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CASO DAS Joias sauditas: Michelle Bolsonaro escapa de indiciamento da PF

Por  / O GLOBO

 

 

Polícia Federal (PF) indiciou nesta quinta-feira (4) o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu ex-ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid no inquérito das joias sauditas pelos crimes de apropriação de bens públicos (peculato), lavagem de dinheiro e associação criminosa. Mas a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que também foi investigada pela PF e foi citada durante a apuração do caso, conseguiu escapar.

 

Isso porque, conforme adiantamos no início de junho, a PF não conseguiu reunir elementos suficientes para recomendar o indiciamento de Michelle, atual presidente da setorial feminina do Partido Liberal (PL).

 

Uma servidora do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica da Presidência chegou a declarar à PF que a então primeira-dama havia recebido pessoalmente e em mãos um dos kits de joias enviados pelo governo da Arábia Saudita.

 

Os investigadores, porém, não reuniram provas de que Michelle tinha conhecimento, autorizou ou foi conivente com a operação ilegal.

 

Dois kits de joias e relógios recebidos como presente do governo saudita foram trazidos para o Brasil no final de 2021 pelo então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, e auxiliares.

 

Um deles foi retido pela Receita Federal no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP). O outro passou despercebido pelas autoridades, não foi registrado no patrimônio da Presidência da República e foi mantido em um cofre do Ministério de Minas e Energia até novembro de 2022, pouco mais de um ano desde a chegada ao Brasil e um mês após a derrota de Bolsonaro para Lula.

 

Foram essas as joias entregues em mãos para Michelle. O conjunto dispunha de um relógio da grife suíça Chopard, uma caneta, um par de abotoaduras e um masbaha (um tipo de rosário islâmico).

 

Um terceiro kit foi entregue em mãos a Bolsonaro em 2019 durante outra viagem à Arábia Saudita. Neste caso, as joias foram guardadas em um galpão pertencente ao ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet em Brasília e levadas por Bolsonaro ao deixar o país às vésperas da posse de Lula rumo aos Estados Unidos.

 

Entre os itens do conjunto estava o Rolex cravejado em diamantes vendido nos EUA pelo ex-ajudante de ordens Mauro Cid e recomprado pelo advogado Frederick Wassef.

 

Outras dez pessoas foram indiciadas pela PF nesta quinta-feira por diferentes crimes no âmbito das joias sauditas, inclusive Wassef, que responderá por lavagem de dinheiro e associação criminosa.

 

Os outros são o ex-ministro Bento Albuquerque (peculato e associação criminosa), o ex-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) Fabio Wajngarten, que também é advogado de Bolsonaro, e o pai de Mauro Cid, o general Mauro Cesar Lourena Cid, ambos por lavagem de dinheiro e associação criminosa.

 

Completam a lista o coronel Marcelo Costa Câmara (lavagem de dinheiro) e o segundo-tenente Osmar Crivelatti (lavagem de dinheiro e associação criminosa), ambos ex-assessores do ex-presidente; José Roberto Bueno Júnior, ex-chefe de gabinete do ministro Albuquerque (peculato, lavagem de dinheiro e associação criminosa); Marcos André dos Santos Soeiro, ex-assessor de Albuquerque (peculato e associação criminosa); Julio Cesar Vieira Gomes, ex-secretário da Receita Federal (advocacia administrativa, peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro); e Marcelo da Silva Vieira, chefe do Gabinete de Documentação Histórica da Presidência da República no governo Bolsonaro (peculato e associação criminosa).

 

Ainda sob a mira da PF

O fato de Michelle não ser indiciada nesse inquérito das joias, porém, não quer dizer que ela não tenha razões para se preocupar.

 

A ex-primeira-dama ainda é alvo de outra investigação, que apura o uso irregular do cartão corporativo da Presidência da República, e no material há extratos e outros documentos que podem complicar a vida dela.

 

Essa apuração, porém, não deve ser concluída tão cedo. Ela não está na lista de prioridades da PF, que logo depois do caso das joias vai finalizar o da trama golpista.

 

Michelle é cotada para disputar o Senado Federal pelo Distrito Federal em 2026 e tem sido incluída em pesquisas de intenção de voto para a Presidência da República – embora o marido e ex-presidente Jair Bolsonaro e o partido do casal, o PL, rechacem essa possibilidade.

 

 
 
 

Além das joias: quais são as outras investigações da PF que podem implicar Bolsonaro

Por O GLOBO / 

 

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é alvo de ao menos sete investigações no Supremo Tribunal Federal (STF), incluindo a que se debruça sobre um suposto esquema de fraude de cartões de vacina, na qual já foi indiciado. Nesta quinta-feira, ele também passou por indiciamento da Polícia Federal no caso das joias.

