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‘Quando precisamos, Bolsonaro não veio. Agora não queremos mais’, diz aliado de Nunes

Por  e — Rio e Brasília / O GLOBO

 

 

Se no primeiro turno em São Paulo a participação de Jair Bolsonaro na campanha de Ricardo Nunes (MDB) fez falta, no segundo turno quem não quer o ex-presidente em seu palanque é o prefeito paulistano.

 

Nunes nunca vai declarar publicamente, mas em privado integrantes de sua equipe tem dito que, nesta etapa da disputa, a presença de Bolsonaro não só não ajuda como pode até prejudicar a tarefa de conquistar o voto do centro.

 

"O que pode atrapalhar o Nunes é o Bolsonaro querer fazer campanha agora. Se Bolsonaro entrar agora na campanha do Nunes, só vai atrapalhar. Quando a gente precisou dele, ele não foi. Agora não precisamos mais", disse ao blog o deputado federal Paulinho da Força (Solidariedade-SP). “Bolsonaro agora quer vir na janelinha? Janelinha não.”

 

Isso porque a tendência do eleitorado de direita já é votar em Nunes contra Guilherme Boulos (PSOL) automaticamente, como já declararam lideranças que apoiaram Pablo Marçal (PRTB) no primeiro turno. A última pesquisa da Quaest antes do primeiro turno indicava que 67% dos eleitores de Marçal votariam em Nunes em um eventual segundo turno contra Boulos.

 

Quem já declarou apoio no prefeito de São Paulo foi o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que no primeiro turno comparou Nunes a um “copo de veneno”.

 

Quem já declarou apoio no prefeito de São Paulo foi o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que no primeiro turno comparou Nunes a um “copo de veneno”. O diálogo com Bolsonaro tem se limitado a auxiliares e estrategistas. “O Nunes não vai mais falar de Bolsonaro. Só de Tarcísio (de Freitas)”, diz um desses estrategistas, que avalia que o empenho do governador a favor do prefeito foi fundamental para a chegada ao segundo turno.

 

Um dos temas que deve ser explorado será a experiência de Boulos como coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que provoca grande rejeição entre eleitores de centro-direita e direita. A linha adotada será associar o candidato do PSOL à “baderna” e à desordem urbana.

 

Já temas como anistia aos presos do 8 de janeiro, vacinação contra a Covid-19 e “ideologia de gênero” – que compuseram a pauta da guinada de Nunes à direita, na reta final do primeiro turno – devem ser abandonados, seguindo a lógica de distanciar o prefeito de Bolsonaro e da extrema direita.

 

Entre os aliados de Nunes, a conversa sobre Bolsonaro segue a mesma linha do pastor Silas Malafaia, que na terça-feira (8) chamou o ex-presidente de “covarde” e “omisso” por não ter se engajado na campanha do prefeito, com medo do movimento de apoio a Marçal nas redes sociais.

 

“Se estiver faltando dois dias para a eleição e Nunes com 15 pontos a mais do que Boulos, aí o Bolsonaro aparece. Se não, ele não vai aparecer. E aí já não vamos mais precisar dele”, diz um membro da cúpula da campanha do emedebista.

Lula de ouvidos fechados para as urnas

Por Vera Magalhães / o globo

 

Lula, até aqui, parece ter passado os últimos dias de olhos e ouvidos fechados para os recados que emergiram das urnas no último domingo. Passadas 48 horas, com vencedores colhendo os louros e vencidos lambendo as feridas, o presidente segue entoando o samba de uma nota só que tem marcado seu segundo e encruado ano do terceiro mandato.

 

Voltou a falar que os juros estão altos e a dizer esperar que baixem em breve, mesmo sabendo que isso não está no radar, justamente no dia da sabatina no Senado de Gabriel Galípolo, seu escolhido para presidir o Banco Central. Não causou nenhum ruído, a aprovação se deu com o pé nas costas — mas para quê? Deixa no ar a ideia de que a próxima gestão terá sobre si a sombra da pressão palaciana, o que não ajuda em nada a transição na autoridade monetária.

