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Zambelli diz que deixou o Brasil após ser condenada à prisão e afirma que não voltará

Marianna Holanda / FOLHA DE SP

 

Condenada a dez anos de prisão, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) disse nesta terça-feira (3) ter deixado o Brasil e que não voltará.

Ela afirmou estar fora do país "há alguns dias" e que ficará baseada na Europa, por ter cidadania de um país do continente, mas não entrou em detalhes sobre a localidade. A parlamentar disse querer ter no continente uma atuação como a de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos, fazendo que chama de "denúncias" contra os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

"Queria anunciar que estou fora do Brasil, já faz alguns dias, vim à princípio buscar tratamento médico, que já fazia aqui, e agora vou pedir inclusive para que eu possa me afastar do cargo. Tem essa possibilidade na Constituição. Acho que as pessoas conhecem um pouco mais disso hoje em dia, é o que o Eduardo [Bolsonaro] fez também", disse.

"Então, eu passo a não receber mais salário e meu gabinete vai ser ocupado pelo meu suplente. [Ele] assume e fico fora do país neste período. Vou me basear na Europa", completou.

Eduardo Bolsonaro tem defendido junto a autoridades do governo de Donald Trump, nos Estados Unidos, sanções contra ministros do Supremo e criticado o que classifica como perseguição do judiciário brasileiro contra bolsonaristas.

 

Na semana passada, o STF abriu investigação contra o deputado, pelos supostos crimes de coação, obstrução de investigação e abolição violenta do Estado democrático de Direito.

O ministro Alexandre de Moraes atendeu a um pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República), que apontou atuação de Eduardo contra "integrantes do Supremo Tribunal Federal, da Procuradoria-Geral da República e da Polícia Federal" nos Estados Unidos.

Quando ele deixou o país, não era investigado pelo STF e alegou temor de ter o passaporte apreendido.

Carla Zambelli já foi condenada na Primeira Turma da corte e seus advogados recorrem internamente da decisão. Durante a entrevista, ela citou diversas vezes a atuação de Eduardo.

"Estou escolhendo a Europa, porque ele já está fazendo trabalho exemplar nos Estados Unidos", disse.

 

"Vou denunciar, sim, tudo que está acontecendo. (...) Quero expor isso para o mundo para que eles saibam quem são os ministros da Suprema Corte do Brasil", completou.

Carla afirmou ainda que quer buscar lideranças de ultradireita na Itália, em Portugal e na França. Ela disse que a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, precisa "entender" o que está acontecendo, que os espanhois precisam "acordar, que a esquerda está fazendo muito mal para o país".

Questionada sobre André Ventura, presidente do partido Chega, e líder de ultradireita em Portugal, ela disse que vai procurá-lo e quer mostrar o que está "acontecendo no Brasil".

"Está acontecendo um movimento mundial de supremas cortes tentando entrar no legislativo e no executivo e afogar as pessoas conservadoras", disse.

A deputada federal fez ainda críticas ao sistema de urnas eletrônicas do Brasil e disse que Jair Bolsonaro (PL) não perdeu a eleição de 2022 porque ela perseguiu armada um homem em São Paulo nas vésperas do segundo turno -- episódio pelo qual foi denunciada pela PGR e disse nesta terça-feira que não estava errada.

 

Carla classificou o momento ocorrido na Avenida Paulista como seu "inferno astral", e disse que o ex-secretário de Comunicação e advogado de Bolsonaro, Fábio Wajngarten, contaminou o ex-presidente contra ela. "Quando na verdade todo mundo carrega um pouco das coisas que poderiam ter sido feitas", disse.

Ela afirmou ainda que ainda que não "abandonou" o país. "Não estou desistindo da minha luta, pelo contrário, é resistir. Poder continuar falando o que eu quero falar", completou. Ele se comparou ainda à tatuagem de fênix que disse ter, e afirmou que vai renascer das cinzas.

Foi em uma conversa com o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos que ela disse ter se convencido de não voltar ao Brasil. Ele tem um pedido de extradição nos Estados Unidos, mas as autoridades americanas não dão prosseguimento ao caso.

Segundo a parlamentar, ele questionou se ela veria nas próximas semanas ou meses o Brasil "voltar a ser uma democracia". Bolsonaristas repercutem a narrativa de que há hoje no país uma ditadura, por não reconhecerem o resultado das eleições de 2022, apesar de não apresentarem provas sobre irregularidades, e por criticarem a atuação do STF.

"Eu poderia ir para a prisão. Esperar um tempo, continuar no meu país, e depois me entregar para a justiça. Mas que justiça? Que judiciário? Que prende a Débora [Rodriges] por 14 anos. Quer prender Carla Zambelli por 15? Uma pessoa que matou outra acabou de pegar 14 [anos]. Eu não roubei, não estuprei, não matei. Eu falei", disse.

 

No último dia 9 de maio, a parlamentar foi condenada por unanimidade pela Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) sob acusação de ter comandado invasão aos sistemas institucionais do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), com o auxílio do hacker Walter Delgatti. O objetivo seria emitir alvarás de soltura falsos e provocar confusão no Judiciário.

Ela teria orientado Delgatti a forjar documentos falsos, entre os quais um mandado de prisão para o ministro Alexandre de Moraes, com a finalidade de causar tumulto político no país.

A deputada, que nega as acusações, disse em entrevista à Folha no mês passado ter medo do que poderia acontecer com ela na prisão.

"Eu tenho um pouco de receio das outras mulheres na cadeia, né? Porque eu nunca sei o que vou encontrar, mas eu também luto, então não tenho medo de apanhar. O maior problema é ficar longe da família", diz a deputada, relatando temer por sua saúde.

Nesta terça, Zambelli disse que pedirá para se afastar do cargo com uma licença não remunerada, assim como fez o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). O prazo para este tipo de afastamento é de quatro meses.

DEPUTAda caSSADA CARLA ZAMBELLI

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