, nas autoescolas, à distância, em empresas credenciadas, em escolas públicas de trânsito dos Detrans ou em formato digital oferecido pela Secretaria Nacional de Trânsito.
As aulas práticas também se tornariam optativas, podendo ser conduzidas em autoescolas ou com instrutores autônomos, contratados inclusive por meio de plataforma online. O ministério defende que a proposta democratizaria o acesso à CNH e reduziria o número de condutores não habilitados –hoje em 20 milhões.
Em nota publicada nesta tarde, a Associação Nacional dos Detrans (AND) levantou dúvidas sobre o projeto, pedindo que qualquer mudança preserve a qualidade da formação dos motoristas.
"Defendemos que a formação de condutores deve priorizar a segurança viária e contribuir efetivamente para a redução dos índices de sinistros e mortes no trânsito", escreveu a AND. "A educação no trânsito salva vidas e deve ser tratada como prioridade absoluta em qualquer política pública relacionada à mobilidade".
Valença, da Feneauto, questiona os dados apresentados pelo ministro Renan Filho. "Em Alagoas, que é o estado em que ele foi governador, os custos com autoescola são de R$ 900", afirma.
No tema da popularização da CNH, ele cita a sanção, em junho, de lei que cria a CNH gratuita para baixa renda e destina parte dos recursos arrecadados com multas de trânsito para a formação de condutores. A proposta teve apoio da Feneauto.
"São 30 mil empresas de autoescola, 320 mil empregos, todos de carteira assinada, 450 mil veículos de frota, o impacto é gigantesco", diz, citando também um possível aumento de índices de mortes no trânsito e impacto no SUS.
"Isso me parece mais fogo amigo", afirma Valença. "Pareço que vou dar carteira, mas jogo uma bomba no colo do presidente. O governo Lula está refém de ministérios, infelizmente. Cada ministério faz o que quer."
O Ministério dos Transportes nega que o fim da obrigatoriedade das aulas acarretaria em maior número de sinistros. "Não há evidência de que a obrigatoriedade de aulas em CFC esteja diretamente relacionada à segurança no trânsito. Pelo contrário: a formalização do processo reduz a informalidade e aumenta a fiscalização."
A pasta diz que as autoescolas continuarão a existir, competindo com instrutores autônomos, e que algumas regras sobre infraestrutura física serão flexibilizadas, permitindo que os CFC se adaptem e ofereçam serviços personalizados, com foco em qualidade e acessibilidade.
Como é e o que pode mudar para tirar CNH
Categorias A (motos) e B (carros de passeio)
Qualificação
- Ter 18 anos ou mais
- Ser penalmente imputável
- Saber ler e escrever
- Possuir documento de identidade e CPF
Etapas
- Avaliação psicológica e exame de aptidão física e mental
- 45 horas de aulas teóricas em autoescolas
- Exame teórico
- 20 horas de aulas práticas em autoescolas
- Exame de prática de direção veicular
Custo (valores em SP)
- Taxa de exame prático: R$ 50,90
- Taxa de exame teórico: R$ 50,90
- Taxa de emissão da PPD (Permissão para Dirigir): R$ 133,17
- Exame médico: R$ 122,17
- Avaliação psicológica: R$ 142,53
- Aulas práticas e teóricas: valor varia conforme cada autoescola
Proposta do governo
- Fim da exigência de aulas teóricas e práticas em autoescolas
- Candidato poderá estudar para o exame teórico como quiser
- Prática poderá ser feita com instrutores autônomos certificados pelos Detrans
- Aprovação nos exames e cumprimento das demais exigências seria suficiente para obter CNH
Fonte: Resolução nº 789/2020 do Conselho Nacional de Trânsito e Poupatempo de SP
No palanque, desarmado, Lula desdenha, ironiza e vê a derrota arrasadora das tarifas chegando
Por Eliane Cantanhêde / O ESTADÃO DE SP
Ao dizer, quatro dias antes do “dia D”, que vai esperar a sexta-feira para decidir sobre medidas de socorro aos setores e empresas mais duramente atingidas pelo tarifaço de Donald Trump, o presidente Lula deixou uma pergunta que não quer calar: o que ele está esperando? O resultado de alguma negociação sigilosa? Um recuo nos 50%, que Trump nega? Ou simplesmente o tsunami chegar?
