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Eleições municipais são decisivas para cumprir metas de saneamento

*Conteúdo patrocinado produzido pelo Estúdio Folha

O desafio de levar água potável e coleta e tratamento de esgoto a todos os brasileiros pode ir além das metas do novo Marco Legal do Saneamento. Entre os milhões de cidadãos ainda sem acesso a esses serviços básicos estão residentes de áreas ocupadas irregularmente e ainda ausentes dos planos de expansão das administrações municipais, sendo consideradas inelegíveis.

"Onde está o 100% de serviço?", questiona Nelson Arns Neumann, médico epidemiologista, integrante do Conselho Administrativo da Pastoral da Criança Internacional e embaixador do Instituto Trata Brasil. Segundo ele, moradores de baixa renda vivendo em áreas consideradas técnica ou juridicamente inelegíveis precisam de alguma forma ser contemplados com água e coleta de esgoto. "Posso entender ‘áreas não-elegíveis’, o que eu não entendo é ‘ser humano não-elegível’."

Neumann defende que os esforços pela universalização dos serviços de saneamento básico no Brasil sigam o princípio de equidade. "Temos de oferecer serviços segundo a necessidade das pessoas", afirma, lembrando que uma diarreia causada por falta de água potável e exposição a esgoto bruto é muito mais perigosa para crianças ou idosos de famílias de baixa renda.

"Uma pessoa desnutrida em uma favela com mais dificuldades de acesso à saúde não tem reservas para perder em uma diarreia." Para Neumann, os investimentos no setor precisam ter como prioridade as comunidades mais carentes. "As pessoas que precisam mais deveriam receber o investimento primeiro. Investir com equidade é um ponto fundamental."

Segundo Luana Siewert Pretto, presidente-executiva do Instituto Trata Brasil, a entrega de serviços a áreas consideradas irregulares tem avançado, após ter sido facilitada pelos termos do novo Marco Legal. "Antes de 2020, as companhias não podiam entrar em áreas irregulares", afirma, referindo-se a restrições jurídicas.

Como exemplo dos avanços, ela cita comunidades de baixa renda do Rio de Janeiro, onde a companhia de saneamento tem hoje uma proximidade muito maior com os moradores. "Vários dos funcionários da empresa de saneamento são membros da comunidade", diz. "Sem a participação dos moradores, não tem como fazer o serviço."

Nelson Arns Neumann reforça a ideia de que serviços de saneamento precisam ser vistos como investimento direto nos cidadãos, mensagem que ele gostaria de ver adotada pelos futuros prefeitos que serão eleitos em outubro. "Saneamento também significa melhor desempenho escolar, melhor saúde e, no futuro, melhor empregabilidade dos moradores."

*Conteúdo patrocinado produzido pelo Estúdio Folha

A apenas nove anos do prazo de vencimento das metas estabelecidas pelo novo Marco Legal do Saneamento, as cidades brasileiras não têm tempo a perder, o que faz das eleições municipais de outubro deste ano um momento vital para o país avançar no acesso à água potável e esgoto tratado para a maioria da população brasileira.

"A eleição deste ano é primordial", diz a presidente-executiva do Instituto Trata Brasil, Luana Siewert Pretto. "Se somente lá em 2028 estivermos discutindo sobre adotar alguma solução para o saneamento básico, será impossível concretizá-la a tempo."

Tais compromissos, definidos com a sanção do novo Marco Legal do Saneamento Básico em julho de 2020, preveem o acesso à água potável para 99% da população brasileira e de coleta e tratamento de esgoto para 90% até 31 de dezembro de 2033.

Recente estudo produzido pelo Trata Brasil, organização da Sociedade Civil de Interesse Público que desde 2007 trabalha pela universalização desse serviço básico, e pela consultoria GO Associados, entretanto, mostra que, se mantido o ritmo de investimento registrado até 2022 – último ano com dados disponíveis pelo Ministério das Cidades –, as metas só serão atingidas em 2070.

