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Governo põe sigilo sobre lista de passageiros de voo de Lula que parou 10 min em SP

Marianna HolandaRenato Machado / FOLHA DE SP

 

O governo Lula (PT) impôs sigilo à lista de passageiros que acompanharam o presidente em agosto em um voo de Santiago (Chile) para Brasília, com uma parada de apenas dez minutos na cidade de São Paulo.

O Palácio do Planalto não explica o motivo da descida na capital paulista. O avião presidencial costuma parar para reabastecimento em viagens de longa duração, o que não se aplica a esse voo. Além disso, paradas operacionais costumam levar até uma hora, e não apenas alguns minutos.

Reservadamente, interlocutores do governo levantaram suspeitas de que a escala foi realizada apenas para uma carona. A primeira-dama, Rosangela Silva, a Janja, estava em São Paulo no período.

Ela e o Planalto foram procurados, mas não responderam à reportagem.

Com a imposição do sigilo à lista, não é possível afirmar que a mudança de trajeto no voo presidencial tenha sido motivada por alguma carona.

Lula foi ao Chile para encontro bilateral com o presidente Gabriel Boric.

Após pedido da Folha por meio da Lei de Acesso à Informação, o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) afirmou que a solicitação se enquadra no primeiro nível de sigilo da legislação, grau reservado, que prevê a disponibilização da resposta ao final do mandato.

O órgão, responsável pela logística das viagens presidenciais, fundamenta a justificativa com base no artigo 25 do decreto 7.724/12.

O GSI cita trecho do artigo que fala em "dados e conhecimentos que podem pôr em risco a segurança de instituições ou de altas autoridades nacionais ou estrangeiras e seus familiares".

O ministério disse ainda que a listagem poderia ser disponibilizada pelo gabinete presidencial "se for o caso". Procurado, o Planalto não prestou a informação e disse que não comentaria o pedido via LAI.

O decreto em questão trata da classificação, do grau e do prazo de sigilo no acesso à informação.

O texto diz que são passíveis de sigilo dados cuja divulgação possa pôr em risco a defesa e a soberania; prejudicar a condução de relações internacionais do país; pôr em risco a vida, segurança ou saúde da população, entre outros.

Lula viajou com uma comitiva de 14 ministros e mais assessores para Santiago em agosto, onde participou de uma visita de Estado que durou cerca de um dia e meio. Além da reunião bilateral fechada com Boric, os dois líderes também assinaram 19 acordos e outros atos em diferentes áreas, como turismo, ciência e tecnologia, defesa e direitos humanos.

O petista chegou à capital chilena no dia 4, um domingo, e a agenda começou na segunda-feira, com visita a Boric. Depois, teve agendas no Senado e na suprema corte do país.

Deixou Santiago na terça-feira, às 15h, acompanhado de auxiliares e ministros. Segundo a agenda oficial, no retorno ao Brasil, Lula passou por São Paulo, onde chegou às 19h50 na base aérea de Guarulhos. Dez minutos depois, partiu para Brasília. Na época, o Planalto já não havia explicado o motivo nem quem acompanhava o presidente no voo.

Uma decisão do TCU (Tribunal de Contas da União) tomada em maio permitiu o sigilo dos voos realizados em aviões da FAB (Força Aérea Brasileira) por altas autoridades.

O órgão de controle entendeu que podem esconder os voos o vice-presidente da República, os presidentes do Senado, da Câmara dos Deputados e do STF (Supremo Tribunal Federal), bem como os demais ministros da corte e o procurador-geral da República.

O argumento do TCU é de que a divulgação das informações poderia prejudicar a segurança das altas autoridades. Nesse caso, a LAI prevê uma exceção na transparência das informações públicas.

O tribunal, entretanto, não especificou como a divulgação dos voos após a sua realização poderia afetar a segurança dessas autoridades.

Reportagem da Folha mostrou que, nos primeiros sete meses do atual mandato de Lula, em ao menos 11 casos ministros do governo e o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), levaram suas esposas de carona em voos da FAB (Força Aérea Brasileira).

As listas de passageiros das aeronaves, obtidas pela reportagem por meio da LAI, mostram que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), esteve acompanhado em ao menos nove voos por sua esposa, a secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde, Ana Estela Haddad.

Lula cada vez mais parecido com Dilma

Por Notas & Informações / O ESTADÃO DE SP

 

A Moody’s deu um upgrade na nota de classificação de risco do Brasil, deixando o País a um passo do grau de investimento, mas já há quem vaticine que haverá novo rebaixamento em dois ou três anos, em razão da constatação óbvia de que o crescimento brasileiro, que respaldou a avaliação da agência classificadora, está sendo puxado pelo aumento dos gastos públicos e, por isso mesmo, é insustentável.

 

“É um crescimento de uma economia a pleno-emprego, turbinado pelos gastos públicos, com salários correndo além da produtividade do trabalho, exportações líquidas como proporção do PIB em queda e rentabilidade das empresas em queda. Tudo isso aponta para uma trajetória de crescimento insustentável”, disse ao Estadão o economista Samuel Pessoa, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).