 

 

Outro caso que também deve ser concluído em breve é o das investigações sobre uma possível tentativa de golpe de Estado.

 

Essas três investigações fazem parte de um mesmo inquérito no STF que investiga as chamadas milícias digitais. Além disso, Bolsonaro é alvo de outros quatro inquéritos na Corte, incluindo um sobre os atos golpistas do 8 de janeiro.

 

Confira a seguir as investigações.

 

Tentativa de golpe

De acordo com a PF, há "dados que comprovam" que Bolsonaro "analisou e alterou uma minuta de decreto que, tudo indica, embasaria a consumação do golpe de Estado em andamento". A suspeita foi reforçada pelos depoimentos dos ex-comandantes Marco Antonio Freire Gomes (Exército) e Carlos Almeida Baptista Junior (Aeronáutica). A defesa dele negou que ele tenha participado da "elaboração de qualquer decreto que visasse alterar de forma ilegal o Estado Democrático de Direito".

 

Venda de joias

 

A PF investiga um esquema de venda de presentes recebidos pela Presidência durante o governo Bolsonaro. Auxiliares do ex-presidente venderam ou tentaram comercializar ao menos quatro itens, sendo dois entregues pela Arábia Saudita e dois pelo Bahrein. Recentemente foi descoberto uma nova que teria sido negociada, um bracelete. Em depoimento sobre o caso, Bolsonaro optou por ficar em silêncio. Nesta quinta, ele e mais 11 pessoas foram indiciadas.

 

8 de janeiro

Bolsonaro é um dos investigados no inquérito do STF que investiga supostos incitadores e "autores intelectuais" dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. O ex-presidente foi incluído na apuração após ter compartilhado, dois dias depois dos atos, um vídeo com acusações sem provas ao STF e ao TSE. Em depoimento à PF, Bolsonaro afirmou que a publicação foi feita por engano.

 

Pandemia

Em 2022, a PF afirmou ao STF que Bolsonaro cometeu incitação ao crime por estimular as pessoas a não usarem máscaras, além da contravenção penal de "provocar alarme ou perigo inexistente" ao associar o uso da vacina da Covid-19 ao desenvolvimento do vírus da Aids. No ano passado, a PGR pediu o arquivamento do caso. Ainda não houve decisão do relator do caso, Alexandre de Moraes.

Vazamento de inquérito

Em 2022, a PF afirmou que Bolsonaro cometeu o crime de violação de sigilo funcional ao divulgar uma investigação sigilosa sobre ataque hacker ao TSE. A PGR já pediu para arquivar o caso, mas o pedido foi negado por Moraes, que também é o relator desse inquérito.

 

Interferência na Polícia Federal

Bolsonaro é investigado por uma suposta interferência na PF, denunciada pelo ex-ministro Sergio Moro (hoje senador), quando pediu demissão do Ministério da Justiça, em 2020. O então presidente prestou depoimento no caso em 2021, mas negou interferência. Em 2022, a PF afirmou que não houve crime, e a PGR pediu o arquivamento, mas ainda não há decisão. Moraes solicitou que a PGR — agora sob novo comando — informe se ainda defende o arquivamento.

 

Aliados de Bolsonaro criticam indiciamento; Flávio e Valdemar atacam a PF

Por — Brasília / O GLOBO

 

 

Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) criticaram o indiciamento dele no inquérito que apura o desvio de joias do acervo presidencial. Os crimes atribuídos são de peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Caberá agora à Procuradoria-Geral da República decidir se oferece denúncia ou pede o arquivamento do caso. Além de Bolsonaro, o seu ex-ajudante de ordens Mauro Cid e outras dez pessoas foram indiciadas. O primogênito do ex-mandatário, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), e o presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto, fizeram duras críticas à Polícia Federal (PF).

 

Valdemar disse que "a PF tem que prender traficantes e não Bolsonaro". Flávio, por sua vez, disse que os policiais envolvidos na ação "ainda sentarão no banco dos réus". Um dos seus advogados e aliados mais próximos, Fábio Wajngarten, que também foi indiciado, disse ter sido injustiçado.

 

— Esse pequeno grupo de policiais que estão se sujeitando a usar a máquina pública para perseguir inocentes, um dia, ainda vão sentar no banco dos réus. No caso das joias sequer há crime — disse Flávio ao GLOBO.

 

No X (antigo Twitter), o parlamentar falou em "perseguição".

