Haddad associa nova alta da Selic a Campos Neto e fala em 'congelar o debate sobre aumento de gastos'
FOLHA DE SP
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta terça-feira (24) que a decisão do Banco Central de elevar a taxa básica de juros é uma herança do ex-presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, que deixou o cargo em dezembro para ser sucedido por Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Haddad também defendeu "congelar o debate sobre aumento de gasto público" e "encontrar o caminho da sustentabilidade das contas."
A elevação de despesas só seria feita em alguma situação emergencial, disse o ministro à Record News. "Quanto mais poupança nós fizermos, o Brasil tem a chance de entrar num ciclo virtuoso, crescer mais e por um longo período".
Na entrevista, Haddad também disse que está preocupado com o nível atual da taxa Selic, em 15%, e que a considera muito restritiva considerando as projeções de inflação.
"Essa alta, sendo muito honesto, quem é do ramo sabe que falo a verdade, foi contratada na última reunião da qual participou o Roberto Campos, em dezembro. É como se tivesse estabelecido uma contratação futura da taxa. Não dá para dar cavalo de pau em política monetária, vai perder credibilidade. Tem que ter muita cautela", afirmou.
O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central decidiu na semana passada elevar a taxa em 0,25 ponto percentual, levando-a para o patamar mais elevado desde julho de 2006. Segundo a ata da reunião, divulgada na manhã desta terça, o colegiado viu a necessidade de manter os juros mais altos por tempo maior do que o previsto para conter a atividade econômica.
A última reunião do Copom com Campos Neto na presidência foi a de dezembro, quando a Selic foi fixada em 12,25% ao ano. Desde então, houve quatro reuniões com Galípolo no comando do BC, em janeiro, março, maio e junho. Em todos os encontros a Selic subiu, acumulando uma elevação de 2,75 pontos percentuais no período.
Neste mês, o governo Lula publicou uma MP (medida provisória) para elevar a arrecadação de impostos e compensar o recuo na alta do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
Na MP estão inclusos o aumento da taxação de apostas esportivas e a mudança na tributação de instituições financeiras. Também foi publicado o novo decreto do IOF, que recalibrou para baixo o aumento do tributo anunciado em maio.
Com a medida, o governo tem focado principalmente em medidas arrecadatórias, mas parte do mercado continua a criticar a falta de ajustes pelo lado das despesas e a demonstrar desconfiança em relação ao compromisso do governo com as metas fiscais.
Haddad disse que apesar do clima de resistência às medidas no Congresso, está otimista de que se chegará a um acordo. "Briga, discute, diverge, mas aí vamos pelo país e baixa um espírito de responsabilidade geral para nós avançarmos um pouco mais", disse.
Relatório de acompanhamento fiscal da IFI (Instituição Fiscal Independente), do Senado Federal, divulgado nesta terça mostra que a União terá um déficit primário de R$ 83,1 bilhões ao fim de 2025, dentro da meta prevista no arcabouço fiscal.
Haddad também confirmou que o governo Lula estuda formas de alavancar o crédito imobiliário no Brasil.
"O Brasil tem o crédito imobiliário na casa de 10% do PIB. Tem país como o Chile que é 30%. Tem países como a Austrália que é mais de 100% do PIB. Então, nós temos uma avenida para percorrer", disse Haddad.
"E neste momento, nós tivemos uma longa reunião com o presidente Lula para explorar novos instrumentos de crédito imobiliário, com garantia, para que o juro seja baixo, para que a gente possa alavancar uma indústria fundamental para o desenvolvimento do país, que é a indústria da construção civil."
Com Reuters
Desmatamento na Amazônia cresce 92% em maio com impacto de fatores inéditos; entenda
Por Juliana Domingos de Lima / o estadão de sp
O desmatamento na Amazônia teve alta de 92% em maio de 2025, em relação ao mesmo mês no ano passado, segundo dados oficiais divulgados nesta sexta-feira, 6. De acordo com o governo, a devastação tem agora um novo perfil, consequência dos incêndios e do colapso de florestas. No acumulado de agosto a maio, o bioma registrou aumento de 9% no desmatamento, em comparação ao período de agosto de 2023 a maio de 2024. É a partir de maio que as nuvens se dissipam na Amazônia e os satélites conseguem “enxergar” melhor o cenário consolidado das áreas desmatadas.
