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A memória curta de Lula ao prever que terá 60% dos votos contra Bolsonaro

Por João Paulo Saconi / O GLOBO

 

Reunido na segunda-feira com a coordenação de sua campanha em São Paulo, Lula fez a própria projeção para o segundo turno contra Jair Bolsonaro. Disse o ex-presidente:

— É a primeira vez que alguém exercendo o cargo de presidente (Bolsonaro) perde as eleições no primeiro turno. E vai perder muito mais, porque a nossa distância vai aumentar muito. Aliás, se a minha memória não for curta, eu não costumo ter menos de 60% no segundo turno.

O petista, no entanto, esqueceu-se da própria reeleição em 2006. E não por falta de motivos para lembrar, já que Geraldo Alckmin, seu concorrente à época, estava bem ao seu lado no encontro. Há 16 anos, quando se enfrentaram, Lula teve 48,6% da preferência do eleitorado e Alckmin, hoje seu vice, 41,6%.

O cálculo, além de só considerar o êxito em 2002 (61,2% contra José Serra), ainda lembra um número mágico escolhido pelo próprio adversário. Foi Bolsonaro, ao longo da semana passada, quem disse que conquistaria 60% dos eleitores ainda no primeiro turno. Terminou com 43,2% contra 48,4% do petista.

 

União Brasil apoia Tarcísio de Freitas no segundo turno em SP

Por Ivan Martínez-Vargas — São Paulo / O GLOBO

 

O União Brasil vai apoiar Tarcísio de Freitas (Republicanos) no segundo turno da eleição estadual em São Paulo. A sigla, formada com a junção do DEM com o PSL, elegeu a quarta maior bancada na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), com oito parlamentares. Nesta quarta, o MDB, partido do prefeito de São Paulo Ricardo Nunes e que tem quatro deputados na Alesp, também declarou apoio ao candidato bolsonarista.

 

O presidente estadual do União Brasil, Antonio Rueda, vai anunciar o apoio formal do partido em uma coletiva de imprensa ao lado de Tarcísio de Freitas, que disputará o segundo turno contra o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT).

A aliança já era dada como certa, uma vez que emissários de Tarcísio buscaram caciques do União Brasil para propor uma aliança ainda no domingo. O partido fazia parte da coligação do governador Rodrigo Garcia (PSDB), que declarou "apoio incondicional" a Bolsonaro e Tarcísio na terça-feira.

 

Um dos líderes que esteve à frente das tratativas do União Brasil com a campanha de Tarcísio é o presidente da Câmara Municipal de São Paulo, vereador Milton Leite (União), um importante aliado de Garcia.

O União Brasil, aliás, é tido no meio político como o provável destino de Garcia, que deixou o DEM e se filiou ao PSDB no ano passado com a promessa de assumir o governo paulista após a renúncia de João Doria (PSDB) e disputar a reeleição. O apoio de Garcia a Bolsonaro, anunciado na terça-feira, foi discutido com líderes do União Brasil, e não com líderes tucanos, que foram pegos de surpresa.

A aliança com o MDB também já era tida como provável, uma vez que o prefeito de São Paulo Ricardo Nunes (MDB) já havia dito publicamente que defenderia apoio a Tarcísio na sigla. O anúncio foi feito por Nunes e pelo presidente do partido, o deputado federal Baleia Rossi, nesta quarta-feira.

2022 não é 2018 e pode ser 1974

Elio Gaspari / folha de sp

Quem viu o último grande evento da campanha de Lula, no dia 26 de setembro, podia achar que estava na cerimônia de entrega do Oscar, com um só vencedor, Luiz Inácio Lula da Silva. Sentia-se no ar uma opção preferencial pelas celebridades. O evento destinava-se mais a deificar Lula do que a permitir que uma coligação de vontades derrotasse Bolsonaro.

Contados os votos, Lula prevaleceu, mas não conseguiu fechar a eleição no primeiro turno. Olhando-se para o mapa, vê-se que os candidatos apoiados por Bolsonaro ficaram na frente em todos os Estados do Rio Grande do Sul ao Espírito Santo.

O mapa de 2022 guarda semelhanças com o do vendaval de 1974, quando o MDB elegeu todos os senadores do Rio Grande do Sul até a muralha da Bahia. (A semelhança é grosseira por parcial, porque desta vez as eleições no Rio Grande do Sul e São Paulo decidem-se no segundo turno.)

