Com aval de Cid, Júnior Mano segue articulações para viabilizar candidatura ao Senado
O deputado federal cearense Júnior Mano (PSB) mantém articulações intensas nos bastidores para tentar se viabilizar como candidato ao Senado na Eleição 2026. O movimento ocorre mesmo após a operação da Polícia Federal, deflagrada há pouco mais de um mês, que investiga supostas fraudes em licitações e analisa, inclusive, uso de emendas parlamentares.
Conforme apurou esta coluna, o senador Cid Gomes, principal aliado de Júnior Mano no projeto, orientou o deputado a seguir com os contatos políticos no Ceará, a despeito de quaisquer investigações. A avaliação é de que o nome de Mano segue em construção, com base em apoios de lideranças como prefeitos em todo o Estado.
Reunião mostra articulações com Cid
Na última terça-feira (19), em Brasília, uma reunião entre Cid e Júnior Mano contou também com a presença do deputado estadual Osmar Baquit (PSB) e do deputado federal Robério Monteiro (PDT).
O encontro mostrou que as articulações do deputado e do senador estão em andamento.
Programação festiva e visibilidade política
Entre os dias 14 e 16 deste mês, o parlamentar reuniu cerca de 35 prefeitos em Nova Russas, município governado pela prefeita Giordanna Mano, sua esposa. O evento, com programação festiva, deu visibilidade à atuação política do parlamentar.
A despeito do cenário jurídico, visto por membros da base do governador Elmano de Freitas (PT) como delicado, aliados de Júnior Mano garantem que ele segue no jogo.
O eleitorado é de centro-direita, mas como conquistar a vantagem decisiva?
Por William Waack / O ESTADÃO DE SP
O grande jantar em Brasília na última terça-feira talvez acabe valendo como a data formal para uma “largada” dos grupos de centro e centro-direita para as eleições de 2026. Afinal, quem podia ser considerado presidenciável por esse largo espectro compareceu (menos alguém com sobrenome Bolsonaro), além dos caciques de pelo menos 6 partidos.
Daí para se falar de uma estratégia comum é hoje apenas desejo. Ficou explicitada a existência de pelo menos duas grandes linhas de ação, mutuamente excludentes. Ou esse grande espectro vai para o embate com Lula carregando apenas um nome “de união”, ou vai cada grupo de centro-direita com seu nome e tentaremos ser unidos e felizes num segundo turno.
O que está por detrás dessa questão é muito negativo do ponto de vista dessas forças políticas que, apoiadas em convincentes dados empíricos, entendem que uma confortável maioria nacional do eleitorado é de centro-direita. O fato é que não há nesse amplo espectro nada remotamente parecido a uma “direção central”, “instância única de coordenação” ou como se queira chamar a pessoa ou grupo capaz de dar sentido e direção ao projeto de derrotar o atual governo.
No ajuntamento de nomes e siglas nesse jantar estavam tanto os que professam lealdade canina ao clã Bolsonaro como os que tratam Jair Bolsonaro como bandido. O que parece tornar essa “convivência” provável é um fato a respeito do qual os governadores presidenciáveis (que julgam não poder prescindir do beneplácito do clã) não falam em “on”: está diminuindo sensivelmente a capacidade do ex-presidente de ditar rumos e coroar sucessor.
Isto tem ligação direta com o grande fato inédito na política brasileira, que é o componente internacional da crise doméstica. Como era muito fácil de se prever, a conduta do bolsonarismo raiz de buscar em Trump a ajuda decisiva para livrar seu líder da cadeia dividiu a direita, prejudicou seus candidatos, deu a Lula ares de “estadista”, forneceu um inimigo externo e não livrará Bolsonaro da condenação.
Pela primeira vez paira sobre uma grande eleição relevante acontecimento externo, que é a gravíssima e inédita crise com os Estados Unidos. Ela expôs um Brasil pequeno, vulnerável, isolado, anestesiado pela ideia de que o mundo lá fora não nos afeta, confortável com a noção de que nossa condição de super potência na produção de alimentos garantiria uma existência sem sobressaltos.