Já os dados de desmatamento no Cerrado e Pantanal foram positivos: queda de 15% no desmatamento no Cerrado em maio, em relação ao mesmo mês em 2024, e de 22% de agosto de 2024 a maio de 2025, considerando o período anterior queda de 65% no desmate do Pantanal em maio, e de 74% no acumulado desde agosto.
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O governo federal promete zerar o desmatamento em todos os biomas até 2030, meta que integra o compromisso de redução de emissões do País, sede da COP-30 neste ano.
Os ministérios do Meio Ambiente e da Ciência e Tecnologia divulgaram hoje os dados coletados pelo Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
As informações do sistema de monitoramento, que funciona por meio de alertas diários, dão uma pista sobre dos dados consolidados do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), que registra taxas anuais de desmate.
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Impacto dos incêndios
Conforme os dados do Inpe, o peso dos incêndios florestais sobre os número de desmatamento, quase insignificante no passado, tem aumentado - as queimadas foram responsáveis por 51% da área desmatada em maio.
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Assim, boa parte dos 960 km2 de floresta perdidos em maio não foi causado pelo “corte raso” de vegetação nativa no último mês, e sim pelo colapso de áreas que pegaram fogo no segundo semestre do ano passado.
Segundo o secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, trata-se de uma “realidade nova” para o combate ao desmatamento, com maior impacto do fogo sobre a floresta devido às mudanças climáticas e a ação antrópica.
O desmatamento na Amazônia vinha em trajetória de queda até recentemente, com uma diminuição de 45,7% na devastação registrada de agosto de 2023 a julho de 2024.
Áreas de floresta em colapso
O Deter separa o desmatamento em três tipos.
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- mineração: garimpo remove a cobertura florestal principalmente ao longo de rios;
- desmatamento com solo exposto: se dá por corte raso, remoção direta da floresta;
- desmatamento com vegetação: cicatrizes de fogo que danificam a floresta, que ainda pode se regenerar se não for atingida por novos incêndios.
De agosto do ano passado até agora, os focos de incêndio passaram a atingir mais áreas de vegetação nativa, que antes eram menos suscetíveis ao fogo.
Esse “novo tipo” de desmatamento que tem se tornado mais expressivo pode ser lento e acontece com a degradação progressiva da floresta até deixar de ser floresta, quando ela perde a biodiversidade e as funções ecológicas que cumpre para o ciclo da água e a estocagem de carbono.
Autoridades do Ministério do Meio Ambiente também tem demonstrado preocupação com os impactos da nova lei geral de licenciamento, atualmente em tramitação no Congresso, principalmente por viabilizar o licenciamento por autodeclaração, dispensar a análise de impactos indiretos e definir fiscalização por amostragem.
“No formato (da lei) aprovado pelo Senado, ela vai, acelerar e viabilizar empreendimentos sem nenhum cuidado com aos impactos na dinâmica de desmatamento e incêndios florestais", disse ao Estadão o secretário extraordinário de controle do desmatamento e ordenamento ambiental territorial do MMA, André Lima.
Como fica o combate ao desmatamento
Na avaliação do governo, o cenário exige um ajuste nas ações de enfrentamento ao desmatamento implementadas até agora.
O Ibama, que historicamente teve maior foco na fiscalização e controle do desmatamento, tem aumentado sua estrutura para lidar com a prevenção e combate aos incêndios - o órgão recebeu no último dia 2 um aporte de R$825 milhões do Fundo Amazônia para fortalecer suas ações.
Um dos destaques recentes foram os embargos remotos por dematamento ilegal feitos pelo Ibama em cinco mil propriedades na Amazônia, totalizando mais de 500 mil hectares embargados desde agosto do ano passado.
O controle dos incêndios também depende de ações de coordenação junto aos estados e municípios - como determina a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo, instituída em 2024 - que o governo federal afirma vir implementando neste ano.
Queimadas batem recorde no Brasil em 2024, aponta MapBiomas
Por Redação / O ESTADÃO DE SP
Pelo menos 30 milhões de hectares foram destruídos pelo fogo no Brasil, em 2024, uma área 62% acima da média histórica, que é de 18,5 milhões de hectares por ano. O dado está no MapBiomas Fogo, lançado nesta terça-feira, 24, parte da primeira edição do Relatório Anual do Fogo (RAF), com números relativos ao período de 1985 a 2024.
