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Malária chega a 33 mil casos em um ano na terra yanomami, e quase metade é em crianças de até 9 anos

Vinicius Sassine / FOLHA DE SP

 

Belém

O Ministério da Saúde registrou 33,3 mil casos de malária na Terra Indígena Yanomami em 2024, uma quantidade superior à própria população do território –são 27,1 mil indígenas na região, segundo dados do Censo de 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Das 33,3 mil notificações de malária no território, 14.672 (44%) se referem a crianças de 0 a 9 anos de idade. É a maior incidência entre faixas etárias, seguida da de 10 a 19 anos, com 8.889 casos (26,6%).

As notificações da doença em 2024 representam um aumento de 10,2% em relação a 2023, quando houve 30,2 mil registros, e um acréscimo de 118% ante 2022, quando o sistema registrou 15,3 mil casos.

Os dados, compilados pela Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, foram obtidos pela Folha por meio da LAI (Lei de Acesso à Informação). Os números de 2024 são considerados preliminares e ainda sujeitos a alteração, conforme a pasta.

A reportagem pediu, na mesma solicitação, os dados de óbitos de yanomamis em todo o ano de 2024, o que foi negado pelo ministério.

As informações fornecidas sobre mortes são apenas do primeiro semestre do ano. O ministério oculta os dados, e parou de atualizar com periodicidade certa os boletins com os números.

Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que houve queda de 35,7% nas mortes por malária, numa comparação por semestres. Houve mais diagnósticos, com aumento de 73% no número de exames, e mais tratamento por profissionais de saúde, segundo a pasta.

"A análise exclusiva pelas notificações pode gerar falsa sensação de aumento de casos de malária na região, uma vez que um único paciente pode ser testado várias vezes até o fim do tratamento", disse a nota.

Segundo o documento da Secretaria de Vigilância em Saúde do ministério, fornecido à reportagem na resposta via LAI, os dados de notificações não incluem lâminas de verificação de cura, que são testes relacionados a "recaídas e recrudescências" e que não tratam de "novas infecções".

As ações de saúde tiveram início no primeiro mês do governo Lula (PT), diante da crise humanitária causada pela explosão do garimpo ilegal no território, tolerado e estimulado pela gestão passada, de Jair Bolsonaro (PL). Cerca de 20 mil garimpeiros exploravam ouro e cassiterita de forma ilegal, em muitos casos em áreas bem próximas das aldeias.

A emergência em saúde pública foi declarada em janeiro de 2023. Em fevereiro do mesmo ano, teve início uma operação federal para expulsão de invasores , em cumprimento a uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal).

Os dados fornecidos por meio da LAI mostram uma diminuição das mortes por malária, apesar do aumento das notificações. Esses dados, porém, estão incompletos: nos casos de 2023 e 2024, referem-se apenas ao primeiro semestre de cada ano.

Em 2022, houve 16 mortes por malária na terra yanomami, sendo 10 casos de crianças de 0 a 9 anos, conforme o Ministério da Saúde. No primeiro semestre de 2023, foram 14 óbitos, dos quais 7 foram de crianças com menos de 10 anos de idade. Já no primeiro semestre de 2024, houve menos mortes, 9, sendo a grande maioria, 8, de crianças de 0 a 9 anos.

Crianças e adolescentes são um público prioritário e têm maior acesso a medicamentos, segundo a pasta.

Em 2023, conforme registros do ministério, houve 363 mortes de indígenas yanomamis, levando em conta o total de óbitos, uma quantidade de notificações superior aos registros (343 mortes) em 2022, o último ano do governo Bolsonaro. Profissionais de saúde não comparam os dois anos em razão da subnotificação elevada na gestão passada.

O governo Lula não divulgou até agora os dados completos de 2024. Os números existentes se referem ao primeiro semestre do ano, quando houve notificação de 155 óbitos. A queda foi de 27% em relação ao primeiro semestre de 2023, quando o Ministério da Saúde registrou 213 mortes .

A malária é uma doença que drena a energia do paciente. A maneira como está difundida na terra yanomami, com vários casos de reincidência, e com danos graves em órgãos como o fígado, impacta a capacidade de trabalho dos indígenas nas roças nas aldeias, o que alimenta o ciclo de insegurança alimentar e a dependência de cestas básicas.

A maior quantidade de notificações reflete a ampliação do atendimento em saúde no território, desde a declaração da emergência, com mais busca ativa de casos. Polos de saúde que estavam fechados passaram a funcionar, com mais identificação e tratamento para malária.

Ao mesmo tempo, os dados de notificações mostram a disseminação da malária pelo território e a persistência dos focos do mosquito transmissor, inclusive da forma mais grave da doença, chamada de falciparum. Em nenhuma outra parte da amazônia há tanta malária como na terra yanomami.

Das 39 mortes registradas desde 2022, 18 foram causadas pelo protozário da falciparum, conforme os dados fornecidos pelo Ministério da Saúde. Em parte dos casos, com complicações cerebrais.

"O aumento do número de locais de diagnóstico e tratamento e o aumento das equipes de saúde resultam em maior cobertura dos serviços de saúde e de diagnósticos, e maior número de pessoas diagnosticadas e tratadas", afirmou Milena Kanindé, chefe de gabinete da Secretaria de Saúde Indígena do ministério, em um dos pareceres em resposta ao pedido via LAI.

Segundo ela, há uma dificuldade de diagnóstico em até 48 horas, a partir da manifestação dos sintomas, em razão de a terra yanomami ser vasta e com áreas de acesso muito difícil. Outro aspecto citado é o fato de a população ser nômade.

"No início de 2023, aproximadamente 5.224 indígenas não tinham acesso aos serviços de saúde nos polos base de Kayanaú, Homoxi, Hakoma, Ajarani, Haxiú, Xitei e Palimiú", disse a chefe de gabinete. "Até abril de 2024, todos esses polos foram reabertos, alguns parcialmente, o que aumentou consideravelmente o acesso dos indígenas ao diagnóstico e tratamento de malária."

A notificação do caso entra no sistema 45 dias após a confirmação, em média, conforme Kanindé. Por isso os dados são tratados como preliminares, sujeitos a alteração.

