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Exploração política de irmão de Lula nas fraudes do INSS vira preocupação no Planalto, e petistas reagem

Catia Seabra FOLHA DE SP

 

 

A exploração política da imagem do irmão mais velho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é alvo de preocupação de integrantes do governo e do PT. José Ferreira da Silva, conhecido como Frei Chico, é vice-presidente do Sindnapi (Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos da Força Sindical), entidade investigada no esquema de desconto irregular de benefícios do INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social).

O nome de Frei Chico passou a figurar em grupos de mensagem de direita em uma tentativa de abalar a avaliação de Lula. A ameaça de uso político desencadeou uma operação discreta em defesa de Frei Chico.

Sob a supervisão de ao menos um integrante do governo, um assessor petista passou a discutir com ele um roteiro para apresentação de sua defesa em Brasília, enquanto um amigo do presidente recomendou que viesse a público para prestar esclarecimentos.

Mas, segundo um integrante do sindicato, uma viagem de Frei Chico à capital e uma manifestação pública foram descartadas neste momento. Na última quarta-feira (14), o sindicato enviou a senadores um texto em defesa da entidade e do irmão de Lula.

sindicato foi incluído pela Polícia Federal no rol de investigados por supostas fraudes em descontos de benefícios previdenciários. Mas a entidade acabou ficando fora da lista de associações consideradas como o núcleo do esquema de fraudes em ação movida pela AGU (Advocacia-Geral da União). Nessa ação, é solicitado o bloqueio de R$ 2,5 bilhões das entidades.

De acordo com o TCU (Tribunal de Contas da União), o número de associados ligados ao Sindnapi passou de 237,7 mil em dezembro de 2021 para 366,2 mil em dezembro de 2023. Em fevereiro deste ano, foram 207,6 mil descontos em folha para a entidade.

No documento distribuído aos senadores, em que se apresenta como uma das entidades mais sólidas e respeitadas do Brasil, o Sindnapi afirma que, desde o início da operação Sem Desconto, vem sendo citado de forma injusta ao lado de instituições suspeitas.

"Segundo o presidente Milton Cavalo, a única explicação seria o fato de o vice-presidente da entidade ser Frei Chico, irmão do presidente Lula, revelando um uso político da operação para atacar o governo e enfraquecer uma entidade combativa e respeitada", diz o texto.

Sob o título "Frei Chico e os ataques para atingir o governo Lula", o texto traz a trajetória do irmão do presidente. Segundo o documento, Frei Chico começou sua militância nos anos 1960, como metalúrgico em São Bernardo do Campo. "Foi um dos pioneiros do sindicalismo no ABC Paulista, enfrentando a ditadura com coragem e lutando pela anistia e redemocratização. Integra a diretoria do Sindnapi desde 2008. Tornou-se vice-presidente há um ano por mérito e reconhecimento de sua trajetória no movimento sindical", acrescenta.

A entidade ainda distribuiu uma cartilha cujo título é "Fato ou fake: desmontando as mentiras sobre Frei Chico". Ressalta que o sindicato é uma organização autônoma e não recebe privilégios do governo.

Antes de chegar à vice-presidência da entidade, Frei Chico era um dos diretores, sendo responsável por acompanhar processos de anistia de associados perseguidos pelo regime militar.

Ele foi convidado para a função pelo presidente da entidade de defesa dos aposentados, Milton Cavalo, que assumiu a o comando do sindicato há dois anos. Cavalo cumpre um mandato tampão após a morte de seu antecessor, João Inocentini.

FREI CHICO IRMÃO DE LULA

Valor repassado pelo governo a ONG de petistas é o maior desde a criação de programa que distribui cisternas, há 22 anos

Por — Brasília / O GLOBO

 

 

Um programa do Ministério do Desenvolvimento Social para distribuir cisternas a famílias carentes concentra R$ 640,1 milhões, 85% da verba total, em uma Organização Não Governamental (ONG) comandada por integrantes do PT, partido do presidente Lula. Uma parte desses recursos foi repassada a outras entidades comandadas por ex-integrantes do governo do Piauí na gestão de Wellington Dias, atual chefe da pasta. Procurado, a pasta negou irregularidades e afirmou que “vínculos político-partidários das organizações” não foram considerados na contratação.

 

O acordo do Ministério do Desenvolvimento Social com a Associação Um Milhão de Cisternas para o Semiárido (P1MC) foi assinado em 2023, após o governo decidir ampliar o programa, investindo R$ 755,8 milhões. Do total desses recursos, R$ 640,1 milhões foram destinados à entidade comandada por dois integrantes do PT, filiados ao partido desde 1987. O valor representa o maior volume repassado pela pasta a uma mesma ONG desde o início do programa, há 22 anos.

 

Procurada, a ONG destaca que sua contratação se deu por meio de edital, que considerou a atuação por mais de duas décadas na região do semiárido, onde diz ter atendido 1,2 milhão de famílias. Nesse formato, o ministério adota um sistema de pontuação, que privilegia entidades com experiência no tipo de serviço que será prestado. “A presença de lideranças sociais com histórico político ou comunitário não fere a legalidade ou a legitimidade do trabalho técnico desenvolvido. O processo é legal, auditável e impessoal”, diz a entidade.

 

Terceirização

A associação não executa as obras. A construção das cisternas é feita por entidades subcontratadas, que ficam responsáveis por executar o serviço em regiões específicas. Um levantamento feito pelo GLOBO mapeou 37 ONGs comandadas por filiados ao PT subcontratadas por meio do programa de cisternas. Juntas, essas organizações receberam R$ 152 milhões até agora, o que representa 33,9% de todo o montante pago pelo governo federal à P1MC por meio do convênio em vigor.

