Líder de aldeia cobra governo após ataque a tiros ferir quatro indígenas no PR: 'Foram avisados de que corríamos risco'
Por Luis Felipe Azevedo — Rio de Janeiro / O GLOBO
O conflito de terras no Oeste do Paraná que está por trás do ataque contra indígenas Avá-Guarani que deixou quatro pessoas feridas por tiros, incluindo uma criança e um adolescente, na última sexta-feira, é agravado pela lentidão na conclusão do processo de demarcação da Terra Indígena, que perdura desde 2009. A avaliação é do líder da aldeia Yvy Okaju, Karai Okaju, que destaca a vulnerabilidade dos povos originários no local, uma vez que o ataque ocorreu a apenas cinco quilômetros do centro da cidade de Guaíra, onde há uma sede da Polícia Federal (PF).
— A demora na demarcação tem como impacto o ódio e o preconceito da sociedade contra os indígenas. O cenário vem trazendo quadros graves de depressão e uma epidemia de suicídio, que ocorre por falta de esperança em uma melhora — diz Okaju.
A liderança cobra investimento em um trabalho conjunto entre o Poder Público e os Povos Originários, já que o relato de indígenas sobre as constantes ameaças de invasores aos órgãos federais não foi capaz de impedir novos ataques.
— Os órgãos foram avisados que corríamos risco de sermos atacados a qualquer momento. Não sabemos avaliar se foi uma omissão ou se as denúncias não foram levadas a sério — pontua.
O início do conflito de terras na região se deu porque, com a construção de Itaipu, indígenas precisaram ser removidos do local e espaços considerados sagrados, como cemitérios e casas de reza, foram inundados. Muitos avás-guaranis foram assentados em Guaíra e disputam terras com fazendeiros locais.
Na terça-feira, a Justiça Federal do Paraná determinou a ampliação do efetivo de forças policiais nos municípios de Guaraí e Terra Roxa para proteção da comunidade Yvy Okaju. Por decisão do juiz Pedro Pimenta Bossi, titular da 3ª Vara Federal de Umuarama, agentes da PF e da Força Nacional "deverão permanecer no local enquanto persistirem ameaças aos povos originários".
Lentidão na demarcação
A área em questão está dentro da Terra Indígena Tekoha Guasu Guavirá, que foi identificada e delimitada em relatório publicado pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) em 2018. Os estudos para identificação da TI tiveram início em 2009, ou seja, foram quase dez anos até a publicação do relatório.
Desde então, não houve mudanças no cenário. Uma ação impetrada pelo município de Guaíra e pela Federação da Agricultura do Estado do Paraná, que alegavam não terem participado do processo de definição do território, levou à suspensão dos efeitos do relatório, em caráter limintar, pela Justiça Federal. Por isso, os indígenas locais seguiram vivendo nos pequenos espaços das atuais aldeias, sem que houvesse demarcação.
Em 2020, uma decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin suspendeu o andamento de processos judiciais que questionam Terras Indígenas até a conclusão pela Corte do julgamento de todos os pontos e recursos sobre o Marco Temporal.
"Os Avá-Guarani vivem em condições de extrema vulnerabilidade, de fome, de acesso precário à água, sem espaço para plantar, sendo constantemente humilhados nas cidades do entorno, ainda precisam suportar seguidos episódios de lideranças ameaçadas, (...) com forte participação de sindicatos rurais e políticos locais", afirma a assessoria jurídica da Comissão Guarani Yvyrupa.
Em nota, a Funai afirmou que "está em constante diálogo com órgãos e instituições competentes para equacionar os conflitos" na TI.
Promessa de campanha
Promessa de Lula durante a campanha eleitoral de 2022, a demarcação de Terras Indígenas virou uma pedra no sapato da gestão petista. Logo após a vitória nas urnas, o presidente constituiu uma equipe para levantar 14 territórios que aguardavam apenas um decreto presidencial para concluir o processo de demarcação.
Lula se comprometeu a tirá-las do papel nos cem primeiros dias do governo, mas o prazo não foi cumprido em grande parte dos casos. Passados dois anos da gestão, um desses 14 territórios ainda não foi homologado e se encontra em um impasse: Xucuru-Kariri, em Alagoas. O movimento indígena se queixa do atraso e do avanço do garimpo em suas terras.
A Funai afirma que, além das novas homologações, o governo federal "avançou na promoção dos direitos territoriais indígenas por meio da assinatura de portarias que garantem o andamento do processo demarcatório". Também houve no período 11 declarações de TI, etapa anterior à homologação até a demarcação das terras.
O líder indígena Karai Okaju avalia que "nenhum governo até hoje deu terras aos povos originários", o que impede que haja decepção com o governo Lula. O ativista ressalta, entretanto, que os povos esperavam uma melhoria na garantia dos direitos dos povos indígenas que ainda "não ocorreu":
— Todas as terras indígenas foram conquistadas a partir do derramamento de sangue e perdas irreparáveis. Não estamos decepcionados com o governo porque não esperamos melhorias sem que haja essas perdas no caminho.
Um ano após pacto por retomada de obras, governo Lula conclui menos de 10% dos projetos inacabados na educação
Por Karolini Bandeira e Dimitrius Dantas— Brasília / O GLOBO
Pouco mais de um ano após o Pacto Nacional pela Retomada de Obras Inacabadas ser sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, menos de 10% das obras em educação foram concluídas, segundo painel do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Os dados mostram que das 3.784 construções que entraram no programa, 268 foram entregues.
A lei, que prevê a retomada de obras inacabadas nas áreas de educação e saúde, começou a vigorar em 1° de novembro de 2023. Somente na área de educação, o investimento é de cerca de R$ 4,1 bilhões para construções como creches, quadras e coberturas, reformas ou ampliações e novas escolas do ensino fundamental e ensino profissionalizante.
O “pacto” prevê que os empreendimentos sejam concluídos em até dois anos após a sua publicação, com possibilidade de prorrogação uma vez pelo mesmo prazo. Contudo, após mais da metade do tempo limite estabelecido, 1.597 obras da educação estão inacabadas e 722 paralisadas, enquanto 939 se encontram em andamento. Outras 258 foram canceladas nessa área.
Retomar obras paralisadas por governos anteriores, sobretudo em educação, é uma promessa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde o início da sua terceira gestão. Ao longo de 2023 e 2024, o petista criticou por diversas vezes em discursos os seus antecessores por atrasos em obras financiadas com recursos federais.
