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Dino abre investigação contra Bolsonaro, filhos e outros 20 com base na CPI da Covid

Cézar Feitoza / FOLHA DE SP

 

O ministro Flávio Dino, do STF (Supremo Tribunal Federal), decidiu abrir um inquérito contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus filhos Eduardo, Flávio e Carlos, além de outras 20 pessoas, por incitação ao descumprimento de medidas efetivas para o combate à pandemia da Covid-19.

A investigação foi aberta a pedido da Polícia Federal e com base no relatório final da CPI da Covid, conduzida pelo Senado em 2021.

No despacho, Dino determina que a investigação tenha um prazo inicial de 60 dias. A PF informou ao Supremo ter interesse em realizar diligências complementares às realizadas pela CPI da Covid, como a "oitiva dos envolvidos e outras medidas que se mostrem necessárias".

O inquérito aberto tem como foco a disseminação de desinformação sobre a pandemia e o incentivo ao desrespeito de medidas de combate à Covid-19. Dino destacou, porém, que a investigação realizada pelos senadores identificou ainda outros possíveis crimes.

"A investigação parlamentar apontou indícios de crimes contra a administração pública, notadamente em contratos, fraudes em licitações, superfaturamentos, desvio de recursos públicos, assinatura de contratos com empresas de ‘fachada’ para prestação de serviços genéricos ou fictícios, dentre outros ilícitos mencionados no relatório da CPI", acrescentou.

Bolsonaro foi condenado pela Primeira Turma do STF no último dia 11 a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe de Estado, dentre outros crimes.

No caso do inquérito baseado na CPI da Covid, além de Bolsonaro e seus familiares, são alvos os parlamentares Osmar Terra (PL-RS), Bia Kicis (PL-DF), Carla Zambelli (PL-SP), Carlos Jordy (PL-RJ), Ricardo Barros (PP-PR) e os ex-integrantes do governo Bolsonaro Onyx Lorenzoni, Ernesto Araújo, Filipe Martins, Tercio Arnaud Tomaz e Hélio Angotti Neto.

Também serão investigados os empresários Carlos Wizard e Luciano Hang; o coronel da reserva Hélcio Bruno de Almeida; e os influenciadores bolsonaristas Allan dos Santos, Oswaldo Eustáquio, Bernardo Kuster, Paulo Eneas, Richard Dyer Pozzer, Leandro Ruschel e Otávio Fakhoury.

A investigação foi aberta dois dias após a Câmara dos Deputados aprovar a PEC da Blindagem. O texto prevê que parlamentares só podem ser investigados mediante prévia autorização do Congresso, em votação secreta.

A proposta está no Senado, e o presidente Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) indicou às lideranças partidárias que não deve dar celeridade à PEC diante da resistência de senadores ao tema.

Os 24 novos investigados compõem apenas uma parte do relatório final da CPI da Covid aprovado pelos senadores em 2021.

A lista de indiciamento aprovada tinha 80 nomes relacionados à incitação ao descumprimento de medidas contra a disseminação da Covid, irregularidades em negociações de vacinas, demora para compra de imunizantes eficazes e omissão para evitar o colapso sanitário no Amazonas.

As conclusões da CPI foram enviadas em novembro de 2021 ao Supremo e à PGR (Procuradoria-Geral da República). O então procurador-geral Augusto Aras não deu andamento às investigações, e o caso ficou travado no Supremo.

Os casos relacionados à CPI da Covid foram enviados ao gabinete de Flávio Dino após a aposentadoria da ministra Rosa Weber. Em setembro de 2024, o ministro pediu manifestações da Polícia Federal e da PGR sobre quais medidas deveriam ser dadas diante das informações.

A Polícia Federal solicitou a abertura do inquérito. Dino só acatou a sugestão na quarta-feira (17).

Essa é a segunda reação do ministro Flávio Dino às recentes investidas da Câmara dos Deputados que tentam blindar parlamentares de investigações e processos criminais.

Também na quarta, o ministro decidiu finalizar a instrução dos processos sobre as emendas parlamentares no STF (Supremo Tribunal Federal) e acelerar o julgamento que pode reduzir os poderes do congressistas sobre o Orçamento.

O tribunal tem cerca de 80 inquéritos abertos para investigar parlamentares e ex-parlamentares suspeitos de crimes relacionados ao envio dos recursos. Os inquéritos, todos sob sigilo, estão em ao menos seis gabinetes no Supremo.

O temor com o avanço das investigações foi um dos motivos citados por políticos do centrão nos bastidores da Câmara para aprovar a PEC da Blindagem. O texto prevê que investigações contra parlamentares só podem ser abertas no STF mediante aval de deputados e senadores, em votação secreta.

TSE nega recurso do prefeito afastado e mantém nova eleição em Santa Quitéria

Escrito por Redação ; DIARIONORDESTE
 

No mesmo dia em que suspendeu a eleição suplementar em Barroquinha, o ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) André Mendonça negou recurso do prefeito afastado de Santa Quitéria, Braguinha (PSB), mantendo o novo pleito na cidade. A decisão mantém os efeitos de um acórdão do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE) que havia cassado os diplomas do prefeito e do vice, Gardel Padeiro. A eleição suplementar deve ocorrer no dia 26 de outubro. 