O secretário de Saúde Indígena, Weibe Tapeba, afirmou, em outra manifestação no pedido formulado via LAI, que os números de mortes de yanomamis no segundo semestre de 2023 e de 2024 estão "em processo de qualificação". A fase é de finalização e análise dos dados epidemiológicos, segundo o secretário, e os dados devem ser divulgados em breve, disse.

MEDICAMENTOS PARA MALARIA

Com Gleisi no Planalto, governo Lula ficará ainda mais petista

Joel Pinheiro da Fonseca / Economista, mestre em filosofia pela USP / FOLHA DE SP

 

Um governo com notória dificuldade na relação com o Congresso; que perdeu a confiança do mercado financeiro; e que assiste à queda acentuada de sua aprovação popular. Algo precisa mudar. O caminho mais natural seria caminhar para o centro. O Congresso está à direita do governo. Os segmentos em que ele é pior avaliado na população. Do mercado financeiro nem se fala.

Ao tirar Gleisi Hoffmann da presidência do PT e trazê-la para a Secretaria de Relações Institucionais —que negocia a articulação com o Congresso, estados e municípios— , Lula dá a resposta contrária: caminha para longe do centro. Para você que achava que já havia PT demais e frente ampla de menos neste novo governo Lula, as mudanças de ontem respondem: o governo acaba de ficar ainda mais petista.

Gleisi representa o "PT raiz", defende as bandeiras históricas do partido —desenvolvimentismo sem equilíbrio fiscal na economia, regime ao estilo bolivariano como ideal na política. Por mais que seu cargo não inclua política econômica, é evidente que, no Planalto, ela será mais uma voz contra a agenda difícil do ajuste fiscal. Afinal, a economia bate na política, ainda mais nesta segunda metade do mandato e com a popularidade em queda. Ajuste fiscal não costuma alegrar o eleitorado. Será que o erro não foi ter moderado demais a visão econômica do PT?

A confusão que ela deixa no PT é o índice de sua capacidade de articulação. O partido do governo, que deveria ajudar o governo a potencializar sua mensagem, passou esses dois anos criando embaraços perante a opinião pública e agora se devora numa briga sucessória que tem sobrado até para Lula.

Há quem espere que Gleisi, ao colocar o chapéu das Relações Institucionais, mude seu perfil para melhor se adaptar ao cargo. Sonhar não paga imposto. Sempre que esperamos que o cargo transforme a pessoa, é a pessoa que transforma o cargo. Dado seu histórico, veremos a defesa intransigente da posição do presidente —que ela ajudará a formular.

Com o novo regramento das emendas de comissão, dando-lhes mais transparência, abre-se uma janela de oportunidade para aprimorar a relação com o Congresso. Relação que, contudo, segue desigual. Para usar a metáfora favorita do Trump, o Congresso tem mais cartas na mão. Se a ordem do dia for bater cabeça e comprar briga, ao mesmo tempo em que colhe a antipatia do público em geral, não irá longe.

Abrir mão do Congresso nunca é uma boa ideia. Bolsonaro passou o primeiro ano de seu governo em guerra com o Congresso. Recebeu de presente a impositividade das emendas de bancada. Hoje, a agenda que volta e meia aparece nos discursos dos congressistas é a mudança da forma de governo. Parece algo distante, quase impossível, mas será?

Há uma desconexão entre Lula e a opinião pública. Encastelado no palácio, cercado de bajuladores, não deve faltar quem lhe encoraje a não mais ceder espaço, a governar apenas com a ala fiel, a única que está com ele de verdade. Enquanto Alckmin anunciava medidas ortodoxas para reduzir o preço dos alimentos, Lula já alertava: se não caírem logo, tomará "medidas drásticas". Com Gleisi a seu lado, quem pode garantir que é só bravata?

LULA E GLEISI

Consumo bomba e faz imposto sobre produto crescer mais que o PIB

Eduardo Cucolo / FOLHA DE SP

 

 

Os setores mais tributados da economia foram também os que mais cresceram em 2024, o que resultou em um aumento dos impostos sobre produtos superior ao desempenho do PIB (Produto Interno Bruto) no ano passado.

 

Houve ainda uma explosão do consumo e recuperação do investimento no país, uma demanda que foi suprida, em parte, por produtos importados, que enfrentam, em geral, carga tributária mais elevada.

 

É necessário colocar na conta ainda a recuperação da arrecadação dos estados, que cresceu acima da inflação, puxada por aumento de alíquotas, cortes de benefícios e programas de parcelamento e fiscalização.

Com isso, a participação dos tributos sobre produtos no PIB voltou a crescer, segundo o IBGE. O instituto, que divulgou na sexta (7) os dados das Contas Nacionais, atribui a recuperação ao desempenho da indústria e dos serviços, setores mais onerados, e ao aumento das importações no período para atender ao consumo no país.

 

Estamos falando de algo que representa cerca de 40% da carga tributária brasileira e que vai para os cofres de União, estados e municípios, R$ 1,6 trilhão em valores correntes (dentro de um PIB de R$ 11,7 trilhões. A maioria desses tributos será modificada ou extinta pela reforma tributária a partir de 2027.

 

Em 2023, ocorreu o contrário. Os impostos sobre produtos registraram a menor participação no PIB desde 1998. Corresponderam a 12,7% da soma dos bens e serviços produzidos pelos três grandes setores (agropecuária, indústria e serviços) no período. Em 2024, o percentual subiu para 13,8%.

 

O aumento foi expressivo, mas é necessário lembrar que o número já foi de quase 16% na década passada, o que mostra que houve redução dessa carga, compensada por uma maior tributação da renda.

 

Naquele ano, o crescimento da economia foi puxado pelo setor agropecuário e pelas exportações. Ambos são desonerados, embora não totalmente.

O impacto da intervenção federal no ICMS de 2022 também foi sentido. Desde então, vários estados aumentaram esse imposto para repor sua arrecadação, que cresceu 7% acima da inflação em 2024.

