CGU abre nove investigações contra servidores do INSS por fraudes e apura enriquecimento ilícito, mostram documentos da CPI
Por Eduardo Gonçalves e Sarah Teófilo / O GLOBO
A Controladoria-Geral da União (CGU) abriu nove procedimentos contra servidores do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) suspeitos de envolvimento no esquema bilionário de cobranças indevidas a aposentados e pensionistas. As suspeitas incluem a possibilidade de enriquecimento ilícito. Os processos são sigilosos e estão em fase inicial.
Segundo documento enviado à CPI do INSS, foram abertos um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) com a "finalidade de apurar responsabilidade dos principais funcionários públicos", sete Sindicâncias Patrimoniais (Sinpas) voltadas a investigar o "possível enriquecimento ilícito" e uma Investigação Preliminar Sumária (IPS) destinada a apurar "matéria residual que porventura não entrou no escopo dos demais processos".
Caso as suspeitas sejam comprovadas, os processos podem levar à aplicação de sanções administrativas, como advertência, suspensão e demissão. O conteúdo também pode ser remetido à Polícia Federal e Ministério Público para a apuração criminal.
Procurados, CGU e INSS não se manifestaram.
De acordo com as investigações da Polícia Federal, alguns dirigentes e servidores do INSS receberam propina para facilitar e validar os acordos de cooperação técnica (ACTs) que permitiram as cobranças irregulares das vítimas. A PF identificou o repasse de pelo menos R$ 9,3 milhões três pessoas ligadas a ex-dirigentes da autarquia. O dinheiro teria vindo de empresas do lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, que é apontado como o suposto pivô do esquema e está preso preventivamente por ordem do Supremo Tribunal Federal. Ele nega todas as irregularidades, dizendo que esses beneficiários prestaram serviços às suas empresas de forma regular.
Os procedimentos conduzidos pela CGU contam com informações compartilhadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que tem abastecido a análise das movimentações financeiras dos envolvidos.
Além desses processos, a Controladoria informou que a Corregedoria do INSS instaurou doze Processos Administrativos de Responsabilização (PAR's) e 6 Processos Administrativos Disciplinares e Investigação Preliminar Sumária (PAD's e IPS), que foram avocados pela Controladoria. Esses procedimentos também podem gerar sanções administrativas aos envolvidos.
"A unidade [CGU] tem conduzido, de forma prioritária, apurações voltadas à identificação e responsabilização disciplinar de todos os servidores públicos federais envolvidos na Operação Sem Desconto", diz o documento enviado à comissão parlamentar de inquérito.
A Operação Sem Desconto foi conduzida pela Polícia Federal em parceria com a CGU. Uma auditoria da Controladoria apontou que, em uma amostra de 1.273 aposentados, 97,6% disseram que não autorizaram descontos nos seus benefícios previdenciários e 95,9% afirmaram que não eram sequer associados a uma entidade. Essa revelação, de acordo com a CGU, é um indicativo de que as associações fraudaram documentos para retirar dinheiro da conta das vítimas sem o consentimento delas e com o aval de servidores do INSS.
Instaurada em agosto, a CPMI move uma investigação paralela à da PF e da CGU sobre o esquema de descontos indevidos. Nas últimas duas semanas, a comissão colheu o depoimento do "careca do INSS" e deu ordem de prisão a duas pessoas envolvidas com o escândalo.
IR: Empresas com ações na Bolsa dizem que tributação de estrangeiros no País será a maior do mundo
Por Mariana Carneiro / O ESTADÃO DE SP
BRASÍLIA - Estudo da PwC encomendado pela Associação Brasileira das Empresas de Capital Aberto (Abrasca) afirma que, com o projeto que amplia a isenção do Imposto de Renda, investidores de multinacionais estrangeiras com operações no Brasil sofrerão com a maior carga tributária do mundo, o que é contestado pelo Ministério da Fazenda.