A cassação dos diplomas pelo TRE-CE ocorreu por abuso de poder econômico e político. Segundo a ação movida pelo Ministério Público, a facção criminosa "Comando Vermelho" teve interferência nas eleições de Santa Quitéria em 2024, mediante coação, ameaça e intimidação de eleitores para favorecer a chapa, com envolvimento de candidatos e agentes públicos.

O caso se tornou o mais emblemático das eleições passadas em relação a possíveis interferências de facções criminosas na política. Com a repercussão do caso, o prefeito foi cassado e está em prisão domiciliar atualmente. A população vai voltar às urnas no próximo dia 26 de outubro. 

 

Ex-diretor da PF na gestão Lula é preso em operação sobre corrupção em órgãos ambientais

Por Aguirre Talento e Fausto Macedo / O ESTADÃO DE SP

 

BRASÍLIA E SÃO PAULO – Um ex-diretor da Polícia Federal sob o governo Lula, Rodrigo de Melo Teixeira, foi preso em operação deflagrada pela PF nesta quarta-feira, 17, para apurar corrupção em órgãos ambientais. O Estadão ainda não conseguiu contato com a defesa de Rodrigo Teixeira.

 

Teixeira foi nomeado no início da gestão do atual diretor-geral Andrei Rodrigues e ocupava a função de diretor de Polícia Administrativa. Era o terceiro nome no nível hierárquico da cúpula da PF. Ele deixou o cargo no final do ano passado.

 

Atualmente, ele exerce a função de diretor de administração e finanças do Serviço Geológico do Brasil/Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (SGB/CPRM). Teixeira foi alvo de um dos 22 mandados de prisão preventiva da operação.

 

A PF aponta que ele é administrador oculto de uma empresa de mineração e mantinha negócios com os alvos investigados. Segundo a investigação, os fatos sob suspeita foram realizados por Rodrigo Teixeira quando ele era diretor da Polícia Federal na gestão de Andrei Rodrigues.

 

A investigação diz ainda que o delegado usava suas funções públicas para favorecer seus interesses. Cita, por exemplo, tentativas de interferência em investigações da própria PF que miravam empresários sob investigação.

 

O inquérito chegou ao nome de Rodrigo Teixeira por causa de seu relacionamento com um dos empresários investigados, João Alberto Lages. A partir disso, a PF identificou uma empresa de mineração ligada a ele e diz que empresários cederam direitos minerários a essa empresa, em troca da influência de Rodrigo Teixeira na administração pública.

 

“Essa cessão, embora documentada como ‘gratuita’, foi possivelmente movida por interesse concreto: contar com a atuação de um Delegado Federal no interior da estrutura empresarial, como forma de obter acesso diferenciado a órgãos públicos, prestígio perante possíveis compradores, garantia de proteção diante de concorrência ou, ainda, investigações em curso. Trata-se de oferta de vantagem indevida por parte de particulares a agente público”, diz trecho do pedido de prisão.

 

A PF cita, por exemplo, que quando Teixeira era diretor da corporação em Brasília, ele agendou uma reunião entre o empresário João Lages e um diretor da Agência Nacional de Mineração para conversar sobre uma investigação em andamento. A investigação também aponta que Teixeira pode ter atuado para remover o delegado responsável pelo caso.

 

A operação da PF deflagrada nesta quarta-feira aponta lucros indevidos de R$ 1,5 bilhão no esquema. As suspeitas envolvem servidores públicos da Agência Nacional da Mineração (ANM) e do Iphan, além de órgãos estaduais do governo de Minas Gerais. Um diretor da ANM em Brasília foi preso sob suspeita de corrupção, um ex-diretor também é alvo de prisão e a sede do órgão foi alvo de busca e apreensão.

 

De portas de teatro a ambulância para fim particular: veja as irregularidades nas emendas Pix suspensas pelo STF

Por   / O GLOBO

 

Em mais uma decisão com potencial de gerar desgaste com o Congresso, o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu ontem os repasses de emendas especiais — conhecidas como emendas Pix — com suspeitas de irregularidades destinadas ao Rio de Janeiro e a outras oito cidades. A decisão ocorreu após a Controladoria-Geral da União (CGU) apontar possíveis falhas na destinação de recursos. O ministro também encaminhou as informações para a Polícia Federal (PF), que deve incluí-las em investigações já existentes ou abrir novas apurações.

 

Nas emendas Pix, as verbas federais indicadas pelos parlamentares são enviadas diretamente para o caixa das prefeituras. Dino determinou que o “governo federal suspenda os repasses relativos às emendas auditadas com indícios de crimes”.

A auditoria da CGU foi feita nos dez municípios que mais receberam emendas Pix entre 2020 e 2024. Juntas, eles receberam cerca de R$ 725 milhões. Das dez cidades, apenas em São Paulo não foram encontrados erros no plano de trabalho ou na destinação dos recursos.

“Constatou-se a ineficiência e inefetividade na aquisição de bens e na execução dos serviços, incluindo indicativo de superfaturamento, de desvio de recursos, de favorecimento de empresas e ausência de comprovação da aquisição de bens, gerando não conformidades que impactaram significativamente na entrega dos objetos originalmente acordados”, disse a CGU no relatório.