— Encontramos no Ministério da Educação, entre creches e escolas; e UBS (unidade básica de saúde) e UPAs (unidades de pronto atendimento) na saúde, mais de seis mil obras paradas. E muitas delas nós tivemos que refazer contrato para que pudéssemos retomá-las — disse Lula em uma das declarações, em julho de 2024.
Os dados do FNDE analisados pelo GLOBO mostram que a cidade com o maior número de obras que aderiram ao pacto é Breves (PA), com 28. Nenhuma delas foi concluída até agora. De acordo com informações no Sistema Integrado de Monitoramento, Execução e Controle (Simec), 13 foram interrompidas por descumprimento de contrato, mas também há casos de falha na execução de serviços e problemas de infraestrutura.
Aval do FNDE
Outro fator que contribui para a demora no avanço dos empreendimentos é o fato de que, das 3.784 obras em relação às quais municípios manifestaram interesse de adesão no pacto, menos da metade (1,4 mil) já recebeu aval do FNDE para que houvesse algum tipo de avanço.
Procurado, o Fundo afirmou que a vigência do Pacto levou a uma redução no número de obras sem andamento.
“Desde a criação do pacto, houve uma redução significativa no número de obras educacionais paralisadas e inacabadas. Em janeiro de 2023, 5.642 obras estavam nessa situação”, disse o FNDE, acrescentando que os empreendimentos retomados incluem “escolas, creches e quadras esportivas, entre outras estruturas essenciais para a educação básica”. O Fundo afirmou ainda que atua “no apoio técnico e financeiro aos entes federativos para viabilizar a retomada e conclusão dessas construções” e que a responsabilidade de execução e entrega cabe aos estados e municípios.
O governo reforça ainda que a execução — incluindo licitações e construções — é responsabilidade dos estados e municípios, e que, fora do âmbito do pacto, a gestão Lula “já entregou 631 obras educacionais em 2023, com um investimento superior a R$ 650 milhões em todos os estados brasileiros e no Distrito Federal”.
Entre os estados, aquele com o maior número de obras no plano é o Maranhão, com 737. Até agora, apenas 37 dessas estão concluídas na região, enquanto 205 estão paralisadas ou foram canceladas. Entre as obras paralisadas no estado consta uma creche em Lago do Junco, a 318 km de São Luís, pactuada no valor de R$ 1,8 milhão, mas com as obras abandonadas pela empresa. As imagens publicadas na última vistoria feita pelo FNDE mostram apenas o esqueleto do que deveria ser uma unidade escolar em funcionamento.
O mesmo ocorre com o que deveria ser uma creche no município de Bom Jardim. Por lá, apenas 16% da obra haviam sido concluídos, de acordo com inspeção feita em dezembro. A obra, cujo orçamento também é de R$ 1,8 milhão, foi iniciada em 2020; o FNDE repassou, em 2019, R$ 276 mil para a construção da unidade.
Também com a obra paralisada pelo abandono da empresa contratada está uma escola de 12 salas em Piritiba, na Bahia. Assim como em Lago do Junco, no Maranhão, a obra está com apenas 30% da sua execução completa. Ao todo, a escola deveria custar R$ 4,4 milhões, segundo o convênio assinado em 2020.
Em Roca Sales, no Rio Grande do Sul, outra escola de 12 salas teve sua obra paralisada por rescisão do contrato. O termo de convênio da cidade com o governo federal, entretanto, é ainda mais antigo, de 2018. De acordo com informações do Simec, o contrato foi assinado em 2020, com previsão de entrega em até dois anos, em 2022. Mas, até agora, apenas 9% da obra foram concluídos. Imagens da obra, fotografadas por técnicos do FNDE, mostram que os trabalhadores não tinham ainda iniciado sequer a subir as paredes da escola. Procuradas, as prefeituras citadas não se manifestaram.
Creches e falta de vagas
A maior parte das obras em educação repactuadas é formada por creches, sendo 1.318. Destas, somente 99 foram finalizadas, enquanto a maior parte está inacabada (547), em andamento (329) ou paralisada (241). Há, ainda, 102 obras de creches canceladas.
Um levantamento feito pelo pelo Gabinete de Articulação pela Efetividade da Política da Educação no Brasil (Gaepe-Brasil) em parceria com o MEC e outras instituições públicas mostrou que, até agosto de 2024, o Brasil tinha cerca de 632 mil registros de crianças em fila de espera para creches.
Segundo a pesquisa, 2.445 cidades (44%) afirmaram enfrentar esse problema. Desse total, 88% dos municípios alegaram que o motivo da demora seria a insuficiência de vagas. (MINHA VISÃO: DIZER NÃO É FAZER MAS, FAZER É DIZER TÁ PRONTA)
Planalto busca na oposição votos para garantir aprovação de projetos do governo Lula na Câmara
Por Hugo Henud / O ESTADÃO DE SP
Nos dois primeiros anos do governo Lula, partidos de oposição como PL, Republicanos e PP contribuíram, em média, com 34% dos votos totais a favor de projetos de interesse do Palácio Planalto em votações realizadas na Câmara dos Deputados. Os dados reforçam padrão identificado em pesquisa exclusiva da USP, que mostra como os presidentes brasileiros, ao longo da história, têm dependido cada vez mais de coalizões informais — apoios vindos de fora da base governista — para viabilizar a aprovação de pautas cruciais no Congresso Nacional.
O levantamento, realizado entre janeiro de 2023 e dezembro de 2024, definiu como partidos da coalizão presidencial as siglas que se declaram governistas ou possuem ministérios no governo desde o início do mandato de Lula III. Já os partidos de oposição foram classificados como aqueles que não integram formalmente a base governista, mesmo tendo assumido pastas ao longo desses dois anos, como o PP e o Republicanos, que, apesar de liderarem os ministérios dos Portos e Aeroportos e do Esporte, respectivamente, mantiveram, na maior parte do tempo, uma atuação predominantemente oposicionista nas votações realizadas na Câmara.
