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Bolsonaro deixa UTI e vai para o quarto após cirurgia de 12 horas, diz Michelle

Por O GLOBO — Brasília

 

O ex-presidente Jair Bolsonaro deixou a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e seguiu para o quarto no início da madrugada de segunda-feira, informou a ex-primeira-dama em publicação nas redes sociais. Ela também elogiou a equipe médica responsável pela intervenção.

 

"Meu amor já está no quarto... Nossos anjos aqui na Terra (os médicos). Por 12 horas, Deus usou as mãos dessa equipe maravilhosa para cuidar do meu amor. Minha eterna gratidão à essa equipe médica extraordinária, que, com precisão, competência e humanidade, conduziu as 12 horas de cirurgia do nosso capitão. O cuidado de vocês fez toda a diferença", escreveu Michelle.

 

Bolsonaro foi submetido no domingo a uma cirurgia para desobstruir parte do intestino no hospital DF Star, em Brasília. A intervenção de “grande porte” para descolar as chamadas “aderências” no órgão e reconstruir a parede abdominal durou cerca de 12 horas e foi concluída sem intercorrências, segundo a equipe médica responsável.

 

"Está estável clinicamente, sem dor, recebendo medidas de suporte clínico, nutricional e prevenção de infecções", diz o boletim médico divulgado no domingo.

Bolsonaro passou por uma “laparotomia exploradora”, procedimento que consiste em cortar o abdome para examinar os órgãos internos. No caso do ex-presidente, houve o diagnóstico de retenção do trânsito do intestino. O objetivo, então, foi desfazer as “aderências” que bloquearam a digestão do paciente. Depois, houve a reconstrução da parede abdominal, feita para reforçar a musculatura dessa parte do corpo.

 

“O procedimento de grande porte teve duração de 12 horas, ocorreu sem intercorrências e sem necessidade de transfusão de sangue”, informou um trecho do comunicado dos médicos que fizeram o procedimento no DF Star.

 

Os profissionais acrescentaram que a obstrução intestinal era resultante de uma dobra do intestino delgado que dificultava o trânsito intestinal e que foi desfeita durante o procedimento. Bolsonaro foi encaminhado para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e, segundo os médicos, está “estável clinicamente, sem dor, recebendo medidas de suporte clínico, nutricional e prevenção de infecções”.

 

Bolsonaro passou mal na última sexta-feira, no Rio Grande do Norte, após sentir os efeitos da retenção intestinal, e foi transferido no dia seguinte para o Distrito Federal. A operação começou pouco depois das 10h de ontem e terminou por volta das 21h. O problema de saúde do ex-presidente é uma sequela do ataque a faca contra ele há sete anos, durante a campanha de 2018.

Duração maior

Inicialmente, Michelle Bolsonaro anunciou que a cirurgia no intestino de Bolsonaro terminaria entre 19h e 20h. No entanto, ela voltou às redes por volta das 18h para informar que o procedimento iria durar uma ou duas horas além do esperado. A ex-primeira dama já havia adiantado que a cirurgia seria longa.

 

Pouco antes do término da operação, a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) falou sobre o caso a jornalistas e apoiadores do ex-presidente: — Toda cirurgia no intestino é delicada, e não estamos falando de um menino, é uma pessoa que já tem uma idade e que já passou por essa cirurgia. São sequelas, a família sempre soube que ele nunca teria uma vida normal depois que tentaram matá-lo.

 

O ex-presidente participava, na sexta-feira de manhã, de um ato político no Rio Grande do Norte quando começou a sentir dor na região da barriga. Ele foi atendido às 11h15 em um hospital na cidade de Santa Cruz, a 115 quilômetros da capital potiguar, e depois foi transferido para Natal. Segundo boletim médico anterior, Bolsonaro apresentava um quadro de distensão abdominal.

