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Eduardo Bolsonaro questiona TSE se passaporte de vacina será exigido para votar em 2022

Por Bela Megale / O GLOBO

O clã Bolsonaro está preocupado que os eleitores antivacina não consigam chegar às urnas. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) questionou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a obrigatoriedade de os eleitores apresentarem o passaporte de vacina para votar nas eleições de 2022. Em uma consulta à corte, o filho 03 de Bolsonaro perguntou “se esta justiça eleitoral exigirá a comprovação da vacinação dos eleitores para ingresso nos ambientes de votação durante os dias das eleições”. 

Eduardo se vacinou contra a Covid-19, mas, como o pai, costuma colocar em xeque a eficácia do imunizante e enaltecer pessoas que não se vacinaram, como o tenista sérvio Novak Djokovic. Djokovicfoi deportado da Austrália por tentar entrar no país para disputar um campeonato sem estar vacinado contra a Covid-19.

O parlamentar também questionou se será permitido que tribunais regionais e juntas eleitorais, além de prefeitos e governadores, estabeleçam os critérios sanitários para ambientes de votação e exijam o comprovante de vacinação. O documento foi apresentado ao TSE há 15 dias e ainda não foi respondido. 

Na peça, a advogada de Eduardo aponta que a resolução publicada sobre o dia da eleição “não menciona qualquer procedimento a ser adotado especificamente em relação ao acesso dos eleitores aos locais de votação”. A norma se limita a dizer que “o TSE poderá expedir instruções adicionais com protocolos sanitários de contingência, a fim de resguardar a saúde coletiva das pessoas que atuam no dia da eleição”. 

Bolsonaro tem sido pressionado por aliados a abandonar o discurso antivacina. Em entrevista ao GLOBO, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) admitiu que a questão “gerou desgaste para o presidente”. Flávio coordenará a campanha do pai, que busca a reeleição. Precisa, agora, combinar com os irmãos. 

Equipe de Bolsonaro contrata ex-ministro do TSE como advogado para eleição

Marianna Holanda / FOLHA DE SP
 
O PRESIDENTE BOLSONARO ADRIANO DA REUTERS
BRASÍLIA

O PL contratou o ex-ministro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Tarcísio Vieira de Carvalho Neto para atuar na campanha do presidente Jair Bolsonaro. O acordo foi feito nesta terça-feira (15) e confirmado à Folha por Carvalho Neto.

"Nesta tarde, foi sacramentada a contratação do nosso escritório para atuar na campanha eleitoral do presidente Jair Bolsonaro", disse o ex-ministro.

"Estamos muito honrados com a confiança depositada em nosso trabalho e esperamos dar cabo dos desafios que se avizinham", completou.

Enquanto a candidatura de Bolsonaro não for oficializada pela convenção do partido, o que deve ocorrer entre julho e agosto, de acordo com o calendário eleitoral, o escritório é contratado inicialmente pelo partido.

 

Carvalho Neto disse que encontrará o presidente quando ele retornar da Rússia, onde está para encontro bilateral com Vladimir Putin.

Também atuarão na campanha de reeleição do presidente os sócios do ex-ministro, Caroline Maria Vieira Lacerda e Eduardo Augusto Vieira de Carvalho Neto.

O agora advogado de Bolsonaro já conhece o presidente, porque foi reconduzido por ele para mais um mandato de dois anos na corte eleitoral em 2019.

Até hoje, a advogada Karina Kufa é quem atua em ações de Bolsonaro na Justiça Eleitoral.

Auxiliares do presidente comemoraram a contratação de um ex-integrante da corte eleitoral, uma vez que Bolsonaro precisará de boa interlocução com o TSE.

O chefe do Executivo faz constantes críticas às urnas eletrônicas. Além disso, no final de janeiro, a Polícia Federal concluiu que houve crime do presidente em sua atuação no vazamento de dados sigilosos de investigação de suposto ataque ao sistema do TSE.

A investigação foi aberta após o presidente divulgar o inquérito em live realizada no dia 4 de agosto. Bolsonaro nega que o caso fosse sigiloso.

