O bolsonarismo era vidro e se quebrou e direita está em guerra nas redes sociais
Por Sergio Denicoli / O ESTADÃO DE SP
A ciranda política em que a direita brasileira se meteu não tem caminho de volta. A inelegibilidade de Jair Bolsonaro transformou o ex-presidente em uma espécie de “rainha da Inglaterra”. Todos pedem sua bênção e batem continência, mas sabem que, em 2026, quem dará as cartas serão os nomes que se apresentarão como candidatos, com a aprovação de partidos sobre os quais Bolsonaro não tem controle. Alguns, convenientemente, até tentam manter a narrativa de que ele poderá voltar a ser liberado a se candidatar, mas poucos acreditam realmente nessa possibilidade.
Nesse cenário, é inevitável a ascensão de novas lideranças, que trocam cotoveladas para ocupar o vácuo deixado pelo ex-presidente. No tabuleiro político, destacam-se os governadores Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado, Romeu Zema e Ratinho Júnior. Também surgem novas figuras, como Pablo Marçal, que atrai um percentual significativo dos conservadores, especialmente os mais radicais, que se encantaram com o discurso antissistema que deu impulso à campanha de Bolsonaro, em 2018.
O fato é que não há amor na política. Há conveniência, oportunismo e um jogo de expectativas em torno do poder. “O amor que tu me tinhas, era pouco e se acabou”, poderia dizer um Bolsonaro confuso, hesitante e fragilizado diante daqueles que agora piscam os olhos para outros nomes.
Nas redes, as militâncias da direita não fazem ensaio diplomático e já partem para as críticas pesadas. O X, após a suspensão no Brasil, virou um ambiente habitado sobretudo pela direita que não hesita em usar VPN – um subterfúgio tecnológico - para acessar a plataforma, e exemplifica bem as disputas internas desse grupo ideológico. O antigo Twitter tem sido palco de agressões entre pessoas que antes caminhavam unidas.
Não faltam ali xingamentos de direitistas a Bolsonaro, o chamando de covarde, frouxo, refém do sistema, entre outros adjetivos. A defesa do ex-presidente aparece, mas de forma tímida e pouco convincente, baseada apenas em termos como “confie no capitão”.
Também sobram ataques para o nome que representa a maior vitória eleitoral do governo Bolsonaro: o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Sua atitude cordial e sua sagacidade política incomodam, e as vozes dissidentes já tentam classificá-lo como mais alinhado ao centrão do que à direita-raiz.
Na última semana, o tabuleiro das eleições de 2026 movimentou peças importantes. Nikolas Ferreira, uma liderança incontestável nos meios online e com grande influência sobre os conservadores, iniciou uma guerra declarada contra o PSD, partido ao qual o deputado atribui o impasse em torno do processo que busca o impeachment do ministro Alexandre de Moraes. Tarcísio, que tem uma forte ligação com o presidente do PSD, Gilberto Kassab, entrou na mira. Somente no Instagram, o vídeo de Nikolas alcançou quase 11 milhões de visualizações.
Enquanto isso, Bolsonaro permanece praticamente calado, vendo seu império de popularidade se quebrar em cacos reluzentes e raivosos. Até chegou a fazer uma crítica velada ao governador de Goiás, que, apesar de se posicionar à direita, está em um palanque oposto ao do ex-presidente, nas eleições municipais de Goiânia, e atua nos bastidores para se tornar o presidenciável dos conservadores.
No entanto, continua, por exemplo, a engolir as críticas dos apoiadores de Marçal, que enxergam no candidato a prefeito de São Paulo um radicalismo inconsequente há muito abandonado pelo ex-presidente.
O cenário das redes mostra que o bolsonarismo, embora ainda ressoe nas bases conservadoras, parece ter perdido sua força unificadora, abrindo espaço para novas dinâmicas na direita brasileira. O cenário político caminha para uma reconfiguração, onde antigas lealdades se desintegram e novas alianças começam a se formar.