Entre as siglas de oposição que mais contribuíram com o Planalto nos dois primeiros anos de governo está o PP, que, em média, seguiu a orientação oficial do governo em 10% das votações. A contribuição reflete o índice de governismo da legenda liderada por Arthur Lira, calculado em 74%, conforme dados do Radar do Congresso. O indicador avalia o grau de alinhamento de partidos às orientações do governo a partir das votações nominais — decisões em que cada parlamentar registra seu voto de forma individual e pública no Congresso. Assim, votos alinhados, seja a favor ou contra, aumentam a taxa, enquanto divergências, abstenções ou ausências a reduzem.
O Republicanos, partido do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e o PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, contribuíram, respectivamente, com 9% e 8,5% dos votos em favor do governo. Em seguida, aparecem o Podemos (2,5%), PSDB (2,5%), Cidadania (1%) e Novo (1%). Siglas cujos parlamentares não atingiram o número mínimo de participações em votações nominais para o cálculo do índice de governismo, como PTB, PSC, Pros e Patriota, não foram consideradas. Esses percentuais refletem o peso de cada partido no conjunto dos 34% provenientes da oposição.
Entre as pautas que só avançaram com apoio significativo da oposição estão a reforma tributária, que simplifica e unifica impostos no Brasil, e a reforma da Previdência, que alterou as regras de aposentadoria, elevando a idade mínima e o tempo de contribuição para trabalhadores do setor público e privado. Ambas as pautas, consideradas estruturais, só foram aprovadas graças à articulação que contou com votos de partidos fora da base governista, explica Pedro Assis, pesquisador da USP e um dos autores da pesquisa.
Assis destaca que, desde o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, o estudo identificou que os votos dos partidos que compõem o presidencialismo de coalizão — sistema no qual o governo forma alianças com diferentes siglas para garantir maioria no Congresso — não são suficientes para assegurar a aprovação da agenda presidencial na Câmara. “Os presidentes precisam do apoio do que chamamos de coalizões informais, formadas por partidos de oposição, para garantir a aprovação de pautas cruciais”, explica o pesquisador.
A pesquisa revela que, caso os mandatos presidenciais dependessem exclusivamente dos votos dos partidos que integram as coalizões formais — ou seja, a base governista —, a taxa de sucesso do Executivo nas votações cairia de 92% para 66%. O professor de ciência política da USP, Glauco Peres, ressalta que esses dados mostram como os presidentes brasileiros enfrentam uma crescente dependência de apoios fora da base oficial para garantir governabilidade. “Identificamos que cada vez mais a base governista depende de coalizões informais”, resume Peres.
Mudanças na relação entre Legislativo e Executivo
Para o professor de ciência política do IDP, Vinicius Alves, a crescente dependência dos presidentes de coalizões informais para aprovar leis ou matérias de interesse reflete uma mudança na correlação de forças entre o Executivo e o Legislativo nos últimos anos. Alves destaca que essa transformação foi impulsionada pelo aumento no número de partidos, intensificando a fragmentação partidária e dificultando a formação de coalizões estáveis.
“O fato de o presidente recorrer sistematicamente a apoios fora da base governista para aprovar projetos é um reflexo das características do sistema político brasileiro, marcado por alta fragmentação e multipartidarismo. Esse cenário exige negociações mais complexas, ampliando o peso das coalizões informais”, observa.
O professor de ciência política da USP, Sergio Simoni Junior, concorda e acrescenta que alterações em mecanismos institucionais contribuíram para enfraquecer a autonomia do Executivo. Entre as mudanças estão o novo trâmite das medidas provisórias, a revisão dos vetos presidenciais e as emendas parlamentares, que passaram a ser, em parte, impositivas — ou seja, de pagamento obrigatório.
“Embora existam temas que a oposição apoie por concordância, em muitos casos, o governo controla o timing de liberação das emendas para garantir apoio às suas pautas, o que frequentemente ocorre às vésperas de votações importantes”, explica Simoni.
Como mostrou o Estadão, o governo desembolsou, por exemplo, R$ 7,1 bilhões em emendas em apenas dois dias para tentar destravar o pacote de corte de gastos no Congresso Nacional.
Partidos mais fiéis ao governo
Quando considerado o índice de governismo — que mede o grau de alinhamento dos parlamentares com a orientação do governo em votações na Câmara —, os partidos que mais apoiaram o Planalto em 2023 e 2024 foram aqueles que integram a base de Lula. Entre eles, destacam-se o PT, PCdoB e PV, com aproximadamente 97% de fidelidade. Na sequência, aparecem o PSB, partido do vice-presidente Geraldo Alckmin, com 94%; o PDT, com 91%; a Rede, com 89%; o Avante e o Solidariedade, com 87% e 85%, respectivamente; e o PSOL, com 80%.
Ainda na base do governo estão o PSD, liderado por Gilberto Kassab, que comanda três pastas (Agricultura e Pecuária; Minas e Energia; e Pesca e Aquicultura) e apresentou 81% de adesão ao Planalto nas votações. O MDB, responsável pelos ministérios das Cidades, Planejamento e Orçamento e Transportes, registrou 80% de fidelidade ao governo. O União Brasil, que também ocupa três ministérios (Turismo, Comunicações, além de indicar o ministro para Integração e Desenvolvimento Regional), demonstrou 67% de alinhamento.
Apesar dos comandos das pastas, o União Brasil tem entregado menos votos ao Planalto na Câmara do que outras siglas com ministérios no governo. Os dados reforçam que o partido não consolidou uma aliança plena com o governo, em parte devido à presença de parlamentares contrários ao PT, como Kim Kataguiri e Rosângela Moro, que apresentaram índices de governismo de apenas 26% e 32%, respectivamente. Desde o início do mandato de Lula, a maioria dos integrantes da legenda votou, por exemplo, pela derrubada dos decretos do marco temporal, do marco do saneamento e do veto presidencial que mantinha as saídas temporárias de presos, conhecidas como “saidinhas”.
O caso do União Brasil exemplifica a nova dinâmica de negociação entre Executivo e Legislativo, na qual a distribuição de cargos em ministérios já não é suficiente para compor interesses e garantir vitórias no Congresso, nem mesmo entre partidos que integram a base governista. “A forma mais caricata do funcionamento do presidencialismo de coalizão era: o presidente distribuía ministérios, e os parlamentares, em sua maioria, automaticamente apoiavam as propostas do governo”, explica o professor Sergio Simoni Junior, ressaltando que, apesar da reforma ministerial prevista por Lula para 2025 — destinada a ampliar a base aliada e assegurar respaldo às pautas governistas — esse modelo, por si só, não é suficiente para garantir apoio consistente na Câmara e Senado.
