Lula parou de cair, mas não melhorou, diz pesquisa Quaest
Por Merval Pereira / O GLOBO
A pesquisa Quaest divulgada hoje mostra que o presidente Lula parou de cair, mas não melhorou. Passado um mês da crise com os EUA, ele não ganhou popularidade - ganhou no início, mas agora parou. É um sinal de que este assunto não vai render muito daqui pra frente – é um resultado não muito positivo para ele. Tudo indicava que o aumento da crise e das agressões, depois da condenação de Bolsonaro poderia elevar o atrito político, o que seria favorável a Lula, mas não foi.
Pode ser que venha a ser mais adiante, se Donald Trump aumentar as sanções contra o Brasil. Mas Lula está confortável, vai ter que se preparar para enfrentar um candidato da direita, que deve ser o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
Bolsonaro já está entendendo que não poderá arrastar esta decisão por muito tempo. Até o final do ano será condenado, está com a saúde deteriorada – o filho Carlos disse hoje que está sendo examinado por um possível câncer. Acredito que a política abre o ano que vem com a candidatura de Tarcísio e vamos ver se Lula estará disposto a enfrentar mais uma campanha, contra um candidato forte.
Genial/Quaest: governo Lula é reprovado por 51% dos brasileiros, e aprovado por 46%
Por Luis Felipe Azevedo e Rafaela Gama — Rio de Janeiro / O GLOBO
A rodada de setembro da pesquisa Genial/Quaest sobre a avaliação do governo Lula mostra estabilidade em relação ao levantamento anterior. Assim como em agosto, a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é desaprovada por 51% dos brasileiros e aprovada por 46%. O resultado, após um cenário de recuperação detectado desde julho, indica que a percepção da queda na inflação dos alimentos, verificada como decisiva na sondagem passada, não se repetiu.
O governo Lula é avaliado como negativo por 38% da população (eram 39% em agosto), como positivo por 31% (eram 31%), e como regular por 28% (eram 27%). A estabilidade — registrada em todas as regiões brasileiras e recortes sociodemográficos, como gênero, idade, escolaridade e religião — é um sinal de que o ciclo de recuperação da popularidade de Lula, iniciado com a resposta ao tarifaço, foi "interrompida" neste mês.
"Como em toda pesquisa que apresenta estabilidade, o governo tem motivos para comemorar e para se preocupar", disse ao comentar sobre os resultados do levantamento no X. Entre os pontos descritos por ele como motivo de celebração para a gestão Lula, aparecem dados que mostram que os principais programas sociais do governo continuam conhecidos e aprovados pela maioria dos brasileiros. Minha Casa, Minha Vida (89%) encabeça a lista, seguido por Farmácia Popular (88%) e Bolsa Família (80%).
O levantamento aponta, no entanto, que, desde março, aumentou de 51% para 65% o percentual dos que consideram esses programas direitos que não podem ser retirados. "Os programas parecem ter perdido efeito político, uma vez que mais brasileiros acreditam que eles passaram a ser direitos e não benesses que exigem gratidão política", explicou Nunes.
A pesquisa também mostra que, para a metade da população (50%), o governo Lula está pior do que o esperado (eram 45%), enquanto 27% afirmam que está igual (eram 36%) e 21% melhor (eram 15%). Para 58% dos brasileiros, o país está caminhando na direção errada (eram 57%), contra 36% que avaliam o contrário, e 6% não sabem ou não responderam.
Os pesquisadores realizaram 2.004 entrevistas presenciais com brasileiros com 16 anos ou mais entre os dias 12 e 14 de setembro. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, e o nível de confiança é de 95%.
Tarifaço
A Quaest destaca também que o tarifaço dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros é reprovado pela maioria dos brasileiros, mas não influenciou o resultado da avaliação do governo. Para 73% (eram 71%), o presidente Donald Trump está errado ao impor as tarifas, enquanto 20% (eram 21%) entendem que ele está certo, e 7% não sabem ou não responderam. De acordo com a pesquisa, a variação mensal foi mais acentuada entre os que não têm posicionamento político (de 80% para 85%) e na direita não-bolsonarista (de 48% para 53%).
