Debate na Globo: Candidatos medem riscos e deixam para os cortes a missão do desempate
Por Malu Gaspar / O GLOBO
O cenário de empate técnico na pesquisa Datafolha divulgada horas antes do debate da TV Globo não funcionou como estímulo para que os candidatos a prefeito de São Paulo resolvessem arriscar com ataques abaixo da linha da cintura ou novidades para surpreender os adversários.
Apesar de os últimos blocos terem sido dominados por críticas mais ácidas, especialmente entre Ricardo Nunes (MDB), Pablo Marçal (PRTB) e Guilherme Boulos (PSOL), embolados na liderança da corrida segundo o Datafolha, todos pareciam estar calculando os movimentos para tentar se diferenciar dos outros sem perder os apoios que já têm.
Quem acompanhou o confronto do início ao fim percebeu que o tom dos candidatos, que começou mais propositivo e cordial, foi se tornando mais pesado e incisivo à medida que ficou mais tarde e a audiência foi caindo.
A ironia de Tabata Amaral (PSB) sobre “o gesso cenográfico” de Marçal, a insinuação do ex-coach sobre uso de drogas ou a menção de Boulos a um funcionário da prefeitura que tem uma relação indireta com o PCC, tudo surgiu quando o debate já se aproximava do final.
Até Marçal, normalmente mais agressivo, equilibrou melhor o discurso para manter sua fama de mau sem deixar de mostrar propostas. Pesaram aí a alta rejeição e a grande audiência da Globo, num debate que, por ser o último, não deixa muito espaço de recuperação para quem comete erros graves.
Avaliando com atenção tudo o que está em jogo, faz sentido recorrer ao instinto de autoproteção. O resultado é que não se produziram momentos com impacto suficiente para alterar demais o cenário de empate triplo na liderança do Datafolha.
A menos que algum mago dos cortes opere um milagre nas redes sociais, o trio que está embolado na liderança vai ter que segurar a ansiedade e catar voto a unha para conseguir chegar ao segundo turno.
Eleição de SP e o futuro da política
Por Vera Magalhães / O GLOBO
Muito já se escreveu de prognóstico furado tentando projetar a política nacional a partir de pleitos municipais, que acontecem dois anos antes das disputas presidenciais. Nem é totalmente verdade que as campanhas nas cidades funcionem como plebiscito a respeito da avaliação do governo federal de turno nem o cômputo de prefeituras e assentos em câmaras municipais projetam maiores ou menores chances de partidos e campos político-ideológicos.
Mas se tem uma eleição que agrega esses componentes nacionais mais que as outras, e em 2024 mais que em qualquer ano, é a que acontece na capital paulista.
A centralidade que a disputa paulistana adquiriu se deve, em grande parte, aos eventos bizarros e à figura exótica de Pablo Marçal. Por isso mesmo, a depender da configuração do segundo turno e, depois, do resultado final das urnas, esse fenômeno tem maiores ou menores chances de se expandir para o resto do Brasil, com consequências variáveis para as lideranças políticas até aqui estabelecidas ou que estavam em construção.
A pesquisa Datafolha divulgada na tarde desta quinta-feira, horas antes do decisivo debate da Rede Globo, mostrou uma manutenção do empate triplo nas primeiras posições, mas com alterações de posições e mudanças nos estratos que levaram doses diferentes de expectativa e tensão às campanhas de Guilherme Boulos e Ricardo Nunes, os candidatos que estavam “marcados para duelar” antes do surgimento do ex-coach no roteiro.
Aliados de Nunes procuram demonstrar confiança na capacidade de conversão de votos da máquina, que seria mais efetiva no território municipal que no Estado, por exemplo (para fugir do efeito Rodrigo Garcia, que ficou em terceiro lugar em São Paulo em 2022 mesmo contando com mais prefeitos, maior coligação e tempo de TV). Mas o inventário de responsabilidades por alguém com tamanho poderio político-partidário chegar a três dias das eleições nessa situação periclitante já começou.
