Pouso tucano
Fora do segundo turno da corrida paulista, com apenas 18% dos votos válidos, Rodrigo Garcia (PSDB) personifica o ponto final de uma das dinastias partidárias mais longevas da política nacional.
A jornada da sigla à frente do mais rico e populoso estado brasileiro terminará em 31 de dezembro, 28 anos após Mario Covas assumir o Palácio dos Bandeirantes.
Passaram por lá ainda Geraldo Alckmin, hoje no PSB e vice na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o senador José Serra, que não conseguiu uma vaga na Câmara dos Deputados nesta eleição, e o ex-prefeito paulistano João Doria.
Neófito no meio tucano, Rodrigo deixou o DEM em 2021, após 27 anos. Em abril deste ano, assumiu o governo no lugar de Doria, que renunciou numa tentativa frustrada de viabilizar sua candidatura à Presidência da República.
Pouco conhecido do eleitorado, o governador tentou durante toda a campanha se descolar do antecessor, mal avaliado. Mas a polarização entre Lula e Jair Bolsonaro (PL), que se replicou em São Paulo, foi decisiva: Rodrigo ficou atrás de Tarcísio de Freitas (Republicanos) e de Fernando Haddad (PT).
Em que pese a ausência da salutar alternância de poder, as quase três décadas de governo tucano deixaram marcas duradouras em São Paulo. Não são poucos os feitos do partido no estado, ainda que haja lacunas importantes.
Na segurança pública, houve drástica redução, na casa dos 80%, da taxa de homicídios, que se tornou a menor do país. Mais recentemente, a promissora adoção de câmeras corporais aplacou a letalidade policial e a própria mortalidade de agentes de segurança.
Foi na administração tucana, contudo, que o PCC prosperou e hoje controla de presídios ao tráfico de drogas e armas, inclusive com conexões internacionais. Cidades padecem com os crimes patrimoniais, como o roubo de celulares.
Ainda que alguns valores de pedágios suscitem críticas legítimas, a concessão de rodovias mostrou-se acertada —o estado tem as melhores estradas do país. O Rodoanel, porém, segue inconcluso e legou escândalos de corrupção.
As gestões também devem ser cobradas por avanços tímidos nas malhas ferroviária e metroviária; por desempenhos aquém do potencial paulista na educação básica e no saneamento.
O futuro governador herdará um estado com as finanças em ordem e boa capacidade de investimento. Decerto se aproveitará de reconhecidas vitrines tucanas, como o Bom Prato e o Poupatempo.
Que Haddad e Tarcísio aproveitem o que resta de campanha para discutir com responsabilidade as demandas paulistas —e que o eleito, seja qual for, dê continuidade ao que já está estabelecido.
Onyx 'paz e amor' e Leite em encruzilhada marcam início do 2º turno no RS
O segundo turno ao Governo do Rio Grande do Sul começa com Onyx Lorenzoni (PL) em uma posição confortável, dado o histórico de 24 anos sem uma virada na disputa pelo governo do estado.
Em 1998, Olívio Dutra (PT) ficou 23.799 votos atrás de Antônio Britto (MDB) no primeiro turno, mas venceu a segunda rodada com uma vantagem de 87 mil votos. A diferença é que, desta vez, a vantagem de Onyx sobre o rival, Eduardo Leite (PSDB), é de 679 mil votos.
O placar final do primeiro turno teve o ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) com 37,5% dos votos, e Leite, com 26,81%, apenas 2.441 votos à frente de Edegar Pretto (PT). Assim, para buscar uma inédita reeleição ao governo no estado, o tucano precisa de uma virada histórica.
No primeiro turno, Onyx tinha apenas 1 minuto e 31 segundos de tempo de propaganda de TV, cerca de um terço da coligação de Leite. Agora, com mais tempo, o candidato bolsonarista deverá detalhar propostas e enfatizar um lado menos belicoso do que o adotado nos debates.
No primeiro discurso após o anúncio dos resultados, ele já sinalizou um tom paz e amor, repetindo um apelo às famílias gaúchas. "Precisamos de um governo que vá ao encontro das pessoas. Que tenha consciência de que nós temos uma missão, e essa missão é transformar vidas", disse Onyx.