A urgência explica por que o pleito municipal deste ano será decisivo. "O prefeito que assumir entregará a administração em 2029, muito próximo da data final de cumprimento das metas", lembra Siewert Pretto. "O compromisso desse prefeito eleito com o saneamento básico é primordial para que haja uma perspectiva de atingirmos a meta em 2033."

Investimentos em água e saneamento precisam de tempo e planejamento para se tornarem realidade. Os 13 anos oferecidos pela legislação eram suficientes para mudar a realidade brasileira, contanto que fossem tomadas ações imediatas por parte das administrações municipais – responsáveis pelo serviço, segundo a Constituição.

"O saneamento tem um período de maturação muito grande", afirma a presidente do Trata Brasil. "Tem que se fazer o projeto, depois o licenciamento ambiental, depois as obras, para aí a população ter acesso ao serviço. Estamos falando de um ciclo de três, quatro anos para que as coisas comecem a acontecer."

PONTO DE PARTIDA

O arcabouço legal trazido pelo Marco do Saneamento foi um ponto de partida para que o Brasil possa viabilizar a universalização dos serviços em todo o território nacional.

Como explica Siewert Pretto, a lei de 2020 tem vários aspectos positivos. Principalmente, o novo Marco Legal lançou luz sobre o problema do saneamento no país; criou um senso de urgência para a expansão dos serviços; estabeleceu um padrão único para todo o país; estimulou a concorrência entre provedores de serviços públicos e privados; e centralizou na ANA (Agência Nacional de Água e Saneamento) a edição das normas que regulam o setor.

Isso já desencadeou avanços significativos nos investimentos e serviços de saneamento básico. Estados e municípios que não tinham capacidade financeira recorreram a soluções previstas no novo Marco Legal, como concessões e privatizações.

Um exemplo positivo vem do Amapá, que aumentou de 26% para 46% sua cobertura de água potável em apenas um ano graças à concessão que atraiu recursos da iniciativa privada. O Amapá, um estado pequeno, que tinha indicadores muito ruins, fez uma captação de mais de R$ 1 bilhão.

RANKING COMO REFERÊNCIA

Desde 2009, o Instituto Trata Brasil produz anualmente um Ranking do Saneamento Básico, listando as cidades com os melhores e piores desempenhos entre os cem maiores municípios do país.

Nas primeiras posições estão Maringá (PR), cujo saneamento é gerido pela Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná), São José do Rio Preto (SP), onde uma autarquia municipal administra o serviço, e Campinas (SP), cidade em que uma autarquia de economia mista, com a administração municipal detendo 99% do controle, é responsável pelo sistema.

Campinas avançou 18 posições de um ano para o outro e é uma das poucas que já atingiram a universalização. O município aparece com 99,69% em distribuição de água potável e 95,89% em serviço total de esgoto. A cidade investiu R$ 1,01 bilhão desde 2021, sendo R$ 639 milhões para coleta e tratamento de esgoto, com novas estações e redes.

O mais recente balanço do Instituto Trata Brasil mostra 32 milhões de brasileiros sem acesso à rede de abastecimento de água e 90 milhões não conectados à rede coletora de esgoto. O Brasil precisa investir, em média, até 2033, R$ 46,3 bilhões por ano em saneamento básico, mais que o dobro da média dos últimos cinco anos até 2022 – de R$ 20,9 bilhões.

"A gente está melhor do que já esteve no passado, a aprovação do novo Marco Legal trouxe um outro ritmo aos investimentos", diz Siewert Pretto. "Mas ainda não estamos no ritmo necessário." O compromisso dos prefeitos eleitos em outubro e a constante cobrança dos eleitores serão essenciais para que o Brasil acelere esse processo e cumpra suas metas daqui a nove anos.

Desafio é ainda maior para comunidades irregulares

O desafio de levar água potável e coleta e tratamento de esgoto a todos os brasileiros pode ir além das metas do novo Marco Legal do Saneamento. Entre os milhões de cidadãos ainda sem acesso a esses serviços básicos estão residentes de áreas ocupadas irregularmente e ainda ausentes dos planos de expansão das administrações municipais, sendo consideradas inelegíveis.