A tributação dos dividendos de pessoas físicas e jurídicas que residem no exterior é parte das compensações propostas pelo governo para financiar a isenção de quem ganha até R$ 5 mil mensais e dar descontos para quem recebe até R$ 7.350.
Segundo estimativa do Ministério da Fazenda, feita na apresentação do projeto, em março, a previsão é arrecadar cerca de R$ 9 bilhões por ano com essa tributação.
A Abrasca defende derrubar a taxação do investidor estrangeiro com o argumento de que os cálculos da Fazenda estão minimizando a capacidade de arrecadação sobre os dividendos. O argumento é que a equipe econômica estimou que as companhias vão reduzir em 50% a distribuição dos dividendos porque haverá menos incentivos - hoje, os dividendos são isentos de IR. E isso faria encolher a arrecadação.
A Abrasca afirma, no entanto, que não haverá essa redução, porque as empresas de capital aberto não podem escolher reter dividendos, uma vez que boa parte delas têm cláusulas de lock-in, ou seja, têm de distribuir todo o lucro. Por isso, há uma subestimação na arrecadação prevista por parte da Receita Federal, diz a associação.
Assim, a arrecadação estimada não seria de R$ 9 bilhões, mas de até R$ 34 bilhões por ano, a depender do porcentual do lucro distribuído em forma de dividendos. O valor seria suficiente para bancar a isenção até R$ 5 mil, segundo a Abrasca.
Integrante do Ministério da Fazenda ouvido pela reportagem, por sua vez, contesta o estudo e afirma que houve um “exagero grosseiro” no cálculo ao supor que 100% dos lucros são distribuídos por meio de dividendos.
A Lei das SAs fala que 25% do lucro deve ser distribuído e boa parte dos ganhos também chega aos acionistas por meio do JCP (juros sobre capital próprio), e outra parcela acaba retida para reinvestimento.
A expectativa da equipe econômica é de que haja um encolhimento principalmente na distribuição de lucros em 2026, na largada da medida, justamente porque as empresas já estão se preparando para antecipar os pagamentos aos sócios ou fazer lançamentos ainda neste ano, antes que comece a valer a tributação. A proposta do governo é taxar em 10% os dividendos que excedam R$ 50 mil por mês para os contribuintes que sejam enquadrados como de alta renda (com rendimento acima de R$ 50 mil mensais) até que eles cheguem a uma alíquota mínima de Imposto de Renda (veja calculadora do Estadão).
Essa alíquota será de 10% para quem receber R$ 100 mil ou mais por mês. Se um contribuinte com essas características paga hoje 2% de IR, passará a pagar mais 8% para chegar ao mínimo. A proposta do governo foi acolhida pelo deputado Arthur Lira (PP-AL), que é relator do projeto na Câmara e se mostrou contrário ao pedido da Abrasca, mas diz estar aberto às emendas de colegas na votação no plenário.
Maior alíquota do mundo
Além da subestimação, a Abrasca afirma que a medida pode espantar investidores estrangeiros, uma vez que elevará a carga tributária ao maior patamar do mundo. O cálculo da PwC afirma que haverá recolhimento de IR na etapa do envio de dividendos da filial instalada no Brasil para a controladora e, numa segunda etapa, no repasse ao investidor final. Com essas duas fases de tributação, o imposto recolhido pelo acionista estrangeiro de uma multinacional que opera no Brasil poderia chegar a um intervalo entre 45% e 47% - o que seria o maior do mundo.
Com a mudança, as controladoras que investem no Brasil verão a tributação subir de 22,4% para 30,16%, segundo o estudo, o que já é elevado para os padrões da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O Ministério da Fazenda também contesta essa informação e afirma que a maior parte dos países desconta o valor do imposto cobrado das controladoras quando ele já foi pago pela filial no Brasil. Só quem não faz isso são os países que são paraísos fiscais - e que o Brasil não deve responder pela tributação final incidente sobre os acionistas de empresas pessoas físicas de outros países.