O futuro do movimento conservador brasileiro dependerá não só de quem irá liderá-lo, mas também de como será capaz de se reinventar em meio às mudanças inevitáveis do jogo político, que está em constante transformação. Enquanto isso, a esquerda, sob a tutela de Lula, se mantém unida e agradece.
PF prende primeira-dama de João Pessoa em investigação sobre aliciamento violento de eleitores
João Pedro Pitombo / FOLHA DE SP
A Polícia Federal prendeu na manhã deste sábado (28) a primeira-dama de João Pessoa, Lauremília Lucena, esposa do prefeito Cícero Lucena (PP).
A prisão aconteceu no âmbito da terceira fase da Operação Território Livre, que investiga o envolvimento de facções criminosas na eleição da capital paraibana e o aliciamento violento de eleitores.
Em nota, o prefeito Cícero Lucena se disse alvo de "um ataque covarde e brutal, ardilosamente arquitetado por seus adversários às vésperas da eleição". Também disse que se trata de uma "prisão política", informou que Lauremília não teme as investigações e demonstrará na Justiça que é vítima de perseguição.
Ao todo foram cumpridos dois mandados de prisão e dois de busca e apreensão. Além da primeira-dama, também foi presa Tereza Cristina Barbosa Albuquerque, que atuava como assessora da esposa do prefeito.
A atual fase da operação, batizada de Sementem, é resultado da análise do material apreendido nas duas fases anteriores da operação e, segundo a PF, tem como objetivo complementar as provas de materialidade, autoria e circunstâncias dos crimes investigados.
O prefeito Cícero Lucena afirmou que há um uso político de instituições com o objetivo de influenciar a campanha eleitoral em João Pessoa. E acusou os adversários de divulgar inverdades sobre Lauremília, com o intuito de "manchar a honra de uma mulher íntegra, respeitada e querida pelo povo paraibano."
"Lauremília tem residência fixa e jamais se recusaria a prestar depoimento ou esclarecer quaisquer fatos. Houve o uso de força desproporcional, já que ela sequer foi convocada para prestar depoimento. Claramente, os adversários de Cícero estão utilizando todos os meios para conquistar o poder a qualquer custo, sem respeito à sua família ou à cidade de João Pessoa", afirmou.
A primeira fase da Operação Território Livre foi deflagrada no início do mês e cumpriu três mandados de busca e apreensão no bairro São José, periferia de João Pessoa.
Foram apreendidos na operação R$ 35 mil em dinheiro, celulares, documentos com dados pessoais de diversas pessoas que não moravam no local da busca, além de contracheques de funcionários da prefeitura.
Na segunda fase, foi presa a vereadora Raíssa Lacerda (PSB), aliada do prefeito Cícero Lucena, de quem foi secretária municipal de Cidadania e Direitos Humanos.
Em inquérito que investiga ações de aliciamento violento de eleitores, Lauremília é apontada pela Polícia Federal como a responsável por gerenciar os pedidos dos cargos e contratações na Prefeitura de João Pessoa. Ela não tem cargo oficial na Prefeitura de João Pessoa.
As investigações sobre o aliciamento violento de eleitores ganharam o centro do debate eleitoral na capital paraibana. Opositores acusam a gestão do prefeito e candidato à reeleição Cícero Lucena de ter relação com o crime organizado.
Candidatos de oposição afirmaram terem sido barrados em atividades de campanha em algumas comunidades. Em 15 de agosto, o deputado federal e candidato a prefeito Ruy Carneiro registrou um boletim de ocorrência no qual relata que suspendeu uma atividade de campanha no bairro do Cristo Redentor após ameaças de criminosos.
Em entrevista, Ruy Carneiro relatou outros casos de ameaças, incluindo uma apoiadora que foi avisada por criminosos que seria expulsa do bairro caso gravasse uma propaganda a seu favor.