O aumento das áreas queimadas em relação à média histórica ocorreu na maioria dos biomas. A Amazônia registrou a maior área queimada de toda a série histórica e foi, de longe, o bioma que mais queimou no País: foram 15,6 milhões de hectares destruídos pelo fogo, um valor 117% acima da média histórica. Essa área respondeu por 52% de toda a área do Brasil afetada pelo fogo no ano passado, mostrando que o bioma é o epicentro das queimadas.
No Pantanal, a extensão da destruição ficou 157% acima da média e, no Cerrado, 10%. As exceções ficaram por conta da Caatinga e dos Pampas, onde foram registrados decréscimos de 16% e 48%, respectivamente. No caso da Mata Atlântica, o ano de 2024 bateu recorde de destruição: a área afetada pelo fogo foi 261% acima da média histórica.
Não por acaso, no ano passado, o Estado de São Paulo concentrou quatro dos dez municípios com maior proporção de área queimada no Brasil, todos no entorno do município de Ribeirão Preto, uma região predominantemente agrícola. São eles: Barrinha, Dumont, Pontal e Pontes Gestal.
Obtidos a partir do mapeamento das cicatrizes de fogo por imagens de satélite, os dados traçam o mais completo retrato da ação do fogo em todo o território nacional e revelam alguns padrões de ocorrência das queimadas e incêndios. De forma geral, os incêndios são concentrados num período curto do ano, em determinados biomas e, recorrentemente, nos mesmos lugares.
A ocorrência do fogo é registrada em poucos meses do ano – o período de agosto a outubro responde por 72% da área queimada no País. O Cerrado e a Amazônia são os biomas com maior ocorrência de queimadas nos últimos 40 anos, o equivalente a 86% da área incendiada pelo menos uma vez no Brasil ao longo desse período. De forma geral, 64% da área afetada pelo fogo em todo o País já queimou mais de uma vez entre 1985 e 2024.
“Essa primeira edição do RAF é uma ferramenta fundamental para apoiar políticas públicas e ações de gestão territorial do fogo”, explicou a coordenadora do MapBiomas Fogo, Ane Alencar. “Ao identificar os locais e períodos mais críticos da ocorrência do fogo, o relatório permite apoiar o planejamento de medidas preventivas e direcionar de forma mais eficaz os esforços de combate aos incêndios.”
Ao longo dos últimos 40 anos, 69,5% das queimadas no Brasil ocorreram em áreas de vegetação nativa, em um total de 514 milhões de hectares. No ano passado essa porcentagem foi ainda mais alta: 72%.
Foram registradas mudanças também no tipo de vegetação nativa mais afetada. Historicamente, a maior área de vegetação nativa queimada era de savana, com uma média anual de 6,3 milhões de hectares. Em 2024, no entanto, predominaram os incêndios em áreas de floresta, com 7,7 milhões de hectares – uma extensão 287% superior à média.
Os biomas com maior proporção de vegetação nativa afetada pelo fogo entre 1985 e 2024 foram Caatinga, Cerrado, Pampa e Pantanal, todos com mais de 80% da extensão afetada. Na Amazônia e Mata Atlântica, o fogo ocorreu principalmente em áreas antrópicas (mais de 55%). No caso de Amazônia, pastagens respondem por 53,2% da área queimada no período; na Mata Atlântica, 28,9% da extensão queimada eram de pastagem e 11,4% de agricultura.
Brasil decepciona com avanço lento do ensino
Por Editorial / O GLOBO
São frustrantes os dados revelados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Educação de 2024, divulgada pelo IBGE. Mais uma vez, o Brasil se mostra incapaz de elevar a escolaridade da população até as metas estabelecidas pelo Plano Nacional de Educação (PNE) em 2014. Embora tenha havido progresso nas taxas de analfabetismo e no total de anos de estudo, o país continua distante de onde deveria estar. É certo que a pandemia provocou um choque com impacto nefasto. Mesmo assim, houve tempo suficiente para ajustar políticas e criar programas mais eficazes. Prova de que faltou determinação foi o atraso na reforma do ensino médio, que só agora entrou em vigor.
