Por Bolsonaro, PL sai de um nome em 2018 para 14 candidatos a governador
Por Bernardo Mello — Rio / O GLOBO
Buscando assegurar palanques estaduais para o presidente Jair Bolsonaro na campanha à reeleição, o PL planeja uma guinada em sua estratégia de candidaturas a governador para lançar até 14 chapas próprias neste ano. Em 2018, com perfil mais voltado para a disputa por cadeiras no Legislativo, o partido havia lançado apenas um nome ao governo. A nova diretriz adotada para impulsionar Bolsonaro na disputa contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera as pesquisas até aqui, levou o PL a abrir frentes de embate direto em nove estados com o PT, que tem hoje 13 pré-candidaturas no total. O número é menor do que na última eleição, quando teve 16 representantes nas disputas pelos Executivos estaduais.
Os dados fazem parte do Guia O GLOBO Eleições, um mapa digital lançado neste domingo, com fichas que apresentam os pré-candidatos a governos estaduais e ao Senado em todos os estados e no Distrito Federal. As fichas reúnem o histórico de siglas e cargos públicos ocupados pelos candidatos, além de breves biografias e do desenho de palanques presidenciais pelo país. A plataforma será atualizada conforme as candidaturas forem aprovadas ou retiradas no período de convenções partidárias, que começa no dia 20.
Em 2018, PL e PT juntos
PL e PT estão entre os partidos com mais pré-candidatos a governador. O União Brasil, partido criado pela fusão entre PSL e DEM e que terá a maior fatia do fundo eleitoral, com cerca de R$ 800 milhões, tem 14 pré-candidatos, mesmo número do PL. O PSOL, que declarou apoio a Lula na eleição presidencial, tem 16 pré-candidaturas já aprovadas. A legenda, que havia tido candidato à Presidência em todas as eleições que disputou até hoje, costuma adotar a estratégia de lançar chapas majoritárias também nos estados para dar maior visibilidade a seus candidatos à Câmara.
Em 2018, quando ainda se chamava Partido da República (PR), o PL lançou sua única candidatura ao governo com Wellington Fagundes, no Mato Grosso, em uma aliança que incluiu o PT. Neste ano, as siglas devem caminhar separadas em todos os estados.
Metade das pré-candidaturas do PL a governador em 2022 foi lançada em estados onde Bolsonaro não tem outro palanque. A lista inclui alguns dos principais colégios eleitorais do país, como Bahia e Minas Gerais, estados em que o partido lançou, respectivamente, o ex-ministro João Roma e o senador Carlos Viana. Em ambos os casos, a campanha de Bolsonaro tentou, sem sucesso, alianças com candidatos mais bem posicionados em pesquisas.
Na Bahia, Bolsonaro sondou o apoio do ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União), que preferiu manter seu palanque aberto e se desvincular da disputa presidencial. Ele procura atrair tanto eleitores bolsonaristas quanto aqueles mais próximos a Lula, que apoia na disputa baiana o ex-secretário de Educação Jerônimo Rodrigues (PT). Em Minas, numa situação similar, o governador Romeu Zema (Novo) recusou o apoio formal de Bolsonaro e declarou que apoiará o presidenciável de seu partido, Luiz Felipe D’Ávila.
O PT, que já reduziu suas candidaturas próprias na comparação com 2018, pode enxugar ainda mais o número de chapas petistas em prol de acordos com legendas de sua coligação, especialmente o PSB. As duas siglas ainda negociam composições em chapas aos governos, tendo o PSB à frente, no Espírito Santo, em Rondônia e no Acre. Em São Paulo, o pessebista Márcio França recuou de sua candidatura na sexta-feira para declarar apoio ao petista Fernando Haddad. O PT também buscou uma composição no Distrito Federal com o PV, que faz parte de sua federação, e que abrigou a pré-candidatura de Leandro Grass ao governo.
— A prioridade é eleger presidente, senador e deputado federal. Vamos ter candidatos a governador onde tivermos tamanho para isso. O número de candidaturas ainda pode passar por ajustes, a depender das alianças — disse o deputado José Guimarães (PT-CE), vice-presidente nacional e coordenador do grupo de trabalho eleitoral do partido.