O prefeito lamentou a atitude dos adversários e disse que eles estão unidos em um posicionamento antagônico às tradições democráticas da Paraíba.
"Mais uma vez nossos adversários tentam manchar minha imagem e, pior, a imagem da nossa cidade. João Pessoa é morada de um povo pacífico e ordeiro, uma terra de gente de bem, onde todas as eleições sempre foram tranquilas", afirmou.
Eleitores de Lula rejeitam voto automático em Boulos
Marcos Hermanson / FOLHA DE SP
O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), que concorre à Prefeitura de São Paulo com apoio do PT, tem dificuldade de converter os votos de quem escolheu Lula nas eleições presidenciais de 2022. Os motivos vão de desconhecimento do passado do candidato a frustração com o governo federal.
O que as pesquisas mostram —Boulos tem 49% das intenções entre quem diz ter votado em Lula, segundo o Datafolha— fica claro também durante agendas do candidato na periferia da capital.
Ouvidos pela Folha, eleitores petistas ou que escolheram Lula rejeitam voto automático no candidato do PSOL. Dizem que precisam conhecer melhor a história do ex-coordenador do MTST (movimento de moradia) ou que estão analisando o comportamento dele ao longo da campanha.
"O Lula é o Lula, o Boulos é o Boulos", resume a lojista Ana Paula de Brito, 45.
Ela conversou com a reportagem enquanto observava a caminhada do deputado federal na Vila Sabrina, zona norte da capital, no último dia 20, uma sexta-feira. "O Lula já vem de muitas lutas, apoiando os trabalhadores da metalúrgica. Eu conheço um pouco da história dele", diz, argumentando que ainda precisa saber mais sobre o candidato recomendado pelo petista.
Ela sabe que o presidente apoia o candidato, assim como 75% do eleitorado geral, segundo o Datafolha, mas diz que isso não tem "nenhum peso".
Quando indagada sobre outros candidatos em quem cogita votar, Ana Paula cita "aquele que está na prefeitura... esqueci o nome dele". Trata-se de do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que tem 19% das intenções de voto entre quem votou em Lula no ano de 2022, apesar de ser o candidato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Boulos adota a tática de se associar a Lula desde o início da campanha, numa tentativa de angariar os votos que o petista obteve na cidade em 2022, quando bateu Bolsonaro por 53% a 46% no segundo turno. Também é um jeito de atrair o eleitorado mais pobre, que o PT ainda considera como um público tradicional seu.
O presidente participou de dois comícios do candidato no primeiro fim de semana de campanha, em agosto. Também apareceu no primeiro programa eleitoral de Boulos, tomando café na casa dele. Mais recentemente, voltou à TV em gravações feitas em Brasília, nas quais o deputado fala de projetos, e Lula se compromete com ajuda do governo federal, caso ele assuma a prefeitura.
Mas "não basta o Lula apoiar para eu votar, precisa ver a vontade de o Boulos governar", diz Maria Quitéria dos Santos, 53, durante atividade do candidato na estrada do M'Boi Mirim (zona sul). Do carro de som, no último dia 12, quinta, o sindicalista Edson Carneiro Índio pedia: "Quem fez o L vota 50".
A dona de casa diz que não votaria no influenciador Pablo Marçal (PRTB), a quem diz não conhecer. Quando questionada sobre o prefeito, reclama da falta de remédios em postos de saúde e da dificuldade de conseguir uma consulta médica para o filho autista.
Decepcionado com Lula —"achei que poderia mudar alguma coisa na quebrada, mas não mudou nada"—, Iago dos Santos Felício, 32, eleitor do petista em 2022, diz que a indicação do presidente teria mais peso caso sua avaliação do governo fosse melhor. Ele já escolheu candidato, cujo nome não quis revelar.
A rejeição a Boulos, que é de 38% na média geral, está presente inclusive entre os que votaram no padrinho dele há dois anos: 11% deles respondem que não votariam no deputado de jeito nenhum.