Simoni destaca que a coalizão informal, formada com apoio da oposição, tem ganhado cada vez mais relevância à medida que a base governista se reduz, exigindo mudanças na dinâmica tradicional do presidencialismo de coalizão. “As bases de negociação mudaram, os partidos que compõem a base não é garantia de disciplina total em votações; são fatores que trazem mais desafios tanto para Lula quanto para os próximos presidentes”, completa.
Presidência do IBGE anuncia trocas em diretoria em meio a crise interna
Leonardo Vieceli / FOLHA DE SP
A presidência do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) anunciou na noite desta segunda-feira (6) duas trocas no comando da DPE (Diretoria de Pesquisas).
A servidora Elizabeth Hypolito deixará o cargo de diretora do setor. Ela será substituída pelo técnico Gustavo Junger da Silva, que também trabalha no IBGE. Elizabeth havia sido indicada para o posto em janeiro do ano passado.
A presidência do instituto também confirmou que João Hallak Neto deixará o cargo de diretor-adjunto na DPE. Ele será substituído pelo servidor Vladimir Gonçalves Miranda.
A transição dos dois cargos ocorrerá a partir da próxima semana, disse a presidência do IBGE em nota. As mudanças ocorrem após a explosão de uma crise interna no instituto. A turbulência se estende desde setembro do ano passado.
Servidores reclamam de medidas tomadas pela gestão do economista Marcio Pochmann, que preside o IBGE desde agosto de 2023, e cobram mais diálogo com ele. A gestão de Pochmann já afirmou "refutar com firmeza as infundadas acusações de comportamento autoritário".
A nota divulgada pela presidência não cita os motivos das trocas na DPE, mas fontes que acompanham o dia a dia do órgão veem reflexos de divergências com a atual gestão do instituto. A Folha apurou que a decisão pela saída de Elizabeth e João do comando da DPE partiu dos próprios servidores. Os técnicos não se manifestaram publicamente sobre o assunto.
A reportagem perguntou à assessoria do IBGE os motivos das trocas, mas não recebeu retorno até a publicação deste texto.
Quem acompanha o IBGE não descarta novas mudanças em breve, inclusive na Diretoria de Geociências, uma das principais do instituto, ao lado da DPE.
"A presidência agradece aos servidores Elizabeth Hypolito e João Hallak, que seguem colaborando com o instituto e com a Diretoria de Pesquisas, por sua contribuição e préstimos no período, ao mesmo tempo em que congratula os servidores Gustavo Junger e Vladimir Gonçalves Miranda desejando-lhes excelente condução na continuidade dos trabalhos da DPE", afirma a nota divulgada pelo instituto.
Uma das medidas que irritaram os servidores do IBGE foi a criação de uma fundação pública de direito privado vinculada ao órgão de pesquisas, a IBGE+.
Seu estatuto abre possibilidade para realização de trabalhos para organizações públicas ou privadas. A IBGE+ chegou a ser apelidada por críticos de "IBGE paralelo". Em novembro, Pochmann rebateu as manifestações.
O economista disse à época que as críticas eram "naturais" porque a fundação se trata de "um instrumento inovador". "Toda inovação tem, certamente, questões a serem melhor identificadas", afirmou.
Outro projeto contestado foi o plano de mudança dos servidores que atuam em um prédio alugado pelo IBGE na avenida Chile, no centro do Rio, para um imóvel do Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados) no Horto, na zona sul.
O novo endereço é considerado de difícil acesso via transporte público. Pochmann afirmou em novembro que a possível ida para o Serpro seria temporária. A ideia, segundo ele, era economizar com aluguel e, mais tarde, levar funcionários da avenida Chile para um endereço próprio do IBGE, a ser reformado também no Rio.
QUEM SÃO OS NOVOS DIRETORES
Gustavo Junger, que assumirá o cargo de diretor de Pesquisas, é servidor do instituto desde 2006. Atualmente, trabalha na coordenação técnica do Censo Demográfico na DPE. Já Vladimir Miranda, que será o diretor-adjunto, integra o corpo técnico do IBGE desde 2010. Atualmente, está na Gerência de Planejamento Conceitual da DPE.
Sem reforma, reajuste para servidor vem em má hora
Mesmo em meio às dificuldades para a gestão orçamentária e ao crescimento continuado da dívida pública, o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu conceder mais reajustes salariais para o funcionalismo até 2026.
Em medida provisória recém-publicada, foram promovidos aumentos para a totalidade dos servidores civis do Executivo, em índice que chegará a 27% até 2026 —incluindo os 9% efetivados em 2023. Também foram reestruturadas carreiras, com transformação de 14.989 cargos vagos e obsoletos em 15.670 novas posições.
Os reajustes devem elevar a despesa de pessoal no Executivo federal de 2,48% do Produto Interno Bruto, no ano passado, para 2,6% em 2025, com impacto de R$ 16,8 bilhões no resultado primário (o saldo entre receitas e despesas antes dos juros).
Por fim, foram ampliadas as faixas de progressão salarial, alongando o prazo para o atingimento da remuneração máxima, o que é correto e deveria ser feito de forma até mais ambiciosa. As carreiras com pelo menos 20 níveis de progressão passaram de 20% para 86% do total.
É lamentável, porém, que o governo opte por medidas pontuais, em vez de uma ampla reforma administrativa que possa dar maior fluidez à gestão de recursos humanos e garantir mais eficiência da máquina estatal.
Reduzir o número de carreiras garantiria melhor trânsito de funcionários para as atividades que se tornam necessárias ao longo do tempo. Além disso, é perigoso, em momento de escassez, privilegiar o uso de recursos públicos para reajustes dessa amplitude, quando deveria haver maior seletividade e prudência.
Tampouco faz sentido estender reajustes a inativos. Eis mais um direto mal adquirido, que infelizmente ainda permanece vigente nas regras para funcionários mais antigos. Quem se aposentou o fez em níveis salariais da época de sua vida ativa.
É necessário também rever o alcance exorbitante da estabilidade no emprego, que faz do Brasil uma anomalia global —e constitui óbvio desincentivo à produtividade dos servidores. Tal garantia deveria ser exclusiva das funções típicas de Estado. No mínimo, deveria ser regulamentada a demissão por mau desempenho, já prevista na Constituição.