Os dedos apontam todos para Jair Bolsonaro e sua postura pusilânime, de nunca ter chegado a conclamar seus eleitores a votar no prefeito do MDB. A avaliação é que, Nunes vença ou perca, Bolsonaro será o grande derrotado: na primeira hipótese a vitória será creditada a Tarcísio de Freitas, que bancou o aliado sozinho; na segunda, Bolsonaro terá sido descartado pelo próprio rebanho de extrema-direita e surgirá um novo “mito”, na figura do influenciador.
À esquerda, a aparição de Boulos à frente numericamente em relação aos dois candidatos da direita foi lida no Palácio do Planalto como uma grande notícia, e, depois de se ausentar da campanha do pupilo nos últimos 15 dias, Lula deve dar um sprint final até domingo e, depois, desembarcar com tudo em São Paulo caso ele avance ao segundo turno.
A avaliação é que, ainda que o PT e a esquerda tenha desempenho ruim nas capitais e no Estado de São Paulo, uma vitória sobre dois bolsonaristas de uma vez na cidade mais importante do País equivaleria, aí sim, a uma chancela do governo Lula. Isso porque a discussão paulistana foi sempre pautada por temas ideológicos, o que faz com que, por aqui, a leitura possa extrapolar as fronteiras geográficas.
Mas o que essa medição de forças entre Lula e o bolsonarismo projeta para 2026? De cara, haverá uma corrida dos partidos para se reagruparem. Mesmo entre siglas que têm assento no ministério de Lula, haverá aqueles que vão se alvoroçar diante do apelo de candidatos-influencers, a la Marçal e Nikolas Ferreira.
Isso levará a política tradicional a mais um teste de resistência, depois da vitória de Bolsonaro em 2018 sem o “establishment”, que depois foi se chegando. Lula parece não estar olhando lá na frente, talvez convencido que o apelo pela reedição da frente única será o suficiente para conter a febre Marçal. É uma aposta alta, ainda mais com um adversário que saca uma arma diferente e mais heterodoxa a cada etapa da batalha.
OS Sustos, surpresas e curiosidades até a reta final numa eleição que favorece a direita
Por Eliane Cantanhêde / O ESTADÃO DE SP
A eleição de 2024 é uma das mais eletrizantes, e não mais pela insistência do empate triplo em São Paulo, mas também pela reviravolta em Belo Horizonte e as surpresas no Rio na última hora. Os partidos da direita e do Centrão parecem levar a melhor, a esquerda patina e o PT, particularmente, não está bem na foto.
Dos 5.569 municípios, 103 têm mais de 200 mil habitantes, entre elas, 26 capitais. Na grande maioria, as eleições se encerram no primeiro turno deste domingo, mas nessas 103 há possibilidade de segundo turno, caso nenhum candidato obtenha 50% ou mais dos votos válidos -, excluídos os nulos e brancos.
Nesses 103, o partido com mais chances de vitória, segundo o site Poder 360, é o PL, que lidera em 18, e depois vêm: União Brasil (UB) em 17, e PSD, MDB, PP e Republicanos, todos do centro-direita à direita. O primeiro de esquerda a surgir é o PT, empatado em 6° lugar com o Republicanos, com chances em onze.
Tanto o pequeno PSOL e quanto o inexplicável PTRB estão fora de todas, exceto justamente de São Paulo, e concorrendo um contra o outro no primeiro turno, sabe-se lá se também no segundo. Ainda não dá para dizer. Pela Quaest, há possibilidade maior de vitória em primeiro turno em nove das 26 capitais: Maceió, com JHF (PL); Salvador, Bruno Reis (União), São Luiz, Eduardo Braide (PSD); Recife, João Campos (PSB); Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos); Macapá, Dr. Furlan (MDB); Porto Velho, Mariana Carvalho (União); Boa Vista, Arthur Henrique (MDB) e, até esta quinta-feira, Rio, com Eduardo Paes (MDB).
A diferença entre Paes e Alexandre Ramagem (PL) é de 54% a 22% pelo Datafolha, mas pode não ser suficiente para fechar o pleito em primeiro turno. Na reta final, pesam fatores como voto útil, abstenção e troca de candidato, com diferenças entre pesquisas e votos. Paes atravessou a campanha na liderança e chega à hora H com uma interrogação no ar, reforçada pela derrota para o aventureiro Wilzon Witzel aos 48 do segundo tempo em 2018.
