Taxa do lixo, CPI do Narcotráfico e saúde dominam último debate antes da eleição em Fortaleza
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Candidatos a prefeito de Fortaleza tiveram, nesta quinta-feira (3), último embate antes dos eleitores irem às urnas no próximo domingo (6). Temas como segurança e saúde deram o tom do debate da TV Verdes Mares — que encerra a campanha eleitoral na capital cearense. O confronto de ideias foi apresentado pelo jornalista Leal Mota Filho.
Seis candidaturas estiveram presentes no debate eleitoral: André Fernandes (PL), Capitão Wagner (União), Evandro Leitão (PT), George Lima (SD), José Sarto (PDT) e Técio Nunes (Psol).
As escolhas se basearam nos candidatos que possuem pelo menos cinco representantes do partido no Congresso Nacional, em conformidade com o artigo 46 da lei 9.504/97, e os que atingiram, ao menos, 10 pontos porcentuais (sem contar a margem de erro) na mais recente pesquisa eleitoral Quaest, contratada pela TV Verdes Mares.
O embate entre os candidatos foi dividido em quatro blocos. Na dinâmica, eles tiveram embates diretos com os adversários na dinâmica de perguntas e respostas — com os blocos intercalando temas sorteados e temas de livre escolha de cada candidato.
PRIMEIRO BLOCO
Evandro Leitão iniciou a primeira rodada de perguntas e escolheu questionar José Sarto. O petista perguntou como foi o uso dos recursos arrecadados com a taxa do lixo da Prefeitura de Fortaleza.
Em resposta, Sarto relembrou que "70% da população não paga a taxa do lixo" e que a criação do tributo foi uma imposição por lei federal. Ele também criticou a proposta do adversário de acabar com a taxa. "Quando fala que vai cortar a taxa do lixo, ou corta de programas da saúde e da educação ou vai aumentar ISS ou IPTU", disse.
Na sequência, José Sarto escolheu André Fernandes para ser questionado. Ao indagar sobre propostas para mulheres, o pedetista citou processo judicial contra André Fernandes por supostas ameaças contra uma jornalista, falas do candidato do PL sobre feminicídio e o voto contrário de Fernandes no projeto que equiparava salários de homens e mulheres.
Em resposta, Fernandes admitiu que errou, mas que a ação judicial foi resolvida. "Respondendo sobre a jornalista, todo mundo comete erros. Cometi um erro, sem ameaça. Sobre a ofensa, pedi desculpa, fui desculpado", disse. "Você que não respeitou as mulheres quando fechou o Gonzaguinha da Messejana".
André Fernandes escolheu George Lima para a pergunta de tema livre. O candidato do PL fez críticas ao atual prefeito José Sarto e questionou: "O que você acha de um candidato que não tem o apoio da própria cachorrinha?", disse em referência à cadela Marrion.
Na resposta, George Lima também criticou Sarto. "Em Fortaleza, só falta uma coisa: prefeito. Nós não temos prefeito", ressaltou. Ele disse que votou em Sarto em 2020 e se arrependeu: "o Sarto não estava com vontade de ser prefeito. Infelizmente, nós perdemos quatro anos".
Lima perguntou a Capitão Wagner sobre a capacidade do adversário de implementar medidas na segurança pública. "Você acha que o seu exemplo de confrontar a lei e realizar motim, é você que vai trazer a paz (para Fortaleza)?", indagou.
Wagner rebateu e disse que "a candidatura do PT usa outra candidatura para nos atacar". Ele criticou Evandro Leitão por não ter assinado requerimento, em 2018, para instalação da CPI do Narcotráfico na Assembleia Legislativa do Ceará. "Eu já era ameaçado pelas facções e defendi a CPI, porque para ser prefeito de Fortaleza precisa ter pulso firme, precisa ter coragem", completou.
Na sequência, Wagner perguntou as propostas de Técio Nunes para Educação. Nunes afirmou que irá garantir o piso salarial dos professores e fará uma atualização do plano de cargos e carreiras da categoria. "Nós vamos ter uma relação respeitosa e até diria de admiração com o sindicato que representa essa categoria", destacou.