 

Na mesma fala, o presidente repetiu que ideias novas estão proibidas entre os ministros e que a hora é de colher sabe-se lá que frutos, uma vez que o que mais se vê por aí são pepinos, de queimadas a vício em bets. O governo ainda não chegou à metade. Condenar ideias novas tão prematuramente, ainda mais depois de os eleitores voltarem às seções de votação e chancelarem tão fortemente, de Sul a Norte, incluindo o emblemático Nordeste, políticos com ideário oposto ao de Lula, é desperdiçar a chance de perceber o que está errado e corrigir a rota. Para, aí quem sabe, colher frutos.

 

Se no primeiro ano houve com o que encher a cesta, do arcabouço fiscal à reforma tributária, passando pelos dissabores em série de Jair Bolsonaro et caterva, neste ano nem o bom desempenho da economia parece ser capitalizado pelo Executivo.

 

Para completar um cenário bem adverso, o ex-presidente tirou a cabeça da água e ajudou o PL a obter uma performance inédita em pleitos municipais, com dois eleitos e nove disputando segundo turno em capitais. O desempenho supera de longe o do PT, que não conseguiu nenhuma vitória em capitais e disputa a segunda fase em quatro delas em situação de tiro, porrada e bomba.

 

Ignorar a realidade política nunca foi boa medida para governos, e Lula, conhecido pelo pragmatismo com que construiu sua carreira única, sempre foi bom em dar a volta por cima de adversidades que pareciam definitivas, como sua prisão pela Lava-Jato. O fato de estar cercado de um time bem mais fraco e menos autônomo que em seus mandatos anteriores talvez tenha empenado um pouco essa sua propalada capacidade.

 

Temas que se impuseram no debate nas principais cidades do Brasil deveriam motivar o governo a espanar o velho e a buscar desesperadamente por ideias novas, que o fizessem se reconectar com uma parcela imensa do eleitorado, sob pena de ser derrotado daqui a dois anos.

 

O fenômeno Pablo Marçal, que por um triz não foi ao segundo turno em São Paulo, à parte toda a delinquência, evidenciou que existe uma classe empreendedora que não vê no PT, nem na confusa novela para regulamentar atividades como a dos entregadores e dos motoristas de aplicativo, qualquer relação com aquilo que almejam para suas vidas.

 

O partido que nasceu e chegou ao poder vocalizando anseios dos trabalhadores desistirá de falar com a nova classe trabalhadora só porque não consegue lhe enfiar goela abaixo uma CLT e uma sindicalização que ela despreza? Não seria menos arrogante e mais inteligente entender o que eles dizem em vez de considerá-los alienados e idiotizados?

 

O mesmo erro vem sendo cometido na última década com o cada vez maior e mais multifacetado eleitorado evangélico, que, de novo no pleito municipal, foi determinante para a eleição de candidatos bem distantes de Lula. Fechar os olhos e os ouvidos a recados que brilham em neon e rugem é sinal de perda de tirocínio político que pode ser fatal.

Pesquisa de ‘estratégia eleitoral’ por R$ 2 milhões pagos pelo governo entra na mira do TCU

Por Vinícius ValfréGustavo Côrtes e André Shalders / O ESTADÃO DE SP

 

BRASÍLIA – O governo federal pagou R$ 2,3 milhões para um grupo de pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) “investigar anúncios políticos nas redes sociais” e sistematizar impactos deles nas “estratégias das campanhas eleitorais de 2018 a 2024″. O ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Augusto Nardes, determinou, no último dia 27, a abertura de uma investigação preliminar, envio de informações e depoimentos de gestores envolvidos na celebração de convênio com o Ministério da Justiça, que banca a pesquisa.