Em 1974 o favoritismo dos candidatos da ditadura era tamanho que Ulysses Guimarães em São Paulo e Tancredo Neves em Minas Gerais preferiram ficar no conforto de sua cadeiras de deputado. Elegeram-se os pouco conhecidos prefeitos de Campinas e Juiz de Fora, Orestes Quércia e Itamar Franco.

Em 1974, dizia-se no palácio que Nestor Jost, candidato do Governo no Rio Grande do Sul, devia ficar quieto, pois ganhara uma cadeira de senador. Ilusão, ela foi para o emedebista Paulo Brossard. Em 2022 o comissariado petista selou sua aliança com o ex-governador Márcio França dando-lhe a cadeira de senador e entregando à sua mulher a vice na chapa de Fernando Haddad. Contados os votos, França foi para casa, o astronauta de Bolsonaro elegeu-se senador e Haddad lutará no segundo turno.

A eleição do astronauta Marcos Pontes em São Paulo traz outro sinal. 2022 não é um replay de 2018 porque ele não é o Major Olímpio, que tomou a cadeira de Eduardo Suplicy. É verdade que em 2022 o boiadeiro Ricardo Salles conseguiu se eleger para a Câmara, mas seu bolsonarismo, mesmo sendo radical, é recente. Quem o trouxe para a política de São Paulo foi Geraldo Alckmin. Entre 2018 e 2022 o deputado federal Eduardo Bolsonaro perdeu um milhão de votos.

Alguns ventos de 2018 fizeram-se sentir, mas a força que os move está de certa forma ligada ao antipetismo. O ex-juiz Sergio Moro elegeu-se senador pelo Paraná e sua mulher, deputada por São Paulo.

O comissariado e, sobretudo Lula, subestimaram o vigor desse sentimento. São muitos os eleitores que apreciaram a entrada de Geraldo Alckmin na chapa de Lula, mas não o acompanharam no mea culpa de dizer-se iludido por ter condenado práticas dos governos petistas.

Juscelino Kubitschek, um político que amava a vida, ensinava que não tinha compromisso com o erro. Errou bastante, mas acertou muito mais. Lula e seus comissários, com um notável acervo de acertos, tropeçam nas bolas de ferro dos próprios erros.

A eleição de domingo mostrou que a tentativa de deificação de Lula pode ter um preço: a reeleição de Jair Bolsonaro.

Quando Lula diz que o segundo turno é uma simples prorrogação de um jogo ganho ele pode estar cometendo o último erro de uma campanha que começou bem e se perde num terrível instante, parecido com aquele em que a defesa da seleção brasileira de 1950 achou que o ponta direita uruguaio Alcides Ghiggia recebeu a bola e ia centrar. Ele avançou e fez 2x1.

Bolsonaro recebe apoio de Ibaneis Rocha, Ratinho Jr. e da bancada ruralista

Marianna Holanda / FOLHA DE SP
BRASÍLIA

O presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu o apoio, nesta quarta-feira (5), dos governadores do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), e da bancada ruralista do Congresso.

Os anúncios foram feitos no Palácio da Alvorada nesta manhã. Ibaneis e Ratinho, já aliados do chefe do Executivo, integram o grupo de três governadores que apoiam o chefe do Executivo no segundo turno contra o adversário, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"A gente tem conseguido trabalhar aqui na cidade em plena harmonia então nada mais natural do que esse apoio agora no segundo turno ao presidente Bolsonaro", disse.

"É um apoio que vai de coração. Vamos correr as ruas do Distrito Federal junto com a população, em especial a população mais carente da nossa cidade, para que a gente consiga os votos para reeleger o presidente", completou.

Ibaneis foi ainda elogioso ao que chamou de parceria efetiva com o governo, e minimizou divergências durante o combate à pandemia da Covid-19.

Ele disse que não faltou recursos aos entes da federação. Bolsonaro, por sua vez, disse que isso é "coisa do passado".

O governador do DF optou por acompanhar as recomendações científicas à época, com isolamento social, criticado pelo presidente.

Questionado sobre o posicionamento da ex-presidenciável do seu partido, Simone Tebet (MDB), que sinaliza apoio a Lula, Ibaneis disse que ela tomará decisão cada vez mais isolada.

O governador disse ainda nunca ter sido procurada pela então candidata, nem outros gestores nos estados do MDB.

Ele disse que conversou com o presidente do partido, Baleia Rossi, que deve liberar os correligionários a declararem voto como melhor acharem.