Em réplica, Capitão Wagner elencou propostas para os professores temporários, como atendimento no Instituto de Previdência do Município (IPM), um contrato de quatro anos e a garantia do pagamento do piso salarial.
Encerrando o primeiro bloco, Técio Nunes perguntou a Evandro Leitão sobre saúde pública. O candidato petista elencou propostas para a área, como a ampliação do número de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e a contratação de médicos psiquiatras. "Nós vamos reabrir todas as emergências que foram fechadas e vamos entregar o Hospital da Mulher para a mulher", completou.
O candidato do Psol afirmou que a primeira medida que adotará, caso seja eleito, será "acabar com os esquemas das OSS (Organização Social de Saúde)". "Para além disso, nós precisamos zerar as filas, onde tem pessoas que são humilhadas, sem dignidade. Que passam seis, sete meses, às vezes um ano para conseguir uma consulta", disse.
SEGUNDO BLOCO
O segundo bloco foi com temas definidos por sorteio. Sobre meio ambiente, André Fernandes escolheu questionar Evandro Leitão. O candidato do PL perguntou sobre as propostas do petista para aumentar o saneamento básico na Capital.
Em resposta, Evandro ressaltou que a Cidade ainda tem 33% da população sem acesso ao saneamento básico e disse que, se eleito, terá a parceria com o Estado e a União para garantir a cobertura completa. “Até o fim do meu governo, iremos universalizar o saneamento básico de Fortaleza, não tem mais como, no ano em que estamos, ter pessoas sem acesso ao saneamento básico. Teremos essas parcerias e, até o fim do meu governo, toda a população terá acesso ao saneamento básico”, disse. Ele ainda prometeu plantar 100 mil árvores nos bairros da Capital.
Na sequência, o tema sorteado foi saneamento básico e Evandro retomou o assunto, mas agora questionando José Sarto. O petista novamente perguntou ao pedetista sobre a destinação dos recursos obtidos com a taxa do lixo.
Sarto disse que os recursos estão sendo usados na limpeza da cidade e na coleta urbana e criticou seu adversário. “Ele está falando que vai plantar 100 mil árvores, nós já plantamos 261 mil árvores. Ele precisa entender mais e estudar mais. A taxa do lixo, eu já disse, (para revogá-la) ou corta investimentos da saúde e da educação ou aumenta o ISS e o IPTU”, disse.
O terceiro tema sorteado foi infraestrutura. Sobre o assunto, José Sarto questionou Capitão Wagner sobre suas propostas, ressaltando os investimentos feitos até agora pela Prefeitura, com a implementação do “piso tijolinho” em centenas de vias da Cidade.
Wagner respondeu destacando que os investimentos em infraestrutura precisam ter a garantia de “início, meio e fim”. “O sistema que, infelizmente, está posto faz com que a Prefeitura passe o pavimento e a Cagece quebre em uma suposta obra de saneamento no outro dia. Não tem levado a nada essa briga da Prefeitura com o Governo do Estado. E eu concordo que além do asfalto precisamos ter outros tipos de pavimento para garantir que a água seja absorvida pelo solo, para evitar alagamentos”, completou.
O quarto tema sorteado foi Guarda Municipal de Fortaleza (GMF). Capitão Wagner questionou o candidato Técio Nunes sobre as propostas de outros candidatos.
O candidato do Psol prometeu a implementação de um plano de cargos e carreiras para os agentes, caso seja eleito. “É o básico, é o mínimo. E quero chamar a atenção para ninguém cair nessas falsas promessas que tentam vender facilidades, mas brincam com a sua vida. Tem candidato propondo caveirão, propondo que você faça policiamento ostensivo enquanto ele fica no gabinete sem correr risco nenhum”, disse.
Em seguida, foi a vez de Técio Nunes questionar o candidato George Lima sobre cultura. O candidato do Psol perguntou ao adversário do Solidariedade sobre as propostas para o setor.
George ressaltou que a cultura é um “forte braço da economia”. “Vou criar um centro de empreendedorismo e a cultura vai fazer parte disso. Vamos ter o aniversário de 300 anos da Cidade e, até lá, vou cadastrar todos os jovens para ter uma oportunidade na nossa cidade. Vou cadastrar os jovens e receber no centro de empreendedorismo, dar um encaminhamento para a cultura, o turismo, o esporte e o emprego, vou botar o jovem para trabalhar, ajudar o jovem”, concluiu.
