Busque abaixo o que você precisa!

Impeachment sem centrão e Mourão é empulhação de oposição sem agenda... - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/colunas/josias-de-souza/2021/10/02/impeachment-sem-centrao-e-mourao-e-empulhacao-de-oposicao-sem-agenda.

Josias de Souza
 

Colunista do UOL

02/10/2021 02h15

Levado às ruas pela sexta vez neste sábado, o "Fora, Bolsonaro" tornou-se mero adorno de faixas e camisetas de uma oposição à procura de agenda. Sem a adesão do centrão e do Mourão, o slogan conduz apenas a uma rima pobre: empulhação.

O ingrediente mais notável da atual conjuntura não é a debilidade de Bolsonaro nas pesquisas, e sim a incapacidade dos adversários do presidente de articular a abertura de um processo de impeachment. O capitão revelou-se um presidente precário. Com a pilha de mortos por Covid roçando a marca de 600 mil, ele continua receitando cloroquina e questionando a eficácia das vacinas. Num instante em que brasileiros fazem fila para obter ossos descartados por supermercados, Bolsonaro desafia a paciência alheia. Afirma que quem compara sua obsessão por armas com a fome deveria dar "um tiro de feijão" quando tiver a casa invadida. Embora Bolsonaro conspire contra a estabilidade do próprio governo, a hipótese de o impeachment avançar é pequena, mínima, quase inexistente. Por quatro razões:

1) Falta base legislativa. A instabilidade política do governo é lucrativa para o centrão,  que controla a chave do cofre na Casa Civil e a distribuição de nacos do Orçamento na presidência da Câmara;.

2) Falta unidade social. A impopularidade de Bolsonaro bateu em 53%. Mas ele ainda é considerado um presidente bom ou ótimo por 22% do eleitorado;

3) Falta articulação com o gabinete da vice-presidência. Quem clama pelo "fora, Bolsonaro" ainda não se animou a gritar "viva o general Mourão"

4) Falta sinceridade ao pedaço da oposição mais bem-posto nas sondagens eleitorais. Lula e o PT não querem derrubar, mas polarizar com Bolsonaro.

Excetuando-se os devotos do presidente, que aprovam incondicionalmente a sua atuação, os brasileiros enxergam o governo de duas maneiras. Uma parte avalia que falta rumo à gestão Bolsonaro. Outra parte acha que o capitão tomou o rumo da crise.

Entretanto, a menos que um meteoro caia sobre o Planalto, todos terão de se conformar com a ideia de que Bolsonaro, eleito como solução por 57,8 milhões de brasileiros, permanecerá no trono até o último dia do mandato —mesmo contra a vontade de quem enxerga nele um problema.

Partidos resistem a unir oposição em atos; leia o que dizem 14 líderes políticos

Bruno Ribeiro e Tulio Kruse, O Estado de S.Paulo

26 de setembro de 2021 | 05h00

A uma semana do próximo ato nacional que deve levar manifestantes às ruas das principais cidades brasileiras pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro, marcado para o dia 2 de outubro, lideranças políticas à esquerda e à direita ainda debatem se é possível coordenar os esforços de antigos rivais na campanha. 

Estadão questionou o comando de 14 legendas dos mais variados espectros políticos que declaram oposição ao atual governo, do PT ao Novo, sobre quais são os entraves que dificultam uma eventual união em torno da bandeira do “Fora Bolsonaro”. Os principais motivos informados pelos partidos vão de falta de consenso interno sobre a abertura de um processo contra o presidente a questões relativas a interesses que têm como norte a eleição presidencial de 2022

12 de outubro
Ato contra Bolsonaro do dia 12 de setembro na Paulista: com diferenças entre lideranças oposicionistas, impeachment não avança Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO

Em comum, todos os partidos integram o fórum Direitos Já!, que se tornou um dos polos de oposição que tentam construir uma frente ampla para pressionar o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas-AL) a abrir o processo de impeachment de Bolsonaro. Algumas dessas siglas, no entanto, não têm ainda posição sobre o assunto. 