Infelizmente, a gestão petista sempre está alinhada ao sindicalismo estatal, com pouca ou nenhuma ênfase na prestação de serviços à população. Ajustes são importantes muitas vezes, mas é preciso maior seletividade e coragem política para reformar uma máquina que funciona mal.
Cerca de 700 obras contratadas com recursos federais estão paralisadas no Ceará; veja áreas mais afetadas
Mais de R$ 1,35 bilhão em recursos federais estão sendo desperdiçados em obras paralisadas no Ceará, conforme revelou o Tribunal de Contas da União (TCU) no fim de 2024, em auditoria. O painel disponibilizado pelo TCU lista cerca de 700 obras (de um total de 1413) que tiveram o andamento interrompido por fatores diversos no Estado.
Apesar da contrapartida federal, quem executa essas ações nem sempre são entes dessa instância. A maioria, na verdade, fica sob responsabilidade de estados e municípios.
A proporção cearense, de 50,7%, está próxima à média nacional de obras paralisadas, que é de 52%. Em todo o Brasil, no ano de 2024, havia 11.941 ações sem andamento, que já consumiram cerca de R$ 9 bilhões em recursos federais.
“Considerando o valor total estimado de R$ 29 bilhões, seriam necessários pelo menos mais R$ 20 bilhões do orçamento público para sua conclusão”, alerta o TCU em relatório.
Saúde e Desenvolvimento Regional
No Ceará, quem lidera a lista é a saúde, com 251 obras orçadas em R$ 112 milhões que estão nessa situação. O dinheiro vem de duas fontes: do Fundo Nacional de Saúde (FNS), cujas transferências vão direto para o fundo municipal do tomador de recursos, e da Fundação Nacional de Saúde (Funasa).
O FNS é quem maneja os recursos empenhados para o Sistema Único de Saúde (SUS), enquanto a Funasa é responsável por projetos de saneamento nos municípios de até 50 mil habitantes.
Em consulta ao Sistema de Monitoramento de Obras (Sismob) da Saúde, é possível acessar mais detalhes de alguns desses projetos paralisados. Em municípios de maior porte, como Fortaleza, há casos emblemáticos.
A obra da ampliação da Casa da Gestante, Bebê e Puérpera no Hospital da Mulher, no bairro Jóquei Clube, foi projetada em R$ 447.750 milhões em 2013, mas segundo o Sismob, nunca saiu de 0% de execução. Somente R$ 89,5 mil foram repassados até o momento, e isso aconteceu em 2014. Esses dados foram atualizados no site do Sismob em setembro de 2024 e acessados pela reportagem em 3 de janeiro de 2025.
Mas vale destacar que todas as informações do painel do TCU atualizadas anualmente são referentes ao período até abril de 2024. Por isso, o levantamento do PontoPoder pode ter alguma margem de erro, com novas obras paralisadas e/ou outras retomadas após essa data.
Nesse levantamento, as construções da Saúde sofreram com dificuldade financeira ou técnica da empresa executora ou do tomador, fato ou evento não previsto, falta de aporte de contrapartida e discricionariedade do ministério responsável.
Além desses motivos, as demais áreas foram impactadas pela execução em desconformidade com o projeto, o fluxo financeiro insuficiente (atraso nos repasses financeiros), a não liberação de frentes de obra, o abandono da empresa, o atraso ou falta de pagamento da construtora, rescisão ou descumprimento de contrato, falha na execução de serviços, irregularidades na gestão anterior, medidas administrativas do estado ou município beneficiado e outros.
É o caso das obras sob o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MDR). Apesar de o MEC ser líder no número de construções e serviços em infraestrutura paralisados, é o MDR que concentra o maior volume de investimento desperdiçado, superior a R$ 423 milhões.
Essa é a pasta responsável por destinar recursos para 37 projetos de infraestrutura viária, obras contra a seca e abastecimento de água no Ceará – isto para localidades de médio e grande porte. Um exemplo de ação prejudicada por questão orçamentária da União é a 2ª etapa da irrigação Baixo Acaraú no município de Marco, que demanda R$ 233 milhões em recursos, mais que a metade do montante destinado pelo ministério ao projeto.
O projeto foi iniciado em 2001, visando a irrigação de 12.535 hectares da região – 4.421 deles na 2ª etapa – para dar suporte à produção de culturas de alto valor comercial entre os municípios de Acaraú, Bela Cruz e Marco, na mesorregião Norte do Estado.
O Governo Federal, através do DNOCS, celebrou um contrato de cessão de uso transferindo ao Distrito de Irrigação Baixo Acaraú a responsabilidade pela administração, operação e manutenção da infraestrutura de uso comum do Perímetro Irrigado, incluindo a alocação dos recursos financeiros necessários à operação aos pequenos produtores.
O Ministério da Saúde, o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional e a Prefeitura de Fortaleza foram procurados pela reportagem em busca de informações sobre as obras paralisadas. O espaço está aberto a manifestações.
Educação
A educação também apresenta situação crítica, segundo o levantamento do TCU, com 244 obras paralisadas. O mapeamento engloba hospitais universitários, educação básica, educação profissional e tecnológica e educação superior, que receberiam R$ 310 milhões em investimentos do Ministério da Educação (MEC) ao todo.
Dessas, 25 obras têm entre 0% e 2% de execução – todas na educação básica –, apesar de um investimento orçado em mais de R$ 40 milhões. Algumas delas manifestaram interesse em aderir ao Pacto Nacional pela Retomada de Obras da Educação, instituído em maio de 2023.
Nesse levantamento, as construções sob o MEC sofreram com abandono da empresa, atraso ou falta de pagamento da construtora, rescisão ou descumprimento de contrato, falha na execução de serviços, irregularidades na gestão anterior e medidas administrativas do estado ou município beneficiado.
Em junho de 2024, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) emitiu um alerta para que gestores regularizassem a documentação necessária para a conclusão das obras, dentro do pacto de retomada. No Ceará, 62 construções estavam nessa situação.
Em agosto, houve novas adequações para viabilizar a retomada de obras: a exigência da apresentação de laudos técnicos e de cronogramas físico-financeiros atualizados. Com base nisso, em outubro, o FNDE anunciou a aprovação de 1.049 repactuações para viabilizar a continuidade de obras de escolas públicas e ampliações em todo o Brasil.
Àquela altura, a previsão era de concluir as obras em até 24 meses após a retomada, com possibilidade de uma única prorrogação pelo mesmo período.