Ele também deverá bater na tecla de que ama o Rio Grande do Sul, uma alfinetada em Leite, que renunciou ao governo do estado em março para uma tentativa frustrada de concorrer à Presidência da República.
Já o tucano deve apostar num refluxo da influência da polarização nacional no voto local. Sua campanha também espera debates mais equilibrados, após ser alvo dos demais candidatos no primeiro turno.
Em entrevista coletiva na segunda (3), Leite jogou com o discurso de que o resultado da votação foi uma vitória única no país contra a polarização nacional. A encruzilhada, agora, é como se posicionar em relação a ela.
Em 2018, aconselhado pelo seu então vice, Ranolfo Vieira Júnior (PSDB), o tucano declarou voto em Bolsonaro no segundo turno, mas se apresentou como o nome mais moderado na disputa contra José Ivo Sartori (MDB). A tática deu certo, e ele conseguiu atrair votos da esquerda e ser eleito.
Agora, o tucano pode trilhar o mesmo caminho, uma opção a princípio difícil, já que Onyx é o candidato do bolsonarismo, ou tentar um elo com o PT, o que poderia afastar a fatia mais conservadora de seu eleitorado e pessoas da sua própria coligação, composta por Cidadania (federado), Podemos, União Brasil, MDB e PSD, todos de perfil mais à direita do que à esquerda no Rio Grande do Sul.
O presidente licenciado do partido no estado, o deputado federal reeleito Lucas Redecker (PSDB), adiantou-se à discussão e, sem vincular sua decisão à de Leite, anunciou publicamente apoio a Bolsonaro. A justificativa foi "preocupação maior" com o "não retorno do método de governo" do PT.
Por ora, a campanha tucana aguarda os desdobramentos do diálogo entre Luiz Inácio Lula da Silva Lula (PT) e Simone Tebet, do MDB, partido do vice de Leite, Gabriel Souza. Questionados em quem votariam no dia 30, Leite, a ex-senadora Ana Amélia (PSD), o agora governador Ranolfo e Souza desconversaram. "Seria irresponsável fazê-lo antes de conversar com o grupo político que represento", disse Leite.
A coligação, todavia, fez acenos discretos a Pretto. Souza disse que ligou para o petista ainda no domingo para cumprimentá-lo pelo desempenho surpreendente. "A disposição ao diálogo com partidos rivais é algo que nos diferencia da outra candidatura", disse o atual governador, vice na chapa de Leite há quatro anos.
Leite se disse disposto a um encontro com o terceiro colocado. "Como governador, me reuni com o deputado Pretto em momentos-chave para a aprovação de projetos importantes, sem que isso representasse um apoio político. Mas é preciso haver disposição das duas partes para diálogo."
Respaldado por uma votação superior à de seu partido em 2018, Pretto também se mostrou aberto. "Vou conversar com todos que quiserem conversar comigo. Nacionalmente, Lula já está conversando. Por aqui, vamos aguardar ‘un poquito más’, até para ver o que vem dessas conversas nacionais."
Segundo o deputado, o início das negociações dependem da disposição de Leite em apoiar Lula e vice-versa.
Essa hipótese se tornou ainda mais improvável com o anúncio, nesta terça-feira (4), do apoio do governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), a Tarcísio de Freitas (Republicanos) em vez de Fernando Haddad (PT) no 2º turno de São Paulo, enfraquecendo possíveis novas alianças entre tucanos e petistas.
Dado que os dois partidos nunca se aliaram no estado, o PT gaúcho já começou a negociar com PSB e PDT para fortalecer o palanque do ex-presidente no Rio Grande do Sul.
Como Leite já admitiu, tucanos e petistas têm diferenças programáticas em relação a privatizações de estatais e à adesão ao regime de recuperação fiscal, negociado por ele quando era governador.
Curiosamente, nesses dois pontos a posição do PT é mais próxima à de Onyx do que à do tucano. O candidato bolsonarista já se disse contrário à privatização do Banrisul e que pretende renegociar os termos do regime de recuperação fiscal, sobretudo nas restrições à concessão de incentivos pelo estado.