Mesmo mais aberto a composições fora da cabeça de chapa, o PT fechou questão para manter pré-candidatos que rivalizam com o PSB em estados como Rio Grande do Sul e Paraíba. Na disputa gaúcha, um dos principais pontos de desavença entre os dois partidos, o PSB tentou atrair o apoio de Lula ao deputado Beto Albuquerque, mas o PT manteve a pré-candidatura de Edegar Pretto. O palanque bolsonarista é encabeçado pelo ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL). Na Paraíba, o governador João Azevêdo (PSB) busca o apoio de Lula para concorrer à reeleição, mas o PT lançará o ex-governador Ricardo Coutinho, seu desafeto, como candidato ao Senado na chapa de Veneziano Vital do Rêgo (MDB).
Espaço aberto a rival
Em contraste com o salto de pré-candidatos do PL, as outras legendas do Centrão que apoiam Bolsonaro abrirão poucos palanques majoritários: o Republicanos terá quatro nomes, dos quais apenas o ex-ministro Tarcísio de Freitas, em São Paulo, garante fazer campanha com o presidente. O PP terá três, sendo dois deles governadores que disputam reeleição: Gladson Cameli, no Acre, e Antonio Denarium, em Roraima.
Embora não esteja na coligação de Bolsonaro e tenha lançado o deputado Luciano Bivar como pré-candidato à Presidência, o União Brasil será o principal partido, depois do PL, a abrir palanques para o atual presidente, em quatro estados. Bivar, que também é o presidente do União, diz que a prioridade da legenda com as candidaturas é se posicionar no debate nacional. Além da ala que apoia Bolsonaro, parte dos pré-candidatos do União, como ACM Neto na Bahia e Ronaldo Caiado em Goiás, pretendem manter palanques abertos a rivais de Bivar.
— Obviamente um maior número de palanques estaduais facilita a difusão de ideais e propostas do partido, além de, consequentemente, ajudar a campanha nacional — avalia o presidente do União Brasil.
Bolsonaro contra-ataca, deve fazer gols em agosto, Lula cochila
Vinicius Torres Freire / FOLHA DE SP
Em julho, a taxa de inflação deve ser negativa. Isto é, o IPCA pode diminuir quase 1% neste mês. A inflação anual cairia pouco, para perto de 10%. A carestia da comida continuaria na casa de horríveis 16% ao ano. A baixa do preço dos combustíveis vai maquiar uma inflação ainda ruim e disseminada.
Mas o bolsonarismo vai bater bumbo, comemorando esse primeiro lance do contra-ataque que começou agora. Deve fazer uns gols nas pesquisas de agosto ou setembro. Talvez não sejam muitos pontos, mas o bastante para afastar o risco de derrota no primeiro turno. Com essa jogada de Auxílio Brasil etc., deve sair do sufoco em que estava fazia apenas uma quinzena.
Além disso, em 31 de julho começam as manifestações de rua bolsonaristas, que devem culminar na reedição apoteótica de aniversário do 7 de Setembro golpista, agora mais disfarçado. "Disfarçado" em termos, pois foi retomada a campanha de desmoralização das urnas e de intimidação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo, ofensiva com grande apoio militar.
Enquanto isso, a oposição, em suma Lula da Silva (PT) e agregados, jogam parados, esperando que inflação, fome e um passado de crimes recentes bastem para manter a rejeição de Jair Bolsonaro lá pela casa de 55%. Não há movimento ou conversa política maiores a fim de conter o contra-ataque bolsonarista.
Como previsto, bancões e outras casas do ramo revisam para cima suas estimativas de crescimento para 2022, que saem de cerca de 1,5% para o degrau dos 2%. Mais importante, atenuam suas previsões de que o número de empregos passaria a crescer pouquinho neste segundo semestre.
O motivo principal das revisões é o dinheiro do pacotão eleitoral, a PEC "Kamikaze" ou dos "Bilhões –redução de impostos sobre combustíveis e auxílios vários.
Há uma possibilidade muito remota de que parte da baixa dos combustíveis seja revertida por causa de queixas dos governadores na Justiça. Mais improvável ainda é a PEC Kamikaze cair na Câmara.
O Supremo já está intimidado pelos arreganhos bolsonaristas –o pessoal lá diz que não quer "acirrar" o conflito. O Congresso quase inteiro vem dando aval ao estelionato eleitoral. A oposição levou um drible pela mudança de última hora do pacotaço estelionatário, que saiu da burrice de subsídios ainda maiores de combustíveis para o gasto direto com pobres e assemelhados. Não vai ter CPI do MEC.