 

“O Brasil está correndo severo risco fiscal”, alertou Márcio Holland, que foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda durante todo o primeiro mandato de Dilma, de 2011 a 2014. Em entrevista ao jornal Valor, Holland lembrou que em 2012 os problemas fiscais que levariam à recessão já eram “identificáveis”. Mas naquela época, disse o economista, o governo foi adiando medidas dolorosas de ajuste para não comprometer a popularidade de Dilma. O mesmo está acontecendo agora: “Nós estamos adiando um ajuste fiscal. E eu estou antecipando, com riscos de análise, que, como há eleições em 2026, (...) existe uma chance de a gente adiar esse ajuste de novo”.

 

Para Holland, “a gente vai ter um Lula 3 muito parecido com Dilma 1, que foi um período em que, em certo momento, já havia a necessidade de ajuste fiscal”. Samuel Pessoa é ainda mais pessimista: “É um cenário muito parecido com o governo Dilma 2″ – aquele em que o Brasil mergulhou na recessão. Mas Pessoa considera que a desorganização da economia não começou com Dilma, e sim com o próprio Lula em seu segundo mandato. Ou seja, o descuido com o equilíbrio fiscal é uma espécie de marca registrada do lulopetismo, que Dilma apenas acentuou em razão de suas teimosias ideológicas.

 

A negligência com a política fiscal se traduz na escalada do endividamento público a um ritmo que impressiona, devendo chegar a até 82% do PIB em 2026, um nível de comprometimento muito superior ao dos países emergentes. Tudo isso num cenário de juros altos e sem uma arrecadação que garanta solvência. Caso a projeção se confirme, o governo Lula da Silva deixará como saldo um aumento de 14 pontos porcentuais do PIB para a dívida. “E não conseguimos enxergar nenhum processo de estabilização, de reversão dessa tendência”, afirma Pessoa.

 

Não foi à toa, portanto, que a avaliação otimista da Moody’s surpreendeu todo o mercado. “A Moody’s deu um voto de confiança muito grande ao governo”, disse ao Valor Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG-Pactual e que de 2016 a 2020 ocupou as secretarias de Acompanhamento Econômico e do Tesouro Nacional. Mansueto pôs em dúvida a capacidade do governo de tomar medidas para fortalecer o arcabouço fiscal, de modo a conquistar o desejado grau de investimento, como recomendou a Moody’s. “É uma incerteza. Já há acordo político? Qual a concordância, na base do governo, com essas medidas, e quais são elas? A gente escuta da área econômica que há, sim, um esforço e que, possivelmente, serão apresentadas medidas para mudar a dinâmica do gasto obrigatório, mas ninguém sabe quais são essas medidas.”

 

Assim, é compreensível o comedimento do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que, em vez de comemorações efusivas, preferiu aproveitar a deixa para pedir ao “governo como um todo” – Lula inclusive – que leve a sério a necessidade de equilíbrio fiscal. O que se tem visto até aqui, no entanto, é uma batalha quase solitária de Haddad e sua equipe para fechar as contas. O problema é que, num governo notoriamente gastador, sobrou para o ministro basear seu esforço na arrecadação – mas esse espaço, politicamente, já acabou.

É hora de aprimorar o Bolsa Família

Por Notas & Informações / O ESTADÃO DE SP

 

No fim de setembro, o Tribunal de Contas da União (TCU) encaminhou seu 8.º Relatório de Fiscalizações em Políticas Públicas e Programas de Governo (RePP) aos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Para além do fato de se tratar de uma imposição legal, haja vista que o TCU, como órgão de assessoramento do Congresso, deve subsidiar os parlamentares com dados e análises técnicas para um bom controle externo dos atos do Poder Executivo, o RePP é um valioso mapa de oportunidades de melhoria em políticas públicas para o próprio governo federal.

É com espírito público, portanto, que esse trabalho deve ser visto pelo Palácio do Planalto. Está claro que há um jeito correto e eficiente de fazer as coisas – e, como mostrou a Corte de Contas, há meios para que assim seja. Cabe ao presidente Lula da Silva lutar contra seus cacoetes ideológicos, além de deixar seus interesses eleitoreiros mais imediatos de lado, e abraçar a boa técnica para melhor atender os que realmente precisam do amparo do Estado.

 

O RePP é resultado de uma ampla auditoria que cobriu diversas políticas públicas em andamento. Mas o relatório é particularmente oportuno para o aprimoramento do Bolsa Família. Em primeiro lugar, porque um país como o Brasil não pode prescindir de um eficiente programa de transferência de renda, que propicia o básico para que os cidadãos mais vulneráveis tenham uma vida minimamente digna – o que começa com o acesso à alimentação.

 

Ademais, é sabido há muitos anos que o Bolsa Família, em que pesem seus reconhecidos méritos, ainda tem muito a melhorar em termos de focalização dos beneficiários e, consequentemente, de eficiência do gasto público.