Creches foi o último tema sorteado. George Lima perguntou a André Fernandes sobre as propostas do candidato do PL para reduzir o déficit de vagas.
Na resposta, André destacou que há 15 mil pessoas à espera de vagas em creches atualmente em Fortaleza. “Ao invés de só criar novas estruturas e gastar milhões, vamos pegar esses recursos e dar um vale-creche para que as mãezinhas possam matricular seus filhos em uma creche particular conveniada”, defendeu.
No fim do bloco, Capitão Wagner recebeu um direito de resposta após, na réplica do embate entre André Fernandes e George Lima, o candidato do Solidariedade se referir a Wagner como líder de motim. “Queria lamentar pela população de Fortaleza que nos assiste porque o candidato que acabou de ser elogiado ataca o outro candidato e nos ataca, e não ataca o PT (...) Em 2011, eu liderava uma categoria que sofria abusos do Governo, eu defendi minha categoria porque foi assim que aprendi a fazer política, defendendo os menos favorecidos. Me orgulho muito da minha história enquanto policial militar e fico feliz por ter valorizado esses profissionais. Não renego meu passado. Infelizmente, o George só veio nos atacar”, concluiu.
TERCEIRO BLOCO
No embate que abriu a terceira rodada de perguntas, Sarto questionou o candidato Evandro Leitão sobre a CPI do Narcotráfico. O candidato do PDT relatou que, à época, Evandro alegou que tinha medo das organizações criminosas e não deu prosseguimento à investigação. “Quem é contra facção, vota no Leitão?”, indagou.
O petista disse que não iria cair na provocação de Sarto e rebateu dizendo que apoiou a CPI, mas ela não teria seguido por ter viés de “oportunismo político”. Então, o candidato aproveitou o tempo para falar sobre segurança pública. “Eu vou criar o pelotão da Guarda Municipal, em todas as regionais de Fortaleza, para patrulhar as praças públicas, as paradas de ônibus, as escolas, os postos de saúde”, prometeu.
Evandro então perguntou para André Fernandes sobre infraestrutura habitacional. O petista alegou que Sarto não cumpriu o que prometeu na área e a Capital vive um alto déficit habitacional.
André rebateu dizendo que Evandro tem sua parcela de culpa por ter sido filiado ao PDT e ter apoiado a eleição do Sarto, além de dizer que o candidato ainda faz parte do “mesmo grupo político”. “Nós representamos a mudança. Nós temos ideias de verdade para Fortaleza”, afirmou.
Na sequência, André questionou George Lima sobre segurança pública. Na réplica, ele disse que quer uma Guarda Municipal “valorizada, com dignidade e respeito para perseguir bandidos”.
George Lima defendeu o uso de especialistas e pessoas técnicas para a área. “Segurança e política não cabem. Tem que trazer uma pessoa de fora da política, se reunir com todas as polícias do Estado, junto com a Guarda Municipal. Fortaleza precisa de ajuda do governo federal e do governo estadual”, ressaltou.
No tempo para a pergunta, George Lima alegou que estava sendo acusado de ser um “candidato satélite” por Capitão Wagner. “Você tem o direito de se defender, mas vou continuar falando a verdade”, complementou.
Na resposta, Wagner afirmou que George estava com um papel de atacá-lo no debate. Então, ele utilizou o tempo para defender que não é um candidato “em cima do muro” e defendeu ser uma mudança segura. “É uma mudança que vai garantir para a cidade de Fortaleza quatro anos com muito mais tranquilidade, com investimentos em saúde”, salientou.
Na sequência, Capitão perguntou para Técio Nunes sobre políticas públicas para a população de mais de 60 anos, defendendo a ideia de criar o Hospital do Idoso para as “pessoas que nunca foram lembradas pela velha política”.
O candidato do Psol defendeu que é preciso tratar com dignidade as pessoas de mais idade, citando histórias de pessoas idosas que sofreram com a falta de serviços. “Nós precisamos de uma Prefeitura que olhe para esse setor com políticas públicas assertivas. Precisamos apostar na saúde para esse setor, apostar numa inclusão social”, frisou.