Parte das lideranças argumenta que o ambiente para a formação de uma ampla coalizão se construiu a partir das manifestações do último 7 de Setembro. Na ocasião, ao discursar em Brasília e em São Paulo, Bolsonaro ameaçou descumprir ordens judiciais do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) – o que em tese configura crime de responsabilidade –, e seus apoiadores pediram uma intervenção militar no País e o fechamento da Corte. 

Outros líderes partidários ponderam que seriam necessários gestos no sentido de uma clara suspensão da pré-campanha de 2022 para que todos os partidos e seus pré-candidatos pudessem se concentrar na abertura do processo de deposição do presidente. 

Para alguns partidos de centro, no entanto, entrar de vez no bloco do impeachment ainda é uma incerteza. Siglas como o PSD e MDB ensaiaram uma mudança de posição nos dias seguintes aos atos do Dia da Independência, mas, com o recuo na forma de uma carta à Nação divulgada por Bolsonaro nas redes em tom de desculpas a Moraes, os dirigentes partidários agora sinalizam uma acomodação. Uma grande mobilização popular nas ruas das principais cidades brasileiras em oposição a Bolsonaro é citada por todos como uma condição essencial para a mobilização conjunta, sem a qual o cenário não deve mudar. 

Para o coordenador do Direitos Já, Fernando Guimarães, é preciso deixar de lado as diferenças e se unir em torno de um objetivo comum. “Quem tiver compromisso com a democracia vai colocá-la acima de tudo”, disse Guimarães, que tem se esforçado para juntar no mesmo palco representantes de correntes divergentes e até rivais políticos. “Este é um momento em que precisamos estar preocupados em mobilizar a sociedade, e somar na rua todos aqueles que tenham a clareza da sua responsabilidade histórica, para deixar de lado as questões eleitorais e os projetos políticos.” PSDB, PDT, Cidadania e PV devem estar no ato do dia 2 pelo impeachment de Bolsonaro com os partidos de esquerda na Avenida Paulista. 

Leia mais:Partidos resistem a unir oposição em atos; leia o que dizem 14 líderes políticos

Esposas e filhas de políticos são apostas de partidos cearenses para as eleições de 2022

A quase um ano das eleições, os acenos de parlamentares a suas bases ganham corpo no Ceará. Nessas comitivas que buscam reforçar alianças, a presença de esposas e filhas de políticos se tornaram comuns. No entanto, para além do apoio familiar, elas estão lá porque planejam disputar vagas no Legislativo. As pré-candidatas são apostas de partidos políticos para o pleito do próximo ano. Segundo elas, a proximidade com a vida pública aflorou o interesse de participar ativamente das eleições. 

 

Para analistas políticas, essas articulações indicam que o incentivo à participação feminina na política têm dado resultado. No entanto, ponderam que a presença de mulheres ainda é limitada àquelas que têm a benção de grandes grupos políticos. 

 

Atualmente, as mulheres ocupam 10% das vagas na Assembleia Legislativa no Ceará. Das 46 cadeiras, apenas cinco são de parlamentares do sexo feminino. Na bancada federal, esse índice cai para 4%. Das 22 vagas destinadas ao Ceará na Câmara dos Deputados, apenas uma é ocupada por mulher, a deputada Luizianne Lins (PT). 

 

PRIMEIRO PASSO

Mesmo diante da baixa representatividade das mulheres nas duas Casas, as pré-candidatas avaliam que o Legislativo estadual é um terreno mais fértil para mudar essa realidade.

Diante dessa conjuntura, Dayany Bittencourt, por exemplo, se filiou ao Republicanos em junho deste ano. O plano dela é fazer uma dobradinha com o marido, Capitão Wagner (Pros), que é pré-candidato ao Governo do Estado. A esposa buscará iniciar a trajetória política na Câmara dos Deputados, onde o parlamentar exerce mandato. 

