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Lula critica até ditaduras amigas atrás do voto centrista em palanque no JN

Igor Gielow / FOLHA DE SP
SÃO PAULO

Nada como uma campanha eleitoral. Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente e líder inconteste do PT, parecia o candidato de um partido social-democrata europeu em sua aparição na bancada de entrevista do Jornal Nacional desta quinta-feira (25).

Lula que se postou à frente das câmeras foi capaz de algo até aqui impensável: fez uma crítica às ditaduras da China e de Cuba, ao compará-las de forma negativa a processos democráticos brasileiros. Logo depois, questionado, voltou ao discurso usual de respeito a todos os países e tal, mas o objeto era tirar a pecha de amigão de ditadores.

Difícil na prática, mas sintomático da necessidade de provar-se algo diferente ante o público da maior audiência do telejornalismo, sem os filtros das redes sociais. Lula passou o recibo, enfim, ainda que seja evidentemente algo momentâneo.

Líder da corrida eleitoral, o ex-presidente (2003-10) dobrou William Bonner e Renata Vasconcellos. Diferentemente do que ocorreu com o arestoso Jair Bolsonaro na segunda-feira (22), o ex-presidente impôs seu discurso.

Se não mentiu de forma tão desabrida quanto o presidente, Lula foi espertinho na manipulação da realidade. Como na segunda, a primeira pergunta foi a única mais dura, falando da corrupção evidenciada pela Operação Lava Jato.

Lula se saiu bem, tentando relativizar o atavismo da corrupção e fazendo a ponte com Bolsonaro ao dizer que só acharam malfeitos nos governos petistas porque havia liberdade para apurar. É uma meia verdade, mas vendida de forma eficaz.

O petista nem precisou falar da escalada golpista do rival. Preferiu ir ao tema central da eleição, a fome e a inflação, e com um discurso simplório passou sua mensagem. Como será desfeito o nó fiscal, deixemos para a realidade de janeiro de 2023.

Houve uma ou outra mentirinha, como dizer que a crise durante a campanha de 2002 era exclusiva do PSDB no poder: não, a expectativa de Lula no governo que fez explodir dólar e juros futuros, obrigando o futuro novo governo a ajoelhar e beijar o relicário do mercado.

Mas isso é passado. Venceu a habilidade de Lula, disfônico como há 40 anos, de falar "olhando para o povo brasileiro", como colocou acima da mansidão dos entrevistadores. Sobrou até para Dilma Rousseff, o que não deve ter sido difícil para o petista. E ele ainda conseguiu introduzir, ao menos em quatro ocasiões claras, sua novidade na campanha: Geraldo Alckmin.

O ex-tucano, governador por quatro vezes de São Paulo, ganhou uma ênfase que claramente buscava o eleitor centrista ainda ressabiado em talvez votar no petista. O fato de ele ter tido menos de 5% na eleição de 2018 parece não incomodar o titular da chapa: até "ciúmes" do proverbial "picolé de chuchu" Lula disse ter em horário nobre.

Buscando votos para matar a fatura no primeiro turno, o que a esta altura parece bastante improvável, Lula fez uma versão TikTok da Carta ao Povo Brasileiro de 2002, na qual abraçou o mercado e o empresariado. Virou amigo de infância de Alckmin e crítico ferrenho de Cuba e da China.

Se vai colar, as pesquisas dirão.

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