Vamos aos números. Os impostos sobre a produção cresceram 5,5% em 2024, ritmo superior ao do PIB brasileiro (3,4%). A diferença entre os dois números é a maior desde 2010, ano de forte crescimento industrial. O volume do imposto de importação cresceu 20,5%; no IPI (imposto federal sobre produtos industrializados), 8%; no ICMS (imposto estadual sobre mercadorias e serviços), 4,7%.

Aliás, é curioso notar que tributo também é PIB, já que esse valor é incorporado no cálculo do indicador. Se a soma dos impostos fosse retirada da conta, o crescimento no ano passado teria sido de 3,1% —percentual que equivale à expansão do valor adicionado pelos três grandes setores ao PIB brasileiro.

 

Como destacou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, ao divulgar o número, "o volume dos impostos sobre produtos até ajudou no crescimento da economia".

 

Os dados do IBGE incluem impostos líquidos de subsídios. A carga tributária total era de 32,44% do PIB em 2023, pelo cálculo da Secretaria do Tesouro Nacional/Ministério da Fazenda. O número de 2024 deve ser divulgado no final de março.

 

A partir das informações já divulgadas pela Receita Federal e pelos estados —e agora também pelo IBGE—, dá para apostar em aumento, já que os municípios representam menos de 10% do total. Os números mostram que o ministro da Fazenda não será o único responsável pelo resultado.

MOEDA SIMBOLO

Governo Lula expande publicidade e pode alcançar R$ 3,5 bi em contratos

Mateus Vargas / FOLHA DE SP

 

Os contratos de publicidade de ministérios, bancos e estatais no governo Lula (PT) podem alcançar R$ 3,5 bilhões neste ano, após a conclusão de licitações que estão abertas para a seleção de agências de propaganda.

A expansão ocorre no momento em que o presidente tenta reverter a queda de popularidade de seu governo. Em janeiro, Lula mudou o comando da Secom (Secretaria de Comunicação Social) da Presidência após criticar publicamente o trabalho da pasta.

O petista deseja ainda ampliar a divulgação de programas que pretende emplacar como marcas do terceiro mandato, como os programas Pé-de-Meia, do Ministério da Educação, e Mais Acesso a Especialistas, do Ministério da Saúde.

Os órgãos públicos ligados ao governo federal argumentam que a expansão dos contratos de publicidade melhora a transparência e a promoção de informações sobre as políticas públicas, com a divulgação das ações tocadas por ministérios e estatais.

O valor total da previsão de gastos com publicidade considera 21 órgãos ligados ao governo federal que têm contratos já firmados com agências de propaganda ou licitações abertas. Entre eles, há quatro seleções em andamento que somam cerca de R$ 700 milhões.

A principal disputa é pela conta de R$ 380 milhões dos Correios, estatal que deixou de investir em propaganda em 2019. Agora, a empresa afirma que deseja "reposicionar a marca" e que disputa o mercado nacional de encomendas e logística com grandes companhias, "inclusive multinacionais que investem fortemente em publicidade".

O contrato dos Correios só será inferior aos do Banco do Brasil (R$ 750 milhões), da Secom (R$ 562,5 milhões) e da Caixa (R$ 468,1 milhões). A menor conta desse grupo é a da Infraero, que prevê investimento de R$ 7 milhões por ano.

No fim da gestão de Jair Bolsonaro (PL), os contratos de publicidade dos órgãos federais somavam cerca de R$ 2,5 bilhões em valores corrigidos pela inflação. Esta cifra considerava as contas de R$ 83 milhões da Eletrobras e da Chesf (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco), que foram privatizadas em 2022.

O valor dos contratos leva em conta uma previsão do total que pode ser gasto pelos órgãos. Por isso, essa cifra costuma ser maior do que a verba efetivamente desembolsada, que depende dos planos de propaganda e da demanda por publicidade.

O Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, por exemplo, destinou R$ 90,3 milhões para publicidade em 2024, embora o contrato da pasta tivesse uma previsão de despesas de até R$ 120 milhões por ano.

Além dos Correios, outros órgãos decidiram investir em publicidade sob Lula.

O Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) assinou recentemente um contrato de R$ 40 milhões, dividido por duas agências. O Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados) fez um acordo de R$ 10 milhões.

Antes dessas contratações, os dois órgãos não possuíam contas de publicidade.

No caso específico da Petrobras, o levantamento da Folha considerou os valores efetivamente investidos pela empresa em publicidade em 2022 e 2024, em vez da cifra fixada no contrato. A razão é que a estatal não utiliza um contrato de valor anual, mas um acordo de prazo mais longo com as agências.

Em julho de 2022, a Petrobras assinou um contrato de 900 dias, no valor de R$ 375 milhões, com duas agências. Este acordo foi renovado em janeiro de 2025, pelo mesmo período, com previsão de investimentos de mais R$ 474,25 milhões.

De forma geral, as verbas de publicidade são utilizadas na produção das propagandas e, principalmente, na compra de espaço em veículos de comunicação. As agências ficam com um percentual do valor das campanhas.

Sob Lula, veículos do Grupo Globo se consolidaram como principais escolhas do governo para anúncios publicitários. A empresa chegou a ser a terceira colocada em verbas publicitárias no governo Bolsonaro, atrás da Record e do SBT.

O TCU (Tribunal de Contas da União) concluiu, em 2020, que faltavam critérios técnicos na distribuição das verbas a TVs abertas pelo governo Bolsonaro. Nos anos seguintes, a Globo voltou a liderar o ranking da publicidade federal, ainda que próxima da Record.

Em outubro passado, o tribunal citou novas falhas e determinou que sejam incluídos mecanismos para estimar melhor os custos e o retorno das propagandas. O processo avaliava as "campanhas publicitárias vultosas financeiramente" da Secom.

Campanhas visam informar sociedade e divulgar direitos, diz Secom

Procurada, a Secom afirmou que as suas campanhas de mídia seguem a tarefa institucional da pasta de "dar amplo conhecimento à sociedade das políticas e programas do Poder Executivo Federal" e de "divulgar direitos", entre outros pontos.