"Onde está o 100% de serviço?", questiona Nelson Arns Neumann, médico epidemiologista, integrante do Conselho Administrativo da Pastoral da Criança Internacional e embaixador do Instituto Trata Brasil. Segundo ele, moradores de baixa renda vivendo em áreas consideradas técnica ou juridicamente inelegíveis precisam de alguma forma ser contemplados com água e coleta de esgoto. "Posso entender ‘áreas não-elegíveis’, o que eu não entendo é ‘ser humano não-elegível’."

Neumann defende que os esforços pela universalização dos serviços de saneamento básico no Brasil sigam o princípio de equidade. "Temos de oferecer serviços segundo a necessidade das pessoas", afirma, lembrando que uma diarreia causada por falta de água potável e exposição a esgoto bruto é muito mais perigosa para crianças ou idosos de famílias de baixa renda.

"Uma pessoa desnutrida em uma favela com mais dificuldades de acesso à saúde não tem reservas para perder em uma diarreia." Para Neumann, os investimentos no setor precisam ter como prioridade as comunidades mais carentes. "As pessoas que precisam mais deveriam receber o investimento primeiro. Investir com equidade é um ponto fundamental."

Segundo Luana Siewert Pretto, presidente-executiva do Instituto Trata Brasil, a entrega de serviços a áreas consideradas irregulares tem avançado, após ter sido facilitada pelos termos do novo Marco Legal. "Antes de 2020, as companhias não podiam entrar em áreas irregulares", afirma, referindo-se a restrições jurídicas.

Como exemplo dos avanços, ela cita comunidades de baixa renda do Rio de Janeiro, onde a companhia de saneamento tem hoje uma proximidade muito maior com os moradores. "Vários dos funcionários da empresa de saneamento são membros da comunidade", diz. "Sem a participação dos moradores, não tem como fazer o serviço."

Nelson Arns Neumann reforça a ideia de que serviços de saneamento precisam ser vistos como investimento direto nos cidadãos, mensagem que ele gostaria de ver adotada pelos futuros prefeitos que serão eleitos em outubro. "Saneamento também significa melhor desempenho escolar, melhor saúde e, no futuro, melhor empregabilidade dos moradores."

 

Goiânia tem blitz de Bolsonaro e Caiado para alavancar candidatos na reta final

Ranier Bragon / FOLHA DE SP

 

Goiânia

A eleição para a Prefeitura de Goiânia chega à reta final com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o governador do estado, Ronaldo Caiado (União Brasil), intensificando o corpo a corpo para tentar alavancar seus candidatos, em uma disputa acirrada que envolve, por ora, ao menos quatro nomes competitivos.

Bolsonaro foi a um comício na capital de Goiás na quinta-feira da semana passada (24) em apoio ao nome do ex-deputado estadual Fred Rodrigues (PL), para quem já gravou vários vídeos dizendo ser ele, Fred, o verdadeiro e único candidato da direita na capital goiana.

Na segunda-feira (30) foi a vez da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro desembarcar na cidade para gravar apoio e participar de ato em prol do candidato.

"Queremos sim, Fred, trabalhar, queremos sim te eleger como o primeiro prefeito verdadeiro de direita. Nós estamos vendo tantos oportunistas, mas sempre falo que a verdade prevalecerá", disse Michelle no evento.

Já Caiado promoveu no domingo (30) um passeio ciclístico ao lado de seu apadrinhado, o empresário e ex-deputado federal Sandro Mabel (União Brasil). No dia seguinte, os dois estiveram juntos novamente em uma carreata na zona sul da cidade. Nesta quarta, visitaram a rua 44, famoso polo local de comércio de roupas.

