Comissão de Ética de Lula pune bolsonaristas e livra petistas
Por Gustavo Côrtes / O ESTADÃO DE SP
BRASÍLIA - Em dois anos de mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, a Comissão de Ética Pública (CEP) da Presidência puniu cinco ministros do governo de Jair Bolsonaro, enquanto arquivou denúncias contra aliados do petista. O colegiado livrou 17 integrantes do primeiro escalão do atual governo de censura ética, uma penalização válida por três anos e que funciona como uma “mancha” no currículo de servidores do Executivo.
Procurado, o Planalto afirmou que “decidiu os casos com base nos princípios e normas éticas constantes do Código de Conduta da Alta Administração Federal, com absoluta isenção e assegurando a todos os acusados o direito ao devido processo legal, ao contraditório e à ampla defesa. Julgou os casos concretos, sem fazer qualquer distinção quanto à gravidade dos fatos ou à pessoa do acusado. Respeitado o direito à privacidade dos interessados, todas as pautas e decisões da CEP são publicadas no seu site”.
O ex-ministro da Educação Abraham Weintraub foi o bolsonarista com mais sanções sofridas. Ele recebeu três punições. Uma delas se deveu a ofensas ao patrono da educação brasileira, Paulo Freire, a quem se referiu como “feio”, “fraco” e “energúmeno”. O pedagogo morreu em maio de 1997. Já Gilson Machado, ex-titular do Turismo, foi punido por chamar Lula de “safado, ex-presidiário e cachaceiro” em seu perfil no X (antigo Twitter), em novembro de 2021.
Estes atos foram considerados mais graves do que, por exemplo, o uso de avião da Força Aérea Brasileira (FAB) pelo ministro das Comunicações, Juscelino Filho, para ir a um leilão de cavalos em São Paulo. Ou do que a atuação de seu sogro, Fernando Fialho, que fez despachos junto a aliados como se fosse servidor da pasta.
Revelados pelo Estadão, ambos os casos foram arquivados. Sobre a ingerência do sogro de Juscelino na gestão do Ministério, o relator Bruno Espiñera Lemos alegou que a atuação de um parente era “compreensível” devido ao caráter voluntário do serviço e à experiência de Fialho na administração pública.
“É compreensível que o interessado José Juscelino dos Santos Rezende Filho, ao assumir tão importante pasta, tenha procurado cercar-se, no âmbito do MCom, de pessoas que conhecem a estrutura e os meandros da Administração Pública”, sustentou.
Outro caso levado ao arquivo é do ministro chefe da Controladoria Geral da União (CGU), Vinícius Marques de Carvalho. O escritório de advocacia do qual fez parte antes de entrar no governo, o VMCA Advogados, recebia valores da empreiteira Novonor (antiga Odebrecht) para atuar no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE).
“Nós chegamos à conclusão de que o escritório do qual ele faz parte e está licenciado não tem processo na CGU. Além disso, aquela reunião que ele participou [com a Odebrecht] era uma reunião genérica. E sobre as entrevistas que ele tinha dado, também não foram levadas em consideração situações específicas desse ou daquele caso. Foram entrevistas que ele deu de forma geral”, afirmou o presidente da CEP, Manoel Caetano, à época em conversa com o Estadão.
O colegiado proibiu Marques de Carvalho de receber participação nos lucros da banca, atualmente gerida por Marcela Mattiuzzo, sua namorada.
Também foram arquivados processos de apuração contra alguns dos principais nomes do governo, como os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, da Casa Civil, Rui Costa, de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e do Meio Ambiente, Marina Silva. Os casos dizem respeito a denúncias de conflito de interesses, manifestações partidárias no exercício do cargo e uso indevido do aparato governamental. No período de dois anos, a comissão também arquivou casos contra 11 ministros de Bolsonaro.
O levantamento contou apenas processos públicos da CEP. Alguns são sigilosos. É o caso, por exemplo de duas denúncias feitas contra o ex-ministro dos Direitos Humanos Silvio Almeida, demitido após ser acusado pela ONG Mee Too de assédio sexual. Uma das vítimas seria a ministra da Igualdade Racial, Aniele Franco. Os processos na CEP, no entanto, diziam respeito a outros temas, de acordo com a Casa Civil.
Também não se levou em conta punições e arquivamentos de processos contra figuras de segundo escalão. É o caso, por exemplo, do ex-presidente da Petrobras Jean Paul Prates no governo Lula, que teve dez processos arquivados.