A oposição ora leva um baile porque não tem estratégia política ou proposta de acordo nacional de reconstrução econômica e democrática. Nem tem programa (de combate político, eleitoral ou outro). A campanha ainda é feita de Lula, "bota o retrato do velho outra vez", e do nojo que parte do país tomou de Bolsonaro.
Daqui a pouco, começa para valer a campanha suja digital bolsonarista, que estava com problemas de organização e disputas intestinas. Vai ter pacote para empresário.
Para recapitular: a partir de julho começam as marchas das massas de choque bolsonaristas. Bolsonaro vai pegar carona nos gastos da comemoração oficial do Bicentenário da Independência.
No início de agosto tem a notícia de inflação negativa de julho e indicadores ainda resistentes de emprego. Entre fins de julho e agosto começa a pingar o Auxílio Brasil, que deve ter pelo menos um segundo pagamento até o primeiro turno.
Em tese, vão ser dois meses de contra-ataque. O que a oposição vai fazer? Esperar que um desastre financeiro na economia mundial aporte por aqui? Que o povo não compre o estelionato pelo preço de face?
Mais provável, por ora, é que Bolsonaro faça uns gols, uns pontos salvadores nas pesquisas de agosto ou setembro. No mínimo, ganha tempo para golpes.
O que o evento do PL em Fortaleza indica sobre a estratégia pró-Bolsonaro no Ceará
Escrito por Igor Cavalcante, / DIARIONORDESTE
Presidido por um ex-aliado histórico do grupo governista liderado pelos irmãos Ciro e Cid Gomes (PDT), o prefeito do Eusébio, Acilon Gonçalves, o PL Ceará abraçou de vez o papel de representar o presidente Jair Bolsonaro (PL) no Estado. Em evento que uniu quadros tradicionais do PL e bolsonaristas cearenses “raiz”, a sigla lançou, na noite desta quarta-feira (6), a pré-campanha à reeleição de presidente.
O encontro, no entanto, ganhou contornos de campanha em prol de Capitão Wagner (União Brasil) ao Governo do Ceará.
A preço de hoje, o PL avalia lançar a pré-candidatura de Raimundo Gomes de Matos (PL) ao comando do Executivo estadual. A presença de Wagner no evento, o discurso de parlamentares bolsonaristas e os gritos em apoio a Wagner, por outro lado, deixaram claro que a sigla deve reforçar uma “frente ampla da oposição” no Ceará.
O próprio Gomes de Matos não conseguiu discursar no encontro da sigla, foi impedido pela chuva que provocou uma queda de energia no palco.
UNIÃO DE ALAS
Porém, antes disso, o encontro desta quarta-feira serviu como um movimento de união de alas bolsonaristas no Ceará. Inicialmente visto com desconfiança pelos aliados mais antigos de Bolsonaro no Estado, o presidente do PL Ceará, o prefeito Eusébio Acilon Gonçalves disse que a prioridade agora é criar uma unidade em torno do nome de Bolsonaro.
“Vamos mostrar e pedir o engajamento de todos para que todo o Ceará saiba o muito que foi feito pelo Brasil, pelo Nordeste e pelo Ceará”, disse. O mandatário, inclusive, foi quem fez o discurso mais enfático em prol do presidente. Ele também conclamou a população a vestir verde-amarelo e sair às ruas militando em defesa de Bolsonaro.
“Este ano vamos ter uma campanha tão facilitada porque o comércio vai vender as camisas verde-amarelo em agosto para comemorar a vitória no primeiro turno ou no segundo turno com todo mundo de verde amarelo”, disse.
ESTRUTURA PARTIDÁRIA
Conforme o coordenador da campanha de Bolsonaro no Ceará, o ex-deputado Raimundo Gomes de Matos, a ideia é que o PL entregue ao presidente a estrutura partidária, as bases eleitorais e os prefeitos aliados do PL.
“Esse momento visa fortalecermos candidaturas grupos bolsonaristas no Ceará. Observamos que há vários grupos bolsonaristas soltos, às vezes até passando informações não fidedignas, que devemos evitar, a minha missão é coordenar a nível de estado, buscar as informações verídicas (...) e repassar para esses grupos as informações corretas para quando começar a campanha termos musculatura”, disse Matos.