"A perseguição a Bolsonaro é declarada e descarada! Alguém ganha um presente, uma comissão de servidores públicos decide que ele é seu. O TCU questiona e o presente é devolvido à União. Não há dano ao erário! Aí o grupo de PFs, escalados a dedo pra missão, indicia a pessoa", publicou.

Já Valdemar aposta que o caso será arquivado e descarta um impacto eleitoral nas eleições deste ano.

 

— Isto (o indiciamento) é uma bobagem, só levanta o Bolsonaro eleitoralmente. O eleitor dele é esclarecido e entende a perseguição política que vem sofrendo. Não tenho dúvidas de que isto será arquivado. A Polícia Federal tem que cuidar é de traficantes e por ordem na casa, e não focar no ex-presidente — afirmou.

 

Wajngarten se defendeu nas redes sociais:

"O meu indiciamento pela Polícia Federal se baseia na seguinte afronta legal: advogado, fui indiciado porque no exercício de minhas prerrogativas, defendi um cliente, sendo que em toda a investigação não há qualquer prova contra mim. Sendo específico: fui indiciado pela razão bizarra de ter cumprido a lei! Continuarei com meu trabalho advocatício e recorrerei à OAB para garantir meu direito constitucional de trabalhar sem intimidações e sem sofrer lawfare de natureza política".

 

Ele também se referiu à Polícia Federal.

 

"Também recorrerei a todas as instâncias da Justiça para conter o abuso de poder e essa atitude arbitrária de um integrante da PF, que não pode ser confundido com a corporação como um todo. Portanto, a iniciativa da Polícia Federal de pedir meu indiciamento no caso dos presentes recebidos pelo ex-presidente é arbitrária, injusta e persecutória", completou.

 

Organização criminosa

A PF aponta a existência de uma organização criminosa no entorno de Bolsonaro que supostamente atuou para desviar joias, relógios, esculturas e outros itens de luxo recebidos por ele como representante do Estado brasileiro.

 

Em depoimento à PF, no ano passado, Wassef já havia informado ser de Wajngarten o pedido para operacionalização da recompra de um Rolex dado a Bolsonaro por autoridades durante uma visita à Arábia Saudita e ao Catar, em 2019.

 

O item foi posteriormente levado à joalheira Precision Watches, na cidade de Willow Grove, na Pensilvânia, onde foi vendido ilegalmente por Mauro Cid, de acordo com as investigações

 

No acordo de cooperação internacional firmado com o Federal Bureau of Investigation (FBI), o Departamento Federal de Investigação, inclusive, a PF recebeu uma troca de emails que mostra Cid informando a loja americana sobre a recompra do relógio que seria feita por Wassef.

 

Ao comparecer à PF para prestar depoimento sobre o caso, Bolsonaro optou por ficar em silêncio. Em outras ocasiões, o ex-presidente negou ter ordenado ou participado de negociações sobre as joias.

 

Também à PF, Wassef confirmou ter recomprado o relógio e Câmara também optou por ficar em silêncio. Cid firmou um acordo de colaboração premiada em que dá detalhes do suposto esquema. Já Wajngarten informou à imprensa ter atuado tão somente na área de comunicação.

PF indicia Bolsonaro e assessores em investigação sobre venda de joias

Julia Chaib / FOLHA DE SP

 

Polícia Federal indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais 11 pessoas na investigação sobre a venda de artigos de luxo recebidos de presente pelo governo brasileiro.

A PF afirma que Bolsonaro cometeu os crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, apropriação de bem público.

Além de Bolsonaro, alguns dos seus principais aliados foram indiciados:

  1. Mauro César Barbosa Cid (apropriação de bem público, lavagem de dinheiro e associação criminosa)

  2. Mauro Cesar Lourena Cid (lavagem de dinheiro e associação criminosa)

  1. Fabio Wajngarten (lavagem de dinheiro, associação criminosa)

  2. Frederick Wassef (lavagem de dinheiro, associação criminosa)

  3. Bento Costa Lima de Albuquerque Júnior (apropriação de bem público e associação criminosa)

  4. José Roberto Bueno Júnior (apropriação de bem público, lavagem de dinheiro e associação criminosa)

  5. Julio Cesar Vieira Gomes (apropriação de bem público, lavagem de dinheiro, associação criminosa e crime funcional de advocacia administrativa perante a administração fazendária )

  6. Marcelo da Silva Slveira (apropriação de bem público e associação criminosa),

  7. Marcos André dos Santos Soeira (apropriação de bem público e associação criminosa)

  8. Marcelo Costa Câmara (lavagem de dinheiro)

  9. Osmar Crivelatti (lavagem de dinheiro e associação criminosa)

O crime de apropriação de bem público tem pena de reclusão de 2 a 12 anos, mais multa. Já o de lavagem de dinheiro, reclusão de três a dez anos e multa. O de associação criminosa tem prevista a pena de reclusão de 1 a 3 anos.

