Moro, conveniente no primeiro turno, pode ser adversário mortal para Lula no segundo
10 de dezembro de 2021 | 03h00
As pesquisas vão confirmando o que os políticos, contra ou a favor dele, já vinham detectando: o ex-presidente Lula está consolidado com folga na liderança do primeiro turno, mas pode ter grandes dificuldades no segundo. Seu risco é enfrentar a mesma onda de rejeição ao PT e a ele que embalou a vitória do improvável Jair Bolsonaro.
Já há sinais, inclusive, de que Lula continua com grande vantagem também no segundo turno, mas perde alguns pontos tanto no confronto direto com Bolsonaro, agora no PL, quanto com o seu “algoz” Sérgio Moro, do Podemos.
Assim, Lula vive um dilema: deixar correr solta a candidatura de Moro, que serve para abocanhar votos de Bolsonaro e da direita no primeiro turno, mas evitando que Moro cresça a ponto de chegar ao segundo turno. A calibragem é delicada. E, obviamente, não depende só de Lula, mas do fôlego de Moro e do desenrolar da própria campanha.
Desde 1994, todos os presidentes disputaram e levaram a reeleição e é um erro menosprezar Bolsonaro e dar de barato que estará fora do segundo turno. Nada garante essa certeza, ou possibilidade. É fato que ele perdeu o discurso, apoios e índices de aprovação, mas tem uma arma poderosa: a caneta.
Na reta final deste 2021 tão difícil, Bolsonaro conseguiu aprovar o Auxílio Brasil e a fatia da PEC dos Precatórios que garante o financiamento do programa, um Bolsa Família para chamar de seu. Ele tem o orçamento secreto e a disparada nos juros, de 2% no início do ano para 9,25% em dezembro, é uma pancada numa inimiga perigosa para candidatos à reeleição: a inflação.
Como não dá para brincar com Bolsonaro, Moro cumpre um papel que Lula não conseguiria assumir: o de atrair uma grande massa difusa da anticorrupção que já foi bolsonarista e hoje está decepcionada com os absurdos que o presidente diz e faz nas mais diferentes áreas. Logo, Moro enfraquece as chances de Bolsonaro.
Ok. Mas... e se o ex-juiz, ícone da Lava Jato, crescer mais do que o previsto e chegar ao segundo turno? Aí, a coisa muda de figura. De “conveniente”, sua candidatura pode passar a ser uma ameaça que pode ser fatal.
Lula, PT e ninguém pode adivinhar o que aconteceria, mas não é prudente descartar a possibilidade de Moro se transformar no polo aglutinador de uma enorme fatia do eleitorado que foi acumulando divergências e irritações contra o PT, até transformá-lo em inimigo número um. Cabem nesse balaio bolsonaristas e boa parte da direita, do centro e até da esquerda pró Lava Jato.
Para Lula, portanto, Moro veio bem a calhar no primeiro turno, mas não seria um adversário nada fácil no segundo.
Moro se consolida em terceiro lugar, mostra pesquisa
Alberto Bombig / O ESTADO DE SP
08 de dezembro de 2021 | 07h01
Como já era esperado no mundo político, a mais recente pesquisa Genial/Quaest mostra que Sérgio Moro (Podemos) está se consolidando como uma alternativa eleitoral consistente à polarização entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL). O ex-juiz se firma em terceiro na disputa presidencial de 2022, deixando Ciro Gomes (PDT) e João Doria (PSDB) para trás.
Segundo a Quaest, Moro tem 11% das preferências no cenário com Lula, Bolsonaro e Ciro; e 10% no cenário mais completo, no qual Ciro tem 5%; Doria, 2%; e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), 1%. A pesquisa foi feita entre os dias 2 e 5 de dezembro com 2.037 entrevistas presenciais em todos o Brasil. O nível de confiança, segundo os responsáveis pela pesquisa, é de 95%, com margem de erro máxima de 2%, para cima ou para baixo, em relação ao total da amostra.
“Moro está vagarosamente ocupando um espaço de quem é ‘nem Lula, nem Bolsonaro’”, afirma Felipe Nunes, diretor da Quaest. “Mas ele precisa modular o discurso. A rejeição dele é muita alta, só abaixo da de Bolsonaro.” Segundo a pesquisa, 61% dos eleitores que conhecem o ex-juiz dizem que não votariam nele.