 

Criado em 2013, o Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais (NetLab) se dedica a “diagnosticar o fenômeno da desinformação digital e suas consequências sociais no Brasil”. Nos últimos anos, tornou-se referência em levantamentos sobre desinformação disseminada por políticos e movimentos à direita no espectro político. A decisão do TCU foi tomada depois que a área técnica da Corte apontou “possibilidade de ocorrência de desvio de finalidade”. A dúvida é se o NetLab usou para estudos com verniz político e eleitoral a verba pública que recebeu para fazer pesquisas úteis à defesa de todos os consumidores brasileiros usuários de internet.

 

Procurados, o grupo de pesquisa e a pasta negaram desvio de finalidade e garantiram que levantamentos sobre política e eleições estão dentro do escopo dos acordos assinados (leia mais abaixo). A suspeita surgiu a partir de uma suposta discrepância entre o compromisso que o NetLab firmou com o governo para receber recursos do Ministério da Justiça e as atividades dos bolsistas financiados com a verba. O caso foi levado ao TCU por congressistas da oposição.

 

O convênio aprovado em agosto de 2023 foi pago com verbas do Fundo de Defesa de Direitos Difusos (FDD) e tinha como objetivo a pesquisa sobre “indústria da desinformação e seu impacto nas relações de consumo no Brasil”. O FDD é da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), do Ministério da Justiça, chefiada pelo ex-deputado Wadih Damous (PT).

 

A reportagem analisou os subcontratos firmados entre o NetLab e os bolsistas que receberam de R$ 1,2 mil a R$ 13 mil por mês – em média, R$ 5,5 mil. Todos têm uma lista de “atividades principais” e nenhuma delas têm, textualmente, relação direta com a defesa do consumidor. A maioria traz observações sobre política e eleições.

 

Das 33 bolsas que consumiram R$ 1,4 milhão da verba do Ministério da Justiça – o restante foi para compra de equipamentos e infraestrutura –, 29 foram para pesquisadores escalados para “investigar anúncios políticos nas redes sociais e seu impacto, sistematizando as estratégias das campanhas eleitorais de 2018 a 2024 no Facebook, Instagram, Twitter e Telegram” e para “analisar como as ferramentas de desinformação nas redes sociais são utilizadas para atacar parlamentares femininas e negras”.

 

A bancada do partido Novo na Câmara considera que o recurso que deveria estar sendo usado para pesquisas que protejam os consumidores estava sendo aplicado em estudos com finalidade política e eleitoral. O ministro Augusto Nardes determinou a continuidade da apuração com novas diligências e apresentação de explicações por parte de representantes da UFRJ e do Conselho Federal Gestor do Fundo de Defesa de Direitos Difusos.

 

NetLab aumentou receitas no governo Lula

De 2020 a 2022, as receitas do NetLab para financiar pesquisas somaram R$ 1,2 milhão. Com a mudança de governo, houve um salto na arrecadação. De janeiro de 2023 ao primeiro semestre deste ano foram R$ 8,3 milhões. Do montante, R$ 2 milhões saíram do Ministério da Justiça e outros R$ 300 mil foram repassados via Ministério das Mulheres.

 

A principal fonte de receita do grupo, no entanto, são entidades filantrópicas internacionais. Os outros R$ 6 milhões recebidos pelo NetLab no último ano e meio foram enviados por organizações como a Open Society Foundation, fundada pelo bilionário húngaro-americano George Soros, a OAK Foundation e a Ford Foundation.

 

Relatórios do NetLab se tornaram uma referência no estudo das redes de desinformação criadas e nutridas por grupos e políticos à direita. O grupo de pesquisa também se destacou na defesa do chamado PL das Fake News, que trata, entre outras coisas, de regulação das big techs. Os parlamentares do Novo miram o NetLab porque acusam o laboratório acadêmico de ativismo político com dinheiro público e alegam direcionamento nas pesquisas e nos compromissos que firmam com organismos internacionais para obter financiamentos.