“Embora a maioria continue avaliando negativamente o tarifaço – o que ajuda o presidente Lula no debate – esse efeito foi neutralizado por outros temas domésticos e não gerou ganho extra nas pesquisas. O efeito do tarifaço no Brasil tem semelhança com o que aconteceu no México, onde a alta das tarifas impulsionou a popularidade da presidente Claudia Sheinbaum, que subiu 4 pontos percentuais e voltou ao mesmo patamar dois meses depois”, avaliou Nunes.
Aproximadamente três quartos dos brasileiros (74%) entendem que a maior taxação de produtos nacionais vai prejudicar sua vida (eram 77%). Já 23% afirmam o contrário (eram 20%), e 3% não sabem ou não responderam.
Para 49% dos brasileiros, Lula e o PT estão na ala que atua de forma mais correta no embate (eram 48%). Por outro lado, 27% defendem que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliados estão agindo melhor (eram 28%). Já 15% responderam nenhum, e 9% não sabem ou não responderam.
Percepção sobre o julgamento de Bolsonaro
O levantamento também mostra que, após a realização do julgamento contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, 55% dos brasileiros afirmam que houve uma tentativa de golpe no país (eram 50% em agosto). Já 38% entendem o contrário, valor estável em relação ao levantamento anterior, e 7% não sabem ou não responderam (eram 12%).
Os dados também mostram que 54% da população avalia que Bolsonaro participou do plano golpista (eram 52%), enquanto 34% entendem que não (eram 36%) e 10% não sabem ou não responderam. Na análise de Nunes, os números indicam que o julgamento "acabou trazendo mais problemas do que soluções para o ex-presidente, mas "beneficiou a imagem do STF e do ministro Alexandre de Moraes.
Agora, a maioria (52%) da população é contra o impeachment do magistrado (eram 43% em agosto). Já os favoráveis à medida são 36% na pesquisa atual, contra 46% no mês passado. A maior variação ocorreu entre os que dizem não ter posicionamento político: os que são contra o impeachment passaram de 44% para 56% e os que se posicionam a favor recuaram de 40% para 27%.
"Ao fim e ao cabo, a pesquisa cobra preço dos dois lados: Lula vê sua recuperação interrompida e Bolsonaro enfrenta maior rejeição sobre o seu caso na opinião pública. No fim, o único a sair fortalecido é o ministro Alexandre de Moraes", concluiu Nunes.
Janja diz que já quis 'pegar a bolsa e as cachorras' para ir embora de Brasília
Mônica Bergamo é jornalista e colunista / FOLHA DE SP
A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, recebeu a coluna no Palácio da Alvorada, em Brasília, no fim do mês passado.
Era para ser uma conversa, mas virou uma entrevista. Nela, Janja revelou que, sob intensas críticas, já sentiu vontade de largar tudo para trás e voltar para sua casa, em São Paulo.
"Eu acho que isso deve ter acontecido com muitas primeiras-damas [no passado]. Muitas. E muitas também se fecharam por conta disso", disse ela, com lágrimas nos olhos.
Mas o momento passou. Janja segue em Brasília. E afirma que, ao contrário do que parece (e dizem), não mudou enfim de postura para se enquadrar ao cargo. "Não vou entrar na caixinha", diz. "Mas eu não posso sair cantando em um evento, como podia na campanha", admite.
A primeira-dama diz que ainda não sabe como vai se engajar na campanha de 2026, mesmo porque o marido ainda não decidiu se vai concorrer à reeleição.
Questionada sobre como vai lidar com a presença de outra mulher, Michelle Bolsonaro, que deve ter papel central nas eleições e já chamou Lula de pinguço, respondeu: "Eu não vou deixar ninguém atacar ele, seja homem ou seja mulher. Eu espero que ela tenha ética para saber o papel que ela tem".
Em maio, Janja foi indicada para ser a enviada especial para as mulheres na COP30, e está viajando pelo Brasil para colher depoimentos.
COP30
Qual será o seu papel na COP 30?
Estou caminhando pelo Brasil com a enviada especial para a Igualdade Racial, [a médica e diretora da Anistia Internacional Brasil] Jurema Werneck, e a enviada para Direitos Humanos, a [advogada] Denise Dora.
Nós somos as 'bagrinhas', as pobrinhas de um grupo que tem 30 enviados, a maioria deles com [atuação em] institutos, fundações, com uma inserção já solidificada em alguns temas. E resolvemos nos juntar.
