Aposta do Planalto para segurar CPI do INSS, Alcolumbre ganha aval de Lula e indica novo chefe da Codevasf
Por Jeniffer Gularte— Brasília / O GLOBO
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), indicou o novo presidente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) enquanto o Planalto tenta segurar no Congresso a abertura da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigação dos descontos indevidos nas aposentadorias do INSS. Marcelo Moreira deixará o cargo até julho e será substituído pelo atual gerente-executivo de Estratégia e Finanças da empresa, Lucas Felipe de Oliveira. A troca do comando da companhia foi revelada pelo UOL e confirmada pelo GLOBO.
A mudança vinha sendo costurada desde março e o martelo foi batido agora. Indicado ao cargo pelo ex-líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (União-BA), o atual presidente deixará o posto para trabalhar na iniciativa privada.
A troca aumenta a influência de Davi Alcolumbre em cargos estratégicos dentro do governo e tira espaço ocupado por uma indicação chancelada pela bancada do União Brasil na Câmara. O gesto para o presidente do Senado ocorre ao mesmo tempo em que o governo trabalha para tentar adiar o começo da CPMI do INSS mas também admite a probabilidade cada vez maior de o Congresso instalar o colegiado para investigar o escândalo dos descontos ilegais no INSS. Frente a esse cenário, o Planalto também já avalia estratégias para disputar cargos e ter voz ativa na comissão, que será instalada por Davi Alcolumbre.
No início do governo Lula, PT e União Brasil travaram uma disputa por diretorias da Codevasf, estatal que se tornou uma das preferidas do Centrão. Petistas viam que as políticas empreendidas pela Codevasf poderiam gerar dividendos eleitorais a adversários da legenda, principalmente no Nordeste. Por isso, defendem uma revisão na atuação em obras de pavimentação e outras áreas para as quais há órgãos específicos para tratar. O União Brasil, no entanto, venceu a queda de braço e manteve Marcelo Moreira, Elmar Nascimento (BA), no comando da companhia.
A Codevasf foi criada em 1974 para apoiar o desenvolvimento das regiões pobres do Vale do Rio São Francisco. Com o passar dos anos, a companhia foi ampliando sua área de atuação e passou a abarcar regiões que estão a milhares de quilômetros do Velho Chico, com frequência para abrigar aliados de quem está no poder.
Em 2020, por meio de um projeto de Davi Alcolumbre, Codevasf foi ampliada e passou a atuar em 2.681 municípios, localizados no Distrito Federal e em 15 estados: Alagoas, Amapá, Bahia, Ceará, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e Tocantins. Assim, a área de atuação da companhia passou a alcançar o equivalente a 36,59% do território nacional.
Desde 2020 até a decisão do Supremo Tribunal Federal que acabou com o orçamento secreto em agosto de 2024, a Codevasf teve seu orçamento irrigado por verbas proveniente das chamadas emendas de relator, na qual parlamentares enviavam verbas do governo a seus domicílios eleitorais sem que sejam identificados. O mecanismo atendia barganhas do governo com o Congresso e tornou a estatal uma das mais cobiçadas pelo Centrão pelo seu grande raio de influência pelo país. Mesmo após o fim do orçamento secreto, a companhia manteve sua relevância política.
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