Não é só a arrecadação, porém, que fez a Receita querer tributar as multinacionais instaladas no Brasil. O temor é que, ao isentar pessoas jurídicas domiciliadas no exterior, haja um incentivo para que brasileiros enviem recursos para fundos offshore (no exterior) como uma forma de planejamento tributário. A Abrasca afirma que poderia haver um dispositivo legal para evitar isso. A sugestão é que os dividendos que vão para controladoras que sejam empresas de capital aberto lá fora fiquem isentos. Só seriam taxados os dividendos que vão para companhias fechadas, pessoas físicas ou fundos de investimento estrangeiros.
Governo deve cumprir decisão do TCU sobre meta fiscal, e não contestá-la
Por Editorial / O GLOBO
O governo precisa parar de usar subterfúgios para cumprir a meta fiscal deste ano. O Tribunal de Contas da União (TCU) emitiu na semana passada um alerta para um fato óbvio que, infelizmente, o Executivo tem esquecido em seus cálculos e projeções: a meta fiscal estipulada na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) é zero, e não o déficit primário de pouco mais de R$ 30 bilhões, ou 0,25% do PIB, permitido pelo limite de tolerância.
De acordo com o TCU, as bandas criadas em torno do centro da meta, para mais ou para menos, se justificam apenas para acomodar situações imprevistas. Não podem ser um artifício para o governo deixar de se esforçar para atingir o objetivo com que se comprometeu. Não há nenhum motivo extraordinário — como houve no ano passado, com as enchentes do Rio Grande do Sul — que justifique encerrar o ano no vermelho.
É certo que a maior parte do Orçamento é engessada por gastos obrigatórios. Mas isso é uma justificativa frágil para a postura frouxa com a responsabilidade fiscal. O déficit fiscal estrutural do Estado brasileiro tem sido estimado entre 2% e 3% do PIB. Para reduzi-lo, é essencial adotar medidas de caráter duradouro, como desvincular as aposentadorias e benefícios previdenciários do salário mínimo ou revisar pisos obrigatórios de despesas. Em vez disso, porém, o governo tem insistido, sempre que possível, em tentar excluir novas despesas do cálculo das metas.
Ainda que não disponha de vontade política para promover ajustes estruturais, é evidente que o governo poderia fazer mais para conter os gastos livres do Orçamento. Até agora, não promoveu nenhum contingenciamento orçamentário, apenas um bloqueio de R$ 12,1 bilhões, mecanismo usado para remanejamento de verbas, sem afetar o resultado final das contas públicas. O Congresso é também sócio da incúria, já que controla, por meio de emendas parlamentares, mais de um quinto dos gastos livres do Orçamento, patamar que não encontra paralelo em nenhum outro país do mundo. Cortes nas emendas são fundamentais.
Todo aumento de despesa não coberto pela receita tributária se converte em dívida pública. Quando o atual governo tomou posse, em janeiro de 2023, ela estava em 71,7% do PIB, pelo critério do Fundo Monetário Internacional (FMI). Em julho deste ano, já atingia 77,6% do PIB. E não para de crescer. Quando o gasto resulta em dívida crescente, o mercado de títulos públicos exige rendimento mais alto, contribuindo para pressionar os juros. Não é outro o motivo para o Brasil exibir juros reais entre os mais altos do mundo. Se o governo zelasse pelas metas fiscais sem artifícios, permitiria a queda sustentável dos juros, trazendo maior dinamismo à economia. Por isso, em vez de recorrer da decisão do TCU como anunciou, o governo deveria cumpri-la.
Estado mais enxuto para menos professores temporários
Mais uma pesquisa constata aumento expressivo de professores temporários nas redes de ensino, além da precarização trabalhista.
O fenômeno, contudo, tende a persistir sem mudanças profundas na burocracia estatal brasileira, dado que sua origem está nos orçamentos engessados e numa gestão pública arcaica e onerosa.