“BOLSONARISMO RAIZ”
De fato, o evento atraiu majoritariamente aliados tradicionais do presidente Jair Bolsonaro, entre eles os vereadores Carmelo Neto, Sargento Reginauro, Dudu Diógenes e Pedro Gomes de Matos; os deputados estaduais Delegado Cavalcante, André Fernandes e Dra. Silvana; além do deputado federal Dr. Jaziel.
A expectativa da sigla é ampliar as bancadas legislativas, chegando a cinco deputados federais e até seis estaduais.
Os pré-candidatos ao Senado da sigla, o empresário Antônio Bardawil e Inspetor Alberto também estiveram no local.
Quaest: Lula ainda pode levar no 1º; escândalos não tiram voto de Bolsonaro.
Foram divulgados há poucos os números da pesquisa Genial-Quaest. Se a eleição fosse hoje, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) poderia vencer a disputa no primeiro turno. As alterações em relação à pesquisa do mês passado situam-se na margem de erro, que é de dois pontos. Num eventual segundo turno entre Lula e Jair Bolsonaro (PL), o ex-presidente bateria o atual por 53% a 34% — há um mês, 54% a 32%. O petista venceria Ciro Gomes (PDT) por 52% a 25%, números idênticos ao levantamento de junho, e Simone Tebet (MDB) por 55% a 20% (antes, 56% a 20%). Foram feitas duas mil entrevistas presenciais entre os dias 29 de junho e 2 de junho.
PRIMEIRO TURNO
No cenário cheio, com 12 candidatos, Lula oscilou de 46% para 45%, e Bolsonaro de 30% para 31%. Ciro variou de 7% para 6%, e André Janones (Avante) conservou os 2%. Simone Tebet foi de 1% para 2%, e Pablo Marçal (Pros) manteve seu 1%. Os demais candidatos não chegaram a somar 1%. Os indecisos continuam a ser 6%. E o contingente de brancos, nulos e ou de pessoas que declaram que não vão votar é agora de 6% -- antes, 7%. Há um mês, os adversários se Lula somavam 41 pontos, contra seus 46. Agora, têm 42 contra 45. Conserva-se, dentro da margem de erro, a possibilidade de vitória no primeiro turno.
num segundo cenário em que disputassem apenas Lula, Bolsonaro, Ciro, Janones e Simone — composição não testada no mês anterior, os números são, respectivamente, 45%, 31%, 7%, 3% e 3%. Os opositores de Lula somariam 44% contra seus 45%, conservando-se a possibilidade da vitória na primeira jornada. Sem Janones, o petista vai a 47%, Bolsonaro conserva seus 31%, Ciro fica com 8%, e Simone, com 3%. Nesse caso, a vitória do petista no primeiro turno seria praticamente certa: 47% a 42%.
NÚMEROS SEGUEM RUINS, MAS... Os números são péssimos para Bolsonaro, mas logo seus hortelões começarão a plantar nas colunas de notas que a virada já começou. Afinal, entre a pesquisa anterior, com campo realizado entre 2 e 6 de junho, e esta, entre 29 e 2, o governo foi colhido por duas péssimas notícias: as prisões preventivas, no dia 22, dos pastores Milton Ribeiro, Gilmar Santos e Arilton Moura, e o escândalo de assédio sexual e moral na Caixa Econômica Federal, que veio a público no dia 28, e resultou na demissão de Pedro Guimarães, presidente do banco. Apesar disso, Bolsonaro não piorou e até se pode especular que possa ter ganhado alguns votinhos.
Mais: a PEC do Desespero — que apelidei, à moda Narcisa Tamborindeguy, de "Ai, que medo do Lula!" — ainda não foi aprovada, e os efeitos da redução de impostos sobre combustíveis são ainda discretos. Assim, verão os dados com otimismo, apostando que os benefícios levarão votos para o presidente.
PISO E TETO Se a "virada não começou", como os bolsonaristas certamente vão comemorar, é bem provável que Bolsonaro tenha atingido um piso. Convenham: cabe indagar o que mais poderia acontecer para que sua candidatura derretesse. Seu eleitorado se mostra fiel e resiliente. Na pesquisa espontânea, diga-se, ele passou de 20% para 24% -- é bem verdade que havia oscilado de 22% para 20% na anterior. Agora, Lula varia de 32% para 31%. A diferença entre eles é de 8% nessa sondagem e era de 12% no mês passado. Mas já chegou a ser de 6% em abril e maio..