Lula não desce do palanque, e não para de fazer provocações e ironias contra Trump e os EUA, desde que a Genial/Quaest detectou que a popularidade dele subiu e a de Jair Bolsonaro caiu com a ameaça de tarifaço e as cartas mal-ajambradas do presidente norteamericano. Logo, uma segunda dúvida é onde Lula quer chegar. À sexta-feira, com uma negociação bem-sucedida, ou às eleições de 2026, numa posição confortável? Uma coisa pode estar condicionada à outra…
Enquanto o chanceler Mauro Vieira, o vice Geraldo Alckmin, empresários brasileiros e americanos e a comissão de senadores que foi aos EUA conversam muito, articulam muito, não se vê um único sinal, à luz do dia, de que haja reais negociações e, portanto, chances de reduzir os 50%.
Essas negociações e chances deveriam ser até naturais, já que esse percentual é mais que o dobro na guerra de Trump contra o mundo, e o Brasil, apesar de estar no topo das sanções, é deficitário no comércio com os EUA, como Lula está rouco de tanto repetir. Em tese, o tarifaço é para superavitários, não para deficitários.
Se seriam tão naturais, por que inexistem negociações e ninguém acredita em recuo, por mais que Trump, que é um jogador, venha sempre baixando as tarifas no “dia D” com os demais países? Porque a birra com o Brasil não é por causa de comércio, mas sim de política: o processo contra Bolsonaro, bigtechs, o apoio de Lula a Kamala Harris, a camaradagem de Lula com China e Rússia, o Brics como adversário de Washington…Em sendo assim, nem Trump quer ceder, nem Lula age diplomaticamente. As portas e os ouvidos se fecham.
Antes de ir para Nova York, numa derradeira busca de pragmatismo e bom senso, Mauro Vieira enviou um embaixador aos EUA para abrir canais. Até a noite de segunda-feira, porém, não havia motivos para comemoração, só para preocupação com o PIB, os exportadores, os produtos e os empregos.
Os 50% são arrasadores e estão chegando, com Lula saltitante, em campanha, e o Brasil cara a cara com uma derrota que vai lhe custar muito caro. Na reta final, o único consolo é que sexta-feira não será o fim do mundo. A guerra continua e há muito o que negociar, se Trump e Lula adotarem o tom e a disposição de estadistas que não tiveram te agora. É possível? Só vai se saber depois do “dia D”.
De vale-gás a crédito para reforma de moradias, Lula prepara pacotão eleitoral que mira classe média e periferia
Por Jeniffer Gularte — Brasília / O GLOBO
O Palácio do Planalto prepara um pacotão de programas sociais para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançar no segundo semestre, a um ano da eleição, quando o petista pretende concorrer ao quarto mandato. O arsenal inclui a remodelagem do vale-gás, crédito para reforma de moradias e auxílio para motoboys e motoristas de aplicativos trocarem seus veículos. As medidas buscam ampliar o apoio a Lula na classe média e nas periferias.
De olho na corrida eleitoral, Lula tem reservado as quintas e sextas para viajar o país e divulgar ações do governo, em contato mais próximo com a população. Auxiliares defendem que ele use esta fórmula para lançar, na primeira quinzena de agosto, o programa Gás para Todos, que deve beneficiar 16,6 milhões de famílias. Apresentada por meio de Medida Provisória, a iniciativa deve substituir o Auxílio Gás atual, que contempla 5,4 milhões de famílias e é pago junto com o Bolsa Família.
O novo modelo terá um cartão próprio para retirada de botijões. O custo total estimado é de R$ 2,6 bilhões neste ano e R$ 5 bilhões em 2026.
Durante as viagens pelo país para os lançamentos, Lula tem acentuado o tom eleitoral das falas, com críticas mais agudas ao ex-presidenteJair Bolsonaro. O entorno do presidente avalia que o governo ganhou fôlego com o discurso de “justiça tributária” e a reação ao tarifaço americano de 50%, mas que agora o “modo campanha” precisa incluir ações com efeito prático no cotidiano do eleitorado.
Nessa nova fase, o foco de Lula é tentar ampliar seu apoio na classe média, vista pelo Planalto como um estrato pendular, que ora apoia o governo, ora vota na oposição. Segundo pesquisa Quaest divulgada neste mês, 43% dos eleitores com renda mensal entre dois e cinco salários mínimos avaliam o governo Lula positivamente — eram 39% em junho —, enquanto 52% têm percepção negativa. Auxiliares do presidente frisam, por outro lado, que é importante que as ações do governo não se distanciem da população mais pobres e de periferia, tradicional base eleitoral de Lula.