Caiado e Bolsonaro tem um histórico de afagos e atritos. A atual disputa pelo voto conservador de Goiânia tem como pano de fundo também a busca de protagonismo do governador nos próximos anos, já que ele manifesta o desejo de disputar o posto de representante da direita —Bolsonaro está inelegível— na possível disputa contra Lula (PT) em 2026.

Uma derrota na capital do estado reduziria consideravelmente o capital político de Caiado.

Nos debates, na propaganda eleitoral na TV e nas redes sociais Fred Rodrigues e seus aliados regionais —o principal deles, o deputado federal Gustavo Gayer (PL)— têm direcionado a artilharia contra Mabel.

Fred tem 39 anos e tentou ser vereador em 2020, sem sucesso. Foi eleito deputado estadual dois anos depois, mas teve o mandato cassado em 2023 por irregularidades na prestação de contas da campanha anterior.

Os bolsonaristas batem repetidas vezes na tecla de que Mabel não seria um candidato genuinamente de direita e tentam colar nele a estrela vermelha do PT, já que no passado chegou a elogiar o governo Dilma Rousseff (PT).

 

No comício da semana passada, além de se referir a Caiado como "governador covarde", Bolsonaro chamou Mabel de candidato da "rosquinha" que já elogiou Dilma.

Em live nesta quarta (2), na qual pediu votos para uma série de candidatos pelo país, o ex-presidente falou do cenário de Goiânia e disse: "O Fred é nosso candidato. Vamos lá passar o trator em cima do candidato do governador".

Bolsonaro, porém, negou que tenha chamado Caiado de covarde na semana passada e disse que estava se referindo a todos os governadores que adotaram medidas restringindo a circulação na época da pandemia.

Mabel, diante dos ataques, veiculou propaganda em que afirma ter liderado a direita em Goiás para destituir Dilma, "que estava acabando com o país". "Sempre fui de direita, sempre em defesa da família e da pátria."

O empresário, que tem 65 anos, traz no sobrenome a empresa de biscoitos da família, vendida à Pepsico em 2011, que a revendeu em 2022 à Camil.

Ele foi deputado federal por quatro mandatos, de 1995 a 2015, além de ter sido assessor especial da Presidência no governo de Michel Temer (2016-2018). Com bens declarados de R$ 313 milhões, é o mais rico dos candidato nas 103 maiores cidades do Brasil (com mais de 200 mil eleitores).

Nos eventos que participou nos últimos dias, Caiado voltou a bater na tecla de que Mabel é o gestor mais preparado entre os candidatos.

Goiânia registrou no segundo turno de 2022 64% dos votos válidos para Bolsonaro e 36% para Lula.

A fatia do eleitorado conservador é disputada ainda por outro candidato de centro-direita, o empresário e senador Vanderlan Cardoso (PSD), que já disputou a prefeitura da cidade em 2020, perdendo no segundo turno para Maguito Vilela (MDB).

Sem padrinhos, o senador tem caído nas pesquisas, mas ainda está no páreo para uma vaga no segundo turno.

A única candidata de esquerda na majoritariamente conservadora Goiânia é a deputada federal Adriana Accorsi (PT), que é filha de um ex-prefeito da cidade e delegada da Polícia Civil.

Ela tem usado o nome e a imagem de Lula, mas de maneira muito mais discreta em relação ao massivo uso dos padrinhos pelas campanhas de Mabel e Fred.

No segundo pelotão de candidatos aparecem o jornalista Matheus Ribeiro (PSDB) e o prefeito de Goiânia, Rogério Cruz (Solidariedade), radialista e pastor da Igreja Universal. Ele assumiu a função em janeiro de 2021, ainda no primeiro mês de mandato de Maguito Vilela, que morreu vítima de complicações da Covid-19.

Cruz enfrentou desgastes devido, entre outras, a crises na coleta de lixo e na área da saúde na cidade, o que levou o seu próprio partido, o Republicanos, a vetar a legenda para a sua reeleição.