No final do bloco, Técio perguntou para Sarto sobre as propostas para o meio ambiente. Ele alegou que a gestão do prefeito foi responsável por desmatar o equivalente a mais de 1.600 campos de futebol em Fortaleza.
Sarto começou rebatendo as críticas de Evandro sobre a atual gestão em relação à Guarda Municipal, defendendo que a última etapa do concurso está em execução, o que vai fazer o efetivo chegar ao total de 1.000 agentes. Sobre a pauta ambiental, o candidato à reeleição defendeu os projetos de parques urbanos e das areninhas encabeçadas pela Prefeitura. “Nós temos políticas de sustentabilidade que são reconhecidas internacionalmente”, defendeu.
QUARTO BLOCO
No último bloco do debate, os temas das perguntas entre os candidatos foram sorteados. O primeiro assunto foi saúde pública. Capitão Wagner afirmou que Evandro Leitão copiou propostas dele para a Saúde e questionou: "Por que não teve coragem de me copiar quando defendi a CPI do Narcotráfico?"
Evandro Leitão disse que o adversário estava "desesperado" e "atacando". "Não vou cair na sua provocação", disse o petista. Leitão citou iniciativas que pretende implementar na área, como a criação do Espaço Girassol, voltado a pessoas autistas, e parceria com clínicas populares.
O segundo tema sorteado foi emprego e renda. Sobre o assunto, o candidato Evandro Leitão perguntou para Técio Nunes sobre as propostas dele para o setor.
Técio reforçou que é preciso aproveitar as potencialidades da Capital, reforçando que a cultura pode ser um desses caminhos. “Não podemos nos contentar em ser o maior PIB do Nordeste e ser uma das cidades mais desiguais (...) E queremos criar food parks municipais, vamos aproveitar as potencialidades de cada região, pegar pessoas que fazem bolo, salgados, que querem cozinhar em várias categorias e profissionalizar, fazer investimentos”, disse.
Limpeza Urbana foi o terceiro tema a ser sorteado e Técio Nunes aproveitou para criticar a taxa do lixo e disse que o tributo "tem valores abusivos". Ele indagou a posição de George Lima sobre o tema.
Em resposta, Lima disse ser uma "vergonha quando se arrecada tanto e ainda tem 900 pontos de lixo". Ele voltou ainda a criticar o prefeito José Sarto, candidato à reeleição. "Desculpe os líderes do PDT, escolheram um candidato fraquíssimo", disse.
O quarto tema sorteado foi conservação de vias públicas. O candidato George Lima escolheu André Fernandes para comentar uma frase que, segundo o postulante do Solidariedade, foi dita a ele por uma criança. “Ele disse que queria que as ruas da cidade fossem mais bonitas”, contou George.
André Fernandes relembrou uma promessa feita pelo atual prefeito da Capital, José Sarto. “Em maio de 2022, o prefeito de Fortaleza prometeu que em 100 dias iria tapar todos os buracos. Já se passaram mais de dois anos e não se concretizou, o povo não entende por que a cidade está toda esburacada, e, quando passa o pavimento, não dura um mês, parece um pavimento ‘Sonrisal”, criticou.
André Fernandes escolheu José Sarto para perguntar sobre o quinto tema sorteado, segurança pública. O candidato do PL questionou o adversário sobre a assinatura que teria retirado no requerimento para abertura da CPI do Narcotráfico na Alece. "Qual foi seu papel na CPI?", indagou.
Sem falar sobre a CPI diretamente, Sarto reforçou que tem trabalhado "dobrado" na área de segurança pública. "Pela total falta de competência do governo do PT", disse. Ele voltou a criticar o posicionamento de Evandro quanto à CPI. "Ele confessa ter medo de levar tiro, tem medo de facção. A população tem razão de ter medo, mas o representante do povo não tem direito de ter medo", destacou.
O sexto e último tema sorteado foi mobilidade urbana. Sarto questionou Capitão Wagner sobre suas propostas para o setor. Na pergunta, o pedetista aproveitou para reforçar que, em sua gestão, implantou o passe livre estudantil.