Em nota, o MEC afirmou que os recursos direcionados para propaganda "refletem a expansão das novas políticas educacionais" e que o orçamento da pasta também subiu 40% em relação a 2022. O ministério comandado por Camilo Santana (PT) tem uma licitação aberta que deve elevar a R$ 140 milhões o contrato anual de publicidade, hoje de R$ 27,4 milhões.

A Caixa disse que é a principal parceira do governo federal na operacionalização de políticas públicas e que desenvolve atividades comerciais "que requerem à instituição se manter competitiva frente aos concorrentes, inclusive com relação à publicidade".

"Os investimentos do banco nessa área observam rigorosamente os limites legais e orçamentários e são compatíveis com o porte e a complexidade de seus negócios", disse a instituição.

O Banco do Brasil afirmou que possui contratos "compatíveis" com a atuação no "acirrado mercado financeiro" nacional e internacional. Ainda afirmou que mede a participação das campanhas publicitárias no seu resultado financeiro.

"Por exemplo, em uma dessas operações, a cada R$ 1 investido em publicidade apuramos R$ 1.200 em resultado financeiro, para além de outros critérios, como formação de imagem da marca", disse.

Já o Inmetro disse que, apesar de o contrato ter um valor de R$ 40 milhões, a previsão de gastos com publicidade neste ano é de R$ 10 milhões.

"As campanhas publicitárias têm caráter preventivo e educativo, buscando esclarecer a sociedade sobre o correto manuseio, exposição e comercialização de produtos e serviços, de forma a reduzir riscos à segurança da população e coibir crimes contra a economia popular, com fraudes e irregularidades", disse o instituto.

O Serpro declarou que atua em mercado concorrencial e que 70% das ações de marketing serão voltadas aos "desafios mercadológicos".

"Isso significa cobrir um portfólio de mais de 80 soluções, enquanto os 30% restantes são direcionados para o fortalecimento da marca institucional", afirma o órgão. Na licitação para escolha de agências, o Serpro também citou que deve realizar uma campanha publicitária sobre os seus 60 anos.

 

Com ‘medidas drásticas’, Lula afasta Haddad, desautoriza Alckmin e Fávaro e traz Dilma de volta

Por Eliane Cantanhêde / O ESTADÃO DE SP

 

Ao ameaçar o agronegócio com “medidas drásticas”, caso os preços dos alimentos não caiam, o presidente Lula não apenas deu uma de Donald Trump como desautorizou o seu vice, Geraldo Alckmin, e o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que se esfalfaram para dar garantias para a sociedade, produtores, distribuidores, atacadistas e redes de supermercados de que não haveria “soluções heterodoxas”. Todo o esforço foi jogado no lixo.

 

Neste momento tenso no Brasil e no mundo, Lula subiu no palanque justamente num evento do MST e no dia do anúncio de um PIB animador para, mais uma vez, matar a boa repercussão do PIB e conquistar manchetes amargas por toda parte, reforçando a percepção de que insiste em repetir os erros de Dilma Rousseff e descambar perigosamente para uma esquerda sem rumo.

 

Acenar com “medidas drásticas” é desmentir Alckmin e Fávaro, que vinham negando categoricamente taxação, que remete ao desastre do Pix e às loucuras de Trump; controle de preços, que traz de volta o fantasma dos “fiscais de Sarney”; e cotas de importação, que os produtores não querem nem ouvir falar. E onde fica Fernando Haddad, que tem muito a ver com o comemorado crescimento de 3,4% em 2024?

 

Lula tem razão ao reclamar dos preços de café, ovo, milho..., como qualquer um faz, mas dizer que “não quer brigar com ninguém” é coisa de quem está exatamente buscando briga. E logo com quem? Com o agronegócio, que historicamente já tem um pé atrás com ele e o PT, sofreu bastante com seca, cheias, fatores externos e disparada do dólar em 2024 e, depois de ser a “pièce de résistance” nas duas recessões de Dilma e na pandemia, recuou 3,2% no PIB de 2024. Desta vez, o bom desempenho da economia foi graças à indústria e a serviços.

 

É verdade que o governo tem instrumentos limitados para conter a inflação da mesa do brasileiro, mas zerar o imposto de importação de café, carnes e açúcar, por exemplo, não deve mudar nada, só atrai dúvidas de especialistas quanto à eficácia e mais animosidade entre produtores, preocupados com a competição. O Brasil é grande exportador e o impacto de corte de impostos em importações modestas tende a ser pequeno, mas serve para alimentar as críticas do agro.

 

E, assim como no debate sobre o pacote da segurança de Ricardo Lewandowski, os governadores de oposição também jogaram na fogueira da polarização a proposta de Alckmin de zerar o ICMS (imposto estadual) de alimentos. O que está na mesa não é a comida do povo e nem mesmo as alegadas dificuldades econômicas dos Estados, é principalmente a disputa eleitoral e as ambições de 2026.

 

Para reforçar a imagem de esquerda, Lula não se satisfaz em potencializar as recentes medidas populares, como a própria proposta para alimentos, impedir o aumento de 6% na conta de luz no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, liberar o FGTS de quem tinha optado pelo saque-aniversário e a isenção do IR para renda até R$ 5.000,00. Ele precisa também bater de frente com o agro, o mercado, a “turma de cima”. O que lucra com isso?

 

Na próxima segunda-feira, Gleisi Hoffmann volta ao Planalto, agora na Articulação Política, e Alexandre Padilha, ao Ministério da Saúde. Ela foi chefe da Casa Civil e ele ocupou o mesmo cargo no governo Dilma, de onde conduziu o “Mais Médicos”, que a categoria rejeitou e retaliou depois ao apoiar maciçamente Jair Bolsonaro em 2022 – depois de todas as suas manifestações e decisões macabras na pandemia. Lula despachou Dilma para o banco dos Brics para mantê-la bem longe, mas Dilma nunca esteve tão próxima.

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Opinião por Eliane Cantanhêde

Comentarista da Rádio Eldorado, Rádio Jornal (PE) e da GloboNews

 

 

Déficit per capita da previdência dos militares é mais de 18 vezes o custo de aposentados e pensionistas do INSS

Por  — Brasília / O GLOBO

 

 

Os sistemas previdenciários no Brasil, dos setores público e privado, padecem de um crônico rombo nas contas, que a União tem de cobrir. As contribuições não são suficientes para pagar as aposentadorias e pensões. Assim, para que todos recebam seus benefícios, o Tesouro completa o que falta.