 

Entre as subcontratadas da ONG está a Cooperativa para o Desenvolvimento Rural e Sustentável da Agricultura Familiar do Piauí (Cootapi), que recebeu R$ 9 milhões para construir 775 cisternas no estado do ministro Wellington Dias. A entidade é comandada por dois integrantes do PT que ocuparam cargos no governo de Wellington Dias, em 2017. Um deles exerce uma função comissionada na gestão de Rafael Fonteles (PT), sucessor do ministro no Executivo estadual. Procurada, a Cootapi não respondeu.

 

No município de Aracati (CE), a 150 quilômetros da capital Fortaleza, a Cooperativa Mista de Trabalho (Comtacte) foi subcontratada por R$ 4,6 milhões pela P1MC para construir 769 cisternas em cinco cidades do interior cearense. A entidade é comandada por um integrante do PT e ex-assessor do prefeito da vizinha Itaiçaba (CE), Antoniel Holanda (PT). No endereço onde a cooperativa está registrada, no bairro de Farias Brito, há apenas uma casa simples de alvenaria. Questionados, a cooperativa e seu presidente não responderam.

 

Uma ex-assessora de um deputado estadual do PT é quem está à frente da entidade subcontratada para fornecer cisternas em municípios de Pernambuco. O acordo prevê o repasse de R$ 6,4 milhões para o Centro de Educação Comunitária Rural (Cecor). O GLOBO entrou em contato com a ONG, mas não obteve retorno.

 

Os repasses para a construção de cisternas foram feitos também para duas entidades dirigidas por ex-candidatos a vereador pelo PT em municípios do interior da Bahia. Em Guanambi, a 660 quilômetros de Salvador, o Instituto de Formação Cidadã foi contemplado com um contrato de R$ 3,4 milhões. Já em Manoel Vitorino, distante 400 quilômetros da capital, um acordo de mesmo valor foi fechado com o Centro de Agroecologia do Semiárido. Procurados, os dirigentes negaram que a filiação partidária influenciou a contratação.

 

Histórico de problemas

As obras de cisternas têm histórico de problemas. Um relatório de auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) apontou uma série de irregularidades identificadas na execução do programa. O órgão vistoriou 205 equipamentos entregues entre 2020 e 2022 e constatou que 31% deles apresentavam algum tipo de defeito, como vazamentos e infiltrações. Dessas unidades, 10% estavam inutilizáveis por causa de rachaduras ou perda de água.

 

A auditoria da CGU também destacou como ponto de atenção a atual concentração dos recursos em uma única entidade, mas atribuiu o fato aos critérios de seleção utilizados pelo Ministério do Desenvolvimento Social, que leva em conta a experiência na área. O relatório do órgão de controle afirma que “os riscos existentes estão suficientemente controlados”.

 

O Programa de Cisternas foi criado no primeiro mandato de Lula e, desde o início, firmou contratos com a ONG P1MC, que recebeu mais de R$ 2 bilhões ao longo dos últimos 22 anos. A iniciativa teve o orçamento esvaziado durante o governo Bolsonaro. Em 2022, foram entregues pouco mais de três mil unidades, ante uma média de 58 mil por ano até 2018.

 

A retomada do projeto Água para Todos, que inclui o Programa de Cisternas, foi uma das promessas eleitorais de Lula. A previsão do governo é investir R$ 1,5 bilhão até 2026, alcançando mais de 100 mil famílias.

 

Logo após assumir o Ministério do Desenvolvimento Social, no início de 2023, Welligton Dias determinou uma revisão dos contratos firmados na gestão Bolsonaro e a investigação sobre denúncias do mau uso dos recursos públicos. Na época, uma reportagem do jornal “Folha de S.Paulo” mostrou que uma ONG contratada em Minas Gerais estava cobrando dinheiro de famílias pobres para instalar os equipamentos.

 

Para participar do programa, as ONGs subcontratadas também precisam ser credenciadas pela pasta, que é responsável por analisar as prestações de contas. Segundo o ministério, essas entidades têm que demonstrar experiência na execução de projetos voltados ao desenvolvimento rural ou segurança alimentar.

 

Especialistas afirmam que esse modelo de parcerias, em que o serviço é delegado a entidades subcontratadas, dificulta a fiscalização e o rastreamento do uso de recursos públicos. Para Guilherme France, coordenador de pesquisas da ONG Transparência Internacional, uma forma de aumentar a fiscalização é a divulgação de todos os documentos envolvendo as contratações.

 

— A cobrança por transparência já está prevista na legislação. Quando falamos em contratações de grande vulto, como essas, de quase R$ 700 milhões, as exigências sobre as organizações que recebem recursos públicos deveriam ser maiores. Essas instituições precisariam instituir programas de integridade efetivos, capazes de impedir conflitos de interesse, contratações indevidas e ineficiência financeira e econômica — afirmou ele.

 

O ministro Welligton Dias durante anúncio de investimentos em programa de cisternas em PernambucoO ministro Welligton Dias durante anúncio de investimentos em programa de cisternas em Pernambuco — Foto: Roberta Aline/Divulgação/MDS

 

STF descumpre prazos de lei e omite duração de sigilo sobre voos de ministros pela FAB

Mateus VargasGéssica Brandino / FOLHA DE SP

 

STF (Supremo Tribunal Federal) descumpriu prazos da LAI (Lei de Acesso à Informação) e omitiu dados sobre viagens de ministros em aeronaves da FAB (Força Aérea Brasileira) após dois pedidos feitos pela Folha.