O caso das joias tem origem em reportagem do jornal O Estado de S.Paulo, que revelou a tentativa de Bolsonaro em reaver parte das joias presenteadas pelos árabes e apreendidas pela Receita Federal no desembarque no Brasil.

A PF passou a investigar o caso e, com informações das investigações que envolviam o ex-ajudante de ordens Mauro Cid, avançou nos detalhes sobre como o ex-presidente negociou alguns presentes valiosos, como joias e relógios.

A apuração também mostrou como o ex-presidente e pessoas próximas a ele tentaram recomprar os itens após a apreensão das joias pela Receita se tornar pública.

Bolsonaro devolveu as joias após determinação do TCU (Tribunal de Contas da União).

Com base nas informações, a PF chegou a fazer buscas em endereço do pai de Mauro Cid, o general da reserva do Exército Mauro Lourena Cid, Frederick Wassef, advogado de Bolsonaro, e Osmar Crivelatti, tenente do Exército e que também atuou na ajudância de ordens da Presidência.

Para a PF, o ex-presidente utilizou a estrutura do governo federal para desviar presentes de alto valor oferecidos a ele por autoridades estrangeiras.

Como mostrou a Folha, parte das joias, da grife Chopard, chegou a ir a leilão mas não foi comprada, o que forçou assessores do ex-presidente a mudar planos para venda dos itens de luxo.

A Fortuna Auction, localizada em Nova York, disse à Folha que não houve interessados no conjunto que inclui relógio, caneta, abotoaduras, anel e um tipo de rosário.

A apuração da PF identificou que as joias foram levadas aos Estados Unidos no avião presidencial em 30 de dezembro, na data em que Bolsonaro deixou Brasília e seguiu para Orlando.

As mensagens mostram que Cid afirmou a Câmara que havia sido informado que Bolsonaro poderia vender os itens, por serem "personalíssimos".

Câmara disse ao ex-chefe dos ajudantes de Bolsonaro, em outra mensagem obtida pela PF, que seria preciso avisar o governo sobre a venda das joias.

No diálogo, Cid avalia a possibilidade de comunicar o governo e tentar novamente vender o item.

"Eu prefiro não informar pra não gerar estresse entendeu? Já que não conseguiu vender, a gente guarda. E aí depois tenta vender em uma próxima oportunidade", responde Câmara, segundo as mensagens obtidas pela PF.

"Só dá pena pq estamos falando de 120 mil dólares / Hahaaahaahah", afirma Cid em outra mensagem.

A PF investigou a negociação e possível desvio de quatro conjuntos de presentes:

  • 1º conjunto: refere-se a um conjunto de itens masculinos da marca suíça Chopard contendo uma caneta, um anel, um par de abotoaduras, um rosário árabe (masbaha) e um relógio recebido pelo então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, após viagem a Arábia Saudita, em outubro de 2021

  • 2º conjunto: trata-se de um kit de joias, contendo um anel, abotoaduras, um rosário islâmico (masbaha) e um relógio da marca Rolex, de ouro branco, entregue ao ex-presidente quando de sua visita oficial à Arábia Saudita em outubro de 2019

  • 3º conjunto: engloba uma escultura de um barco dourado, sem identificação de procedência até o presente momento, e uma escultura de uma palmeira dourada, entregue ao ex Presidente, na data de 16 de novembro de 2021, quando de sua participação oficial no Seminário Empresarial da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, ocorrido na cidade de Manama, no Barém

  • 4º conjunto: um relógio da marca Patek Philippe, possivelmente recebido pelo ex-presidente, quando de sua visita oficial ao Reino do Bahrein em 16 de novembro de 2021

STF precisa adotar um código de ética

Diga-se a favor do Fórum Jurídico de Lisboa que se trata de evento eclético. Debatedores variados compareceram ao encontro promovido pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, entre os quais advogados, empresários, autoridades do Judiciário e políticos, incluindo os seis candidatos à vaga de presidente da Câmara.

Mas não se diga mais nada em prol do mal-afamado "Gilmarpalooza", porque, nos termos em que ocorre, ele é indefensável. Sem transparência com as despesas da viagem e outros patrocínios, o convescote em Portugal cria uma aproximação desconfortável entre os julgadores da corte máxima e seus potenciais réus.