 

No entanto, o que sai do Orçamento para cada beneficiário do regime previdenciário das Forças Armadas é 18,6 vezes o custo individual de cada aposentado ou pensionista do INSS, que reúne os benefícios dos trabalhadores do setor privado. Em relação aos servidores civis federais, o valor dos militares é o dobro.

 

No ano passado, o déficit do regime de previdência das Forças Armadas por beneficiário chegou a R$ 162.481, conforme dados compilados a partir de informações do Tesouro Nacional e da Lei Orçamentária Anual (LOA). No regime geral, do INSS, o governo gastou bem menos com cada aposentado e pensionista: R$ 8.702.

 

Já no regime de aposentadoria dos servidores civis da União, o Tesouro teve de completar R$ 75.497 para cada beneficiário em 2024.

O chamado sistema de proteção das Forças Armadas registrou déficit de R$ 50,88 bilhões (diferença entre receitas e despesas) em 2024 para custear os proventos de 313 mil militares inativos e pensionistas. Com resultado negativo de R$ 55,68 bilhões, o regime próprio dos servidores da União atende mais beneficiários: 737 mil.

No caso do INSS, que apresentou déficit de R$ 297,39 bilhões , são 34,1 milhões de aposentados e pensionistas.

Essa discrepância levou o Tribunal de Contas da União (TCU) a alertar o Executivo sobre a necessidade de fazer ajustes para reduzir a distância entre contribuições e despesas no regime previdenciário dos militares. É o que o governo tenta fazer com uma proposta enviada no fim do ano passado ao Congresso pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que prevê mudanças no regime dos militares para economizar R$ 2 bilhões por ano.

 

Dados do Tesouro mostram que, entre 2008 e 2024, a despesa com o regime de proteção dos militares quase triplicou, saindo de R$ 20,8 bilhões para R$ 63 bilhões, em valores correntes. É o cálculo do gasto em si, sem contar a receita. Mesmo descontada a inflação no período, essa despesa pública subiu 27,3% em termos reais, segundo cálculo do especialista Rogério Nagamine.

A Reforma da Previdência aprovada pelo Congresso em 2019, no governo de Jair Bolsonaro, afetou todos os trabalhadores da iniciativa privada e do serviço público federal com o estabelecimento de uma idade mínima para aposentadoria (65 anos para homens e 62 para mulheres). Na costura política da ocasião, porém, os integrantes das Forças Armadas tiveram outro.

Ainda que os pensionistas passassem a pagar uma contribuição previdenciária, a mudança foi acompanhada de uma reestruturação de carreira que resultou em aumentos salariais na ativa.

 

Para o TCU, as mudanças não foram suficientes para trazer sustentabilidade para as contas do regime de previdência das Forças, que os técnicos do órgão caracterizam como de baixa geração de receitas. Procurado, o Ministério da Defesa não quis se manifestar.

Impacto limitado

Na visão de especialistas, o projeto de lei encaminhado ao Congresso com mudanças na previdência dos militares, entre os pontos de um programa de corte de gastos públicos, prevê apenas ajustes no regime, sem enfrentar o problema de forma mais estrutural.

Uma das principais propostas é a fixação de idade mínima de 55 anos para a transferência à reserva. Em países da União Europeia, por exemplo, a idade mínima varia entre 57 e 60 anos. Além disso, haverá uma regra de transição até que o limite valha plenamente em 2032, se o texto passar sem alterações.

 

Atualmente, não há restrição de idade para o militar brasileiro deixar a ativa, somente a exigência de tempo mínimo de serviço, que passou de 30 anos para 35 anos em 2019. A idade média de reforma hoje está em torno de 52 anos.

 

O projeto também acaba com a transferência da cota de pensão. Atualmente, em caso de morte de um pensionista, a parte dele é dividida entre os outros. Isso já foi extinto para trabalhadores do INSS e servidores civis. O projeto ainda padroniza em 3,5% a contribuição para assistência médica de inativos e pensionistas para integrantes de Exército, Marinha e Aeronáutica.

Não mexe na pensão vitalícia de filhas de militares. O benefício acabou em 2001, mas quem já estava na carreira pôde optar por pagar um adicional para assegurar a pensão das filhas no futuro.

A tramitação do projeto no Congresso ainda não avançou, e o texto já é alvo de mobilização da chamada bancada da bala, de parlamentares ligados a pautas corporativistas das forças de segurança. Um dos argumentos é que as mudanças propostas por Haddad para as Forças Armadas serão replicadas nos estados para policiais militares e bombeiros, que também foram enquadrados nas regras dos militares na reforma de 2019.

O Ministério da Fazenda nega. O projeto não mexe na legislação que trata das polícias militares e dos corpos de bombeiros militares nos estados e não há essa vinculação obrigatória na reforma, diz um técnico.

 

Outra proposta acaba com a chamada morte ficta, que assegura pensão integral às famílias de militares presos. Pelo projeto, parentes de militares, com mais de dez anos de serviço, que forem expulsos por mau comportamento e perderem posto ou graduação terão direito à metade da remuneração no período em que o servidor estiver cumprindo pena de reclusão. Ao sair da prisão, o benefício será extinto.

 

Para Nagamine, as medidas propostas pelo governo são tímidas diante do problema:

— O fim da morte ficta só deve ser aplicado às novas concessões e tem impacto pequeno, mais moral que financeiro. A única medida que teria mais impacto é a não reversão de cotas, mas que tende a um impacto pequeno no curto prazo.

‘Há muito o que mudar’

Em 2024, o déficit do sistema dos militares foi formado por uma despesa total de R$ 60,1 bilhões e receitas que somaram R$ 9,2 bilhões. Entretanto, o ex-secretário de Previdência Leonardo Rolim pondera que esse regime não conta com contribuição patronal, como no caso dos dos empregadores do setor privado e da União para o funcionalismo.