Começamos por Manaus, na Amazônia. Foi uma experiência muito especial estar com aquelas mulheres e com grandes lideranças da floresta, que nos falaram de suas perspectivas e sonhos, e das dificuldades que as mudanças climáticas estão trazendo para a vida delas.
A gente vai tentar fazer essa conexão entre os anseios de uma pescadora da comunidade São Francisco, em Manaus, e os grandes líderes. Assim como as guerras, são mudanças que impactam mais fortemente a vida de mulheres e meninas.
Eu espero que ela [Michelle Bolsonaro] tenha ética para saber o papel que ela tem. Eu espero que não se repita o que ela fez [chamar Lula de pinguço]. Porque para nós, mulheres, o comportamento dela é muito ruim
Mas que soluções a COP pode trazer para essas pessoas?
Vamos lançar a carta dos biomas para a COP 30. Obviamente, eu tenho um lugar privilegiado. E vou ter o prazer de entregá-la para cada um dos líderes. Assim como fiz no G-20: entreguei pessoalmente a cada um dos líderes da sala as resoluções do GT [Grupo de Trabalho] de empoderamento das mulheres.
As pessoas me perguntam o que eu tô fazendo sentada lá [em reuniões de organismos internacionais]. Quando eu posso, eu faço isso, entendeu? Na mesa de líderes dos Brics, não tinha nenhuma mulher. No plenário, éramos eu e mais duas ou três. Aí eu falei para o meu marido [Lula]: "Não é possível um negócio desses". E ele faz aquela fala, "precisamos trazer mais mulheres para a mesa de negociação".
O presidente Donald Trump vem afinal para a COP?
O meu marido falou que vai convidá-lo, né? Vamos ver. Ele está convidado, assim como todos os líderes mundiais.
A gente sabe de todas as dificuldades de [o evento ser em] Belém. Mas o presidente queria muito que fosse na Amazônia porque é o lugar mais falado, mais discutido.
Nós queremos sair das grandes tendas brancas e climatizadas em que até a água vem de fora. Nem que tenhamos que nos reunir embaixo de uma árvore.
Eu fiquei muito espantada com isso: na COP do Egito [em 2022], a água vinha da Itália. Falei "você faz uma COP por mudanças climáticas e emite carbono para trazer a água para o lugar em que isso está sendo discutido?".
MICHELLE BOLSONARO
No próximo ano, teremos uma campanha presidencial. E uma figura feminina, Michelle Bolsonaro, será central nos debates, qualquer que seja o cargo que ela dispute. Ela já chamou o presidente Lula de pinguço, e é muito difícil para um político homem, como Lula, rebater uma mulher na mesma moeda.
Sinceramente, eu não estou preocupada com a figura dela, tá? Eu já disse que falo [as coisas] sem precisar xingar o marido de ninguém. Eu jamais faria isso.
Mas, na campanha, se houver ataques, você vai responder a ela?
Qualquer você pessoa que ataque o meu marido, eu me sinto no direito de protegê-lo. Ele não precisa de proteção. Mas eu me sinto no direito. Eu não vou deixar ninguém atacar ele, seja homem ou seja mulher.
Dependendo do nível de ataque, é óbvio que eu vou me colocar.
Eu espero que ela tenha ética para saber o papel que ela tem. Eu espero que não se repita o que ela fez. Porque para nós, mulheres, o comportamento dela é muito ruim. Não é sobre ela. É sobre as mulheres.
Já somos muito atacadas. Já temos dificuldade de alcançar lugares de decisão e poder. E quando a gente alcança, precisa ter muita responsabilidade no que faz e fala. E aquele comportamento dela não é o que a maioria das mulheres espera.
Qual será o seu papel na campanha de 2026?
A minha disposição, desde o começo do governo, foi a de conversar com as mulheres. É uma pauta fundamental para mim. Tenho feito isso ao longo desses dois anos e meio de governo. E vou continuar fazendo. As mulheres querem conversar.
Eu tenho conversado com grupos de mulheres evangélicas, por exemplo. Neles, a gente não fala sobre religião, porque não é sobre isso. A minha preocupação é entender como elas olham para nós e como as políticas públicas do governo impactam, ou não impactam, a vida delas.
Você encontra resistência ao governo nesses grupos?
Nada, nenhuma. Pelo contrário. E a gente tem conversado com diferentes segmentos dos evangélicos.