Dino determinou que a CGU amplie a auditoria “progressivamente” para mais cidades, “inclusive à vista do altíssimo índice de problemas identificados em 9 (nove) dos municípios auditados”. O ministro é relator de diversas ações que tratam sobre emendas parlamentares e tem exigido critérios de transparência para os pagamentos.

Sobrepreço em serviços

No raio-X feito pela CGU, os auditores identificaram nas nove cidades um sobrepreço estimado em R$ 4,2 milhões em serviços e equipamentos. No Rio, os técnicos apontaram indícios de superfaturamento na aquisição de portas acústicas para os teatros Ipanema e Ziembinski. No total, o sobrepreço estimado foi de R$ 201,8 mil.

Em nota, a Prefeitura do Rio afirmou que os “questionamentos já foram amplamente esclarecidos durante a auditoria” da CGU, “em que foi demonstrado não haver qualquer irregularidade na utilização desses recursos”. Segundo a gestão municipal, menos de 2% dos recursos da emenda Pix em questão foram destinados às portas acústicas.

Após a CGU constatar a duplicidade no pagamento de R$ 119 mil para essa reforma, a prefeitura do Rio também afirmou que a despesa não ocorreu, tratando-se apenas de “um erro material na forma de composição do orçamento, já corrigido”. A administração ressaltou ainda que o preço dos itens seguiu procedimento formal de avaliação, com ratificação pela Fundação Getulio Vargas (FGV).

Em São João de Meriti (RJ), os técnicos encontraram os maiores valores de superfaturamento. Das quatro licitações realizadas em parte das emendas investigadas, houve somente um participante em três. Apenas na cidade fluminense, foram encontrados indícios de R$ 2,6 milhões em superfaturamento.

Procurada, a prefeitura de São João de Meriti afirmou, em nota, que a atual gestão recebeu o município com uma dívida de R$ 1,04 bilhão, que as transferências com irregularidade “dizem respeito à antiga gestão, referentes ao período de 2020 a 2024” e que "os bloqueios determinados pelo Supremo Tribunal Federal irão impactar de forma significativa o funcionamento de serviços essenciais”.

Diante disso, continua, "a Procuradoria-Geral do Município já está atuando nos autos para adotar as medidas cabíveis e a administração municipal irá auditar internamente os contratos vigentes que ainda façam parte dessas emendas".

Outro exemplo foi o município de Iracema (RR), onde a prefeitura pagou R$ 498,4 mil por uma unidade odontológica móvel. O valor foi considerado 37% acima do preço de mercado — a média apurada pela auditoria foi de R$ 362,9 mil. Além do sobrepreço, a CGU registrou que três ambulâncias adquiridas estavam sem porta lateral deslizante, em desconformidade com o que havia sido exigido no termo de referência e conforme constava nas notas fiscais.

Outro ponto destacado foi que um dos veículos aparentava estar sendo subutilizado. De acordo com a CGU, o odômetro (dispositivo que mede a distância total percorrida por um veículo) apontava uma distância total de 4,3 mil quilômetros. E, no interior do automóvel, não foram encontradas luvas, máscaras ou qualquer outro item que indicasse seu uso.

Ainda em Iracema, os auditores destacaram que “há evidências de que a van adquirida para o transporte dos profissionais de saúde estava sendo utilizada para fins particulares”. Isso porque foi encontrado no veículo uma placa de autorização para um evento intitulado “Inconformadas”, organizado por uma igreja protestante. Também encontraram uma lista de frequência para o “Curso Preparatório de Obreiros” de uma instituição ligada à igreja. Procurada, a prefeitura de Iracema não se manifestou.

“A equipe não achou evidências para explicar a razão da van conter uma lista de frequência de um curso de obreiros e para ter em seu para-brisa a autorização de um evento promovido por uma igreja. Portanto, há evidências de que a van esteja sendo usada para fins particulares”, destacou.

Já em Sena Madureira (AC), a prefeitura não conseguiu comprovar a entrega de combustível adquirido com recursos provenientes das emendas parlamentares auditadas, o que, segundo o relatório, pode levar a um prejuízo de R$ 1,8 milhão aos cofres públicos.

Procurada, a Prefeitura de Sena Madureira encaminhou um vídeo do atual prefeito, Gerlen Diniz, em que ele culpa a gestão anterior por desvios praticados com os recursos das emendas. O prefeito afirma que agora buscará reverter a suspensão determinada pelo ministro Flávio Dino.

— Quanto à liberação das emendas ou não, vamos trabalhar, mostrar que é uma nova gestão, que essa suspensaõ vai prejudicar a população, não é o prefeito, e que essa gestão não tem nada a ver com a anterior e vamos aguardar. Caindo o recurso, a gente executa as obras. Se não cair, vamos administrar do jeito que dá — afirmou o prefeito Gerlen Diniz.

 

Em Macapá (AP), os auditores identificaram indícios de direcionamento no certame licitatório para construção de passarelas. Segundo os documentos, o pregão apresentou inúmeras cláusulas restritivas, diminuindo a concorrência. A prefeitura da capital não se manifestou.