Em 2024, a proporção de jovens no ensino médio na série correta foi 76,7%, ante 68,2% em 2016. É o maior nível da série histórica, iniciada em 2016, mesmo assim muito aquém dos 85% estipulados como meta. Pior que apenas a quantidade insatisfatória de estudantes no ano certo é a qualidade sofrível da formação, medida pelos maus resultados crônicos dos alunos brasileiros nos testes internacionais.
O atraso numa determinada faixa etária resulta em efeito cascata para as demais. Por isso é uma lástima que, entre as crianças de 6 a 14 anos, para as quais o ensino já estava praticamente universalizado, a situação tenha piorado. Em 2016, 96,7% estavam na série correta na escola. Em 2024, como resultado da pandemia, o nível caiu para 94,5% — abaixo da meta de 95%, que já havia sido cumprida.
A frustração se estende também aos adultos. É positivo que, desde 2016, a proporção de brasileiros com mais de 25 anos que concluíram a educação básica tenha subido de 46% para 56%. Só que, nesse ritmo, o Brasil levará 20 anos para chegar ao atual patamar da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). De 2016 a 2024, a escolaridade dessa parcela da população cresceu de 9,1 para 10,1 anos. A meta eram 12 anos. Tudo isso significa retardar ainda mais o desenvolvimento. O Brasil ainda conta com 44% da população sem educação básica, ante 20% nos países da OCDE. Fica atrás de Colômbia (37,9%), Argentina (33,5%) e Chile (28%).
Os resultados alcançados são insuficientes para dar à população condições de entrar num mercado de trabalho cada vez mais exigente à medida que avança a revolução tecnológica, agora pautada pela inteligência artificial. Quando é crucial avançar no letramento digital, o país nem sequer conseguiu erradicar o analfabetismo — embora a taxa tenha caído de 6,7% para 5,3% entre 2016 e 2024.
É preocupante também que os desníveis regionais se reproduzam na qualificação educacional. O Nordeste é a única região em que menos da metade da população com mais de 25 anos concluiu o ensino médio (47%). A média nacional superou esse patamar em 2017. Não se pode responsabilizar apenas o estágio de desenvolvimento mais baixo pela disparidade. Se fosse assim, o Ceará não seria um dos melhores exemplos em política educacional.
É preciso reconhecer que o Brasil tem evoluído desde os anos 1990. Há sistemas de acompanhamento do ensino com metas, um novo currículo para o ensino básico e está em curso a reforma do ensino médio. Tudo isso é bem-vindo, mas faltam eficiência e gestão para implementar com agilidade as melhorias necessárias para o país alcançar um nível educacional decente.
Apesar de avanços, país continua distante das metas de educação — Foto: Leo Martins / Agência O Globo
Sob pressão do Congresso, governo acelera liberação de emendas e desembolsa R$ 620 milhões em sete dias
Por Camila Turtelli, Lauriberto Pompeu e Karolini Bandeira— Brasília / O GLOBO
O Palácio do Planalto acelerou desde a semana passada o empenho de emendas parlamentares, após seguidas derrotas no Congresso e insatisfação crescente de aliados. Nos primeiros seis meses de 2025, o Executivo adotou ritmo mais lento do que no mesmo período dos dois primeiros anos do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. Apesar de o governo atribuir as dificuldades ao atraso na aprovação do Orçamento, que só ocorreu em março deste ano, foram desembolsados R$ 620 milhões só nos últimos sete dias, em comparação aos R$ 152 milhões no restante do ano. Em um gesto político, o maior beneficiado até o momento foi o PSD, partido comandado por Gilberto Kassab, que tem demonstrado indisposição em plenário.
Segundo dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), a legenda já soma R$ 102,8 milhões empenhados em 2025 — superando o PL (R$ 101,6 milhões) e o PT (R$ 93,5 milhões), que têm as duas maiores bancadas da Câmara dos Deputados.
A Bahia, reduto político de lideranças do PSD, lidera o ranking por estado, com R$ 144,4 milhões. O repasse ocorre em um momento delicado na relação entre a sigla e o Planalto. O partido busca manter ao menos a neutralidade em 2026, quando Lula pretende disputar a reeleição.