A pesquisa Genial-Quaest começou a ser feita em julho do ano passado. Está na sua 13ª edição. Naquele mês, Bolsonaro aparecia com 28% das intenções de voto. Agora, tem 31%. Viveu seus piores dias em novembro, quando chegou a 21%. Com a desistência de Sergio Moro, recuperou parte do eleitorado que era seu e mudou de patamar..
Se Bolsonaro atingiu seu piso no primeiro turno, aos petistas talvez caiba a indagação: "Como fazer para furar o que parece ser um teto de Lula?" Essa pergunta é importante não para vencer a eleição, mas para tentar liquidar a fatura no primeiro turno. Ao longo das 13 jornadas, Lula nunca ficou abaixo de 44%, obtendo em novembro a maior pontuação: 48% — sempre considerando o cenário com todos os postulantes da hora. A desistência de Ciro, coisa com a qual ninguém conta, poderia abrir caminho para a vitória no primeiro turno. No levantamento de agora, como se pode notar, a eventual desistência de Janones seria positiva para o petista.
CORTES Bolsonaro e o Centrão contam com a PEC "Ai, que Medo do Lula" para tentar alavancar a candidatura entre os mais pobres. A situação continua muito ruim para o atual mandatário. Entre os que recebem dois mínimos, Lula oscilou de 57% para 55%, e Bolsonaro, de 22% para 21%. Essa camada constitui 38% da amostra..
No grupo que recebem de dois a cinco mínimos — 40% do total de entrevistados —, há uma mudança considerável: o ex-presidente varia de 46% para 43%, e o atual, de 30% para 34%. A diferença caiu de 16 pontos para 9. Bolsonaro empata tecnicamente com Lula entre os que recebem mais de cinco mínimos (20% da amostra): o petista passa de 37% para 34%, e o atual mandatário, de 36% para 38%. Que peso a redução do preço dos combustíveis, ainda que discreta, pode ter nesse grupo?..
A distância que separa Lula de Bolsonaro no Nordeste é gigantesca, mas está menor do que no mês passado, segundo a Quaest. O petista caiu de 68% para 59%, e o presidente cresceu de 15% para 22%. É bem verdade que, no mês anterior, Lula havia crescido seis pontos Na região, e Bolsonaro, caído 6. O Nordeste representa 27% do eleitorado brasileiro.
No Sudeste, que concentra 42,6% dos eleitores, também houve uma alteração importante: Lula lidera por 38% a 33%, mas, no mês passado, vencia por 43% a 33%. No Sul, o ex-presidente aparece com 40%, contra 32% do atual. No Centro-Oeste, teria havido uma mudança radical de cenário: o presidente teria despencado de 44% para 35%, e Lula, disparado de 24% para 39%. Mudança significativa também na Região Norte: o atual mandatário cai de 44% para 32%, e o ex cresce: de 40% para 48%..
Uma das fortalezas de Lula está no voto feminino. Nos dias em que o bolsonarismo afirmou coisas hediondas sobre casos pavorosos envolvendo estupro e aborto e em que vem a público o escândalo de assédio sexual na CEF, teria diminuindo de maneira sensível a diferença entre os dois candidatos mais votados: Lula teria oscilado de 50% para 46%, e Bolsonaro, crescido de 22% para 27%. Diferença enorme, mas menos do que antes..
CAMINHANDO PARA O ENCERRAMENTO Dados os números, pode-se chegar a algumas conclusões: - a menos de três meses da eleição, só mesmo um milagre, produzido pelo horário eleitoral, ou um evento formidável, no terreno do imponderável, pode fazer vingar um nome alternativo a Lula e Bolsonaro;
- O governo foi abalado por dois eventos extremamente negativos entre a pesquisa de junho e a deste mês, e Bolsonaro conservou os seus índices, quem sabe com ligeira melhora;
- a PEC sobre o ICMS dos combustíveis e a PEC "Ai, que Medo do Lula" podem não definir a eleição a favor de Bolsonaro, como esperam o Centrão, seus partidários e ele próprio, mas reforçam, obviamente, a posição do presidente no jogo. Não se sabe o tamanho desse reforço.
