Lula adequa tom sobre corrupção e evita citar aliados em entrevista ao Jornal Nacional
Por Natália Portinari / O GLOBO
Numa mudança de tom em relação a declarações anteriores sobre o tema, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) evitou contestar, na entrevista ao Jornal Nacional na quinta-feira, a existência de um esquema de corrupção na Petrobras, mas atribuiu a confissão de delatores a métodos de aplicação da delação premiada pela Operação Lava-Jato, acusando ter havido depoimentos sob coação do Ministério Público.
O esquema de desvio de dinheiro público na estatal, porém, vai além dos delatores e, segundo relatado em denúncias e decisões judiciais, esteve diretamente ligado ao governo e a aliados.
A operação apontou, por exemplo, que José Dirceu, homem de confiança de Lula e ministro da Casa Civil de 2003 a 2005, utilizou sua influência política para manter indicações de diretores na Petrobras, recebendo valores ilícitos em troca. Diferentemente do ex-presidente, que teve suas sentenças na Lava-Jato anuladas no ano passado, as duas condenações contra Dirceu continuam válidas.
Ao rememorar sua batalha jurídica com a Lava-Jato na bancada do JN, Lula criticou métodos que atribuiu à operação em acordos de delatores.
— Você não pode dizer que não houve corrupção se as pessoas confessaram. E ficaram ricos por conta de confessar. Você não só ganhava liberdade por falar o que o Ministério Público queria como ficava com metade do que roubou— afirmou.
A Lava-Jato apontou que o esquema de pagamento de propina e desvio de dinheiro dentro da Petrobras funcionou de 2004 a 2014 e, segundo as investigações, envolveu desde diretores da estatal, empresários e agentes políticos. O “núcleo político”, segundo o MPF, incluiu integrantes do governo, como Antônio Palocci, ministro da Fazenda de Lula e da Casa Civil de Dilma. Ele mesmo foi um dos que “confessaram” a corrupção, como citado pelo ex-presidente no JN. Segundo o ex-homem-forte dos governos petistas, empreiteiras pagavam propina em forma de “comissão” a cada contrato firmado com a Petrobras. O esquema, de acordo com ele, servia para o governo obter apoio de aliados com a distribuição de cargos.
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O senador Fernando Collor (PTB-AL), por exemplo, era um dos aliados do governo de Lula no Congresso e, na gestão petista, foi contemplado com cargos na BR Distribuidora. Anos depois, foi acusado de receber R$ 20 milhões em propina de empresas contratadas pela estatal. Ele ainda responde a ação no STF. O senador nega as acusações.