“O interesse não iniciou agora. Desde quando meu esposo iniciou na vida pública, esse é o ar que respiramos. Viajamos por todo o Estado, conhecendo de perto a realidade do nosso povo, sempre tive a vontade de ir além, fazer mais”, aponta. 

Dayany acompanhou Wagner nas seis eleições em que ele se candidatou, mas, segundo ela, pretende traçar a própria história na política. “Só uma mulher para entender as necessidades das mulheres. E a política precisa do nosso olhar, mais sensível, mais humano. Quanto mais mulheres de coragem, de iniciativa, de voz altiva e ativa, mais ganha a política e a sociedade”, afirma. 

EM BUSCA DE ESPAÇO

O interesse em levar esse olhar para a Assembleia Legislativa do Ceará também é compartilhado pela Bispa Vanessa, que recentemente se filiou ao PSD. Ela acompanhou o marido e deputado estadual apóstolo Luiz Henrique (PP) em disputas eleitorais, mas agora pretende assumir um espaço na política. 

Outro nome feminino do PSD para o pleito do próximo ano será Gabriella Aguiar, filha do presidente da sigla, o ex-vice-governador Domingos Filho. Se eleita, Gabriella deve expandir a influência familiar na política local. No grupo, o irmão dela, Domingos Neto (PSD), é deputado federal, e a mãe, Patrícia Aguiar (PSD), é prefeita de Tauá. 

 

Esposas e filhas de políticos são apostas de partidos cearenses para as eleições de 2022 2

Patricia, inclusive, foi eleita deputada estadual em 2018 – cargo hoje almejado pela filha – e só renunciou à vaga para ocupar o comando do Executivo no berço político da família.

 

Para Domingos Filho, o interesse familiar, seja de homens ou de mulheres, é natural na política. Ele ressalta que, atualmente, há mais oportunidades para candidaturas femininas, o que historicamente não era comum. 

 

“Política é vocação e paixão. Por isso, é comum que a convivência estimule parentes de políticos a se encaminharem, tradicionalmente, para a vida pública. As novas regras eleitorais privilegiam a inserção das mulheres nas disputas eleitorais e o PSD incentiva essa tendência”, argumenta. 

 

EXPERIÊNCIA FAMILIAR

A primeira-dama de Horizonte, Jô Farias, diz ser uma prova de como a convivência estimula a participação política. Ela conta que há 30 anos está, ao lado do esposo, Nezinho Farias (PDT), na vida pública. Em 2005, viu nascer o interesse de atuar na Câmara Municipal, onde exerceu um mandato. Agora, planeja um voo mais alto, rumo à Assembleia Legislativa, onde o marido foi eleito em 2018 – e renunciou para ocupar o cargo de prefeito.

“Tenho interesse em ser candidata por estar preparada para contribuir com as políticas públicas do meu Estado, além de encorajar outras mulheres através da minha experiência. Acredito que nós, mulheres, precisamos ocupar espaços de tomada de decisão, gerando representatividade para que possamos inspirar mais mulheres a participar”, afirma. 

Com vida pública mais curta, mas igualmente influenciada pela trajetória familiar, a advogada Juliana Lucena também tem pretensões por uma vaga no Legislativo estadual. “Minha mãe, Arivan Lucena, foi a primeira prefeita de Limoeiro do Norte, em 2001. Ela e meu pai, José Maria Lucena – atual prefeito de Limoeiro –, foram e são as grandes inspirações para o surgimento desse meu desejo de ser candidata”, conta.

CAMINHO DAS PEDRAS

A ideia das pré-candidatas é repetir o feito de outras mulheres parlamentares cearenses, que também chegaram à vida pública através da família, conseguiram vagas no Legislativo e, agora, planejam disputar a reeleição. 