 

Na documentação enviada à ONG Climate and Lan Use Alliance, por exemplo, o NetLab afirma que, de 2019 a 2022, o Brasil teve “um governo que impôs uma ameaça ambiental sem precedentes ao destruir políticas públicas de proteção”. E que a derrota apertada para Lula em 2022 “indica que ainda existem muitos eleitores e políticos que concordam com os valores” de Jair Bolsonaro.

 

Entretanto, uma parte da queixa dos integrantes se explica pelo fato de o NetLab apontá-los como criadores de informações falsas. A bancada diz que apenas está cumprindo o seu papel de escrutinar as instituições públicas.

 

Para que serviram os estudos contratados pelo governo?

Um levantamento do NetLab levou à Senacon, em novembro, a aplicar uma multa diária de R$ 150 mil à Meta, controladora do Facebook. Foram encontrados “serviços ilegítimos” relacionados ao Programa Desenrola Brasil, programa de renegociação de créditos lançado pelo governo. A empresa foi notificada, mas manteve os conteúdos irregulares no ar e por isso o governo aplicou a multa.

 

Na época, o secretário Wadih Damous considerou ser “inaceitável que os programas de governo continuem sendo desvirtuados em função da disseminação de notícias falsas”. Entre 26 de julho e 26 de setembro do ano passado, foram identificados “mais de 2 mil anúncios fraudulentos ativos, com conteúdos ilícitos” relacionados ao Desenrola Brasil.

 

O monitoramento do laboratório também detectou que imagens de políticos governistas e de oposição estavam sendo usadas para golpe envolvendo uma suposta indenização a ser paga pela Serasa. Os golpistas usavam Inteligência Artificial (IA) para as fraudes. Já no âmbito da parceria com o Ministério das Mulheres, o NetLab fez um levantamento que “identificou e classificou 1.565 anúncios publicitários dirigidos às mulheres como sendo problemáticos, irregulares ou ilegais/fraudulentos”.

 

Foram apontadas 550 páginas e perfis responsáveis por publicar anúncios categorizados como “tóxicos” pelo NetLab, pelo tipo de ameaça que representam às mulheres.

 

O caso Moraes x Musk

Em 24 de abril deste ano, o NetLab publicou um “estudo de caso” sobre a atuação de perfis com indícios de serem fakes na disputa entre Alexandre de Moraes e o bilionário americano Elon Musk, dono do X, no episódio que ficou conhecido como “Twitter Files”. Segundo o estudo, entre os defensores de Musk, 52% dos compartilhamentos foram feitos por perfis com “atividade inautêntica”, como robôs. Já na turma pró-Alexandre, 44% dos compartilhamentos foram assim. A avaliação foi feita usando um software chamado Gotcha, criado por Santini e outros pesquisadores a partir de outra ferramenta chamada “Botometer”.

 

Segundo o relatório do Netlab, a defesa de Musk era integrada por “figuras públicas estadunidenses alinhadas à pauta da ‘liberdade de expressão’ absoluta”, como o jornalista Glenn Greenwald, e os deputados federais Nikolas Ferreira (PL-MG) e Marcel Van Hattem (Novo-RS). Já os “perfis críticos a Musk” estariam apontando “as inconsistências e distorções reveladas na cobertura do ‘Twitter Files’”. No dia anterior, o laboratório havia publicado uma nota técnica sobre “a assimetria e a precariedade das condições oferecidas em plataformas como o X/Twitter para o acesso a dados essenciais para investigações científicas e jurídicas”.

 

Após o início do convênio com o Ministério da Justiça, o Netlab também fez defesa do PL 2630, que propõe a regulamentação das redes sociais e tem apoio do Palácio do Planalto.

Um relatório batizado de “A guerra das plataformas contra o PL 2630″, formulado pelos pesquisadores do grupo em abril, aponta que o Google e a Meta, dona do Instagram e do Facebook, teriam agido para impedir a aprovação do projeto no Congresso.

 

O estudo acusa as empresas de abuso de poder econômico e de burlar seus próprios termos de uso para promover conteúdos contrários à proposta em detrimento daqueles favoráveis. Diz ainda que as redes sociais manipulam o debate por medo de perder cifras bilionárias de publicidade digital.

