Sem Lula na campanha, petistas sofrem nas capitais e veem debandada de aliados
Por Alice Cravo, Lauriberto Pompeu, Sérgio Roxo e Jeniffer Gularte / O GLOBO
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu ignorar os apelos de candidatos petistas pelo país e fará apenas mais uma agenda de campanha antes do primeiro turno da eleição municipal deste ano. No sábado, Lula participará de uma caminhada com o candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos. Com o presidente abdicando do pleito em outros locais, postulantes do partido e nomes apoiados pelo PT enfrentam dificuldades nas capitais e veem aliados debandarem para o lado adversário.
Em Belo Horizonte, Belém, Aracaju, João Pessoa e Salvador, nomes do PT ou aliados vêm enfrentando dificuldades, diante de um quadro já complicado para a legenda, que não administra nenhuma capital. Por conta disso, alas do partido já estão desembarcando das campanhas e buscam acordos informais com outros nomes, tentando especialmente conter a ascensão de candidatos vinculados ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Belo Horizonte, terceiro maior colégio eleitoral do país, é uma das cidades onde a possibilidade de vitória está distante. Rogério Correia (PT), segundo a Quaest divulgada anteontem, tem apenas 5% das intenções de voto, o que tem insuflado um movimento a favor do voto útil no prefeito Fuad Noman (PSD), com 20%. A corrida é liderada por Mauro Tramonte (Republicanos), que aparece com 27%, enquanto o bolsonarista Bruno Engler (PL) marca 21%, tecnicamente empatado com Fuad.
Fogo amigo em BH
Uma parcela de petistas e aliados teme um segundo turno entre Tramonte e Engler e atua para desidratar a campanha de Correia. Dirigentes do PV e da Rede, que estão formalmente na coligação do PT, anunciaram publicamente apoio a Fuad. Além disso, o deputado petista Reginaldo Lopes vem dialogando com o presidente interino do PSD em Minas Gerais, o deputado estadual Cássio Soares.
Correia minimiza os movimentos e diz que ser o candidato de Lula vai impulsionar sua candidatura na cidade. Ele chegou a fazer um convite para o presidente participar de um comício.
— A gente sabia da dificuldade, mas há a expectativa. Ele se comprometeu a vir para Belo Horizonte, mas, independentemente disso, estamos com material de campanha e vídeos com Lula e ministros — afirmou Correia.
Do outro lado, o presidente estadual do PSD comemora as defecções:
— Estamos recebendo muito bem esses apoios, que têm acontecido de forma natural.
A costura faz parte de um movimento mais amplo: há uma articulação para que PT e PSD estejam juntos na eleição ao governo de Minas Gerais, em 2026. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), é apontado como possível candidato.
Em João Pessoa, a ação é ainda mais incisiva. O presidente do PT na Paraíba, Jackson Macedo, já se manifestou a favor de uma aliança com o prefeito Cícero Lucena (PP), que tenta a reeleição. Na semana passada, criticou o candidato petista à prefeitura da cidade, Luciano Cartaxo, por se juntar com outros adversários do mandatário para cobrar a presença de tropas federais na capital e criticar o modo como Lucena lida com a segurança pública. O prefeito tem 53% das intenções de voto, segundo a Quaest divulgada há duas semanas, o que pode garantir a vitória no primeiro turno. Cartaxo, que foi procurado e não se manifestou, aparece com 18%.
No caso de Aracaju, a falta de apoio de uma parte do PT à candidata do partido se deve a uma antiga disputa local por influência entre dois integrantes da legenda no estado. O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo, é rival do senador Rogério Carvalho, que lançou sua mulher, Candisse Carvalho, como candidata do PT na cidade. Também houve resistência de PV e PCdoB, partidos da federação com o PT, a endossar o nome de Candisse, que tem 8% das intenções de voto, de acordo com a Quaest, resultado que a deixa distante do segundo turno no momento. Procurada, ela não comentou.
Cenário parecido acontece em Belém, onde o PT ocupa a vaga de vice do prefeito e candidato à reeleição, Edmilson Rodrigues (PSOL). Igor Normando (MDB) e Éder Mauro (PL) estão à frente na disputa. Ausente na campanha em Belém, o senador Beto Faro (PT-PA) disse que tem atuado em outras cidades:
— Estou fazendo campanha nos municípios do interior, três ou quatro todo dia. No segundo turno, venho a Belém.