O tribunal nem mesmo informou por quanto tempo deixará sob sigilo as listas de passageiros das viagens.

O Supremo respondeu aos recursos apresentados pela reportagem mais de um mês depois do prazo definido pela lei e não revelou quais ministros solicitaram os deslocamentos nos aviões oficiais. A resposta só foi dada após a assessoria de comunicação do tribunal ser questionada sobre o atraso.

 

O Ministério da Justiça, autor de solicitações de parte dos voos para uso dos ministros do STF, já informou que deixará essas informações sob sigilo por cinco anos. A pasta, no entanto, disse que a decisão não se aplica às viagens solicitadas pelo próprio tribunal. Cabe ao Supremo definir esse prazo para os voos que mobiliza.

O governo Lula (PT) passou a emprestar aeronaves não apenas ao presidente do Supremo, mas também aos demais ministros, o que era incomum antes de 2023. A justificativa é que os ataques de 8 de janeiro deixaram as autoridades sob maior risco.

 

A FAB identifica em seu site apenas as viagens do presidente do STF, cargo hoje ocupado pelo ministro Luís Roberto Barroso. Ainda assim, apresenta horários dos voos, locais de origem e destino e previsão de passageiros, mas não mostra a lista de quem acompanhou o chefe do tribunal. Essa relação é apresentada apenas para as viagens de ministros do governo federal, entre outras autoridades.

Os voos dos demais magistrados são classificados como "à disposição do Ministério da Defesa" e autorizados com base na brecha de um decreto de 2020 que permite ao ministro da Defesa liberar "o transporte aéreo de outras autoridades, nacionais ou estrangeiras" por motivos de segurança.

Nesses casos listados como "à disposição", porém, a FAB não especifica se o voo foi feito por uma autoridade do Supremo ou de outro órgão. Questionado por meio da LAI, o STF não apontou quantas vezes os ministros usaram essa categoria de voo.

A informação foi confirmada pelo Ministério da Defesa por meio da Lei de Acesso. A pasta apontou que os ministros do STF usaram ao menos 154 voos da FAB de janeiro de 2023 a fevereiro de 2025, sendo que mais de 70% deles levaram apenas um magistrado.

Os números referem-se apenas aos voos classificados como "à disposição" do Ministério da Defesa e não consideram as viagens do presidente da corte.

 

Uma parte desses voos dos ministros que não ocupam a presidência do STF foi solicitada pelo Ministério da Justiça. A pasta afirma que, após abril de 2024, deixou de se envolver no trâmite para emprestar aeronaves aos magistrados.

O advogado Bruno Morassutti, da ONG Fiquem Sabendo, avalia que não há padrão no STF sobre a divulgação dos voos.

"Infelizmente, há entendimentos diferentes entre os ministros sobre a divulgação de viagens. O STF perde muito em não dar transparência adequada para essas informações. Prejudica a imagem da instituição desnecessariamente num momento politicamente sensível", afirma.

Morassutti afirma que o Supremo é obrigado a seguir a Lei de Acesso, mas não o regulamento que se aplica aos órgãos do Executivo federal.

Na corte, quem fiscaliza o cumprimento dos pedidos de LAI são a Controladoria do STF e o presidente do tribunal. O TCU (Tribunal de Contas da União) pode fazer a fiscalização do ponto de vista administrativo, mas não pode aplicar sanções aos ministros, esclarece.

Folha fez dois pedidos baseados na LAI e direcionados ao STF, em 14 de fevereiro e 19 de março. Foram solicitados os trajetos e a relação de passageiros de voos feitos desde janeiro de 2023 pelos ministros.

O pedido mais recente ainda incluiu perguntas sobre o grau de sigilo aplicado pelo Supremo às informações das viagens e por quanto tempo elas serão mantidas assim.

As regras relacionadas à LAI, incluindo uma resolução do próprio STF sobre o acesso à informação, dizem que é preciso especificar a decisão sobre o sigilo. O documento deve apontar se o dado será classificado como reservado, secreto ou ultrassecreto. Os prazos para esconder essas informações são de no máximo 5, 15 e 25 anos, conforme o grau escolhido.

O Supremo ainda tem uma página específica no seu site para listar as informações tornadas sigilosas pelo órgão, mas essa página afirma que não há nada sob sigilo.

Nos dois pedidos, as respostas iniciais do STF foram idênticas, citando acórdão do TCU de 2024 que considera "passíveis de classificação no grau de sigilo" as informações de voos da FAB cuja divulgação possam "pôr em risco a segurança de instituições ou de altas autoridades nacionais ou estrangeiras e seus familiares".

 

"É importante destacar que todas as requisições de uso de aviões da FAB para o Presidente do STF se fundamentam em razões de segurança institucional", disse o Supremo nas respostas iniciais.

O STF, porém, não apontou qual grau de sigilo escolheu para as informações sobre os voos e ignorou os questionamentos sobre as viagens dos ministros que não ocupam a presidência.

A Lei de Acesso dá 5 dias para o órgão público responder aos recursos da LAI. O tribunal respondeu mais de um mês após esse prazo expirar para um dos pedidos feitos pela reportagem. Isso só ocorreu horas após a Folha questionar a assessoria de comunicação do STF sobre o atraso.

Nos dois pedidos, a presidência do STF afirmou que "não solicita voos para outros ministros", mas não explicou de que forma as aeronaves são emprestadas aos integrantes da corte.