As cinco deputadas estaduais do Ceará integram famílias com histórico político. Em seus perfis de apresentação na Assembleia Legislativa, Aderlânia Noronha (SD), Dra. Silvana (PL), Érika Amorim (PSD) e Fernanda Pessoa (PSDB) ressaltam a importância que os respectivos maridos e o pai – no caso da tucana – tiveram para inspirar na trajetória política. 

Completa a lista a deputada Augusta Brito (PCdoB), casada com o ex-prefeito de São Benedito, Gadyel Gonçalves, político influente na região de Ibiapaba. Augusta e as colegas parlamentares, no entanto, ressaltam o papel que desempenham para inspirar que outras mulheres também se engajem na política.

OBSTÁCULOS CULTURAIS

Historicamente, a ligação familiar de novas lideranças com políticos mais tradicionais gera debates, seja nos parlamentos, seja entre os eleitores. Porém, a cientista política Monalisa Soares, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenadora do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem), ressalta que essas discussões são mais frequentes quando envolvem mulheres iniciando a trajetória política. 

“Isso tem a ver com a incursão delas nesses espaços e o que homens e mulheres representam no espaço público. Os homens, mesmo quando surgem da herança política familiar, encontram no espaço público um ambiente mais socialmente reconhecido pela presença masculina. Já quando é uma mulher que é eleita, sob a égide do pai, do avô ou do marido, ela terá a autonomia, a imagem e o capital político questionados”, avalia. 

A socióloga Paula Vieira, também pesquisadora do Lepem, aponta que o foco dos questionamentos deveria ser o porquê de algumas famílias terem tanto poder concentrado por várias gerações. “Isso faz parte da formação sócio-histórica brasileira, que tem a permanência de poder na mão de uma elite predominante”, analisa. 

“No Ceará, por exemplo, temos algumas famílias que já têm essa inserção política e vão reproduzindo ao longo de gerações, indicando seus familiares. Se pensarmos em famílias que não são dessa tradição política, quem é que se propõe a ir para essa vida? É como se fosse um caminho natural para esses grupos e seus integrantes, que herdam a profissão política”, diz Paula. 

ESTRATÉGIAS ELEITORAIS

As pesquisadoras acrescentam ainda que a motivação política para se chegar a um nome que disputará as eleições envolve uma série de estratégias. Segundo Monalisa Soares, as análises partidárias incluem a efetividade e as chances de vitória, o que favorece nomes que carregam consigo uma longa tradição política na família. 

Paula Vieira enumera também a agenda política do País e como alguns nomes podem trazer ganhos em certas discussões. “As candidaturas femininas, por exemplo, vêm sendo pauta há alguns anos, e a população vem cada vez mais aderindo, então é natural utilizá-las como um recurso estratégico para maximizar as chances na competição”, afirma. 

“Além disso, ainda têm os estímulos das regras eleitorais, como as cotas. Então existe essa primeira ideia de se ter candidaturas competitivas, depois tem esses desdobramentos”, conclui. Pelas regras eleitorais vigentes, os partidos precisam formar chapas para o Poder Legislativo com ao menos 30% de mulheres. 

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) também estabeleceu que as agremiações devem destinar ao menos 30% dos recursos do Fundo Partidário para financiar as campanhas de candidatas. 

ESTÍMULO À PARTICIPAÇÃO

No Congresso, tramitam propostas que tentam ampliar esse estímulo à participação feminina. No texto-base do Novo Código Eleitoral, os deputados estabeleceram que, para fins de distribuição de recursos do Fundo Partidário, os votos destinados a candidaturas femininas devem ser contabilizados em dobro. 

Em julho deste ano, o Senado aprovou um projeto determinando uma porcentagem mínima de 30% das cadeiras legislativas (em todas as instâncias) para ser preenchida por mulheres, convocando-se as suplentes caso não sejam eleitas em número suficiente para cumprir esse percentual.