Segundo levantamento do Movimento Pessoas à Frente, organização sem fins lucrativos, a contratação de temporários pelos governos estaduais subiu 42% entre 2017 e 2023. Entre os 26 estados mais o Distrito Federal, só em 5 não houve crescimento: Ceará, Rio Grande do Norte, Amazonas, Minas Gerais e Paraná.
De acordo com pesquisa da ONG Todos Pela Educação, feita a partir de dados do Ministério da Educação, a taxa de temporários (51,6%) nas redes estaduais superou a de efetivos (46,5%) em 2023, ante 31,1% e 68,4%, respectivamente, em 2013 —o restante era terceirizado ou CLT.
Ademais, 43,6% dos temporários trabalhavam há ao menos 11 anos, quando esse tipo de contratação deveria atender a uma necessidade transitória e durar até no máximo dois anos.
O estudo do Movimento Pessoas à Frente também mostra que esses professores recebem cerca de 51% a menos do que os efetivos e que estados falham na garantia de direitos trabalhistas.
Licença-maternidade é ofertada em 10 deles, e apenas 2 asseguram estabilidade à gestante; licenças para tratamento de saúde são permitidas em 9; só 4 oferecem auxílio-alimentação; férias remuneradas não são garantidas em 6, e em 7 não há 13º salário.
Considerando que 83,6% dos alunos do ensino médio estão na rede estadual e que essa etapa apresenta os piores indicadores da educação básica, a precarização do trabalho de fato preocupa.
Mas a contratação de temporários vem da necessidade de conter a alta de gastos permanentes, dados o déficit dos sistemas previdenciários e o envelhecimento da população. Orçamentos engessados dificultam a empreitada, ainda mais com um regime de servidores que atravanca gestões flexíveis, modernas e racionais.
É preciso apressar uma reforma administrativa que, entre outras medidas, elimine a estabilidade em carreiras que não são de Estado e institua avaliações de desempenho, a serem usadas para melhorar o serviço oferecido, elevar remunerações ou promover substituição de profissionais.
Assim, só exigir mais concursos para efetivos e aumento salarial não ataca o cerne do problema. Para isso, é imperativo abandonar posturas corporativistas.
TCE investiga 19 ex-prefeitos cearenses por irregularidades na transição de governo; veja quem são
O Tribunal de Contas do Ceará (TCE-CE) abriu investigação contra 19 ex-prefeitos cearenses e outros 117 agentes públicos por suspeita de irregularidades na transição de governo após as eleições de 2024. O órgão fez uma força-tarefa para mapear, monitorar e auxiliar a sucessão municipal entre o fim do ano passado e a posse dos gestores eleitos, no início deste ano. Apesar da orientação para prevenir condutas ilegais, as fiscalizações ainda identificaram quase 100 desvios de conduta em 21 municípios.
A atuação do órgão ocorreu no âmbito do projeto “Transição Responsável”, que acompanhou de perto os 93 municípios onde houve troca de gestão. A iniciativa buscou garantir que prefeitos eleitos assumissem o cargo com serviços essenciais funcionando e informações administrativas preservadas. Nos locais onde foram identificadas irregularidades mais graves, o TCE-CE agora realiza uma investigação mais aprofundada.
Cerco contra irregularidades
De acordo com o diretor de Fiscalização de Atos de Gestão I, Cristiano Goes, após o mapeamento dos municípios onde haveria a troca de gestão, o TCE-CE passou a monitorar indícios de obstáculos ou irregularidades na transição. Quando alguma conduta se mostrava anormal, a fiscalização passava a ser in loco. Ao todo, 17 procedimentos presenciais do tipo foram realizados em municípios de maior risco. Além da transição, também foram inspecionados a preservação de dados e informações, a continuidade de serviços e atividades administrativas e a gestão do patrimônio público
As irregularidades mais recorrentes foram:
- Descumprimento de obrigações relativas à transição;
- Inadimplência ou atraso de pagamentos a prestadores de serviços;
- Término de contratos sem renovação;
- Interrupção de serviços e falta de insumos essenciais;
- Dificuldades de acesso ou vulnerabilidade de dados;
- Atrasos em folhas de pagamento e encargos;
- Insuficiência de recursos;
- Falta de recebimento de bens patrimoniais.