Em outra frente, o presidente e seus aliados estão preocupados com o cerco contra o Telegram, aplicativo de mensagens amplamente utilizado pela militância bolsonarista.

A ferramenta entrou na mira do TSE, que passou a discutir a possibilidade de banimento do aplicativo. O aplicativo é alvo do TSE e está na mira de ao menos duas apurações, uma na Polícia Federal e outra no Ministério Público Federal.

Como mostrou a coluna Painel, investigadores na esfera cível e criminal que atuam em apurações sobre disseminação de fake news, discurso de ódio e desinformação não veem muita saída além do bloqueio do Telegram no Brasil.

No final de janeiro, o presidente chamou o cerco ao aplicativo de covardia e indicou estudar medidas.

Em conversa no Palácio da Alvorada, um apoiador o questionou: "E o Telegram?" Bolsonaro respondeu, sem entrar em detalhes sobre o que seria a covardia e quais seriam os seus autores: "É uma covardia o que estão querendo fazer com o Brasil".

Uma apoiadora completou a frase: "[É uma covardia] cortar a nossa comunicação". O chefe do Executivo diz que não vai responder ao comentário. "A gente está tratando disso", encerrou o assunto. O governo, até o momento, não tomou nenhuma medida quanto ao aplicativo.

Ao longo de 2021, o TSE, assim como o STF, foi alvo de seguidos ataques de Bolsonaro nas semanas anteriores aos atos de raiz golpista do 7 de Setembro. O presidente acusou, sem provas, fraude nas urnas eletrônicas e chegou a fazer ameaças às eleições de 2022.

Depois do feriado da Independência, porém, em meio à crise institucional, Bolsonaro divulgou uma nota na qual recuou. Ele afirmou que não teve "nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes" e atribuiu palavras "contundentes" anteriores ao "calor do momento".

Aquela mudança de tom de Bolsonaro, porém, apesar de elogiada pelos presidentes do Senado e da Câmara, sempre foi vista com ceticismo, em especial pelos magistrados do Supremo. Nos últimos dias, o presidente interrompeu a trégua e voltou a questionar a confiabilidade do sistema eleitoral.

 

Simone Tebet aposta em União Brasil, fuga de estados petistas e divisão tucana

Renato MachadoJulia Chaib / FOLHA DE SÃO PAULO
BRASÍLIA

O MDB passou a apostar suas fichas na formação de uma federação com a União Brasil, com o intuito de garantir alianças estaduais e assim fortalecer a pré-candidatura da senadora Simone Tebet (MDB-MS) à Presidência da República.

Em outra frente, a campanha de Tebet também busca avançar em território tucano e atrair o partido para uma futura chapa.

Enquanto membros de peso do PSDB vocalizam e tentam aumentar a dissidência à pré-candidatura de João Doria, governador de São Paulo, Tebet envia sinais de proximidade política e ideológica com o PSDB.

Nesta terça-feira (15), o tema de uma candidatura única estará na pauta de uma reunião envolvendo os presidentes dos três partidos: Baleia Rossi (MDB-SP), Luciano Bivar (União Brasil-PE) e Bruno Araújo (PSDB-PE).

As tratativas para a formação de uma federação entre MDB e União Brasil evoluíram nos últimos dias, ao ponto de alguns caciques considerarem "praticamente fechada".

"O caminho mais provável da União Brasil é a federação com o MDB. Não sendo possível essa federação, vamos fazer aliança", disse à Folha o presidente da União Brasil, Luciano Bivar.

O mapeamento de estrategistas das duas siglas aponta que uma aliança é possível em 20 das 27 unidades da federação.

Emedebistas buscam avançar nas negociações nesses estados onde não há um antagonismo aberto entre os dois partidos e fogem inicialmente dos estados de grande influência do PT —muitos membros do MDB são favoráveis a uma aliança com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Dentre os estados mais problemáticos estão Pernambuco, Bahia e Amapá.

Na Bahia, por exemplo, o partido se encontra dividido, com uma ala mais próxima de ACM Neto e outra ligada ao senador Jaques Wagner (PT-BA).

No Amapá o entrave seria o ex-presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), manda-chuva da União Brasil local e que articula sua reeleição ao Senado.