 

O TCU identificou, por exemplo, que o Benefício Complementar de R$ 600 mínimos por família, cuja origem é o Auxílio Brasil implementado no governo de Jair Bolsonaro, é prejudicial para a equidade per capita do programa. Isso ocorre, de acordo com o relatório, porque “o benefício atende diferentes unidades familiares pelo mesmo valor, independentemente do número de integrantes”. Vale dizer, a fixação de um valor mínimo para todos, que desconsidera as necessidades singulares de cada lar atendido, penaliza os mais carentes entre os desvalidos. Na época da pandemia de covid-19, era compreensível que se despejasse dinheiro para mitigar os danos para as famílias mais pobres. Mas esse tempo passou.

 

De acordo com o RePP, a remodelagem do Bolsa Família, com o fim de “transferência para algumas famílias de valores além daqueles necessários para a sua retirada da situação de pobreza”, pode gerar uma economia anual de quase R$ 13 bilhões para o erário. Mas o objetivo principal nem deve ser reduzir o gasto, e sim torná-lo mais inteligente.

 

Grande parte da ineficiência do atual modelo do Bolsa Família decorre da má focalização – ou seja, cidadãos que estão recebendo o benefício, mas não deveriam ou deveriam receber menos. Segundo o ministro Vital do Rêgo, “o novo desenho do Bolsa Família, apesar de ter melhorado o custo-efetividade em relação ao Auxílio Brasil, ainda apresenta custos para redução da pobreza superiores ao antigo Bolsa Família, caso não houvesse incorporado o Benefício Complementar (de R$ 600)”. Um novo desenho, sem o pagamento indistinto do Benefício Complementar, pode levar a uma economia de 9,1% no orçamento do Bolsa Família, “mantendo o mesmo impacto no combate à pobreza, ou reduzir a pobreza a 7,2% a mais, com o mesmo orçamento”.

 

Como se vê, não se trata de investir menos, mas de investir melhor. E isso não é novidade. Desde a primeira versão do programa, nos idos do primeiro mandato de Lula, não tem faltado alertas de respeitados estudiosos, como Ricardo Paes de Barros e Marcos Lisboa, entre outros, salientando a necessidade de ajustes para uma melhor focalização do benefício social.

 

O Bolsa Família tem história. Há uma massa de dados acumulados. Há uma burocracia competente para analisá-los. Cabe a Lula decidir o que fazer com esse cabedal de conhecimento e melhorar o programa a fim de melhor atender às necessidades prementes dos beneficiários – mas, sobretudo, dar-lhes condições para uma vida independente no futuro.

Ampliação da banda larga escolar exige mais agilidade do governo

EDITORIAL DE O GLOBO

 

 

O ritmo de conexão à internet das escolas brasileiras tem ficado aquém do esperado, como constatou reportagem do GLOBO. No último Censo Escolar, 118 mil das 178,5 mil escolas estaduais e municipais declararam ter acesso à rede, mas apenas 81 mil na velocidade indicada para uma navegação adequada.

 

Recursos não parecem ser problema. A Estratégia Nacional de Escolas Conectadas (Enec), lançada em setembro do ano passado pelo Ministério da Educação (MEC), conta com um orçamento de R$ 8,8 bilhões para dotar todas as escolas de sinal de wi-fi e computadores. O Programa Dinheiro Direto na Escola — Educação Conectada, do MEC, já distribuiu R$ 311 milhões entre 96 mil escolas para pagar mensalidades a provedores. Há também quase R$ 5 bilhões do Aprender Conectado, recursos vindos dos leilões do 5G e do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust).

 

É natural que, numa rede de ensino tão extensa, haja escolas mais avançadas que outras. Mas os gestores de educação, de estados e municípios, precisam fazer com que as melhores experiências sejam compartilhadas dentro do universo das escolas públicas, com a ajuda de organizações da sociedade que atuam no setor. É lamentável que, até agora, todo o dinheiro à disposição tenha sido insuficiente para acelerar a implementação da banda larga escolar.

 

“Precisamos ver a conexão de fato chegando às escolas e os investimentos no mesmo ritmo para as demais condições necessárias ao uso da tecnologia, como os computadores e a formação dos professores”, diz Cristieni Castilhos, diretora executiva do MegaEdu, ONG que trata da conectividade nas escolas. Segundo ela, o primeiro ano do programa do governo serviu para a “arrumação da casa” e ainda é possível recuperar o atraso, além de ampliar e aprofundar a discussão sobre o que fazer com a internet nas escolas públicas municipais e estaduais.

 

Fora garantir a conexão de alta velocidade, também é preciso aperfeiçoar a formação de professores para que usem com eficiência as ferramentas digitais. É vital um projeto pedagógico sólido para a internet em sala de aula. Como se sabe, a internet é um instrumento poderoso — para o bem ou para o mal. É fundamental ensinar os alunos a usá-la de forma consciente, a se precaver contra a desinformação e a navegar de forma ética e segura, além de proteger a intimidade deles e evitar o bullying digital.