O pacotão do governo inclui um programa de financiamento para compra de motocicletas e carros por entregadores e motoristas de aplicativos, que deve ser lançado em agosto. A categoria é vista por aliados de Lula como majoritariamente favorável a Bolsonaro, e apresentou resistências a uma tentativa anterior da gestão petista de regulamentar o setor.
A nova iniciativa de crédito foi desenhada pelo Ministério de Desenvolvimento Social, gestor de um fundo que permite financiamento de até R$ 10 bilhões para micro e pequenos empreendedores, no programa Acredita. Os detalhes finais do projeto estão sob análise da Casa Civil.
— Esses trabalhadores têm um custo que reduz sua capacidade de renda, com aluguel da moto e equipamentos. Boa parte dos entregadores e motoristas de aplicativo estão na base do Cadastro Único e no Bolsa Família — afirma o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias (PT).
Em outra frente, esta mirando a classe média, o Ministério das Cidades trabalha em um programa de reformas de moradias com duas linhas de financiamento, em faixas de até R$ 5 mil e de até R$ 30 mil. Há dúvidas, porém, sobre de onde tirar a verba necessária.
Modo ‘urgência’
Auxiliares de Lula afirmam que o presidente está no modo “urgência”, e que os ministérios da Saúde e da Educação são os mais pressionados a acelerar inaugurações. A orientação é que cada lançamento seja informado ao Planalto, para uma avaliação sobre a presença do presidente no evento.
Nos primeiros meses de 2025, um dos programas que ganhou fôlego foi o Agora Tem Especialistas, do Ministério da Saúde. O governo tem usado clínicas privadas para acelerar exames e cirurgia pelo SUS. Apesar de os programas sociais serem a principal aposta do governo, especialistas avaliam que seu impacto pode ser limitado na eleição: — O eleitor está mais exigente. Em relação às políticas sociais, ele parece acreditar que o governo não faz mais do que sua obrigação, e deixou de ter medo de perder os programas com uma eventual derrota de Lula — afirma o cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest.
Apostas para alavancar a imagem de Lula
Gás para Todos: A iniciativa prevê o pagamento de uma ajuda financeira para a compra de botijões de 13kg considerando o número de integrantes da família. Vai substituir o Auxílio Gás atual.
Motoristas de app: Lula também prepara um programa de financiamento para compra de motos e carros por entregadores e motoristas de aplicativos. O programa deve ser lançado em agosto.
Moradias: O Ministério das Cidades trabalha em um programa de reformas de moradias que prevê duas linhas de financiamento: uma de até R$ 5 mil por família para pequenas obras e outra de até R$ 30 mil.
Pressionado pelos EUA, Lula também enfrenta fogo amigo
EDIORIAL DA FOLHA DE SP
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) colhe os frutos da armadura nacionalista que envergou quando Donald Trump escolheu o Brasil como alvo de sua mais recente agressão externa.
Irracional do ponto de vista econômico, as sobretaxas de 50% sobre importações brasileiras, que entram em vigor a partir de 1º de agosto, são justificadas pelo republicano a partir da política.
Se é evidente o desgosto com o antiamericanismo pueril do governo Lula e os interesses contrariados das big techs, o selo do tarifaço tem nome: Jair Bolsonaro (PL). Trump conectou sua ação com o discurso de que o ex-presidente é um perseguido por ser julgado pela trama golpista.
O presente retórico para o petista não poderia ser maior, ainda que esteja claro o risco do impacto de longo prazo das medidas sobre a economia.
Ademais, vêm da banda ideológica do lulismo novos lembretes acerca de problemas para a busca pela reeleição em 2026.
Na sexta (25), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) completou uma invasão coordenada a sedes do Incra, órgão responsável por gerenciar a reforma agrária, que mobilizou 17 mil pessoas ao longo da semana.
As imagens reprisavam um filme em cartaz desde os anos 1990, quando o campo vivia em outra era geológica em termos de estrutura produtiva. Gente de vermelho invadindo prédio público é um prato cheio para a propaganda da direita nas redes sociais.
Algo similar havia acontecido quando o governo lançou o "nós contra eles" na crise com o Congresso acerca do IOF e um grupo de sem-teto invadiu um prédio do banco Itaú em São Paulo.
