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PAC de Lula era de vidro e se quebrou

Elio Gaspari / Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada" / folha de sp

 

 

Completam-se amanhã dois anos do lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento, joia da coroa do governo Lula 3.0. Previa R$ 1,8 trilhão de investimentos.

Na cumbuca, entrou o projeto da Ferrogrão. Trata-se de uma ferrovia com mil quilômetros de extensão, ligando a cidade de Sinop (MT) ao distrito de Miritituba (PA). Pelo andar da carruagem, era fake news, pois nenhuma folha de papel saiu do lugar para permitir a discussão ou a realização da obra, prevista no PAC para ser concluída em 2030.

Na melhor das hipóteses, a Ferrogrão ficou no ar por conta de um governo que não se mexe. Na pior, ela entrou no PAC para enganar a turma do agro. A ferrovia (paralela à rodovia BR-163 já existente e asfaltada), permitirá o escoamento de 50 milhões de toneladas de grãos anuais, com o frete estimado em R$ 150 por tonelada, metade do custo do mesmo frete por transporte rodoviário.

Admitindo-se que não se tratou de uma brincadeira, em dois anos Lula 3.0 não mexeu um só papel nem discutiu um só tema relacionado com essa obra.

São muitos e dormentes os interesses contra a abertura de qualquer ferrovia. Se o governo teve de fato algum interesse na obra, nada melhor que abrir a discussão do projeto. Como se sabe, a luz do Sol é o melhor detergente.

Numa época em que tanto se fala das sentenças condenatórias do ministro Alexandre de Moraes, o governo fez que não ouviu sua decisão, autorizando-o a começar o processo de licitação da ferrovia.

Como parte das comemorações do segundo ano da inclusão da Ferrogrão no PAC, o governo poderia lançar o Anti-Pac, destinado a explicar porque seus projetos não andam.

Uma tunga cruel

No tempo em que os bichos falavam, a Eletrobras criou um corpo técnico qualificado e protegeu-o com um regime que oferecia uma confortável aposentadoria, gerido pelo fundo de pensão da estatal. Essa era a teoria.

Na prática, o fundo foi rapinado por gestores, e a reserva virou pó. Nenhum gestor foi responsabilizado. A conta foi para os servidores que sobreviveram. Eles são uns 600, quase todos com mais de 80 anos.

Produziu-se a seguinte gracinha: um servidor recebeu o contracheque de julho, com proventos de R$ 34.441 e descontos de R$ 34.395. Restaria ao servidor viver com R$ 46.

 

Isso não basta. O servidor é informado que será tungado até 2035 e, regularmente, é avisado que está devendo "contribuições extraordinárias em atraso". Em julho, quando ele deveria viver com R$ 46, devia R$ 6.711.

Essa maluquice é explicada matematicamente pelos eletrotecas. O que ninguém explica é que os gestores ficaram numa boa e os servidores estão obrigados a quitar suas leviandades.

BARCAÇAS TRANSPORTE GRTÃOS RIO TAPAJOS PA

Obras atrasadas e falta de manutenção nas rodovias até o Pecém elevam custo logístico no Ceará

Escrito por Luciano Rodrigues / DIARIONORDESTE
 
 
Chegar ao Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP) pode ser uma dor de cabeça para os motoristas. O acesso pelas quatro rodovias principais, seja de moto, carro ou caminhão, exige que eles driblem buracos no asfalto, desviem de obstáculos, enfrentem a falta de acessos adequados e lidem com a vegetação que cobre a sinalização.
 

A reportagem percorreu as vias e constatou que a BR-222 está esburacada, enquanto as CEs 085 e 155 têm mato sobre as sinalizações e falta de alças de acesso. Também foi verificado que as obras de duplicação da BR-222 e do 4º Anel Viário estão atrasadas. 

As rodovias de acesso ao Porto do Pecém são cruciais para a economia porque impactam diretamente os custos logísticos em um dos principais centros de distribuição do Estado. Segundo especialista, a falta de conclusão das obras pode aumentar essas despesas em até 30%.

Além disso, ir de trem para escoar mercadorias até o Cipp, por enquanto, está fora de cogitação. O trecho ferroviário entre o complexo e a Ferrovia Fortaleza-São Luís, operado pela Ferrovia Transnordestina Logística (FTL), está suspenso para a construção do lote 11 da Transnordestina e deverá ser reativado somente em 2026.

Abaixo, veja quais são essas vias e sua importância.

  • BR-222: entroncamento com o 4º Anel Viário e BR-020 até o início da CE-156; 
  • Rodovia 4º Anel Viário: corredor logístico que interliga a BR-116 e as CEs 010, 025, 040, 060 e 065 até a BR-222, que distribui o tráfego para o complexo; 
  • CE-085: conhecida como Via Estruturante, recebe o fluxo alternativo do 4º Anel Viário e da BR-222 para o porto; 
  • CE-155: rodovia que começa na BR-222 e abrange todo o complexo, terminando nos portões de acesso ao porto. 

As CEs 156 e 348 também levam ao Cipp. A primeira começa no distrito de Lagoa do Juvenal (Maranguape) e vai até a Taíba (São Gonçalo do Amarante).

Já a segunda rodovia inicia na localidade das Caraúbas (Caucaia), passa por Pecém e Taíba e acaba no Siupé (Paracuru). O tráfego rodoviário das duas estradas para o complexo, porém, é menor.

BR-222 se arrasta em duplicação há anos

A rodovia que interliga Fortaleza a Marabá, no interior paraense, é uma das que têm obras tão arrastadas quanto a do próprio 4º Anel Viário. Desde bem antes da pandemia, a duplicação de 24 km, entre o entroncamento com a BR-020 e a entrada da CE-155, vem se desenrolando.

Boa parte desse pequeno trecho está, enfim, duplicada, mas isso não significa que opere plenamente em duas pistas. Uma porção significativa da estrada, entre os quilômetros 11 e 35, ainda funciona em mão dupla devido às obras.

Como consequência, há desvios e uma rodovia que exige do motorista redobrar a atenção para percorrê-la. Enquanto uma parte conta com nova pavimentação, a outra ainda aguarda as obras.
Legenda: Obras se arrastam há décadas no entorno do Porto do Pecém; algumas sequer têm previsão de sair do papel
Foto: Thiago Gadelha

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) informou, em fevereiro, que estava realizando a colocação de infraestrutura no sentido Fortaleza-Sobral.

A previsão, naquela época, era de que a duplicação dos 24 km fosse concluída no segundo semestre deste ano, com orçamento de cerca de R$ 270 milhões.