— O déficit do sistema de militares é alto? É. Mas seria preciso simular o valor da contribuição patronal, que não existe para eles — diz Rolim, que atuou em favor da aprovação da reforma em 2019.

 

O pesquisador da Fipe/USP Paulo Tafner concorda com Rolim, mas destaca que militares das Forças Armadas sempre tiveram o que considera “privilégios” no país. Isso começou a mudar em 2001, diz o economista, quando foi feita uma primeira reforma no regime dos militares, no governo de Fernando Henrique Cardoso, e em 2019.

Contudo, ele avalia que ainda há muito a fazer para deter o crescimento dos gastos previdenciários militares. Ele cita o valor da pensão, que é equivalente à remuneração integral da ativa, e a possibilidade de acumular pensões herdadas de militares como vantagens que deveriam ser revistas.

— Não é possível fazer uma conta direta sem considerar a contribuição patronal. Mas há muito o que mudar em relação aos militares — diz.

 

FORÇA ARMADAS

Elmano anuncia grupo especial para investigar ataques contra provedoras de internet

Escrito por Igor Cavalcante / DIARIONORDESTE
 
 

Em meio à série de ataques contra empresas provedoras de internet no Ceará, o governador Elmano de Freitas (PT) anunciou, neste sábado (8), a criação de um grupo especial para investigar e prender os responsáveis pelos crimes.

Conforme vem noticiando o Diário do Nordeste, a facção criminosa Comando Vermelho (CV) iniciou um novo “ramo” de atuação no território cearense, realizando “licitações” para a atuação de provedoras de internet. A organização criminosa chegou a proibir o uso de alguns serviços, atacar instalações e até incendiar veículos das empresas.

Em resposta, Elmano reuniu a cúpula da Segurança Pública do Estado no Palácio da Abolição para tomar medidas emergenciais para coibir esses ataques.

“Neste sábado, aqui na sede do Governo, estamos em reunião com todas as nossas forças de segurança discutindo ações contra o crime no Estado do Ceará. Nos últimos dias, temos acompanhado e temos feito investigações daquilo que tem ocorrido contra alguns provedores e usuários de internet no Estado do Ceará”, disse o governador.

“Estamos, em virtude da situação, tomando a decisão de criar um grupo especial de investigação para tomar medidas concretas. Podem ter certeza que, nessa investigação, nós vamos prender cada um desses criminosos, eles vão responder na justiça pelos crimes praticados”
Elmano de Freitas (PT)
Governador do Ceará
 
ELMANO GOVERNADOR CE

PREFEITO Evandro envia à CMFor veto a projeto que flexibiliza ocupação de áreas verdes em Fortaleza

Escrito por Bruno Leite / DIARIONORDESTE
 

O prefeito Evandro Leitão (PT) encaminhou para a Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor) uma mensagem de veto integral a um projeto de lei complementar de autoria do vereador Luciano Girão (PDT), seu aliado, que prevê modificar o zoneamento ambiental de áreas nos bairros Manuel Dias Branco, flexibilizando a ocupação imobiliária na região, e no Antônio Bezerra.

A medida do gestor foi apresentada ao Legislativo municipal na última sexta-feira (28), lida no Plenário Fausto Arruda, na sessão ordinária desta quinta-feira (6), e remetida para as comissões. Ao que justificou o petista no texto direcionado à Câmara Municipal, a matéria foi vetada por “vício de inconstitucionalidade” e “contrariedade ao interesse público”.

O documento alega que a proteção do meio ambiente está prevista na Constituição Federal, que impõe obrigações ao Poder Público, para poder preservá-lo. E mencionou que a alteração do zoneamento previsto na proposição deve, além de colocar em risco a proteção, violar o “princípio da proibição do retrocesso ambiental”.

A redação do veto indicou que o projeto de Girão modifica o Plano Diretor Participativo de Fortaleza, “que contou com estudos que levaram em conta a legalidade, viabilidade e impactos, realizados por técnicos integrantes dos diversos órgãos da administração municipal”. 

E, considerando a amplitude da legislação citada, sustentou: “não há espaço para juízos valorativos individuais, de modo a excepcionar, restringir ou ampliar o que expressamente dispõe o texto legal, sob pena de se desvirtuar o sentido e a finalidade legal”.

Com o recebimento do veto, ele agora será apreciado pelos parlamentares da Casa, que poderão manter a consideração do chefe do Executivo municipal ou promulgar a lei sem a intervenção feita pelo gestor.

Tramitação do projeto vetado

A proposta vetada foi aprovada pela CMFor em dezembro do ano passado. Originalmente, ela versava somente sobre a modificação da área do Manuel Dias Branco, localizada às margens da Avenida Santos Dumont. 

Assim, o quadrante deixaria de fazer parte da Zona de Interesse Ambiental (ZIA) do Cocó e seria considerado uma Zona de Ocupação Preferencial 2 (ZOP 2). Isso permitiria, entre outras ações, a intensificação da edificação de empreendimentos imobiliários no local.

Quando houve a aprovação no Legislativo, o texto do projeto de lei complementar foi emendado pelos vereadores, fazendo com que ele também interviesse no zoneamento de um perímetro no bairro Antônio Bezerra, delimitado por um muro de um terreno particular e pelas ruas Manaus, Conselheiro Araújo Lima e Professor Paulo Lopes.

A área, que tem um curso de água e um trecho alagável, passaria de Zona de Preservação Ambiental (ZPA) para Zona de Requalificação Urbana (ZRU). A modificação também facilitaria a ocupação do local por construções. 

O autor da emenda aditiva foi o então vereador Eudes Bringel (PSD), que atualmente está licenciado e ocupa a Chefia de Gabinete do prefeito Evandro Leitão. A iniciativa foi subscrita por outros 15 parlamentares daquela legislatura.

A justificativa que acompanhava a emenda sustentou que a alteração no zoneamento poderia se estabelecer pela “urgência de atender às demandas sociais e econômicas da população”, de modo que poderiam ser proporcionadas melhorias como acesso ao transporte, saúde e educação.