Ali, o sinal amarelo acendeu. O ato apoiado por Guilherme Boulos (PSOL-SP) custou ao deputado federal um cargo no Planalto —outra situação na qual a radicalidade do político lhe tolhe pretensões, como em duas eleições para prefeito na capital paulista.
Com os sem-terra, Lula buscou conter danos, chamando lideranças para conversar. No entanto o sinal de descontrole das franjas de sua base é evidente.
Algo também visto na relação com a antiga aliada Venezuela. Desde que vetou a entrada do país no Brics, em 2024, Lula passou a ser tratado como adversário pela ditadura de Nicolás Maduro.
O azedume se intensificou na sexta, quando venezuelanos imitaram Trump e taxaram importações do Brasil, rompendo tratado de 2014. Confrontado, o país diz ter voltado atrás e deu como desculpa um problema técnico. Mas só foram reforçadas as dificuldades de Lula mesmo na esquerda.
Projeto de busca ativa leva 25 mil crianças de volta às escolas no CE, mas 37 mil ainda estão fora
Falta de transporte, de estrutura, de interesse, violência no território, gravidez. É extensa a lista de motivos que mantêm cerca de 37 mil crianças e adolescentes fora da escola no Ceará. Na contramão, o projeto Busca Ativa Escolar (BAE) conseguiu levar quase 25 mil meninos e meninas cearenses de volta aos estudos, entre 2017 e 2025.
A estratégia foi desenvolvida pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e pela União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), com o intuito de auxiliar estados e municípios no combate à evasão e à exclusão escolar. Nesta segunda-feira (28), as instituições publicaram uma análise inédita sobre a exclusão escolar, o perfil das crianças e adolescentes fora da escola e as informações sobre a Busca Ativa Escolar.
No total, ao longo dos quase nove anos, 24.879 crianças e adolescentes do Ceará que estavam fora da escola ou em risco de evasão foram identificados e retornaram às salas de aula, de acordo com o Unicef. Foi o 4º melhor resultado do País, atrás apenas de Pará (38.891), Bahia (34.638) e Maranhão (33.784). Em todo o Brasil, foram mais de 300 mil alunos.
Os números se referem à quantidade de rematrículas registradas pelos estados e municípios na Plataforma da Busca Ativa Escolar. Também são mapeados os principais motivos pelos quais os cearenses de 4 a 17 anos de idade não estão estudando, mesmo sendo a faixa etária escolar obrigatória.
A principal justificativa identificada foi a evasão do aluno por desinteresse pelos estudos: quase 9 mil cearenses deixaram as salas de aula por isso. A segunda razão mais frequente foi a mudança de domicílio, viagem ou deslocamentos frequentes, seguida pelo desinteresse na escola em si.
Além desses, motivos como doenças e deficiências, falta de infraestrutura escolar, trabalho infantil, gravidez na adolescência, discriminação e múltiplos tipos de violência (escolar, familiar, sexual e territorial) também levam estudantes para longe das salas de aula.
A Busca Ativa Escolar foi criada com apoio do Colegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social (Congemas) e do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) para apoiar estados e municípios a enfrentarem a exclusão escolar, por meio da identificação e do acompanhamento de estudantes fora da escola ou em risco de evasão.
A estratégia reúne representantes de diferentes áreas — como educação, saúde, assistência social e planejamento. Os profissionais atuam em frentes diversas, desde a identificação desses estudantes até a adoção das medidas necessárias para que eles sejam atendidos nos diversos serviços públicos, façam a rematrícula e permaneçam na escola.
Além dessa articulação, a estratégia conta com uma plataforma que facilita a comunicação entre as áreas e armazena informações importantes sobre os casos acompanhados.
“A exclusão escolar é um desafio multifatorial, e a resposta a ela também precisa ser. Com a Busca Ativa Escolar, gestores e equipes têm acesso a dados e conseguem promover uma atuação intersetorial, saber quem são essas crianças e adolescentes, por que estão infrequentes ou fora da escola e, a partir disso, agir”, explica a chefe de Educação do Unicef no Brasil, Mônica Dias Pinto.
Para implementar a Busca Ativa Escolar, o município e o estado precisam fazer a adesão ao projeto. Como ela segue o ciclo das gestões públicas, é preciso que as administrações estaduais e municipais façam a repactuação a cada novo pleito.
“A estratégia vem se consolidando como uma ferramenta fundamental para garantir o direito à educação e enfrentar o abandono e a exclusão escolar em todo o País”, afirma Mônica Dias Pinto, ao destacar que a iniciativa conta com a adesão de mais de 2 mil municípios e 21 estados.