PTB, Novo, Solidariedade e mais 12 não atingem cláusula de barreira e ficarão sem verba e espaço de TV
Seis partidos pequenos e outros nove nanicos não conseguiram superar, nessas eleições, a cláusula de barreira, o que levará ao corte, para todos eles, de verbas públicas e de propaganda na TV a partir do ano que vem.
Entre os pequenos partidos com baixíssimo desempenho nas urnas estão cinco de direita e centro-direita, Novo, PTB, Pros, PSC e Patriota, além do Solidariedade, de centro-esquerda.
Eles se juntam agora ao pelotão de outros nove nanicos que ou já não tinham superado a cláusula —também chamada de cláusula de desempenho— quatro anos atrás ou não existiam ainda: Agir, DC, PCB, PCO, PMB, PMN, PRTB, PSTU e UP.
A regra foi estipulada pela emenda constitucional 97, de 2017, e tem o objetivo de reduzir a grande pulverização partidária existente no país: há hoje 32 legendas em funcionamento.
Em suma, ela corta a verba pública, estrutura legislativa e espaço na propaganda de rádio e TV dos partidos que não tiverem um desempenho mínimo nas eleições.
Para 2022, esse piso era, em linhas gerais, a obtenção de ao menos 2% dos votos válidos nacionais para a Câmara dos Deputados ou a eleição de ao menos 11 deputados federais. Esse piso é elevado eleição a eleição.
Ao não conseguirem superar a cláusula, as siglas devem procurar alternativas para garantir a sua sobrevivência, como a fusão com outros partidos ou a incorporação a outras agremiações.
Esse é o caso de Patriota, que confirmou a Folha já ter discussões em andamento nesse sentido.
Em 2018, o partido também não atingiu a cláusula, mas conseguiu escapar da degola incorporando o nanico PRP.
Naquele ano, 14 siglas não ultrapassaram a barreira, que era de nove deputados federais eleitos em pelo menos nove estados ou 1,5% dos votos válidos em todo o país, com um mínimo de 1% em nove unidades da federação.
Além do Patriota, o Podemos e o PC do B incorporaram nanicos na ocasião para manter as verbas e o acesso à propaganda.
O deputado federal Fred Costa, um dos quatro parlamentares do Patriota, disse que na quinta-feira (6) o partido deve se reunir para decidir seu rumo, que "com certeza deve ser fusão ou incorporação, até porque temos experiência disso".
"Já estamos conversando a todo vapor e queremos fazer isso antes mesmo de iniciar a nova legislatura", acrescentou. Os novos deputados eleitos devem tomar posse em fevereiro do ano que vem.
O PTB é um dos mais tradicionais partidos da centro-direita, e tem na figura do ex-deputado Roberto Jefferson seu principal líder atualmente. Jefferson tentou concorrer à Presidência, mas a Justiça Eleitoral não permitiu devido à sua condenação no caso do mensalão. O partido conseguiu eleger apenas um deputado federal.
Procurado, o PTB não se manifestou até a publicação desta reportagem.
O Novo é um partido recente, tendo sido criado em 2015 e conseguido superar a cláusula três anos depois, em 2018. Formado e financiado em grande parte por empresários, o partido recusa o uso de verba pública.
A bancada do Novo na Câmara encolheu dos atuais 8 deputados para 3 a partir do ano que vem. Adriana Ventura (Novo-SP), Gilson Marques (Novo-SC) e Marcel van Hatten (Novo-RS) foram os representantes da legenda que tiveram êxito e foram reeleitos. Nas Assembleias, foram 5 eleitos contra 12 em 2018.
"Sabíamos que seria uma eleição difícil por causa da polarização, optamos por tentar construir uma alternativa e isso teve um preço, nosso resultado foi abaixo do esperado, como o de todos os partidos que não polarizaram", disse Eduardo Ribeiro, presidente do partido.
"O maior impacto da cláusula de barreira é o fim do acesso ao Fundo Partidário e Eleitoral, que sustenta os partidos. Como o Novo não usa nenhum dos dois e tem a sua própria forma de financiamento, via mensalidade de filiados, o funcionamento do partido continua o mesmo."
