Boulos desembolsa R$ 6,2 milhões para ter militância nas ruas
Carlos Petrocilo / FOLHA DE SP
Militante desde a adolescência, como gosta de dizer, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) tem mobilizado dezenas de pessoas para acompanhá-lo em sua campanha pelas ruas da capital paulista. São homens e mulheres com bandeiras, bonés, adesivos e panfletos que pedem voto e anunciam as propostas do candidato à Prefeitura de São Paulo.
Parte dessa militância é paga e custou mais de R$ 6 milhões, de acordo com a prestação de contas da campanha no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A despesa com "atividades de militância e mobilização de rua" é a quarta entre as registradas pelo candidato, que soma R$ 51 milhões em custos totais na campanha. Ricardo Nunes (MDB) tem gastos totais de R$ 44 milhões registrados.
Notabilizada historicamente por ter uma militância orgânica, a esquerda vê a necessidade de bancar cabos eleitorais pagos e demonstrar presença nas ruas no pleito que une o PSOL e o PT em São Paulo. Questionado sobre essa pagamento, Boulos disse acreditar na campanha que faz "de motivação, de verdade, de olho no olho".
Segundo um dos organizadores da campanha, a presença de apoiadores é importante para angariar votos de uma parcela da população que não acompanha a propaganda política nas redes sociais e na televisão, seja pelos debates ou no horário eleitoral.
O corpo a corpo desempenhado pelos militantes contratados, de acordo com especialistas em campanhas, faz sentido sobretudo para o candidato do PSOL por concorrer com o atual prefeito.
"O fato de ele não ser governo faz com que precise atrair a atenção da população de alguma maneira, e não com realizações e obras como o Nunes apresenta", afirma o sociólogo Paulo Niccoli Ramirez, professor da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia de São Paulo) e da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).
Ramirez acredita que há uma "decadência desse modelo [corpo a corpo] nas ruas". "A internet monopolizou a campanha com memes, discursos espalhafatosos e linguagem mais lúdica atraindo a atenção do leitor", analisa.
No caso de Boulos, as despesas com impulsionamento de conteúdos pelas redes sociais já passaram de R$ 7 milhões, mais do que o que foi gasto com militância paga.
A reportagem apurou que, em boa parte, o pagamento oferecido para os cabos eleitorais fica em torno de R$ 1.350,00 por mês. Esse valor é pago para quem exerce a função de divulgador. Coordenadores de equipes ganham mais que o dobro disso.
O contrato de prestação de serviço para o divulgador exige "panfletagem, distribuição de folhetos, divulgação de candidatura por todos os meios permitidos por leis, inclusive eletrônicos".
Os cabos eleitorais geralmente são oriundos de movimentos sociais ou indicados por filiados ao partido e pessoas próximas à campanha, como é o caso de Solange Nascimento Galdino.
"É a minha primeira vez trabalhando na política. Vim por necessidade também e é uma maneira de conhecer o candidato, ver como ele é do nosso lado", disse ela, durante uma carreata de Boulos pelos bairros da Brasilândia e Freguesia do Ó, na zona norte, na sexta (11).
Logo na primeira agenda do candidato do PSOL neste segundo turno, um grupo de cabos eleitorais tentavam cercá-lo na estrada M'Boi Mirim, no extremo da zona sul, para reivindicar trabalho e, consequentemente, o pagamento de R$ 1.150,00.
Uma das contratadas para militância desde o começo da campanha, apresentou à reportagem um documento com uma cláusula que previa, "na hipótese de segundo turno, a vigência contratual estava prorrogada até 26 de outubro, mediante pagamento de R$ 1.150,00 pelos serviços prestados entre 7 e 26 de outubro".
Uma parte dos contratados no primeiro turno, porém, não foi chamada para o segundo turno.
O adversário de Boulos, Ricardo Nunes (MDB) não registrou no TSE nenhum gasto discriminado como "atividades de militância e mobilização de rua". Nas contas declaradas da campanha do atual prefeito, a maior despesa até aqui é com "serviços prestados por terceiros", que representa R$ 17 milhões.
Questionada pela Folha, a campanha de Nunes não respondeu se paga para militantes irem às ruas.
Colaborou Gustavo Zeitel, de São Paulo
Bolsonaristas superam petistas na ‘bancada da juventude’ e reforçam dificuldade do PT em se renovar
Por Guilherme Caetano / O ESTADÃO DE SP
BRASÍLIA - Tradicionalmente associado à juventude, o Partido dos Trabalhadores vem enfrentando dificuldades para renovar suas lideranças, na medida em que vê o seu principal líder, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se aproximar dos 80 anos de idade.