O Ministério Público Federal chegou a cobrar explicações das redes sociais com base no levantamento do Netlab. As denúncias corroboram o discurso de Lula. Em julho, quando apresentou o 1º Plano Brasileiro de Inteligência Artificial, o petista afirmou que as big techs atuam no Brasil “sem pedir licença e pagar imposto” e enriquecem ao “divulgar coisas que não deveriam ser divulgadas”.

 

O que diz o NetLab sobre as atividades dos bolsistas

Em resposta enviada à reportagem, o NetLab afirmou que está equivocada a interpretação de que as atividades dos bolsistas não têm relação com os projetos para os quais foram contratados. Isso porque, diz o laboratório acadêmico, só acessa a dados sobre anúncios em plataformas digitais para os anúncios considerados políticos.

 

“Portanto, todas as atividades dos bolsistas consistem em analisar anúncios políticos, principalmente de forma retroativa, cujo volume aumenta consideravelmente em períodos eleitorais”, disse, em nota.

 

O que diz o Ministério da Justiça

Em nota, o Ministério da Justiça informou que o convênio com o NetLab contempla, sim, pesquisas sobre “anúncios políticos”, estratégias de campanhas eleitorais” e “ferramentas usadas para atacar parlamentares negras”. Assim como argumentou o laboratório da UFRJ, a pasta pontuou que os anúncios de interesse dos estudos são rotulados, pelas plataformas, como “políticos”. Por isso, inevitavelmente, são objeto das pesquisas delimitadas no convênio.

 

Com relação ao escopo das “estratégias eleitorais”, o ministério respondeu desta forma: “Neste sentido, o repasse do FDD ao NetLab UFRJ contempla também pesquisas sobre anúncios eleitorais, uma vez que são, em geral, rotulados como políticos. Isso significa que os dados sobre estes anúncios estão disponíveis para análise e pesquisa”.

 

O ministério destacou, ainda, que as pesquisas sobre ataques a parlamentares negras também estavam dentro do escopo do convênio porque “as mulheres são as principais vítimas de campanhas geradas por IA e ferramentas de modelos generativos”.

 

O que diz o Ministério da Mulher

O Ministério das Mulheres informou que “a pesquisa está sendo conduzida dentro dos objetivos do projeto” e que as “entregas estão acontecendo dentro dos prazos e metas estabelecidos”.

 

“O NetLab/UFRJ é um laboratório de pesquisa respeitado nacional e internacionalmente, com publicações científicas em periódicos acadêmicos prestigiados cujos resultados e métodos são referendados pela comunidade acadêmica nacional e internacional. Esse fato justifica o uso das suas pesquisas como referência para o avanço do debate sobre regulação das plataformas digitais e combate à desinformação no Brasil”, frisou.

PT atribui melhor resultado para centro-direita nas eleições a distribuição de ‘emendas bilionárias’

Por Vera Rosa / O ESTADÃO DE SP

 

BRASÍLIA – A cúpula do PT atribui o melhor resultado de partidos de centro-direita e direita no primeiro turno das eleições municipais a uma “distorção do sistema político”, com a distribuição de “emendas parlamentares bilionárias”. Em reunião da Executiva Nacional, dirigentes petistas admitiram “eventuais equívocos” na tática eleitoral, mas destacaram que a avaliação precisa levar em conta a “perseguição” contra o PT e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

 

“O resultado do primeiro turno de 2024 aponta o início da recuperação eleitoral do PT nos municípios, num cenário que mais uma vez favoreceu a eleição ou reeleição de candidatos das legendas da centro-direita e direita dominantes no Congresso Nacional, com acesso a emendas parlamentares bilionárias e no comando das máquinas públicas municipais”, diz trecho da nota da Executiva, aprovada nesta terça-feira, 8. “O alto índice de reeleições, que beira os 80% nas cidades que mais receberam emendas parlamentares, confirma essa distorção no sistema político”.