 

Ao avaliar a situação de saúde do ex-presidente, a equipe médica ficou preocupada com indícios de piora no quadro. Desde a facada em 2018, Bolsonaro tem histórico de interrupção do trânsito no intestino, que é controlada a partir de medicação.

 

— Da forma como ele chegou, bastante desidratado, com muita dor e distensão abdominal exuberante, dá para dizer com alguma segurança que esse foi o quadro mais exuberante em relação aos quadros anteriores que ele apresentou. Embora eu não tenha acompanhado presencialmente as outras ocasiões — afirmou em coletiva o médico Claudio Birolini, que acompanha o quadro clínico de Bolsonaro e participou da cirurgia em Brasília.

Alguns conselheiros queriam que Bolsonaro fosse acompanhado em São Paulo pela equipe do médico Antonio Luiz Macedo, que monitora seu estado desde a época da facada. Michelle, porém, se opôs à ideia e optou por realizar a cirurgia em Brasília, sob os cuidados de Birolini, especialista em parede abdominal.

 

A obstrução intestinal, causa da internação de Bolsonaro, ocorre quando há bloqueio do intestino, parcial ou completo, o que impede o funcionamento normal do sistema digestivo ou a passagem das fezes. O ex-presidente também foi hospitalizado devido ao problema em maio do ano passado, em 2023 e em 2021. Em 2023, ele também chegou a ser operado para resolver a questão.

 

 

Riscos na inflação vão além dos alimentos

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Dado seu papel no orçamento das famílias, sobretudo as mais pobres, a inflação dos alimentos, que acumula 7,67% em 12 meses, concentra atenções da opinião pública e preocupações políticas do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A mais recente pesquisa do Datafolha ajuda a dimensionar o impacto dessa carestia no eleitorado. Neste abril, 58% dos brasileiros aptos a votar relataram ter reduzido a compra de comida, taxa que chega a 67% na faixa até de dois salários mínimos. Para 54% dos entrevistados, ademais, o governo tem muita responsabilidade pelo encarecimento.

Os riscos relacionados à inflação, porém, vão além dos voláteis preços dos alimentos. O IPCA teve variação de 5,48% nos 12 meses contados até março, maior taxa desde fevereiro de 2023. De outubro de 2024 até agora, a variação desse índice supera os 4,5% ao ano —acima, portanto, do limite estabelecido pela política monetária (meta de 3% mais margem de 1,5 ponto percentual).

Os núcleos do IPCA, que descontam oscilações capazes de distorcer a medição, indicaram aceleração em março. A inflação dos serviços, tradicionalmente mais estável, é de 5,88% anuais.

Enquanto isso, a elevação dos juros, que já chegam a 14,25% e rumam aos 15% ao ano, ainda não faz efeito. O recuo do dólar no primeiro trimestre tampouco alivia a alta de preços, por ora.

O desempenho de indústria, comércio e serviços, segundo o IBGE, apresentou alguma desaceleração, "incipiente", na expressão empregada pela autoridade monetária. Mas os números de atividade estimados pelo Banco Central mal mostram tal perda de ritmo. Desde outubro do ano passado, o crescimento anual da economia, segundo tais dados, anda entre 3,7% e 3,9%.

O quadro geral é de uma economia aquecida, com inflação resistente, riscos aumentados e incertezas disseminadas.

De um lado, pelas informações disponíveis, não é um cenário propício para o arrefecimento dos preços. De outro, os números deste primeiro trimestre já parecem um tanto envelhecidos pela balbúrdia causada por Donald Trump e seus efeitos na nova configuração do comércio mundial, que devem aparecer já nos próximos meses.

Discute-se inclusive a tendência da cotação do dólar, se de recuo, estabilidade ou volta a níveis críticos, além de R$ 6.

Pode ser que uma desaceleração econômica mundial provoque baixa nos preços de commodities, como já ocorre com o petróleo. Mas há dúvidas sobre o que será dos alimentos, indefinição multiplicada pela incerteza a respeito da taxa de câmbio.