A situação de Alcolumbre vem se tornando desconfortável, com a perspectiva de a ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) disputar a vaga do estado para o Senado.

Por outro lado, um estado tratado inicialmente como problemático, o Rio Grande do Sul, viu as condições se assentarem com a provável saída de Onyx Lorenzoni da União Brasil, para acompanhar Jair Bolsonaro no PL.

Mesmo as divergências são tratadas como facilmente solucionáveis por dirigentes do MDB. Além de apoios estaduais, a federação com a União Brasil também tem o apoio de caciques de peso na legenda, como o senador Eduardo Braga (MDB-AM), líder da bancada, e o ex-senador Romero Jucá (RR).

O senador Renan Calheiros (MDB-AL), embora defenda o apoio à candidatura do ex-presidente Lula caso Tebet não fique competitiva, também não se opõe à federação.

Em relação à parceria com os tucanos, os estrategistas emedebistas apostam que a contestada pré-candidatura de Doria pode chegar dizimada na janela partidária, em abril, tornando-se necessária uma aliança em favor de outro nome ao Planalto.

Neste cenário, apostam que a melhor saída para os tucanos será buscar a federação com a União Brasil.

O PSDB também está em tratativas avançadas com o Cidadania para formar uma federação, mas isso não é visto como entrave por emedebistas.

Oficialmente, os negociadores do MDB não se envolvem nas questões internas do outro partido, mas contam com o apoio de alguns nomes de peso tucanos que vociferam contra a candidatura do governador paulista, em particular o senador licenciado Tasso Jereissati (PSDB-CE) e o José Aníbal (SP).

Ao mesmo tempo, Tebet realiza gestos em favor da base tucana. Escolheu como marqueteiro Felipe Sotello, mais ligado à ala do senador e ex-governador José Serra (PSDB-SP). Sotello foi o responsável pela campanha vitoriosa pela reeleição do falecido prefeito Bruno Covas.

coordenadora da área econômica da campanha será Elena Landau, que atuou no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), como diretora do programa de desestatização e também no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Se por um lado a direção nacional do MDB entrou nas articulações, por outro ficou a cargo de Tebet tornar-se conhecida nacionalmente e assim reverter a descrença em sua candidatura de alguns líderes do partido.

Na legenda, mantém-se a perspectiva de que ela precisa atingir dois dígitos nas pesquisas até abril para seguir na corrida. Pesquisa Datafolha em dezembro apontou que a congressista contava com 1% da intenção de votos.

Tebet esteve na cidade de São Paulo, onde visitou projetos sociais na favela de Paraisópolis, acompanhada do prefeito Ricardo Nunes (MDB), no dia 29 de janeiro.

Estão previstas para depois do Carnaval viagens para as regiões Sul e Nordeste no roteiro do que a senadora vem chamando de "caminhada da esperança". A distância, ele concede entrevistas para rádios regionais de diversas partes do país, para tentar se tornar conhecida.

Um parlamentar emedebista, no entanto, questiona a série de agendas para conhecer projetos sociais e para se reunir com membros da sociedade civil, enquanto outros pré-candidatos ganham destaque em fotos ao lado de políticos cujo apoio pode influenciar nas eleições.

 

Em vez de se unir, os candidatos de centro se multiplicam e se ‘autocristianizam’

Eliane Cantanhêde, O Estado de S.Paulo

15 de fevereiro de 2022 | 03h00

A política brasileira, e não é a única, está tão bagunçada que criou a figura da “cristianização consentida” na eleição de 2022. O/a político/a assume a candidatura, faz discurso, viaja e dá entrevista, mas ninguém, nem ele e os comandantes do partido, levam a sério. É só para inglês ver e ganhar tempo.

O candidato “cristianizado” é aquele abandonado pelo próprio partido e pelos correligionários, uma alma penada. A expressão vem de 1950, quando o então PSD jogou fora Cristiano Machado e apoiou o favorito Getúlio Vargas, do PTB.