São da Bahia, estado que lidera o ranking de desembolso, o senador Otto Alencar e o líder da legenda na Câmara, Antônio Brito, ambos com papel central nas negociações de cargos e liberação de verbas. Procurados, ambos os parlamentares não se manifestaram sobre o assunto.
Além da disputa por espaços na Esplanada — a legenda chegou a tentar ampliar sua posição ao cobiçar o Turismo, hoje sob o comando do União Brasil — , o PSD tem protagonizado movimentos de pressão durante votações.
Derrota em plenário
Na semana passada, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), relatou a interlocutores que o governo precisava agilizar a liberação de emendas diante da irritação dos parlamentares. A insatisfação do PSD, por exemplo, se tornou mais evidente com o comportamento da bancada na votação da urgência para a derrubada do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), no último dia 17. O PSD foi uma das legendas com maior número de votos a favor da urgência, contrariando o governo. Foram 40 a favor do texto de uma bancada de 45.
No total, 65% dos deputados de partidos com ministérios no governo Lula votaram a favor da proposta, desafiando a orientação do Planalto. Outro fator que aumenta o peso político do PSD nas negociações com o governo é a posição estratégica de algumas de suas lideranças. O senador Omar Aziz (AM), uma das principais vozes do partido na Casa, é cotado para presidir a CPI do INSS, que deve se instalada no segundo semestre com o objetivo de investigar descontos indevidos em aposentadorias. A comissão tem potencial de desgaste para a atual gestão, apesar dos esforços do governo para direcionar o foco para a administração Bolsonaro.
Procurado, Aziz defendeu a distribuição dos recursos e ressaltou que a sigla liderada por ele tem mais senadores. Por isso, tem direito a mais emendas.
— O PSD é a maior bancada (no Senado), tem 14 senadores. Tem que procurar saber quem tem menos senadores e teve mais liberação. É normal que seja um pouco mais — defende. O parlamentar, no entanto, ressaltou que o volume atual do que tem sido liberado é baixo. Desde o início do ano, foram R$ 776 milhões. No mesmo período do ano anterior, R$ 23 bilhões; e nos primeiros seis meses de 2023, R$ 7,5 bilhões.
Congressistas vêm pressionando o governo por maior celeridade, especialmente diante do bloqueio de despesas. O valor autorizado de desembolso para emendas este ano é de R$ 53,9 bilhões. — Eu tenho dificuldade de liberar emenda nesse governo e tinha no outro (Bolsonaro), mas faz parte — conclui Aziz, um dos principais aliados do governo no Senado.
A Secretaria de Relações Institucionais (SRI), comandada pela ministra Gleisi Hoffmann, disse em nota, por sua vez, que o ritmo da liberação das emendas precisa atender a uma série de critérios.
“O ritmo da execução das emendas parlamentares ao Orçamento da União de 2025 é determinado pelo cumprimento de cronogramas fixados pela área orçamentária do governo, a partir da sanção da Lei Orçamentária Anual, bem como pela capacidade dos atores envolvidos (parlamentares solicitantes, estados e municípios beneficiários e órgãos executores) de cumprirem todas as etapas previstas no marco normativo”.
Reservadamente, parlamentares têm dito que a demora na liberação prejudica a articulação política e mina a confiança na liderança do governo no Congresso.
Atrás da Bahia, até aqui, aparecem como estados mais favorecidos Amazonas — estado de Aziz — e Pará.
No Planalto, a preocupação é conter os focos de insatisfação sem agravar o cenário de rebelião legislativa. A liberação concentrada nas últimas semanas é vista como uma tentativa de reaproximação, mas o governo ainda precisa vencer o teste mais difícil: garantir votos em plenário nas próximas pautas de interesse — e atravessar a CPI do INSS com o menor desgaste possível.
Integrantes do PSD da Câmara avaliam que o fato de o partido ter o maior montante neste momento se dá mais pelo peso que a sigla tem no Senado — há 14 parlamentares, mesmo número do PL. Na Câmara, o PSD tem a quinta maior bancada, com 45 deputados.
Mesmo com os números mais favoráveis ao PSD, tanto o governo quanto a legenda consideram que o valor baixo está longe de atingir a demanda de qualquer partido. Também é apontado, por parte do PSD, que as emendas liberadas são individuais e atendem a todas as siglas. O fato de o PL, partido da oposição, ter um valor próximo reforça esse argumento.