Filipe Martins, ex-assessor chefe da Assessoria Especial de Assuntos Internacionais da Presidência de Bolsonaro, foi punido por fazer gesto supremacista. Além dele, o ex-presidente da Caixa Pedro Guimarães recebeu censura ética por assédio sexual contra funcionárias do banco.
A CEP puniu ministros de Bolsonaro por casos que marcaram o governo do ex-presidente. Um deles é Milton Ribeiro, ex-ministro da Educação. A comissão lhe aplicou censura ética por permitir a pastores evangélicos acesso privilegiado ao Ministério da Educação durante o governo de Jair Bolsonaro.
Conforme revelou o Estadão, os religiosos organizaram uma espécie de “gabinete paralelo”, em que mediaram reuniões com prefeitos e discutiram até mesmo a destinação de verbas da pasta. O caso gerou a demissão de Ribeiro, que integrou a CEP até 2020, antes de assumir o comando do MEC.
Aposentadorias do INSS com reajuste serão pagas entre 27 de janeiro e 3 de fevereiro
Ana Paula Branco / FOLHA DE SP
Aposentados e pensionistas do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) começam a receber seus benefícios com reajuste do ano que vem a partir do dia 27 de janeiro. Para quem ganha aposentadoria, pensão ou auxílio de até um salário mínimo —é o caso de 60% do total de beneficiários— os novos valores são pagos primeiro, com aumento acima da inflação, conforme a política de valorização do governo federal.
O valor dosalário mínimo subirá dos atuais R$ 1.412 para R$ 1.518 em 2025. Um aumento de R$ 106, o equivalente a 7,5%.
Já os beneficiários com renda mensal acima do piso recebem o primeiro benefício com reajuste a partir de 3 de fevereiro. O índice de aumento, porém, ainda não foi definido, segundo o instituto previdenciário. O percentual depende do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que será divulgado no início de 2025.
A data do depósito depende de qual é o final do número do benefício, sem considerar o último dígito verificador, que aparece depois do traço. Para quem ganha o salário mínimo, o calendário começa com benefício com final 1. Estima-se que, com a aprovação do novo arcabouço fiscal, que limita o ganho real do piso nacional, o salário mínimo deve chegar a R$ 1.518 em 2025.
Para os segurados que recebem acima do mínimo, o calendário inicia com os cartões de final 1 e 6. No dia seguinte, são pagos os finais 2 e 7, e assim por diante.
O segurado também pode conferir o pagamento do INSS em 2025 no aplicativo ou site Meu INSS, por meio do extrato de pagamento. No site oficial do INSS, neste link, também está publicado o calendário.
CONFIRA O CALENDÁRIO DE PAGAMENTOS DO INSS EM 2025
PRIMEIRO SEMESTRE
Para quem recebe um salário mínimo
Final do benefício | Jan/25 | Fev/25 | Mar/25 | Abr/25 | Mai/25 | Jun/25 |
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1 | 27/jan | 24/fev | 25/mar | 24/abr | 26/mai | 24/jun |
2 | 28/jan | 25/fev | 26/mar | 25/abr | 27/mai | 25/jun |
3 | 29/jan | 26/fev | 27/mar | 28/abr | 28/mai | 26/jun |
4 | 30/jan | 27/fev | 28/mar | 29/abr | 29/mai | 27/jun |
5 | 31/jan | 28/fev | 31/mar | 30/abr | 30/mai | 30/jun |
6 | 03/fev | 06/mar | 01/abr | 02/mai | 02/jun | 01/jul |
7 | 04/fev | 07/mar | 02/abr | 05/mai | 03/jun | 02/jul |
8 | 05/fev | 10/mar | 03/abr | 06/mai | 04/jun | 03/jul |
9 | 06/fev | 11/mar | 04/abr | 07/mai | 05/jun | 04/jul |
0 | 07/fev | 12/mar | 07/abr | 08/mai | 06/jun | 07/jul |
Para quem recebe acima do salário mínimo
Final do benefício | Jan/24 | Fev/24 | Mar/24 | Abr/24 | Mai/24 | Jun/24 |
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1 e 6 | 03/fev | 06/mar | 01/abr | 02/mai | 02/jun | 01/jul |
2 e 7 | 04/fev | 07/mar | 02/abr | 05/mai | 03/jun | 02/jul |
3 e 8 | 05/fev | 10/mar | 03/abr | 06/mai | 04/jun | 03/jul |
4 e 9 | 06/fev | 11/mar | 04/abr | 07/mai | 05/jun | 04/jul |
5 e 0 | 07/fev | 12/mar | 07/abr | 08/mai | 06/jun | 07/jul |