Promessa de duplicação de rodovias federais nas proximidades do acesso ao Pecém

Após o entroncamento com a CE-155, no distrito da Catuana, a BR-222 volta a ser em pista simples, com uma pista que apresenta infraestrutura ainda deficitária

A BR-020, que interliga Fortaleza a Brasília, deixa de ser sobreposta à BR-222 na altura do 4º Anel Viário. Praticamente ao mesmo tempo, a rodovia segue em pista simples rumo ao interior do Ceará e com qualidade asfáltica e sinalização abaixo do ideal.

Vale lembrar que a previsão é de duplicar toda a BR-222 até Sobral, na região Norte do Estado. Já os planos para a BR-020 são de duplicá-la entre o entroncamento com o 4º Anel Viário até Caridade, no Sertão de Canindé.

4º Anel Viário há 15 anos tenta ser concluído

Alvo de reclamações há vários anos, a duplicação do 4º Anel Viário de Fortaleza está quase finalizada. O projeto não engloba o viaduto que passa sobre a BR-116, um dos principais pontos de engarrafamento da via.

De fato, a rodovia está duplicada nos demais trechos, mas não está concluída.

Faltam acessos viários, recapeamento em diversos pontos, acostamento e demais obras de infraestrutura, que continuam causando transtornos nos motoristas.

É por ela onde passam os caminhões mercadorias que interligam os dois principais portos do Ceará, Pecém e Mucuripe, em trajeto que, completo, totaliza aproximadamente 115 km.

A promessa é de que o investimento de R$ 97 milhões seja suficiente para concluir, até o fim deste ano, as obras do 4º Anel Viário.  

Legenda: Há pelo menos 15 anos em obras, duplicação do 4º Anel Viário tem promessa de conclusão para o final deste ano
Foto: Thiago Gadelha
Heitor Studart, coordenador do Núcleo de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), aponta que a falta de conclusão das obras da estrada "encarece o preço do frete em pelo menos 30%".

"Encarece o transporte diário de cargas. É um engarrafamento infernal: 20 anos para fazer essa obra, que ainda não terminou nem duplicou o viaduto da BR-116", destaca. 

Pista bloqueada na BR 222

Lula sobre Bolsonaro: ‘Ô cara de pau, se defenda! Mostre que você é inocente’

Por Lavínia Kaucz (Broadcast)Gabriel de Sousa (Broadcast) e Ricardo Corrêa / O ESTADÃO DE SP

 

 

BRASÍLIA e SÃO PAULO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nesta sexta-feira, 8. O petista afirmou que o antecessor está tendo direito a ampla defesa no processo em que é acusado de golpe de Estado e ironizou a campanha pela anistia antes da conclusão do processo: “Ô cara de pau, se defenda! Mostre que você é inocente”.

 

As declarações foram feitas em Porto Velho (RO), onde Lula participa de cerimônia para anunciar investimentos do governo federal no Estado. Fazem parte do pacote a nova etapa do programa Luz para Todos, o lançamento da ponte binacional entre Guajará-Mirim e a Bolívia e a entrega de títulos fundiários e criação de assentamentos da reforma agrária. O presidente da Bolícia, Luis Arce, também participou do evento.

 

Em seu discurso, o petista afirmou que Bolsonaro está tendo a presunção de inocência que ele alega não ter tido em seus processos na Lava Jato. “O cidadão que está sendo julgado e aqueles que estão fazendo o impeachment de um ministro da Suprema Corte pois está julgando ele, deveriam aprender o seguinte: ele está tendo o que eu nao tive”.

 

Lula também ironizou a postura de Bolsonaro em relação ao processo. “Ao invés de ficar choramingando pelos cantos: ‘Ah, eu tô doente’ (...) Aí vai os filhos: ‘Ele está chorando, ele está nervoso’. Seja homem. Crie vergonha. E responda pelo que você fez”, disse Lula. O chefe do Executivo voltou a criticar o presidente americano Donald Trump, afirmando que ele precisa aprender que soberania é um direito sagrado. “A gente não se mete na Corte deles (Estados Unidos)”, disse.

 

Lula reafirmou que não busca “briga” com o presidente americano e comparou a situação do Brasil com uma mulher que busca independência financeira. “Trump, nós não queremos briga. Nós queremos independência e ser donos do nosso nariz. Porque a mulher, se ela tiver uma profissão, ela vai para o mercado de trabalho. Ela vai poder pagar alguém para tomar conta do filho dela. E ela não vai aceitar morar com uma pessoa que não trata ela bem, que não respeite ela. Uma mulher não deve morar com uma pessoa atrás de um prato de comida”, disse o presidente.

 

Lula voltou a criticar o deputado Eduardo Bolsonaro, afirmando que ele será cassado pela atuação nos Estados Unidos e comparou com seus familiares no episódio em que foi preso na Lava Jato. “Veja se vocês viram algum filho meu chorando pelos cantos quando eu fui preso? Alguém viu algum filho meu chorando? Você viu algum filho meu ir na Bolívia pedir para o Arce invadir o Brasil? Você viu um filho meu ir nos Estados Unidos? Não. Sabe por quê? Porque eu ensinei meus filhos a ter vergonha na cara, a ter caráter e a respeitar o País”, disse.

Governo Lula é forçado a ‘descer do salto’ com ‘tudo ou nada’ da oposição e pesquisa frustrada

Por Iander Porcella e Roseann Kennedy / O ESTADÃO DE SP

 

 

governo sofreu um choque de realidade e precisou “descer do salto” por dois motivos. Um deles é o “tudo ou nada” da oposição no Congresso após a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, o que ameaça travar a agenda do Executivo. A expectativa de aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como mostrou a Coluna do Estadão, era de relação zerada com o Legislativo. O diálogo com a cúpula da Câmara e do Senado até melhorou, mas o clima hostil gera imprevisibilidade.

 

O segundo fator foi a pesquisa DataFolha divulgada no domingo, 3, que mostrou estabilidade na popularidade do petista. Uma ala do Planalto chegou a “comemorar” o resultado por avaliar que parte do entorno de Lula estava otimista demais com o ganho político do tarifaço de Donald Trump e poderia “baixar a guarda”.