O prefeito migrou então para o Solidariedade, mas até o momento tem ido mal nas pesquisas. Levantamento da Quaest divulgado no início de setembro mostrou que 53% da população rejeita sua administração.

Caiado e Bolsonaro se enfrentam ainda nas outras duas maiores cidades de Goiás, as únicas que além de Goiânia com mais de 200 mil eleitores e que, portanto, podem ter segundo turno.

Em Aparecida de Goiânia, Caiado tem como candidato Leandro Vilela (MDB). Bolsonaro, Professor Alcides (PL). Em Anápolis, Caiado caminha para sofrer uma derrota. Sua candidata, Eerizania Freitas (União Brasil) não decolou em pesquisas. O nome de Bolsonaro, Marcio Correa (PL), rivaliza com o petista Antonio Gomide.

BOLSONARO MICHELE E CAIADO

 

 

 

Prefeito e vice de Baturité conseguem liminar na Justiça suspendendo a inelegibilidade

Escrito por Igor Cavalcante / DIARIONORDESTE

 

O ministro André Mendonça, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), concedeu, nesta terça-feira (1º), efeito suspensivo à decisão que condenou à inelegibilidade por oito anos o prefeito de Baturité, Herberlh Mota (Republicanos), e do seu vice, Irmão Carlinhos (PSB). A decisão ainda beneficia o deputado federal Eduardo Bismarck (PDT) e o suplente de deputado estadual Audic Mota (MDB), condenados ao mesmo período de inelegibilidade. A dupla de parlamentares também foi punida com a cassação dos diplomas.

O caso se arrasta desde as eleições de 2022, quando o grupo foi acusado de abuso do poder político e de autoridade naquele pleito. Conforme a acusação do Ministério Público Eleitoral (MPE), o prefeito teria usado as redes sociais da Prefeitura para exaltar a imagem dos dois parlamentares, desequilibrando a disputa.

Os políticos conseguiram decisão favorável no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-CE). A Corte estadual julgou improcedentes as denúncias. Contudo, a decisão foi reformada no TSE, que determinou as inelegibilidades e as cassações dos diplomas dos deputados. Eles recorreram da decisão por meio de embargos de declaração, solicitando efeito suspensivo.

André Mendonça decidiu conceder efeito suspensivo à decisão colegiada em caráter excepcional, considerando o “risco de dano irreparável” aos políticos, especialmente porque o prefeito e o vice disputam a reeleição na Cidade. Na prática, a decisão suspende os efeitos da condenação do TSE até que os embargos de declaração sejam julgados pelo colegiado.

Conforme o ministro ressaltou na decisão, até esta segunda-feira, não há qualquer previsão sobre o julgamento do mérito dos embargos de declaração. 

Indeferimento

Nesta segunda-feira, o registro de candidatura à reeleição do prefeito Herberlh Mota e do seu vice, Irmão Carlinhos, foi impugnado pelo TRE-CE. A Corte foi unânime em negar provimento ao recurso da coligação em processo de inelegibilidade por abuso de poder político e autoridade.

Mesmo com a determinação, a dupla segue sub judice e ainda pode seguir em campanha e ser votada nas urnas em 6 de outubro, devido a julgamento pendente de embargos de declaração no processo que originou a contestação sobre a chapa.

Irmão de Gilmar Mendes, candidato em MT, critica extremismo e se abraça a Bolsonaro

Lázaro ThorJoão Pedro Pitombo / folha de sp

 

Diamantino (MT) e Salvador

Era uma terça-feira, 9 de abril, quando Jair Bolsonaro (PL) desembarcou em Diamantino, cidade do interior de Mato Grosso. O ex-presidente participou de um ato político, comeu um pastel em uma barraca e foi recebido em um churrasco na fazenda de Reinaldo Moraes, o "Rei do Porco".

Entre uma garfada e outra, falou ao telefone com o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes, filho da terra e irmão do candidato a prefeito Francisco Ferreira Mendes Júnior, o Chico Mendes (União Brasil).