Para Faro, que é líder do PT no Senado, o importante na disputa é não “permitir a eleição de um cara do Bolsonaro”, em referência a Éder Mauro. A candidatura do MDB foi construída pelo governador Helder Barbalho (MDB), e por seu irmão, o ministro das Cidades Jader Filho. Faro é aliado do governador e foi eleito senador em 2022 na mesma chapa em que Helder foi reeleito para comandar o estado. Edmilson declarou que o PT “participa ativamente” de sua campanha à reeleição.
Já em Salvador, onde as pesquisas apontam vitória do prefeito Bruno Reis (União Brasil) no primeiro turno, a campanha de Geraldo Júnior (MDB) não tem contado com o empenho de Lula e do ministro Rui Costa (Casa Civil), ex-governador do estado. Costa tem se dedicado mais ao interior, mas há a expectativa de que esteja em uma carreata no sábado.
A falta de fôlego eleitoral torna a margem do PT mais estreita. O partido saiu das urnas em 2020 sem conquistar nenhuma capital, resultado que o partido tenta evitar em 2024. As maiores esperanças de vitória estão em Teresina, com Fábio Novo, e Fortaleza, com Evandro Leitão.
Governistas enxergam a ausência de Lula também como uma forma de se desvencilhar de eventuais derrotas — antes de a campanha começar, aliados previam uma participação mais intensa. Bolsonaro, por sua vez, tem percorrido o país e já visitou seus candidatos em capitais cujos adversários ainda aguardam uma ida de Lula.
Em Fortaleza, o presidente chegou a ir à convenção que escolheu Leitão como nome do PT, mas a presença mais constante na campanha ficou a cargo do ministro Camilo Santana (Educação). Para minimizar a ausência, Leitão esteve em Brasília para gravar uma nova leva de material junto com Lula, no Palácio da Alvorada.
— Na convenção, fizemos o convite para ele retornar no primeiro turno — disse o coordenador da campanha de Leitão, Guilherme Sampaio. Em Natal, Natália Bonavides (PT) também conversou com o partido para conseguir uma data com Lula. Situação semelhante ocorreu em Vitória, onde o candidato do PT é João Coser.
Ministros no interior
Para compensar a ausência de Lula, ministros do Palácio do Planalto têm reforçado agendas em cidades do interior na reta final da campanha. Dois deles estão de férias — Paulo Pimenta (Secom) e Marcio Macêdo . Rui Costa e Alexandre Padilha, de Relações Institucionais, seguem com expediente no Planalto, mas cumprirão uma extensa agenda em cidades onde pretendem eleger aliados.
Rui Costa foi a Porto Seguro e Eunápolis na sexta-feira à noite e teve uma caminhada no sábado em Feira de Santana. Ainda no fim de semana, foi a Jabaquara, Alagoinhas e Campo Formoso.
Sem Lula em atos de campanha no ABC Paulista, região considerada um bastião petista, Padilha foi no sábado às cidades de Diadema, Santo André e Mauá, além de Guarulhos, segundo maior município do estado de São Paulo. Todas são consideradas prioritárias para o PT. Em Diadema e Mauá o partido busca reeleição nas duas maiores cidades comandadas pela legenda em São Paulo
Justiça proíbe Sarto de impulsionar conteúdo nas redes sociais; prefeito alega ‘censura’
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O desembargador eleitoral do Ceará Luciano Nunes Maia Freire vetou, no último domingo (29), que a campanha à reeleição do prefeito José Sarto impulsione qualquer material nas redes sociais. A decisão recai tanto sobre publicações com teor de exaltação pessoal quanto aquelas com críticas a adversários — o que já é proibido pela Legislação Eleitoral. Na decisão, o magistrado considerou que o pedetista tem, reiteradamente, desrespeitado essa última regra e impulsionado material negativo contra outros candidatos.
Em coletiva de imprensa nesta segunda-feira (30), o prefeito se defendeu e disse estar sofrendo “censura” por parte da Justiça Eleitoral. Caso ele insista em impulsionar novos conteúdos, todos os seus perfis nas redes sociais podem ser tirados do ar na reta final da disputa pela reeleição, conforme a decisão.
O pedido de liminar foi apresentado à Justiça Eleitoral pela chapa liderada pelo candidato Evandro Leitão (PT). Eles acusam o prefeito José Sarto e o vice-prefeito, Élcio Batista (PSDB), de uso indevido dos meios de comunicação social e abuso do poder econômico "em razão da massiva publicação e impulsionamento de vídeos com conteúdo ofensivo e de propaganda negativa contra o candidato" petista.