 

Lula corre contra o tempo para melhorar a aprovação popular com foco nas eleições de 2026. Para isso, dizem integrantes do Planalto, não pode contar somente com a briga ideológica. É preciso aprovar no Congresso o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda (IR) e fazer mais entregas concretas à população. Caciques da centro-direita veem a recuperação da popularidade como um “voo de galinha”. Esse campo político também aposta em desidratar a pauta de Lula na Câmara e no Senado o máximo possível, mesmo sabendo que no caso do IR nenhum parlamentar vai arcar com o ônus político de ser contra.

 

Essa mudança de cenário levou Lula a condicionar de novo sua candidatura à reeleição a estar com “100% de saúde” ano que vem. A fala, em evento do PT, foi vista como um “álibi” para o petista não correr o risco de um vexame em 2026.

 

Dependência de arrecadação sobre petróleo chega a 34,5% do orçamento nos estados

Eduardo Cucolo / O ESTADÃO DE SP

 

 

A arrecadação do setor de óleo e gás responde por cerca de 10% do orçamento da União e dos estados brasileiros, percentual que varia de 3,6% no Acre a 34,5% no Rio de Janeiro. Os cálculos são do IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás) e têm como base dados de 2023, tanto para as despesas como para as receitas.

Entre os dez locais que mais dependem desses recursos, quatro estão no interior do país, e não no litoral, onde se desenvolve a maior parte das atividades de exploração de petróleo. São eles: Mato Grosso do Sul, Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais. Isso é explicado pelo ICMS sobre combustíveis, que representa de 12% a 20% do preço.

Desses estados, os três do Centro-Oeste, junto com o Amapá, são os que apresentam a maior participação da tributação sobre combustíveis na arrecadação do ICMS. São locais em que o consumo de diesel é muito elevado, por conta de atividades agrícolas ou, no caso do Amapá, do uso marítimo do mesmo combustível, segundo o IBP.

Dos R$ 325 bilhões arrecadados em 2023 junto ao setor em todos os níveis de governo, 36% se referem ao ICMS cobrado pelos estados. Os tributos federais, como Imposto de Renda e PIS/Cofins, respondem por 35%.

No valor restante estão ainda royalties e participações especiais cobradas sobre campos de alta produção, ambos recursos que vão para os caixas de União, estados e municípios como compensação pela exploração de recursos não renováveis. Entram também na conta o lucro óleo (partilha da produção do Pré-Sal destinada à União) e o bônus de assinatura dos contratos de exploração.
 

O presidente do IBP, Roberto Ardenghy, contesta dados que apontam que o setor se beneficia de isenções tributárias específicas.

 

Um levantamento do Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos) apontou R$ 29 bilhões em benefícios para empresas do setor em 2023. Foram R$ 260 bilhões desde 2015, sendo quase metade para a Petrobras. Os dados se referem ao Repetro, regime aduaneiro que permite a importação de equipamentos para atividades de petróleo e gás natural.

"Não temos incentivos fiscais, temos um regime que apenas difere [adia] o pagamento do imposto para quando você começa a produzir. É o único regime que existe para o setor, mas é apenas um adiamento", afirma Ardenghy.

Segundo ele, a maioria dos países produtores de petróleo tem esse tipo de regime, que será mantido na reforma tributária.

Ele afirma que a tributação do setor no Brasil é elevada em relação a outros países. Pelo regime de concessão, estava na faixa de 45% a 50% do valor do barril produzido. Com o pré-sal, no regime de partilha, a carga pode chegar a 69%. "De cada três barris de petróleo produzidos, dois são destinados ao pagamento dos diversos tipos de impostos", afirma o executivo.

O IBP calcula que a carga do ICMS aumentou após 2023 por conta da queda na evasão fiscal provocada pela mudança na tributação dos combustíveis. A cobrança passou a ser monofásica, com o recolhimento dos tributos em uma única fase, na refinaria. A sonegação estimada em US$ 8 bilhões por ano, deve ser reduzida em 80%, pela projeção da entidade.

O levantamento mostra ainda que mais de 80% dos royalties pagos à União foram destinados às áreas de educação e saúde e ao Fundo Social do governo federal. Quase 90% das participações especiais sobre campos de alta produção foram para o mesmo fundo.

Embora a lei determine que recursos de royalties e participações especiais não sejam usados para despesas correntes, e sim em áreas como educação e infraestrutura, muitos municípios acabam burlando a norma.

O presidente do IBP afirma que o objetivo deveria ser preparar esses locais para superarem o momento em que aquela reserva de petróleo vai acabar. A Bacia de Campos, por exemplo, produz hoje 50% do pico verificado há cerca de dez anos, o que gera preocupações para municípios do Rio de Janeiro.

"É importante que aquele local tenha se precavido e se reinventado, mas nem todo mundo faz isso. Temos notícias de municípios gastando em festas de final do ano, micaretas e coisas assim, dizendo que é despesa com a educação", afirma Ardenghy.

 

 PLATAFORMA ALMIRANTE TAMANDARÉ

Ceará tem 5 cidades com obras do PAC Educação sob risco de cancelamento por pendências em documentos

Escrito por Bruno Leite / DIARIONORDESTE
 
 

Cinco municípios com obras de escolas em tempo integral e creches e escolas de educação infantil, contratadas junto ao Governo Federal por meio do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC), podem ter suas propostas canceladas por pendências na documentação.

A informação foi obtida pelo Diário do Nordeste junto ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). A relação, atualizada diariamente, indica as pendências relacionadas com uma cláusula contratual chamada de “suspensiva”.

A “cláusula suspensiva” é uma condição que precisa ser cumprida para que os processos de licitação e obras do programa possam avançar. O dispositivo permite que contratos sejam assinados mesmo que alguns documentos obrigatórios ainda não estejam disponíveis no momento da assinatura, desde que haja um prazo para apresentação. 

Até esta quarta-feira (6), constavam no painel das obras do órgão federal construções com prazos que vencem entre 24 de agosto e 30 de novembro de 2025 nos municípios de Fortaleza, Pacajus, Marco, Tianguá e Pindoretama — este último é o único da listagem que conta com duas obras contratadas. 

Procurada pela reportagem, a assessoria de comunicação do órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC) respondeu que, mesmo passado o prazo, que tem sido postergado ao longo desse ano, as municipalidades poderão procurar a Caixa Econômica Federal para negociar a regularização diretamente com o agente financiador.

Até o início desta semana, três dos governos mencionados já tinham seus prazos vencidos, segundo a plataforma. Entretanto, houve uma dilatação pela administração federal. Os prazos atuais são:

  • 24 de agosto — Marco
  • 27 de agosto — Tianguá
  • 28 de agosto — Fortaleza e Pindoretama
  • 30 de novembro — Pacajus

O que dizem as prefeituras?