Novas regras
Além do atraso na aprovação do Orçamento, houve mudanças nas regras de repasse, determinadas pelo ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), o que contribuiu para o atraso nas liberações. Levantamento da Warren Investimentos mostra que os empenhos cresceram de R$ 24,9 milhões até maio para R$ 151,2 milhões apenas nos primeiros dias de junho — um salto de seis vezes. Essas emendas são impositivas, ou seja, o governo é legalmente obrigado a pagá-las.
Além disso, o Executivo tem autorizado o pagamento de emendas de anos anteriores. Até 13 de junho, já haviam sido pagos R$ 6,3 bilhões, com destaque para emendas individuais (R$ 3,1 bilhões), de bancada estadual (R$ 1,8 bilhão), de comissão (R$ 1,1 bilhão) e de relator (R$ 294,8 milhões).
‘Brasil está virando especialista em elevar impostos sem chamar de aumento’, diz a Duquesa de Tax
‘Brasil está virando especialista em elevar impostos sem chamar de aumento’, diz a Duquesa de Tax. O vaivém em torno do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e a busca por alternativas para conseguir cumprir as metas fiscais completou um mês no fim de semana. Desde o dia 22 de maio, além do IOF, o governo lançou uma série de alternativas, decretos e medidas provisórias para tentar contornar a situação, que tem causado mal-estar no Congresso e entre a população.
No programa Não vou passar raiva sozinha desta semana, a colunista do Estadão Maria Carolina Gontijo, a Duquesa de Tax, faz uma retrospectiva da novela do IOF (assista acima à íntegra do programa). “Vamos recapitular aqui para não ficar perdido em tantas medidas. O governo aumentou o IOF por decreto e já está valendo.” Ela completa que o Congresso ensaiou reagir, mas que até agora nada de concreto aconteceu.
“E como se tudo isso fosse pouco, veio uma medida provisória que quer tributar até investimento de baixo risco, vendida como justiça tributária, mas que, na prática, só aumenta a confusão”, diz a Duquesa. Ela se refere à tributação, por exemplo, das LCI’s e LCA’s, que passarão a pagar 5% de imposto.
“O que temos aqui não é uma política fiscal, é um remendo emergencial. O governo diz que precisa arrecadar, mas não corta gastos, não enfrenta privilégios e vai caçando cada centavo no bolso de quem tá tentando juntar algum dinheiro. O Brasil tá virando especialista em aumentar impostos sem chamar de aumento.”
Para o governo, diz ela, IOF e IR sobre LCI é só para quem é bilionário; tudo com a desculpa da justiça social. “Então, quando você ouvir o termo reforma tributária financeira, desconfia, porque o que a gente tem mesmo é uma gambiarra tributária.”
Programa
Todas as quintas-feiras, às 9h30, a Duquesa de Tax faz reacts (comentários sobre outros vídeos ou entrevistas) do noticiário econômico no Estadão. Além disso, tem o programa semanal Não vou passar raiva sozinha. Os vídeos inéditos vão ao ar sempre às segundas-feiras, às 9h30, para assinantes do Estadão. Cortes do programa são distribuídos ao longo da semana nas redes sociais e na Rádio Eldorado. A atração também tem uma versão em podcast.
Menino de três anos morre engasgado com fruta durante lanche na escola, em Canindé
Um menino de três anos, identificado como Ravi, faleceu na manhã dessa segunda-feira (16) após comer uma fruta durante um lanche na escola, localizada no Distrito de Ipueira dos Gomes, na cidade de Canindé. A informação foi confirmada pela Secretaria da Educação do Município, em nota oficial.
O que aconteceu
No comunicado, as informações apontam que Ravi estava comendo uma fruta trazida de casa, durante o momento do lanche com outros alunos na Escola Francisco Delfino.
A pasta apontou que os primeiros socorros foram prestados pela equipe escolar, que encaminhou a criança para unidade hospitalar. No entanto, apesar dos esforços, o pequeno não resistiu.
Ainda conforme a nota, a equipe escolar já havia passado por diversos momentos formativos ao longo deste ano letivo, com capacitação em noções de primeiros socorros, e agiu rapidamente, considerando a gravidade da situação.