A perda de receitas petrolíferas e o PIB menor previsto para este ano tendem a derrubar a arrecadação do governo, agravando a situação fiscal, o que influencia expectativas de inflação. O único remédio disponível a fim de evitar impactos maiores continua a ser contenção dos gastos públicos e serenidade nas relações externas.

ProUni carece de aprimoramento

Por Notas & Informações / O ESTADÃO DE SP

 

O número de matrículas em curso superior por meio do Programa Universidade para Todos (ProUni) vem recuando consecutivamente desde 2020. No ano passado, de acordo com o Semesp, entidade que representa mantenedoras de ensino superior, o ProUni ofereceu 651 mil bolsas, mas apenas cerca de 30% foram utilizadas.

 

Instituído em 2005, o ProUni já beneficiou quase 3,5 milhões de estudantes brasileiros. O programa oferece bolsas de estudo parcial e integral para alunos de baixa renda.

 

É inegável que iniciativas para estimular o acesso à educação num país tão desigual e injusto quanto o Brasil é uma necessidade. Por meio do ProUni, famílias que há gerações estiveram barradas do ensino superior finalmente viram um ou mais de seus membros conquistarem o tão sonhado diploma, experiência que pode ser um divisor de águas nos níveis de renda e bem-estar.

 

A queda constante no número de matrículas via ProUni sinaliza, contudo, que o programa deve ser revisitado, de modo a refletir melhor as necessidades de um mundo em que o acesso ao conhecimento e ao mercado de trabalho passa por rápida transformação.

 

Em diversos países do mundo, jovens da chamada geração Z (formada por nascidos entre 1995 e 2010) têm demonstrado inquietação com o futuro. Embora seja considerada supereducada em comparação aos baby boomers, como é chamada a geração nascida no pós-guerra, entre 1946 e 1964, a geração Z demonstra extrema angústia com o custo de vida e com a dificuldade de inserção no mercado de trabalho. Não raro, sente-se traída porque, a despeito de ter se dedicado aos estudos, não se vê recompensada por seus esforços.

 

Comprar um imóvel ou pagar aluguel é bem mais caro hoje do que foi para os boomers, ainda que em termos de instrução formal a geração dos filhos do pós-guerra seja menos privilegiada que a dos jovens da geração Z.

 

No Brasil, os problemas se sobrepõem. Durante décadas, valeu a máxima de que um diploma universitário era a chave para a prosperidade. O conhecimento é indubitavelmente uma jornada transformadora, que oferece aos mais diferentes indivíduos meios de entender melhor sua própria condição.

 

Mas a elevada expectativa que se colocou no acesso ao ensino superior gera extrema frustração quando, ao fim de um curso universitário, o jovem de família pobre se depara com a realidade de um mercado de trabalho que para ele permanece inacessível, apesar da promessa de que, se se esforçasse, seria recompensado com um bom cargo e boa renda.

 

Isso se dá por diversas razões. Seja porque a qualidade do curso escolhido não era boa o suficiente para que o formado conquistasse um emprego promissor, seja porque a educação de base do estudante não lhe permitiu acompanhar as aulas do curso superior de forma satisfatória, ou seja, ainda, porque a faculdade escolhida não está em sintonia com as necessidades de uma economia global em acelerada transformação.

 

Por fim, o fato de que o aumento da escolaridade do brasileiro, nas últimas décadas, não se traduziu em aumento da produtividade do trabalhador só corrobora a necessidade de que políticas públicas como o ProUni sejam aperfeiçoadas.

 

Uma das críticas que se fazem ao programa, e que ajudaria a explicar a queda no volume de matrículas, está relacionada ao fato de que as bolsas disponíveis são para cursos de pouca demanda, ou seja, sobram vagas que ninguém quer. Adequar a oferta dos cursos às necessidades dos estudantes e do mercado de trabalho é um primeiro passo para que o programa seja efetivamente benéfico para o País.

