Aliados querem Ciro Gomes como anti-Lula em 2026 após ‘bate cabeça’ de governadores da direita
Por Iander Porcella / O ESTADÃO DE SP
Aliados do ex-ministro Ciro Gomes o aconselharam a aproveitar o “bate cabeça” entre governadores para se lançar como o candidato anti-Lula ao Palácio do Planalto em 2026. A avaliação é de que os presidenciáveis da direita estão amarrados ao ex-presidente Jair Bolsonaro e não podem fazer movimentos concretos agora, enquanto Ciro teria o caminho livre para pavimentar a candidatura.
Até interlocutores de Ciro no PDT dizem que sua ida para o PSDB, dada como certa, facilita o caminho para a disputa da Presidência. Há uma visão de que os tucanos teriam mais facilidade para alianças com o Centrão. Procurado, Ciro não comentou
Entretanto, caso se lance ao Palácio do Planalto, Ciro deve evitar críticas a Bolsonaro. A ideia é concentrar a artilharia no presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tentar ocupar a vaga da direita no segundo turno. Aliados dizem que ele demorou a fazer isso em 2022 e, por isso, ficou de fora da polarização que marca a política brasileira.
Governadores pressionam Bolsonaro por um nome para 2026
Por Merval Pereira / O GLOBO
A reunião de hoje dos governadores de centro-direita com Bolsonaro é um bom sinal, porque devem levar o pleito para que ele decida o nome do candidato à presidência em 2026, para unificar o grupo.
Tarcísio de Freitas é o candidato natural e todos os outros já aceitaram não disputar contra ele. Mas se for uma escolha familiar, vai ficar difícil – acredito que a direita vai se dividir muito. Os governadores não estarão dispostos a renunciar à disputa em favor de Michele, Flavio ou Eduardo.
O máximo que poderia acontecer seria colocar um nome da família como vice, mas também atrapalharia um nome da família na chapa. Isto precisa ser discutido, porque em setembro no mais tardar Bolsonaro estará condenado - deve provavelmente ficar em prisão domiciliar por causa da idade e da doença – mas vai faltar um ano para a campanha e ele vai ter que se definir.
Se fizer como Lula em 2018, vai perder tempo, força e a eleição. Não tem justificativa esperar por uma pessoa inelegível. Bolsonaro precisa colocar a cabeça no lugar e ver que o tempo passou, nada vai acontecer que permita que seja candidato.
Acredito que esta reunião de hoje vai ser mais uma pressão para que ele, depois do julgamento, tome uma decisão. A situação da direita está difícil, porque Bolsonaro provavelmente não vai permitir que ela se una. Este é o problema.
Elo de Gilmar Mendes com a 'política do Ceará' gera suspeição sobre caso Júnior Mano, diz Cid Gomes
Em defesa do deputado federal Júnior Mano (PSB), aposta para o Senado em 2026, o senador Cid Gomes (PSB) alfinetou outros pretensos candidatos, questionou a validade do inquérito policial sobre desvio de emendas e levantou suspeitas sobre o ministro Gilmar Mendes. O magistrado é relator do caso que liga Mano ao esquema de desvio de recursos públicos no Supremo Tribunal Federal (STF).
Cid concedeu entrevista coletiva nesta quarta-feira (16) sobre o assunto, ocasião em que declarou não ver conexão direta entre o deputado e os crimes investigados e sugeriu o afastamento de Mendes do processo.
O ministro Gilmar, eu não sei, eu acho que ele tem sido é pressionado para ter alguma coisa. E acho até que em função de algumas ilações que são feitas, ele, a meu juízo, devia entregar o caso para outra pessoa.
Ele ainda afirmou que todos identificam “uma ligação do ministro Gilmar Mendes com a política do Ceará” e lembrou que o magistrado é casado com uma cearense, a advogada Guiomar Mendes. Ela é irmã de Chiquinha Feitosa, empresário e presidente estadual do Republicanos.
Ex-suplente de senador – ele assumiu cadeira na Casa Alta com uma licença de quatro meses de Tasso Jereissati (PSDB) –, Chiquinho também está de olho no Senado. O dirigente é primo de Rozário Ximenes (Republicanos), ex-prefeita de Canindé e autora da denúncia que ligou Mano ao esquema de emendas, em 2024.
“Dizem assim, (como) se familiares não tivessem relação política, mas têm. Não é razoável”, opinou Cid, mencionando “falibilidade” do aparato policial e conflito de interesses.
“Como tem em todo lugar – na igreja, no futebol, em qualquer lugar –, gente séria, gente direita, também tem gente desonesta. No judiciário também tem. Portanto, a gente não pode ir na polícia encarar isso como verdade absoluta”, completou.
O PontoPoder buscou o Supremo Tribunal Federal (STF) para pronunciamentos sobre as declarações de Cid Gomes relacionadas ao ministro Gilmar Mendes. Quando houver resposta, a matéria será atualizada.
Vaga do Senado em disputa
Para Cid, um fator que pesa nos supostos ataques políticos que Júnior Mano vem sofrendo é a sua influência nos municípios cearenses, visando as eleições de 2026. O deputado tem relação direta com 29 prefeitos, diz o aliado.
O senador reiterou diversas vezes, inclusive nesta quarta-feira, que o deputado é a sua aposta para a Casa Alta. “Pura leviandade”, define.
"Sabem quantos pretendem a vaga de senador no Ceará? Tem um que não – eu. Quantos outros pretendem? Será que enxergam no Júnior Mano um amigo, um aliado? Certamente não, enxergam nele um oponente, e tudo que puderem fazer, como insinuar e mentir, vão fazer", complementa.