Não são reuniões enormes, porque eu não vou para falar. Eu vou para escutar. Por isso priorizamos fazer reuniões menores.
O pastor [Silas] Malafaia diz que dá risada das minhas reuniões porque as mulheres evangélicas com quem eu estou conversando não têm importância.
Cada mulher tem importância. Não importa se é uma, se são duas ou se são mil. É típico de um homem falar isso.
Eu vou seguir nessa linha. Até que digam pra eu não fazer —o que não vai acontecer—, eu vou seguir conversando, priorizando o diálogo com as mulheres.
Esse vai ser o seu engajamento na campanha presidencial?
Eu acho que sim. Como eu fiz em 2022 [quando Lula disputou e venceu as eleições presidenciais], em que eu trouxe a questão das mulheres para a campanha.
Mas ainda não pensei direito. Até porque o presidente não bateu o martelo de que vai se candidatar à reeleição.
LULA EM 2026
Ele vive falando que vai se candidatar, desde que esteja bem de saúde. Ele está bem?
Ele fala que [vai se candidatar] se estiver forte. E forte ele está [ri]. Você viu o vídeo da semana passada [mostrando o presidente fazendo exercícios]?
Nesses dias fui na academia treinar na cadeira flexora e falei "meu Deus, olha o tanto de peso que tá nisso [nos aparelhos em que Lula tinha treinado]". Ele tinha feito academia de manhã.
Então, assim, ele é muito forte, graças a Deus. Ele foca muito. Nesta semana, ele treinou desde sábado até ontem [quinta]. Hoje ele não treinou porque foi viajar. A decisão de ser ou não candidato será dele. Mas ele está forte [risos].
Eu vou estar do lado dele, não importa a decisão que tome. Desde que estamos juntos, eu sempre respeitei a vida política dele.
É claro que eu sinto falta de um pouco de privacidade e de aconchego, de a gente viajar, essas coisas de casal comum. Eu já disse: a gente tem uma urgência que os casais jovens não têm. No final de semana, ficamos sozinhos, ali na piscina, vamos para [a Granja do] Torto e tal.
O pastor [Silas] Malafaia diz que dá risada das minhas reuniões porque as mulheres evangélicas com quem eu estou conversando não têm importância. Cada mulher tem importância. É típico de um homem falar isso
As pessoas te culpam muitas vezes por afastá-lo delas. Mas é ele que quer?
É claro, porque a gente tem essa urgência. É uma decisão dele. Eu nunca, em momento algum, falei pra ele: "Ah, você não vai fazer reunião neste sábado". Se ele quiser fazer reunião no sábado e no domingo, ele faz. Domingo sempre tem encontros aqui [no Palácio da Alvorada]. Quando ele precisa, chama os ministros para cá. É sempre uma decisão dele.
Eu fui sempre clara com ele: "Vou respeitar todas as suas decisões porque eu que me inseri na sua vida, e não o contrário".
Ele tem uma caminhada importante para o Brasil e para o mundo, então eu tenho que respeitar e entender isso.
CRISE COM OS EUA
Lula dava a impressão às vezes de estar desanimado no governo, fazendo mais do mesmo nesse terceiro mandato. A crise com os EUA deu novo ânimo ao presidente?
Você pergunta se colocou um pouco de pressão? De vigor no discurso? Pode ser.
Sabe o que foi aflitivo desde o primeiro dia de governo? Perceber que a gente ia ter que reconstruir o que a gente tinha construído, nos dois mandatos anteriores dele e nos da Dilma.
As coisas estavam meio "terra arrasada". Isso foi pouco falado. A gente passou dois anos fazendo isso mesmo, reconstruindo o ministério, as políticas públicas.
E não é tão prazeroso fazer isso. Você acha que ele queria estar inaugurando [obras do] Minha Casa Minha Vida paradas há dez anos? É óbvio que não. Ele queria lançar outras coisas.
E o embate com os EUA trouxe esse novo vigor?
Eu acho que sim. Ele gosta de fazer o bom combate. Embora não seja um bom combate do lado de lá, ele faz o bom combate aqui.
Nisso, o apoio do vice-presidente [Geraldo Alckmin] tem sido muito importante, o apoio do ministro Fernando Haddad, da Fazenda, também. Eles estão sendo fundamentais. É um tripé importante que se consolidou.