O candidato do União Brasil disse que, desde 2016, defende o passe livre estudantil. “Iremos estender também o passe livre para os finais de semana, não só para estudante, mas também para famílias de baixa renda (...) É importante a gente dar assistência a essas pessoas que estão desalentadas, que precisam ir para entrevistas de empregos, então iremos, gradativamente, ampliar o passe livre estudantil”, concluiu.
Debate na Globo: Candidatos medem riscos e deixam para os cortes a missão do desempate
Por Malu Gaspar / O GLOBO
O cenário de empate técnico na pesquisa Datafolha divulgada horas antes do debate da TV Globo não funcionou como estímulo para que os candidatos a prefeito de São Paulo resolvessem arriscar com ataques abaixo da linha da cintura ou novidades para surpreender os adversários.
Apesar de os últimos blocos terem sido dominados por críticas mais ácidas, especialmente entre Ricardo Nunes (MDB), Pablo Marçal (PRTB) e Guilherme Boulos (PSOL), embolados na liderança da corrida segundo o Datafolha, todos pareciam estar calculando os movimentos para tentar se diferenciar dos outros sem perder os apoios que já têm.
Quem acompanhou o confronto do início ao fim percebeu que o tom dos candidatos, que começou mais propositivo e cordial, foi se tornando mais pesado e incisivo à medida que ficou mais tarde e a audiência foi caindo.
A ironia de Tabata Amaral (PSB) sobre “o gesso cenográfico” de Marçal, a insinuação do ex-coach sobre uso de drogas ou a menção de Boulos a um funcionário da prefeitura que tem uma relação indireta com o PCC, tudo surgiu quando o debate já se aproximava do final.
Até Marçal, normalmente mais agressivo, equilibrou melhor o discurso para manter sua fama de mau sem deixar de mostrar propostas. Pesaram aí a alta rejeição e a grande audiência da Globo, num debate que, por ser o último, não deixa muito espaço de recuperação para quem comete erros graves.
Avaliando com atenção tudo o que está em jogo, faz sentido recorrer ao instinto de autoproteção. O resultado é que não se produziram momentos com impacto suficiente para alterar demais o cenário de empate triplo na liderança do Datafolha.
A menos que algum mago dos cortes opere um milagre nas redes sociais, o trio que está embolado na liderança vai ter que segurar a ansiedade e catar voto a unha para conseguir chegar ao segundo turno.
Debate Globo SP: quem ganhou o último embate entre os candidatos a prefeito? Placar dos colunistas do GLOBO responde
O GLOBO
Os candidatos à prefeitura de São Paulo travaram, na noite desta quinta-feira, o último embate frente a frente antes do primeiro turno. O debate da TV Globo teve tom mais propositivo e clima menos bélico do encontros anteriores, que chegaram a registrar uma cadeirada de José Luiz Datena (PSDB) em Pablo Marçal (PRTB) e um soco de um assessor do ex-coach no marqueteiro de Ricardo Nunes (MDB). Além do trio, também participaram do programa Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB) — justamente os dois nomes que, na avaliação de colunistas do GLOBO, tiveram melhor desempenho ao longo de todos os blocos.
O time do jornal conferiu notas de 1 a 5 à participação de cada um dos postulantes, além de uma breve avaliação individual. Participaram do escrutínio os colunistas Bela Megale, Bernardo Mello Franco, Lauro Jardim, Malu Gaspar, Pablo Ortellado, Pedro Doria e Vera Magalhães.
Tabata Amaral obteve a maior nota na média dos sete avaliadores: 4. Bela Megale, que deu a maior gradação à pessebista, a descreveu como a "candidata mais preparada, com propostas consistentes e conhecimento sobre a cidade". Pedro Doria, que também entregou um 5 a Tabata, avaliou que ela "pôs emoção e razão de forma equilibrada na performance", mas "tem um desafio grande" pela frente.
Na sequência, Guilherme Boulos obteve média só um pouco abaixo, de 3,7. Sua única nota máxima veio de Vera Magalhães: "Fez seu melhor debate, se mostrando assertivo, talvez embalado pelo Datafolha", pontuou a colunista, lembrando da pesquisa divulgada horas antes que mostrou uma oscilação positiva da candidatura do psolista, que agora aparece numericamente à frente de Nunes e Marçal. Vera, porém, ponderou que Boulos deu um "passo em falso" ao mostrar um exame toxicológico negando o uso de drogas, opinião compartilhada por Bernardo Mello Franco, para quem o deputado federal "mordeu a isca" de Marçal, que vem fazendo acusações infundadas sobre uso de entorpecentes desde o início da campanha.