Pobres e negros fora da escola
A busca ativa é uma das ferramentas fundamentais para reduzir o número de crianças e adolescentes distantes dos estudos. No Ceará, 37.213 meninos e meninas não frequentavam a escola no ano passado, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua) de 2024.
As desigualdades de gênero, renda, raça e território são evidentes no cenário: cerca de 6 em cada 10 alunos fora da escola no Ceará são meninos, e 74% das crianças e adolescentes que estavam sem estudar eram pretos, pardos ou indígenas (um universo de 27.488 pessoas).
Quando observada a renda das famílias, dos 37 mil que não frequentavam as salas de aula, mais de 20 mil (ou 54% do total) estavam entre os 20% moradores mais pobres do Ceará. O restante (16.574) tinha renda intermediária, e somente 422 constavam entre os 20% mais ricos.
A chefe de Educação do Unicef no Brasil aponta que, por trás desses números está a “naturalização” da exclusão escolar, que “acaba por excluir sempre os estudantes em situação de maior vulnerabilidade, que já sofrem outras violações de direitos dentro e fora da escola”.
Os meninos, por exemplo, tendem a se afastar da sala de aula por motivos como trabalho precoce, reprovações acumuladas ou falta de vínculo com a aprendizagem. “Entre meninas, há situações específicas, como a gravidez na adolescência e responsabilidades familiares”, complementa.
Para meninos e meninas, ela acrescenta que o racismo é um fator que contribui de forma significativa para a evasão escolar. “Esses dados reforçam a importância de políticas públicas com abordagem sensível a gênero e território, capazes de responder às diferentes causas da exclusão”, destaca.
Acesso a creches
A matrícula de bebês e crianças de 0 a 3 anos em creches não é obrigatória, mas, como reforça o Unicef, “é um direito garantido por lei e fundamental para o desenvolvimento integral”. No Ceará, de acordo com a Pnad, 280.849 pequenos desta faixa etária não frequentavam creches.
O número corresponde a 61% do total de cearenses na primeiríssima infância. Uma das metas do Plano Nacional de Educação (PNE) era garantir que, até 2024, pelo menos 50% das crianças na idade de creche estivessem matriculadas.
Mais uma vez, a desigualdade se reflete no menor acesso à creche entre crianças de famílias de baixa renda. No Ceará, 150 mil (54%) desses pequenos vivem entre as 20% famílias mais pobres do Estado.
Em Fortaleza, por exemplo, o desafio de garantir vagas a todos os que precisam se expressa em uma fila: cerca de 10 mil bebês e crianças aguardam por uma vaga na Cidade, como informou o próprio prefeito, Evandro Leitão (PT).
O gestor ainda falou sobre novos equipamentos para a Capital, durante o evento “Mais Educação Superior no Ceará”, quando foi assinada a ordem de serviço da segunda etapa do novo campus do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e o terreno do Acquario foi cedido definitivamente para o Campus Iracema da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Ao todo, segundo o prefeito, Fortaleza receberá 22 Centros de Educação Infantil (CEI) nos próximos meses, 10 do Governo do Estado e 12 do Ministério da Educação (MEC). Em nota, a Secretaria Municipal de Educação (SME) informou que três deles serão inaugurados em agosto, com 355 vagas:
- CEI Jangurussu: 115 alunos;
- CEI Parangaba: 159 alunos;
- CEI Conjunto Ceará: 81 alunos.
Outros CEIs serão abertos em setembro, segundo a Pasta, mas datas e quantidade de vagas ainda estão sendo definidas.
Na última quinta-feira (24), o Governo Federal anunciou o resultado do Novo PAC Seleções da Educação, com propostas que contemplam a construção de novas creches e escolas de educação infantil adequadas para atendimento em tempo integral, além da compra de novos ônibus escolares. No Ceará, ao todo, 121 municípios serão contemplados.
Ao todo, no Ceará, foram selecionadas 130 propostas: 100 delas para aquisição de novos veículos do Programa Caminho da Escola e 30 para obras de unidades escolares. Desse total, 10 creches serão destinadas para Fortaleza.
Impacto do Busca Ativa Escolar
Além da análise dos dados, o Unicef e a Undime divulgaram, nesta segunda-feira (28), uma avaliação da Busca Ativa Escolar. Para isso, o estudo ouviu gestores públicos e identificou boas práticas, comparou os casos de abandono e exclusão escolar com os dados oficiais e avaliou o impacto da estratégia na vida de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade.