Curiosidades: a única mulher com chance de vitória já no domingo nas cidades mais populosas é Mariana Carvalho, em Porto Velho; a única capital onde PT e PL estão na dianteira, cara a cara, é Fortaleza; após meses com Mauro Tramonte (Republicanos) disparado na frente, Belo Horizonte chega ao fim com três candidatos embolados. Por fim, João Campos, candidato à reeleição em Recife, é forte candidato a campeão de votos da eleição em todo o País. Haja coração!
Debate Globo SP: quem ganhou o último embate entre os candidatos a prefeito? Placar dos colunistas do GLOBO responde
O GLOBO
Os candidatos à prefeitura de São Paulo travaram, na noite desta quinta-feira, o último embate frente a frente antes do primeiro turno. O debate da TV Globo teve tom mais propositivo e clima menos bélico do encontros anteriores, que chegaram a registrar uma cadeirada de José Luiz Datena (PSDB) em Pablo Marçal (PRTB) e um soco de um assessor do ex-coach no marqueteiro de Ricardo Nunes (MDB). Além do trio, também participaram do programa Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB) — justamente os dois nomes que, na avaliação de colunistas do GLOBO, tiveram melhor desempenho ao longo de todos os blocos.
O time do jornal conferiu notas de 1 a 5 à participação de cada um dos postulantes, além de uma breve avaliação individual. Participaram do escrutínio os colunistas Bela Megale, Bernardo Mello Franco, Lauro Jardim, Malu Gaspar, Pablo Ortellado, Pedro Doria e Vera Magalhães.
Tabata Amaral obteve a maior nota na média dos sete avaliadores: 4. Bela Megale, que deu a maior gradação à pessebista, a descreveu como a "candidata mais preparada, com propostas consistentes e conhecimento sobre a cidade". Pedro Doria, que também entregou um 5 a Tabata, avaliou que ela "pôs emoção e razão de forma equilibrada na performance", mas "tem um desafio grande" pela frente.
Na sequência, Guilherme Boulos obteve média só um pouco abaixo, de 3,7. Sua única nota máxima veio de Vera Magalhães: "Fez seu melhor debate, se mostrando assertivo, talvez embalado pelo Datafolha", pontuou a colunista, lembrando da pesquisa divulgada horas antes que mostrou uma oscilação positiva da candidatura do psolista, que agora aparece numericamente à frente de Nunes e Marçal. Vera, porém, ponderou que Boulos deu um "passo em falso" ao mostrar um exame toxicológico negando o uso de drogas, opinião compartilhada por Bernardo Mello Franco, para quem o deputado federal "mordeu a isca" de Marçal, que vem fazendo acusações infundadas sobre uso de entorpecentes desde o início da campanha.
Os outros três participantes ficaram bem atrás do primeiro pelotão na análise dos colunistas do GLOBO. Marçal alcançou média de 2,1, enquanto Nunes somou 1,6. A lanterna ficou com Datena, considerado o candidato de pior desempenho, com média de 1,4.
Malu Gaspar frisou que, "ao evitar violência e maluquices", Marçal "pode ter ganhado votos". Já Lauro Jardim considerou que, apesar de "propostas vazias ou delirantes", o ex-coach "soube falar com o próprio eleitor" e "possivelmente com o de Nunes", contra quem trava uma disputa pelo voto bolsonarista na capital paulista. Ambos deram nota 3 para Marçal, a maior que ele alcançou.
Nunes, por sua vez, também teve como nota mais alta um 3, na avaliação de Pablo Ortellado: "Buscou se esquivar das muitas acusações e valorizar sua experiência como prefeito", afirmou. Outros colunistas, porém, viram o prefeito "acuado", "desestabilizado", "apático" e "na defensiva", o que lhe rendeu três notas 1, a mais baixa possível.
Datena foi o único postulante a não alcançar pelo menos uma nota 3 na análise do time do GLOBO. "Não escondeu que estava se esforçando para estar ali", classificou Ortellado. "Uma despedida melancólica de uma aventura frustrada", concluiu Bernardo Mello Franco.