O Pros, que integra a coligação de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), disse que a turbulência que levou a uma disputa interna de poder na sigla às vésperas da eleição promoveu um esvaziamento da legenda. "Com isso, já era esperado o fraco desempenho eleitoral. Agora, a missão será eleger Lula para presidente e se alinhar com alguma legenda que esteja no campo democrático para dar sobrevida ao projeto."
Solidariedade e PSC não se manifestaram.
As eleições deste ano ofereceram aos partidos a oportunidade de se unir em federações como um caminho para conseguirem superar a cláusula de barreira. Três foram formadas: PT se uniu ao PV e ao PC do B, o PSDB se juntou ao Cidadania e a Rede, ao PSOL.
Isso permitiu que Cidadania, PC do B, PV e Rede mantivessem o acesso aos fundos eleitorais e partidários, o que não ocorreria se tivessem ido à disputa de forma isolada. PSOL, PT e PSDB escapariam da cláusula de barreira mesmo sem a federação.
O Avante quase não conseguiu ultrapassar o piso mínimo. O partido elegeu somente sete deputados federais neste ano e, por isso, precisou recorrer ao segundo critério definido na Constituição.
A sigla teve 2,05% dos votos válidos para deputado federal em todo o país, apenas 0,5 ponto percentual acima do piso. Além disso, teve mais de 1% dos votos nos estados em exatamente nove unidades da federação.
O resultado se deu em grande parte devido ao desempenho do deputado federal André Janones (MG), que se reelegeu para a Câmara dos Deputados com quase 240 mil votos.
Para 2026, a cláusula de barreira subirá para 2,5% dos votos válidos em todo o país, com um mínimo de 1,5% em pelo menos nove estados ou 13 deputados distribuídos por nove unidades da federação.
Rodrigo Garcia declara 'apoio incondicional' a Bolsonaro e Tarcísio
O governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), declarou seu apoio incondicional a Tarcísio de Freitas (Republicanos), em São Paulo, e a Jair Bolsonaro (PL) na corrida pela Presidência da República.
"Eu, como candidato a governador do partido, e pessoalmente, como governador de São Paulo, declaro meu apoio incondicional ao presidente Bolsonaro e ao Tarcísio", disse ele na tarde desta terça-feira (4), ao lado de Bolsonaro e Tarcísio, no aeroporto de Congonhas, na capital paulista.
Rodrigo afirmou ainda que o PSDB nacional decidirá, nesta terça, pela neutralidade no segundo turno, liberando seus filiados a apoiar Bolsonaro ou o ex-presidente Lula (PT). O governador disse ainda que comunicou sua decisão ao presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, e ao presidente do PSDB paulista, Marco Vinholi.
O apoio declarado dos tucanos paulistas a Tarcísio e Bolsonaro é um revés para as campanhas de Fernando Haddad (PT) e Lula, que também buscavam atrair a sigla nesta segunda etapa da disputa em que enfrentam os bolsonaristas. Tarcísio terminou com 42,32% contra 35,70% do petista.
Rodrigo terminou o primeiro turno da eleição em terceiro lugar, com 18,4% dos votos válidos, e não avançou para o segundo turno, numa derrota histórica para o PSDB em São Paulo.
"O PT nunca governou o nosso estado. Essa mesma avaliação eu faço para o Brasil. O que eu quero para São Paulo é o que eu quero para o Brasil. Declaro meu apoio pessoal e incondicional a Tarcísio de Freitas porque enxergo também nele, não só o bom trabalho para São Paulo, mas também para evitar que o Partido dos Trabalhadores ganhe as eleições aqui em São Paulo", completou Rodrigo.
Ao lado de Rodrigo, Bolsonaro afirmou que eles irão trabalhar juntos até o dia 30, data do segundo turno, e depois disso. Também exaltou a experiência de Rodrigo. O presidente afirmou que o governador "faz parte desse projeto com mais intensidade a partir de agora".
"Esse apoio do Rodrigo é muito bem-vindo, agradeço de coração a ele. Ele já tinha um amigo e agora vai ter um melhor amigo ainda, para propostas que ele queira sugerir ao governo", disse o presidente.