O gabinete de Barroso, que elaborou a resposta, também disse que as viagens do presidente do tribunal "são protegidas por sigilo, por razões de segurança institucional" e citou o acórdão do TCU, mas novamente não apontou o período do sigilo.

ESTATUA DA JUSTIÇA

Lula em Moscou: o dia da infâmia

Por Notas & Informações / O ESTADÃO DE SP

 

 

Ao tomar parte nas celebrações do “Dia da Vitória” em Moscou – data em que a Rússia festeja a vitória na 2.ª Guerra contra o nazismo alemão e que o autocrata Vladimir Putin usa para fazer propaganda de seu regime tirano –, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva selou não um triunfo diplomático ou um gesto de realismo pragmático, mas um vexame moral e um fiasco geopolítico para o Brasil. Ao lado de autocratas de todos os cantos, Lula foi aquilo que os antigos agentes secretos soviéticos chamariam de “idiota útil”: um ocidental deslumbrado e voluntarioso – e descartável após servir às ambições do império russo.

 

Em teoria, a participação de um presidente brasileiro nas comemorações do fim da 2.ª Guerra poderia significar a celebração da liberdade contra a tirania, da coragem do povo russo, do papel civilizatório da Rússia nas artes, nas letras, nas ciências, ou mesmo uma oportunidade para um estadista astuto tecer alianças diplomáticas num mundo multipolar – e até explorar canais para promover uma paz justa entre Rússia e Ucrânia. Na prática, Lula foi o exato oposto.

 

O cortejo foi a peça de propaganda fabricada por um regime que encarna o que há de mais próximo ao fascismo hoje: uma autocracia que envilece sua nação e oprime seu povo, silenciando a oposição, perseguindo minorias, fraudando eleições para sustentar um líder vitalício adornado por uma iconografia imperial. É também um Estado predador, que desestabiliza governos, invade vizinhos e massacra civis sob a bandeira fraudulenta da “desnazificação”. A semelhança com as ambições irredentistas de Hitler, que invocava a germanidade para saquear territórios da Checoslováquia e da Polônia, é óbvia demais para ser ignorada.

 

Ironicamente, o gesto de Lula também o aproxima do presidente dos EUA, Donald Trump. Ambos têm apreço por autocratas, disputam um lugar no coração de Putin e culpam a Ucrânia por uma guerra de agressão que a Rússia começou.

 

Como em todos os governos petistas, Lula conduz uma política externa pautada não por interesses de Estado, mas por taras ideológicas e por sua ambição de ser festejado como vedete terceiro-mundista. Foi assim na aloprada mediação nuclear com o Irã, em 2010. É assim na contemporização sistemática de ditaduras como Cuba, Venezuela e Nicarágua. E é assim também, à custa da credibilidade internacional do Brasil, na relação amistosa com Vladimir Putin, um déspota que reintroduziu a guerra na Europa e exumou a guerra fria, flertando com um conflito mundial nuclear.

 

Ao celebrar o imperialismo de Putin, Lula, numa só tacada, surrou os princípios constitucionais que regem a política externa brasileira – autodeterminação dos povos, prevalência dos direitos humanos e solução pacífica dos conflitos. Também conspurcou a memória dos combatentes da Força Expedicionária Brasileira que tombaram ombro a ombro com os aliados europeus em nome da liberdade na 2.ª Guerra. E jogou mais uma pá de cal na tal “frente ampla democrática” que o elegeu em 2022, sequestrando aquele pacto cívico para usá-lo como instrumento de autopromoção ideológica.

 

O resultado é que o Brasil se afasta dos polos democráticos e reformistas do mundo e se aproxima da constelação sombria de regimes autoritários do novo eixo de caos. Em vez de se mover com pragmatismo e independência num mundo multipolar, Lula opta por um multilateralismo de fachada, que relativiza regras, desrespeita tratados e consagra a lei do mais forte – justamente a lógica que mais prejudica um país como o Brasil, que não dispõe do poder das armas ou do dinheiro, só da diplomacia, da persuasão e da adesão às normas internacionais para proteger seus interesses.

 

A imagem de Lula na Praça Vermelha, ladeado por facínoras, assistindo ao desfile de tanques e mísseis que vão massacrar inocentes na Ucrânia e outros povos, marcará na História o dia da infâmia da política externa brasileira, um dia em que o Brasil, sem ganhar rigorosamente nada em troca, arruinou seus princípios republicanos e democráticos, bajulando criminosos de guerra e adulando ditadores por puro capricho do demiurgo petista.

 

O chanceler paralelo Celso Amorim disse que Lula iria a Moscou como um “mensageiro da paz”. Foi apenas um mensageiro da torpeza.

Avanço do Brasil no IDH torna mais urgente desafio na educação

Por Editorial / O GLOBO

 

É boa notícia o avanço do Brasil no ranking de desenvolvimento humano da ONU, calculado com base em indicadores de saúde, escolaridade e renda. O país alcançou em 2023 o 84º lugar na lista do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). No ano anterior, estava cinco posições atrás. Com isso, o Brasil voltou ao grupo de países com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) considerado alto pelo Pnud.

 

O IDH varia entre 0 e 1. Quanto maior, mais desenvolvido o país ou região. No Brasil, o indicador havia alcançado 0,77 em 2020, mas caiu com a pandemia e a redução na expectativa de vida. Em 2022, voltou a subir para 0,78 e, pelo dado de 2023, alcançou 0,786 — valor pouco acima da média da região (0,783) e da média global (0,756). As posições conquistadas no ranking são resultado mais das dificuldades do resto do mundo em retornar ao patamar anterior à pandemia. O Brasil conseguiu, comparativamente, se recuperar mais rápido que o planeta.