Como ressaltou Cristiano Goes, essas condutas provocam impacto direto sobre a população, já que gera atraso de salário de servidores, suspensão de atendimento hospitalar, interrupção da coleta de resíduos, entre outros problemas.
“Para as situações mais críticas, abrimos as representações em função do que observamos nas inspeções ou de fatos posteriores que identificamos. Então, temos 25 representações (contra gestões de 21 municípios) abertas para apurar. Agora, os gestores serão convidados a apresentar suas defesas, em seguida, analisamos se serão acatadas ou se o processo será mantido, depois, encaminhamos ao relator. O Ministério Público também é convidado a se manifestar, em seguida, o relator emite o voto”, explicou Goes.
Truque com meta fiscal não engana ninguém
Por Notas & Informações / O ESTADÃO DE SP
O Tribunal de Contas da União (TCU) subiu o tom na semana passada ao deixar claro que a estratégia adotada pelo governo Lula da Silva de perseguir o piso em vez do centro da meta de resultado primário desrespeita as normas fiscais. O plenário da corte de contas optou por “dar ciência” à equipe econômica sobre a irregularidade dessa prática, o que é praticamente um conselho para que o procedimento seja revisto antes que os envolvidos acabem por ser responsabilizados.
Para o TCU, a banda deveria ser utilizada para acomodar situações atípicas, como a ajuda emergencial para enfrentamento das enchentes no Rio Grande do Sul e dos incêndios no Norte e no Centro-Oeste, o auxílio aos exportadores prejudicados pelo tarifaço imposto pelos Estados Unidos e a regularização do pagamento dos precatórios.
A meta fiscal para este ano é de déficit zero, mas o piso permite um saldo negativo de até R$ 31 bilhões. Como busca o limite inferior em vez do centro, não há espaço no Orçamento para acomodar qualquer tipo de imprevisto, e o Executivo precisa da autorização do Congresso ou da boa vontade do Supremo Tribunal Federal (STF) para contabilizar gastos adicionais fora da meta.
A questão é que essas despesas não apenas não desaparecem como elevam a dívida bruta, o que expõe a fraqueza do arcabouço fiscal, cujo objetivo é estabilizá-la na proporção do Produto Interno Bruto (PIB), algo que os indicadores mostram que não tem acontecido nem deve ocorrer no médio prazo. Essa, aliás, é uma das razões que explicam o elevado nível de juros no País.
O governo vai recorrer da decisão do TCU, e enquanto o recurso não for julgado, seus efeitos estão suspensos. Haddad, no entanto, não parece estar preocupado, muito embora precise convencer a corte de contas de que a meta é uma banda – e não um ponto – e que o cumprimento de uma decisão como essa pode paralisar a máquina pública.
Caso tenha de cumpri-la, o governo terá de contingenciar R$ 30,2 bilhões em despesas, além dos R$ 12,1 bilhões já bloqueados, ou encontrar novas fontes de receitas para arrecadar esse valor ainda neste ano. E em 2026, tudo o que o Executivo quer evitar é ter de congelar gastos em um ano no qual o presidente Lula da Silva deve concorrer à reeleição.
Haddad pretende se escorar no fato de que o Congresso recusou uma proposta do governo Lula para flexibilizar as despesas do Orçamento – e que, segundo ele, se aprovada, daria condições ao Executivo para buscar o centro da meta fiscal. É uma explicação capciosa, pois foi o próprio governo quem propôs, no texto que criou o arcabouço fiscal, que a meta seria cumprida se o piso fosse atingido.
Não é apenas o TCU que cobra do governo que persiga o centro da meta fiscal. Essa é uma análise compartilhada pela maioria dos economistas e especialistas em contas públicas. Fato é que Haddad se aproveita da profusão de emendas constitucionais, leis complementares e leis ordinárias que envolvem a área fiscal para obter a interpretação mais favorável possível ao governo, que sabidamente resiste a cortar gastos tanto de maneira definitiva, via reformas, quanto temporária, com bloqueios e contingenciamentos.