PontoPoder acionou todas as citadas, para que pudessem se manifestar sobre o assunto. No entanto, até a publicação desta matéria, somente Pindoretama havia respondido à solicitação. O espaço segue aberto.

A Prefeitura de Pindoretama, por meio de nota, disse que a condição das obras, em cláusula suspensiva, “decorre de pendências técnicas e documentais identificadas pelo órgão federal”. O comunicado informou que o prazo, apesar de estipulado inicialmente para o último dia 29 de julho, foi prorrogado por mais 30 dias.

“Desde o início das tratativas, todas as notificações, solicitações e apontamentos técnicos realizados pela Caixa Econômica Federal, bem como pelos sistemas eletrônicos do FNDE, vêm sendo rigorosamente acompanhados e respondidos com a maior celeridade possível”, argumentou.

Ceará tinha maior número de pendências

Em março, o Governo Federal informou que o Ceará contava com 59 obras de creches e escolas de educação infantil e escolas em tempo integral com pendências de documentação.

A unidade da federação era, naquele momento, a que tinha o maior número de ocorrências do tipo. Ao que destacou a divisão do Governo Federal, a quantidade de obras enquadradas muda diariamente, conforme as demandas são resolvidas pelos entes.

Foram apontadas obras das seguintes prefeituras: Pires Ferreira, Tamboril, Itatira, Varjota, Moraújo, Canindé, Iguatu, Pacoti, Apuiarés, Cascavel, Ararendá, Morrinhos, Martinópole, Barbalha, Itaitinga, Independência, Senador Pompeu, Pentencoste, Madalena, Crato, Pindoretama, Ibaretama, Alto Santo, Ipaporanga, Jati, Beberibe, Ipueiras, Orós, Poranga, Milagres, Tianguá, Morada Nova, Aracoiaba, Massapê, Saboeiro, Paracuru, Marco, Cariús, Aratuba, Barreira, Itarema, Maranguape, Amontada, Maracanaú, Miraíma, Paraipaba, Mombaça, Nova Olinda, São Luís do Curu, Jaguaruana, Ibicutinga, Barroquinha, Croatá, Ubajara e Guaraciaba do Norte.

A informação foi divulgada em um período próximo do prazo inicial para regularização, que era 30 de abril. Naquela ocasião, uma ação para auxiliar as administrações públicas com dificuldades para atender aos requisitos técnicos foi intensificada. 

Foi divulgado ainda que as obras que não superassem a fase seriam canceladas. Além disso, as gestões que não cumprissem os requisitos poderiam enfrentar restrições na submissão de propostas nas próximas edições do Novo PAC.

No início de março, a Confederação Nacional de Municípios (CNM) chegou a emitir um alerta para os municípios verificarem a situação das propostas cadastradas na plataforma usada pelo governo para obras na área da educação. 

O que é o PAC Educação?

Novo PAC Educação, Ciência e Tecnologia é um dos eixos do programa de investimentos coordenado pelo Governo Federal. Segundo o Poder Executivo, o objetivo da política, a terceira do tipo entre as gestões petistas, é a promoção do desenvolvimento econômico e social do País.

Além da modalidade voltada para aportes no setor educacional, científico e tecnológico do Brasil, o programa conta com os seguintes eixos: Transporte Eficiente e Sustentável, Infraestrutura Social Inclusiva, Cidades Sustentáveis e Resilientes, Água Para Todos, Inclusão Digital e Conectividade, Transição e Segurança Energética, Inovação Para Indústria da Defesa e Saúde.

Até 2026, devem ser investidos, por meio do PAC, R$ 1,8 trilhão em todos os estados da federação, numa parceria com entes do setor privado, estados, municípios e movimentos sociais. 

ESCOLAS NO CEARÁ

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Governo avalia que decisão de Moraes unificou direita, mas mantém respaldo a ministro do STF

Catia SeabraCézar FeitozaAna Pompeu / FOLHA DE SP

 

Apesar das manifestações públicas de apoio ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, integrantes do governo Lula (PT) admitem, sob reserva, que a decretação da prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) abriu oportunidade de reunificação da direita no momento em que os bolsonaristas eram responsabilizados pelo tarifaço americano aos produtos brasileiros. O respaldo a Moraes, no entanto, é mantido dentro do governo.

Até então cobrados pelo tarifaço do governo Donald Trump, aliados de Bolsonaro adotaram a estratégia de vitimização do ex-presidente e decidiram obstruir a pauta do Congresso Nacional.

Com a tática, atraíram a solidariedade de políticos do centro, como foi o caso do presidente do PSD, Gilberto Kassab. A declaração do político conhecido pelo pragmatismo foi recebida por aliados de Lula como prova de realinhamento à direita.

Moraes determinou na segunda-feira (4) a prisão domiciliar de Bolsonaro por ter violado medidas cautelares.

O ex-presidente discursou, remotamente, para seus apoiadores durante manifestação no Rio de Janeiro, no domingo (3). A gravação da fala de Bolsonaro foi publicada nas redes sociais de seu filho Flávio e replicada por diversos perfis.

A ação midiática foi entendida pelo ministro do STF como um descumprimento da medida cautelar que o proibia de usar redes sociais de terceiros e de fazer discursos "pré-fabricados" para incitar apoiadores e governos estrangeiros contra o Supremo.

Embora repitam que Moraes se viu obrigado a adotar medidas diante do desrespeito à determinação judicial, o entorno do presidente Lula reconhece que a prisão pode reanimar o eleitorado bolsonarista.

Um interlocutor do presidente afirma que será necessária uma comunicação eficiente para mostrar que Bolsonaro descumpriu determinação judicial com intuito de provocar sua prisão e gerar comoção a seu favor.

Outro integrante do governo lamenta que Moraes tenha desperdiçado a chance de lançar mão da prisão domiciliar após a condenação de Bolsonaro pela trama golpista —o que poderia ser entendido até como um gesto magnânimo do ministro.

Integrantes do governo Lula afirmam que continua irrestrito o apoio ao ministro, além da defesa da soberania do Judiciário. O próprio presidente da República repete que não permitirá que exigências políticas contaminem as negociações comerciais com os EUA.

No Palácio do Planalto, há também a avaliação de que Moraes não teria alternativa senão decretar a prisão, após ter uma determinação desrespeitada pelo ex-presidente. Na opinião de auxiliares de Lula, Bolsonaro descumpriu a medida com o objetivo de provocar a própria prisão e deixar o magistrado sem saída.