Esta nova pesquisa da série Genial/Quaest também traz algum alento a Bolsonaro e confirma a percepção de seus aliados, conforme mostrou a Coluna do Estadão desta terça, 7. Segundo o levantamento, Bolsonaro dá sinais de ter estancado a queda na avaliação de seu governo e, consequentemente, de sua popularidade. Em novembro, 56% dos entrevistados avaliavam negativamente a gestão do presidente da República. Neste mês, esse número baixou para 50%. Esse movimento foi identificado em todas as regiões do País, menos no Nordeste.
Incógnitas eleitorais
À medida que nos aproximamos das eleições de 2022, alguns pontos vão se tornando mais claros. Uma definição importante recente foi a decisão do ex-juiz Sergio Moro de se filiar ao Podemos. Com isso, ele confirma sua disposição para concorrer ao Palácio do Planalto no próximo ano. Outras questões permanecerão em aberto por algum tempo. Uma delas diz respeito à capacidade do presidente Jair Bolsonaro de recuperar parte da popularidade perdida. O índice que considera sua administração “ruim” ou “péssima” supera a casa dos 60%. É um percentual alto para quem busca a reeleição. Essa recuperação dependerá, em grande parte, da economia. O comportamento da inflação, o desemprego, os preços dos combustíveis influenciarão a avaliação do governo como um todo.
Outro aspecto que pode ser significativo é a escolha do vice do ex-presidente Lula (PT). Em 2002, Lula fez um revelador aceno ao setor empresarial quando escolheu para o posto o empresário José de Alencar, o que ajudou a reduzir sua rejeição junto ao establishment. Neste momento, Lula busca atrair o eleitor de centro. O nome do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin tem sido cogitado como uma possibilidade. Outros nomes aventados foram o de Henrique Meirelles e o de Luiza Trajano, que já declarou não pretender entrar na política. Como o vice de Lula, o vice de Jair Bolsonaro será um fator que poderá ter influência na corrida sucessória. Lula admitiu que seu vice pode ser alguém do Nordeste (região onde ele apresenta melhor desempenho nas pesquisas de intenção de voto) ou de Minas Gerais (segundo maior colégio eleitoral do País). Ainda há chance de ser Hamilton Mourão, mas a probabilidade é cada dia mais baixa.
O apoio de partidos que integram o chamado centrão também é incerto e pode pesar na corrida sucessória. Em 2018, o apoio do bloco, muito associado à Operação Lava-Jato, foi considerado extremamente negativo para Alckmin, que obteve menos de 5% dos votos válidos. A tendência é de que a maior parte do Centrão (PL, PP e Republicanos) apoie Bolsonaro. Mas ainda não há clareza sobre a intensidade desse apoio. Vale ressaltar a viabilidade de uma terceira via. Moro, depois de sua filiação ao Podemos, atingiu em torno de 12% das intenções de voto, de acordo com trackings disponíveis. A grande dúvida, porém, é se a terceira via conseguirá superar Lula e/ou Bolsonaro a ponto de garantir uma vaga em um quase certo segundo turno. O tumultuado processo de escolha do candidato presidencial do PSDB gera uma grande incerteza sobre o grau de unidade do partido em 2022, o que pode, pela sexta vez, resultar em mais uma derrota para a legenda no plano federal.
Cristiano Noronha / ISTOÉ
Flávio vira negociador eleitoral de Bolsonaro com União pelo Brasil e Pros
07 de dezembro de 2021 | 05h00
BRASÍLIA – O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) virou uma espécie de negociador eleitoral do pai, o presidente Jair Bolsonaro, nas costuras de alianças para a eleição de 2022. Nesse papel, Flávio participou das discussões mais detalhadas e reservadas com o Partido Liberal (PL) e agora vai avançar com outros partidos. Um dos que está na mira de Flávio é o PROS. O senador também quer destravar a relação com o União Brasil, junção do DEM com o PSL.
Na diplomacia, a função precursora desempenhada por Flávio é conhecida pelo jargão de “sherpa”. O termo deriva dos guias que conduzem alpinistas em escaladas nas montanhas no Nepal e que abrem os caminhos e carregam a carga de expedições.