Acusações rejeitadas
Em primeira instância, uma decisão proferida na 112ª Zona Eleitoral indeferiu todos os pedidos apresentados pela campanha de Evandro Leitão. A juíza que analisou o caso entendeu que os anúncios denunciados não estavam mais ativos, a quantidade de material não vislumbrava desequilíbrio no pleito e, para ela, não havia comprovação de continuidade na conduta ilegal.
A defesa da chapa petista contra-argumentou apontando que os conteúdos foram impulsionados várias vezes, "levando à população conteúdo difamatório, inverídico e gravemente descontextualizado: apontam Evandro como covarde em relação ao combate ao crime, associado às facções criminosas e responsável pelo aumento do ICMS". Os advogados reforçam ainda que "apesar de inativos os anúncios, o efeito causado pelos impulsionamentos permanece, uma vez que já atingiu o público".
Acusações aceitas
Na segunda decisão, o desembargador eleitoral do Ceará Luciano Nunes Maia Freire considerou que, ainda que os anúncios estejam inativos, há a possibilidade de que eles sejam excluídos. "A despeito de inativos (...) permanecem na internet propalando o seu intento, ainda que de forma menos gravosa, pois com menor alcance", avalia o magistrado.
Ele apontou ainda que considerar apenas a quantidade de vídeo impulsionado para analisar um possível desequilíbrio no pleito é uma "premissa equivocada". "Não se pode apreciar o ocorrido somente pelo viés da quantidade; deve-se, na verdade, mensurar o dano pelo potencial gravoso (e nefasto) que uma divulgação de cunho negativo pode conter, notadamente quando impulsionada e às vésperas do pleito", acrescentou.
O desembargador ressaltou ainda que está comprovada "a continuidade da conduta" ilegal por parte da campanha do Sarto. "Consta nestes autos comprovação de que o candidato e prefeito José Sarto permanece impulsionando vídeos de cunho negativo, mesmo após apreciadas liminares em representações em seu desfavor, com determinação de não mais assim proceder", escreveu.
Campanha do PT
No relatório apresentado pela defesa de Evandro Leitão, há um levantamento de que, entre os dias 22 e 24 de setembro, durante o período de campo da pesquisa Quaest, a campanha do Sarto contratou o impulsionamento de 306 conteúdos, "que veiculam vídeos exclusivamente destinados a atacar e difamar Evandro Leitão", tendo 14,8 milhões de visualizações.
No entendimento do desembargador, as punições tomadas até então, mesmo com multa, não foram suficientes para vedar os descumprimentos da legislação. Por fim, ele ordenou "o bloqueio imediato da contratação de impulsionamentos por parte do perfil de José Sarto nas redes sociais Instagram e Facebook indicadas no registro de candidatura, sob pena de, em caso de descumprimento, suspender todos os seus perfis, até o final do 1º turno das eleições deste ano", decide.
Ele determinou ainda que o Facebook exclua as publicações citadas no processo e informe os valores pagos pela campanha do PDT para a contratação de anúncios destinados a impulsionar tais materiais.
Sarto se defende e alega censura
Na manhã desta segunda-feira (30), o prefeito José Sarto convocou uma coletiva de imprensa para lamentar a decisão da Justiça Eleitoral. Ele alegou diversas vezes que está sendo censurado. “Essa é uma atitude que provoca extremo desequilíbrio entre as campanhas, é uma tentativa de censura. O nosso departamento jurídico já está tomando todas as providências cabíveis”, disse.
Na fala, o pedetista minimizou o alegado tom negativo dos impulsionamentos. Segundo ele, os vídeos destacavam apenas discursos contraditórios de Evandro Leitão. O político ainda negou que esteja reiteradamente descumprindo decisões judiciais. "Todas as recomendações da Justiça Eleitoral estão sendo cumpridas à risca por nós, não há nenhum descumprimento judicial", afirmou.
O prefeito também reclamou que a ação liminar do PT tramitou rapidamente, segundo ele, enquanto representações feitas pelo PDT ainda tramitam na Justiça Eleitoral. "Isso está mostrando uma total parcialidade do que está acontecendo em uma tentativa de fazer censura, de calar a boca de uma campanha que está mostrando quem é o candidato do PT aqui em Fortaleza", criticou.