 

Também é essencial reconhecer que nos últimos anos tem crescido entre a população o desejo de empreender, atividade que não exige curso superior, especialmente em época em que o conhecimento já não está circunscrito aos muros das universidades.

 

E há ainda o fato de que cursos técnicos de duração menor muitas vezes oferecem aos estudantes uma formação mais sólida e orientada que a de faculdades de quatro ou cinco anos cuja existência não faz lá muito sentido.

 

Embora a experiência de duas décadas do ProUni tenha produzido frutos, repensar o programa é essencial para que ele se mantenha relevante no futuro.

Na visão dos técnicos, o tema é urgente. "Quanto mais perto da eleição de 2026, pior", avalia Nagamine. Ele ressalta que, para além dos obstáculos políticos, as mudanças nas regras de acesso demoram a surtir efeito relevante nas finanças. Por isso, o reco

Por Notas & Informações / O ESTADÃO DE SP

 

Após pressões de organizações da sociedade civil, o Congresso Nacional, enfim, pausou a genuflexão que tradicionalmente presta ao poderoso e eficiente lobby dos beneficiários dos “supersalários” no funcionalismo público e decidiu enfrentar o problema. Mas o fez da pior maneira possível. Proposto em 2021, o Projeto de Lei (PL) 2.721, que tinha como objetivo original “identificar as parcelas não sujeitas ao limite remuneratório” – ou seja, definir o que, de fato, merecia a classificação de “verbas indenizatórias”, artimanha que engorda os holerites de uma casta de privilegiados em muitos milhares de reais – criou tantas exceções que, na prática, caminhou na direção diametralmente oposta: ao invés de reduzir o gasto público com o salário de servidores, amplia-o em inacreditáveis R$ 3,4 bilhões.

 

O valor foi calculado pelo Movimento Pessoas à Frente, organização independente que se dedica a estudar o setor público. Trazendo para a realidade cotidiana o que os “supersalários” representam de atraso para o Brasil, a diretora-executiva dessa organização, Jessika Moreira, disse ao Estadão uma verdade tão singela quanto incontestável: “O recurso que sai (do Orçamento) para pagamento desses auxílios sai do mesmo cofre do pagamento das principais políticas públicas”. Ou seja, quanto mais dinheiro vai para o pagamento de “supersalários” para a elite do funcionalismo público, menos sobra, evidentemente, para o custeio de ações do Estado que são determinantes para a vida e o bem-estar da maioria dos brasileiros. É tão simples quanto isso.

 

No Brasil, há poucas subversões tão grosseiras do ideal republicano quanto o pagamento desses “supersalários” para uma casta de servidores. A bem da verdade, “supersalário” descreve até com certa brandura o que é uma rematada afronta à moralidade pública e à Constituição, que define como teto remuneratório do serviço público o salário de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) – hoje fixado em R$ 46,3 mil.

 

Ao que tudo indica, porém, o inciso XI do artigo 37 da Constituição é letra morta neste país onde há leis que “pegam” ou “não pegam”. Dia sim e outro também, o contribuinte é humilhado ao tomar conhecimento de servidores, em sua grande maioria do Poder Judiciário e do Ministério Público, que recebem, quase todos os meses, valores muito acima do que estariam autorizados a receber caso fosse respeitado o teto constitucional. Ao fim e ao cabo, é disto que se trata: de uma desabrida violação da Constituição.

 

Isso acontece porque os privilegiados engendram toda sorte de ardis para receber valores extrateto à guisa de “indenização” – e sobre os quais, para piorar, não incide o mesmo Imposto de Renda que é pago pelos reles mortais. Em muitos casos aprovadas administrativamente, vale dizer, pelas instâncias de representação dos interesses classistas e/ou funcionais dos próprios servidores, as chamadas “verbas indenizatórias”, que, a rigor, deveriam ser pontuais e destinadas ao ressarcimento do servidor por despesas feitas no exercício do serviço público, passam ao largo de qualquer controle ou limitação e, na prática, acabam incorporadas a seus vencimentos.