 

A principal causa foi o progresso na renda e na saúde. Calculada pelo critério de paridade do poder de compra, usado pelo Banco Mundial, a renda per capita do brasileiro subiu de US$ 16.609 em 2020 para US$ 17.594 em 2022 e US$ 18.011 em 2023. A queda no desemprego e os aumentos reais concedidos a benefícios sociais a partir da pandemia explicam boa parte desse salto. Em saúde, o país reverteu o prejuízo, e a expectativa de vida voltou a crescer. Em 2020, era de 74,5 anos. Caiu para 73 no ano seguinte, em razão das mortes causadas pelo coronavírus — mas voltou a 75,9 anos em 2023.

 

Comparativamente, o Brasil se saiu melhor que o mundo como um todo. O IDH global registrou a menor alta em seus 35 anos de existência, sobretudo pelo impacto da pandemia na expectativa de vida. Antes, ela crescia três meses por ano. Em 2022 e 2023, o crescimento caiu à metade.

 

No que diz respeito à educação, contudo, o Brasil continuou estagnado. Os dois indicadores usados no cálculo do IDH se mantiveram no mesmo patamar. A expectativa de escolaridade do brasileiro se manteve em 15,8 anos, nível inalterado desde 2020. E a escolaridade média da população continuou em 8,4 anos, resultado idêntico ao dos dois anos anteriores (em 2020, estava em 8,3). Nesse quesito, países como Chile ou Argentina apresentam desempenho próximo ao da Islândia, líder mundial em IDH. No Chile, alunos frequentam a escola por 14,3 anos em média e na Argentina por 11,2.

 

A deficiência em educação é mais preocupante levando em conta o cenário traçado para os próximos anos. Automatização e inteligência artificial terão impacto transformador no mundo do trabalho. Países que não estiverem preparados não conseguirão tirar proveito da nova onda tecnológica. A primeira condição para isso é ter uma população educada e bem formada. Prova de que o Brasil ainda está muito distante de satisfazê-la é o indicador divulgado recentemente, segundo o qual quase 30% da população ainda está na categoria dos “analfabetos funcionais”. Passou da hora de reagir.

 

Ensino ficou estagnado  nos últimos anosEnsino ficou estagnado nos últimos anos — Foto: Guilherme Oliveira/Divulgação

Veto de Lula defende transparência

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seguiu o interesse público ao vetar artigos do projeto de lei 4.015, de 2023, que poderiam colocar em risco a transparência dos gastos com remunerações no sistema de Justiça.

O texto, proposto em 2015 e aprovado no Congresso Nacional em abril deste ano, visa proteger juízes, promotores e defensores públicos ao elevar penas para os crimes de homicídio e lesão corporal dolosa quando cometidos contra esses funcionários.

Entretanto ele ganhou dispositivos, inseridos pelos parlamentares, destinados a alterar a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), que fixa direitos sobre privacidade individual.

Segundo a emenda, os dados pessoais de membros do Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública deveriam ser tratados considerando o "risco inerente" a essas funções, e qualquer vazamento ou acesso não autorizado precisa ser comunicado às autoridades "em caráter de urgência" para que sejam tomadas as medidas cabíveis.

Com isso, o texto mudaria a LGPD para que a pena de multa no caso de infração em relação a dados pessoais fosse aplicada em dobro quando se tratasse de servidores dessas instituições.

A Controladoria-Geral da União (CGU) defendeu o veto aos trechos, que a seu ver ameaçavam o acesso a informação. Para entidades como a Transparência Brasil, abria-se brecha para que fossem bloqueados dados relativos a remunerações, por exemplo.

Para além da noção controversa de que endurecer penas é eficaz para coibir criminalidade, infelizmente comum no Brasil, o projeto colocava em risco o escrutínio de um setor perdulário com o dinheiro do contribuinte.

Entre 50 países analisados pelo Tesouro Nacional, o país ocupa o segundo lugar, atrás apenas de El Salvador, em despesas com tribunais, que chegam a 1,33% do Produto Interno Bruto —ante média de 0,3%.

Em 2023, foram gastos R$ 156,6 bilhões, sendo que 80,2% (R$ 125,6 bilhões) do montante foi direcionado ao pagamento de magistrados e servidores.

O Judiciário brasileiro —com anuência do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que deveria monitorar suas movimentações financeiras— burla o teto constitucional do funcionalismo com penduricalhos que criam supersalários, sem que haja melhoria visível nos serviços prestados à população.

Não à toa, ferramentas que garantem a transparência desses dados, como a Lei de Acesso à Informação (LAI), de 2011, são fundamentais. O Congresso, que ainda pode derrubar os vetos, faria melhor se as protegesse.

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CONGRESSO NACIONAL

Analfabetismo funcional persistente é vexame nacional

É vexatório que quase um terço dos brasileiros entre 15 e 64 anos viva no mundo das letras e dos números praticamente no escuro.

O índice de 29% de analfabetos funcionais nesse estrato em 2024 reflete a ineficiência histórica das três esferas de governo na gestão da educação, que impacta a qualidade de vida dos indivíduos e o desenvolvimento do país.

O Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), calculado pela ONG Ação Educativa, mostra queda do início da série história, em 2001, quando marcou 39%, até a estagnação em 27% entre 2009 e 2015. Depois houve alta para 30% em 2018 e, agora, uma redução pífia de um ponto percentual.