Acossado por investigações e com uma relação conflituosa com ministros do STF, Bolsonaro deixou de lado o bolsonarismo raiz para endossar a candidatura do irmão de Gilmar em Diamantino.

O apoio do ex-presidente e a influência política do clã Mendes deixaram Chico Mendes na condição de favorito na disputa contra Carlos Kan (Novo) —são apenas dois candidatos na cidade, que não tem representantes da esquerda na corrida pela prefeitura.

Com 22 mil habitantes, Diamantino é marcada pela onipresença do agronegócio, com uma profusão de caminhões trafegando no perímetro urbano. A Folha esteve na cidade no último sábado (28), mas em meio a suas largas avenidas não havia sinal de eventos de campanha eleitoral.

Os candidatos aproveitaram o dia para buscar votos nos distritos rurais de Bojuí e Deciolândia —cerca de 2.000 dos 16 mil eleitores de Diamantino vivem na zona rural, em povoados que chegam a ficar mais de 100 km distantes do centro da cidade.

Fundada em 1728 e elevada a vila em 1820, Diamantino é uma das cidades mais antigas de Mato Grosso e já foi o município com maior extensão territorial do estado, de onde se desmembraram outras 22 cidades.

A família Mendes tem tradição na política local. A cidade já foi governada pelo avô e pelo pai de Gilmar. O irmão, Chico Mendes, já foi prefeito de 2001 a 2008, quando se elegeu por PSB e PPS (hoje Cidadania), e agora tenta voltar à prefeitura para um terceiro mandato.

Nos últimos anos, Diamantino se tornou um reduto de Bolsonaro, onde ele teve 62% dos votos válidos em 2022. A 182 km de Cuiabá, a cidade fica em uma região de transição entre a baixada cuiabana, com expressiva votação em Lula, e os municípios do chamado "nortão", onde Bolsonaro teve adesão ainda maior.

A visita de Bolsonaro ao município é apontada como um ponto fora da curva até por bolsonaristas de Mato Grosso. Diamantino não estava na rota do ex-presidente quando visitou o estado em abril.

A ideia inicial era ir a Sinop, onde ocorreria uma feira agropecuária, mas uma passagem pela cidade de Gilmar foi articulada pelo senador Wellington Fagundes (PL) e pela deputada Amália Barros (PL), que morreu em maio.

Até então, o grupo político de Carlos Kan se ancorava em discurso de moralidade e anticorrupção para vencer o irmão do ministro. Mas a adesão de Bolsonaro ao rival nas urnas pegou a todos de surpresa.

"A gente queria entender, mas quem tem mais força política? O cara que está lá no Supremo ou quem está iniciando? Nós somos pessoas do baixo clero fazendo campanha", afirma Claudimar Barbacovi, coordenador de campanha de Carlos Kan em Diamantino.

Ele afirma que o eleitorado bolsonarista de Diamantino ainda não compreendeu o apoio do ex-presidente a Chico Mendes, que entrou na disputa aliado ao PSD, partido do senador licenciado Carlos Fávaro, hoje ministro da Agricultura do governo Lula.

O PL de Bolsonaro indicou o empresário Antônio da Carol como candidato a vice e doou R$ 300 mil para a campanha —o valor é equivalente ao repassado pelo partido a Tião Bocalom, em Rio Branco, um dos dois prefeitos de capital do PL e candidato à reeleição.

Empresário do agronegócio e dono de um patrimônio de R$ 56,4 milhões, Chico Mendes viveu um hiato eleitoral de 16 anos, atuando nos bastidores da política local e sem disputar cargos eleitorais.

O prefeito Manoel Loureiro (MDB) não concorre à reeleição nem apoia um dos candidatos. Ele foi alvo de operação da Polícia Civil em 2023, quando foi divulgado um vídeo em que aparece recebendo dinheiro.

No ano passado, antes da operação, Chico, Gilmar e Loureiro estiveram juntos na solenidade que marcou a compra de um hospital pela prefeitura por R$ 6 milhões. Mas o agora candidato a prefeito nega ter relação de proximidade com o atual ocupante do cargo.