Os outros três participantes ficaram bem atrás do primeiro pelotão na análise dos colunistas do GLOBO. Marçal alcançou média de 2,1, enquanto Nunes somou 1,6. A lanterna ficou com Datena, considerado o candidato de pior desempenho, com média de 1,4.
Malu Gaspar frisou que, "ao evitar violência e maluquices", Marçal "pode ter ganhado votos". Já Lauro Jardim considerou que, apesar de "propostas vazias ou delirantes", o ex-coach "soube falar com o próprio eleitor" e "possivelmente com o de Nunes", contra quem trava uma disputa pelo voto bolsonarista na capital paulista. Ambos deram nota 3 para Marçal, a maior que ele alcançou.
Nunes, por sua vez, também teve como nota mais alta um 3, na avaliação de Pablo Ortellado: "Buscou se esquivar das muitas acusações e valorizar sua experiência como prefeito", afirmou. Outros colunistas, porém, viram o prefeito "acuado", "desestabilizado", "apático" e "na defensiva", o que lhe rendeu três notas 1, a mais baixa possível.
Datena foi o único postulante a não alcançar pelo menos uma nota 3 na análise do time do GLOBO. "Não escondeu que estava se esforçando para estar ali", classificou Ortellado. "Uma despedida melancólica de uma aventura frustrada", concluiu Bernardo Mello Franco.
Eleição de SP e o futuro da política
Por Vera Magalhães / O GLOBO
Muito já se escreveu de prognóstico furado tentando projetar a política nacional a partir de pleitos municipais, que acontecem dois anos antes das disputas presidenciais. Nem é totalmente verdade que as campanhas nas cidades funcionem como plebiscito a respeito da avaliação do governo federal de turno nem o cômputo de prefeituras e assentos em câmaras municipais projetam maiores ou menores chances de partidos e campos político-ideológicos.
Mas se tem uma eleição que agrega esses componentes nacionais mais que as outras, e em 2024 mais que em qualquer ano, é a que acontece na capital paulista.
A centralidade que a disputa paulistana adquiriu se deve, em grande parte, aos eventos bizarros e à figura exótica de Pablo Marçal. Por isso mesmo, a depender da configuração do segundo turno e, depois, do resultado final das urnas, esse fenômeno tem maiores ou menores chances de se expandir para o resto do Brasil, com consequências variáveis para as lideranças políticas até aqui estabelecidas ou que estavam em construção.
A pesquisa Datafolha divulgada na tarde desta quinta-feira, horas antes do decisivo debate da Rede Globo, mostrou uma manutenção do empate triplo nas primeiras posições, mas com alterações de posições e mudanças nos estratos que levaram doses diferentes de expectativa e tensão às campanhas de Guilherme Boulos e Ricardo Nunes, os candidatos que estavam “marcados para duelar” antes do surgimento do ex-coach no roteiro.
Aliados de Nunes procuram demonstrar confiança na capacidade de conversão de votos da máquina, que seria mais efetiva no território municipal que no Estado, por exemplo (para fugir do efeito Rodrigo Garcia, que ficou em terceiro lugar em São Paulo em 2022 mesmo contando com mais prefeitos, maior coligação e tempo de TV). Mas o inventário de responsabilidades por alguém com tamanho poderio político-partidário chegar a três dias das eleições nessa situação periclitante já começou.
Os dedos apontam todos para Jair Bolsonaro e sua postura pusilânime, de nunca ter chegado a conclamar seus eleitores a votar no prefeito do MDB. A avaliação é que, Nunes vença ou perca, Bolsonaro será o grande derrotado: na primeira hipótese a vitória será creditada a Tarcísio de Freitas, que bancou o aliado sozinho; na segunda, Bolsonaro terá sido descartado pelo próprio rebanho de extrema-direita e surgirá um novo “mito”, na figura do influenciador.
