Queda no desmatamento não traz motivo para tranquilidade
Por Editorial / O GLOBO
Foi um alento a queda do desmatamento registrada no ano passado. Apesar disso, não há certeza de que a devastação ambiental continuará a retroceder. Os dados do MapBiomas mostram que a área destruída diminuiu 32,4% em relação a 2023, depois de queda de 11% ante 2022. Pela primeira vez, houve retrocesso em todos os biomas nas zonas de mata nativa. A estabilização na Mata Atlântica se deveu ao impacto das enchentes no Rio Grande do Sul — sem as enxurradas, é provável que também tivesse havido recuo no estado. Mas nada disso significa motivo para tranquilidade.
O MapBiomas emite alertas de desmatamento a partir de imagens de satélites desde 2019. Em 2024, lançou 60.983 avisos sobre 1.242.079 hectares devastados. A fronteira de desmatamento que mais avança tem sido o Cerrado. Com 652.197 hectares de vegetação perdida, o bioma representou 52,5% da área desmatada. A região campeã é conhecida como Matopiba (reúne áreas de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). Nela, concentrou-se 75% do desmatamento do Cerrado e 42% do país. Da perda de vegetação nativa, 97% decorreram da agropecuária. Quando o Brasil conseguir que todos os pecuaristas usem métodos modernos, em vez de apenas derrubar árvores para abrir mais pastos, haverá enorme avanço na preservação ambiental.
Somados, Cerrado e Amazônia responderam por 83% do desmatamento. Na Amazônia, segundo bioma com maior destruição, os 377.708 hectares devastados foram a menor área atingida nos seis anos da série histórica. Fica no Pará a maior área desmatada entre 2019 e 2024 — 2 milhões de hectares. A Caatinga, terceiro bioma no ranking do desmatamento, abrigou pela primeira vez a propriedade em que houve maior perda de árvores em uma só fazenda. Ela fica no Piauí, com 13.628 hectares destruídos em apenas três meses — ou seis hectares por hora.
No ano passado, contudo, o fogo destruiu mais do que motosserras e tratores. Segundo o MapBiomas, houve aumento de 79% das áreas atingidas por incêndios. Secas decorrentes de alterações no clima favorecem o alastramento de queimadas. A Amazônia exige atenção especial. Nela foram incinerados 17,9 milhões de hectares, ou 58% dos incêndios no país.
Um país em que há perdas em unidades de conservação — 57.930 hectares no ano passado — precisa comemorar qualquer avanço. Os dados positivos do MapBiomas são resultado de políticas bem-sucedidas de fiscalização e punição que voltaram a ser aplicadas no atual governo. Ao mesmo tempo, revelam os desafios futuros. Tanto no que diz respeito às queimadas quanto no combate às práticas predatórias na agropecuária. Não adianta só reprimir o madeireiro. É preciso contar com o engajamento dos governos estaduais, e os bancos devem manter a política, adotada desde 2023, de vedar o crédito rural a fazendas que desmataram. Não faltam informações para cuidar do meio ambiente. É preciso analisar os dados em detalhes para chegar a uma política bem estruturada que integre União, estados e municípios.