Além de buscar o voto do PT, Boulos também prioriza agendas de periferia para conquistar o eleitorado mais pobre. As caminhadas do candidato duram várias horas percorrendo a mesma região.
Nos atos acompanhados pela reportagem, a recepção foi morna, com episódios de animosidade. Enquanto o deputado falava no caminhão de som na Cidade Ipava (zona sul), um rapaz sentado na entrada de uma barbearia reagia aos gritos de "vergonha!".
Assistindo de longe, a cabeleireira Maria Souza, 39, também reprovava: "Nunca vi o Boulos aqui antes", disse. "Vou votar no Marçal, porque ele não tem papas na língua."
Poucos minutos depois, durante caminhada na estrada do M'Boi Mirim, um homem passou de carro buzinando e reproduzindo o lema do influenciador: "faz o M".
No fim de semana passado, o deputado do PSOL fez uma carreata esvaziada em Guaianases, extremo leste da cidade, mas foi recebido de forma amistosa por onde passou. A vice na chapa, Marta Suplicy (PT), foi chamada várias vezes para tirar fotos e fez questão de acenar por onde passava, mesmo que não houvesse resposta.
O deputado tem 21% das intenções de voto entre quem ganha até dois salários mínimos —eram 15% em agosto—, enquanto o prefeito tem 32%.
Boulos tenta explorar a vinculação a Lula na reta final da campanha e espera contar com a presença dele para garantir sua ida ao segundo turno. A previsão era ter o presidente na cidade neste fim de semana, mas a visita foi desmarcada por causa da agenda presidencial, com compromissos no exterior.
Há a expectativa de que o petista esteja na capital no dia 5 de outubro, véspera do primeiro turno, para uma caminhada na região central. A avenida Paulista é um dos locais avaliados para o evento.
Colaborou Joelmir Tavares, de São Paulo
Reta final da eleição de BH tem Zema e Lula ausentes e racha na esquerda por voto útil
Artur Búrigo / FOLHA DE SP
Faltando uma semana para a população ir às urnas, a eleição à Prefeitura de Belo Horizonte é marcada pela ausência do governador Romeu Zema (Novo) e do presidente Lula (PT) na campanha e por uma disputa pelo voto útil entre os partidos de esquerda.
Candidato apoiado por Zema, o apresentador de TV e deputado estadual Mauro Tramonte (Republicanos), líder nas pesquisas eleitorais, tem sido acompanhado em suas agendas pelo ex-prefeito Alexandre Kalil (Republicanos), que foi derrotado pelo governador nas eleições de 2022.
Kalil e Zema, acostumados a serem rivais, foram vistos juntos apenas uma vez, na convenção que confirmou a candidatura do apresentador de TV, em agosto.
Na última terça-feira (24), quando Tramonte, acompanhado do ex-prefeito em uma agenda, foi questionado pela rádio Itatiaia sobre a ausência de Zema nos compromissos de campanha, o candidato começou a responder que dependia da agenda do governador, mas foi interrompido por Kalil, que encerrou a entrevista.
Em conversa com jornalistas da TV Bandeirantes, o governador disse que gravou materiais para a campanha de Tramonte, mas que ele "não precisa de padrinhos".
Apesar da distância na eleição da capital mineira, Zema tem gravado vídeos ao lado de candidatos apoiados por ele no interior de Minas e também em outros estados. É o caso de São Paulo, Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, onde o governador tem presença marcada no comício de Felipe Camozzato (Novo), postulante à Prefeitura de Porto Alegre, nesta segunda-feira (30).
Outro padrinho ausente na eleição da capital mineira é Lula, que oficialmente apoia o nome do seu partido na disputa, o deputado federal Rogério Correia (PT). Apesar de estar presente na propaganda em rádio e TV pedindo voto ao petista, o presidente não deve visitar BH para um comício, algo esperado por Correia para alavancar seu desempenho nas pesquisas.