 

Como mostrou o Estadão, o PT decidiu se engajar, neste segundo turno, nas campanhas de outros partidos “contra candidatos da extrema direita, sem vacilações”. A condição exigida é que o nome a ser apoiado não integre a lista de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro. O Centrão, que sai fortalecido das urnas, faz parte da base de sustentação do governo Lula no Congresso.

O documento aprovado também destaca que, “mesmo enfrentando tamanho desequilíbrio”, o PT passou de 183 para 248 prefeitos e vai disputar o segundo turno em 13 cidades, sendo quatro capitais: Fortaleza, Porto Alegre, Cuiabá e Natal. Em São Paulo, o candidato do PSOL, Guilherme Boulos, tem o apoio do PT, com Marta Suplicy como vice da chapa.

 

Na prática, o balanço feito pela cúpula do partido é positivo, embora dirigentes da chamada esquerda petista tenham observado que era preciso “reconhecer a derrota” sofrida no primeiro turno. O PT amargou reveses importantes na região Nordeste – antigo “cinturão vermelho”; no ABC, berço do partido, e em cidades estratégicas de São Paulo, como Araraquara.

 

Nas eleições de 2020, a sigla conquistou 183 prefeituras, mas, após trocas partidárias, chegou a 265, como consta de documento produzido no mês passado pelo Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE). O número de vereadores passou de 2.668 para 3.118 em chapas compartilhadas com o PV e o PCdoB na federação.

 

Partidos do Centrão garantiram a hegemonia nas cidades campeãs de emendas parlamentares ao Orçamento, como antecipou o Estadão. Além disso, ministros desse grupo político também conseguiram emplacar aliados em prefeituras. O Piauí foi um dos Estados mais representados no ranking das 50 cidades que mais receberam emendas. Governado pelo PT desde 2015, o Estado também é território do senador Ciro Nogueira, presidente do PP e ex-ministro da Casa Civil na gestão de Jair Bolsonaro. O PT perdeu a eleição em Teresina, capital do Piauí.

 

No diagnóstico traçado pela Executiva petista, a extrema direita representada por Bolsonaro só cresceu após “a farsa da Lava Jato” e “o golpe contra a presidenta Dilma” (Rousseff). A nota que passou pelo crivo da cúpula do PT diz que esse período histórico “abriu as portas para a extrema direita aliada ao neoliberalismo mais selvagem, que seguem ameaçando o país e o sistema democrático”.

PSB e Republicanos crescem ao menos 6 vezes o número de prefeituras no Ceará; PDT cai de 67 para 5

Escrito por Igor Cavalcante / DIARIONORDESTE

 

Sob liderança do senador Cid Gomes e do ex-senador Chiquinho Feitosa, o PSB e o Republicanos, respectivamente, foram os dois partidos que mais expandiram seus domínios no Ceará, proporcionalmente. As duas siglas ampliaram em pelo menos seis vezes a quantidade de prefeitos eleitos entre 2020 e a eleição deste ano. O PSB, que elegeu oito nomes em 2020, chegou a 65 neste ano. Já o Republicanos, com dois prefeitos há quatro anos, agora tem 14.

Por outro lado, o PDT, sob influência de lideranças como o ex-prefeito Roberto Cláudio, o ex-ministro Ciro Gomes e o deputado federal André Figueiredo, despencou de 67 mandatários eleitos há quatros anos para cinco vitoriosos neste ano.

Considerando o número total de prefeitos eleitos, o PT é outra sigla que conseguiu ampliar significativamente sua força entre os cearenses. Em 2020, foram 18 mandatários eleitos. Neste ano, 46. A legenda ainda pode ampliar esse número, já que, em Fortaleza, Evandro Leitão (PT) disputa o segundo turno contra André Fernandes (PL); e, em Caucaia, Waldemir Catanho (PT) tem como adversário Naumi Amorim (PSD). 