 

Uma das características positivas do mundo digital é que ele permite o trabalho colaborativo, mesmo fora da escola. É possível definir conteúdos levando em conta o nível de aprendizagem e o desempenho de cada aluno. Pode-se monitorar a qualquer momento o rendimento, identificar dificuldades e criar planos de estudo individuais. Também há recursos para permitir o aprendizado de alunos com deficiências visuais ou auditivas. Por tudo isso, o treinamento do professor é essencial. O que não dá é para ficar parado, reclamando que faltam recursos. Há dinheiro suficiente. O que falta é saber usá-lo com competência.

Auditoria do INSS aponta R$ 45 milhões em descontos indevidos nas aposentadorias

Cristiane Gercina / FOLHA DE SP

 

Aposentados e pensionistas do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) tiveram R$ 45,5 milhões em descontos indevidos feitos por associações nos benefícios previdenciários de janeiro de 2023 a maio de 2024, aponta auditoria realizada pelo instituto.

Para chegar neste montante, o INSS levou em consideração uma amostra com base em 1,2 milhão de pedidos para exclusão de mensalidade associativa, com valor médio de R$ 43,12 por mês, de acordo com relatório ao qual a Folha teve acesso.

A mensalidade associativa é uma contribuição mensal de aposentados que se filiam a alguma associação ou sindicato para ter benefícios. O valor é descontado direto do benefício. Para fazer esse desconto, a associação precisa ter convênio com o INSS e fechar um contrato com o segurado.

Denúncias apontam para descontos indevidos, sem a autorização dos segurados, o que levou o instituto, a Polícia Civil de São Paulo e o Ministério Público de SP a abrirem investigação. O caso também foi levado ao TCU (Tribunal de Contas da União).

Segundo o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, a auditoria foi solicitada por ele após aumento das reclamações. Ele afirma que, para chegar ao montante, foi feita uma amostragem, levando em conta o total de segurados com desconto de mensalidade associativa, que somam 7,7 milhões. Desse total, 615 casos foram analisados.

No período da auditoria, de janeiro de 2023 a maio de 2024, foram descontados R$ 3,07 bilhões direto das aposentadorias para pagar mensalidades, e mais de 6 milhões desses descontos são feitos com a autorização do segurado, que precisa assinar o contrato e, agora, também deve fazer biometria para participar da associação.

"Para essas entidades que, eventualmente, não apresentem a ficha ou apresentem a ficha com uma assinatura não é [do aposentado], vai ter uma consequência jurídica. Vamos mandar para o Ministério Público Federal, vamos mandar para a Polícia Federal, e cada pessoa responde pelo que fez", afirma ele.

As entidades que estão sendo investigadas precisam provar que o cidadão autorizou o desconto. Para isso, devem apresentar o contrato. Quem não apresenta poderá sofrer sanção ao final da investigação.

"Constatou-se a implantação de descontos associativos sem a devida autorização pelo titular do benefício, uma vez que não foi apresentada a documentação comprovando a filiação e o respectivo consentimento do segurado com o desconto em 54,56% da amostra analisada", diz o relatório.

Stefanutto falou sobre a proteção aos benefícios dos segurados em manifestação organizada pelo Sindnapi (Sindicato Nacional de Aposentados, Pensionistas e Idosos) nesta terça-feira (1º), pelo Dia Internacional da Pessoa Idosa, na região central da capital paulista.

Segundo ele, o INSS não pode servir apenas para conceder o benefício e, depois, deixar o segurado de lado.

"Já implantamos a biometria nos novos benefícios e, agora, queremos ver com o TCU se é possível fazer a biometria para os antigos também", afirmou à Folha, tratando de medida tomada em março deste ano para aumentar a segurança dos beneficiários.

Milton Cavalo, presidente do Sindnapi, diz que o sindicato espera que as investigações levem a punição de entidades que agem de má-fé, prejudicando as demais.

"Nosso sindicato está há 24 anos nesta organização da categoria de aposentados. E quanto surge esse tipo de coisa, dificilmente você separa aqueles que fazem uma luta em prol de aposentados daqueles que só vivem de benefícios, sem compromisso com os aposentados", afirma.

O que fazer se tiver desconto indevido na aposentadoria?

O aposentado que não se associa, mas percebe o desconto em seu benefício pode fazer o bloqueio direto no aplicativo ou site Meu INSS. Também é possível fazer o pedido de pagamento dos valores descontados indevidamente. Essa solicitação deve ser realizada na associação.

Por lei, o cidadão tem direito de receber em dobro o que foi desconto sem autorização. Stefanutto diz que, caso a associação não devolva, o segurado pode fazer a solicitação por meio do Fala.br ou pela Central Telefônica 135, que o INSS poderá fazer a intervenção na entidade para que o valor seja devolvido ao segurado.

Também é possível, hoje, checar no aplicativo Meu INSS a cópia do contrato feito com a associação.

INSS

Auditorias de órgão anticorrupção caem 70% na gestão Nunes

Artur Rodrigues / folha de sp

 

As auditorias do órgão anticorrupção da cidade de São Paulo caíram nos últimos anos da gestão de Ricardo Nunes (MDB).