Baixa transparência

A CGU apontou ainda um caso do que é chamado de “química contratual”, prática vedada na qual se usa de serviços previstos em contrato, mas não executados, para justificar outros serviços sem contrato. O caso em questão envolvia a construção de passarelas mistas de madeira e concreto. O relatório fotográfico entregue na prestação de contas, porém, indicava a execução de uma escada em concreto armado e a pintura do chão, e não de uma passarela.

Os auditores destacaram a baixa transparência na gestão dos recursos. As prefeituras não abriram contas bancárias específicas para movimentar as verbas, dificultando a rastreabilidade. Além disso, em muitos casos, os planos de trabalho estavam ausentes ou incompletos na plataforma Transferegov, sem metas claras ou indicadores de resultado.

Em 2024, Dino mandou suspender pagamentos de emendas Pix e só os liberou mediante algumas condições, como a apresentação de plano de trabalho sobre o uso do recurso e a abertura de conta específica pelo município para receber o dinheiro. Isso significou uma mudança na forma como essas emendas funcionavam: o dinheiro ia para municípios e governadores sem um carimbo sobre a destinação dos recursos.

O que cabe ao prefeito

Por Notas & Informações / O ESTADÃO DE SP

 

O Órgão Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) impôs uma derrota ao prefeito Ricardo Nunes (MDB) ao decidir que o seu decreto que proíbe o serviço de mototáxi na capital é inconstitucional. Cúpula do Judiciário paulista, o colegiado composto por 25 desembargadores ordenou, por unanimidade, que a Prefeitura regulamente em até 90 dias essa modalidade de transporte oferecida por aplicativos. Os magistrados afirmaram ainda que compete à União, e não aos municípios, legislar sobre a matéria, além de considerarem o veto a esse serviço uma afronta aos princípios constitucionais da livre iniciativa e da livre concorrência. Em bom português, o recado foi para que Nunes pare de gastar energia com uma causa perdida e passe a se ocupar do que de fato é de sua competência.

 

Nunes ganhou, assim, um tempo razoável para respeitar a legislação federal e a Constituição, cumprir a ordem judicial e, sobretudo, trabalhar no que importa para os paulistanos, a começar por desistir de interpor recursos contra a decisão do TJ-SP e, enfim, liberar o serviço de mototáxi na cidade. Já é sabido que há demanda da população por esse tipo de serviço, principalmente na periferia, onde a falta de segurança e a precariedade do transporte coletivo estimulam esse modelo de negócio. Prova da insatisfação dos passageiros com o transporte coletivo é a mais recente Pesquisa Origem e Destino, do Metrô, que mostrou que os deslocamentos individuais, com 51,2% do total, voltaram a superar, após duas décadas, os feitos por transporte público (48,8%).

 

Logo, além de se dedicar para melhorar o sistema de ônibus da capital paulista, com a oferta de um serviço confortável, pontual, seguro e eficiente, o prefeito tem a tarefa de estabelecer uma regulamentação dos mototáxis com regras bem definidas, boas condições de atendimento à população, exigência de documentação, equipamentos básicos de segurança e fiscalização. Mas, para isso, Nunes terá de deixar para trás o discurso populista de combate à “indústria da multa” ao qual recorreu durante a eleição e passar a punir, com mais autuações, os maus motociclistas que, ao cometerem tantos abusos pelas ruas da metrópole, colocam sua vida e a de terceiros em risco.

 

Desde quando baixou o decreto, no começo de 2023, Nunes argumenta que esse serviço oferecido pelos aplicativos é perigoso para passageiros e condutores. Em entrevista recente à TV Globo, o prefeito deu a entender que houve “despreocupação” dos desembargadores “com os acidentes, com as mortes, com os óbitos”, sem citar que, mesmo com a proibição das mototáxis, o número de mortes de motociclistas na cidade cresceu nos últimos anos. De acordo com dados da ferramenta Infosiga, que compila dados do trânsito no Estado de São Paulo, foram 401 óbitos em 2023 e 483 em 2024. A proibição por si só não parece ter sido capaz de conter o avanço da letalidade do trânsito. Se o prefeito está mesmo preocupado com esse quadro – e não há razão para duvidar disso –, é hora, então, de tomar providências concretas, melhorando o transporte coletivo, para desestimular o uso de transporte individual, e apertando a fiscalização sobre motociclistas irresponsáveis.

Julgamento da trama golpista: entenda o impacto da divergência entre ministros do STF nas penas e recursos

Julgamento da trama golpista: entenda o impacto da divergência entre ministros do STF nas penas e recursos / O GLOBO

 

A divergência, aberta ontem, pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux no julgamento da ação penal da trama golpista pode pavimentar caminho a futuros recursos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de outros sete réus contra eventuais condenações, mas não impacta, por si só, na definição de possíveis penas e na hipótese de prisão dos culpados.

 

Segundo juristas consultados pelo GLOBO, o voto de Fux pela absolvição de Bolsonaro por todos os crimes imputados na denúncia só poderá ser usado para recorrer de uma eventual sentença condenatória caso outro integrante da Primeira Turma acompanhe o ministro. Até agora, os ministros Alexandre de Moraes, relator do caso, e Flávio Dino votaram para condenar todos os réus.