"Ele declarando que quer o bem do Brasil, o mesmo que eu digo para o lado de cá. É o bem da nossa pátria, é a nossa liberdade que está em jogo. Nós aqui temos uma política completamente diferente da do outro lado. Inclusive e obviamente nas questões espirituais", completou Bolsonaro.
Em seguida, ainda com Rodrigo ao seu lado, falou contra as drogas, o aborto e a ideologia de gênero. Voltou a afirmar que seu governo não teve corrupção, apesar das investigações em curso contra a sua família e no Ministério da Educação, por exemplo.
"A gestão PT onde esteve já se mostrou inadequada, uma prova é o que aconteceu na capital, em São Paulo, na gestão do Haddad como prefeito. Não é isso que a gente quer para o estado e não é isso que a gente quer para o Brasil", afirmou Tarcísio no encontro.
O coordenador da campanha de Haddad, deputado Emídio de Souza (PT), afirmou que se trata da "reedição do BolsoDoria que enganou milhões de paulistas em 2018".
"Mostra que o Rodrigo não é paulista raiz, ele é bolsonarista raiz", disse, diferenciando o governador do resto do PSDB. Ele também afirmou acreditar que se trata de uma medida por estratégia de sobrevivência política, e não mágoa por ataques.
"Eu acho que boa parte do eleitorado do Rodrigo não acompanha isso. Vamos dialogar com eleitorado dele, boa parte são pessoas honestas que têm apreço à democracia, eu acho que não vão acompanhar Bolsonaro na loucura dele, no negacionismo, na ameaça democrática", disse.
Ao comentar o apoio de Rodrigo mais cedo, Tarcísio afirmou, no entanto, que não fazia sentido ter o PSDB em seu palanque —o que gerou irritação entre os tucanos. Também declarou que o apoio do governador é mais importante para Bolsonaro.
"Eu preguei mudança o tempo todo, não faz sentido agora estar com eles [PSDB] no palanque. Agora, eles têm capilaridade, têm boas políticas que precisam ser preservadas. E entendo que eles podem ter um papel fundamental na eleição do presidente. Eu vou seguir na linha que eu me comprometi com o Estado de São Paulo, que é uma linha de mudança, preservando o bom legado", disse.
"Existe no PSDB uma adesão natural a uma linha anti-PT. Eu não imagino o PSDB apoiando o PT. E a nossa linha de realmente promover algo diferente. Vamos estar no palanque juntos? Não, provavelmente não. Agora vamos ter adesões do PSDB, porque faz sentido", afirmou Tarcísio durante a manhã, em evento no qual recebeu apoio do PP.
"O estado cansou da gestão PSDB, e a gente representa a novidade", completou.
Questionado sobre não querer o PSDB em seu palanque, justificou: "Não é isso. Nós vamos ter adesões que são naturais, vão vir naturalmente em função da nossa linha programática, que é a mesma linha de muitos dos integrantes do PSDB".
"A gente vem numa proposta de mudança e a gente tem que pontuar muito bem isso. [...] Existem abordagens diferentes [do PSDB] com relação ao serviço público, aos aposentados, à expansão do metrô, do trem intercidades. Essa mudança nós temos que fazer. Agora, vamos preservar o bom legado, do Bom Prato, das políticas sociais que chegam até a ponta da linha, a relação com as prefeituras, ou seja, nada vai ser descontinuado", disse ainda.
Na segunda-feira (3), a campanha de Haddad chegou a procurar interlocutores de Rodrigo, mas não teve contato direto com o governador.
Como mostrou a Folha, a eleição em São Paulo embaralha a busca de Lula por apoios na corrida presidencial, inclusive o do PSDB. A executiva nacional do PSDB, que se reúne nesta terça, tende a ficar em cima do muro e liberar os líderes para apoiar Lula ou Bolsonaro.
A sigla está dividida entre a bancada de deputados federais —que são mais próximos do bolsonarismo do que da esquerda— e os cabeças brancas, que preferem Lula. O ex-senador Aloysio Nunes (SP) já estava com o petista no primeiro turno, e o senador Tasso Jereissati (CE) declarou apoio nesta segunda.