No último levantamento do Datafolha, publicado no dia 19 deste mês, Correia tinha 6% das intenções de voto, empatado tecnicamente com a deputada federal Duda Salabert (PDT), que foi citada por 9% dos entrevistados.
De acordo com a pesquisa, Tramonte lidera a corrida eleitoral, com 28% das intenções de voto. Em segundo lugar aparecem empatados com 18% o atual prefeito Fuad Noman (PSD) e o deputado estadual Bruno Engler (PL), apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) —padrinho que marcou presença em BH durante a campanha.
O desempenho nas pesquisas levou partidos de coligações da esquerda e do centro a embarcarem oficialmente na campanha de Fuad. É o caso do PV, legenda que faz federação com o PT e que anunciou formalmente na quinta-feira (26) o apoio à candidatura do prefeito.
Antes informal, o movimento declarado de voto para o candidato do PSD levou em conta a probabilidade de a prefeitura da capital mineira ser disputada por duas candidaturas de direita, diz a deputada estadual Lohanna França (PV), uma das líderes do partido.
"Não podemos ficar omissos em relação a esse risco. Precisamos atuar para garantir que na Prefeitura de BH teremos alguém com que seja possível um diálogo com as pautas progressistas, mesmo que não seja do nosso campo", afirma a deputada, que ressaltou respeitar as candidaturas de Salabert e Correia.
Fuad, considerado de centro, apoiou a candidatura de Lula nas eleições presidenciais de 2022 e tem como um dos principais apoiadores o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), próximo do mandatário.
Em evento, Fuad disse que nunca foi de esquerda. "Sempre digo que meu partido é Belo Horizonte, mas minha afinidade com o presidente Lula tem sido importante para ajudar a cidade", afirmou.
Também embarcaram na campanha do atual prefeito uma ala da Rede, que oficialmente está na coligação de Correia, e os candidatos a vereador do PSB, legenda que está na chapa do presidente da Câmara Municipal, Gabriel Azevedo (MDB).
O candidato do PT caracterizou o anúncio do apoio formal do PV de factoide.
"O PV, desde o início, não está na minha campanha, está na do atual prefeito, aliás, não quis largar os cargos lá. Não há novidade nessa questão, assim como setores da Rede também. O que existe agora é um factoide, porque há um desespero na campanha do prefeito, há uma queda dele nas pesquisas", disse Correia.
Já o presidente da Câmara Municipal reagiu à foto do prefeito com os candidatos a vereador do PSB afirmando que "falta o Fuad Noman posar para a foto ao lado dos empresários de ônibus que deram dinheiro para a sua campanha".
Datafolha: Nunes tem só 16% de seus eleitores comprometidos na reta final da eleição
Joelmir Tavares / folha de sp
Faltando pouco mais de uma semana para a eleição, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) tem só 16% de seus eleitores considerados comprometidos com o candidato, isto é, com nível superior de apoio, convicção da escolha feita e maior entusiasmo para ir às urnas escolhê-lo.
Com 27% das intenções de voto no primeiro turno, Nunes está empatado tecnicamente na liderança com Guilherme Boulos (PSOL), que registrou 25% e tem o maior percentual de eleitores comprometidos: 37%. A solidez do voto é apontada pela campanha do PSOL como uma vantagem do deputado.
Pablo Marçal (PRTB) aparece a seguir, com 19% de intenção de voto e 27% de comprometimento. O dado reforça que o influenciador tem alguns dos eleitores mais engajados, como ilustram as imagens de apoiadores repetindo o bordão "faz o M" e fazendo com as mãos o gesto de apoio a ele.
No quadro geral, considerando eleitores de todos os candidatos, a taxa de comprometidos é de 21% (eram 22% há uma semana). Já os classificados como distantes correspondem a 20% (eram 22%). E os inclinados, que estão no meio-termo, são 59% (eram 56%). A classificação é feita pelo Datafolha.