Esse problema, vale reconhecer, não é exclusivo do Brasil. No ano passado, por exemplo, ficou-se sabendo que membros da Suprema Corte dos Estados Unidos fizeram viagens luxuosas com empresários. Também foram revelados episódios em que ministros misturaram relações profissionais com possíveis interesses pessoais.

A diferença é que, quando confrontados pela opinião pública, os magistrados norte-americanos entenderam que suas atitudes individuais produziam impacto nocivo no tribunal. Por esse motivo, a exemplo do que ocorre em países europeus, o órgão decidiu publicar um código de conduta para orientar a atividade de seus membros.

Esse tipo de inteligência institucional tem escasseado no Supremo brasileiro. Lamentavelmente, são exceções os ministros capazes de apontar o comedimento e a compostura como deveres éticos de quem exerce a função judicante —e ainda mais raros os que demonstram impecável coerência entre palavras e ações.

A maioria prefere outro caminho: em vez de aceitar limites inerentes ao cargo, nega-os como se fossem desnecessários; em vez de evitar a promiscuidade, faz dela prática recorrente; em vez de observar inquestionável decoro, alimenta óbvios conflitos de interesses.

Talvez os ministros não percebam o malefício provocado por suas atitudes. Ocupando o ápice da carreira, eles servem de exemplo para todo o sistema de Justiça. Se as virtudes do Supremo constrangem quem se afasta da linha reta do direito, seus vícios têm o efeito oposto: são como sinal verde para comportamentos impróprios.

Há um meio simples de barrar a erosão de autoridade. Basta que o STF baixe um código de ética válido para seus integrantes, que hoje não se submetem nem ao Conselho Nacional de Justiça nem à Lei Orgânica da Magistratura Nacional.

Regras claras e sensatas, e o devido respeito a elas, constituem a melhor proteção para um tribunal encarregado de ser o Poder contramajoritário da República. Recusar-se a editá-las equivale a um ataque frontal à instituição.

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Um apelo à ‘virtude da parcimônia’ no STF

O ESTADÃO DE SP

Alguns ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) têm se mostrado recalcitrantes em reavaliar condutas em tudo contrárias à ética pública e aos princípios republicanos. Carecem da “virtude da parcimônia”, nas sábias palavras do ministro Edson Fachin. Um perigo, pois para membros do Poder Judiciário, prosseguiu Fachin, “abdicar de limites é um convite para pular no abismo institucional”.

 

Como se pairasse acima do bem e do mal, uma ala da Corte repele até mesmo as críticas de boa-fé feitas por cidadãos, organizações da sociedade civil e veículos de imprensa, como este jornal, que, inequivocamente, estão comprometidos com a democracia e, portanto, são aliados do STF em sua defesa contra seus verdadeiros inimigos.

 

A já conhecida falta de comedimento desses ministros agora se soma à soberba. Essa combinação perniciosa sugere que, para esses magistrados, o Supremo e seus integrantes, por se considerarem esteio da democracia, deveriam estar isentos de críticas e de sanções por seus atos, algo que não combina com uma república democrática, e sim com um Estado absolutista.

 

Como o Brasil é uma república democrática, ninguém aqui está acima da lei, e todos os que ocupam cargos públicos, sem exceção, devem satisfações aos cidadãos por seus atos e omissões. Tal exigência aplica-se particularmente aos ministros do Supremo, que têm como tarefa determinar a constitucionalidade das leis e, portanto, dar a palavra final sobre o ordenamento jurídico do País.

 

Exatamente porque têm essa missão é que os ministros do Supremo devem ter especial cuidado com sua imagem. Não podem dar a impressão de que são parciais. Isso deveria ser óbvio, mas aparentemente não é. Alguns ministros parecem não entender que há rígidos limites éticos que devem ser respeitados por aqueles que estão no Supremo e se queixam de quem lhes censura o comportamento e levanta suspeitas sobre suas motivações.

 

Tais queixas têm adquirido um tom que trai um ânimo intimidatório. O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, por exemplo, já se referiu aos críticos da Corte como “implicantes”. O decano, Gilmar Mendes, argumentou com naturalidade espantosa que os evidentes conflitos de interesse presentes nos encontros que organiza entre seus colegas e empresários com ações em curso na Corte inexistem. Dias Toffoli, por sua vez, tem certeza de que o inferno são os outros. Se há protagonismo excessivo do STF, disse o ministro durante palestra na festa lisboeta organizada por Gilmar Mendes, isso decorre da “falência dos outros órgãos decisórios da sociedade”.