"Nós temos uma bancada muito forte que foi eleita agora, MDB aumentou na Câmara dos Deputados, e essa bancada vem exatamente das pessoas que votaram com o presidente Bolsonaro", afirmou.

Já o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), que já havia apoiado Bolsonaro em 2018 e no primeiro turno, disse que está articulando campanha pelo presidente com seus prefeitos. Segundo disse, sua equipe está levantando quantos gestores municipais estarão com o chefe do Executivo no segundo turno, que avalia ser em torno de 70%.

"Em meu nome e no nome da nossa população, na sua grande maioria, pela segunda vez, já na eleição passada já tinha feito isso, nessa eleição fez da mesma forma no primeiro turno, deu esmagadora votação no senhor. E a ideia é que a gente possa consolidar isso numa ampliação da votação no segundo turno", disse Ratinho Jr.

Ele estava acompanhado de parte da bancada do estado no Congresso, como os deputados Paulo Eduardo Martins (PL) e Pedro Lupion (PL).

Bolsonaro recebeu ainda, nesta manhã, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). A bancada ruralista já havia declarado apoio a ele em 2018.

"Temos um só lado que é o lado da liberdade, que é o lado do presidente Bolsonaro", disse o deputado Sérgio Souza (MDB-PR), presidente da FPA. Cerca de 32 deputados e oito senadores compareceram ao encontro com o presidente no Alvorada.

Em todos os discursos, Bolsonaro agradeceu aos apoios, e ressaltou diferenças com a campanha do adversário, ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Desde a terça-feira (4), o presidente tem feito uma série de atos políticos com aliados no segundo turno. Ontem, foram os governadores reeleitos Cláudio Castro (PL-RJ) e Romeu Zema (Novo-MG), além de Rodrigo Garcia (PSDB-SP).

Enquanto Bolsonaro enfileira apoios de governadores, Lula conquistou alianças partidárias, como o PDT. Além disso, os presidenciáveis derrotados no primeiro turno, Simone Tebet e Ciro Gomes (PDT) estão mais alinhados com Lula.

Enquanto a primeira ainda não deu declarações públicas, Gomes soltou um vídeo em que evita mencionar o petista, mas diz que seguirá a decisão de seu partido, que apoiará Lula.

Aliados de Bolsonaro se decepcionaram, porque ainda nutriam esperança de uma ponte com o pedetista, que fez uma campanha com ataques a Lula.

"Decisão dele. Ele responda pelos seus atos. Se ele foi coerente nessa declaração, só os eleitores dele que vão dizer", disse o presidente a jornalistas, a respeito do posicionamento de Gomes.

Se por um lado evitou criticar diretamente o candidato derrotado, Bolsonaro fez, por outro, um gesto aos seus eleitores. "Eu peço ao eleitor do Ciro, como é um eleitor dito bastante qualificado, dadas as posições que ele tomou ao longo da vida toda...Não é que eu peço, tenho certeza que eles vão tomar a melhor decisão para o segundo turno".

Bolsonaro mais forte nos maiores colégios eleitorais

Por Merval Pereira / O GLOBO

 

 

 

Bolsonaro começa o segundo turno mais ativo do que Lula. Já ligou para governadores eleitos, teve reunião com Zema, eleito com mais votos que ele em Minas, e um player fundamental no segundo colégio eleitoral do país. Em São Paulo, Rodrigo Garcia está apoiando Tarcísio, o que significa que está muito forte nos três maiores colégios eleitorais – Cláudio Castro, eleito no Rio, vai conversar com ele hoje.

 

Lula está no velho estilo do PT, de reuniões e debates. Parece que hoje será anunciado o apoio de Simone Tebet e do Cidadania do Roberto Freire, mas não é suficiente. Tem que resolver o PDT. Os movimentos iniciais indicam que os dois candidatos ainda têm muitos votos para ganhar, e Bolsonaro pode até tirar votos de quem votou em Lula e não é petista.

 

É um engano achar que Lula tem sete milhões de votos à frente e Bolsonaro precisa pegar todos eles entre os oito milhões que sobraram. A distribuição do voto não é assim linear, tem muitos ainda em disputa.

 

Bolsonaro já mandou representantes evangélicos ao Nordeste, onde teve um milhão e meio de votos a mais do que em 2018, o que significa que conseguiu entrar no reduto fortíssimo petista. E com as bondades que continua anunciando sem que o TSE proíba, como o 13º do Auxílio Brasil e auxílio para as mulheres, que são claramente abuso político e econômico, pode ser que o segundo turno tenha ainda muita reviravolta.

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