 

A avaliação dos juristas é que a decisão de Fux de absolver réus integralmente, como nos casos de Bolsonaro e do almirante Almir Garnier, ou parcialmente, como o ex-ajudante de ordens Mauro Cid e Walter Braga Netto, tampouco altera o tamanho das penas às quais eles serão submetidos em caso de maioria de votos pela condenação.

 

Os réus absolvidos no voto de Fux podem recorrer contra as condenações votadas por Moraes?

A possibilidade de recursos dependerá, em parte, das votações dos demais ministros. Os embargos infringentes, principal cartada vislumbrada pelas defesas, só são permitidos, de acordo com os juristas, em caso de dois votos pela absolvição. Esse tipo de recurso levaria a análise do caso para o plenário do STF, composto por 11 ministros, mas apenas em relação aos crimes e aos réus sobre os quais houve divergência na Primeira Turma.

Se outro ministro votar pela absolvição integral de Bolsonaro, portanto, o ex-presidente poderia entrar com recurso para tentar reverter uma eventual condenação.

Todos os réus também podem entrar com embargos de declaração. Esse tipo de recurso, em geral, não reverte uma condenação, é voltado para esclarecer contradições ou imprecisões nos votos.

Qual é a situação de Bolsonaro após o voto?

O ex-presidente já tem dois votos, entre cinco ministros da Primeira Turma, para ser condenado pelos cinco crimes imputados na denúncia da Procuradoria-Geral da República: tentativa de golpe, abolição do Estado democrático, organização criminosa, deterioração do patrimônio e dano qualificado.

Segundo o professor da FGV e especialista em Direito Penal, Thiago Bottino, ainda que os ministros Flávio Dino e Alexandre de Moraes tenham sinalizado divergências em relação às penas de alguns dos réus, ambos apontaram em seus votos que consideram a ação penal procedente nos cinco crimes.

A defesa de Bolsonaro sugeriu, na manhã de ontem, que aguardaria o voto de Fux para avaliar a possibilidade de pedir prisão domiciliar para o ex-presidente ao fim do processo. Bolsonaro, no entanto, já está preso nesse regime, devido a outro inquérito, que apura obstrução de Justiça envolvendo a atuação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), seu filho, nos Estados Unidos. De acordo com Bottino, o voto de Fux tampouco altera a possibilidade imediata de Bolsonaro ser libertado ou de enfrentar outro regime de prisão.

— Não altera, porque ele não está preso por causa de condenação nesse processo (da trama golpista) — lembrou Bottino.

 

Caso seja condenado na ação do golpe, Bolsonaro vai para a prisão?

Depende, entre outros fatores, do tamanho da sentença. Se a condenação for de até quatro anos, o regime inicial de cumprimento da pena é aberto. Nesse caso, o condenado é obrigado a recolhimento noturno, normalmente na própria casa. É algo similar ao que Bolsonaro esteve submetido em julho, quando o STF impôs medidas cautelares no inquérito que apura obstrução de justiça; depois ele foi posto em prisão domiciliar por descumprir essas medidas.

 

Se a condenação total for de quatro a oito anos, o regime aplicado é o semiaberto, em que o condenado precisa dormir na prisão. Quando as penas ultrapassam oito anos, o regime inicial é o fechado.

 

O voto de Fux, ao absolver Bolsonaro de todos os crimes, não interfere em um eventual regime prisional do ex-presidente. Isso porque o entendimento de Fux só terá chance de prosperar caso outros ministros também votem pela absolvição. Se houver maioria pela condenação, o regime será definido pelas penas impostas por esses ministros.

 

Caso Bolsonaro seja preso, cabe ao STF determinar o local de cumprimento da pena. Por ser ex-presidente, ele pode ser destinado a uma sala na Superintendência da Polícia Federal em Brasília, a um batalhão da Polícia Militar ou a uma unidade das Forças Armadas. O Exército dispõe, no Distrito Federal, de 20 salas do Estado-Maior aptas a receber eventuais condenados na trama golpista, grupo que inclui militares da reserva e da ativa

 

O voto de Fux altera o cálculo das penas?

Segundo os juristas, caso haja maioria na Primeira Turma pelas condenações, os votos absolutórios de Fux não interferem no cálculo das penas. Especialista em Direito Penal, a advogada Beatriz Alaia Colin observa que uma possível forma de definição das sentenças, em caso de divergência entre os ministros, é pelo “voto médio” — ou seja, a duração intermediária nas sentenças propostas. Porém, o voto pela absolvição não entra nesse cálculo.

 

— O voto do ministro Fux não integra qualquer cálculo de pena. Se não houver maioria pela absolvição, ele ficará vencido, e a pena final será fixada exclusivamente com base nos parâmetros dos ministros que votarem pela condenação — afirmou Colin.

 

Sem entrar ainda na definição da pena, Dino sinalizou que pretende estabelecer condenações menores para os generais Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira e para o ex-diretor da Abin, Alexandre Ramagem. Moraes, por sua vez, sugeriu uma sentença maior para Bolsonaro do que para os demais réus, por entender que o ex-presidente teve papel de liderança nos fatos investigados.

 

Algum réu está absolvido após o voto de Fux?

Não. Embora o ministro tenha votado para absolver Bolsonaro, já há dois votos — de Moraes e Dino — pela condenação. Uma eventual absolvição integral depende de os dois ministros restantes, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin, acompanharem o entendimento de Fux.