O apoio do PP a Tarcísio, também consolidado nesta terça, já era esperado. O partido estava na coligação de Rodrigo em São Paulo, mas está na aliança nacional de Bolsonaro —por isso, a adesão a Tarcísio era natural.
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), que apoiou Rodrigo no primeiro turno, também vai declarar apoio a Tarcísio e Bolsonaro. Um dos articuladores da campanha de Tarcísio, Gilberto Kassab (PSD) está negociando o apoio do MDB.
Na entrevista desta terça, Tarcísio afirmou que espera o apoio do prefeito. "Tive uma conversa muito boa com ele", disse.
De acordo com aliados de Rodrigo, o governador viu vantagem em fechar uma aliança com Tarcísio na expectativa de que o PSDB mantenha parte dos cargos e das secretarias que ocupa hoje na estrutura governamental, incluindo o Sebrae. A manutenção do comando da Assembleia Legislativa também é um pleito dos tucanos.
Os tucanos levaram em conta que Tarcísio e sua coligação não teriam quadros suficientes e precisariam do apoio do PSDB para tocar o governo. Além disso, o movimento de apoio também busca blindar que tucanos sejam alvo de investigações ou retaliações promovidas pelo eventual governo Tarcísio.
Pesou ainda o fato de que Tarcísio é considerado favorito para o cargo num estado que sempre elegeu governos de direita. O bolsonarista terminou o primeiro turno em primeiro lugar e tem rejeição menor do que o adversário Haddad.
O PSDB em São Paulo também considera o PT um adversário histórico e, de acordo com interlocutores de Rodrigo, não havia sentido apoiar os petistas no segundo turno.
No interior, prefeitos ligados ao PSDB já iniciaram um embarque na campanha de Tarcísio, a exemplo do prefeito de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira (PSDB).
Rodrigo deixou a corrida eleitoral com mágoa dos adversários —os ataques de Haddad a ele contribuíram com a migração para Tarcísio. A campanha do PT preferia enfrentar Tarcísio no segundo turno, considerando que o bolsonarista seria menos competitivo e, por isso, centrou críticas em Rodrigo.
Haddad, por exemplo, questionou Rodrigo sobre o desconhecimento dos atos praticados pelo irmão Marco Aurélio Garcia, o Lelo, condenado por lavagem de dinheiro na chamada máfia do ISS.
De acordo com a coluna Mônica Bergamo, a condenação de Lelo gerou aversão da família de Rodrigo em relação a Haddad, já que o esquema foi investigado pela gestão do petista quando ele era prefeito da cidade de São Paulo.
A questão dos ataques a Rodrigo e a menor artilharia contra Tarcísio é uma crítica forte por parte da equipe de Lula à equipe de Haddad. Os lulistas cobravam ataques mais fortes em Tarcísio para fragilizar o palanque de Bolsonaro em São Paulo, onde o presidente acabou, por fim, tendo mais votos que Lula.
Emissários de Lula chegaram a propor que Haddad amenizasse as críticas a Rodrigo, na expectativa de que, com o gesto, o tucano viesse a apoiá-los em um segundo turno.
Bolsonaro fala em 'novo relacionamento' com Sergio Moro após receber apoio do ex-juiz
Após receber o apoio do senador eleito Sérgio Moro (União-PR) no segundo turno da eleição para o Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta terça-feira, 4, que o ex-juiz “mostrou o que é corrupção no Brasil” e que terá, a partir de agora, um “novo relacionamento” com seu ex-ministro da Justiça, que o acusou de interferir na Polícia Federal (PF) ao deixar o cargo em 2020.
“Apaga-se o passado, qualquer divergência que porventura tenha ocorrido. Sérgio Moro foi uma pessoa que, realmente, mostrou o que era corrupção no Brasil, levando dezenas de pessoas a condenações, e deu uma nova dinâmica, muita esperança ao Brasil naquele momento”, declarou Bolsonaro. “Então, o Moro vai continuar, no meu entender, como senador trabalhando também com viés desse lado, assim como (Deltan) Dallagnol que, publicamente, declarou apoio à minha reeleição”, disse o candidato, em referência ao ex-procurador da Lava Jato que se elegeu deputado federal pelo Paraná.
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil / ESTADÃO