Chico Mendes também não conhecia Bolsonaro até o encontro em abril e diz que agora fala com o ex-presidente toda semana, por mensagens de texto. Apesar da proximidade, afirma não embarcar no discurso bolsonarista, que classifica como extremo.

"De repente, não é nem culpa do Bolsonaro. Nós cidadãos é que muitas vezes somos extremistas", afirmou Chico Mendes à Folha.

Aliados de Bolsonaro afirmam ver a aliança como um aceno do ex-presidente a Gilmar. Mas o candidato a prefeito nega influência do irmão e diz fazer questão de separar sua atuação política com as posições de Gilmar como ministro do STF.

 

"Em virtude da vida que o Gilmar leva a gente cuida muito para não transformar aquilo que é um relacionamento de irmão em um relacionamento comercial", afirmou Chico, que não é sócio do ministro em nenhum de seus negócios.

Gilmar apareceu em um vídeo da campanha eleitoral do irmão. Nele, são mostrados depoimentos dos irmãos Chico, Gilmar, Moacyr e Conceição sobre a trajetória da mãe, Nilde Alves Mendes, que morreu em 2007. O decano do STF fala sobre a perda da mãe em tom emocionado.

Chico Mendes também diz não falar sobre decisões judiciais com Bolsonaro: "A gente fala de tudo, menos de um assunto jurídico. Ele tem uma timidez característica e sequer menciona o assunto. Nós evitamos, até para que eu não seja uma ponte que possa ligar ele ao ministro Gilmar."

O STF deve se debruçar sobre ações que envolvem Bolsonaro na corte, incluindo os inquéritos que o indiciaram nos casos da falsificação de certificados de vacinas contra a Covid-19 e o das joias, que apura o possível desvio de presentes dados por autoridades estrangeiras ao então presidente.

Bolsonaro também é investigado no inquérito dos ataques de 8 de janeiro, no qual é apontado como líder de uma organização criminosa que planejou um golpe de Estado para se manter no poder.

bolsonaro e chico mendes

Domínio de Marçal nas redes preocupa rivais em SP com o fim do horário eleitoral na TV

Por  e — São Paulo / O GLOBO

 

Com a permanência do empate triplo registrado na última pesquisa Quaest para a prefeitura de São Paulo, cresceu a preocupação nas campanhas com as 72 horas que antecedem a votação, após o fim do horário eleitoral no rádio e na TV. O temor da equipe de Ricardo Nunes (MDB) é com a vantagem de Pablo Marçal (PRTB) nas redes sociais. Tanto o prefeito quanto Guilherme Boulos (PSOL) traçam estratégias para a reta final, nas ruas e na internet, e contam com bom desempenho no debate promovido pela TV Globo, na quinta-feira.

 

Nesta campanha, de acordo com levantamento da consultoria Bites revelado pelo colunista Lauro Jardim, Nunes ficou na quarta posição em interações nos seus posts nas redes sociais (1 milhão) e em novos seguidores (38 mil).

 

Professor de Direito Eleitoral da Fundação Getulio Vargas (FGV), Fernando Neisser esclarece que a legislação veda propaganda nas redes sociais 48 horas antes da eleição e que a própria Meta, dona do Facebook e do Instagram, deve bloquear esse tipo de pagamento a partir das 8h da sexta-feira. Isso significa que, a partir desse horário, toda a propaganda digital passa a ser orgânica, beneficiando quem se mostra mais competitivo no meio digital sem rodar anúncios. Boulos e Nunes, que contam com mais dinheiro para investir em tráfego pago, ficam atrás de Marçal em termos de engajamento.

 

Nunes, por exemplo, gastou R$ 4,4 milhões em anúncios somente no mês de setembro, enquanto a despesa de Boulos chega a R$ 3,7 milhões. Marçal, que conta com milhões de seguidores nas redes sociais e uma legião de perfis de terceiros reproduzindo os seus conteúdos, investiu R$ 465 mil no mesmo período, segundo a Meta.