 

Mais recentemente, o ministro Flávio Dino uniu-se ao coro e chamou de “esdrúxulas” as críticas à participação de ministros em eventos no estrangeiro regados a altas doses de lobby. “(A crítica) soa muito mal nos meus ouvidos, porque parece uma reminiscência de um tempo em que os magistrados se fechavam num isolamento negativo para sua própria reflexão sobre seu papel e sobre sua legitimidade”, disse Dino, ignorando que o tal “isolamento negativo” de negativo nada tem. É da blindagem de um juiz à mera suspeição de parcialidade que deriva a sua legitimidade.

Já o ministro Alexandre de Moraes descartou peremptoriamente a necessidade de um código de conduta para os ministros do STF, nos moldes do que os ministros da Suprema Corte dos EUA foram compelidos a editar após virem a público as relações antirrepublicanas de alguns juízes.

 

Se os ministros do STF não estão sujeitos à Lei Orgânica da Magistratura, como sustenta Gilmar Mendes, e não precisam se submeter a um código de conduta, como diz Alexandre de Moraes, quem, afinal, haverá de moderar o comportamento de Suas Excelências? Apenas seus próprios freios éticos internos? Seus autoexames de consciência? Ora, não é assim que funciona uma República.

 

Um poder sem controle é um poder ilegítimo, e a Constituição tem antídotos para isso. A mesma Constituição que deu ao Supremo o poder de impor limites ao Executivo durante o turbulento governo de Jair Bolsonaro é a que dá ao Senado o poder de impor limites aos ministros do Supremo, se for necessário.

MINISTRO Fux desabafa como se o STF fosse obrigado a decidir sobre o que não lhe cabe

Por Carlos Andreazza / O ESTADÃO DE SP

 

Luiz Fux resolveu desabafar sobre o “protagonismo deletério” do Supremo. Foi na sessão em que o tribunal legislou pela descriminalização do porte de maconha para uso pessoal. Aquela jornada em que se usou a balança da Justiça – de alta precisão – para pesar gramas de droga, expostos juízes da corte constitucional, em busca da batida perfeita, ao debate-definição sobre qual seria a gramatura justa.

 

“Não se podem desconsiderar as críticas de que o Judiciário estaria se ocupando de atribuições próprias dos canais de legítima expressão da vontade popular, reservada apenas aos Poderes integrados por mandatários eleitos” – disse o ministro que suspendeu individualmente a implementação de lei, a que instituíra o juiz de garantias, aprovada pelo Parlamento.

 

“Nós não somos juízes eleitos.” São os não eleitos cuja confiança nas próprias luzes lhes autoriza a identificar (forjar) urgências e preencher lacunas sobre as quais a democracia representativa se acovardaria.

 

“O Brasil não tem governo de juízes”, declarou o juiz que esteve longamente sentado sobre liminar que garantia o pagamento de auxílio-moradia a magistrados.

 

“Nós assistimos, cotidianamente, ao Poder Judiciário sendo instado a decidir questões para as quais não dispõe de capacidade institucional”. Diante de arguição sobre constitucionalidade de lei, em vez de responder e ponto, expande-se o tribunal para criar critérios-procedimentos. Porque, tão sabedores os seus, não podem admitir que a acusada omissão do Parlamento seja uma posição.

 

“Essa disfuncionalidade desconhece que o STF não detém o monopólio das respostas e nem é o legítimo oráculo para todos os dilemas morais, políticos e econômicos da nação.” Nesse momento, lamentei não haver o diretor de imagens da TV Justiça nos mostrado o ministro Barroso.

 

Fux lastima que o Supremo arque com o “preço social” de decidir sobre o que não lhe cabe. Haveria espécie de armadilha contra o tribunal, manipulando-lhe a natureza contramajoritária. Como se o STF fosse obrigado a entrar na arapuca, compulsória a prática proativa. Como se não houvesse o voto de Fachin (pela descriminalização), exemplar da expressão comedida que se espera da corte constitucional.

 

“Nós não temos de fazer pesquisa de opinião pública”. Correto. “Nós temos que aferir o sentimento constitucional do povo”. Ele adora esse conceito. O sentir jurídico – dos intérpretes da massa – pela construção da cidadania. Né? Melhor fazer pesquisa de opinião.

 

“Quanto mais as nossas decisões se aproximam do sentimento constitucional do povo, mais efetividade terão as nossas decisões”, falou o juiz, leitor do povo, que nem sequer a própria cadeira afasta.