Eu não quero aqui precipitar a discussão eleitoral. De maneira nenhuma, nunca fiz isso. Eu apenas tornei público porque me senti na obrigação de um compromisso meu com ele, e isso é simples. Se o PSB tiver um lugar, eu defenderei que seja ele na chapa majoritária. Simples assim, objetivo assim.
Júnior Mano agradece
Na noite desta quarta-feira, o deputado Júnior Mano usou as redes sociais para agradecer as declarações de Cid Gomes. "Um gesto que muito me honra, vindo de quem tem uma história de dedicação ao nosso estado. Tenho recebido também inúmeras mensagens de carinho que só reforçam minha determinação de trabalhar ainda mais pelo Ceará. Vou continuar de cabeça erguida, fazendo política com responsabilidade, seriedade e compromisso com quem mais precisa", disse.
Aliado de Ciro minimiza veto do PL e prega continuidade de união da oposição no Ceará
/ DIARIONORDESTE
Em meio à ressaca do último fim de semana, movimentos da oposição no Ceará seguem gerando repercussão nos bastidores. Depois do anúncio do deputado federal André Fernandes (PL) de que o Partido Liberal terá candidatura própria ao Governo do Estado e ao Senado em 2026, um aliado de Ciro Gomes e Roberto Cláudio saiu em defesa da unidade do grupo.
O deputado estadual Cláudio Pinho (PDT) afirmou, em conversa com esta coluna, que a oposição vai buscar “um entendimento” no momento oportuno, minimizando o tom de rompimento da declaração.
"Acho natural que o partido (PL) queira apresentar candidato, mas vamos discutir o melhor nome no momento próprio. A oposição sairá unida. Esse é o nosso sentimento", disse Pinho.
Fernandes descartou publicamente a aliança com Ciro e Roberto Cláudio no primeiro turno das eleições de 2026. A decisão do PL foi interpretada nos bastidores como um rompimento com a tentativa de aliança construída nos últimos meses e como sinal de que uma direita bolsonarista no Ceará quer liderar o bloco oposicionista sem concessões.
“Vamos colocar isso para o debate”
Cláudio Pinho, no entanto, tenta manter pontes e reforçar que o melhor nome precisa ser discutido coletivamente, com foco no projeto e não apenas em siglas.
"André quer que o partido (PL) cresça, colocou mais esse desejo, mas se o nome for melhor, temos que colocar isso para o debate. Acho que o Ciro é o melhor nome, atualmente".
A declaração demonstra disposição de setores ligados ao pedetista em seguir buscando uma composição, mesmo diante das declarações do parlamentar do PL.
Críticas à polarização: “Isso não interessa à população”
Pinho também fez críticas à polarização nacional entre Lula e Bolsonaro, principal ponto de atrito entre a base bolsonarista no Ceará e Ciro Gomes.
"A quem interessa essa briga? Não interessa à população. Só interessa a eles dois, não à população. Temos que ter um projeto para o Brasil e o Ceará. As pessoas têm fome, há problemas na segurança. E muito mais. Tem que superar isso".
Proposta de novo Código Eleitoral traz risco de retrocessos
EDITORIAL DA FOLHA DE SP
A Comissão de Constituição e Justiça do Senado adiou a votação do novo Código Eleitoral, texto aprovado pela Câmara dos Deputados em 2021 e que estava parado desde então. Talvez tenha sido melhor assim. Embora seja possível enxergar algum mérito na intenção de unificar todas as legislações eleitorais do país, a proposta padece de tantos males que seu saldo, inevitavelmente, seria negativo.
Há, de saída, um problema conceitual grave. Os congressistas não pretenderam, em nenhum momento, limitar-se a compilar as regras hoje existentes, eliminando possíveis contradições e incorporando teses pacificadas na doutrina e na jurisprudência. Não se trata, portanto, de simples unificação, como às vezes pode parecer. Parlamentares aproveitaram o ensejo para instituir normas novas, modificando, sem justificativa plausível, diversos aspectos do sistema eleitoral. Basta notar que o código em tramitação soma quase 900 artigos.
A princípio, nada há de errado em tentar sanar falhas e distorções pontuais. Mudanças no atacado, contudo, deveriam ser reservadas, quando muito, a instituições disfuncionais; não sendo esse o caso das leis que regulam a disputa política no Brasil, faria melhor o Congresso Nacional se buscasse avanços incrementais. Uma medida bem-vinda, por exemplo, seria a criação de uma quarentena para certos servidores públicos, como magistrados, membros dos Ministérios Públicos e agentes das forças de segurança. Em 2021, circulou uma proposta que visava impedi-los de disputar cargos eletivos antes de cinco anos de afastamento.
Nos debates parlamentares, entretanto, o período foi reduzido para dois anos e, agora, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) opõem-se inclusive a essa quarentena desidratada —barrando uma providência que amenizaria o risco de essas corporações se verem contaminadas pela lógica político-partidária.
E esse nem representa o maior desserviço dos bolsonaristas no debate. Como de praxe, eles querem usar o peso de sua bancada no Congresso para reavivar uma ideia fixa de Bolsonaro: a estapafúrdia tese do voto impresso. Mas não se imagine que os demais parlamentares não patrocinem retrocessos nesse novo código. Um dos mais acintosos é o dispositivo que mira pesquisas de intenção de voto —ainda que a censura defendida na Câmara tenha sido recusada no Senado, o que ficou no lugar tampouco se coaduna com democracias.
Outros dizem respeito a mecanismos de fiscalização das contas partidárias e eleitorais, que restariam debilitados diante do necessário monitoramento dos recursos públicos empregados no pleito. Não custa lembrar, o montante passa de R$ 6 bilhões. Pode-se imaginar, dessa forma, que o verdadeiro interesse dos congressistas não está no aperfeiçoamento do sistema, mas no seu enfraquecimento. Cabe à sociedade civil impedir que esse desatino avance nos termos atuais.