 

Quais são os próximos passos do julgamento?

Pela previsão da Primeira Turma, estão marcadas sessões para hoje e amanhã. Após o encerramento do voto do ministro Luiz Fux, que tomou toda a sessão de ontem, faltam expôs suas posições a ministra Cármen Lúcia e Cristiano Zanin, que presidente a sessão. Em seguida, caso haja maioria pela condenação de um ou mais réus do núcleo cruciam da trama golpista, os ministros discutirão o tamanho das penas.

Fux reabre discussão sobre competência do STF após mudar perfil punitivista em julgamento de Bolsonaro

Ana Gabriela Oliveira Lima / FOLHA DE SP

 

O ministro Luiz Fux, do STF (Supremo Tribunal Federal), adotou postura garantista diferente do perfil punitivista empregado em outras ações como juiz, avaliam especialistas ouvidos pela Folha.

Eles também interpretam que o voto do ministro pedindo a nulidade da ação penal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pode, no futuro, reacender o debate jurídico sobre a competência do Supremo.

Nesta quarta-feira (10), o magistrado fez um discurso duro sobre a atuação do STF no caso e discordou de pontos levantados pela PGR (Procuradoria-Geral da República).

Esses pontos foram, no geral, validados pelos dois ministros que já votaram na ação, Alexandre de Moraes e Flávio Dino. Se condenado nesse julgamento, o ex-presidente Jair Bolsonaro pode pegar mais de 40 anos de prisão e aumentar a inelegibilidade, que atualmente vai até 2030.

Ao votar nesta quarta, Fux falou sobre a nulidade da ação em razão de o julgamento se dar no Supremo. O magistrado argumentou que, como Bolsonaro já não é mais presidente, isso deveria ocorrer em instância inferior.

Fux afirmou que a Constituição é "claríssima" a esse respeito. Ele também disse que, se o julgamento ficasse, ainda assim, no Supremo, deveria ocorrer diante de todo o Plenário, para não silenciar as vozes de outros ministros.

Para Diego Nunes, professor de direito da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), a questão da competência já foi decidida pelo Supremo, e uma reversão é pouco provável.

Ele diz que o argumento do ministro teria sentido se não houvesse texto do regimento do STF que puxa a competência para a corte em razão de a ação penal se originar de inquéritos que teriam como alvo o próprio Supremo.

"A doutrina tende a concordar com Fux, mas até agora isso não teve eco no tribunal. O STF já mudou essa questão da competência muitas vezes. Tornar o dissenso público pode levar a uma nova mudança no futuro. Agora não parece que irá prosperar", diz Nunes.

Outra justificativa sobre a competência ser da corte seria que Bolsonaro era presidente quando os crimes teriam começado.

Welington Arruda, mestre em direito e justiça pelo IDP (Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa), afirma que o voto de Fux representa uma divergência importante no STF.

Ele afirma que, se a maioria acompanhar Fux na percepção sobre a competência, o processo poderia ser anulado e remetido para a primeira instância.

"Já se a maioria rejeitar a preliminar, o julgamento seguirá no mérito e poderá culminar em condenação. Mesmo havendo condenação, a defesa poderá apresentar recursos [como embargos de declaração] e utilizar o voto divergente de Fux para sustentar futuras contestações".

Raquel Scalcon, professora da FGV Direito SP, afirma que o entendimento do STF sobre competência não deve mudar no momento, em razão da composição atual da corte. Eventual modificação de entendimento no futuro, entretanto, é possível.

Para os professores de direito da UENP (Universidade Estadual do Norte do Paraná) Juliana Izar Segalla e Marcos César Botelho, o voto de Fux ao sustentar a remessa do processo à primeira instância "não se harmoniza com a jurisprudência consolidada do próprio STF nem com a função constitucional da Corte como guardiã da Constituição".

Eles afirmam que a presença de corréu com mandato, o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), atrai a competência para a corte. Dizem, ainda, que os fatos em apuração são atentados contra o Estado brasileiro e que o "o STF já afirmou, em diversos julgados, que compete à Corte agir de forma firme na defesa da ordem constitucional".

Eles também citam o contexto internacional como uma "camada de gravidade", em referência a pressões externas vindas dos Estados Unidos. "Submeter tais questões a um juiz de primeira instância —sem as salvaguardas institucionais de que dispõe o STF— apenas ampliaria a vulnerabilidade do processo a interferências indevidas, em prejuízo da independência judicial", apontam.

No julgamento, Fux votou pela absolvição total de Bolsonaro, inclusive nos crimes contra a democracia. Ele também disse não entender ser possível enquadrar a conduta dos réus como organização criminosa armada e disse que não há provas nos autos de que os réus julgados tenham ordenado a destruição do 8 de Janeiro.

O magistrado também defendeu a suspensão de todos os crimes contra Alexandre Ramagem e falou sobre a importância de que os atos dos acusados sejam perfeitamente enquadráveis nos crimes previstos em lei.