Entre os municípios participantes:
- 70,8% reconhecem que a estratégia contribui para identificar situações de vulnerabilidade;
- 68,5% afirmam que ela proporcionou mais agilidade no enfrentamento das causas da exclusão escolar;
- 67% apontam mais assertividade nas ações de busca ativa
- 58,1% relatam avanços na identificação de casos de violência.
Já no âmbito estadual:
- Para 72,5% dos participantes, a Busca Ativa Escolar ajudou a direcionar o foco para o enfrentamento das causas da exclusão escolar;
- 66,5% reconhecem sua contribuição para identificar situações de vulnerabilidade;
- 62% apontam maior assertividade nas ações;
- 49% observam avanços na identificação de situações de violência envolvendo crianças e adolescentes.
Para Alessio Costa Lima, presidente da Undime e dirigente municipal de Educação de Ibaretama, cidade do Sertão de Quixeramobim, a Busca Ativa Escolar tem se consolidado como “uma estratégia intersetorial essencial ao articular as áreas de educação, saúde e assistência social”.
“A iniciativa contribui tanto para o retorno de quem abandonou os estudos quanto para a inclusão de quem nunca teve acesso à escola”, avalia ele, sobre a ferramenta que considera estratégica.
O que dizem os gestores
O Diário do Nordeste procurou a Secretaria da Educação (Seduc) do Ceará e a Secretaria Municipal da Educação (SME) de Fortaleza para entender como as Pastas acompanham os casos de evasão escolar e quais as ações são realizadas para a busca ativa desses jovens.
Em nota, a Secretaria apontou que a rede pública estadual reduziu a taxa de abandono escolar de 11% em 2012 para 1,7% em 2023. Os dados são do Censo Escolar 2023, os mais recentes divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
A Pasta informou que desenvolve diversas ações para “garantir uma educação básica com equidade e foco no sucesso dos estudantes do Ensino Médio”. Entre elas uma equipe de superintendentes, tanto na sede da Secretaria como nas regionais, que acompanham e monitoram a frequência e o rendimento da rede.
Além disso, há o Projeto Professor Diretor de Turma, que mantém um educador da unidade de ensino como diretor de uma turma para acompanhar o desempenho escolar dos alunos até o fim da escolarização.
“Os Coordenadores Escolares também realizam estratégias para acompanhar, em sala de aula, a dinâmica dos estudos, frequência e aprendizagem”, complementa.
Outra iniciativa da Secretaria é o Projeto Nem 1 Aluno Fora da Escola, que busca reinserir, acompanhar e oferecer atendimento qualificado, mediante Busca Ativa Escolar, aos estudantes que deixaram a escola ou com perfil de infrequência e de abandono.
Também em nota, a Secretaria da Educação de Fortaleza informou que a taxa de abandono escolar de 0,2% na rede municipal, apontada pelo Censo Escolar 2024, é resultado de um conjunto de ações estratégicas. Uma delas foi a criação de uma ferramenta, dentro do Sistema de Gestão Educacional (SGE), para o acompanhamento da frequência escolar com atualização em tempo real.
“Essa ação integra a política pública de Busca Ativa, que estabelece normas e diretrizes para o monitoramento e o fortalecimento de vínculos entre os estudantes e a escola”, afirma a Pasta.
Por meio da ferramenta, o fluxo estabelecido para a efetivação da busca ativa é registrado a partir do primeiro dia de ausência injustificada.
A partir disso, a gestão realiza as seguintes medidas:
- Comunicação com a família, via telefone, ou com o próprio estudante, caso tenha alcançado a capacidade civil;
- Envio de comunicado escrito;
- Visita domiciliar;
- Por último, esgotados os meios de busca do estudante pela unidade de ensino, um ofício é enviado ao Conselho Tutelar.
A nota também destaca a atuação em conjunto entre as secretarias municipais da Educação, Saúde (SMS) e dos Direitos Humanos e do Desenvolvimento Social (SDHDS), além da Seduc.
O objetivo é assegurar, de forma permanente, a busca ativa de crianças e jovens fora da escola nas redes Municipal e Estadual em Fortaleza, além de promover encaminhamentos e atendimentos pertinentes a cada instituição, com o acompanhamento do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE).