O tom do discurso está correto, o tom da soberania, que era algo de que não falávamos muito.
Muitas coisas que construímos no Brasil foram vendidas nos últimos dez anos [com privatizações]. Inclusive o pré-sal. Coisas que poderiam tirar o Brasil desse processo de estar sempre buscando o desenvolvimento.
A gente precisa dar um salto para realmente ser um país desenvolvido. A desigualdade ainda é muito forte, por isso há um empenho na questão das tarifas e da justiça tributária. Tudo com o objetivo de levar o país a sair do patamar de sempre, do vir a ser. A gente quer ser.
FORA DA CAIXA
Dois anos e meio depois da posse, parece que você está hoje mais recolhida do que no começo do governo.
Recolhida? Não. Eu tenho trabalhado muito, andado muito e viajado muito. Tenho feito muitas reuniões.
Talvez eu tenha saído um pouco do foco [das outras pessoas]. Talvez, finalmente...Eu acho que as pessoas tiraram um pouco desse foco ruim para colocar um pouco de luz boa no que a gente faz.
Você acredita então que isso aconteceu porque saiu do foco, e não por uma mudança de postura?
É. O trabalho que estou fazendo aqui [no governo] não é meu. Apesar de não ter cargo no governo, eu faço um trabalho conjunto. Anteontem, por exemplo, o presidente me pediu para fazer uma reunião com representantes da sociedade civil sobre temas relacionados aos autistas.
Foi um encontro com diversos órgãos do governo, do INSS ao Ministério do Esporte, para dar uma devolutiva à sociedade civil.
Então tem coisas que não aparecem, mas é um trabalho que eu faço, em parceria com ministros que entendem o meu papel de articuladora. Tanto que a plaquinha do meu gabinete continua lá, "Articulação de Políticas Públicas".
É uma coisa que eu fiz a vida inteira, não é algo que eu inventei da minha cabeça. Não. É uma coisa que eu sei fazer. Por isso eu nunca quis um programa fechado para mim.
Não é que eu não caibo em uma caixinha. É que o mundo talvez seja grande demais para uma caixinha. Não é sobre mim. É sobre qualquer mulher. A necessidade que os homens têm de colocar a gente em uma caixinha é enorme.
Mas o próprio cargo não acaba te colocando na caixinha? Na campanha e no começo do governo, você cantava, dançava. Agora você se comporta com um pouco mais de liturgia. Ou não?
Eu continuo com o mesmo espírito. Historicamente a primeira-dama é colocada em uma caixinha, para fazer filantropia, visitar obras sociais. Quiseram me colocar numa caixinha, mas desde o começo eu falei que esse não é o meu perfil.
A caixinha estava pronta para eu entrar. A minha recusa de entrar nessa caixinha é que criou toda essa série de questões sobre o meu posicionamento. Não só internas do governo como externas, da própria imprensa, de mulheres jornalistas.
E me parecia ilógico mulheres jornalistas criticarem o fato de eu querer fazer diferente do combinado historicamente pelos homens.
Eu nunca entrei na caixinha. Toda hora querem me empurrar para dentro da caixinha. E eu sempre digo "ali, não. Não vou entrar nessa caixinha".
Mas deixa eu te falar uma coisa importante. Eu sou uma pessoa normal. É óbvio que todos os ataques que eu sofri, principalmente do meio do ano, até o final do ano [passado], é claro que me deixaram desestruturada [Janja se emociona].
Teve um momento em que eu quis pegar a minha bolsa e as minhas cachorras e sair, voltar para a minha casa. "Vou ficar lá".
Eu acho que isso deve ter acontecido com muitas primeiras-damas [no passado]. Muitas. E muitas também se fecharam por conta disso. Porque hoje a gente tem internet, mas os ataques sempre aconteceram.
MUSK
Em que momento esse sentimento foi mais agudo?
Teve muitos momentos. O da China foi o que talvez me deixou mais abalada [quando integrantes da comitiva de Lula vazaram à imprensa que ela causou mal-estar ao se dirigir ao líder chinês Xi Jinping em um jantar, o que o presidente nega].
A gente teve o caso da menina de 8 anos que morreu cheirando desodorante [em Brasília, ao participar de um desafio do TikTok]. Eu falei sobre isso com o presidente Xi e a primeira-dama. Eu estava muito impactada com aquilo. E fui duramente criticada.