ALEXANDRE DE MORAIS

Mais de 58 mil atendimentos no Ceará feitos pelo SUS em 5 anos estavam cobertos por planos de saúde

Escrito por Gabriela Custódio / diarionordeste
 
Mais de 66 mil atendimentos realizados em unidades de saúde públicas do Ceará entre os anos de 2019 e 2023 foram a pacientes com planos de saúde. Dentre eles, em pelo menos 58 mil — 87% do total —, o procedimento realizado estava coberto pelo contrato do beneficiário com a operadora e o valor deve ser restituído ao Sistema Único de Saúde (SUS), segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
 

A quantidade de procedimentos que podem ser ressarcidos ao SUS no período analisado pode chegar a quase 61 mil, entre internações e procedimentos ambulatoriais, uma vez que quase 3 mil dos que foram identificados ainda estão sendo avaliados, segundo os dados da Agência.

O número é pequeno, quando comparado aos mais de 592 milhões de atendimentos realizados na rede pública só no Ceará, mas gerou uma cobrança de quase R$ 177,6 milhões em reembolso ao Sistema Único de Saúde. As informações são da 18ª edição do Boletim Informativo da ANS “Utilização do Sistema Único de Saúde por Beneficiários de Planos de Saúde e Ressarcimento ao SUS”.

Ao longo dos cinco anos analisados, foram 19.515 autorizações de internação hospitalar (AIH) — outras 1.305 estão sendo avaliadas —, menos de 1% das mais de 2,5 milhões registradas no Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS) do Ministério da Saúde.

Já as autorizações de Procedimentos Ambulatoriais de Alta Complexidade/Custo (APAC) — como procedimentos clínicos e cirúrgicos — somaram 38.543, apenas 0,01% dos 589,6 milhões registrados pelo Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS (SIA/SUS), também mantido pelo Ministério.

Desse montante cobrado pela ANS às operadoras de saúde, apenas cerca de R$ 60,8 milhões foram pagos ou estão em parcelamento, o que corresponde a menos de 35% do valor total. Com isso, a dívida dos planos de saúde pelos atendimentos realizados na rede pública do Ceará, entre 2019 e 2023, é de cerca de R$ 116,8 milhões.

É esse tipo de débito que o Ministério da Saúde quer que os planos privados quitem por meio da oferta de serviços especializados a usuários do SUS, no componente Ressarcimento do Programa Agora Tem Especialistas.

Na segunda-feira (28), a Pasta afirmou que a meta inicial é que R$ 750 milhões em dívidas de ressarcimento ao SUS sejam convertidas em consultas, exames e cirurgias em 2025.

O programa do Governo Federal tem como foco as seis áreas mais carentes de serviços especializados em todo o País — oncologia, oftalmologia, ortopedia, otorrinolaringologia, cardiologia e ginecologia — e considerar a demanda de estados e municípios.

Só no Ceará, as filas de espera nessas áreas somam mais de 74,2 mil pessoas aguardando consultas, segundo Breno Novais, coordenador de Monitoramento, Avaliação e Controle do Sistema de Saúde da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), informou ao Diário do Nordeste em entrevista na última quinta-feira (31).

  • Oftalmologia: 21 mil
  • Ortopedia: 21 mil
  • Ginecologia: cerca de 16 mil
  • Otorrinolaringologia: 14 mil
  • Cardiologia: 2 mil
  • Oncologia: 200
  • Entenda as dívidas de ressarcimento ao SUS

    São muitos os motivos que levam beneficiários de planos de saúde para atendimento em unidades públicas. Uma razão frequente, segundo o médico sanitarista e gestor em saúde Álvaro Madeira Neto, são casos de urgência e emergência. “Em casos de acidente ou mal súbito, o paciente normalmente é levado ao hospital público mais próximo. E, independentemente de ter plano ou não, ele será devidamente atendido”, afirma.

  • Outro caso comum é a busca pela rede pública para realizar procedimentos de alta complexidade. “A rede privada do plano, às vezes, não tem aquela disponibilidade imediata ou aquela capacidade instalada, e o beneficiário vai acabar tratando determinada enfermidade em centros de referências do SUS”. complementa.

    A médica sanitarista Ligia Bahia, professora titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acrescenta a negativa e a postergação do atendimento, por parte das operadoras, além da demora para realizar os procedimentos. “As operadoras funcionam sob uma lógica de autorizações e negações que dependem de condições muitas vezes ignoradas pelos clientes, como acesso condicionado ao tipo de plano”, afirma.

  • Nas unidades públicas de saúde do Ceará, entre 2019 e 2024, dos mais de 66,6 mil atendimentos a beneficiários de planos privados no SUS, cerca de 36% foram referentes a Autorizações de Internação Hospitalar (AIH) e os outros 64%, a Autorizações e Procedimentos de Alta Complexidade do SUS (APAC). Os dados também estão disponíveis no boletim da Agência Nacional de Saúde Suplementar.
  • “Os dados da ANS sobre esses ressarcimentos indicam, de fato, que os procedimentos que mais originam as cobranças dos planos incluem hemodiálise, tratamento de infecções graves, cirurgias múltiplas, tratamento de doenças infecciosas severas, acompanhamento pós-transplante de órgãos, terapias oncológicas, até mesmo, em alguns, casos parto”, complementa o médico.
    • Quando a Agência Nacional de Saúde Suplementar identifica que um atendimento a beneficiário de plano de saúde foi realizado no SUS, a operadora é notificada para ressarcir o sistema público ou apresentar defesa. Elas podem recorrer em duas instâncias para provar que o ressarcimento não é devido.
    • “Todo esse trâmite acaba levando a uma dívida que vai acumulando valores expressivos ao longo do tempo, já que muitas operadoras contestam, muitas operadoras atrasam esses reembolsos”, afirma.

      O Ministério da Saúde estima que a dívida dos planos de saúde, em todo o País, é de R$ 1,3 bi. Esses débitos, segundo o médico sanitarista, representam recursos “fundamentais” que deixam de ingressar no financiamento público da saúde.