A categoria engloba desde os que não conseguem ler palavras ou um número de telefone (analfabetismo absoluto), que representam 7% no indicador recente, até os 22% que leem e escrevem, mas não compreendem textos longos nem fazem contas maiores (analfabetismo rudimentar).

Grande parte (65%) dos analfabetos funcionais está na faixa etária entre 40 e 65 anos. Mas a taxa de 17% tanto no estrato de 15 a 29 anos como no de 30 e 39 anos é também alarmante.

O Inaf mostra como a inaptidão em língua portuguesa e matemática ocorre entre os brasileiros que passaram pela rede de ensino. Entre os que concluíram os anos finais do ensino fundamental, a porcentagem é de 43%; entre os formados no ensino médio, 17%. E é impressionante que 12% dos diplomados no ensino superior estejam nessa condição.

Os números revelam que a redução do indicador no começo do século foi impulsionada pela expansão do acesso à educação. As escolas, contudo, não conseguem alavancar a aprendizagem, que há anos apresenta níveis precários em avaliações nacionais e internacionais. Um dos resultados é o flagelo da evasão escolar.

Aqueles que abandonam os estudos ficam desemparados. Um em cada cinco municípios (1.092 dos 5.500) não oferta vagas em Educação de Jovens e Adultos (EJA). Em 2024, o país atingiu o menor número de matrículas no programa (2,4 milhões) desde o começo da série histórica do Censo Escolar, em 1996.

É preciso eliminar gargalos no EJA e ampliar a modalidade de ensino integral, que eleva a carga horária das disciplinas tradicionais, como português e matemática, e permite ao aluno escolher áreas do conhecimento com base em suas aptidões, como o ensino técnico —que, segundo o Datafolhadesperta interesse significativo entre os jovens.

Trata-se de estabelecer políticas contínuas e independentes de ideologias. Sem isso, o Brasil continuará com a produtividade congelada —entre 2010 e 2023, ela cresceu ínfimo 0,3%, segundo cálculo da FGV— e, por consequência, lento no combate a desigualdades, ainda mais considerando o acelerado processo de envelhecimento da população.

Acima de tudo, retirar quase um terço desse estrato social da escuridão é dever civilizatório.

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PF apreende contratos e notas fiscais que ligam 'Careca do INSS' a ex-diretores do órgão

Constança Rezende / FOLHA DE SP

 

 

A Polícia Federal encontrou, em busca e apreensão, contratos e notas fiscais que ligam a antiga cúpula do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) a Antônio Carlos Camilo Antunes, apontado como "epicentro da corrupção ativa" na investigação sobre descontos indevidos do benefício.

A PF aponta Antunes, conhecido como "Careca do INSS", como lobista que representava associações dentro do instituto, cooptando funcionários, para liberar descontos em massa.

Ele teria recebido R$ 53,58 milhões de entidades associativas e de intermediárias e usaria empresas para prestar serviços de consultoria a associações de aposentados.

A PF também apreendeu cadernos com anotações que, segundo investigadores, indicariam supostos pagamentos feitos pelo lobista para Alessandro Stefanutto, presidente do INSS demitido após a operação. O material foi recolhido no escritório de uma das empresas de Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como "Careca do INSS". A informação foi noticiada pelo jornal O Globo e confirmada pela Folha.

Ao todo, Antunes repassou R$ 9,32 milhões a servidores e empresas ligadas a ex-integrantes da cúpula do INSS, segundo as investigações.

Em nota, a defesa de Antonio Carlos Camilo Antunes, feita pelo escritório Moreira & Schegerin Advogados, afirmou que não comenta processos em curso, especialmente os que tramitam em segredo de justiça.

Enfatizam, contudo, que as acusações apresentadas contra seu cliente referentes à operação não correspondem à realidade dos fatos.

"A defesa confia que o tempo propiciará uma apuração adequada e a elucidação dos fatos, possibilitando uma atuação isenta por parte das instituições, em harmonia e respeito ao Estado Democrático de Direito, oportunidade em que será provada a inocência de Antonio", disse.

Um dos contratos foi achado em operação no dia 24 de abril no escritório de Eric Fidelis, em Recife, Pernambuco, firmado com uma das empresas de Antunes, a Prospect Consultoria. Eric é filho de André Paulo Felix Fidelis, que foi diretor de Benefícios e Relacionamento com o Cidadão do INSS até julho de 2024.

As apurações também mapearam que a Prospect teria recebido R$ 11 milhões de uma das associações com acordos formais com o INSS e alvo da PF por supostamente fazer descontos indevidos em benefícios.

A investigação Sem Desconto da PF apontou que o "Careca do INSS" ainda destinou valores ao escritório do advogado de Fidelis, "possivelmente a título de vantagem indevida por ato de ofício", segundo a representação da PF sobre a operação.

Procurada, a defesa de André Paulo Felix Fidelis não respondeu.

Também foram encontradas oito notas fiscais em nome da empresa em endereço ligado a Maria Paula Xavier da Fonseca Oliveira, em Boa Viagem, Pernambuco. Os documentos estavam com a Xavier Fonseca Consultoria, que está em nome de Maria Paula.

Ela é irmã de Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho, procurador-geral do INSS. Ele foi afastado do cargo no âmbito da operação Sem Desconto.

As notas, com numeração que vai de um até oito, foram emitidas entre 31 de julho de 2023 e 9 de fevereiro de 2024. De acordo com o site da Receita Federal, a empresa foi aberta em 7 de julho de 2023.