Nas dez maiores capitais, 5,7% dos 35 vereadores eleitos pelo PT no último domingo têm menos de 30 anos. No Partido Liberal (PL) de Jair Bolsonaro, sigla arquirrival, a proporção é de 10,6% entre os 47 vereadores eleitos no mesmo número de cidades. Foram consideradas São Paulo, Rio, Fortaleza, Salvador, Belo Horizonte, Porto Alegre, Manaus, Curitiba, Recife e Goiânia.
Levantamento feito pelo Estadão identificou dois petistas dessa “bancada da juventude”: Pedro Rousseff (24 anos, de Belo Horizonte), sobrinho da ex-presidente Dilma Rousseff, e Maíra Cunha, conhecida como “Maíra do MST” (29 anos, no Rio).
Os bolsonaristas do PL têm cinco nomes nesse ranking, a começar pelo vereador mais votado do Brasil nas eleições municipais, Lucas Pavanato (26 anos, em São Paulo). Entram nessa lista também Thiago Medina (21 anos, Recife), Bella Carmelo (23 anos, Fortaleza), Zoe Martínez (25 anos, em São Paulo), e Gilson Machado Filho (26 anos, também em Recife).
Pedro Rousseff foi o sexto vereador mais votado de sua cidade colando sua imagem à de sua tia. Assim como os demais candidatos da Geração Z, ele conta com bom engajamento nas redes sociais. Ele é seguido por 126 mil seguidores no Instagram, onde entra de cabeça na disputa ideológica, confrontando nomes como o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) e Bruno Engler (PL), candidato bolsonarista à Prefeitura de Belo Horizonte.
Maíra Cunha, por sua vez, sem um sobrenome de tal peso, foi uma aposta do PT para fortalecer a bancada carioca. Ela teve um investimento de R$ 307 mil do diretório nacional e contou com o apoio público de uma diversidade de personalidades e artistas, como Chico Buarque, Bela Gil, Paulo Betti, Lucélia Santos, José de Abreu e Manuela Llerena, o que alavancou sua candidatura.
O PL, por sua vez, tem um “vintão” em cada dez eleitos nessas capitais, o dobro da taxa petista. Junto dos votos, eles carregam poderosas bases digitais de fãs. Lucas Pavanato, por exemplo, é seguido por 1,3 milhão de pessoas no Instagram. Zoe Martínez é ainda mais famosa: 1,4 milhão. Os dois ganharam proeminência na militância bolsonarista com ataques à esquerda e um papel atuante na guerra cultural que tem na família Bolsonaro a infantaria.A bancada bolsonarista também supera a petista em outros números: se os jovens trouxeram 31,3 mil votos ao PT nessas dez cidades, no PL essa quantidade chegou a 276,4 mil votos. E enquanto os “vintões” petistas somam 139,4 mil seguidores no Instagram, os adversários batem 2,8 milhões.
A falta de renovação leva o PT a situações desafiadoras. Em Salvador, capital de um Estado profundamente ligado ao PT e que foi considerado primordial para a vitória de Lula em 2022, o PT elegeu só uma vereadora, Marta Rodrigues, de 65 anos. Em Manaus, a bancada municipal petista contará com o solitário Zé Ricardo, de 60 anos. Em Curitiba, o mais votado do PT foi Angelo Vanhoni, de 69 anos. O partido também com um puxador de votos sexagenário em Goiânia: Professor Edward, de 61 anos.
São poucas as capitais como São Paulo, em que o bom desempenho de Luna Zarattini (30 anos, 101 mil votos) foi importante para eleger a bancada. Mas se a juventude da vereadora de segundo mandato oxigena o PT paulistano, a média de idade da bancada continua superior à bolsonarista: 49,8, contra 44,6 do PL.
O assunto gera preocupação dentro do PT e incomoda dirigentes, que defendem que novos quadros têm surgido e aberto espaço nos parlamentos do País. “‘O PT não se renova. Não elege novas lideranças’: A gente cansou de ouvir isso de analistas políticos. Mas será verdade?”, diz Camila Moreno, da executiva nacional do partido, num vídeo publicado nesta quinta-feira, 10, antes de mencionar lideranças eleitas no domingo passado, como Luna, Pedro, Tainá De Paula (41 anos, no Rio) e Luiza Dulci (34 anos, em Belo Horizonte). Camila Jara, que disputou a prefeitura de Campo Grande aos 29 anos e terminou em quarto lugar, também é mencionada.
