As vozes das ruas
Germano Oliveira é diretor de redação da revista ISTOÉ
O fato de as comemorações do Dia do Trabalho terem sido um grande fracasso, levou à constatação óbvia: o trabalhador não acredita mais em seus líderes sindicais, que antes manipulavam os sindicalizados como moeda de troca para seus conchavos e picaretagens e agora já não conseguem engabelar ninguém. Pior: pouca gente está disposta a se dirigir a manifestações propostas pelos dirigentes dessas entidades, que, invariavelmente, são compostas por políticos à frente dos partidos que dizem representar os fracos e oprimidos. Ledo engano. O povo não é bobo. Se ainda há poucos gatos pingados nesses eventos é para aplaudir músicos famosos. O que eles querem, na realidade, é que os sindicalistas gritem palavras de ordem contra a inflação e juros abusivos (ambas as taxas na casa dos 13%), contra o desemprego e a fome. Mas eles só pensam na eleição.
Os atos esvaziados deste Primeiro de Maio são a demonstração cabal dessa apatia dos trabalhadores. Eles não conseguem ser ouvidos. E isso aconteceu tanto no ato promovido pelas centrais sindicais mais importantes, como a CUT (braço trabalhista do PT) e a Força Sindical (o grupo que domina o Solidariedade). O circo foi armado nesses eventos como forma de mostrar apoio a Lula. O ex-presidente, forjado no movimento sindical do ABC, agora precisa chamar Daniela Mercury para ver se junta umas cinco mil pessoas no Pacaembu e, assim, poder discursar e continuar enganando o povo. Disse que se for eleito jogará na lata do lixo a reforma trabalhista feita em 2017, no governo Temer, do MDB, que ele acusou de golpista, mas que agora deseja ter como apoio para a sua candidatura. Quer novamente cooptar a máquina sindical.
Lula, porém, não se desgastou sozinho. Bolsonaro, aquele que quer dar um golpe desde o início do governo, também saiu queimado. Reuniu umas cinco mil pessoas na Avenida Paulista e outro tanto defronte a Praça dos Três Poderes, em Brasília, e nem conseguiu discursar. Ficou cinco minutos no local. O Centrão, preocupado com suas tradicionais declarações desastradas, o proibiu de falar. Apesar de ter convocado os seus pitbulls em apoio aos atos que enalteceriam sua reeleição, poucos foram aos eventos, a não ser os milicianos da falange do ódio, que ainda esperam que o capitão endureça mais o discurso contra a democracia. Cada dia estão mais ansiosos para que os militares fechem o Congresso e o STF.
No fundo, é que o povo não está disposto a referendar as candidaturas nem de Lula e nem de Bolsonaro, à espera de que surja uma terceira alternativa. Todos estão cansados dos candidatos que representam o extremismo, tanto de direita, como de esquerda. Os trabalhadores desejam é que os presidenciáveis adiram às suas lutas pela sobrevivência do dia a dia.
O problema é que nem Lula e nem Bolsonaro conseguem mais ouvir as vozes das ruas.