Além disso, o andamento financeiro das ações deve atender a, ao menos, duas etapas: a primeira parcela de recursos liberados será equivalente a 15% do valor pactuado, após cumprimento das formalidades necessárias. Já o pagamento das parcelas subsequentes exigirá a comprovação de 70% de execução financeira e física dos recursos.
O PontoPoder buscou o Ministério da Educação a fim de entender a situação das obras financiadas pela pasta no Ceará. Quando houver resposta, a matéria será atualizada.
Cidades
Já o Ministério das Cidades destinou recursos a 64 obras no Ceará, com valores em R$ 360 milhões. A pasta engloba as áreas de habitação, infraestrutura e mobilidade urbana, saneamento e outros.
Daqui, é destaque a ampliação do Sistema de Esgotamento Sanitário (SES) em sete bacias de Camocim, orçada em R$ 55 milhões. Para este caso, a execução física está em 84,36% e a financeira, em 87,36%, conforme o TCU. A dificuldade está na discricionariedade do próprio gestor tomador.
Também no campo de abastecimento, no Crato, há outra obra robusta paralisada, conforme o TCU. A 1ª etapa da ampliação do sistema de abastecimento de água na sede do município demandava R$ 51,3 milhões, mas o valor desbloqueada foi de apenas R$ 9,3 milhões. A causa é a falta de aporte de contrapartida.
O PontoPoder buscou o Ministério das Cidades e as prefeituras de Camocim e do Crato para mais detalhes sobre o andamento dessas e de outras obras. Quando houver resposta, a matéria será atualizada.
Outras áreas
Os ministérios da Agricultura, do Esporte e do Turismo puxam os demais investimentos desperdiçados, ainda que em menor parcela. Juntas, essas pastas destinaram R$ 105 milhões a 82 projetos sem andamento.
Na Agricultura, ações de infraestrutura e mobilidade urbana, além do próprio cultivo de gêneros alimentícios, foram prejudicados. A construção e revitalização de atrativos turísticos, de estádios e de outros equipamentos esportivos também ficaram pelo caminho.
Auditoria minuciosa
O diagnóstico do Tribunal de Contas da União compõe uma auditoria perene, que se encontra na sua terceira fase. Uma das dificuldades encontradas ao longo dos anos foi a difusão de informações sobre ações de infraestrutura e a heterogeneização de classificações.
Juntos, esses dois fatores prejudicavam o mapeamento do uso do dinheiro federal para essa finalidade, levando à perda da eficácia das gestões e dos recursos públicos. Após as recomendações do tribunal, o Governo Federal otimizou seus sistemas e tornou a fiscalização mais acessível – o que também pode ter contribuído para o aumento de casos de obras paralisadas sob ciência do TCU.
Hoje, a Corte usa em seu levantamento informações de nove bancos de dados: Caixa Econômica Federal, Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), Secretaria de Educação Superior (Sesu), Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec), Sistema Integrado de Monitoramento, Execução e Controle (Simec), Simec-Outros e Sistema de Monitoramento de Obras (Sismob).
Cada órgão tem uma definição diferente para obras paralisadas. A Caixa, por exemplo, coloca nesse grupo aquelas ações sem evolução por pelo menos 90 dias. Já o Dnit considera uma obra paralisada somente após a celebração do Termo Aditivo de Paralisação.
Para o Simec, somente aquelas que tiveram sua execução interrompida, mas com o instrumento de transferência voluntária - seja termo de compromisso seja convênio - celebrado com o FNDE vigente, podem ser classificadas dessa forma. É diferente das obras inacabadas, que são aquelas que tiveram sua execução interrompida e não possuem instrumento vigente.
Ainda assim, o Tribunal não descarta a ingerência dos recursos públicos nesses casos. Exemplo disso é o Ministério da Saúde, que, nos levantamentos anteriores, “informou uma quantidade ínfima de obras estagnadas, o que aparentemente não refletia a realidade do setor”.
Já neste ciclo, como consta no relatório do tribunal, foi realizada uma “revisão mais detalhada dos dados, revelando um número significativamente maior, que anteriormente não haviam sido identificadas devido a falhas na geração das informações”.
Além disso, “os setores de educação e saúde são igualmente os responsáveis pela maior parte das obras que tiveram problemas de execução, o que indica uma dificuldade persistente de gestão e execução dos contratos dessas duas pastas setoriais”, pontua o documento.

À espera: mesmo após anúncio de Lula, Brasil tem 2,7 mil obras de saúde com verbas federais paradas
Por Sarah Teófilo— Brasília / O GLOBO
Um ano após o governo Lula anunciar que priorizaria a retomada de obras paradas, o país ainda tem 2.762 intervenções na Saúde com recursos federais inacabadas ou paralisadas, conforme dados do Ministério da Saúde. Ao todo, R$ 491,5 milhões já foram desembolsados. O número se refere apenas aos empreendimentos que estão elegíveis pare recomeçarem.
Existem, ainda, outras 670 obras canceladas em que não houve manifestação por parte do ente responsável sobre o interesse ou não pela retomada.
No fim de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva firmou o compromisso de retomar as ações na área ao sancionar a lei que criou o pacto nacional pelo avanço de obras inacabadas. Na época, segundo o governo, o país somava 5.573 empreendimentos não finalizados na Saúde, a maioria deles unidades básicas (UBS).
De lá para cá, no entanto, poucas mudanças ocorreram. Em setembro do ano passado, depois de dez meses da instituição do pacto, o Ministério da Saúde anunciou que daria início à reativação e repactuação de mil obras que estavam paralisadas ou inacabadas em todo o país — 18% do total que estava parado e elegível para a retomada.
A portaria, assinada pela ministra Nísia Trindade (Saúde), previa um investimento de R$ 353 milhões. A lista inclui obras de reativação, ou seja, aquelas que já foram concluídas, mas não houve atualização no Sismob — é necessário, assim, regularizar a situação no sistema, para que o gestor não tenha que devolver os recursos federais empregados. Também há obras de repactuação, o que significa a celebração de compromisso entre municípios e estados com o ministério, com o objetivo de retomar a execução.
O prazo para os entes assinarem o termo de repactuação terminou na sexta-feira. Pelo cronograma inicial essa etapa deveria ter sido cumprida em setembro de 2024.