- Assim que os números forem divulgados, começa a contagem regressiva para o bolsonarismo cantar vitória. O presidente e seus aliados estão convictos de que a maior soma de ilegalidades da história da República em prazo tão curto vai virar o jogo. Os números evidenciam que a tarefa não é assim tão simples.
Vídeos enganam para dizer que adesão a ato pró-Bolsonaro foi baixa
São enganosos vídeos publicados por um apoiador do PT comparando manifestações em apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a Jair Bolsonaro (PL) no dia 2 de julho, em Salvador, na Bahia.
Com a legenda "Motociata do Bolsonaro vazia", os conteúdos usam a imagem de uma pequena aglomeração no Farol da Barra, mas o evento com Bolsonaro reuniu grande público. Como verificado pelo Projeto Comprova, vídeos da Jovem Pan News com o mandatário discursando e transmissões ao vivo no perfil oficial do próprio Bolsonaro no Facebook deixam claro que a região ficou cheia de gente.
A imagem do local vazio foi usada em contraposição a uma foto da manifestação em apoio a Lula, com milhares de pessoas.
Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
ALCANCE DA PUBLICAÇÃO
O Comprova investiga conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. Somados, os dois vídeos verificados aqui têm mais de 14,6 mil curtidas, 3 mil compartilhamentos e 1,6 mil comentários até 5 de julho.
O QUE DIZ O AUTOR
O dono do perfil @Thiagodosreis8, que publica conteúdos de apoio a Lula, não respondeu o contato da reportagem.
COMO VERIFICAMOS
Primeiramente, foi necessário encontrar a origem das imagens que aparecem na postagem, uma vez que o autor da publicação filma a tela de um outro aparelho que está exibindo essas imagens, enquanto fala. No vídeo do ato com Bolsonaro em que há pouca concentração de pessoas, foi possível identificar uma marca d’água da rede social Kwai. Ao encontrar esse perfil no Kwai, foi possível assistir ao vídeo original.
Os perfis oficiais de Bolsonaro no Facebook e de Lula no Twitter foram consultados para encontrar fotos e vídeos dos respectivos atos de cada um em Salvador. Também foram feitas pesquisas no Google com os termos "Bolsonaro" e "Lula" + "atos Salvador" ou "Bahia 2 de julho" para encontrar reportagens repercutindo os eventos.
Via TweetDeck, o Comprova encontrou tuítes publicados no dia 2 sobre o ato com Bolsonaro. Um deles mostrava a tela da Jovem Pan News. No site do veículo foi possível buscar o programa que mostrou vídeos da manifestação.
O acervo de fotos da Folha de S.Paulo também foi consultado pela equipe para comparar se as imagens feitas pelo jornal durante a cobertura do ato guardavam semelhança ou não com as que foram exibidas na postagem do TikTok.
MOMENTOS DIFERENTES
O vídeo original com a foto que mostra o evento de Bolsonaro vazio foi publicado na rede social Kwai, no dia 2 de julho de 2022 pelo usuário @JuninhoCamacan. No vídeo original, é possível ouvir a voz da pessoa que está filmando dizendo: "Dia 2 de julho, sábado. Ó a manifestação dos bolsominion aí", em referência ao ato com a presença de Bolsonaro, enquanto ele filma a região do Farol da Barra, em Salvador, no momento em que poucas pessoas estão concentradas no local.
Quando assistimos às transmissões ao vivo do perfil oficial do presidente no Facebook e em vídeos divulgados na programação da Jovem Pan News, é possível certificar-se de que a manifestação que contou com a presença dele ocorreu no mesmo local, nas imediações do Farol da Barra e da avenida Oceânica, em Salvador. Em uma das transmissões ao vivo postadas no perfil de Bolsonaro naquele dia, às 9h54, é possível ver o presidente pilotando uma moto na região do Farol da Barra e cercado por apoiadores. A presença do público é bem maior em comparação com o momento em que o vídeo postado no Kwai foi gravado.
Assim, embora trecho do vídeo aqui verificado tenha sido feito no mesmo dia e local, as imagens foram capturadas em momentos distintos. O vídeo da postagem do TikTok foi feito quando havia pouca concentração de pessoas no local. Nas imagens divulgadas pelo perfil do presidente, no momento em que ele aparece para o público, é possível ver que a aglomeração de pessoas no entorno do Farol da Barra é bem maior.