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João Doria (PSDB) ganhou as prévias e tenta evitar que tucanos apoiem outros candidatos. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Machado foi “cristianizado”, mas os candidatos atuais se “autocristianizam”, oferecendo seus nomes e biografias a suas siglas, enquanto os caciques conversam, ou negociam, o apoio principalmente a Lula, do PT, e a Jair Bolsonaro, do PL.

Quem está sendo “cristianizado”, mas se rebela, é João Doria, do PSDB, que ganhou as prévias apertado, mas ganhou, e tenta evitar uma revoada tucana, sobretudo para Lula. Doria é guerreiro, mas os tucanos estão fazendo picadinho do PSDB – entre Lula, Bolsonaro, Sérgio Moro (Podemos), Simone Tebet (MDB) e até o voto nulo.

Se o partido de centro com mais densidade está assim, imagina o resto. Moro irá até o fim? Ciro Gomes não está sendo ainda “cristianizado”, mas patina, apesar do recall de três candidaturas presidenciais e de ter o melhor marqueteiro. Quantos pedetistas já buscam alternativas?

Simone Tebet é muito elogiada, mas tem como se impor às raposas do MDB? Improvável, se o MDB de Alagoas, Piauí, Ceará, Paraíba, Maranhão e Rio Grande do Norte já está mais para lá do que para cá, ou seja, para Lula. E o do Sul e do Centro-Oeste tem uma queda por Bolsonaro.

Rodrigo Pacheco foi lançado pelo PSD quando Gilberto Kassab já acertava nos bastidores o que admite agora em público: o apoio a Lula. Logo, se deixou “cristianizar”. E é para não ser um novo Cristiano Machado, ou um novo Pacheco, que Eduardo Leite (RS) até libera que trabalhem seu nome, mas sem compromisso.

Outros que se lançam, mas o eleitor nem sabe, são Alessandro Vieira, bom senador do Cidadania, Luiz Felipe d’Avila, cientista político que entrou na vaga de João Amoêdo para ser “cristianizado” pelo Novo, André Janones, do Avante, e Aldo Rebelo, independente.

Sempre há candidato de mentirinha, mas em 2022 a polarização veio cedo demais e os partidos estão infiltrados pelo lulismo, pelo bolsonarismo ou por ambos. A “janela partidária”, de 3/3 a 1.º/4, será um teste. Ou os comandantes garantem uma retirada organizada ou haverá uma debandada: o estouro da boiada e dos próprios partidos.

Frente ampla de Lula esbarra em programa de governo, ataques e antipetismo

Joelmir Tavares / FOLHA DE SP
SÃO PAULO

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) obteve avanços no esforço de construir uma frente ampla contra o presidente Jair Bolsonaro (PL), mas tem adiante obstáculos como desconfianças na área econômica, antipetismo, entraves partidários e um previsível massacre na campanha.

Hoje favorito da corrida presidencial, ele tem dito que não quer ser o candidato do PT ou da esquerda unicamente, mas de "um movimento" com alcance maior, incluindo forças sociais. Entra nessa conta a escolha do ex-tucano Geraldo Alckmin como vice, já apalavrada, mas ainda por ser concretizada.

As movimentações para convencer o universo político e o eleitorado de que seria o único capaz de liderar uma articulação que vá da esquerda à direita não bolsonarista envolvem também conversas de Lula com outrora rivais, como quadros históricos do PSDB, e líderes de partidos como de MDB e PSD.

Se no discurso petista o selo de candidato da unificação nacional já está grudado e não sai mais, fora das projeções otimistas —que martelam a possibilidade de vitória no primeiro turno— outros fatores se impõem.

Bolsonaro e aliados deixam claro que vão jogar pesado na desconstrução de Lula e seu arranjo. Falam em desenterrar escândalos de corrupção da era petista e explorar a derrocada econômica do fim do mandato da ex-presidente Dilma Rousseff.

"O Lula está escondidinho, mas vamos relembrar tudo o que ele fez no verão passado", diz o deputado federal e vice-presidente nacional do PL, Capitão Augusto (SP). "Aliança em torno dele? Se fosse um nome diferente, até poderia se pensar. Mas a rejeição dele é muito alta."

No cálculo do bolsonarista, a campanha desidratará Lula, mas não a ponto de tirá-lo do segundo turno. "E aí vamos ver. A esquerda ainda tem uma força no Brasil, mas nunca será a maioria", afirma.