Foto do autor

Opinião por Carlos Andreazza

Andreazza foi colunista do jornal O Globo e âncora da Rádio CBN Rio, além de ter colaborado com a Rádio BandNews e com o Grupo Jovem Pan. Formado em jornalismo pela PUC-Rio, escreve às segundas e sextas.

 
 
 

Fachin cobra compostura no Judiciário em meio a caixa-preta e conflitos no 'Gilmarpalooza'

Constança RezendeJoão Gabriel de Lima / FOLHA DE SP

 

BRASÍLIA e LISBOA

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin defendeu nesta sexta-feira (28) comedimento e compostura ao Judiciário, em fala lida como um recado aos ministros que participam nesta semana do Fórum Jurídico de Lisboa, organizado pelo colega de Supremo Gilmar Mendes.

O evento em Portugal está em sua 12ª edição e foi apelidado no mundo jurídico e político de "Gilmarpalooza", em referência à profusão de convidados e aos eventos paralelos em Lisboa, como jantares e festas.

O fórum, que junta integrantes do Judiciário e de governos, políticos e empresários, consolidou-se no calendário político das autoridades brasileiras.

Ao mesmo tempo, recebe críticas pela falta de transparência e pela possibilidade de conflito de interesses.

Folha procurou os gabinetes dos seis ministros do STF que constam na programação do evento (Gilmar, Alexandre de MoraesLuís Roberto BarrosoDias ToffoliFlávio DinoCristiano Zanin), mas apenas Barroso informou quem está bancando a viagem --em seu caso, a FGV.

O STF disse que não há desembolso da corte para essas viagens. Os magistrados da corte presentes em Lisboa não comentaram as declarações de Fachin, mas buscaram em falas públicas defender a atuação da corte e de seus ministros.

Durante palestra na Primeira Turma do tribunal nesta sexta-feira em Brasília, Fachin, que declinou de convite para ir ao fórum, disse que "comedimento e compostura são deveres éticos, cujo descumprimento solapa a legitimidade do exercício da função judicante".

Ele acrescentou que "abdicar dos limites é um convite para pular no abismo institucional" e que estava cético em relação à capacidade dos tribunais processarem suas diferenças.

"Creio não estar sozinho aqui: em momento de mudanças sociais intensas, cabe à política o protagonismo, ao Judiciário e às cortes constitucionais, mais especificamente, a virtude da parcimônia: evitar chancelar os erros e deixar sedimentar os acertos, sempre zelando pela proteção dos direitos humanos e fundamentais", disse.

No mesmo evento, Oscar Vilhena Vieira, professor da FGV Direito SP e colunista da Folha, disse que a postura de muitos ministros do STF gera uma preocupação em relação ao papel que devem desempenhar.

Ele afirmou que a participação de magistrados no debate público, e muitas vezes não público, pode gerar um problema de "erosão da autoridade" que torna o tribunal vulnerável a ameaças de controle externo, como ocorreu no governo Jair Bolsonaro (PL).

O Fórum Jurídico de Lisboa ocorre em um momento em que também nos Estados Unidos e na Europa levantam-se críticas sobre a conduta de ministros e a relação com empresários.

Nos EUA, o debate deu origem a um código de conduta anunciado no ano passado.

Questionado pela Folha nesta sexta-feira se o Brasil não deveria fazer o mesmo, Moraes disse que não.

"Não, acho que não há a mínima necessidade, porque os ministros do Supremo já se pautam pela conduta ética que a Constituição determina", disse.

Em fala no evento, ele voltou a defender a regulação das redes sociais e disse que o Judiciário é o maior inimigo dos de extremistas digitais.

A afirmação foi feita no momento em que o ministro traçou um paralelo entre os autoritarismos do passado e do presente.

"Mussolini e Hitler chegaram ao poder pelas regras do jogo, o que ensinou uma lição aos democratas. Depois da guerra criou-se um obstáculo aos autoritários: a Jurisdição Constitucional", afirmou.

"Por isso o Judiciário é o grande inimigo daquilo que chamo de 'novos populistas extremistas digitais', como pudemos ver nos casos recentes da Hungria e da Polônia".

Moraes também citou os ataques que os magistrados recebem no contexto da estratégia autoritária.

"No caso do Judiciário, primeiro eles tentam a cooptação. Depois, usam a velha estratégia de aumentar o tamanho das cortes, ou tirar de cena os juízes que não foram nomeados por eles, encurtando o tempo da aposentadoria compulsória. Por último, como fizeram no Brasil, atacam os juízes e suas famílias", declarou.

"O poder Judiciário brasileiro, no entanto, é independente e corajoso em sua tarefa de defender a democracia."