A grande concentração de apoiadores do presidente Bolsonaro no ato de 2 de julho em Salvador também pode ser confirmada por imagens transmitidas pela Jovem Pan News.
ERRO
A imagem utilizada na postagem do TikTok para ilustrar como foi a manifestação com Lula também é verdadeira, e foi feita em Salvador no dia 2 de julho, conforme é possível comparar com o registro publicado na Folha feito pelo fotógrafo Rafael Martins, do UOL, na ocasião. É possível ver o mesmo casarão à direita, inclusive com o detalhe da janela da direita aberta.
Também é possível observar que a imagem que aparece no vídeo do TikTok é a mesma que foi divulgada pelas redes sociais do próprio ex-presidente Lula, no último 2 de julho.
A foto que é mostrada no vídeo do evento com Lula, contudo, foi objeto de polêmica assim que foi divulgada. Isso porque, no canto inferior direito, apareciam algumas pessoas "duplicadas". Várias reportagens apontaram o problema que mostra pessoas similares em movimentos distintos nas fotografias. Apesar disso, é possível notar que a maior parte da foto não tem esse problema.
A coordenação do ato com Lula justificou o ocorrido como sendo um bug característico de fotos panorâmicas e, em seguida, o perfil do ex-presidente no Twitter postou uma outra versão da mesma foto, esta sem o erro técnico. Em depoimento ao site G1, o fotógrafo responsável pela imagem, Ricardo Stuckert, explicou a falha: "Eu fiz nove fotos para pegar o ângulo todo. E aí o que que acontece? Quando eu estava fotografando, o drone vai mexendo. Só que as pessoas estavam mexendo. O que aconteceu? As pessoas mexem, duplicou, e na hora que o software junta todas as nove fotos para fazer esse 180 graus, ele não juntou direito porque as pessoas mexeram. Foi uma sobreposição".
De acordo com o UOL, esse tipo de bug é normal, "uma vez que a panorâmica agrupa diversas fotos em diferentes ângulos, tiradas em um movimento contínuo", segundo dois fotógrafos que analisaram as imagens.
Um vídeo do mesmo local e ângulo da foto também foi publicado pela equipe de Lula, para afirmar que não houve adulteração proposital nas imagens com objetivo de "aumentar" o número de participantes do ato.
Pelas imagens do vídeo aqui verificado, não é possível identificar se o autor utilizou a foto com as pessoas duplicadas ou se é a foto sem o erro técnico.De uma forma ou de outra, as duas imagens mostram milhares de pessoas no local.
PRÉ-CANDIDATOS EM SALVADOR
Lula e Bolsonaro não foram os únicos pré-candidatos à Presidência a participar de atos em Salvador em 2 de julho. Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) também estiveram na cidade, durante a celebração da Independência da Bahia.
Com exceção do atual presidente, os outros três políticos participaram de um ato cívico que percorreu regiões entre o Largo da Lapinha, no bairro da Liberdade, e o Terreiro de Jesus, no Pelourinho.
Inicialmente, Lula havia sido desaconselhado a ir ao evento, mas mudou de ideia para se contrapor a Bolsonaro, que participou de uma motociata.
Por que investigamos?
O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram na internet e tenham relação com pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições. Os vídeos aqui verificados envolvem os dois principais candidatos à corrida presidencial e podem induzir a população a análises equivocadas, influenciando a decisão dos eleitores na hora do pleito.
Nesta semana, o mesmo ato em Salvador foi alvo de outra checagem do Comprova, que classificou como enganoso post que usa vídeo antigo sobre adesão à manifestação pró-Bolsonaro. Anteriormente, a iniciativa verificou que postagem usou foto de atos sem presença de Lula para tentar desacreditar pesquisas eleitorais e que protesto anti-Bolsonaro na Itália não teve manifestantes enviados pelo PT.
A investigação desse conteúdo foi feita por Folha e piauí e publicada em 6 de julho pelo Projeto Comprova, coalizão que reúne 42 veículos na checagem de conteúdos virais. Foi verificada por Estadão, Plural Curitiba, O Dia, A Gazeta e Correio Braziliense.