 

No dia da votação, os candidatos estão proibidos de veicular qualquer tipo de material nas plataformas, sob pena de cometerem crime eleitoral. Os conteúdos divulgados anteriormente, no entanto, podem permanecer ativos, o que possibilita que as pessoas, na prática, continuem sendo impactadas pela propaganda de acordo com a distribuição dos conteúdos mediada pelas plataformas.

 

Distribuição no zap

Na terça-feira, em conversa por vídeo, Marçal convocou apoiadores a espalharem materiais do candidato em grupos fechados de Whatsapp e redes similares para tentar virar votos. O ex-coach prometeu enviar uma lista de respostas prontas para os temas mais críticos a seu respeito. Segundo a Quaest divulgada na segunda Marçal tem 52% de rejeição, atrás apenas de José Luiz Datena (PSDB), com 68%.

 

Marçal aposta em um “voto envergonhado” que não seria captado pelas pesquisas.

 

— De tanto que bateram em mim, as pessoas não estão querendo nem na pesquisa falar (que votariam nele)— disse Marçal.

 

O ex-coach ainda deve lançar mão de sua mulher, Ana Carolina, na campanha, para tentar reverter a rejeição no eleitorado feminino. Na segunda, no debate promovido pelo jornal “Folha de S. Paulo”, Marçal disse que “mulher não vota em mulher” por ser “inteligente”, ao tentar argumentar que o público feminino leva em conta outros aspectos ao decidir o voto.

 

A campanha de Nunes vai tentar compensar o fraco desempenho nas redes, com agendas de rua e eventos segmentados com o empresariado, mercado financeiro e lideranças religiosas, por exemplo. E o foco da campanha nesta reta final está no debate da TV Globo. O emedebista se preocupa com a estabilidade que Marçal adquiriu nas pesquisas.

 

Nas agendas de rua, o emedebista foi aconselhado a concentrar seus esforços na Zona Leste, região onde tem a gestão bem avaliada e ainda teria espaço para crescer. Outra estratégia é dar destaque às mulheres para tentar surfar na rejeição deste grupo a Marçal. A estratégia já começou, com vídeos nas redes sociais e na TV destacando falas negativas do ex-coach sobre o público feminino.

 

O prefeito contará, na reta final, com a ajuda de candidatos a vereadores — são 600 na coligação — para espalhar as ações de rua pela cidade. O maior ativo de Nunes, no entanto, é o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). O aliado deve estar com o prefeito durante toda a semana, no sábado e também no domingo, na hora da votação e na apuração dos resultados.

 

Esperança final

A campanha de Boulos, por sua vez, aposta em uma caminhada na Avenida Paulista, no sábado, com o presidente Lula e Marta Suplicy (PT), vice na chapa. Além disso, o psolista deve reeditar uma série de agendas nos extremos da capital paulista, como Paraisópolis e Perus.

 

Tanto a caminhada com Lula como a ida às periferias refletem a esperança de Boulos de avançar sobre o voto do eleitorado lulista, o que o candidato não conseguiu ao longo da campanha — tem 48% de preferência entre os que votaram no presidente em 2022.

 

O PT decidiu levar os militantes e apoiadores para terminais de ônibus ou ruas principais dos centros de bairro, que são zonas de comércio mais movimentadas no fim de tarde, a partir das 17 horas, quando o trabalhador está voltando para casa.

 

O número de militantes nas ruas também será ampliado. Os diretórios petistas regionais de maior força estão em Cidade Tiradentes, Guaianases e Itaim Paulista, na zona Leste, Parelheiros, Grajaú e M’boi Mirim, na zona sul, Brasilândia e Perus, na zona norte. O embate na TV Globo, amanhã, também é um ponto de atenção. A ideia é que Boulos mantenha a linha de apresentar projetos e evite tensões com Marçal.

 

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