Sarto demonstrou preocupação com o período em que a decisão foi proferida. "Essa eleição está completamente aberta e esta semana é decisiva, nós estamos em um período muito decisivo da campanha, onde a população agora que está começando a prestar atenção", acrescentou.
Sarto disse que espera uma decisão célere da Justiça Eleitoral. "A eleição é domingo, hoje é segunda-feira, então cada hora que passa a gente deixa de impulsionar conteúdo", disse.
A Justiça Eleitoral foi questionada pelo PontoPoder sobre as acusações do prefeito em relação aos trâmites das representações. A reportagem aguarda retorno da Justiça Eleitoral.
Eleitor só pode ser preso em flagrante e em mais 2 casos a partir desta terça (1)
Ana Gabriela Oliveira Lima / folha de sp
Nenhum eleitor pode ser preso desta terça-feira (1°) até o dia 8 de outubro a não ser em três casos: de flagrante, de sentença criminal condenatória por crime inafiançável ou de desrespeito a salvo-conduto.
Entre os exemplos de crimes inafiançaveis estão racismo, tortura, tráfico de drogas e terrorismo.
A restrição a prisões já estava válida para candidatos desde o dia 21 de setembro, quinze dias antes do primeiro turno. Até o dia 8, eles só podem ser presos em caso de flagrante delito.
Segundo o Código Eleitoral, "ocorrendo qualquer prisão o preso será imediatamente conduzido à presença do juiz competente", e o magistrado avaliará a legalidade ou não da detenção.
As medidas têm como objetivo impedir interferência indevida na lisura do pleito e assegurar o direito de votar e ser votado.
A eleição 2024 está marcada para o primeiro domingo de outubro, dia 6. A votação começa às 8h e vai até as 17h no horário de Brasília. O segundo turno acontece, nas cidades em que houver, no dia 27 do mesmo mês.
O pleito definirá prefeitos e vereadores por todo o país. A votação ocorrerá em mais de 5.500 cidades e vai mobilizar mais de 150 milhões de eleitores, segundo o TSE.
Voto útil
O voto útil, esse nosso velho conhecido nas eleições, responsável por tantas surpresas nas últimas campanhas eleitorais, volta a dar as caras nas duas maiores cidades do país, São Paulo e Rio de Janeiro. A mais recente foi a vitória de Wilson Witzel para o governo do Rio. Para evitar que Romário pudesse ir para o segundo turno contra Eduardo Paes, muita gente pregou o voto útil em Witzel na ilusão de que seria derrotado no segundo turno com facilidade. Não contavam com a tempestade perfeita que vinha a reboque do fenômeno Bolsonaro naquele 2018, que transformou aquele juiz desconhecido em um fenômeno, passageiro felizmente.
Ao mesmo tempo que, no Rio de Janeiro, o reconhecimento de Ramagem como candidato apoiado por Bolsonaro o leva a melhorar de posição, em São Paulo os candidatos da direita dividem o eleitorado bolsonarista e caminham de maneira quase independente nos últimos dias de campanha, sem que o ex-presidente tente intervir.
À esquerda, também o presidente Lula se afasta da candidatura de Boulos, certo de que dificilmente terá chance de ver seu candidato vencer a disputa, mesmo que vá para o segundo turno. O problema da esquerda paulistana é não ter representante no segundo turno, o que seria uma derrota de grandes proporções. A disputa acirrada pelo segundo turno levou a que um grupo de artistas e intelectuais divulgasse texto defendendo o voto útil a favor de Boulos, para impedir que a direita leve seus dois candidatos ao segundo turno.
Esse voto útil paulistano ataca diretamente a candidata Tabata, que está com 11%, segundo a pesquisa Quaest divulgada ontem. Por sua vez, a candidata do PSB, que tem na esquerda uma rejeição forte, faz campanha pelo voto útil afirmando que somente ela pode derrotar Boulos no segundo turno. A performance de Tabata na campanha em si, e em especial nos debates, mostra como a esquerda está defasada em suas escolhas. Tem pouca chance de ter sucesso desta vez, mas fincou definitivamente sua bandeira como uma das boas revelações para a renovação da política brasileira.
No Rio de Janeiro, embora a situação do prefeito Eduardo Paes seja ainda tranquila para vencer no primeiro turno, o crescimento da candidatura Ramagem traz o fantasma da mudança de ventos na última semana da campanha. A ponto de uma campanha a favor do voto útil em Paes ser desencadeada nas redes sociais, contra a candidatura da esquerda Tarcísio Motta, que tem aparecido estagnado nas pesquisas de opinião mais recentes.