"A Prefeitura de Canindé se mobilizou desde o primeiro momento, colocando à disposição da família o suporte necessário. A rede municipal de ensino, juntamente com as Secretarias de Saúde e Assistência Social, está mobilizada para acolher, cuidar e amparar a família e toda a comunidade escolar neste momento de luto", comunicou a pasta.
Por conta do falecimento, o município decretou luto oficial de três dias, "unindo-se à dor de familiares, amigos e da comunidade escolar".
Governo conta com recesso para respirar
Por Vera Magalhães / O GLOBO
Lula não tem sequer uma boa notícia para comemorar no primeiro semestre de 2025. Não à toa, depois de algumas mudanças ministeriais no início do ano para inaugurar o que seria a fase das “entregas” do terceiro mandato, hoje a coisa mais difícil é achar um ministro disposto a dar as caras para defender a administração, que vai levando um 7 a 1 por dia no Congresso sem esboçar plano de reação.
As obras não apareceram, as viagens aos estados foram episódicas, sem nada de memorável — pelo contrário, numa recente ida a Pernambuco Lula chegou a dizer que Deus deixou o sertão sem água porque sabia que ele seria presidente e resolveria o problema —, e nem aquele apelo para que assuma pessoalmente a articulação política parece fazer sentido num momento de completo afastamento entre Executivo e Legislativo.
O presidente recebeu Hugo Motta (Republicanos-PB) e seu antecessor Arthur Lira (PP-AL) sábado no Alvorada. Nada aconteceu, e nesta segunda-feira o governo tomou uma derrota de lavada na votação da urgência para a votação dos Projetos de Decreto Legislativo (PDLs) para derrubar um já desidratado decreto de elevação do IOF.
De nada adianta a cantilena que lideranças governistas tentam vender nas conversas em off segundo a qual a votação da urgência não necessariamente significa que o mérito dos PDLs será aprovado. Só quem nunca pisou no carpete verde da Câmara pode se convencer desse blá-blá-blá.
As semanas de trégua que o governo terá, graças aos santos juninos e a seus festejos de grande potencial eleitoral, só seriam relevantes se os responsáveis pela suposta articulação política e a equipe da Fazenda tivessem o que oferecer no lugar do IOF. Mas já ficou claro que ninguém fala a mesma língua nesse capítulo.
Existe uma incompatibilidade fundamental entre a composição da base aliada e o time escalado para ser seu interlocutor. Enquanto os partidos do Centrão vão aumentando sua indisposição em relação à agenda de Lula para o Brasil, os escalados para toureá-los são 100% petistas, dos líderes na Câmara, no Congresso e no Senado aos ministros do Palácio do Planalto.
O placar da votação da urgência dos PDLs escancarou o que isso significa: menos de 100 votos é o que o núcleo petista da articulação política comanda hoje. No Senado, o cálculo de lulistas desolados e preocupados é que esse grupo fiel não chegue a 20 dos 81 senadores.
Se as nuvens carregadas sobre o arcabouço fiscal não fossem suficientes para prenunciar um segundo semestre tão complicado quanto o primeiro, Lula ainda recebeu de presente de Davi Alcolumbre (União-AP) a leitura do requerimento de criação da CPI Mista do INSS.
Depois do tão esperado recesso, nada indica que o trem volte aos trilhos, pois o Legislativo segue colocando lenha na fogueira onde ardem a popularidade e a governabilidade do petista.
É nesse cenário de conflagração que o governo precisará aprovar, até 30 de setembro, o projeto que amplia a isenção de Imposto de Renda da Pessoa Física para quem ganha até R$ 5 mil, considerado a cartada mais certeira de Lula para recuperar sua popularidade e, consequentemente, sua dianteira nas pesquisas de intenção de voto para o ano que vem. Esse é o prazo para que a mudança valha em 2026 — e, mesmo assim, será uma perspectiva apenas para a declaração de IR de 2027, com efeitos nas urnas ainda a ser medidos.
O clima na Esplanada oscila entre a apatia, a desconfiança entre ministros e a admissão de que são poucas as armas disponíveis para mudar essa clara disposição do Congresso de complicar a vida do governo. Só liberar as emendas, agora, parece pouco diante de um quadro em que deputados e senadores parecem não acreditar mais nas chances de reação do presidente e de seu combalido exército.