Flávio se aproximou de Eurípedes Júnior, o presidente nacional do PROS. Num telefonema, convidou o cacique do PROS para a cerimônia de filiação de Bolsonaro ao PL, mas ele disse que estava fora de Brasília e não chegaria a tempo.
O partido é uma das legendas que costuma se comportar como parte do Centrão no Congresso, mas se aliou a candidaturas do PT nas últimas duas eleições presidenciais. Em 2014, apoiou a então presidente Dilma Rousseff e, em 2018, o ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad.
“O PROS é um partido que está votando tudo com a gente”, disse Flávio.
Flávio também quer rediscutir as chances de aliança com o União Brasil. Próceres da legenda, como o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, rejeitam em público apoiar Bolsonaro e discutem uma candidatura própria ou alternativa na terceira via, mas a maioria dos parlamentares admite apoiar Bolsonaro, como mostrou o Estadão.
“Agora é a política, vamos sentar para conversar. A gente tem candidatos em todos os Estados, mas essa aliança vai fazer com que a gente discuta um por um para ver, onde puder caminhar juntos vamos estar. O Neto sempre teve essa boa vontade do presidente, mas nunca foi recíproca, explícita essa boa vontade de caminhar juntos”, afirmou o senador.
A cúpula do Centrão estava à mesa na cerimônia de filiação do presidente ao PL, com os caciques do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), e do Progressistas, ministro Ciro Nogueira (Casa Civil). A presença é um esboço do que seria o núcleo duro da aliança rumo a 2022, mas há pendências a serem resolvidas, como a disputa pelo cargo de vice.
Pessoas com acesso às conversas dizem que Flávio encaminha discussões como montagem de palanques e de chapas regionais, para candidaturas a deputado, senador e governador. Também cuida de interesses como o controle de diretórios. É o presidente Bolsonaro, porém, quem bate o martelo.
Flávio fez conversas prévias com Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL. Ele levou projeções de cálculos votos, para verificar as chances de reeleição de deputados que ingressarão no PL e dos que já estão na sigla, por exemplo.
O senador disse ao Estadão que ainda não há acordo sobre o rateio do fundo eleitoral entre parlamentares do PL e os que ingressarão na legenda pelas mãos de Bolsonaro. A chefe do cofre, pela lei, é da direção nacional, controlada por Costa Neto.
A legenda deve ter cerca de R$ 120 milhões do fundão à disposição. A tendência, segundo Flávio, é que o comando do PL privilegie os que demonstrarem mais chances de se eleger. “Não tem dinheiro para todo mundo”, disse o senador.
Também parte de Flávio a linha mestra dos discursos para a base bolsonarista. Ele foi o responsável pelo tom mais agressivo contra pré-candidatos rivais, como Sérgio Moro (Podemos) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Flávio chamou Moro de “traidor” e Lula de “ladrão” e “ex-presidiário”, quando estava no palco ao lado de Valdemar Costa Neto, que foi condenado e preso no mensalão quando era base do governo petista. Ao Estadão, porém, Flávio já havia antecipado que considera o passado do mandachuva do PL somente uma “cicatriz”.
ANÁLISE DA VOTAÇÃO EM CIRO GOMES NO 1º TURNO DE 2018
Por Miguel do Rosário / O CAFEZINHO
Uma avaliação objetiva da força dos candidatos a presidente da república deve olhar sobretudo para seu desempenho no 1º turno, quando os eleitores puderam votar de maneira propositiva, de olho nas propostas específicas de cada um, e não tanto como cálculo para evitar a vitória do candidato que rejeita.
A força de Bolsonaro é incontestável. O candidato quase venceu no primeiro turno, quando obteve 49 milhões de votos, 46% do total.
Haddad, herdeiro do lulismo, recebeu 31,3 milhões de votos, ou 29% do total.
Entretanto, o foco deste post é analisar o tamanho e a diversidade do eleitorado de Ciro Gomes, terceiro colocado, a partir de alguns segmentos geográficos e sócio-econômicos onde ele obteve resultados relevantes.
Os dados mais importantes, naturalmente, são os números do TSE, estratificados por município e estado. Mas também vamos olhar a pesquisa eleitoral mais recente, do Ibope, para termos uma noção da segmentação por renda, escolaridade e faixa etária.