Os procedimentos feitos pela CGM (Controladoria-Geral do Município) verificam se há irregularidades e a eficiência do gasto público, em trabalho parecido com o que faz a CGU (Controladoria-Geral da União).

A CGM foi criada na gestão Fernando Haddad (PT), em 2013, e vinha em crescimento, atingindo o auge em 2019, na gestão Bruno Covas (PSDB). No ano passado, as auditorias atingiram o menor número da série histórica.

Em 2022, foram 80 ordens de serviço, contra apenas 25 no ano seguinte, uma queda de 70%. Neste ano, ainda em curso, foram só 15.

A gestão Nunes afirma que os números se devem a uma nova metodologia adotada pela CGM.

Segundo dados do órgão, de 1.004 ordens de serviço, 964 já foram finalizadas e as demais estão em execução.

Isso ocorre concomitantemente ao momento em que a cidade atinge seu maior nível de investimento, um dos chamarizes eleitorais do prefeito, que acaba sendo impulsionado por uma chuva de contratos emergenciais feitos pela sua gestão.

Levantamento feito pela Folha mostra que Nunes bateu recorde de investimentos, chegando a R$ 31 bilhões —antes, quem mais tinha investido era a gestão Haddad, com R$ 22 bilhões, em valores corrigidos. Apenas contratos emergenciais da Secretaria de Obras, no entanto, chegam a quase R$ 6 bilhões.

Nunes é criticado com frequência por seus adversários com base no aumento de obras emergenciais.

Neste ano, a reportagem foi a algumas dessas obras e encontrou diversos defeitos, como rachaduras logo após a inauguração. Reportagens do UOL e da Folha ainda revelaram casos de contratos com indícios de cartas marcadas na gestão.

Ao responder Guilherme Boulos (PSOL), que fez pergunta sobre o assunto no debate Folha/UOL na segunda-feira (30), o prefeito citou a atuação da Controladoria.

"Eu não permito qualquer tipo de corrupção", disse. "Tem que investigar, a Controladoria está aí para isso, o Ministério Público está aí para isso, se observar alguma coisa errada de alguém que fez, tem que pagar por isso."

Na página da CGM, a reportagem não localizou nenhum dos 15 relatórios contabilizados neste ano.

A partir de 2024, quando Nunes disputa a reeleição, ainda houve uma mudança no rito de publicação de relatórios pela Controladoria, o que permite adiamento do momento em que os dados irão a público.

Antes, a publicação era feita após o fim da auditoria, em geral com as respostas do órgão avaliado. Segundo o site da CGM, porém, a partir deste ano eles "são publicados após a etapa de monitoramento das recomendações, cujo prazo depende da data estabelecida pela unidade para implementação das ações sugeridas no relatório preliminar, podendo ser prorrogado por até 1 ano".

Além das auditorias, a corregedoria do órgão também instaura procedimentos investigatórios. Porém, não há disponibilidade dos dados ano a ano no portal da prefeitura.

OUTRO LADO: Gestão Nunes diz que houve mudança de metodologia

A administração municipal justifica a redução no número de auditorais a uma nova metodologia adotada pelo setor de auditoria da CGM.

"Em relação aos números apontados pela reportagem são consequência de nova metodologia adotada para a Auditoria Geral do Município, pautada pelo alinhamento com critérios internacionais recomendados pelo Conselho Nacional de Controle Interno e pelo Banco Mundial", diz em nota.

A gestão afirma ainda que a CGM tem investido na ampliação do trabalho de processos de controle interno.

"Nessa gestão foram aplicados R$ 217 mil na capacitação dos auditores, sendo oferecidas 332 horas de treinamento para aperfeiçoar esta atividade. Também em curso a abertura de novo concurso público para contratação de 50 novos auditores que duplicarão o número de profissionais alocados na função", diz a administração.

A administração ainda afirma que a mudança na questão da publicação dos relatórios respeita a legislação em vigor. "A Prefeitura de São Paulo informa que a alegação de que relatórios de auditoria foram adiados sem justificativa é improcedente e sem fundamentação."

 

Funcionalismo não deveria crescer sem reforma

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O número de servidores públicos está em alta nas três esferas de governo no país. Um dado alarmante tanto diante do déficit público quanto do gasto brasileiro com remunerações do funcionalismo ativo, ambos muito elevados para padrões internacionais.

A tendência de expansão do quadro de pessoal foi constatada em levantamento do economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultoria Econômica, a partir de dados da Pesquisa por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE. Os números mostram um recorde de funcionários, que somam 12,66 milhões em junho último, e aumento de 429 mil em um ano.

Quase três quartos desse crescimento (315 mil) ocorreu nas prefeituras, que também respondem pela grande maioria dos servidores —7,4 milhões. Parece plausível, assim, que o fenômeno esteja relacionado a uma expansão de gastos e serviços públicos em ano de eleições municipais.