Por outro lado, a agenda de recuperação de receitas defendida por Haddad tem esbarrado nos limites do Congresso. O governo ainda precisa que o Legislativo aprove a medida provisória que acaba com a isenção de títulos como as Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) e que amplia a tributação das bets, enviada em junho.
Até o fim de novembro, quando haverá uma nova revisão bimestral do Orçamento, o País saberá se a decisão do TCU será levada a sério pelo governo ou se será apenas mais um jogo de cena às vésperas das eleições presidenciais. Enquanto isso, Haddad continuará a dizer que o governo busca o centro da meta, embora todas as suas práticas apontem para o piso. Foi por isso, afinal, que Lula da Silva engoliu o arcabouço fiscal proposto pelo ministro: porque sabia que ele funcionaria assim, na exata medida de suas necessidades eleitorais.
Solução para os Correios é privatizar enquanto é tempo
Por Editorial / O GLOBO
Uma das primeiras medidas de Luiz Inácio Lula da Silva ao voltar ao Planalto foi retirar os Correios da lista de privatizações. A justificativa alegada foi a opção pelo saneamento da Empresa de Correios e Telégrafos (ECT), de modo que pudesse ser mantida como empresa pública para cumprir sua “função social”. Diante da previsível resistência corporativa numa estatal com 85 mil funcionários, profundamente deficitária, cujos cargos são loteados politicamente, nada foi feito. A atividade postal básica — entrega diária de correspondência em todo o território nacional — não é cumprida sequer em bairros de elite do Rio.
Estima-se que neste ano a ECT terá de receber R$ 2 bilhões do Tesouro para fechar as contas. Para o ano que vem, a previsão são mais R$ 5 bilhões. Enquanto tramita mais uma rodada de mudança na cúpula da estatal, o Ministério da Fazenda se preocupa com o risco de ela se tornar “dependente do Tesouro”. Isso forçaria o governo a incluir no Orçamento da União todos os R$ 20 bilhões de custo anual, aumentando as dificuldades para cumprir metas fiscais. Para piorar o quadro, os resultados parciais de 2025 são desanimadores. No primeiro semestre, em comparação com o período no ano passado, o prejuízo mais que triplicou, de R$ 1,35 bilhão para R$ 4,37 bilhões. As perspectivas não são nada otimistas.
Com o advento da internet, uma fonte importante de receitas da ECT foi substituída por e-mails. Ao mesmo tempo, sites de comércio eletrônico e aplicativos deram origem a um mercado pujante de entrega de encomendas — em que, para competir, é preciso agilidade e atualização constante, qualidades em falta nos Correios. Em dez anos, de acordo com a Bloomberg, a participação da ECT no mercado de encomendas passou de 85% para 45%. Não há previsão de a queda estancar. Projeções mostram que as compras on-line não param de crescer, mas a estatal não demonstra fôlego para competir com startups de entrega que se multiplicam. Há intensa competição pelos contratos com varejistas e marketplaces. Nas duas pontas do comércio eletrônico, há vendedores e clientes exigentes quanto à rapidez na remessa e no recebimento da compra. Nessa corrida, a ECT tem sido derrotada.
A melhor maneira de preservar a entrega de correspondência em todo o território nacional — única “função social” razoável para justificar a existência da ECT — continua a ser a privatização. Está à disposição do Planalto a modelagem sólida que o BNDES fez para isso no governo passado. O estudo constatou que a ECT não tem como investir os R$ 2 bilhões anuais necessários para atender uma população cada vez mais ávida pelo comércio eletrônico. A proposta, acertadamente, separa o serviço postal de caráter social e universal — que precisa ser mantido — da entrega de encomendas, atividade em que devem vigorar as leis de mercado, na busca incessante por eficiência e investimentos em logística.