Na lista de partidos que cresceram entre as duas eleições aparecem ainda o Podemos, que foi de uma prefeitura para duas, e o PP, que passou de 10 para 13. O PTB, o DEM e o Pros elegeram mandatários na eleição anterior, mas são siglas que se fundiram para a criação do União Brasil e do PRD.

Troca partidária

O desempenho vitorioso do PSB e a desidratação do PDT tem relação direta. Os pedetistas obtiveram um resultado histórico em 2020 sob articulação comandada pelo senador Cid Gomes. Dois anos depois daquele pleito, no entanto, a legenda mergulhou em uma crise que rachou o partido: de um lado, ficaram aliados do senador, incluindo deputados estaduais e federais, além de prefeitos; de outro, ficaram lideranças do PDT Fortaleza e da Executiva Nacional, como Roberto Cláudio, Ciro Gomes e André Figueiredo.

A tensão só arrefeceu quando Cid resolveu deixar os quadros pedetistas — rompido inclusive com o irmão, Ciro — e se filiar ao PSB. Seguiram os passos do parlamentar, em fevereiro deste ano, 40 prefeitos com mandato, se desfiliando do PDT e se juntando aos quadros do PSB. Por conta dessa migração, algumas semanas antes da eleição deste ano, o PSB já contabilizava 67 prefeituras.

Nessa segunda-feira (7), um dia após o resultado do primeiro turno, Cid comemorou o desempenho do seu partido na eleição. Ele também comentou sobre a derrota histórica em Sobral, seu berço político, onde ele próprio, familiares ou aliados governavam há quase 30 anos. No pleito deste ano, a ex-governadora Izolda Cela (PSB) foi derrotada pelo deputado estadual Oscar Rodrigues (União).

“Quero expressar minha imensa gratidão ao povo cearense, que confiou no projeto do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e elegeu 65 prefeitos e prefeitas do nosso partido e 56 vice-prefeitos e vice-prefeitas entre os 184 municípios do Estado. E meu agradecimento especial aos conterrâneos e amigos da minha terra amada, Sobral. Digo sempre e não custa reforçar que serei eternamente devedor do povo de Sobral. Muito obrigado a todos os cearenses”, disse.

O Republicanos também passou por transformações entre 2020 e este ano. O ex-senador Chiquinho Feitosa passou a somar força nas articulações no Interior. O partido, que elegeu dois prefeitos em 2020, chegou a três em meados deste ano. Com todas as urnas apuradas no Ceará, a legenda tem agora 14 prefeituras no Estado.

Outro partido que se beneficiou com a crise do PDT nos últimos anos foi o PT. Em 2020, a legenda elegeu 18 prefeitos, mas esse número foi ampliado ainda em 2022, com a onda petista que garantiu a vitória do presidente Lula (PT), do ministro Camilo Santana (PT) para o Senado, além da reeleição de José Guimarães (PT), líder do Governo, para a Câmara dos Deputados.

Em meados deste ano, a agremiação já tinha 43 prefeitos. Após o primeiro turno das eleições, o PT contabiliza 46 prefeituras no Ceará.

Perda de influência

Na outra ponta da lista, além do PDT, que saiu de 67 prefeitos para cinco, há outros partidos que perderam influência no Estado. 

Outro caso simbólico é o PL. Em 2020, sob influência do prefeito do Eusébio, Acilon Gonçalves, foram 13 gestores municipais eleitos. Contudo, com a filiação nacional do ex-presidente Jair Bolsonaro à sigla, Acilon perdeu influência e, atualmente, o PL Ceará é dominado por bolsonaristas fiéis. Neste ano, a agremiação não contabilizou a vitória de nenhum de seus candidatos majoritários — e agora aguarda a definição da disputa em Fortaleza, com André Fernandes.

O PSD, liderado pelo ex-governador Domingos Filho, é um desses casos. O partido elegeu 18 mandatários do Executivo em 2020, mas agora conseguiu vitória com 15. O MDB, do deputado federal Eunício Oliveira, tinha 17 municípios em 2020. Agora, reduziu para nove.

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