Para Raquel Scalcon, o ministro recorreu no voto a vários estudiosos que defendem um direito penal garantista para sustentar suas teses. "Penso que as teses, em si, estão bem articuladas. O que chama a atenção, contudo, é o fato de que as posições defendidas nesse voto não guardam clara coerência com o histórico de suas posições [de Fux] sobre temáticas similares ao longo dos anos".

Ela destaca uma postura mais punitivista do magistrado em outros momentos, como em posicionamento a favor da prisão em segunda instância na Lava Jato e a favor de liberar o compartilhamento de relatórios de inteligência financeira ao Ministério Público.

Diego Nunes concorda com a percepção sobre mudança de perfil. Como exemplo, ele afirma que Fux é o ministro que menos concede habeas corpus no STF. "Ou seja, tem [normalmente] perfil pouco garantista. O voto desta quarta parece fora da curva com sua história no tribunal’.

Nunes explica que garantismo seria uma postura rígida de respeito a direitos e garantias, com uma atuação restritiva. Já o punitivismo seria uma postura mais flexível sobre direitos e garantias, com ação expansiva do direito penal.

"O ministro Fux, em outros momentos, foi associado a posições mais rigorosas, com perfil punitivista em matéria penal. Mas, nesse julgamento, seu voto foi marcado por uma postura claramente garantista: ele enfatizou a competência adequada do juízo e a necessidade de assegurar plena defesa diante do volume de provas", concorda Welington Arruda.

Para Juliana Izar Segalla e Marcos César Botelho, o comportamento de Fux causou estranheza "pelo fato de que foram incoerentes com sua própria atuação até agora na corte. Ele nunca se mostrou ‘garantista’, pelo contrário, sua postura sempre foi diversa da demonstrada hoje", dizem.

MIN LUIZ FUX

Voto de Fux sacudiu STF ao expor questão de legitimidade da Corte para julgamento

Por William Waack / O ESTADÃO DE SP

 

Não se pode cometer crimes para combater crimes. Com essa famosa frase justificou-se no Supremo a anulação da Lava Jato. Os ecos dessa mesma frase voltaram para assombrar o mesmo Supremo.

 

Vieram pela boca do ministro Luiz Fux, no julgamento de Bolsonaro, que, segundo ele, sequer deveria ser matéria para o Supremo. Em outras palavras, o julgamento tem um vício de origem que já está sendo amplamente explorado pelos réus e seus movimentos políticos.

 

Fux fez mais do que estragar uma festa da “lição de democracia” através do julgamento de Bolsonaro. Arrebentou a imagem da própria instituição com a afirmação de que “papel do julgador não pode ser confundido com ator político”.

 

O problema na divergência aberta por ele na Primeira Turma não é apenas a meritória discussão jurídica sobre provas, cerceamento ou não da defesa, normas internas do STF (no caso de Turma ou Plenário) e entendimento de foro privilegiado. Involuntariamente ou não, o que Fux levantou foi o papel político que o STF assumiu.

 

Ele expôs uma rachadura perigosa para a instituição, que já teve embates violentos entre seus integrantes (por exemplo durante o julgamento do Mensalão). A diferença fundamental em relação ao episódio de vinte anos atrás é o fato do STF ser visto hoje por parcela substancial da sociedade brasileira como parte do embate político, e não como instituição que apenas cumpre seu papel constitucional.

 

A rachadura é séria pois não se registrou nada parecido quando o Supremo assumiu na prática o papel de “ministro da saúde” informal durante o governo de Bolsonaro, por exemplo. Ou quando seus integrantes, através de conversas coordenadas, se mobilizaram para colocar freios institucionais no próprio Bolsonaro.

O “pecado original” desta vez não está apenas na gradativa transformação do Supremo em mais uma instância da política brasileira. Refletindo o que acontece em outros setores, também a corte suprema perdeu figuras de projeção e liderança − ou as que ainda existem internamente perderam a capacidade de “dirigir” informalmente a conduta o conjunto.

 

Perdeu-se o controle sobre um de seus principais integrantes, o ministro Alexandre de Moraes, cuja conduta já vinha causando sensível irritação entre alguns dos colegas. Isso viria à tona mais cedo ou mais tarde, mas explodiu com virulência num momento de circunstâncias particularmente difíceis.

 

Elas são a brutal pressão política da Casa Branca sobre o Brasil, exatamente pela atuação do Supremo, e a articulação de uma anistia que é uma afronta declarada à própria Corte. A questão de legitimidade do Supremo é o problema que o voto de Fux levantou.

 

LUIS FUX

 

 

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Opinião por William Waack

Jornalista e apresentador do programa WW, da CNN

Voto de Fux que cria golpe só de executores tem efeito muito mais político do que jurídico

Por Ricardo Corrêa / O ESTADÃO DE SP

 

voto do ministro Luiz Fux, que acolheu grande parte das preliminares, o que levaria à anulação do julgamento, e também rejeitou a maioria das imputações aos réus tem mais efeito político do que jurídico. A perspectiva é que ele fique vencido e que nem mesmo os embargos infringentes à decisão sejam aceitos, já que seriam necessários dois votos. Nem por isso não há motivo de comemoração para os réus, e, em especial, para a base bolsonarista.