No PL, por sua vez, a força digital de Nikolas Ferreira (28 anos e 12 milhões de seguidores no Instagram), deputado federal mais votado do Brasil em 2022, serviu de alavanca para candidatos bolsonaristas escolhidos a dedo. Seu apoio levou o ex-assessor Pablo Almeida (PL), de 29 anos, a se eleger o vereador mais votado da capital mineira, com quase 40 mil votos.
PT tem maior média de idade da Câmara Federal
A dificuldade de renovação se amplia quando considerada a idade média da bancada de deputados federais eleitos pelo PT em 2022: superior a 55,7 anos, a maior de toda a Câmara. O PL, por sua vez, tem idade média de 49,5 anos, atrás de partidos como PDT (54,5), PSDB (53,3), PSB (51,1) e PSD (50,9).
Em 1983, quando chegou pela primeira vez à Câmara, o novato PT era conhecido pelas jovens lideranças ligadas a movimentos sociais, como Luiz Dulci (27 anos), José Genoino (36), Eduardo Suplicy (41) e Lula (37), então candidato derrotado ao governo de São Paulo no ano anterior.
A idade média dos seis parlamentares da primeira bancada eleita era de 39,7 anos. Então com 52 anos, o mais velho era Plínio de Arruda Sampaio. “Vintões” e “trintões” representavam metade daquela bancada.
Hoje o cenário mudou radicalmente. A parcela com menos de 40 anos encolheu para 13% da bancada em 2023. Os quinquagenários são basicamente um terço, 32%; os sexagenários, 30,8%; e os septagenários, 7%. Sem renovação nas Câmaras Municipais para dar experiência a novos vereadores, o partido de Lula deve enfrentar dificuldades para disputar a Casa com os bolsonaristas. Afinal, o partido de Bolsonaro lança, a cada eleição, candidatos com recordes de seguidores nas redes sociais e de votos nas urnas.
Tabata conversa com Boulos e diz que só dará o voto e não fará campanha
Guilherme Seto / FOLHA DE SP
"É o voto e nada mais". Foi com essa frase que a deputada federal Tabata Amaral (PSB) resumiu a aliados o retorno que deu a Guilherme Boulos (PSOL) nesta terça-feira (8) a respeito de sua participação no segundo turno da eleição municipal.
O deputado telefonou para a pessebista para agradecer a declaração de voto feita por ela e para sondá-la a respeito da possibilidade de que participasse ativamente de sua campanha. Tabata respondeu que não fará mais do que o anúncio de domingo (6) e que dedicará atenção a outros projetos próprios e de seu partido no momento.
Como mostrou o Painel, a parlamentar não quer participar de eventos do psolista nem gravar vídeos para ele, ainda que outros membros do PSB possam fazê-lo, como o ministro Márcio França e o vice-presidente Geraldo Alckmin. Em entrevista coletiva no domingo, a deputada indicou o motivo.
"Eu vou votar em Guilherme Boulos. Porque eu não consigo e não conseguiria jamais colocar o meu voto em um projeto liderado por Ricardo Nunes. Mas saibam, eu e Guilherme Boulos representamos projetos absolutamente diferentes para São Paulo e para o Brasil", afirmou.
Assim como fez durante a eleição, a deputada planeja se consolidar como alternativa progressista ao projeto político representado pelo psolista, inclusive com pleitos futuros em mente.
Tabata já disse, em 2023, que vê falta de seriedade e de maturidade em Boulos, e nos últimos debates criticou o parlamentar por mudanças de opinião em temas como Venezuela, aborto e armamento da Guarda Civil Metropolitana —o que o psolista nega.
Foi diante desse diagnóstico de incompatibilidade de visões que Tabata concluiu que não pode participar ativamente da campanha de Boulos, afirmam seus aliados.
Qual o peso das vitórias da oposição entre os maiores colégios eleitorais do Ceará em 2024
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Os resultados das Eleições 2024 marcaram algumas vitórias consideradas históricas pela oposição ao Governo do Ceará. Terceiro e quinto maiores colégios eleitorais do Estado, respectivamente, Juazeiro do Norte e Sobral evidenciam o novo redesenho do grupo político que está do lado oposto ao campo liderado pelo ministro Camilo Santana (PT) e pelo governador Elmano de Freitas (PT).
Além dos dois casos no interior do Estado, o grupo de oposição pode faturar o comando da Prefeitura da Capital. Isso, porque André Fernandes (PL) chega ao segundo turno à frente de Evandro Leitão (PT) no número de votos, desbancando candidatos como o atual prefeito José Sarto (PDT) e Capitão Wagner (União).