Em outra frente, a Justiça Eleitoral tem intensificado a punição contra partidos que tentam burlar as regras de estímulo às candidaturas femininas. No Ceará, chapas inteiras de vereadores em 2020 foram cassadas em CroatáNova RussasPacatubaBarbalha e Potengi

O OUTRO LADO DA DISPUTA

Diante desse cenário, a pesquisadora Monalisa Soares aponta ainda a dificuldade que mulheres sem tradição familiar na política encontram para chegar aos espaços de poder. 

“Evidentemente, tudo isso coloca em questão esse debate sobre a participação das mulheres na política e o papel dos partidos na formação de novas lideranças, no sentido de que as legendas buscam candidaturas que são muito oportunas e, portanto, são dessas mulheres que naturalmente já têm mais chances de serem competitivas”, argumenta. 

“Temos que nos perguntar sobre as outras mulheres, aquelas que não têm esse capital familiar, em que medida os partidos vão ou não estimular essas candidaturas? Estudos mostram que é mais difícil para todo esse universo de outras mulheres”, conclui a cientista política. COM DIARIONORDESTE

 

 

 

 

Datafolha: Avaliação de Bolsonaro piora, e reprovação de 53% é novo recorde do presidente

Igor Gielow / folha de sp
SÃO PAULO

Após a semana mais tensa de seu mandato, na qual pregou golpismo para multidões no 7 de Setembro, o presidente Jair Bolsonaro segue com sua reprovação em tendência de alta. Ela chegou a 53%, pior índice de seu mandato.

Foi o que aferiu o Datafolha nos dias 13 a 15 de setembro, quando o instituto ouviu presencialmente 3.667 pessoas com mais de 16 anos, em 190 municípios de todo o país. A margem de erro é de dois pontos para mais ou menos.

A oscilação positiva dentro da margem de erro em relação ao recorde apontado em levantamento feito em julho, de 51% de reprovação, dá sequência à curva ascendente desde dezembro do ano passado.

O presidente é avaliado como bom ou ótimo por 22%, oscilação negativa dos 24% da pesquisa anterior, que já indicava o pior índice de seu mandato. O consideram regular 24%, mesmo índice de julho.

Isso sugere que as cenas do 7 de Setembro, com a avenida Paulista cheia por exemplo, reproduzem uma fotografia do nicho decrescente do bolsonarismo entre a população. Se queria fazer algo além de magnetizar fiéis, Bolsonaro fracassou.

Por outro lado, o recuo do presidente após a pressão institucional contra sua retórica golpista mirando o Supremo Tribunal Federal, também não trouxe impacto perceptível na forma de uma queda abrupta de apoio ao presidente na sua base —como havia sido aferido nas interações de rede social.

Essa tendência de rejeição segue constante neste ano, após um 2019 marcado pelo racha em três partes iguais da opinião da população sobre o presidente e um 2020 que o viu se recuperar da resposta errática à pandemia da Covid-19 com a primeira fase do auxílio emergencial aos afetados pela crise.

Neste ano, com a ajuda menor, não houve reação. A agudização da crise política após a cooptação final do centrão como um seguro contra impeachment, por opção exclusiva de Bolsonaro, se mostra uma aposta insuficiente em termos do conjunto da população.

Também não houve uma mudança que possa ser atribuída aos esvaziado atos convocados por entidades de direita no domingo passado (12).

Não faltaram crises desde o mais recente levantamento do Datafolha. Bolsonaro fez desfilar tanques e blindados em Brasília, sem sucesso na tentativa de intimidar o Congresso que não aceitou a volta do voto impresso.

A economia registra problemas em série, a começar pela alta da inflação e da ameaça de crise energética no horizonte próximo.

estouro do teto de gastos é uma hipótese cada vez mais comentada, e há pouca margem de manobra orçamentária para apostar numa recuperação de popularidade amparada em pacotes populistas.

Isso tem levado ao desembarque de setores usualmente simpáticos ao Planalto, como parte do agronegócio e do mercado financeiro. Fora a contínua crise sanitária que já levou quase 590 mil vidas no país e a percepção de corrupção federal evidenciada na CPI da Covid.