Ciro obteve 13,3 milhões de votos no primeiro turno, ou 12% do total. Numericamente, é uma votação expressiva, sobretudo num ambiente tão polarizado como foi a eleição deste ano, onde candidatos com enorme tempo de tv, quantidade gigantesca de recursos financeiros, como Geraldo Alckmin, tiveram resultados pífios (menos de 5%). Marina Silva, que participou recentemente de outras eleições presidenciais, quando obteve números bem mais encorpados, terminou o primeiro turno com apenas 1 milhão de votos, ou 1% do total.
Guilherme Boulos, do PSOL, obteve uma votação nacional muito ruim, com apenas 617 mil votos, ou 0,58% do total; a culpa, no entanto, volto a dizer, foi menos de Boulos do que do ambiente radicalmente polarizado entre petismo x antipetismo que caracterizou o pleito.
A votação de Ciro, nessas circunstâncias, foi razoável; mesmo assim, foi menos da metade do que os 31 milhões de votos de Haddad, e muito distante dos 49 milhões de votos de Bolsonaro.
Mas o Brasil é muito grande e diverso. Uma análise política consistente só faz sentido se se debruçar pacientemente sobre os números estratificados.
Vamos começar pelo lugar onde Ciro obteve o seu melhor desempenho, Sobral, sua cidade natal, onde o candidato obteve 60% dos votos válidos no primeiro turno, ou 66 mil votos, contra 21% de Jair Bolsonaro e 16% de Haddad.
Em Fortaleza, capital do Ceará, o candidato também ganhou com tranquilidade no primeiro turno, com 40% dos votos válidos, ou 546 mil votos, contra 34% de Bolsonaro e 19% de Haddad.
Uma curiosidade. Em Fortaleza, Cabo Daciolo, com 24 mil votos, ficou à frente de Geraldo Alckmin, que teve apenas 15 mil votos; Boulos teve 7,7 mil votos na cidade.
O desempenho de Ciro também foi muito relevante no Rio de Janeiro, capital, onde obteve 19,5% dos votos, correspondentes a 646 mil votos. Nada perto de Bolsonaro, fenômeno popular incontestável no Rio, que ficou com 58% dos votos cariocas no primeiro turno, mas bem à frente de Haddad, que pontuou 12% na cidade. Boulos ficou com 0,84% dos votos cariocas.
Lembrarei sempre o voto de Boulos que é para termos uma noção do tamanho do eleitorado de esquerda nas cidades e regiões que analisamos.
No estado do Rio, Ciro também ficou em segundo lugar, com 15,2% dos votos válidos, mas praticamente empatado com Haddad, que obteve 14,7%. Bolsonaro fechou o primeiro turno com quase 60% dos votos fluminenses.
De maneira geral, o pedetista obteve uma votação razoável em algumas capitais importantes. Em Belo Horizonte, por exemplo, Ciro também ultrapassou o candidato petista e terminou o primeiro turno com 17,4% dos votos, contra 14,5% de Haddad; Bolsonaro obteve 55% em BH; Boulos, 0,68%.
Em São Paulo, capital, Ciro ficou em terceiro lugar, com 15% dos votos, contra 19,7% de Haddad e 44% de Bolsonaro, mas bem à frente de candidatos muito conhecidos no município, como Alckmin, que obteve 8,8% dos votos paulistanos, e Boulos, com 1,21%.
Em Brasília, Bolsonaro venceu o primeiro turno com 58,4% dos votos, seguido de Ciro, com 17% e Haddad, com 12%.
Em Curitiba, mais uma vez Ciro passou a frente do PT, e obteve 12% dos votos no primeiro turno das eleições presidenciais deste ano, contra 9% de Haddad; Bolsonaro ficou com 62% em Curitiba; Boulos, com 0,57%. Alvaro Dias, muito conhecido na capital do Paraná, obteve apenas 4% dos votos.
Em Porto Alegre, capital que o PT já governou mais de uma vez, e onde sempre obteve votação relevante, desta vez teve que dividir o eleitorado de esquerda meio a meio com Ciro, o qual obteve 19,37% dos votos na cidade, contra 20% de Haddad; Bolsonaro abocanhou 45% do eleitorado portoalegrense; Boulos, 1,36%.