No início do ano passado, o ministério entrou em contato com os municípios nos quais estavam as 5,5 mil obras inacabadas e houve manifestação de interesse para retomada de 3.594 empreendimentos. Do total, só houve apresentação de documentação em relação a 2.504 obras e apenas mil foram aprovadas e publicadas em portaria pela pasta até agora.
Segundo o Ministério da Saúde, no caso dos municípios elegíveis para retomada de obra que informaram não ter interesse em retomar as construções ou não manifestaram interesse no prazo, haverá necessidade de devolução do recurso. A pasta afirmou, ainda, que esse movimento de retomada “é crucial para transformar a infraestrutura de saúde do país, oferecendo aos gestores a oportunidade de revisão e conclusão dos projetos interrompidos ou paralisados, bem como regularizar a situação de obras no Sistema de Monitoramento de Obras (Sismob)”. O ministério acrescentou que avalia dar novos prazos para que governadores e prefeitos apresentem a documentação referente aos projetos interrompidos ou paralisados.
Exemplos
para o Sistema Único de Saúde (SUS). Existem, ainda, obras voltadas para saúde mental, centros de reabilitação, construção de centros de partos em hospitais (parte do programa Rede Cegonha) e de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).
Um exemplo é uma UPA orçada em R$ 2,2 milhões que seria construída em Atalaia, em Alagoas. No painel, a obra consta como paralisada e sem interesse do município em retomá-la. Um repasse de R$ 220 mil chegou a ser feito para a obra em 2012.
Presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski afirma que a cada mudança de governo são criados programas para a construção de empreendimentos de saúde e educação, mas a burocracia na liberação de recursos atrapalha a execução.
Presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski afirma que a cada mudança de governo são criados programas para a construção de empreendimentos de saúde e educação, mas a burocracia na liberação de recursos atrapalha a execução.
— Nem tem como retomar a maioria dessas obras. O governo cria programas, não libera o dinheiro e a obra fica paralisada. E depois, se a obra não for concluída, a culpa passa a ser do prefeito — afirma.
‘Grande prejuízo’
A portaria do Ministério da Saúde de janeiro do ano passado que trata das reativações e repactuações de obras define que as modificações de projeto de obras inacabadas cujos valores excedam os limites legais de financiamento federal previstos na lei sancionada em 2023 “poderão ser custeadas com recursos dos estados, Distrito Federal ou municípios na parte excedente, mediante fundamentação técnica”.
Cerca de um terço dos municípios com obras elegíveis para retomada informaram ao ministério não ter interesse ou não se manifestaram, sendo necessária a devolução do recurso repassado.
Integrante da Comissão de Saúde da Câmara, o deputado federal Célio Silveira (MDB-GO) afirma que o Congresso e a comissão, após retorno do recesso, precisam discutir a situação das obras inacabadas e canceladas na área da saúde de forma mais aprofundada.
— É um grande prejuízo ao país. As emendas de comissão poderiam ser direcionadas a essas obras inacabadas, por exemplo. Seria uma boa solução. A pior coisa que existe para uma nação é começar uma obra e não acabar. Isso gera problema para o gestor.
Evandro Leitão faz primeira reunião de secretariado de olho nos 100 dias; ordem é ir às ruas
Escrito por Inácio Aguiar, / DIARIONORDESTE
O ato de transmissão de cargo entre José Sarto e Evandro Leitão, realizado no Paço Municipal na quarta-feira (1º), fugiu completamente ao rito esperado em momentos como este. Sem a presença de público, com acesso restrito e sem pronunciamentos, o evento, que deveria simbolizar a continuidade administrativa e o respeito à democracia, acabou reforçando o desgaste na relação entre os dois gestores e o fim conturbado da gestão Sarto.
A ausência de elementos fundamentais no ato – como discursos, participação popular e cobertura midiática – vai contra o que se espera de uma transição de governos. Em situações normais, a cerimônia serve como um gesto público de respeito às instituições e ao cidadão, com a entrega da faixa sendo o ápice simbólico. No entanto, o silêncio de Sarto e a restrição ao ato mostraram que os princípios democráticos que deveriam ser reforçados nesses momentos foram deixados de lado.
Esse formato reservado da cerimônia é reflexo do distanciamento entre os dois líderes, que teve como ponto alto os embates durante a transição de governo. O principal episódio foi o conflito envolvendo o Instituto Dr. José Frota (IJF), quando a equipe de Evandro acusou a gestão Sarto de não repassar informações fundamentais sobre contratos e serviços, o que gerou atritos públicos e críticas de ambas as partes. A troca de farpas reforçou o desgaste na relação, já abalada desde a campanha eleitoral.
A frieza do evento também ilustra o final amargo da gestão Sarto. O ex-prefeito encerrou o mandato sem um balanço final ou gestos simbólicos que pudessem consolidar um legado. Sua decisão de não se dirigir à população no momento da transmissão de cargo mostrou uma decisão política que contrasta com o início de sua trajetória.

Reforma no secretariado foi feita após ouvir Camilo, Cid, Eunício, Zezinho Albuquerque e Domingos Filho, diz Elmano
O governador Elmano de Freitas (PT) consultou aliados e principais líderes dos partidos de sua base antes de fazer a reforma do secretariado, iniciada na semana passada e finalizada nesta quinta-feira (26). Entre as pastas que trocaram de titularidade está Proteção Social, Mulheres e Desenvolvimento Econômico. Em entrevista à Live PontoPoder, nesta quinta, o governador elencou as lideranças políticas consultadas antes de efetivar as mudanças.
Entre elas, o senador Cid Gomes (PSB); o deputado federal e presidente do MDB Ceará, Eunício Oliveira; o presidente do PSD Ceará, Domingos Filho; e o presidente de honra do PP, Zezinho Albuquerque. "E eu pedi conselhos ao ministro (da Educação) Camilo (Santana, do PT)", acrescentou. "Acho que a gente acerta mais ouvindo mais".
Um dos líderes consultados, Domingos Filho irá assumir a titularidade da Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Ele retorna ao Governo do Ceará após ser vice-governador durante o Governo Cid Gomes.
Outros nomes que assumem o comando de secretarias estaduais também estão vinculadas aos partidos, como a deputada estadual Lia Gomes (PDT), que assume a Secretaria das Mulheres, o deputado federal Eduardo Bismarck (PDT), no Turismo, e o deputado estadual Fernando Santana (PT), na pasta de Recursos Hídricos.