      Como funciona a cobrança de ressarcimento

      1. O processo começa com o cruzamento dos dados do Departamento de Informática do SUS (Datasus) sobre atendimentos da rede pública com as informações do Sistema de Informações de Beneficiários (SIB) dos planos de saúde;
      2. Os atendimentos identificação como aptos a serem cobrados são encaminhados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para as operadoras dos planos de saúde, para que elas efetuem o pagamento ou apresentem defesa;
      3. Os planos de saúde podem recorrer em duas instâncias. Inicialmente, é protocolada uma impugnação e, caso haja o indeferimento das alegações, é possível apresentar recurso;
      4. Se a solicitação for indeferida, a operadora deve pagar os valores apurados pela Agência;
      5. Em caso de inadimplência, as operadoras são inscritas em dívida ativa e no Cadastro Informativo de Créditos não quitados do Setor Público federal (Cadin), assim como ficam sujeitas à cobrança judicial;
      6. Os valores ressarcidos, por sua vez, são encaminhados ao Fundo Nacional de Saúde (FNS) para serem reaplicados em programas prioritários do Ministério da Saúde.

      “Desta forma, o ressarcimento pode ser visto como um importante mecanismo de regulação, que possibilita identificar como as operadoras estão procedendo em relação ao cumprimento dos contratos dos beneficiários e se possuem uma rede de atendimento adequada”, explica a ANS, em publicação sobre os procedimentos de cobrança.

    • Como vai funcionar a troca de dívidas

      Para participar dessa iniciativa e converter dívidas em atendimentos especializados, a operadora de plano de saúde deve aderir ao programa por meio de edital, apresentar capacidade técnica e operacional para ofertar atendimentos, estar regular com o envio das informações periódicas à ANS e não se encontrar em processo de liquidação (sendo encerrada judicial ou administrativamente) ou impedida de contratar com a Administração Pública.

      Os planos de saúde também devem indicar os débitos de ressarcimento e apresentar proposta de oferta que atende demandas locais de saúde.

      R$ 1,3 bi
      Dúvida estimada de ressarcimento ao SUS dos planos de saúde no Brasil

      Após a adesão ser aprovada, os valores a serem convertidos em atendimentos são negociados com a ANS ou com a Procuradoria-Geral Federal (PGF), em caso de dívidas ativas. Depois disso, um rol de serviços ofertados será disponibilizado ao SUS conforme a demanda existente na regulação local e regional.

      Com base em uma tabela própria, o programa vai remunerar a operadora após a conclusão do conjunto de atendimentos previstos nos combos de cuidados — as Ofertas de Cuidados Integrados (OCIs), pacote de serviços que inclui consultas, exames e tratamentos, inclusive cirurgias —, que devem ser realizados em prazos definidos.

    • Os serviços prestados pelos planos de saúde vão gerar o Certificado de Obrigação de Ressarcimento (COR), necessário para abater a dívida com o SUS. Para isso, o programa estabelece uma produção mínima de R$ 100 mil por mês, para evitar pulverização dos serviços. Em regiões com menos instituições e grande demanda, o valor mínimo é de R$ 50 mil mensal.

      Portaria nº 7.702, de 28 de julho, prevê monitoramento conjunto entre Ministério da Saúde, ANS, entes federativos participantes e grupo condutor tripartite de implementação e monitoramento. Em caso de descumprimentos — com inexecução dos serviços acordados ou execução inferior a 90% — as operadoras poderão ser multadas e até excluídas do Programa.

      • Atendimento no SUS


 

Leite diz que, se Bolsonaro cavou ou não prisão, decisão de Moraes é criticável;

Por Geovani Bucci (Broadcast) e Daniel Galvão / O ESTADÃO DE SP

 

SÃO PAULO - O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSD), afirmou que “não interessa” se a publicação do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) - que motivou a decretação da prisão domiciliar de seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) - foi utilizada de modo intencional para estimular a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Para Leite, a determinação de prisão domiciliar é equivocada. A declaração foi feita em entrevista ao programa Papo com Editor, do Estadão/Broadcast.

 

“Não interessa se o presidente ‘cavou’ ou não ‘cavou’ (a prisão domiciliar). A questão é que a decisão não corresponde ao que eu acredito ser o melhor para o ambiente democrático pro País”, disse o governador. “Ela está baseada numa decisão que eu acho equivocada”.

 

Na entrevista, Leite também criticou medidas cautelares determinadas por Moraes contra Bolsonaro. Para ele, a proibição de usar redes sociais, que também inclui participação em lives em qualquer plataforma incluindo em contas de terceiros, é um erro do ministro.

 

“Dentro de um ambiente democrático, de livre manifestação, até que Bolsonaro seja julgado e eventualmente condenado pelo colegiado, entendo que ele tem direito de se expressar usando os canais legítimos”, continuou. “Uma decisão monocrática de prisão domiciliar, na minha visão, não é correta. Já aquela que vier a ser tomada dentro de um colegiado, no âmbito regular do processo, deve ser respeitada”, finalizou.

 

Na entrevista, Eduardo Leite diz que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contribuiu para o ambiente de animosidade com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ainda assim, fez uma ressalva. Para ele, a principal responsável pelo tarifaço é a família do ex-presidente Jair Bolsonaro , que o governador afirma ter tido influência na decisão de Trump de taxar produtos brasileiros, de modo a pressionar para reversão do processo conduzido pelo STF contra o capitão reformado.

 

Veja os principais pontos da entrevista:

 

Gostaria de saber qual a avaliação do senhor sobre a prisão domiciliar de Bolsonro e também sobre o impacto dela nas próximas eleições.

Precisamos olhar essa jornada do presidente Bolsonaro dentro de um processo que está em andamento. Dentro desse contexto, houve esse episódio específico: a prisão domiciliar determinada, porque Bolsonaro descumpriu a ordem de não usar redes sociais. Sobre essa prisão em particular, eu sou crítico. Me preocupa e, como brasileiro, fico muito triste de ver que, dos cinco presidentes eleitos após a redemocratização, apenas Fernando Henrique Cardoso não sofreu impeachment ou prisão. Essa decisão específica do ministro Alexandre de Moraes, de restringir manifestações do ex-presidente, eu considero criticável. Dentro de um ambiente democrático, de livre manifestação, até que Bolsonaro seja julgado e eventualmente condenado pelo colegiado, entendo que ele tem direito de se expressar usando os canais legítimos. Quanto aos efeitos eleitorais, ainda é cedo pra dizer. Depende de quanto tempo essa prisão vai durar, se vai ser mantida, se haverá condenação no processo. E depende também de quais decisões Bolsonaro vai tomar dentro do campo político dele - do qual eu não faço parte, é importante destacar. Criticar a prisão nessas condições não me faz bolsonarista. Não sou apoiador do ex-presidente, pelo contrário, sempre fui crítico, e seus apoiadores também me criticam, me atacam.