Na comemoração após o resultado da primeira parte do pleito, na noite do último domingo (6), o próprio candidato bolsonarista citou que conta com o apoio de Glêdson Bezerra (Podemos), reeleito em Juazeiro, e Oscar Rodrigues (União), vencedor em Sobral, na segunda etapa da disputa pelo Paço Municipal, o que reforça sua posição de destaque na oposição.
Para a coordenadora do Laboratório de Estudos em Política, Eleições e Mídia (Lepem/UFC), Monalisa Soares, será preciso mais tempo para entender o panorama geral desses desempenhos, principalmente pensando de que forma isso pode se consolidar como um “projeto único de oposição” que pretende se fortalecer para o pleito de 2026.
FIM DE UMA ERA
Na maior cidade da região Norte, Oscar Rodrigues (União) quebrou a hegemonia do grupo político dos Ferreira Gomes – há 28 anos na gestão da cidade, ao superar a concorrência da ex-governadora Izolda Cela (PSB), da ala governista. "Foi um trabalho árduo, muito difícil, realmente. Estávamos trabalhando contra a máquina [pública], uma máquina pesada, a gente sabe disso”, ressaltou após a eleição.
Monalisa Soares avalia que a derrota de Izolda em Sobral é emblemática pelo fato dela ser uma candidata que condensava todo esse movimento do grupo mais situacionista, com apoio de Camilo e Cid.
“É um caso em que você vê claramente um cansaço, digamos assim, de um acumulado de muitos anos de dominância do mesmo grupo político. É importante lembrar que as últimas eleições já vinham sendo mais competitivas, a de 2020 foi mais competitiva. Então, a gente chega agora em 24 também com a recomposição dessa competitividade e a vitória da oposição”, explica a pesquisadora.
Por sua vez, Monalisa Torres, professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), vê o resultado no município como simbólico ao indicar um processo de reordenamento das forças políticas e o enfraquecimento dos Ferreira Gomes, sobretudo de Cid.
REELEIÇÃO INÉDITA E VITÓRIA NO CENTRO-SUL
No município da região do Cariri, Glêdson Bezerra (Podemos) fez história ao se tornar o primeiro prefeito reeleito. Na fala logo após conseguir o novo mandato, o político fez questão de reforçar a posição de opositor. Ele citou que sua campanha foi "simples" e sem muitos líderes políticos, ao contrário de Fernando Santana (PT), adversário que foi apoiado pelo grupo governista.
O caso é representativo do ponto de vista da força das oposições, considera a coordenadora do Lepem da UFC. “É uma derrota significativa porque é a primeira reeleição, contra um candidato que o ministro do Camilo Santana se empenhou pessoalmente, diuturnamente na disputa”, complementa.
Outro caso que anima a ala opositora vem de Iguatu, nono maior colégio eleitoral do Ceará. Roberto Filho (PSDB) será o novo prefeito do município da região Centro-Sul após superar, entre outros candidatos, o governista Ilo Neto (PT). A derrota ganha um peso maior por conta do racha político que levou à escolha do petista.
A divergência na legenda desencadeou um conflito interno, ocasionando a desfiliação de Sá Vilarouca do PT, filiado havia quase 40 anos, e sua consequente entrada na eleição pelo PSB. Do outro lado, Ilo venceu a queda de braço no grupo governista ao receber o apoio de lideranças estaduais da sigla, como Camilo, Elmano e o líder do Governo Lula na Câmara dos Deputados, José Guimarães.
EMBATE DE FORÇAS POLÍTICAS
Embora os resultados sejam considerados históricos pela oposição, o desempenho é menor na comparação com a quantidade de prefeituras conquistadas entre os maiores colégios eleitorais em 2020. Na última eleição municipal, o grupo celebrou, pelo menos, cinco desfechos das urnas.
Há quatro anos, as vitórias de Professor Marcelão (à época no Pros), em São Gonçalo do Amarante; Vitor Valim (também pelo Pros), em Caucaia; Roberto Pessoa (então PSDB), em Maracanaú; e o próprio Glêdson, que conquistou o seu primeiro quadriênio em Juazeiro, foram comemoradas por opositores. Destes, apenas o caririense não se uniu à base governista após o pleito, apesar de ter se aproximado de lideranças do PT nas eleições de 2022, como o adversário em 2024, Fernando Santana.
À época, a oposição celebrou, ainda, o desempenho de Capitão Wagner na eleição pela Prefeitura de Fortaleza. Em 2020, o político chegou ao segundo turno e protagonizou uma disputa acirrada contra Sarto, que buscava seu primeiro mandato.