Legenda: Emenda ampliou abrangência do projeto e passou a incluir área do Antônio Bezerra.
Foto: Reprodução / CMFor

Polêmica na votação

Na época, a votação da proposta foi marcada por embates entre a base do então prefeito José Sarto (PDT) e a bancada do Psol na Casa Legislativa. 

O autor da proposição, Luciano Girão, justificou, na redação, que o lugar em questão “já perdeu todas as características que justificavam sua inclusão na classificação de ZIA”. Deste modo, o que se vê hoje, conforme o parlamentar, é “um adensamento urbano provocado pela instalação de moradias, comércio e serviços”.

Contrário à proposta, Gabriel Aguiar (Psol) disse que, na prática, a matéria substituía “uma zona de interesse ambiental, que protege a zona costeira, protege dos alagamentos, reduz a erosão fluvial, pluvial e marítima, do avanço do mar, da derrubada das casas e da corrosão do litoral”. No entendimento dele, o interesse era “retirar a proteção ambiental para adensamento urbano”.

O vereador do Psol classificou a proposta como um “retrocesso” e reforçou que “mais de 50%” da área não está construída atualmente. “É mais um exemplo da mensagem que a gente está passando como Câmara Municipal a quem quiser invadir e construir ilegalmente em zona de interesse ambiental”. 

Em “defesa da imagem da Câmara Municipal”, o então presidente da Casa, Gardel Rolim (PDT), rebateu declarações de Gabriel. “Não acho que a Câmara Municipal está aqui para dar um jeitinho em quem fez construções irregulares”, frisou. “Falando especialmente da ZIA, que é o tema que estamos discutindo, nas ZIAs já é permitido construção, não estamos regularizando construção que foi feita de forma irregular”, completou.

Crítica ao 'apagar das luzes'

No fim de janeiro, durante uma entrevista coletiva realizada no Paço Municipal, Evandro Leitão revelou que avaliava revogar leis sancionadas no governo anterior que mudassem o zoneamento de áreas da cidade. 

Naquela ocasião, Evandro já tinha anunciado que iria vetar o projeto de lei de autoria de Luciano Girão e aproveitou o momento para tecer críticas ao que foi feito pelo Legislativo quanto aos perímetros da zona ambiental do Cocó e do Antônio Bezerra.

“Vetamos um projeto de uma zona de proteção ambiental onde a Câmara Municipal de Fortaleza, no apagar das luzes, no final do ano passado, aprovou esse projeto, tornando uma zona de proteção ambiental em uma área de exploração imobiliária, e certamente isso iria acontecer”, disse.

A reportagem do Diário do Nordeste acionou os vereadores Luciano Girão e Eudes Bringel a fim de obter o posicionamento de cada um deles, responsáveis pelas incursões agora vetadas. Não houve devolutiva até a publicação desta matéria. O conteúdo será atualizado caso haja alguma manifestação.

área no Antônio Bezerra

 

 

Evandro envia à CMFor veto a projeto que flexibiliza ocupação de áreas verdes em Fortaleza

Escrito por Bruno Leite / DIARIONORDESTE
 

O prefeito Evandro Leitão (PT) encaminhou para a Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor) uma mensagem de veto integral a um projeto de lei complementar de autoria do vereador Luciano Girão (PDT), seu aliado, que prevê modificar o zoneamento ambiental de áreas nos bairros Manuel Dias Branco, flexibilizando a ocupação imobiliária na região, e no Antônio Bezerra.

A medida do gestor foi apresentada ao Legislativo municipal na última sexta-feira (28), lida no Plenário Fausto Arruda, na sessão ordinária desta quinta-feira (6), e remetida para as comissões. Ao que justificou o petista no texto direcionado à Câmara Municipal, a matéria foi vetada por “vício de inconstitucionalidade” e “contrariedade ao interesse público”.

O documento alega que a proteção do meio ambiente está prevista na Constituição Federal, que impõe obrigações ao Poder Público, para poder preservá-lo. E mencionou que a alteração do zoneamento previsto na proposição deve, além de colocar em risco a proteção, violar o “princípio da proibição do retrocesso ambiental”.

A redação do veto indicou que o projeto de Girão modifica o Plano Diretor Participativo de Fortaleza, “que contou com estudos que levaram em conta a legalidade, viabilidade e impactos, realizados por técnicos integrantes dos diversos órgãos da administração municipal”. 

E, considerando a amplitude da legislação citada, sustentou: “não há espaço para juízos valorativos individuais, de modo a excepcionar, restringir ou ampliar o que expressamente dispõe o texto legal, sob pena de se desvirtuar o sentido e a finalidade legal”.

Com o recebimento do veto, ele agora será apreciado pelos parlamentares da Casa, que poderão manter a consideração do chefe do Executivo municipal ou promulgar a lei sem a intervenção feita pelo gestor.

Tramitação do projeto vetado

A proposta vetada foi aprovada pela CMFor em dezembro do ano passado. Originalmente, ela versava somente sobre a modificação da área do Manuel Dias Branco, localizada às margens da Avenida Santos Dumont. 

Assim, o quadrante deixaria de fazer parte da Zona de Interesse Ambiental (ZIA) do Cocó e seria considerado uma Zona de Ocupação Preferencial 2 (ZOP 2). Isso permitiria, entre outras ações, a intensificação da edificação de empreendimentos imobiliários no local.

Quando houve a aprovação no Legislativo, o texto do projeto de lei complementar foi emendado pelos vereadores, fazendo com que ele também interviesse no zoneamento de um perímetro no bairro Antônio Bezerra, delimitado por um muro de um terreno particular e pelas ruas Manaus, Conselheiro Araújo Lima e Professor Paulo Lopes.

A área, que tem um curso de água e um trecho alagável, passaria de Zona de Preservação Ambiental (ZPA) para Zona de Requalificação Urbana (ZRU). A modificação também facilitaria a ocupação do local por construções. 

O autor da emenda aditiva foi o então vereador Eudes Bringel (PSD), que atualmente está licenciado e ocupa a Chefia de Gabinete do prefeito Evandro Leitão. A iniciativa foi subscrita por outros 15 parlamentares daquela legislatura.