O erro do governo, ao recuar na privatização da ECT, obriga a mantê-la conectada ao Tesouro, consumindo recursos que poderiam ter outro destino, seja em investimentos sociais, seja no abatimento da dívida pública. A melhor alternativa é privatizá-la nos termos sugeridos pela modelagem do BNDES. Por enquanto, ainda deve haver interessados em comprar a estatal. Com a explosão dos prejuízos e o decorrente sucateamento, em breve poderá não haver mais.
Turismo na Esplanada
O União Brasil tem origem em uma série de reciclagens de partidos. Nasceu de uma fusão entre o DEM e o PSL; o primeiro era uma versão rebatizada do outrora poderoso PFL, uma dissidência do PDS, sigla que apoiava a ditadura militar; o segundo era um nanico que passou por um breve período de agigantamento ao abrigar Jair Bolsonaro, hoje no PL.
Com tal DNA, a legenda costuma ser classificada como de centro-direita ou direita, mas seria mais preciso apontar que sua plataforma é associar-se a governos em busca de cargos e verbas, aproveitar-se dos fundos públicos que financiam atividades partidárias e valer-se de emendas parlamentares ao Orçamento para favorecer seus redutos eleitorais.
Assim se entende a relutância com que o União leva adiante o propósito de romper a relação de conveniência e infidelidade que mantém com o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Foi preciso um ultimato do partido para que o ministro do Turismo, Celso Sabino, deputado licenciado pelo Pará, entregasse seu pedido de demissão na sexta-feira (26).
Ainda assim, Sabino declarou que tentará negociar a permanência no cargo com seus correligionários, cujo intento é se reposicionar na oposição a partir de uma federação com o PP —outra sigla que passou por diversas mutações desde o ancestral PDS.
Também a pasta do Turismo resulta de reciclagens políticas pouco ortodoxas. Seu formato atual remonta a 2003, na primeira administração petista, concebido com o objetivo de atrair interessados em verbas para obras e eventos paroquiais que remotamente possam ser considerados como fomento ao turismo.
Do orçamento de pouco menos de R$ 3 bilhões do ministério neste ano, mais da metade, ou R$ 1,6 bilhão, vem de emendas parlamentares individuais e coletivas.
O arranjo canhestro exemplifica a precariedade da coalizão formada por Lula. Os aliados ao centro e à direita recebem postos periféricos na Esplanada brasiliense, embora por vezes bem remunerados, e não são convidados ao centro das decisões de governo —e tampouco mostram grande alinhamento ao Executivo nas votações do Congresso Nacional.
Outros nomes podem deixar o primeiro escalão federal nos próximos dias, mas é improvável que a essência dessa configuração se altere a um ano das eleições gerais. Nem a administração petista mostra a disposição de contemplar uma agenda programática mais ampla, nem os partidos fisiológicos pretendem fazer mais do que turismo em ministérios e estatais.
Lula semeou desaceleração econômica no final do mandato
O Banco Central divulgou na quinta (25) sua estimativa para o desempenho do Produto Interno Bruto em 2026: crescimento de apenas 1,5%, abaixo da projeção do Ministério da Fazenda (2,4%) e mais próximo da mediana do mercado financeiro (1,8%).
Embora desde 2022 as projeções para o PIB tenham sido muito mais equivocadas do que o esperado, a desaceleração da atividade hoje parece compatível com a expansão prevista pelo BC para o fim deste ano, perto de 2%.
O aumento da taxa de juros produz impacto, que deverá ser maior entre o segundo semestre deste 2025 e o primeiro de 2026.
A moderação observada no segundo trimestre, ademais, mostra que o PIB dependeu mais de indústrias extrativas, que estão menos ligadas ao ciclo econômico, e do saldo das exportações. Já a demanda doméstica arrefece.
Tal esfriamento deverá resultar em queda do ritmo do emprego; a desocupação se mantém em níveis ainda historicamente baixos, mas a ampliação de postos de trabalho tende a ser menor. Resta saber o que acontecerá com a ainda forte alta dos salários.