SEGUNDO SEMESTRE
Para quem recebe o salário mínimo
Final do benefício | Jul/24 | Ago/24 | Set/24 | Out/24 | Nov/24 | Dez/24 |
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1 | 25/jul | 25/ago | 24/set | 27/out | 24/nov | 22/dez |
2 | 28/jul | 26/ago | 25/set | 28/out | 25/nov | 23/dez |
3 | 29/jul | 27/ago | 26/set | 29/out | 26/nov | 26/dez |
4 | 30/jul | 28/ago | 29/set | 30/out | 27/nov | 29/dez |
5 | 31/jul | 29/ago | 30/set | 31/out | 28/nov | 30/dez |
6 | 01/ago | 01/set | 01/out | 03/nov | 01/dez | 02/jan |
7 | 04/ago | 02/set | 02/out | 04/nov | 02/dez | 05/jan |
8 | 05/ago | 03/set | 03/out | 05/nov | 03/dez | 06/jan |
9 | 06/ago | 04/set | 06/out | 06/nov | 04/dez | 07/jan |
0 | 07/ago | 05/set | 07/out | 07/nov | 05/dez | 08/jan |
Para quem recebe acima do salário mínimo
Final do benefício | Jul/24 | Ago/24 | Set/24 | Out/24 | Nov/24 | Dez/24 |
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1 e 6 | 01/ago | 01/set | 01/out | 03/nov | 01/dez | 02/jan |
2 e 7 | 04/ago | 02/set | 02/out | 04/nov | 02/dez | 05/jan |
3 e 8 | 05/ago | 03/set | 03/out | 05/nov | 03/dez | 06/jan |
4 e 9 | 06/ago | 04/set | 06/out | 06/nov | 04/dez | 07/jan |
5 e 0 | 07/ago | 05/set | 07/out | 07/nov | 05/dez | 08/jan |
O novo calendário é válido para cerca de 40 milhões de beneficiários do instituto que já recebem aposentadoria, pensão, auxílio ou BPC (Benefício de Prestação Continuada). Quem se aposentar ao longo de 2025 também irá receber conforme as datas previstas no calendário anual.
O segurado consegue conferir, entre cinco e sete dias antes de começar o pagamento do mês de competência, se os valores estão provisionados na conta, pelo aplicativo ou site Meu INSS, em "Extrato de pagamento".
Há ainda a possibilidade de acessar o documento pelo telefone, ligando para a Central 135, de segunda-feira a sábado, das 7h às 22h. Neste caso, o beneficiário precisa informar o número de CPF e confirmar dados cadastrais.
É importante checar com frequência no extrato se o valor está sendo depositado corretamente, sem descontos indevidos.
Os pagamentos podem ser movimentados conforme o tipo de conta escolhida pelos beneficiários. Em caso de conta aberta apenas para receber a aposentadoria, pensão, auxílio ou BPC, o saque é feito no caixa eletrônico, mesmo em feriados.
De gaze a medicamentos, Estado vai doar mais de 206 mil itens ao IJF para assistência no Réveillon, garante Elmano
Em entrevista ao Diário do Nordeste, nesta quinta-feira (26), o gestor informou que a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) “recebeu uma planilha da equipe de transição (do prefeito eleito Evandro Leitão) com o que tem de deficiência hoje no IJF”.
“Estou preocupado, porque vai ter as festas de final de ano e, especialmente na virada, tem festividades na nossa cidade, milhares de pessoas nas ruas, e eu estou com receio de chegar no dia 31, dia 1º, e não ter gaze, não ter remédios básicos lá”, cita o governador.
Uma equipe da Sesa esteve no IJF, na semana passada, e identificou que “há uma falta de tudo”, formando “uma lista grande, tanto de medicamentos quanto de material médico hospitalar” em déficit no hospital. A informação é da titular da Sesa, Tânia Mara Coelho, dada em entrevista ao Diário do Nordeste também nesta quinta (26).
Assim, serão retirados do estoque do Estado e doados ao IJF 78 mil medicamentos, como antibióticos e anestésicos, e mais de 128,4 mil itens como gaze, algodão, seringas e kits intubação. “Vamos entregar uma parte até segunda-feira (30), e depois vamos complementar”, projeta Tânia, que deve visitar o IJF nesta sexta (27).
“Estamos em contato direto com a superintendência do IJF, conversamos também com o secretário de Saúde de Fortaleza, e já levantamos muitos dados. Amanhã (27) vou pra uma visita oficial, ver a situação real do hospital”, afirma.