 

Aliados de Bolsonaro afirmaram que o comportamento do ex-presidente que levou à prisão domiciliar pode ter sido intencional. Como o senhor vê essa possibilidade?

É difícil entender quais são as intenções de um ou de outro nesse caso. Dentro de um ambiente democrático, que é onde a gente deve viver, a decisão que cerceou manifestações do ex-presidente já era, por si só, criticável - e eu já tinha feito essa crítica antes. Então, se houve algum movimento do ex-presidente, tenha sido intencional ou não, que levou o ministro a tomar a decisão da prisão, como ela está baseada numa decisão que eu acho equivocada, ela também é criticável. O que eu quero dizer aqui é o seguinte: não interessa se o presidente cavou ou não cavou. A questão é que a decisão não corresponde ao que eu acredito ser o melhor ambiente democrático pro país.

 

O senhor chegou a se solidarizar com o ministro Alexandre de Moraes nas redes sociais pelas sanções do presidente americano Donald Trump, mas também disse que o ministro comete erros e acertos. Quais seriam os erros e quais os acertos?

Olha, um erro, sem dúvida, foi a decretação da prisão do ex-presidente Bolsonaro e a decisão que o impedia de se manifestar nas redes sociais. O cerceamento de manifestação como medida cautelar foi, na minha visão, a origem desse erro. Todos nós somos falíveis: jornalistas erram, políticos erram, juízes também. Por isso a importância das decisões colegiadas, porque um grupo de ministros tende a reduzir as chances de falhas, ainda que não torne o processo infalível. Reconheço, ao mesmo tempo, que Moraes foi fundamental na condução do processo eleitoral e na transmissão de cargo, agindo de forma incisiva para garantir estabilidade. Mas não podemos criar precedentes perigosos, como limitar manifestações, que podem ser usados futuramente em outros contextos. Ele acertou em muitas oportunidades, especialmente no processo relacionado à tentativa de golpe, sendo rigoroso, e nisso merece elogios. Mas, quando houver excessos, vou criticar.

 

E sobre a defesa de anistia ampla, geral e irrestrita que parte da oposição pede, qual a sua opinião?

Não sou a favor. Quem cometeu atos de vandalismo no contexto de uma tentativa de golpe estava defendendo uma ruptura institucional. Claro, é legítimo discutir a gradação de penas e a dosimetria, mas anistiar completamente vai contra o que a própria direita costuma defender: que quem faz coisa errada deve ser punido. O Brasil já tem um problema sério de sensação de impunidade. A solução não é deixar de punir alguns porque outros também não são punidos. A solução é punir todos que cometem crimes.

 

Sobre o decreto do IOF, que gerou reação no Congresso e foi visto como uma aproximação entre governo federal e PL, como o senhor avalia?

O presidente tem a prerrogativa jurídica de editar decretos sobre o tema. Mas não pode ignorar a reação do Congresso, que representa a sociedade. Politicamente, deveria rever. O IOF tem caráter regulatório, não arrecadatório. Usar o imposto apenas para arrecadar mais é questionável. O Brasil já tem uma das maiores cargas tributárias do mundo, cerca de 34% do PIB, e o governo não mostra apetite para cortar gastos, rever privilégios ou melhorar a eficiência do gasto público. O problema não é arrecadar mais; é gastar melhor. É preciso discutir qualidade do gasto, não só aumentar impostos.

 

Sobre o tarifaço de Trump, governadores reagiram de formas diferentes. Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, por exemplo, disse que Lula colocou sua ideologia acima da economia e que isso motivou as sanções dos EUA. O senhor concorda?

A responsabilidade principal é da família Bolsonaro. O próprio Eduardo Bolsonaro admitiu isso. Mas não dá pra dizer que Lula não tenha responsabilidade alguma. Ele contribuiu para o ambiente de animosidade com os Estados Unidos, com discursos insistentes contra o dólar e antiamericanos. Isso só aumenta o atrito com um parceiro comercial estratégico como os EUA. O dólar não é moeda de referência por convenção política, mas porque conquistou credibilidade histórica. Ficar insistindo em alternativas irreais gera mais ruído do que soluções. Lula deveria ter procurado Trump logo após a eleição, ou mesmo após o anúncio do tarifaço. O próprio Trump disse, na semana passada, que estava pronto para conversar. Até onde sei, Lula ainda não fez contato. Portanto, há sim um culpado principal, que é a família Bolsonaro, mas Lula ajudou a criar um ambiente desfavorável.

 

Como senhor vê a postura do presidente sobre o tarifaço?

 

Ser firme numa relação diplomática não significa ser agressivo, rude ou grosseiro. Firmeza, na minha visão, se exerce de outra forma. Se olharmos para outros países, vemos bons exemplos. O presidente Trump chegou a dizer coisas inadmissíveis em relação ao Canadá, como sugerir que o país virasse o 51º estado americano - claramente um ataque à soberania canadense. O que eu vi dos líderes do Canadá? Reações firmes, mas sempre buscando manter a interlocução, respeitando a relação histórica entre os dois países. Lembro do primeiro-ministro Trudeau falando aos canadenses de forma dura, mas sem ataques pessoais a Trump ou aos Estados Unidos. O presidente Lula, claro, pode querer fazer discursos para dentro, que agradam a sua base, mobilizam suas torcidas, mas isso não resolve o problema - e se não resolve, não é bom para o Brasil. Precisamos adotar uma linha de serenidade, equilíbrio e firmeza, que não significa curvar a cabeça, mas sim reconhecer que o pragmatismo é fundamental agora para defender os interesses nacionais, nossas relações comerciais e, no fim das contas, a economia e os trabalhadores brasileiros.

 

Governador, o governo do presidente Lula é muito criticado pelo excesso de gastos. Quais medidas o senhor adotaria para recuperar a credibilidade fiscal do Brasil?

Boa parte da despesa obrigatória já preocupa o próprio governo, segundo seus relatórios. Eles indicam que, a partir de 2026, o espaço fiscal vai se estreitar com previdência e custeio da máquina. Em 2027 e 2028, pode até faltar recurso para investimentos e para o pagamento de emendas parlamentares. Ou seja, vai haver um sufocamento da capacidade de investimento do País. A conta não fecha: mais gente aposentada, vivendo mais, e menos gente contribuindo. Além disso, há fenômenos como a “pejotização”, com trabalhadores migrando para MEIs, o que afeta a arrecadação previdenciária. Mas o ponto central é: ajuste fiscal não pode ser só aumentar impostos para sustentar despesas que não são revistas.