Embora o PT apoie a reeleição de Eduardo Paes, o candidato do PSOL tentou a campanha inteira atrair os votos da esquerda para si, sem renegar Lula. Até agora, no entanto, os que votaram em Lula no segundo turno da eleição presidencial estão indo majoritariamente para Eduardo Paes, e é possível que a campanha de voto útil tenha êxito entre a esquerda carioca para impedir que Ramagem consiga ir ao segundo turno.
O ex-presidente Bolsonaro, mesmo sem ter, como em São Paulo, divisão na direita, não se dedicou à campanha de Ramagem, provavelmente cheirando a derrota que está por vir. Os dois líderes populares pressentem derrotas em seus domínios eleitorais e procuram desvencilhar-se delas, como se fosse possível. Os dois, em momentos diversos, anunciaram que as eleições de domingo seriam um embate entre direita e esquerda representadas por ambos.
Levantamentos preliminares indicam que a direita terá uma vitória importante no quadro nacional. A presença de Marçal, no entanto, vitorioso tanto quanto Tabata na esquerda mesmo que não vença, deixa o futuro incerto na direita. O brilho de Tabata e a vitória esmagadora que seu namorado, o prefeito do Recife, João Campos, certamente terá farão com que o PSB ganhe mais força no campo da esquerda.
Eleição em São Paulo ainda merece mais debate
Quando não se prestam a socos e cadeiradas, debates entre postulantes a um determinado cargo público cumprem uma função importante no contexto eleitoral: estimulam o confronto de ideias e propostas.
Não que estas e aquelas estejam ausentes em outros momentos da campanha; palanques e peças de rádio ou TV, contudo, revestem-se de inevitáveis toques publicitários, enquanto entrevistas não constituem o foro mais adequado para comparar iniciativas de diferentes candidaturas.
Além disso, no esforço de passar uma mensagem sintética e duradoura, candidatos costumam direcionar sua artilharia para características ideológicas, alianças partidárias e condutas pessoais, como se estivessem colando um selo de virtudes em si mesmos e carimbando os adversários com a marca dos defeitos.
São, sem dúvida, aspectos relevantes para o eleitor decidir o voto, mas eles não bastam. Quando se disputam cargos majoritários, como o comando da Prefeitura de São Paulo, é fundamental conhecer os programas de governo e saber como os principais candidatos os criticam e os defendem.
Daí por que são deploráveis os ataques físicos desferidos por José Luiz Datena (PSDB) contra Pablo Marçal (PRTB) e por um assessor deste contra o marqueteiro de Ricardo Nunes (MDB): além da boçalidade que representam, eles conspurcam uma ocasião preciosa para a vida democrática.
Sem arruaças dessa natureza, o encontro promovido pela Folha e pelo UOL nesta segunda (30) teve o mérito de adotar o banco de tempo, um formato tradicional na França que favorece a interação entre os participantes.
Utilizado pela primeira vez no Brasil em 2018, durante debate da Folha, do UOL e do SBT, o modelo permite a cada candidato administrar seus minutos —20, no caso atual— como julgar melhor; sempre que alguém fala, seu tempo começa a ser descontado, como ocorre em partidas de xadrez.
Desde que o relógio permitisse, cada candidato podia fazer uso da palavra em qualquer resposta, mesmo que a pergunta não lhe tivesse sido dirigida. Assim, surgiram diversas oportunidades para um explorar o que considera um ponto vulnerável de outro.
Reconheça-se, entretanto, que mesmo esse esforço resulta insuficiente quando os postulantes preferem tergiversar, deixando de lado tanto os variados problemas da cidade quanto as soluções que prometem implementar.
Ao paulistano desolado com a qualidade das discussões resta o consolo de saber que há remotas chances de a eleição terminar no primeiro turno. De acordo com a pesquisa mais recente do Datafolha, o prefeito Nunes, o deputado Guilherme Boulos (PSOL) e o influencer Marçal brigam pelas duas vagas na segunda rodada.
Melhor assim. Quando sobrarem apenas dois postulantes no páreo, espera-se que o medo da rejeição os faça abandonar os subterfúgios rasteiros para que os temas da cidade possam, enfim, assumir o primeiro plano.