 

Da forma como o PL 2.721/2021 tem sido tratado pelo Congresso, tudo leva a crer que as “mudanças”, por assim dizer, nos critérios de seleção das prebendas que devem ou não estar sob o teto remuneratório não se prestam a outra coisa senão a manter tudo rigorosamente como está.

 

Se deputados e senadores realmente desejam enfrentar o problema dos “supersalários”, só há um caminho possível: rever o PL 2.721/2021 de forma a reconduzi-lo ao seu espírito original, com regras claras e rigorosas que limitem, de fato, os vencimentos dos servidores ao teto constitucional. Qualquer medida em sentido contrário será vista pela sociedade, com razão, como uma vitória da esperteza sobre a moralidade, do privilégio sobre o interesse público e da omissão sobre a responsabilidade do Parlamento.

Déficit na Previdência desafia estados e municípios, e PEC federal volta à mesa para endurecer regras

Idiana Tomazelli / FOLHA DE SP

 

A decisão do Congresso Nacional de desvincular estados e municípios da reforma da Previdência aprovada em âmbito federal abriu caminho para uma diversidade de regras que, mais de cinco anos depois, ajuda a impulsionar o déficit nos governos regionais.

 

Seis estados e 1.356 municípios —o equivalente a dois terços daqueles com regimes próprios— ainda não aprovaram nenhum aperto nos critérios de aposentadoria e pensão, segundo estudo dos pesquisadores Rogério Nagamine e Bernardo Schettini, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). O quadro amplia o risco de futuro desequilíbrio nas contas.

 

A situação motivou uma nova investida de entidades municipalistas pela aprovação de uma PEC (proposta de emenda à Constituição) federal para amarrar as prefeituras às regras mais duras em vigor desde 2019. "Nós vamos lutar para reincluir, porque isso é moralizante", diz o presidente da CNM (Confederação Nacional dos Municípios), Paulo Ziulkoski.

 

A União é responsável pela maior parcela dos gastos no Brasil com Previdência e assistência social. Mesmo assim, a despesa de estados e municípios é relevante e tem crescido acima da inflação.

Em 2024, os governos estaduais bancaram R$ 74,7 bilhões em benefícios por trimestre, em média. A cifra representa uma alta real de 6% em relação ao observado em 2019, antes da pandemia.

 

Nos municípios, o gasto médio trimestral alcançou R$ 25 bilhões no ano passado, valor que, embora menor em termos absolutos, significou uma expansão mais veloz, de 19,3% no período. A variação superou até mesmo a alta real de 13,2% observada na União na mesma comparação. Os cálculos foram feitos pelo economista Bráulio Borges, economista-sênior da LCA 4intelligence, pesquisador associado do FGV Ibre e colunista da Folha, a partir de dados do Tesouro Nacional.

 

O envelhecimento da população é um desafio em comum para todos os regimes previdenciários. A situação é mais preocupante para aqueles que não fizeram nenhum tipo de reforma, mas o déficit subiu mesmo entre os dez estados que implementaram normas idênticas às do governo federal, como São Paulo e Paraná.

 

 

Além disso, 11 deles implementaram regras mais brandas do que as vigentes para a União. O rombo agregado da Previdência dos estados alcançou R$ 145,6 bilhões em 2023.

 

"Ter permitido que estados e municípios tivessem regra diferente da União foi um retrocesso", critica Nagamine, que era subsecretário do RGPS (Regime Geral da Previdência Social) quando a PEC foi enviada, no começo de 2019.

 

Antes da reforma, todos os entes seguiam as normas federais, o que foi mantido na proposta original, mas derrubado pelo Legislativo. Na época, os parlamentares argumentavam que não cabia ao Congresso assumir um ônus político que deveria recair sobre governadores e prefeitos.