Na bela e serena Florianópolis, Ciro Gomes novamente superou o candidato petista, obtendo 16% dos votos, contra 13% de Haddad; Bolsonaro ficou com 53%. Boulos, 1,83%.
Voltemos ao nordeste. Em Recife, Bolsonaro ganhou no primeiro turno, com 43% dos votos, seguido de Haddad, com 30% e Ciro, com 17%; Boulos recebeu 0,82% dos votos recifenses.
Em Natal, Bolsonaro venceu o primeiro turno com 44% dos votos. Reparem que a direita entrou com força no nordeste a partir de capitais como Recife e Natal. Ciro ficou em segundo, com 23,6%, seguido de Haddad, com 22,8%; Boulos ficou com 0,7%.
A força do lulopetismo é muito concentrada no interior do nordeste, onde, em muitas cidades, Haddad pontuou mais de 70% no primeiro turno.
Mais uma curiosidade. No Maranhão, por exemplo, há uma pequena cidade chamada Nova Iorque (!), onde Haddad obteve 77% no primeiro turno.
Em Vitória, capital do Espírito Santo, Haddad e Ciro ficaram com 18% e 15% dos votos no primeiro turno, respectivamente, contra 53% de Bolsonaro e 0,58% de Boulos.
Vamos olhar algumas cidades médias.
Em Juiz de Fora, o resultado no primeiro turno para Bolsonaro, Haddad e Ciro ficou em 45%, 23% e 20%.
Em Nova Friburgo, Bolsonaro teve votação arrasadora no primeiro turno, 63%; Ciro ficou em segundo, com 16%; Haddad, 10%; Boulos, 1%.
Em Niteroi, Bolsonaro venceu com 53%, seguido de Ciro, com 21%, e Haddad, com 14%.
Agora vamos passar para uma análises sócio-econômica, com base nos números da pesquisa boca de urna do Ibope, realizada em 7 de outubro, dia da votação. O Ibope chegou bem perto dos números reais: Bolsonaro ficou com 45%, Haddad 28%, Ciro 14% dos votos válidos. Os números oficiais do TSE para esses candidatos, quando as urnas foram contabilizadas, conforme lembramos acima, ficaram em 46%, 29% e 12%.
Nas estratificações abaixo, os números não se referem a votos válidos, e sim a votos totais.
Na estratificação por faixa etária, o melhor desempenho de Ciro Gomes se deu entre jovens até 24 anos, onde ele obteve 21%, praticamente empatado com Haddad, que ficou com 23%; nessa mesma faixa, Bolsonaro pontuou 37%.
Na estratificação por renda, Ciro Gomes venceu o segundo lugar entre eleitores com renda familiar acima de 5 salários, com 17% dos votos, contra 12% de Haddad. Bolsonaro pontuou 55% dos votos válidos nessa faixa. Isso explica um clima de “virada” que se alastrou entre eleitores de Ciro nos últimos dias antes do primeiro turno: era um movimento majoritariamente de classe média.
Na faixa de renda logo abaixo, de 2 a 5 salários, Ciro também teve um bom desempenho, ficando com 14% dos votos, quase empatando com Haddad, que pontuou 16%. Foi nessa faixa que Bolsonaro experimentou um crescimento expressivo às vésperas da votação, terminando com 52% dos votos totais.
Bolsonaro também se descolou de Haddad e avançou muito rapidamente nos últimos dias, antes do primeiro turno, entre eleitores com renda entre 1 e 2 salários, pontuando 42%, contra 26% de Haddad e 11% de Ciro.
A força de Haddad ficou muito concentrada no eleitorado com renda familiar até 1 salário, onde ele se distanciou no primeiro turno, com 44% dos votos, contra 26% de Bolsonaro e 10% de Ciro.
Na estratificação por escolaridade, o melhor desempenho de Ciro ficou entre os mais instruídos, com ensino superior, onde ele se descolou de Haddad e fechou em segundo lugar, com 21% dos votos totais. O petista ficou com 14% nesse segmento. Isso também explicaria o clima de “virada” às vésperas da votação. Nesta faixa, Bolsonaro ficou com 47%.
MIGUEL DO ROSÁRIO
Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.