Recursos públicos no Brasil são, sim, suficientes
Está correta, na essência, a percepção manifestada pela maioria dos brasileiros de que o setor público do país dispõe de recursos suficientes. Assim pensam 55% dos entrevistados na mais recente pesquisa do Datafolha —percentual composto por 47% que consideram os recursos mal aplicados e só 8% que aprovam sua gestão.
A afirmação pode causar estranheza diante dos déficits recorrentes nas contas do Tesouro Nacional, ou mesmo da precariedade de diversos serviços prestados à sociedade. É fato incontestável, no entanto, que o Estado brasileiro tem capacidade de arrecadar com poucos paralelos entre os países emergentes e superior até à de boa parte dos ricos.
A carga tributária aqui ronda os 33% do Produto Interno Bruto, com variações a depender da metodologia. Em outras palavras, o setor público se apropria de um terço de toda a renda gerada por trabalhadores e empresas. Tal patamar é o maior da América Latina e similar aos 34% da média da OCDE, organização que reúne os países mais desenvolvidos.
Consideradas outras fontes de recursos, como juros, dividendos e concessões, a receita dos três níveis de governo no Brasil chega a 38,8% do PIB, em cálculo do FMI. No G20, que reúne as principais economias mundiais, superamos Argentina, Austrália, China, Índia, Indonésia, Japão, Coreia do Sul, México, Rússia, Arábia Saudita, África do Sul, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos.
Isso não quer dizer, é claro, que se devam esperar do setor público brasileiro serviços —educação, saúde, segurança pública— de qualidade comparável aos de países ricos, cujo PIB por habitante é muito maior. Num exemplo, o Reino Unido tem receita total quase equivalente à nossa (38,3% do PIB) e quase o triplo em renda per capita.
A questão é que o Estado aqui já dispõe de recursos vultosos para a realidade nacional. Se acumula déficits orçamentários que estão entre os mais altos do mundo, é sinal evidente de que seus gastos são incompatíveis com seus meios, isto é, com a capacidade contributiva dos cidadãos.
Não é difícil apontar despesas públicas que estão acima ou muito acima dos padrões internacionais. A Previdência Social consome algo em torno de 13% do PIB ou mais, nível de países com população bem mais idosa. O custo do sistema de Justiça (1,33%) não tem similar conhecido entre as principais economias. Os juros, que decorrem dos déficits fiscais, somam exorbitantes 7,7% do PIB.
Isso sem mensurar o peso de benefícios fiscais, supersalários, emendas parlamentares e outros fatores que corroem a eficiência dos programas e da economia.
Se o propósito maior do Estado desenhado pela Constituição de 1988 é combater a pobreza e a desigualdade, os resultados são insatisfatórios. As distorções começam, aliás, pela coleta de recursos por meio de uma carga não apenas elevada como injusta, baseada em tributos regressivos que oneram os mais pobres.
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Damares questiona Secom sobre gastos de R$ 3,5 bilhões com publicidade pelo governo Lula
Painel Editado por Fábio Zanini, espaço traz notícias e bastidores da política. Com Danielle Brant e Carlos Petrocilo / FOLHA DE SP
Senadora de oposição, Damares Alves (Republicanos-DF) protocolou nesta segunda-feira (16) um requerimento questionando a Secretaria de Comunicação (Secom) sobre os R$ 3,5 bilhões em gastos com publicidade pelo governo Lula (PT), conforme revelado pela Folha.
No texto, a senadora, que foi ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos do governo Jair Bolsonaro (PL), cita "aumento expressivo dos gastos publicitários em contraste com a queda na aprovação governamental" e pede informações detalhadas sobre os contratos –em especial o da atriz Cissa Guimarães como apresentadora da EBC (Empresa Brasil de Comunicação), cujo salário é de R$ 100 mil ao mês.
"Essa flagrante disparidade entre o aumento dos investimentos em publicidade e a percepção pública da gestão exige uma fiscalização aprofundada para garantir que a máquina pública sirva, de fato, ao cidadão brasileiro e não a interesses de autopromoção", disse a senadora bolsonarista em referência ao pior patamar de rejeição ao governo Lula, segundo o mais recente Datafolha.
Damares também solicitou ao TCU (Tribunal de Contas da União) e à CGU (Controladoria-Geral da União) que ampliem o rigor na fiscalização das campanhas pagas pelo governo.