À esquerda, a aparição de Boulos à frente numericamente em relação aos dois candidatos da direita foi lida no Palácio do Planalto como uma grande notícia, e, depois de se ausentar da campanha do pupilo nos últimos 15 dias, Lula deve dar um sprint final até domingo e, depois, desembarcar com tudo em São Paulo caso ele avance ao segundo turno.
A avaliação é que, ainda que o PT e a esquerda tenha desempenho ruim nas capitais e no Estado de São Paulo, uma vitória sobre dois bolsonaristas de uma vez na cidade mais importante do País equivaleria, aí sim, a uma chancela do governo Lula. Isso porque a discussão paulistana foi sempre pautada por temas ideológicos, o que faz com que, por aqui, a leitura possa extrapolar as fronteiras geográficas.
Mas o que essa medição de forças entre Lula e o bolsonarismo projeta para 2026? De cara, haverá uma corrida dos partidos para se reagruparem. Mesmo entre siglas que têm assento no ministério de Lula, haverá aqueles que vão se alvoroçar diante do apelo de candidatos-influencers, a la Marçal e Nikolas Ferreira.
Isso levará a política tradicional a mais um teste de resistência, depois da vitória de Bolsonaro em 2018 sem o “establishment”, que depois foi se chegando. Lula parece não estar olhando lá na frente, talvez convencido que o apelo pela reedição da frente única será o suficiente para conter a febre Marçal. É uma aposta alta, ainda mais com um adversário que saca uma arma diferente e mais heterodoxa a cada etapa da batalha.
OS Sustos, surpresas e curiosidades até a reta final numa eleição que favorece a direita
Por Eliane Cantanhêde / O ESTADÃO DE SP
A eleição de 2024 é uma das mais eletrizantes, e não mais pela insistência do empate triplo em São Paulo, mas também pela reviravolta em Belo Horizonte e as surpresas no Rio na última hora. Os partidos da direita e do Centrão parecem levar a melhor, a esquerda patina e o PT, particularmente, não está bem na foto.
Dos 5.569 municípios, 103 têm mais de 200 mil habitantes, entre elas, 26 capitais. Na grande maioria, as eleições se encerram no primeiro turno deste domingo, mas nessas 103 há possibilidade de segundo turno, caso nenhum candidato obtenha 50% ou mais dos votos válidos -, excluídos os nulos e brancos.
Nesses 103, o partido com mais chances de vitória, segundo o site Poder 360, é o PL, que lidera em 18, e depois vêm: União Brasil (UB) em 17, e PSD, MDB, PP e Republicanos, todos do centro-direita à direita. O primeiro de esquerda a surgir é o PT, empatado em 6° lugar com o Republicanos, com chances em onze.
Tanto o pequeno PSOL e quanto o inexplicável PTRB estão fora de todas, exceto justamente de São Paulo, e concorrendo um contra o outro no primeiro turno, sabe-se lá se também no segundo. Ainda não dá para dizer. Pela Quaest, há possibilidade maior de vitória em primeiro turno em nove das 26 capitais: Maceió, com JHF (PL); Salvador, Bruno Reis (União), São Luiz, Eduardo Braide (PSD); Recife, João Campos (PSB); Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos); Macapá, Dr. Furlan (MDB); Porto Velho, Mariana Carvalho (União); Boa Vista, Arthur Henrique (MDB) e, até esta quinta-feira, Rio, com Eduardo Paes (MDB).
A diferença entre Paes e Alexandre Ramagem (PL) é de 54% a 22% pelo Datafolha, mas pode não ser suficiente para fechar o pleito em primeiro turno. Na reta final, pesam fatores como voto útil, abstenção e troca de candidato, com diferenças entre pesquisas e votos. Paes atravessou a campanha na liderança e chega à hora H com uma interrogação no ar, reforçada pela derrota para o aventureiro Wilzon Witzel aos 48 do segundo tempo em 2018.
Curiosidades: a única mulher com chance de vitória já no domingo nas cidades mais populosas é Mariana Carvalho, em Porto Velho; a única capital onde PT e PL estão na dianteira, cara a cara, é Fortaleza; após meses com Mauro Tramonte (Republicanos) disparado na frente, Belo Horizonte chega ao fim com três candidatos embolados. Por fim, João Campos, candidato à reeleição em Recife, é forte candidato a campeão de votos da eleição em todo o País. Haja coração!