O instituto ouviu 1.610 eleitores paulistanos de terça-feira (24) até esta quinta (26). Encomendado pela Folha, o levantamento, com margem de erro de dois pontos para mais ou para menos, está registrado na Justiça Eleitoral sob o código SP-06090/2024.
Nunes também tinha 16% de comprometidos na pesquisa da semana passada. Os percentuais de distantes (26% antes para 21% agora) e inclinados (58% para 63%) tiveram variações dentro da margem de erro específica desse recorte para os três candidatos, que é de cinco pontos para mais ou menos.
As oscilações de Boulos e Marçal também aconteceram dentro do intervalo. O deputado do PSOL variou de 40% para os atuais 37% de comprometidos (distantes foram de 9% para 11%), e o influenciador passou de 30% para 27% de comprometidos (os distantes eram 16% e se mantiveram).
O Datafolha calculou o grau de afinidade dos eleitores a partir da combinação das respostas a quatro perguntas do levantamento.
Os eleitores classificados como comprometidos foram aqueles que: 1) mencionaram espontaneamente sua opção de voto na pesquisa; 2) confirmaram o nome preferido quando apresentada a lista de candidaturas; 3) disseram que seu candidato é o nome ideal, e 4) estão altamente motivados para votar.
Já os distantes foram aqueles que: 1) não mencionaram seu candidato na pergunta espontânea; 2) dizem escolhê-lo por falta de uma opção melhor, e 3) não indicaram alta motivação para votar.
A maioria dos eleitores foram considerados como inclinados —o meio do caminho. Esse grupo é composto pelos entrevistados que não preencheram ao menos um dos quesitos para serem classificados como comprometidos.
Isso significa que eles: 1) não responderam em quem pretendem votar na pergunta espontânea; ou 2) dizem que sua escolha se dá por falta de opção, ou 3) não se mostram motivados para a votação.
O desempenho de Nunes no critério de afinidade medido pelo Datafolha se soma a outros aspectos da pesquisa que indicam, na visão de adversários, fragilidade do voto declarado no emedebista.
O percentual de eleitores do prefeito que dizem votar nele porque é o candidato ideal é de 40%. A maioria (60%) responde, no entanto, que escolhe o postulante à reeleição por não ter opção melhor. Outro desafio é que 44% de seus eleitores não sabem o número que vão apertar na urna para apoiá-lo.
Além disso, Nunes tem pontuação de 16% na pesquisa espontânea (quando a lista de candidatos não é apresentada ao entrevistado) e, na estimulada, 32% dos que pretendem votar nele dizem que o voto ainda pode mudar —68%, por outro lado, respondem que estão totalmente decididos.
O cenário estimula Boulos e Marçal a tentarem avançar sobre o eleitorado do mandatário. Nunes continua patinando, por exemplo, entre as pessoas que dizem ter votado em Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno contra Lula (PT) em 2022 —embora o ex-presidente oficialmente seja cabo eleitoral do prefeito.
Nunes marca 39% entre os bolsonaristas, enquanto Marçal registra 43%, num indicativo de que conseguiu capturar parte expressiva desse público ao encarnar a agenda do grupo com mais vigor do que o rival. Os dois seguem empatados dentro da margem de erro, que é de quatro pontos para esse recorte.
Vontade de votar
O Datafolha perguntou ainda sobre a vontade do eleitor de votar no pleito deste ano, em uma escala de 0 a 10. A média entre todos os entrevistados foi de 6, como nas três últimas rodadas da pesquisa.
Uma parcela de 37% respondeu estar com muita vontade de ir às urnas (eram 38% na semana passada). Na outra ponta, os que sinalizam estar com pouca vontade são 26% dos eleitores (totalizavam 25%). O primeiro turno será no dia 6 de outubro.
Os eleitores de Boulos são os que mais expressam muita vontade de ir votar (50%). Na sequência vêm os de Marçal (40%). Entre os de Nunes, a fatia de entusiasmados com o pleito é de 37%, um dos fatores que ajudam a explicar o tímido patamar de comprometimento.