O que vai exigir do que se convencionou chamar de “centro-direita” algo mais do que simplesmente pregar no governo a culpa pelo tarifaço, por exemplo. É fácil criticar o Lula 3 pela ausência de um “projeto” (além de ficar no poder), mas qual seria o de “direita” para um País que não conseguiu até aqui resposta para o desafio representado por Trump.
Ser o melhor amigo dele?
PSDB traça meta para Ciro Gomes no Ceará em busca de voto bolsonarista
Por Caio Sartori — Rio de Janeiro / O GLOBO
A filiação de Ciro Gomes, hoje no PDT, é tida como avançada no PSDB, apesar de o martelo ainda não ter sido batido. No momento em que o ex-ministro reforça ataques ao PT, os tucanos afirmam que o projeto é a candidatura ao governo do Ceará, comandado por ele entre 1991 e 1994 quando integrava as fileiras do partido, desta vez como opção de voto para a base do ex-presidente Jair Bolsonaro.
— O público bolsonarista do Ceará quer votar nele, digo com convicção. Conversei com sete bolsonaristas de cidades diferentes, estão doidos para votar no Ciro porque sabem que ele é referência de gestão — afirmou o presidente do PSDB no Ceará, Ozires Pontes, em entrevista ao Uol. Segundo Ozires, Ciro e o PSDB já estão conversando sobre a disputa do governo do estado e que, após se mostrar resistente, “hoje ele vê os números e não nega”. De acordo com o dirigente tucano, Ciro só não voltaria ao comando do estado se “ele ficar verborrágico”.
O acordo para a candidatura, dizem dirigentes ouvidos pelo GLOBO, passa também por impulsionar a eleição de deputados federais. Em 2022, o PSDB ficou sem nenhum parlamentar eleito pelo Ceará, unidade federativa governada por tucanos entre 1991 e 2007. Ciro Gomes, nas conversas recentes, ficou incumbido de turbinar até três nomes ao legislativo federal. A sigla evita falar, por ora, em voo presidencial, depois de o ex-ministro ter amargado o terceiro lugar no Ceará no primeiro turno na última corrida. Conversas com outros partidos para uma composição nacional ainda não foram colocadas à mesa.
Para o ano que vem, uma das metas tucanas a nível nacional é ter um bom desempenho na eleição para a Câmara, que é o que faz um partido sobreviver. A cláusula de barreira que começou a vigorar em 2018 e cresce a cada disputa exige resultados mínimos para que as siglas tenham acesso ao fundo partidário e a tempo de propaganda na TV e no rádio, entre outros direitos. Também é o montante de votos para deputado federal que determina a fatia de dinheiro público que cada legenda receberá nos quatro anos seguintes.
O provável embarque de Ciro marca uma rara adesão de um nome de peso ao PSDB nos últimos tempos. A tendência tem sido o oposto: outrora detentor de ampla capilaridade pelo país e de quadros de expressão da política nacional, o ninho tucano ficou ainda mais desguarnecido este ano com a saída dos governadores do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e de Pernambuco, Raquel Lyra, ambos para o PSD. ALém de Eduardo Riedel, do Mato Grosso do Sul, que vai se filiar hoje ao PP.
Opção antipetista
Na sexta-feira passada, Ciro protagonizou novo episódio de ataques ao PT do Ceará, com direito a mais acusações contra a mesma ex-senadora, Janaína Farias, que o levou a virar réu no ano passado por violência política de gênero após chamá-la de “assessora de assuntos de cama” do ministro da Educação, Camilo Santana, ex-governador do estado.
Agora, em discurso no aniversário do ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio, o quatro vezes presidenciável voltou a atacar a atual prefeita de Crateús. — A pessoa que recrutava moças pobres, de boa aparência, para fazer o serviço sexual sujo do seu Camilo Santana virou senadora do Ceará. Agora é prefeita num município do Ceará. E isso é um desafio para o qual os meus queridos amigos estão me chamando para encarar. É para eu encarar? Eu vou encarar — disse.