Nas administrações estaduais, que empregam 3,5 milhões, a alta é bem mais discreta, de 42 mil. Os governadores ainda estão na primeira metade do mandato, período em geral de contenção de despesas e ajustes na gestão.

No governo federal, a ampliação do quadro de pessoal é esperada sob Luiz Inácio Lula da Silva (PT), dadas afinidades de seu partido com corporações estatais. Os números, que incluem servidores estatutários, militares, celetistas e até informais, apontam incremento de 72 mil, para um total pouco acima de 1,7 milhão.

É normal que haja alguma imprecisão nas cifras, baseadas em uma pesquisa amostral. A tendência, de todo modo, mostra riscos de agravamento de distorções do serviço público nacional.

Comparações com outros países indicam que o funcionalismo não chega a ser numeroso em demasia no Brasil, quando se leva em conta a população ativa total. Seu custo, no entanto, ronda os 11% do Produto Interno Bruto na metodologia adotada pelo FMI, bem acima da média global.

Salários superiores à média nacional e um alcance exagerado da estabilidade no emprego encarecem o quadro de pessoal e reduzem sua produtividade.

Não é por acaso que estados e municípios, principalmente, têm recorrido à contratação de celetistas e mesmo de trabalhadores sem carteira assinada para contornar os encargos do regime jurídico dos servidores.

Reformas que viabilizem demissões por ineficiência, facilitem o remanejamento de funcionários e fixem remunerações compatíveis com as do mercado de trabalho deveriam preceder novas contratações.

 

Lula vende um Brasil que não pode entregar

Por Notas & Informações / O ESTADÃO DE SP

 

Numa iniciativa extravagante, o presidente Lula da Silva se reuniu recentemente com representantes de agências de classificação de risco em Nova York. O petista quis explicar para a S&P Global Ratings, a Moody’s e a Fitch Ratings, em suas palavras, “o que está acontecendo” no Brasil. Como se fosse um camelô, Lula tentou lhes vender um Brasil que, segundo seus sonhos, merece voltar a ter o chamado grau de investimento.

 

Lula parece inconformado e obcecado. Foi em 2008, em seu segundo mandato, que o Brasil entrou para o clube de elite dos ratings. Alguns fundos só podem aplicar em ativos com o tal grau de investimento, daí a importância de retomar uma nota mais elevada, perdida em 2015 por causa do espetacular malogro econômico de Dilma Rousseff, quando o Brasil voltou ao grau especulativo.

 

De lá para cá, o cenário melhorou. As agências emitiram avaliações mais positivas, em razão de reformas como a trabalhista, a da Previdência e a tributária. Trata-se de feitos de todos os últimos governos. Hoje, o País, com uma nota que não é baixa, está a dois passos de recuperar o grau de investimento. Pela Moody’s, a perspectiva passou de estável para positiva, enquanto a S&P e a Fitch mantiveram a perspectiva estável.

 

Mas Lula quer mais. O presidente disse a jornalistas que uma agência de classificação de risco “não precisa ouvir só a Faria Lima”, em alusão ao mercado financeiro, e “não precisa ouvir só os empresários”. Segundo ele, essas instituições têm de ouvir também “os trabalhadores” e “o presidente da República”.

 

Mais uma vez, Lula tenta fazer crer que o Brasil que ele governa é uma potência pujante e que só não é reconhecido sem ressalvas como um “bom pagador” pelas agências de risco porque a gente do mercado não “ouviu” as pessoas certas – a começar por ele próprio – e se deixou levar pelos seus preconceitos. Ora, as agências de classificação de risco não “ouvem” ninguém. Elas chegam às suas conclusões com base exclusivamente nos números e nos cenários. E esses cenários, como até mesmo o Banco Central do Brasil já alertou, não são confortáveis, diante da incapacidade do governo de Lula de cortar gastos para reduzir o endividamento.

 

Mas Lula tem pressa. Quer que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que participou das conversas com as agências, satisfaça seu desejo de recuperar o grau de investimento até 2026, ano de corrida para o Palácio do Planalto, quando, decerto, sonha exibir tal feito.

Não será fácil nem será numa reunião, como se estivesse numa mesa de bar, que Lula vai seduzir as agências. Prova disso é que, no dia seguinte, a Fitch divulgou uma nota na qual, embora reconheça que a economia brasileira demonstrou força e surpreendeu, destacou a “posição fiscal frouxa”. Para a agência, “os desafios fiscais persistem e vão se intensificar”.

 

Segundo a Fitch, o governo reage à frustração de receitas com “medidas de improviso”, enquanto “a indexação vai manter a pressão sobre os gastos sociais nos próximos anos, exigindo apertos adicionais das despesas discricionárias”. Como há “vulnerabilidade”, o rating continua na perspectiva estável, o que joga um balde de água fria nas ambições de Lula.

 

O governo acusou o golpe. Para a Fazenda, a agência ignorou “dois elementos fundamentais”: a reoneração gradual da folha de pagamentos com compensações e o fim do Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse) em 2025.