 

A dureza do voto (dureza só com a própria Corte), incluindo as frases de efeito no acolhimento à preliminar da incompetência do STF para julgar o caso, deu novo fôlego aos argumentos da oposição nas redes sociais. E vai impulsionar tanto a defesa da anistia como a discussão sobre o fim do foro privilegiado. Essa com total conexão com o tema de uma das preliminares. Também servirá para embasar os argumentos no cenário externo.

Quando recebeu a denúncia, Fux também divergiu na questão da competência da Primeira Turma do STF para julgar o caso. A nova divergência aí, portanto, não é surpreendente. Contudo, o tom foi muito acima das apostas. É como se o Tribunal estivesse em julgamento. Além do mais, mesmo em questões que havia acompanhado o relator lá atrás, na análise dos casos dos executores do golpe, houve mudança de entendimento agora diante de réus muito mais poderosos.

 

Há um ano, ao condenar Aécio Lúcio Costa Pereira, Thiago de Assis Mathar e Matheus Lima de Carvalho Lázaro a penas que variavam de 14 a 17 anos de prisão, Fux contestou o choro de uma defensora na tribuna. “Se esse golpe desse certo, chorariam de novo as mães de há muito que sequer souberam do destino de seus filhos que foram mortos e perseguidos por delitos de união”, disse ele ao acompanhar Moraes.

 

Os três foram os primeiros condenados pelo STF pelos atos de 8 de Janeiro. Na época, os cinco crimes imputados eram os mesmos agora apontados para o núcleo crucial. Inclusive o de golpe de Estado. Fux, com voto curto e sem discutir o mérito, acompanhou integralmente o relator. Também não acolheu qualquer preliminar, mesmo que ali não houvesse ninguém com foro privilegiado.

 

Considerando que, para Fux, agora, nenhum dos integrantes do núcleo crucial do golpe praticou de fato qualquer a conduta de golpe, teríamos que imaginar que, talvez, se o 8 de Janeiro tivesse levado de fato a uma ruptura institucional, os ditadores dos quais escapamos e que nos governariam em regime de exceção seriam hoje esses três aí de quem ninguém nunca tinha ouvido falar. Ou outras centenas de patriotas capturados pela polícia naquele dia e no dia seguinte diante do QG do Exército e que foram condenados a penas duras, em uma organização criminosa que, agora, para o ministro, nunca existiu.

 

Para chegar à conclusão de que era um golpe só de executores e sem planejadores, Fux precisou adotar algumas posturas pouco ortodoxas. Como dizer que um crime mais grave (como o golpe) foi absorvido pelo menos grave (abolição do Estado Democrático de Direito). Ou a ideia de que só se pode dar golpe quando não se está no poder.

 

Ainda, a de que uma organização criminosa armada só pode ser assim considerada se, na hora da prisão, a arma estiver na mão do sujeito, sendo utilizada. Como disse o professor Davi Tangerino em live do Estadão, um presentão para figurões de grandes facções criminosas como o PCC ou o Comando Vermelho que não sejam pegos com a arma na mão.

 

Também curiosa a lógica de que uma delação é válida, tendo sido reconhecida a colaboração de um réu para crimes que, no fim, não teriam existido. Ou que teria existido apenas um deles, praticado apenas pelo delator e por Walter Braga Netto e não pelos demais que ele delatou. Mauro Cid, ajudante de ordens, teve um voto pra condenação, na imputação da abolição do Estado Democrático de Direito. O chefe dele, Jair Bolsonaro, não. Braga Netto, o vice na chapa, teve mesmo destino nas mãos de Fux. O cabeça de chapa não. Mas o golpe mesmo, rejeitado em todos os casos do núcleo crucial, era só de Aécio, Thiago, Matheus e tantos anônimos. É o que concluiu Fux depois de um dia de teorias.

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Opinião por Ricardo Corrêa

Coordenador de política em São Paulo no Estadão e comentarista na rádio Eldorado. É jornalista formado pela Universidade Federal de Juiz de Fora e bacharel em Direito pela ESDHC. Escreve às quintas

 

FUX E MORAES STF

 

De olho no futuro

Merval Pereira / o globo

 

O ministro Luiz Fux não está votando no sentido de absolver o ex-presidente Bolsonaro e seus associados, mas com o objetivo de garantir que, um dia no futuro, o julgamento venha a ser anulado. Pela lógica, ele deveria absolver todos os acusados, pois levantou a nulidade absoluta do julgamento. Mas todos acham que ele votará pela condenação dos réus, divergindo ainda na dosimetria final.

 

O ministro Fux está rompendo a unidade da Turma, o que seria desejável para o relator Alexandre de Moraes. Mas não parece estar disposto a ir até o fim, confrontando a maioria previsível pela condenação.

 

Não foi à toa que Fux citou indiretamente o caso do Petrolão, que terminou anos depois com a aceitação pelo STF da tese do então advogado Cristiano Zanin de que a jurisdição correta para o julgamento do então ex-presidente Lula não seria Curitiba, que o então juiz Sergio Moro presidia.

 

Zanin hoje preside a Turma que julga Bolsonaro, o que demonstra como os ventos jurídicos podem mudar como mudam os ventos políticos.

 

 

Ministro Luiz Fux na primeira turma no julgamento da trama golpistaMinistro Luiz Fux na primeira turma no julgamento da trama golpista — Foto: Gustavo Moreno/STF

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