Em nota, a equipe de Camilo Santana afirmou que Ciro Gomes “terá que prestar contas na Justiça, em mais um processo, como tantos outros que responde, inclusive com condenação, por tentar macular a honra das pessoas”. Já a prefeita e ex-senadora classificou Ciro como “um misógino que, cada vez mais, diante de seu fracasso político, busca atingir a honra das pessoas, de forma irresponsável e inconsequente”.
Foi em 2022 que a aliança entre PT e PDT desandou no Ceará. Naquele momento, Camilo se desincompatibilizou do governo para disputar o Senado, deixando na cadeira Izolda Cela — que era do PDT, mas não do grupo de Ciro. Os petistas toparam apoiar a reeleição dela, mas o então presidenciável queria que Roberto Cláudio fosse o candidato do partido, o que de fato aconteceu e levou o PT a lançar candidatura própria. Elmano de Freitas, o petista, venceu a eleição no primeiro turno e é o atual governador do Ceará.
Recentemente, na esteira da oposição feita a Elmano e ao também petista Evandro Leitão, prefeito de Fortaleza, Ciro passou a se aproximar de bolsonaristas. Derrotado na eleição municipal no ano passado, André Fernandes (PL) disse em maio que “Ciro mostrou ser uma pessoa preparada e inteligente, com coragem também para enfrentar o governador Elmano”, antes de reforçar o desejo de unificar a oposição contra o PT na próxima eleição estadual.
Outro ex-adversário que passou a elogiar Ciro foi Capitão Wagner (União), derrotado na eleição estadual de 2022 e na municipal do ano passado.
Histórico de ataques
Assim que encerrou a primeira passagem pelo PSDB, em 1997, Ciro começou a criticar a legenda. Ao anunciar a candidatura presidencial na eleição do ano seguinte — concorreria pelo antigo PPS e ficaria em terceiro —, afirmou que se recusava a conversar com o presidente Fernando Henrique Cardoso. Até o ex-governador e ex-senador Tasso Jereissati, de quem se reaproximou nos últimos anos, foi alvo. Em 2016, ao analisar o cenário para as eleições de 2018, Ciro classificou um grupo da política cearense, incluindo Tasso, como “indústria de picaretas”.
No ano seguinte, outro cacique tucano entrou na mira: o ex-governador mineiro Aécio Neves, classificado por ele como “cadáver político”. Aécio é, ainda hoje, um dos principais quadros tucanos, com ativa atuação nas negociações partidárias.
Ciro Gomes em entrevista exclusiva para O Globo — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Ciro se encontra com lideranças do União em Brasília, em meio a impasse sobre futuro partidário
Em meio às tratativas para deixar do PDT e voltar ao PSDB, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) participou, no fim da manhã desta terça-feira (19), de encontro com lideranças estaduais e nacionais do União Brasil.
Conforme o PontoPoder apurou, o político deve participar, nesta tarde, de reunião com o presidente do PP, o senador Ciro Nogueira (PP), e Antônio Rueda, que comanda o União Brasil. A partir desta terça-feira, as duas siglas oficializam uma federação partidária.
Em contato com a reportagem, o presidente do União Brasil no Ceará, Capitão Wagner, afirmou que a legenda mantém conversas pela filiação de Ciro Gomes. O ex-ministro, inclusive, deve participar de um jantar com lideranças da Federação União Progressista, ainda nesta terça.
No encontro pela manhã, também participaram o vice-presidente nacional do União Brasil, ACM Neto, e o pré-candidato à Presidência pela sigla, o governador Ronaldo Caiado.
Do Ceará, estavam Capitão Wagner; o deputado federal Danilo Forte (União); os deputados estaduais Felipe Mota, Sargento Reginauro, ambos do União, e Cláudio Pinho (PDT). O ex-pedetista Roberto Cláudio, também acompanhou a reunião; ele deve oficializar filiação ao partido nos próximos dias.