 

Em reunião com ministros e governadores, Lula disse que o Brasil não gastará o que não tem, uma promessa pouco crível. Aproveitou a ocasião para explicar a conversa com as agências, admitindo que “não é habitual um presidente da República se reunir com empresas de rating”. Tinha “curiosidade” de saber “o critério que elas adotam para avaliar o Brasil”.

 

As agências reiteradas vezes apresentaram ao País o “receituário” para a elevação do rating, que inclui responsabilidade fiscal, crescimento econômico sustentável e estabilização da relação dívida/PIB, entre outros. Por ora, os gastos só aumentam, o crescimento mais se assemelha a um novo voo de galinha e a trajetória do endividamento embica para cima, com estimativa de passar de 80% do PIB em 2026, segundo o próprio Tesouro.

Alguns governadores levam a sério dívidas estaduais, outros esperam o próximo perdão

Por Elena Landau / O ESTADÃO DE SP

 

 

E vamos para mais renegociação de dívidas estaduais. Alguns governadores levam a sério as novas exigências, outros esperam pelo próximo perdão. Os três Poderes estão juntos nisso. A Lei de Responsabilidade Fiscal foi enfraquecida pelas inúmeras liminares concedidas pelo STF. O executivo estadual já conta com isso. A justificativa é impedir os serviços públicos de colapsarem. Eleitores dos Estados que se ajustaram não querem saber disso, e a reeleição dos mais responsáveis fica em risco. Não há incentivo algum para cumprir regras. Essa nova renegociação vai custar mais de R$ 60 bilhões ao Tesouro. Como não entra na conta do déficit primário, ninguém liga para seu enorme custo financeiro. E, assim, vamos cumprindo a tal meta.

 

A responsabilidade desta vez é do Senado. Começou com a sugestão de Rodrigo Pacheco de federalizar a Cemig, empresa estadual de energia elétrica. Funcionaria como pagamento de parte da dívida de muitas dezenas de bilhões de reais do seu Estado. O Tesouro reagiu, é claro. O risco de uma supervalorização das ações pelo vendedor era grande e, mesmo que o governo do PT resolvesse vender seu controle – extremamente improvável –, ia acabar no prejuízo.

 

A ideia do senador de Minas Gerais era matar dois coelhos com uma cajadada só: potencial candidato ao governo em 2026, receberia as finanças do Estado organizadas e, ao mesmo tempo, poderia negociar com o governo federal algumas indicações para a administração da Cemig. Minas tem certa obsessão com cargos em estatais, basta ver o empenho do ministro Alexandre Silveira em conquistar dois assentos no conselho de administração da Eletrobras e o que fez na Petrobras. Garantiu assento para dois de seus secretários, apesar da vedação do comitê interno por evidente conflito interesse.

 

A solução óbvia para a dívida de MG é privatizar a Cemig, mas vendendo o controle para não ter volta. A maioria dos governos estaduais fez isso em meados dos anos 90. Com o real, receitas deixaram de ser indexadas, acabando com o ganho ante despesas fixas. Com orçamento desequilibrado, a venda de ativos foi a saída. Um amplo programa de desestatização de empresas estaduais, em especial, distribuidoras de energia, aconteceu.

 

Com isso, a universalização do serviço foi possível. Se hoje temos pobreza energética, é culpa exclusiva de governos. Subsídios desnecessários, sempre renovados, pesam nas contas de luz dos mais pobres. Constrangedor um país tão rico em fontes de energia ter voltado a conviver com a queima de lenha. Como explicar isso na ONU?

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Opinião por Elena Landau

Economista e advogada

Base de Lula aprovou projeto de bets que agora questiona: 'É como abrir as portas do inferno'

Victoria AzevedoNathalia Garcia / FOLHA DE SP

 

Parlamentares de partidos da base aliada de Lula (PT) que agora questionam, em iniciativas legislativas, termos da legalização das bets votaram em peso a favor do projeto de lei que definiu as regras atuais para as apostas online, no ano passado.

A regulamentação desse mercado é iniciativa do governo federal e tem sido liderada pelo Ministério da Fazenda.

Até mesmo integrantes do PT dizem, agora, terem subestimado efeitos negativos e o alcance desse mercado nas contas dos brasileiros. Apesar disso, as bets são liberadas no país desde 2018, por meio de lei, e o fenômeno cresce desde então, com televisões e redes sociais veiculando propagandas de apostas.

Após a lei que liberou as bets no Brasil, aprovada no governo Michel Temer (MDB), o governo de Jair Bolsonaro (PL) deveria ter regulamentado o mercado, mas não o fez. No ano passado, o governo Lula editou uma MP (medida provisória) sobre o tema e, a partir disso, um projeto de lei passou a ser discutido no Congresso.

Na primeira votação na Câmara, em setembro de 2023, o texto, que contemplou, no geral, a proposta do governo, foi aprovado simbolicamente (quando não há contabilização individual de votos). Apenas deputados do PSOL e do Novo foram contra.

A grande mudança na Câmara foi a inclusão de jogos online, onde entram cassinos e outros jogos de azar em ambiente virtual —o que não constava no texto original do governo.