Elmano afirmou que as conversas com os aliados ocorrem em situações como a reforma do secretariado, que são "mais políticas", e também para "prestar contas" do projeto político pelo qual foi eleito.
"A meu ver, eu fui escolhido por esse projeto para garantir aquilo que esses partidos se reuniram e disseram 'no Ceará, nos próximos quatro anos, é para garantir que todo jovem estude em escola de tempo integral, para garantir esses três hospitais, para garantir fazer mutirão de cirurgia'...", pontuou o governador.
"E eu tenho que prestar contas para dizer para os aliados como é que as coisas estão acontecendo. (...) Acho que a avaliação é positiva do que fizemos até aqui, mas na expectativa de acelerar para que o todo seja garantido", completa.
Eleições 2026
O governador acrescenta que as entregas devem ser fundamentais para saber como o seu grupo político irá chegar às eleições de 2026.
Segundo ele, exatamente por isso, no próximo ano, o foco será "pensar zero em eleição e pensar 100% naquilo que temos que chegar no final de 2025 estando entregue".
Ceará tem mais de 90 pontes federais em situação ruim ou crítica
Pontes em estado ruim
Ao todo, 77 pontes no Ceará estão na categoria “ruim”, a mesma em que estava a ponte Juscelino Kubitscheck de Oliveira, cujo vão central desabou sobre o rio Tocantins.
Segundo norma do Dnit para inspeções em pontes e viadutos, essa condição descreve “danos gerando significativa insuficiência estrutural, porém não há ainda, aparentemente, risco tangível de colapso”.
Elas estão distribuídas principalmente nas rodovias:
- BR-020 – 23, a maioria no trajeto entre Fortaleza e Canindé, e entre Boa Viagem e Tauá
- BR- 116 – 22, a maioria entre Fortaleza e Russas, e entre Icó e Ipaumirim
- BR-222 – 12, principalmente na região de Sobral
- BR-122 – 8, principalmente entre Quixadá e Banabuiú
Nesses casos, a recuperação (geralmente com reforço estrutural) deve ser feita a curto prazo. Conforme a orientação, postergar demais a recuperação da estrutura pode levá-la a um estado crítico, implicando em sério comprometimento da vida útil da estrutura.
Para devolver à estrutura condições próximas das iniciais ou até superiores, no que se refere à capacidade de carga, essas atividades envolvem acréscimo ou substituição de materiais estruturais para a eliminação de todos os defeitos que afetam o desempenho da estrutura.
Estado crítico
Além disso, na data do levantamento, havia mais 16 pontes em estado “crítico”. Nessa definição, “há danos gerando grave insuficiência estrutural; o elemento em questão encontra-se em estado crítico, havendo um risco tangível de colapso”.
Elas estão distribuídas principalmente nas rodovias:
- BR-020 – 23, a maioria no trajeto entre Fortaleza e Canindé, e entre Boa Viagem e Tauá
- BR- 116 – 22, a maioria entre Fortaleza e Russas, e entre Icó e Ipaumirim
- BR-222 – 12, principalmente na região de Sobral
- BR-122 – 8, principalmente entre Quixadá e Banabuiú
Nesses casos, a recuperação (geralmente com reforço estrutural) deve ser feita a curto prazo. Conforme a orientação, postergar demais a recuperação da estrutura pode levá-la a um estado crítico, implicando em sério comprometimento da vida útil da estrutura.
Para devolver à estrutura condições próximas das iniciais ou até superiores, no que se refere à capacidade de carga, essas atividades envolvem acréscimo ou substituição de materiais estruturais para a eliminação de todos os defeitos que afetam o desempenho da estrutura.
Por isso, a recuperação – ou em alguns casos substituição da estrutura – “deve ser feita sem tardar”, recomenda a própria normativa do DNIT.
No Ceará, elas estão distribuídas nas BRs 020, 122, 226, 116 e 437, próximas a cidades como Maranguape, Aracati, Limoeiro do Norte, Senador Pompeu e Lavras da Mangabeira.
Em casos de situação de emergência, a autarquia descreve que a recuperação da estrutura pode ser acompanhada de medidas preventivas especiais como:
- restrição da carga na estrutura
- interdição total ou parcial ao tráfego
- escoramentos provisórios
- instrumentação com leituras contínuas de deslocamentos e deformações
O que diz o Dnit
Em nota enviada ao Diário do Nordeste, o Departamento ressaltou que, apesar das mais de 90 estruturas com nota baixa, “atualmente não há pontes interditadas” no Ceará.
O órgão explica que “a nota de classificação não é indicador para interditar ou não uma estrutura”. Assim, os textos normativos têm como um dos objetivos classificar as OAEs com relação às necessidades de ações preventivas e corretivas levantadas em inspeções, auxiliando na tomada de decisão da autarquia e priorizando os investimentos.
A autarquia salienta que, em 2010, implantou o Programa de Manutenção e Reabilitação de Estruturas (Proarte) e, de acordo com o sistema, das estruturas com nota “2-ruim” nas rodovias federais sob administração do DNIT no Ceará, 33 tiveram os serviços de manutenção rotineira concluídos e 48 estão com as ações de manutenção contratadas.
Outras sete pontes estão com status para reabilitação e quatro estão em análise pelos técnicos do Departamento para definir qual tipo de serviço (manutenção ou reabilitação) será realizado.
Ainda segundo o levantamento do Cgplan, outras 83 pontes no Ceará têm estado “regular”; 101, “bom”; e duas, “ótimo”. As demais 35 não tiveram classificação definida.
Ceará é o estado com maior número de estrutura em situação crítica ou ruim
No Brasil como um todo, os dados do DNIT mostram que 703 pontes se encontram nas mesmas categorias, sendo 129 delas na pior condição possível e mais 574 na categoria ruim. A maioria dos Estados realizou o estudo no ano passado, mas outros já tiveram atualizações em novembro de 2024.
Avaliando somente a situação crítica, Minas Gerais encabeça a lista, com 22, seguido por Bahia (18), Ceará (16) e Pernambuco (13).
No país, o responsável pelo gerenciamento de serviços de manutenção e de reabilitação das OAEs é o Proarte. Ele prevê intervenções nas pontes por meio da avaliação dos critérios técnicos estabelecidos no Plano Nacional de Manutenção Rodoviária (PNMR).