Em resumo, espera-se menos inflação e atividade econômica em 2026. A combinação desses fatores costuma influenciar humores eleitorais, embora ainda não haja expectativa de mudança maior na insatisfação geral em relação à observada agora.
Deve-se ressaltar, contudo, que a desconfiança do consumidor tem crescido e as expectativas do eleitorado ainda são negativas, assim como o saldo da avaliação popular do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Assim, sem levar em conta reviravoltas políticas, importa saber se a gestão petista, a fim de chegar com mais prestígio às eleições, tomará providências adicionais que não raro elevam o gasto público de forma irresponsável.
Já estão encaminhados projetos e medidas como a desoneração do Imposto de Renda, a nova faixa do Minha Casa, Minha Vida, a expansão do Vale Gás, a continuidade, com maior divulgação, do programa Pé-de-Meia e mais empréstimos do BNDES.
Não há espaço para elevação de despesas. O governo só cumprirá as metas deste ano graças a aumento de impostos e antecipações de receitas —sem contar a contabilidade criativa que retira gastos do Orçamento.
Em 2026, será ainda mais difícil fechar as contas, mesmo com as metas fiscais relaxadas. Dólar e juros altos tendem a se repetir, já que o ano do pleito será de tensão financeira, ainda maior caso os candidatos a presidente não apresentem planos críveis de reforma do gasto público em 2027, o petista em particular.
Lula 3 inverteu o ciclo político-eleitoral de gastos. Em vez de botar ordem na casa no início do governo, resolveu impulsionar a economia com aumento exorbitante de despesas. Assim, na metade final do mandato, enfrentará desaceleração. Tentar insuflar outra vez a atividade pode antecipar uma crise em 2027.
Funcionário do Banco do Brasil cobrou R$ 1 milhão para ceder credenciais e permitir fraudes
REDAÇÃO DIARIONORDESTE
Uma operação da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) realizada na manhã da última sexta-feira (26) teve como alvo um funcionário da área de tecnologia do Banco do Brasil. Ele é suspeito de cobrar R$ 1 milhão para permitir a invasão do sistema da instituição por criminosos.
Segundo informações do g1, o suspeito teve um celular e um notebook apreendidos para perícia durante as buscas realizadas pela corporação. O funcionário não teve a identidade revelada e não chegou a ser preso.
Em nota, o Banco do Brasil afirmou que a tentativa foi detectada e frustrada por meio de monitoramento interno. A instituição informa que adotou as providências cabíveis no seu âmbito de atuação e acionou a polícia.
De acordo com a delegada Isabel Dávila, o suspeito colaborou com as investigações e deve ser indiciado. Ela ainda apontou que a perícia dos equipamentos deve revelar quem são as pessoas que fizeram o acordo com o funcionário.
Polícia acionada pelo Banco do Brasil
As investigações apontam que o funcionário teria combinado de receber o valor de R$ 1 milhão em troca das credenciais de acesso ao sistema do banco. Com isso, os criminosos iriam invadir a rede e executar fraudes bancárias de grande valor.
A invasão foi impedida pela operação, que foi realizada pela Coordenação de Repressão aos Crimes Contra o Consumidor, a Propriedade Imaterial, e a Fraudes (CORF) da Polícia Civil. O Banco do Brasil também atuou em conjunto.
Em nota, divulgada na íntegra pelo g1, a instituição financeira informa que "detectou e frustrou a tentativa por meio de monitoramento interno e adotou todas as providências no seu âmbito de atuação".
O comunicado também aponta que o Banco do Brasil acionou a polícia e colabora com as investigações sobre o caso.
"O banco possui processos estabelecidos para monitoramento e apuração de situações suspeitas contra a instituição e acrescenta que seu padrão de governança inibe que acessos isolados a credenciais de qualquer funcionário possam causar impactos financeiros a clientes ou à empresa", finaliza a nota.