No Senado, em dezembro do ano passado, o texto-base também foi votado simbolicamente, mas dois destaques foram aprovados e, ao contrário do que o governo queria, o tema voltou à Câmara. Na última sessão do ano, a Casa aprovou com 292 votos favoráveis e 114 contrários. Somente a oposição e a minoria orientaram contra o texto.

Em agosto deste ano, o Ministério da Fazenda definiu regras de "jogo responsável" para o mercado de apostas, com objetivo de mitigar vício e endividamento excessivo. A pasta definiu em outras duas portarias como será a fiscalização e as penalidades em caso de infração, que incluem multa de até R$ 2 bilhões.

Os efeitos completos da legalização entrarão em vigor em janeiro de 2025, e o governo conta com grande arrecadação. O texto da lei já prevê, por exemplo, regras gerais para a publicidade, algo que tem sido questionado agora no Congresso.

Diversos parlamentares apresentaram propostas para mudar o texto chancelado por eles mesmos no ano passado. Isso ocorre em meio a denúncias envolvendo bets, o surgimento de dados mais robustos sobre impactos na vida cotidiana e embates de setores como o varejo e o de bancos.

Segundo a CNC (Confederação Nacional do Comércio), apostas online deixaram um total de 1,3 milhão de brasileiro inadimplentes no primeiro semestre deste ano.

Um outro projeto na Câmara, da presidente do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), é um dos que preveem o veto de propagandas.

Gleisi disse à Folha que é necessário que os parlamentares analisem o tema ainda neste ano. Segundo ela, é preciso fazer uma "avaliação crítica" do que ocorreu.

"Subestimamos os efeitos nocivos e devastadores sobre o que isso causa à população brasileira. É como se a gente tivesse aberto as portas do inferno, não tínhamos noção do que isso poderia causar", diz ela. "Principalmente essa ação muito ofensiva das casas de jogos e o uso de publicidade extrema."

Ela diz que vai procurar o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para propor um esforço dos parlamentares acerca do assunto. "Precisamos fazer alguma coisa neste ano, temos que ter noção do que causamos, a nossa responsabilidade, e o que pode ser feito. Isso também é responsabilidade do Congresso."

O deputado Reginaldo Lopes (PT-MG) também é autor de outras matérias que tratam da regulamentação. Uma delas, apresentada nesta semana, proíbe a utilização de cartões de crédito e contas bancárias do Bolsa Família nessas apostas.

À reportagem, ele diz que não é o caso de acabar com as bets, mas, sim, aperfeiçoar a legislação. "Agora mudou porque chegamos a conclusão de que precisa aperfeiçoar. Não ter vetado o uso dos cartões, o Bolsa Família e não termos regulamentado as propagandas foi ruim para as famílias brasileiras. O endividamento está claro, está tendo consequências. Precisamos sempre ter coragem de reformar e melhorar as legislações."

Segundo análise técnica do Banco Central, os beneficiários do Bolsa Família que fazem apostas esportivas online gastaram R$ 3 bilhões em bets via Pix no mês de agosto.

Gleisi, por sua vez, afirma ter divergências com Lopes sobre esse projeto. "Temos que fazer um estudo geral de como a população brasileira está sendo jogada nessa questão dos incentivos dos jogos", diz. "Não gosto desse tratamento diferenciado do Bolsa Família porque isso cria preconceitos e estigmatiza. Se o Banco Central está fazendo estudo, tem que fazer um estudo geral", diz.

Nesta semana, ao menos quatro deputados da oposição a Lula apresentaram projetos de lei que tratam da proibição do cadastro de beneficiários de programas sociais do governo em plataformas de apostas e jogos de azar.

Parlamentares de outros partidos também sugeriram propostas que tratam das bets. Em agosto, o deputado Marx Beltrão (PP-AL) apresentou projeto de lei que tipifica a divulgação por meio de influenciadores nas redes sociais de jogos e apostas de azar —propõe prisão de três meses a um ano, além de multa.

Um projeto de lei com teor semelhante foi apresentado em julho pelo deputado Marcos Tavares (PDT-RJ).

O deputado Luiz Gastão (PSD-CE), por sua vez, apresentou projeto que define que a regulação da propaganda das apostas online deve seguir os mesmos moldes restritivos aplicados à publicidade de produtos fumígenos, bebidas alcoólicas e medicamentos.

Já o deputado Ricardo Ayres (Republicanos-TO) passou a colher assinaturas nesta quarta (25) para abrir uma nova CPI na Câmara que mira as apostas.

O senador Omar Aziz (PSD-AM) acionou a PGR (Procuradoria-Geral da República) para tentar tirar do ar os sites de apostas esportivas até que as empresas sejam completamente regulamentadas.

Já o partido Solidariedade prepara uma ação a ser enviada ao STF (Supremo Tribunal Federal) contra a lei. Segundo a legenda, a lei das bets se omite em prever regras de proteção contra os socioeconomicamente vulneráveis e também contra o jogo compulsivo.

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