O Censo Escolar do MEC apresenta resultados decepcionantes
Por Editorial / O GLOBO
Não são animadores os resultados do último Censo Escolar, divulgado pelo Ministério da Educação (MEC). Os números da pré-escola recuaram no ano passado. As crianças em creches aumentaram ligeiramente, mas ainda ficaram abaixo da meta. O Ensino de Jovens e Adultos (EJA), destinado a estudantes que não completaram a educação básica, retrocedeu. As matrículas em cursos profissionalizantes cresceram, porém aquém do desejado. A melhor notícia é o crescimento das matrículas em tempo integral, mesmo assim também abaixo do ritmo ideal.
A pré-escola registrou 34 mil matrículas a menos, caindo para 5,3 milhões. Pelas metas do próprio MEC, o segmento já deveria ter sido universalizado desde 2016, mas 7% das crianças entre 4 e 5 anos ainda estão fora da sala de aula. Não é muito diferente com as creches, para crianças de até 3 anos. As matrículas subiram de 4,12 milhões para 4,18 milhões no ano passado, mas a meta era contemplar ao menos 50% da faixa etária, ou 5 milhões. A falta de creches tem impacto relevante no mercado de trabalho, pois elas representam apoio importante para mães que trabalham fora.
O EJA também desapontou: perdeu 198 mil alunos em 2024, oitavo ano seguido de queda. Mesmo o Nordeste, que concentra o maior número de estudantes (1,2 milhão), perdeu 90 mil alunos. É uma lástima num país que deveria se esforçar para aumentar a escolaridade de seus cidadãos, permitindo que eles busquem melhores oportunidades de trabalho. A queda está ligada à pouca flexibilidade dos cursos e à falta de apoio aos estudantes. Quase metade da população brasileira (49,2%) não concluiu o ensino médio.
Há também notícias positivas. Uma delas é o aumento de matrículas em tempo integral, caminho conhecido para melhorar a qualidade do ensino. Houve 624 mil novas matrículas, e o total alcançou 7,9 milhões. Mas o ritmo de crescimento arrefeceu em relação a anos anteriores. O ensino profissionalizante e técnico, essencial para ampliar a conexão com o mercado de trabalho, cresceu 6,7%, chegando a 2,57 milhões de matrículas, mas ainda está longe da meta de 4,8 milhões.
O MEC tem resistido a dar publicidade aos dados do ensino. O Censo Escolar foi divulgado com atraso de três meses. Os números da alfabetização só se tornaram públicos na semana passada, depois de sonegados por meses, sob o argumento de que havia discrepâncias. Por que não divulgar e apontar a discrepância? Não é deixando de publicar informações que o MEC conseguirá melhorar a qualidade do ensino. Cedo ou tarde, elas sempre vêm à tona, expondo as deficiências. Em que pesem os avanços, o retrato traçado pelo Censo Escolar é de estagnação, mostrando que o governo não consegue cumprir nem as próprias metas. É nisso que o MEC deveria se concentrar, em vez de esconder informações.