Nesta rodada, o Datafolha identificou um aumento mais expressivo de rejeição ao presidente entre quem ganha de 5 a 10 salários mínimos (41% para 50%, de julho para cá) e entre as pessoas com mais de 60 anos (de 45% para 51%).

Significativamente, Bolsonaro passou a ser mais rejeitado no agregado das regiões Norte e Centro-Oeste (16% da amostra), onde costuma ter mais apoio e de onde saíram muitos dos caminhoneiros que ameaçaram invadir o Supremo na esteira do 7 de Setembro. Sob muitos protestos, eles depois foram demovidos pelo pressionado presidente.

Lá, sua rejeição subiu de 41% para 48%, ainda que esteja marginalmente abaixo da média nacional.

O perfil de quem rejeita o presidente segue semelhante ao já registrado antes. Péssima notícia eleitoral, já que perfazem 51% da população na amostra, 56% daqueles que ganham até 2 salários mínimos o acham ruim ou péssimo, assim como 61% dos que têm curso superior (21% da amostra).

Aqui, nas camadas menos ricas e escolarizadas, há um lento espraiamento das visões negativas sobre o presidente. Na já citada camada de quem ganha até 2 mínimos, em julho eram 54% os que o rejeitavam. Na daqueles que recebem de 2 a 5 mínimos, a rejeição foi de 47% para 51%, oscilação positiva no limite da margem de erro.

Ambos os grupos somam 86% da população na amostragem do Datafolha. Outro grupo importante, o daqueles com ensino fundamental (33% da amostra) viu uma subida ainda maior, de 49% para 55%, enquanto houve estabilidade (49% para 48%) entre quem cursou o nível médio (46% dos brasileiros).

Em nichos, há rejeições bastante expressivas entre gays e bissexuais (6% dos ouvidos), de 73%, e entre estudantes (4%): 63%.

Na mão contrária, os mais ricos são o grupo em que a reprovação do presidente mais caiu de julho para cá, de 58% para 46%, retomando pontualmente uma correlação que remonta à campanha que levou o capitão reformado à Presidência.

Entre eles, 36% o consideram ótimo e bom. Integram esse contingente 3% da população pesquisada. O Sul (15% da amostra), bastião do presidente desde a disputa de 2018, segue avaliando ele melhor do que outras regiões: 28% dos ouvidos lá o aprovam.

Pormenorizando, os empresários (2% dos ouvidos) permanecem com os mais fiéis bolsonaristas, com 47% de aprovação. É o único grupo em que o ótimo e bom supera o ruim e péssimo (34%).

No segmento evangélico, outra base do bolsonarismo, as notícias não são boas para o presidente. Desde janeiro, a reprovação ao presidente já subiu 11 pontos, e hoje está superior (41%) à sua aprovação (29%). Na rodada anterior, havia empate técnico (34% a 37%, respectivamente).

Isso ocorre em meio à campanha por ora frustrada de emplacar o ex-advogado-geral da União André Mendonça, que é pastor, para uma vaga no Supremo.

A tensão institucional deste julho para cá foi das maiores de um governo já acostumado a bater recordes no setor. Igualmente, Bolsonaro só perde para Fernando Collor de Mello (então no PRN) em impopularidade a esta altura do mandato, contando aqui apenas presidentes eleitos para um primeiro mandato.

O hoje senador alagoano tinha neste ponto de seu governo 68% de rejeição, ante 21% de avaliação regular e só 9% de aprovação. Acabaria sofrendo a abertura de um processo impeachment na sequência, em 1992, renunciando para evitar a perda de direitos políticos.

Fernando Henrique Cardoso (PSDB), por sua vez, registrava 16% de ruim e péssimo, 42% de regular e 39% de aprovação. O petista Luiz Inácio Lula da Silva, por sua vez, marcava 23%, 40% e 35%, respectivamente, e sua sucessora Dilma Rousseff (PT), semelhantes 22%, 42% e 36%.

 

Compartilhar Conteúdo

444