No mesmo local, também foram encontradas oito notas da Xavier Fonseca Consultoria emitidas em nome de um escritório ligado a uma outra operadora do esquema. Elas estão datadas de períodos entre março e outubro de 2024.

A representação policial também afirma que empresas ligadas à esposa do procurador-geral afastado teriam recebido R$ 7,54 milhões do "Careca do INSS".

Virgílio é citado na investigação por ter dado um parecer favorável ao desconto em mais de 34 mil benefícios em favor da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), meses após a Procuradoria do INSS se manifestar contra o mesmo pedido da entidade.

A defesa de Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho afirmou que não teve acesso aos documentos citados na reportagem.

Entre 2019 e 2024, a soma dos valores descontados de benefícios do INSS por diversas associações chega a R$ 6,3 bilhões, mas ainda será apurado qual porcentagem foi feita de forma ilegal, segundo as investigações.

Segundo a CGU (Controladoria-Geral da União) e a Polícia Federal, 97,6% dos segurados ouvidos durante a investigação afirmaram que não tinham autorizado os descontos —foram entrevistados com 1.273 beneficiários.

A Ouvidoria do INSS recebeu, pela plataforma Fala.BR, quase 5.000 reclamações e mais de 700 denúncias envolvendo descontos indevidos entre janeiro de 2024 e fevereiro deste ano, de acordo com requerimento de informações respondido por Stefanutto. O levantamento dos dados foi feito em 6 de março deste ano.

Agência contratada pelo governo faz serviços para rede pessoal de ministro de Lula

José MarquesLucas MarchesiniMateus Vargas / FOLHA DE SP

 

 

A agência de publicidade Filadélfia Comunicação prestou serviços para as redes pessoais do ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (Republicanos), no mesmo período em que recebia verba pública para administrar as contas institucionais da pasta comandada por ele.

O acordo com o ministério, que prevê R$ 3,8 milhões em serviços de comunicação digital por dez meses, não inclui a gestão das redes pessoais de Silvio.

A agência ofereceu o mesmo tipo de trabalho para, ao menos, o ex-ministro das Comunicações Juscelino Filho, quando ele ainda estava no governo Lula (PT). Mas, ao contrário de Silvio Costa Filho, não há indícios de que o material tenha sido aproveitado por Juscelino.

A Filadélfia tem ligações com figuras do mensalão e, desde o ano passado, tem vencido disputas por contas de comunicação no governo do petista.

Em novembro de 2024, assinou um contrato de R$ 13,97 milhões para prestar serviços de comunicação digital ao Ministério das Comunicações durante um ano.

A contratação acabou sendo usada não só para campanhas na pasta das Comunicações, mas também para outros órgãos do governo Lula, como o Ministério de Portos e Aeroportos.

A Filadélfia e o ministério negam que as redes de Silvio sejam administradas pela agência.

A Folha, no entanto, obteve documentos que apontam que a Filadélfia passou a atuar nas redes pessoais de Silvio. A empresa fez uma proposta da identidade visual e do projeto editorial das contas do ministro no Facebook e no Instagram.

Os novos elementos visuais passaram a integrar as publicações do Instagram do ministro ao menos a partir do dia 27 de fevereiro.

A reportagem também obteve imagens de aplicativos de tarefas usados no ministério, mostrando publicações que estavam em elaboração ou finalizadas para as redes sociais de Silvio.

Parte do conteúdo efetivamente foi postado nessas redes. As pessoas que participam dessas tarefas no aplicativo interno são as mesmas da equipe da agência de publicidade que trabalha nos serviços voltados ao ministério.

Ou seja, a mesma equipe contratada com a verba federal lidava com a conta institucional do ministério e com a rede pessoal do ministro.

Os documentos ainda apontam que a agência propôs uma nova marca para o ministro: "Silvio: trabalho, diálogo e mais trabalho". O slogan tem sido utilizado para promoção pessoal dele, que foi eleito deputado federal por Pernambuco, mas está licenciado do cargo.

A mesma proposta sugeria a criação de "Identidade Visual e Projeto Editorial Ministro Silvio" nos "ambientes digitais Facebook/Instagram".

"Usaremos vinhetas mais rápidas e gráficas em editoriais de vídeo", afirma um trecho da proposta da agência.

O conceito do projeto apresentado pela Filadélfia, segundo a proposta obtida pela Folha, seria inspirado na bandeira de Pernambuco.

"A nova identidade do ministro Silvio resgata cores e símbolos que unem regionalidade e contemporaneidade", diz a proposta. "Elementos como o sol, o arco e as estrelas ganham personalidade para criar uma marca que valoriza a cultura pernambucana e sua conexão com o Brasil."

No mesmo documento, a agência afirma que propôs as mudanças porque via como problema "a falta de unidade visual", que prejudicava "a compreensão dos conteúdos e a construção da marca pessoal".

Em relatórios de viagens apresentados pela equipe da Filadélfia ao ministério, um funcionário da agência ainda afirma que captou imagens para as redes do ministro. O documento foi utilizado para prestar contas dos serviços feitos pela agência e receber o aval para pagamento do governo federal.

A Filadélfia também fez a proposta de mudança da identidade visual para as redes do então ministro Juscelino Filho, que estava licenciado do cargo de deputado federal pelo União Brasil-MA e comandava a pasta das Comunicações.

Juscelino deixou o cargo após ser denunciado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) sob acusação de corrupção passiva e outros crimes relacionados ao desvio de emendas. Ele nega que tenha cometido irregularidades.