Para Monalisa Torres, Juazeiro, embora seja do interior, é um município que tem uma economia forte, o que ajuda a explicar, em alguma medida, a resiliência do Glêdson em manter-se na oposição. Já para outros municípios menores, mais dependentes economicamente ou com problemas mais complicados de resolver, a exemplo de Caucaia, avalia a especialista, há mais incentivos para que os prefeitos se alinhem à máquina estadual.
“Há esses estímulos a mais que levam ao que a gente chama de ‘adesismo’, que é um alinhamento de lá e de cá. Um alinhamento, porque o governador também precisa dos apoios, dos votos para os deputados, mas também no contrário, os prefeitos também precisam das emendas, precisam desses acordos, dessas pontes mais bem montadas, mais bem construídas”, ressalta a professora de Teoria Política da Uece.
Na análise de 2020, Monalisa Soares salienta que quase todo o grupo de oposição que saiu vitorioso acabou sendo inativado ao longo do tempo, a exemplo de Valim e Marcelão – que, inclusive, disputou a eleição deste ano pelo PT. Mesmo assim, a especialista destaca que os resultados alcançados pela oposição em 2024 servem como um sinal de alerta para o bloco governista.
“Em 2020, na época, o governador Camilo Santana buscou dirimir essas oposições, na medida em que, pelo seu poder de governo, pela sua capacidade de poder contribuir em alguma medida executivamente, ele foi distensionando determinadas oposições. E aí é muito importante a gente ver os próximos passos, em que medida o governador Elmano de Freitas terá condições de distensionar algumas dessas oposições. Se ele não conseguir, de fato, vai se tornando mais complexo o projeto de continuidade desse grupo para 2026”, pondera.
A eficiência eleitoral brasileira
Por Notas & Informações / O ESTADÃO DE SP
No último domingo, passados apenas dez minutos do encerramento do horário de votação em todo o País, o município catarinense de São Cristóvão do Sul já sabia quem eram os seus eleitos. Em São Paulo, maior colégio eleitoral do Brasil, a definição de segundo turno entre Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) demorou um pouco mais, é claro, mas isso se deveu mais pelo tamanho do eleitorado e pela disputa acirrada entre três candidatos para saber quem iria ao segundo turno do que pela organização das eleições em si – exemplar, como de hábito.
Ainda no domingo, como destacou a presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Cármen Lúcia, os brasileiros foram dormir conhecendo os prefeitos e vereadores eleitos, bem como quem disputaria o segundo turno. Não é exatamente novidade, já que o sistema eleitoral do País, eleição após eleição, demonstra sua eficiência e sua transparência.
A esta altura, portanto, a confiabilidade do sistema eleitoral brasileiro não deveria ser mais notícia. No entanto, considerando-se que esta foi a primeira eleição depois da ofensiva golpista dos bolsonaristas em 2022, da qual o questionamento sobre as urnas eletrônicas foi um dos principais dínamos, faz-se necessário ressaltar que, como sempre, a eleição em todos os municípios brasileiros transcorreu sem qualquer incidente sério relacionado ao sistema de votação e que os resultados foram conhecidos no mesmo dia.
Registre-se, aliás, que vários bolsonaristas foram eleitos País afora, outros tantos foram derrotados, e não se ouviu nenhuma reclamação deles sobre as urnas. É como se o assunto, que mobilizou o País e gerou enorme tensão institucional na campanha eleitoral de 2022, nunca tivesse existido.
Mas existiu, e não se pode esquecer que Bolsonaro se tornou inelegível exatamente porque abusou de seu poder como presidente ao questionar a confiabilidade das urnas perante representantes diplomáticos estrangeiros em meio à campanha de 2022.
Agora, mesmo clamorosamente derrotado no pleito municipal ao qual verdadeiramente se dedicou, o do Rio de Janeiro, onde o bolsonarista Alexandre Ramagem (PL) perdeu em primeiro turno para o prefeito Eduardo Paes (PSD), não se ouviu o ex-presidente se queixar do sistema eleitoral do País.
Pode até ser que ele volte a fazê-lo, porque a natureza golpista sempre fala mais alto, mas na verdade isso não importa, já que, enquanto a credibilidade de Bolsonaro é cada vez menor, as urnas seguem motivo de orgulho nacional, orgulho este renovado a cada eleição – quando, como bem disse a ministra Cármen Lúcia, vamos dormir no próprio dia do pleito conhecendo todos os resultados, computando-se milhões de votos em poucas horas, algo impensável em países muito mais ricos e poderosos que o Brasil.
É o notório caso dos Estados Unidos, que no mês que vem, ao escolher seu novo presidente, voltará a exibir ao mundo seu caótico sistema de votação.