"O resultado foi esse, uma confusão de regras heterogêneas e, em geral, mais brandas", diz Nagamine.

Dos seis estados que não fizeram nenhuma mudança, Amapá, Amazonas, Distrito Federal e Pernambuco não se manifestaram. Maranhão e Roraima chegaram a responder perguntas sobre outros temas, mas não sobre Previdência.

 

O problema é ainda mais grave nos municípios. "Os pequenos e médios têm muita dificuldade, porque o servidor vai direto na casa do vereador. É diferente do deputado federal, ou mesmo do estadual. A pressão é grande", afirma Leonardo Rolim, que já foi secretário de Previdência, presidente do INSS e é especialista no tema.

 

"Sem falar que, no caso dos municípios, o quórum é maior. São dois terços [dos votos] para mudar a lei orgânica. Para mudar a Constituição estadual ou federal, são [necessários] três quintos", acrescenta.

 

Para tentar amenizar o problema, os municípios tentam se vincular às regras da União por meio da PEC 66, que renegocia dívidas previdenciárias e judiciais das prefeituras.

A versão aprovada pelo Senado Federal previa a aplicação das regras mais duras tanto para municípios quanto para estados. Na Câmara dos Deputados, o trecho foi suprimido ainda na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), que viu inconstitucionalidade na mudança. A derrubada teve apoio do PT, do PL e do centrão e, segundo relatos, atendeu a pressões políticas de categorias como juízes, promotores e policiais civis.

 

"Como que é inconstitucional voltar à regra que sempre esteve na Constituição?", questiona Rolim.

 

Diante do revés, os municípios e os técnicos mudaram de estratégia e tentam emplacar uma regra focada nas prefeituras, com um prazo de 18 meses para que elas aprovem suas próprias reformas. Se isso não acontecer, elas ficarão vinculadas às regras da União. "Os próprios servidores, que hoje brecam [a mudança], vão querer negociar. É melhor para eles ter uma regra um pouco mais branda", diz o ex-presidente do INSS.

 

A PEC agora será discutida em uma comissão especial na Câmara, a ser instalada no início de maio. Indicado como relator nesta fase, o deputado Baleia Rossi (MDB-SP) diz que ainda não conversou com as entidades municipalistas, mas que pretende debater o tema.

 

"Isso vai ser fruto de aprofundamento e discussão. Um dos temas prioritários da comissão especial será essa adequação [da Previdência]", afirma. Para ele, como o PT apoiou a derrubada do trecho, será importante ter apoio do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para buscar uma solução que ajude os municípios.

Na visão dos técnicos, o tema é urgente. "Quanto mais perto da eleição de 2026, pior", avalia Nagamine. Ele ressalta que, para além dos obstáculos políticos, as mudanças nas regras de acesso demoram a surtir efeito relevante nas finanças. Por isso, o recomendado é aprová-las o mais rápido possível.

O pesquisador do Ipea afirma ainda que a velocidade da mudança é importante também porque, nos próximos 10 a 20 anos, há previsão de grande volume de aposentadorias de professores —categoria relevante nas folhas de pagamento de estados e municípios e que conta com regras mais vantajosas, que permitem se aposentar mais cedo.

Antes mesmo de resolver o impasse sobre as regras de acesso, os governos regionais correm o risco de sofrer um revés no STF (Supremo Tribunal Federal), referente a uma das regras da reforma de 2019 que os beneficiou.

A emenda constitucional autorizou os regimes próprios que têm planos para equacionar seus déficits a recolher contribuições sobre a aposentadoria daqueles que recebem abaixo do teto do INSS, mas acima de um salário mínimo. Antes, a cobrança era permitida apenas sobre valores acima do teto do INSS.