A Filadélfia Comunicação, sediada em Belo Horizonte, surgiu com outro CNPJ em uma sociedade composta pelos filhos de Cristiano Paz. Ele foi sócio da SMP&B, agência de publicidade que também era de Marcos Valério, usada no esquema de lavagem de dinheiro do mensalão.

A agência, hoje, está sob o nome de Érica Fantini Santos. Ela é enteada do advogado José Roberto Moreira de Melo, ex-sócio Valério em uma assessoria empresarial. A Filadélfia nega qualquer vínculo com agências como a SMP&B ou com Marcos Valério e Cristiano Paz, condenados no escândalo, e diz que Moreira de Melo não tem qualquer atuação na gestão da empresa.

Procurado, o Ministério de Portos e Aeroportos disse que "todas as ações realizadas têm como objetivo a divulgação do trabalho do ministério e de seus integrantes, incluindo o ministro Silvio Costa Filho, enquanto figura pública".

"Tais ações buscam evidenciar as atividades desempenhadas na gestão da pasta, estando alinhadas com a agenda institucional e refletindo os compromissos relacionados a essa função."

"O Ministério de Portos e Aeroportos não realiza nenhuma prestação de serviço a perfis pessoais por meio deste contrato. A administração das redes sociais do ministro é realizada por assessores pessoais", diz ainda a pasta.

Já a Filadélfia disse que "foi apresentada uma proposta de identidade visual para a comunicação digital dos ministérios, segundo o nosso escopo de atuação institucional".

Apesar dos documentos que apontam serviços para a rede social do ministro Silvio Costa Filho, a empresa afirma que "não atua e nunca atuou na gestão das redes pessoais dos ministros e qualquer diretriz escolhida é de desconhecimento da agência".

A assessoria do ex-ministro Juscelino Filho disse que "a empresa jamais prestou serviços para ele" e que a proposta feita pela Filadélfia "não foi aceita nem executada, não tendo qualquer validade".

MINISTRO DE PORTOS E AEROPORTAS AGENCIA DE PUBLICIDADE DO GOV

Sai Lupi, entra Lupi e a crise do ‘novo imposto sindical’ cobrado de aposentados continua no governo

Por Carlos Andreazza / O ESTADÃO DE SP

 

Sai Lupi, entra Lupi. Lupi fica. Fica a crise. Crise no – para o – governo Lula. O caso do novo ministro, o novo Lupi, que é velho, o velho Lupi – troca que consiste em permanência, continuidade, e que mantém, sobre o Planalto, toda a carga do roubo bilionário aos nossos mais velhos.

 

Diz-se que isso – o cultivo do problema dentro de casa – se dá em função de garantir o apoio do PDT, como se o PDT tivesse viabilidade sem o PT. O PDT, partido-satélite, é Lupi. O PDT fica. Ficaria de qualquer maneira, havendo cargos – e influências – também para os sem-ministério. Fica Lupi. Fica o pacote Lupi. Escolha do presidente da República.

 

Wolney Queiroz, o novo velho ministro de Lula, é Lupi. Absolutamente Lupi, presente na reunião do Conselho Nacional da Previdência Social, de junho de 2023, em que o então ministro, de quem era (é) braço direito, foi advertido sobre a roubalheira aos aposentados. Lupi nada fez. Até março de 2024. Queiroz tampouco. Ora premiado com o comando do ministério sob o qual, na condição de secretário-executivo, o INSS se tornaria instrumento para o assalto a aposentadorias.

 

Wolney Queiroz estava lá, sentado à mesa da prevaricação. Terá sido – na melhor hipótese – omisso e incompetente. Omisso porque número dois num ministério cuja direção, informada do esquema, tomaria providências somente uma gravidez depois. Incompetente porque vice-ministro numa pasta cujas medidas contra a corrupção foram sucedidas pelo aumento da corrupção.

 

A evolução da conta fala por si. A concessão de descontos associativos, base para a roubalheira, saíra de R$ 413 milhões em 2016, chegou a R$ 706 milhões em 2022 e explodiria a boca do bilhão a partir do governo Lula: R$ 1,3 bilhão em 23 e, mais que dobrando, R$ 2,8 bilhões em 24. Tudo isso – essa disparada – com Lupi e seus wolneys trabalhando contra as fraudes.

 

Justiça seja feita: o Executivo, sozinho, jamais conseguiria barbarizar nesse ritmo. Essa escalada só foi possível porque o Congresso criou as condições para que a sacanagem prosperasse, ao esculhambar a medida provisória que estabelecera a exigência de revalidação anual dos descontos. A MP 871/19 seria convertida em lei empurra-com-a-barriga: checagem a cada três anos – e apenas a partir de 2022.

 

Em 2021, ao se acercar o marco de efeito da norma, meteu-se contrabando em outra MP e jogou-se o cumprimento da regra para 23. Em 22, chegando a nova data, uma medida provisória (1107) dedicada a microcrédito digital seria pervertida para que afinal se decretasse a revogação definitiva de qualquer mecanismo de revalidação. PT e o chamado Centrão unidos nesse processo. O volume de concessões não quadruplicou – entre 22 e 24 – por acaso.

 

Temos memória. E uma hipótese. O fim do imposto sindical obrigatório remonta a 2017. Não terá sido à toa o crescimento dos descontos associativos desde então.

Foto do autor
Opinião por Carlos Andreazza

Andreazza escreve às segundas e sextas. Também apresenta, de segunda a sexta, o programa multiplataforma Estadão Analisa. É apresentador e colunista da Rádio BandNews FM. Foi colunista do jornal O Globo e âncora da rádio CBN.

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