Aí vem um menininho branco e bonitinho, todo certinho da internet [referindo-se ao influenciador Felipe Bressanim Pereira, o Felca], e fala que isso acontece. Aí valeu. Todo mundo se preocupou.
Eu acho maravilhoso que ele fez. Ainda bem que deu resultado. Não sou só eu que falo. A Xuxa fala disso há anos.
Naquele momento, eu tive um apoio grande das meninas que trabalham comigo, sabe? De estar ali sempre, segurando na minha mão.
Porque não é fácil. Não é fácil estar nesse lugar em que eu estou. O povo acha "ai, fica viajando".
Não é fácil, é difícil. Eu sei que quando estou na linha de frente falando com as pessoas, com as mulheres, elas olham através de mim e enxergam o presidente.
Óbvio: eu sou uma pessoa normal, e às vezes talvez me escape [palavras], como foi no caso de [quando ela disse 'fuck you'] Elon Musk. Eu já disse: não me arrependo do que falei, mas sim de aquilo ter deixado na sombra todo o trabalho que a gente fez no G-20, principalmente pela Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza.
Eu também erro. Mas sei que tenho que ter muita responsabilidade no que eu falo.
E eu não faço nada sem ter antes discutido muito com ele [Lula]. Quando eu tenho dúvida, converso com meu marido sobre as questões. As pessoas acham que não, mas a gente dialoga muito. Eu falo muito para ele das minhas angústias.
Às vezes é difícil porque ele é homem, pode não entender dessas angústias, ou esse momento por que eu passei. Por isso que ter mulheres ao meu redor é importante, né? Porque hoje eu não tenho as minhas amigas aqui comigo. Elas moram em lugares diferentes. Então eu tenho esse suporte feminino, das meninas que trabalham diretamente comigo.
É óbvio que todos os ataques que eu sofri me deixaram desestruturada
E depois desse período?
Eu passei por esse momento, mas segui firme. Tenho que seguir firme porque foi a isso que me dispus. Foi um momento ruim, mas que eu tive apoio da minha equipe e de outras mulheres. Quando eu digo que uma mulher não deve nunca soltar a mão de outra, é por isso, entendeu?
Mas isso não impede que uma mulher te critique. Senão fica aquela coisa, só porque você é mulher, não podemos te criticar.
Eu não estou falando de crítica. Eu estou falando de ataques. De um ataque desmensurado. No começo do governo, fizeram ataques ao meu corpo, com imagens nuas na internet, de deep fake, esse tipo de coisa. Inúmeros, inúmeros, inúmeros.
Depois [foi atacada] pelas coisas que eu falo, como quando falei do genocídio em Gaza. O objetivo principal é que eu me cale, entre na caixinha e fique ali.
Ou atingir o presidente?
Com certeza. Por isso que eu tenho que ter muita responsabilidade no que falo, no que faço, em como me comporto. É óbvio que a Janja da campanha não pode ser a mesma aqui no mandato.
Mas em 2026 vai ser a Janja da campanha no mandato.
Eu não mudei a minha personalidade. Mas eu não posso sair cantando em um evento, como eu podia na campanha. Porque era diferente. Era o momento de estar fazendo aquilo. A gente precisa saber se colocar nos lugares em que estamos.
O pessoal me criticou quando eu falei com o Xi Jinping. Mas eu tenho consciência, me considero uma pessoa inteligente para saber os momentos em que eu posso falar.
Eu falei com o presidente Xi [sobre crianças vítimas da internet] e fui duramente criticada. Aí vem um menininho branco e bonitinho, todo certinho da internet [Felca] e fala que isso acontece. Aí valeu. Todo mundo se preocupou.
Eu falei com o [presidente da Rússia, Vladimir] Putin. Não posso falar com o Xi Jinping? Eu falei com o Putin, contei para ele que tenho origem eslava.
Valdemar defende Ciro Gomes no PL para 'vencer o PT no Ceará'
O presidente nacional do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, manifestou apoio à candidatura ao governo do Ceará do ex-governador e ex-ministro Ciro Gomes (PDT). Para o dirigente, o pedetista é o nome mais forte contra o Partido dos Trabalhadores no estado. A declaração foi dada durante entrevista à Jovem Pan, nesta terça-feira (16).