Outra defesa do STF foi feita pelo ministro Flávio Dino, em uma das mesas do fórum, dois dias após o presidente Lula (PT) afirmar que o tribunal "não tem que se meter em tudo".

O petista havia sido questionado sobre a decisão do Supremo de descriminalizar o porte de maconha para uso pessoal.

Lula afirmou que a corte deveria atuar nas questões mais ligadas à Constituição. "Não pode ficar qualquer coisa e ficar discutindo porque aí começa a criar uma rivalidade que não é boa nem para a democracia e nem para a Suprema Corte e nem para o Congresso Nacional."

Sem citar nominalmente o presidente da República, Dino disse no Fórum que a autocontenção do Supremo não é necessariamente algo "do bem" e lembrou de quando o STF negou um habeas corpus à militante Olga Benario, mulher do líder comunista Luiz Carlos Prestes. Ela acabou deportada e morta na Alemanha nazista.

"É por isso que o Supremo se mete em muita coisa. Na verdade, não se mete. O Supremo é metido em muita coisa", afirmou Dino. Foi aplaudido pelos representantes das diversas siglas que estavam na plateia.

"Quando um ministro se pronuncia em público, ele expressa o pensamento geral da corte, não apenas sua opinião individual", disse o ministro. Essa harmonia, segundo Dino, contrasta com a cacofonia da polarização.

"Muitos nos perguntam porque fazemos esse fórum em Lisboa, e não no Brasil. Uma resposta é que talvez no ambiente polarizado do Brasil seja impossível", declarou.

"Eu gosto dessa pluralidade, querem que se volte ao tempo em que os magistrados se isolavam". Num momento em que falava sobre o papel do STF na preservação da democracia, Dino pediu uma salva de palmas para Moraes, que acabava de entrar no recinto.

Ao encerrar o Fórum, o ministro Gilmar Mendes disse que, com 53 painéis e 337 palestrantes, a edição de 2023 foi a maior do evento e prometeu aumentar a presença feminina nas próximas.

"Minha neta de nove anos me disse que estava gostando muito do Fórum de Lisboa, mas que tinha uma crítica: havia poucas mulheres nas mesas".

Ao final, agradeceu aos parceiros, a Universidade de Lisboa e a Fundação Getúlio Vargas, e à imprensa, "pela divulgação que deu ao Fórum".

FACHIN

MP da Bahia liga alerta para uso político de máquinas da Codevasf

João Pedro Pitombo / FOLHA DE SP

 

Ministério Público do Estado da Bahia acendeu o alerta para o possível uso eleitoral da distribuição de tratores e equipamentos como cisternas e caixas d’água doados pela Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba).

Os promotores estão acionando prefeitos para que não façam doações de equipamentos no período anterior ao pleito municipal. O pedido segue a legislação eleitoral, que proíbe a distribuir de bens por meio de instituições vinculadas a candidatos, exceto em casos de emergência.

Também houve uma recomendação para não haver pronunciamentos, citações, elogios e agradecimentos a políticos associados aos bens adquiridos em parceria com a Codevasf.

"Há uma possibilidade de esses produtos serem usados de forma inadequada, sobretudo próximo aos períodos eleitorais. Estamos fazendo um mutirão para este acompanhamento", afirma o promotor Millen Castro, coordenador do Núcleo de Apoio às Promotorias de Justiça Eleitorais.

Levantamento da Promotoria aponta que neste ano foram firmados 291 termos de doação de equipamentos, contemplando 137 municípios baianos. Promotores já receberam denúncias de possíveis irregularidades no uso das máquinas, que estão em fase inicial de apuração.

A Codevasf é comandada por aliados de líderes do centrão, que foram nomeados por Jair Bolsonaro (PL) e mantidos no governo Lula (PT).

Em geral, são os deputados e senadores que definem o destino dos recursos por meio de emendas, turbinadas nos últimos anos. Os equipamentos são escolhidos a partir de um catálogo, como uma espécie de "loja de políticos".

Conforme apontado pela série de reportagens Política da Seca, publicada pela Folha, a distribuição de reservatórios de água por meio de emendas ignorou locais listados como de alta prioridade e beneficiou áreas menos necessitadas.

No ano eleitoral de 2022, somente 10% das unidades de reservatórios pela Codevasf não foram feitas via emendas, ou seja, foram distribuídas diretamente sob definição do governo.

A Folha também mostrou que associações ligadas a parentes de políticos foram beneficiadas com entrega de veículos e maquinário agrícola nos primeiros meses do governo Lula.

CISTERNAS ESTOCADAS

 

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