Na pesquisa Datafolha de dezembro, o petista teve taxa de rejeição de 34%, mesmo percentual de João Doria (PSDB), com quem empata na segunda colocação. Bolsonaro tem a maior, com 60%.

"Só os petistas mais otimistas mesmo para acreditarem que dá para ganhar no primeiro turno", alfineta o dirigente do PL. "Lava Jatopetrolão, a desastrosa gestão da Dilma... Vamos fazer questão de recordar tudo isso. Não creio que o discurso do Lula vá muito longe além da esquerda."

antipetismo, apesar de ter refluído, será reavivado com a aproximação do pleito, na ótica de Capitão Augusto.

Até mesmo o ex-governador Márcio França (PSB), próximo de Lula, tem feito prognóstico nessa linha. Ele usa as dificuldades que o PT poderá encontrar como argumento para defender sua candidatura ao Governo de São Paulo, em detrimento de abrir mão para o petista Fernando Haddad.

França, que foi vice de Geraldo Alckmin no governo, sustenta ser um nome mais palatável ao eleitor de perfil conservador, principalmente no interior do estado, que seria mais suscetível à retórica anti-PT. O apoio pleiteado por ele é um dos empecilhos na negociação da federação PSB-PT.

Obstáculos no caminho de Lula também são apontados na chamada terceira via, que tenta fabricar uma alternativa aos dois líderes. Operadores de candidaturas como as de Ciro Gomes (PDT) e Sergio Moro (Podemos) rebatem a tese de que o petista seja a figura da conciliação.

"Ninguém pode, no mês de fevereiro, fazer a análise de que já há alguém específico liderando as forças contra o bolsonarismo, enquanto outros partidos do campo de centro estão construindo uma unidade que pode desempenhar esse papel", diz o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo.

Embora tenha escolhido Doria, o partido viu se agravar o racha interno após as prévias e tem agora correntes discutindo outras opções, que envolvem aproximação com Simone Tebet (MDB) e o resgate do derrotado na votação interna tucana, Eduardo Leite, em eventual jogada com o PSD.

"Lula, pessoalmente, carrega o ativo de ter tido um papel importante na distribuição de renda, mas o tema dos males causados pelo PT seguramente cresce no processo eleitoral", avalia Araújo, para quem "até aqui o bolsonarismo é o maior cabo eleitoral do PT".

O setor tem discutido também a falta de clareza, até o momento, do programa econômico petista, diante de incertezas sobre guinadas na condução da política fiscal e desequilíbrio nas contas públicas. Lula já discute, por exemplo, rever o teto de gastos e a reforma trabalhista.

Um proeminente articulador da centro-direita, que participa das costuras para fortalecer um projeto desse segmento e falou à Folha sob reserva, diz que o momento de crise aguda exige que as campanhas eleitorais apontem caminhos em duas direções.

Uma delas é no âmbito institucional, propondo a recuperação da ordem democrática e dos pilares constitucionais. E a outra é na esfera econômica, com um projeto claro e de longo prazo, que proponha saídas para a estagnação do crescimento e o isolamento internacional.

É sobretudo nesse segundo aspecto, conforme a visão do político, que Lula é tratado com ceticismo no mercado e nos círculos liberais. A sigla, em resposta às insinuações de radicalismo, afirma que o setor privado já sabe que a gestão do ex-presidente ofereceu segurança e que não há riscos.

O ex-ministro petista Tarso Genro, afinado com a proposta de que o PT "não deve liderar uma frente exclusivamente de esquerda", defende "um programa que gere uma interação entre setor público e privado, balizada pelo Estado, mas em conjunto com a iniciativa privada, que demanda previsibilidade".

"Estamos vivendo outra época [em relação à da primeira gestão de Lula], não é mais um projeto baseado em commodities. Tem que ter uma dinâmica nova, mas não será norteada pelo capital financeiro especulativo", diz à Folha o ex-governador do Rio Grande do Sul.