“Para você ver, porque é o único jeito de a gente derrubar o PT no Ceará; não tem outro jeito. O Ciro vai derrubar”, afirmou Valdemar, durante a entrevista. Questionado sobre os processos contra Ciro, o presidente respondeu: “Tira os três, esquece, porque o Ciro mete o pau até na sombra. Agora é um fenômeno, é um fenômeno”.
Valdemar ainda falou sobre a postura do pedetista e como ele conseguiu ser firme frente a outros nomes importantes da política nacional. “O Ciro já meteu o pau no Bolsonaro, já meteu o pau em mim, já meteu o pau em todo mundo; é o jeito dele".
MOVIMENTOS DE CIRO GOMES
Ainda nesta terça-feira (16), a coluna do jornalista Wagner Mendes, no Diário do Nordeste, compartilhou que o presidente do PSDB no Ceará, Ozires Pontes, cravou que o ex-ministro Ciro Gomes, ainda filiado ao PDT, retornará para o PSDB ainda neste ano. A filiação deve ocorrer em dezembro.
A coluna ainda revelou que o evento deverá reunir nomes locais e nacionais do partido e simpatizantes. "Será no mês de dezembro a filiação dele, vamos fazer um evento aqui gigantesco, chamar todo mundo de fora tanto a nível local e nacional", disse.
Apesar das movimentações, ainda não há uma manifestação pública de Ciro cravando que irá ser candidato.
Alta na popularidade de Lula ainda é frágil
EDITORIAL da folha de sp
A avaliação do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou ao nível mais alto deste ano. Para 33% dos entrevistados pelo Datafolha nos dias 8 e 9 de setembro, seu desempenho é ótimo ou bom —alta de 5 pontos em relação a junho (28%).
Mas o fato de que só um terço do eleitorado tenha a opinião mais elevada sobre a atuação do presidente indica fragilidade.
As conspirações da família Bolsonaro contra o Brasil podem ter ajudado a lustrar a imagem do petista. No entanto Lula tem dificuldades crônicas em seu terceiro mandato, e a perspectiva para os próximos meses na economia e na política não parece propícia a saltos em popularidade.
O saldo ainda é negativo, já que o governo é ruim ou péssimo para 38% dos entrevistados —5 pontos percentuais a mais do que ótimo ou bom. Em fevereiro, a diferença chegava aos 17 pontos (41% e 24%, respectivamente).
Apesar da melhora, o indicador positivo está abaixo dos registrados em 2024, sempre entre 35% e 36%; jamais passou da máxima de 38%, atingida em 2023.
A polarização política contribui para esse resultado cronicamente medíocre. A degradação da nota, contudo, começa a ficar evidente no final de 2024, com a inflação de alimentos.
O pânico financeiro de dezembro, com a alta do dólar provocada pelo anúncio de um plano fiscal desastrado e frágil, também pode ter impressionado parcela do eleitorado. Boa parte do desgaste, porém, foi causado por uma campanha de desinformação nas redes sociais a respeito da tributação do Pix e, mais recentemente, pelo escândalo dos descontos fraudulentos no INSS.
O movimento contra o Pix parece atenuado, e as primeiras restituições aos lesados no INSS começaram a ser pagas. O pior da inflação passou, embora ainda pressione orçamentos. O comportamento vil dos Bolsonaros pode ter dado alguns pontos a Lula. Agora, qual é a perspectiva daqui em diante para o presidente?
A atividade econômica desacelera, por enquanto de modo suave. A partir do final do ano, deve ficar um pouco mais difundida a percepção de que é difícil encontrar emprego e de que os salários aumentam menos.
A antecipação da campanha eleitoral deve ter efeitos maiores no Congresso Nacional, com uma oposição ainda mais acirrada pela condenação de Jair Bolsonaro (PL).
A aprovação da isenção do Imposto de Renda seria relevante para Lula, mas mesmo esse projeto popular enfrentará dificuldades.
Por outro lado, a indefinição de candidaturas e projetos no campo da direita tem potencial para facilitar a campanha petista.
Trata-se de cenário cinzento, sem vislumbre de grandes melhoras ou perdas decisivas. A aprovação de Lula 3 nunca foi alta. Perto do final do ano, ainda se recupera da baixa na virada de 2024 para 2025. O ano eleitoral será de economia mais frágil e de ataques da oposição. Até onde se pode ver, o presidente terá dificuldades em recuperar sua popularidade.