“Além da busca ativa, a gestão municipal também investe em outras estratégias que reforçam o aprendizado dos alunos e a permanência, a exemplo dos Programas de Fortalecimento da Aprendizagem, que atuam no âmbito da ampliação da jornada escolar, atendendo alunos do 1° ao 9º ano, promovendo a educação integral e integrada, articulando a educação formal com vivências artísticas, esportivas e sociais”, finaliza.
Percepção dos eleitores sobre a economia está longe de ser positiva, e eleição não está definida
Por Luís Eduardo Assis ; O ESTADÃO DE SP
“O acaso vai me proteger, enquanto eu andar distraído. O presidente Lula deve andar cantarolando a música dos Titãs pelos jardins do Palácio da Alvorada. Por essa nem ele esperava. Ter Trump como seu cabo eleitoral, quando as pesquisas diziam que a disputa seria dura até com Michelle Bolsonaro, supera suas previsões mais otimistas. As coisas mudaram muito rápido. Em maio, a pesquisa Genial/Quaest mostrava intenção de voto de 41% para Lula em eventual segundo turno contra Bolsonaro em 2026. O ex-presidente tinha também 41% das preferências dos pesquisados (pouco importa aqui se ele não será candidato, porque, entre outras razões, estará provavelmente preso). Nova pesquisa após o desvario tarifário de Trump identificou uma vantagem de Lula de seis pontos porcentuais (43% a 37%).
Ainda assim, a percepção dos eleitores sobre a economia está longe de ser positiva – não importa o que digam os números –, e isso sugere que nada está definido. Apenas 21% dos pesquisados acreditam que a economia brasileira melhorou nos últimos 12 meses, em que pese o crescimento do nível de atividade calculado pelo Banco Central, que passou de uma variação anual de 2,2% em maio de 2024 para mais de 4% em maio.
Pouco efeito também fez a queda do desemprego para níveis historicamente muito baixos: 6,2% pelo último dado oficial, ante 7,1% há um ano. E não se trata apenas de emprego precário. O Caged registra para maio 48,25 milhões de trabalhadores com carteira assinada, o maior de toda a série, com crescimento de 3,5% (ou 1,62 milhão de novos postos) em relação a maio do ano passado. Da mesma forma, 76% dos pesquisados acreditam que os preços dos alimentos subiram no último mês, apesar de o IPCA (alimentação no domicílio) ter caído 0,43% em junho.
No mesmo tom, 56% dos respondentes apontam que o preço dos combustíveis aumentou em junho; mas o item combustíveis do IPCA registra queda de 0,42% neste mês, a terceira queda mensal consecutiva. Para 80%, o poder de compra hoje do brasileiro é menor comparado a um ano atrás, embora a Pnad/IBGE constate que o rendimento médio real, ou seja, acima da inflação, aumentou 2,8% nos 12 meses até maio. Em termos nominais, o crescimento chega a 8,7%.
Em sua crítica ao positivismo, Nietzsche não deixou por menos: não existem fatos, apenas interpretações. Flaubert engrossa o coro ao lembrar que existem apenas percepções; não existe a verdade. Hipnotizado pelo cesarismo infantil de Trump, Lula se distrai e não percebe que seu governo sangra porque padece de falta de credibilidade. Sem ela, alguns bons números são de pouca serventia. O grande problema, no entanto, é que credibilidade não surge por acaso.
Com disparada de mortes, governo Lula cria plano de segurança para motociclistas
Fábio Pescarini / FOLHA DE SP
A ajudante de produção Flávia Martins de Souza, 39, estava na garupa de uma moto, que havia solicitado por aplicativo, quando o condutor se chocou contra a motocicleta de um vigilante. A mulher chegou a ser socorrida, mas morreu no acidente do último dia 17, em Jundiaí (SP).
Para tentar reduzir os altos números da letalidade em sinistros envolvendo esse tipo de veículo —no estado de São Paulo, por exemplo, o número de motociclistas mortos no primeiro semestre deste ano foi recorde—, o governo Lula (PT) está desenvolvendo uma versão para duas rodas do Pnatrans (Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito).
O Programa Nacional de Segurança de Motociclistas, como deve ser chamado o texto, vai usar todas as referências sobre motos do plano que envolve todo o trânsito e incluir sugestões debatidas por especialistas de tráfego e de saúde que se reúnem a partir desta segunda-feira (28) em Brasília.