 

É preciso olhar dentro do Orçamento, avaliar programas e políticas públicas, ver se estão entregando resultados e reorganizar prioridades. Isso envolve reformas, concessões, privatizações, trazendo o setor privado. Hoje, a expectativa é ruim, o próprio governo admite em relatórios que faltará dinheiro. Para cobrir o rombo, vai se endividar e quebrar regras fiscais. Isso gera desconfiança. O governo vira um grande tomador de crédito, competindo com o setor privado e encarecendo investimentos. Se mostrarmos um rumo de sustentabilidade, já mudamos a expectativa e atraímos novos investimentos.

Detrans acusam governo Lula de inflar CNH gratuita em anúncios nas redes sociais

André Borges / FOLHA DE SP

 

A AND (Associação Nacional dos Departamentos de Trânsito), que representa os órgãos de trânsito dos estados e do Distrito Federal, acusou o governo Lula (PT) de inflar o alcance do programa CNH Social, que prevê a gratuidade da Carteira Nacional de Habilitação para pessoas de baixa renda, e cobrou esclarecimento em propagandas oficiais feitas nas redes sociais do Palácio do Planalto.

Folha teve acesso a um ofício enviado na segunda-feira (4) à Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência), no qual a entidade contesta uma série de informações que foram publicadas pelo governo federal em redes como o Instagram.

Procurada pela reportagem, a entidade afirmou que não vai se manifestar sobre o assunto. A Secom não respondeu aos questionamentos da reportagem até a publicação deste texto.

A principal queixa diz respeito à falta de regulamentação sobre a regra que prevê que todos os cidadãos inscritos no CadÚnico (Cadastro Único) terão direito à obtenção gratuita da CNH, com os custos cobertos por multas de trânsito arrecadadas por cada Detran do país. As publicações oficiais afirmam que a medida passaria a valer na terça-feira (12).

"Até o momento, não existe legislação federal que regulamente a concessão universal e automática da CNH gratuita a todos os inscritos no CadÚnico, tampouco há previsão legal de repasse direto e contínuo de valores oriundos de multas de trânsito com esse fim, em âmbito nacional", afirma a AND, em documento assinado por seu presidente, Givaldo Vieira da Silva.

Segundo a associação, também não há previsão legal que autorize o repasse direto e contínuo de valores arrecadados com multas de trânsito para custear o benefício em escala federal.

"O programa conhecido como ‘CNH Social’ é, na realidade, instituído e regulamentado por legislações estaduais, com critérios, limites e procedimentos próprios de cada unidade da federação. Trata-se de um benefício com número restrito de vagas, cuja concessão depende da disponibilidade orçamentária e das diretrizes definidas por cada Detran", afirma o ofício.

Na avaliação da entidade, "a forma genérica como as informações foram divulgadas pode induzir a população ao erro, criando uma expectativa que não condiz com a realidade legal e orçamentária vigente".

Por isso, argumenta que a divulgação federal "tende a provocar um aumento desordenado da demanda junto aos Detrans, gerando sobrecarga nos atendimentos, frustração dos cidadãos e impacto direto na rotina dos serviços prestados".

A associação pediu formalmente à Secom que faça "a revisão e a correção das publicações realizadas com a devida contextualização legal do tema, bem como a emissão de nota oficial que esclareça à população a natureza estadual do programa ‘CNH Social’ e seus critérios específicos de elegibilidade".

Em 27 de junho, o presidente Lula sancionou alteração no Código de Trânsito que autoriza a destinação de recursos arrecadados com multas para custear a habilitação de condutores de baixa renda. De autoria do deputado José Guimarães (PT-CE), o projeto foi aprovado pelo Congresso em maio. O texto da lei diz claramente que o candidato de baixa renda "será caracterizado pela sua inclusão" no CadÚnico.

O governo afirmou, em nota divulgada pela Agência Brasil, que, "para ter direito à CNH Social, a pessoa deve ter 18 anos ou mais; estar inscrita no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico); e possuir renda mensal de até meio salário mínimo por pessoa (atualmente R$ 706,00 por integrante da família)".

Na publicação, o governo diz que o programa cobre todas as etapas da habilitação, incluindo exames médicos e psicológicos; aulas teóricas e práticas; taxas de prova (inclusive segunda tentativa, em caso de reprovação); e emissão da CNH.

"Embora a prioridade seja para a primeira habilitação nas categorias A (moto) e B (carro), estados podem estender a gratuidade a outras categorias como C, D ou E, conforme suas políticas locais", afirma o texto.

A nota do governo afirma, porém, que, "apesar da autorização legal, cabe aos órgãos executivos de trânsito dos estados e do Distrito Federal decidirem sobre a alocação dos recursos e regulamentarem o acesso ao programa". Por isso, diz o governo federal, "é fundamental acompanhar os editais e calendários divulgados pelos Detrans, que definirão os critérios de inscrição e seleção dos beneficiários".

A iniciativa da CHN Social não tem nenhuma relação com a proposta sugerida pelo ministro dos Transportes, Renan Filho, que prevê o fim da obrigatoriedade de aulas e cursos em autoescola para que a pessoa faça o teste de habilitação.

O ministro afirmou ao C-Level Entrevista, videocast semanal da Folha, que as aulas de formação de condutores podem passar a ser facultativas. Se a proposta for adiante, o candidato poderá aprender a dirigir de outras formas e precisará ser aprovado nos exames técnico e prático para obter a CNH, mas não terá que cumprir uma carga horária mínima nas autoescolas.

"O Brasil é um dos poucos países no mundo que obriga o sujeito a fazer um número de horas-aula para fazer uma prova", disse o ministro. "A autoescola vai permanecer, mas ao invés de ser obrigatória, ela pode ser facultativa."

Segundo o ministro, o custo para tirar a carteira no Brasil está entre R$ 3.000 a R$ 4.000, a depender do estado em que a pessoa faz o exame de habilitação. Pelos seus cálculos, o plano pode reduzir em mais de 80% esse custo.

A ideia causou ruídos dentro do próprio governo. Assim que o plano foi divulgado, a ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) disse que a proposta de abolir a obrigatoriedade das autoescolas para obtenção da carteira de motorista é do ministro dos Transportes, Renan Filho, e exigirá discussão ampla no governo.

Na mesma toada, o ex-ministro da Secom, o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), criticou a ideia de Renan. Para Pimenta, a medida poderia piorar a segurança no trânsito, em que mais de 30 mil pessoas morreram no ano passado.

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