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A sombra de Bolsonaro
Por Merval Pereira / O GLOBO
Caso um candidato de direita vença a eleição presidencial do próximo ano, o ex-presidente Jair Bolsonaro, que deverá ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe, poderá ser favorecido por uma decisão do novo governante o recolocando na disputa política. Esse é um tema recorrente no jogo pré-eleitoral, que tem nuances fundamentais na análise prospectiva da corrida presidencial. A anistia é um perdão geral, concedido pelo Poder Legislativo por lei. Pode ser de iniciativa do próprio Legislativo — como os bolsonaristas tentam agora — ou proposta pelo Executivo, mas aprovada no Congresso.
Ela apaga os efeitos do crime, tanto penais quanto extrapenais, como a inelegibilidade. O indulto, em contraste, é um perdão concedido pelo Executivo que extingue a pena, mas não os efeitos extrapenais. Na anistia, que deve sempre ser concedida a um grupo que cometeu o mesmo crime, Bolsonaro ficaria livre para voltar ao jogo eleitoral em 2028 nas eleições municipais ou em 2030.
Indultado, ele deixaria a cadeia, mas continuaria, de acordo com as leis em vigor, inelegível até 2030, pela condenação pelo TSE, ou até o fim da pena a que será condenado no STF. Por isso os bolsonaristas querem também mudar a Lei da Ficha Limpa, para encurtar o prazo de inelegibilidade de seu líder. Em ambos os casos, um futuro presidente de direita poderia ter pela frente em 2030 a sombra do ex-presidente, já que a disputa pela Presidência no próximo ano parece estar fora de seu alcance, a não ser que o improvável aconteça, e o Congresso aprove uma anistia a todos os condenados pela tentativa de golpe de janeiro de 2023.
A discussão que se impõe é saber se um presidente da República em seu primeiro mandato quererá ter em seu encalço a figura de Bolsonaro. Todos os candidatos de direita já declararam que anistiarão o ex-presidente (ou indultarão?). Parece factível se, como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, não quiserem disputar a reeleição. Mesmo Caiado pode mudar de ideia uma vez eleito, e as circunstâncias políticas podem levar o compromisso a ficar na pura retórica. A burocracia presidencial sempre pode ser uma saída nesses momentos.
O vereador Carlos Bolsonaro, destemperado como sempre, classificou de “ratos” os governadores de direita que já se lançam candidatos a candidatos à Presidência, no que foi apoiado por outro irmão, o deputado federal “at large” Eduardo Bolsonaro. Parece ser um indício de que a família Bolsonaro teme uma traição e decidirá por lançar um dos seus para representar o pai na disputa presidencial. Até onde se enxerga, não parece fazer sentido, pois as chances de vitória são escassas.
O governador do Paraná, Ratinho Junior, que parece o candidato mais competitivo se o de São Paulo, Tarcísio de Freitas, não se lançar, é o único que não deve se sentir ofendido com o epíteto — ou talvez o vereador Bolsonaro tenha pensado mesmo nele ao atacar os pretendentes ao trono da direita.
A obsessão por continuar no governo alimenta líderes populistas em geral. Ontem mesmo Donald Trump, empenhado em salvar Bolsonaro como se salvasse a si mesmo, pois responde a um processo suspenso até que saia da Casa Branca, voltou a insistir num terceiro mandato, que lhe é impedido pelas leis americanas. Zelensky, segundo relato do New York Times, disse que faria uma eleição assim que a guerra terminasse, pois não se pode fazer eleição em guerra. Trump retrucou com o pensamento contrário: “Já pensou se estivermos em guerra dentro de uns três anos e meio [quando seu segundo mandato termina] e não pudermos ter eleição? Ah, isso seria bom”, comentou gargalhando. Zelensky achou graça, mas disse: “Não!”.