Embora ainda não haja decisão definitiva, a Corte já tem maioria para derrubar a medida. Como resultado, estados e municípios que já implementaram a alíquota deixarão de arrecadar os recursos extras e precisarão cobrir essa parcela do déficit com outras receitas. Isso inclui a prefeitura de São Paulo, que, segundo Rolim, deve perder cerca de R$ 1 bilhão por ano.

 

"Por que toda a sociedade tem que pagar o déficit? Por que o aposentado e o pensionista não podem pagar um pedaço do déficit? Faz todo sentido, já que ele é o grande beneficiário", diz.


Série aborda desequilíbrios nas finanças de estados e municípios

A situação das finanças regionais é tema da série de reportagens "Desafio fiscal de estados e municípios", que a Folha publica nesta semana.

O material mostra como a nova rodada de descentralização de recursos, inclusive via emendas parlamentares, serviu para turbinar as despesas, com consequências relevantes não só para a saúde fiscal desses entes mas também para o cenário econômico e político do país.

O Censo Escolar do MEC apresenta resultados decepcionantes

Por Editorial / O GLOBO

 

Não são animadores os resultados do último Censo Escolar, divulgado pelo Ministério da Educação (MEC). Os números da pré-escola recuaram no ano passado. As crianças em creches aumentaram ligeiramente, mas ainda ficaram abaixo da meta. O Ensino de Jovens e Adultos (EJA), destinado a estudantes que não completaram a educação básica, retrocedeu. As matrículas em cursos profissionalizantes cresceram, porém aquém do desejado. A melhor notícia é o crescimento das matrículas em tempo integral, mesmo assim também abaixo do ritmo ideal.

 

A pré-escola registrou 34 mil matrículas a menos, caindo para 5,3 milhões. Pelas metas do próprio MEC, o segmento já deveria ter sido universalizado desde 2016, mas 7% das crianças entre 4 e 5 anos ainda estão fora da sala de aula. Não é muito diferente com as creches, para crianças de até 3 anos. As matrículas subiram de 4,12 milhões para 4,18 milhões no ano passado, mas a meta era contemplar ao menos 50% da faixa etária, ou 5 milhões. A falta de creches tem impacto relevante no mercado de trabalho, pois elas representam apoio importante para mães que trabalham fora.

 

O EJA também desapontou: perdeu 198 mil alunos em 2024, oitavo ano seguido de queda. Mesmo o Nordeste, que concentra o maior número de estudantes (1,2 milhão), perdeu 90 mil alunos. É uma lástima num país que deveria se esforçar para aumentar a escolaridade de seus cidadãos, permitindo que eles busquem melhores oportunidades de trabalho. A queda está ligada à pouca flexibilidade dos cursos e à falta de apoio aos estudantes. Quase metade da população brasileira (49,2%) não concluiu o ensino médio.

 

Há também notícias positivas. Uma delas é o aumento de matrículas em tempo integral, caminho conhecido para melhorar a qualidade do ensino. Houve 624 mil novas matrículas, e o total alcançou 7,9 milhões. Mas o ritmo de crescimento arrefeceu em relação a anos anteriores. O ensino profissionalizante e técnico, essencial para ampliar a conexão com o mercado de trabalho, cresceu 6,7%, chegando a 2,57 milhões de matrículas, mas ainda está longe da meta de 4,8 milhões.

 

O MEC tem resistido a dar publicidade aos dados do ensino. O Censo Escolar foi divulgado com atraso de três meses. Os números da alfabetização só se tornaram públicos na semana passada, depois de sonegados por meses, sob o argumento de que havia discrepâncias. Por que não divulgar e apontar a discrepância? Não é deixando de publicar informações que o MEC conseguirá melhorar a qualidade do ensino. Cedo ou tarde, elas sempre vêm à tona, expondo as deficiências. Em que pesem os avanços, o retrato traçado pelo Censo Escolar é de estagnação, mostrando que o governo não consegue cumprir nem as próprias metas. É nisso que o MEC deveria se concentrar, em vez de esconder informações.

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