A justificativa que acompanhava a emenda sustentou que a alteração no zoneamento poderia se estabelecer pela “urgência de atender às demandas sociais e econômicas da população”, de modo que poderiam ser proporcionadas melhorias como acesso ao transporte, saúde e educação.


Legenda: Emenda ampliou abrangência do projeto e passou a incluir área do Antônio Bezerra.
Foto: Reprodução / CMFor

Polêmica na votação

Na época, a votação da proposta foi marcada por embates entre a base do então prefeito José Sarto (PDT) e a bancada do Psol na Casa Legislativa. 

O autor da proposição, Luciano Girão, justificou, na redação, que o lugar em questão “já perdeu todas as características que justificavam sua inclusão na classificação de ZIA”. Deste modo, o que se vê hoje, conforme o parlamentar, é “um adensamento urbano provocado pela instalação de moradias, comércio e serviços”.

Contrário à proposta, Gabriel Aguiar (Psol) disse que, na prática, a matéria substituía “uma zona de interesse ambiental, que protege a zona costeira, protege dos alagamentos, reduz a erosão fluvial, pluvial e marítima, do avanço do mar, da derrubada das casas e da corrosão do litoral”. No entendimento dele, o interesse era “retirar a proteção ambiental para adensamento urbano”.

O vereador do Psol classificou a proposta como um “retrocesso” e reforçou que “mais de 50%” da área não está construída atualmente. “É mais um exemplo da mensagem que a gente está passando como Câmara Municipal a quem quiser invadir e construir ilegalmente em zona de interesse ambiental”. 

Em “defesa da imagem da Câmara Municipal”, o então presidente da Casa, Gardel Rolim (PDT), rebateu declarações de Gabriel. “Não acho que a Câmara Municipal está aqui para dar um jeitinho em quem fez construções irregulares”, frisou. “Falando especialmente da ZIA, que é o tema que estamos discutindo, nas ZIAs já é permitido construção, não estamos regularizando construção que foi feita de forma irregular”, completou.

Crítica ao 'apagar das luzes'

No fim de janeiro, durante uma entrevista coletiva realizada no Paço Municipal, Evandro Leitão revelou que avaliava revogar leis sancionadas no governo anterior que mudassem o zoneamento de áreas da cidade. 

Naquela ocasião, Evandro já tinha anunciado que iria vetar o projeto de lei de autoria de Luciano Girão e aproveitou o momento para tecer críticas ao que foi feito pelo Legislativo quanto aos perímetros da zona ambiental do Cocó e do Antônio Bezerra.

“Vetamos um projeto de uma zona de proteção ambiental onde a Câmara Municipal de Fortaleza, no apagar das luzes, no final do ano passado, aprovou esse projeto, tornando uma zona de proteção ambiental em uma área de exploração imobiliária, e certamente isso iria acontecer”, disse.

A reportagem do Diário do Nordeste acionou os vereadores Luciano Girão e Eudes Bringel a fim de obter o posicionamento de cada um deles, responsáveis pelas incursões agora vetadas. Não houve devolutiva até a publicação desta matéria. O conteúdo será atualizado caso haja alguma manifestação.

área no Antônio Bezerra

 

 

Pontes em estado precário revelam urgência de privatizar mais rodovias

Por Editorial / O GLOBO

 

Técnicos costumam dizer que nenhuma ponte cai de repente. Há avisos. Se houver vistorias periódicas, sempre será possível repará-las ou, no mínimo, interditá-las para salvar vidas. Como não houve nem uma coisa nem outra, o desabamento da Ponte Juscelino Kubitschek, sobre o Rio Tocantins, em dezembro, deixou 14 mortos e três desaparecidos. Os números sugerem que haverá outros casos assim se ninguém tomar providências. Há 736 pontes em estado crítico ou ruim no Brasil, de acordo com os dados oficiais do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) revelados pelo GLOBO.

 

As estatísticas do Panorama Geral das Pontes Brasileiras sugerem que os riscos podem ser ainda maiores. Das 113.168 pontes existentes no país, apenas 12.142 passaram por alguma inspeção, e as condições de 1.039 foram classificadas como críticas ou ruins. Do total, 42 mil (37%) têm mais de 50 anos. É um percentual elevado e preocupante, pois todas elas exigem cuidados especiais para continuar funcionando sem risco. Há poucos dias, o Dnit fechou a Ponte dos Índios, sobre o Rio Pindaré, entre as cidades de Santa Inês e Bom Jardim, no Maranhão. A medida foi tomada depois que indígenas advertiram que a corrosão fez cair parte da estrutura embaixo do vão central.

 

A interdição infelizmente é uma exceção. Não se conhecem as condições de mais de 100 mil pontes, ou quase 90%, a maioria de responsabilidade de estados e municípios, de acordo com Ademir Santos, professor aposentado de pontes e estruturas de concreto da Universidade Federal da Bahia (UFBA). A estrutura de vistoria e fiscalização é precária ou mesmo inexistente, segundo constatou estudo sobre o assunto apresentado em outubro por Santos e dois coautores no 65º Congresso Brasileiro do Concreto.

 

O Programa de Manutenção e Reabilitação de Estruturas do Dnit estima gastos de R$ 5,83 bilhões em 816 obras. Como não parece haver sentido de urgência, as autoridades ainda esperam resposta do setor de engenharia e construção sobre a capacidade de atender à demanda. Para evitar tragédias, seria necessário investir bem mais em infraestrutura de transporte. Em 2023, os investimentos ficaram em 0,56% do PIB, segundo estudo da MC2R Inteligência Estratégica. A Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) calculou, no mesmo ano, que o país precisaria investir 2,26% do PIB apenas para cobrir a depreciação dos ativos públicos de transportes.

 

Por 25 anos, o Brasil tem investido menos de 1% do PIB no setor, enquanto China, Rússia,Índia, Coreia do Sul, Vietnã, Chile e Colômbia despendem em média 3,4%. Tais números comprovam mais uma vez a necessidade de promover concessões de rodovias ao setor privado. Nem todas as estradas serão viáveis sob a administração privada, por isso o poder público precisará continuar a mantê-las. Justamente para manter o foco nessas e contribuir para preservar vidas, é preciso acelerar a privatização das demais.

 

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