A elaboração do programa faz parte da Semana Nacional de Prevenção a Acidentes com Motociclistas, que será realizada pela primeira vez e instituída a partir de lei sancionada em outubro de 2024.
A ideia é que o texto final fique pronto ainda nesta semana, espera Maria Alice Nascimento Souza, diretora de Segurança Viária do Ministério dos Transportes.
Os motociclistas são as principais vítimas do trânsito. Conforme o Datasus, do Ministério da Saúde, em 2023, um total de 13.521 ocupantes de motos morreram em acidentes no país. O quantitativo representa quase 40% das 34.881 mortes no trânsito daquele ano —dados mais recentes.
Gradativamente, cresce a quantidade de motos nas ruas e estradas brasileiras. Em junho de 2019 eram 22,7 milhões de unidades registradas, segundo o Ministério dos Transportes, e representavam 22,15% de todos os veículos. No mês passado, o número saltou para mais de 29 milhões e o percentual na frota total foi a 23,01%.
"É uma estratégia de governança e midiática, para chamar a atenção", afirma Adrualdo de Lima Catão, titular da Secretaria Nacional de Trânsito.
Com um plano voltado para motociclistas, a pasta espera conseguir alcançar resultados com ações de fiscalização e de comunicação, semelhantes às da Lei Seca (que coíbe álcool e direção), por órgãos de trânsito e municípios.
Desconhecido da maioria, o Pnatrans prega, entre outros tópicos, aumentar a proporção de usuários de motocicletas que utilizam corretamente capacetes padronizados para cerca de 100% até 2030.
"No interior e nas periferias, não se usa capacete", afirma Catão. "Quando a fiscalização orienta essas pessoas, pode-se criar efeitos semelhantes aos da Lei Seca", diz —a implantação da legislação diminuiu em 24% a taxa de mortes no trânsito por consumo de álcool entre os anos de 2010 e 2023.
O programa busca chamar a atenção para outros problemas que tendem a ampliar o problema. Um relatório publicado pelo governo federal em agosto do ano passado mostrou que de 34,2 milhões de proprietários de motocicletas, motonetas e ciclomotores, 17,5 milhões (ou 53,8%) não têm CNH (Carteira Nacional de Habilitação) para conduzir esses veículos.
Há também expectativa que seja referência na adoção de medidas de engenharia de trânsito, como orientação para se reduzir a velocidade máxima tolerável em vias onde passam muitas motocicletas.
O uso de vias segregadas, como a faixa azul, também será discutido nas conferências desta semana em Brasília, mas a entrada do modelo no programa de segurança é incerta.
A sinalização no asfalto exclusiva para motos, inclusive, terá um fórum especial de debates.
A faixa azul começou a ser testada na cidade de São Paulo em 2022 e atualmente o modelo é replicado por outros municípios, como São Bernardo do Campo e Santo André, no ABC Paulista, e as capitais Salvador e Recife.
O modelo, entretanto, não é consenso. A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), da Prefeitura de São Paulo, afirma que o projeto pioneiro diminuiu o número de óbitos de motociclistas em 47,2%, passando de 36 em 2023 para 19 em 2024, nos trechos de vias com a sinalização.
Em toda a cidade, porém, o número de motociclistas mortos disparou entre os dois anos comparados. Passou de 366 óbitos em 2023 para 433 no ano passado, conforme dados do Infosiga, sistema estadual que mede a violência no trânsito.
Para se tornar uma política pública de trânsito regulamentada, a faixa azul precisa ser aprovada pela Senatran, que está analisando os números, e depois passar pelo crivo do Contran (Conselho Nacional de Trânsito). Não há prazo para isso.
Cerca de 500 mil motos circulam diariamente pelos 232,7 km de faixas azuis instaladas em 46 vias paulistanas, afirma a CET, que irá mandar palestrantes a Brasília nesta semana.
"Moto é um transporte individual altamente vulnerável. Os números são preocupantes, pois as mortes têm aumentado tanto em rodovias federais quanto nos estados", diz Catão.
O Programa Nacional de Segurança de Motociclistas também deverá chamar a atenção à ineficiência do transporte público no país. Na teoria, ônibus desconfortáveis e que não passam no horário empurram o passageiro para transportes individuais como as motos.
A última edição da pesquisa Origem e Destino do Metrô, publicada em fevereiro passado, mostrou que o número de famílias com motocicletas em casa cresceu aproximadamente 50% na região metropolitana de São Paulo entre os levantamentos de 2017 e 2023.