Aloysio Nunes, um dos tucanos históricos que foram procurados pelo ex-presidente, endossa parte das críticas. "O programa para a economia ainda tem que ser entendido. E essa história da [regulação da] mídia causa estranhamento, temos que ficar atentos", afirma.

Aloysio, que esteve com o petista em duas ocasiões desde o fim do ano passado, tem repetido que a mensagem de Lula nas conversas foi a de que, caso eleito, precisará de "um mutirão para governar".

Candidato a vice de Aécio Neves (PSDB) em 2014, o ex-senador diz que o petista não fez pedidos, embora se saiba que ele espera que as chamadas forças democráticas o abracem ao menos em um segundo turno contra Bolsonaro.

"O plano de se criar em torno dele um movimento pressupõe ideias capazes de juntar gente e mobilizar vontades, e isso ainda não está claro. Não sei se o Lula será esse aglutinador. O fundamental para mim é derrotar o Bolsonaro, e isso passa acima de qualquer questão de ordem partidária", segue Aloysio.

Para ele, no entanto, é salutar "diante da excepcionalidade da situação" o diálogo entre lados antagônicos. "Essa intenção de fazer um grande mutirão é muito positiva, mas tem que ver a partir de quais propostas", reitera.

O ex-presidente falou com outros tucanos considerados discípulos do "PSDB da Constituinte", como Fernando Henrique Cardoso e Tasso Jereissati. A mensagem é a de que é preciso recuperar a credibilidade da política após os ataques de Bolsonaro e buscar consensos mínimos.

"Do ponto de vista da política, Lula está correto em buscar demonstrar que tem amplitude no diálogo quando parte da sociedade continua desconfiando do PT na Presidência da República", diz Bruno Araújo. "Encontrar-se com ele é algo do foro íntimo de cada uma dessas lideranças [tucanas]."

Em 2018, quando o ex-presidente foi impedido de concorrer e acabou substituído por Haddad, o PT estava coligado só com PC do B e Pros. Desta vez, são dadas como certas na composição siglas como PC do B, PSOL, PSB, PV e Solidariedade.

De fora do segmento da esquerda, há a sinalização de setores e nomes influentes do MDB e do PSD. Se o primeiro dificilmente fechará apoio formal —hoje trabalha a pré-candidatura da senadora Simone Tebet—, o segundo não está totalmente descartado —seu presidente, Gilberto Kassab, é assediado, mas resiste.

A expectativa é que a candidatura do PT seja favorecida pela acentuada divisão interna na maioria dos partidos. Com o favoritismo do ex-presidente, os mais pragmáticos não querem comprar briga com eleitores dele.

Até siglas do centrão alinhadas a Bolsonaro podem liberar seus diretórios estaduais do apoio ao atual presidente, diante da pressão de deputados e candidatos a governador que são simpáticos a Lula ou querem ao menos o benefício da neutralidade, preservando suas próprias campanhas.

Nos últimos dias, surgiram indícios nessa linha. O PP, um dos símbolos do centrão, dispensou as direções estaduais de mencionarem Bolsonaro ou o governo na propaganda partidária em TV e rádio, conforme noticiou o jornal O Globo. Líderes regionais da legenda flertam com o petista.

Em uma movimentação inusitada, antecipada na Folha pelo Painel, integrantes do governo Romeu Zema (Novo) ensaiam apoio ao ex-presidente em Minas Gerais, em tática para atrair eventuais eleitores lulistas e distanciar o governador de Bolsonaro. No estado, o PT negocia com Alexandre Kalil (PSD).

RECENTES SINALIZAÇÕES FAVORÁVEIS A LULA

  • Contrariedade interna à escolha de Geraldo Alckmin (ex-PSDB) como vice foi debelada, simbolizando movimento ao centro
  • Aproximação de Lula com líderes históricos do PSDB rendeu declarações sobre moderação do petista e busca de consensos
  • Partidos da base de Bolsonaro e de outros rivais ensaiam afrouxar exigências nos estados, liberando eventual apoio ao PT
  • Líderes do MDB como Renan Calheiros (AL) trabalham pelo petista; apoio do PSD ao menos no segundo turno é dado como certo
  • Aliados do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), ventilam pregar voto casado nele e em Lula

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