Conforme o atual prefeito, praticamente todo o valor arrecadado com o Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) é direcionado para o hospital, mas que há um déficit de recurso para manter o funcionamento.
"Do total de atendimento do IJF, 52% são de pessoas oriundas do interior do Ceará e de outros estado. O déficit mensal não é de agora, desde a antiga Assistência Municipal, e continuará se não houver uma repactuação entre Governo do Estado, Governo Federal e Governo Municipal", avalia.
Saúde tem R$ 500 milhões em dívidas

Questionado sobre a possibilidade de aumentar os aportes financeiros do Governo do Estado ao hospital municipal, Elmano reforçou que “a atenção do Estado permanecerá intensa com o povo de Fortaleza”, e que o que deve mudar com a chegada de Evandro Leitão à prefeitura “é a disposição do prefeito de fazer parceria com o governo”.
O governador destacou que, ao assumir, Evandro deve fazer “um diagnóstico da situação como um todo”, mas adiantou que a realidade é de “uma prefeitura muito endividada, o que coloca desafios financeiros importantes”.
Além do suporte com medicamentos e insumos – que é limitado, já que o Governo do Estado tem a demanda dos próprios hospitais para atender –, a secretária Tânia Mara aponta que deve ser reforçado o trabalho de regulação de pacientes, que já tem sido feito para “desafogar” o IJF.
“O IJF já consegue, por exemplo, enviar pacientes de longa permanência para a Casa de Cuidados do Ceará. É a instituição que mais envia pacientes pra lá. E isso é importante, porque conseguimos dar rotatividade aos leitos”, exemplifica a gestora.
A secretária estadual da Saúde afirma ainda que, “com a abertura dos dois serviços de politrauma no interior, tanto do Sertão Central como do Vale do Jaguaribe, foi possível desafogar o IJF”, de modo que, segundo ela, “o hospital atende mais Fortaleza e a RMF, que é mesmo o perfil que ele deve atender”.
“Nesse momento, temos que atacar o problema prioritário, abastecer o IJF dentro da nossa possibilidade, porque temos que garantir insumos também para os hospitais da rede estadual.”
Dívida pública federal sobe 1,85% em novembro, para R$ 7,2 tri, com elevação de custo
Bernardo Caram / FOLHA DE SP
A dívida pública federal subiu 1,85% em novembro ante outubro, para R$ 7,204 trilhões, informou o Tesouro Nacional nesta quinta-feira (26), em período marcado por uma elevação de custo e redução do prazo médio dos papéis.
No período, a dívida pública mobiliária federal interna (DPMFi) somou R$ 6,863 trilhões, com alta de 1,71%, enquanto a dívida pública federal externa (DPFe) atingiu R$ 340,8 bilhões, com avanço de 4,78%.
Contribuíram para a elevação da dívida pública uma emissão líquida de R$ 56,4 bilhões no mês passado e a incorporação de juros no valor de R$ 74,8 bilhões.
Segundo os dados da pasta, o custo médio do estoque da dívida pública federal acumulado em 12 meses teve uma alta no mês passado, passando de 11,17% ao ano em outubro para 11,53%. Para as novas emissões de títulos da dívida interna, o custo médio subiu de 10,78% para 10,86% ao ano.
No período, houve redução no prazo médio de vencimento dos títulos brasileiros para 4,12 anos, ante 4,16 anos registrados em outubro.
Em novembro, a participação de títulos atrelados à Selic apresentou alta, passando de 45,9% em outubro para 46,1%.
Em setembro o Tesouro mudou metas do seu Plano Anual de Financiamento (PAF) de 2024, passando a prever uma fatia maior de títulos atrelados à taxa Selic na composição da dívida pública federal.
Na ocasião, a pasta informou que os novos limites para os papéis vinculados à Selic iriam para patamar entre 43% e 47% neste ano, contra a meta estabelecida em janeiro de fechar 2024 com uma fatia de 40% a 44%.
Em relação ao colchão de liquidez para pagamento da dívida pública, houve uma elevação de 4,09% em novembro, a R$ 856 bilhões. O montante é suficiente para quitar 7,25 meses de vencimentos de títulos —em outubro, estava em 6,86 meses.
Salário mínimo subirá R$ 106 e novo valor passará a ser de R$ 1.518 a partir de 1º de janeiro
Adriana Fernandes / FOLLHA DE SP
O valor do salário mínimo subirá dos atuais R$ 1.412 para R$ 1.518 em 2025. Um aumento de R$ 106, o equivalente a 7,5%.
Segundo integrantes do governo ouvidos pela Folha, o valor de R$ 1.518 é o previsto pela nova regra de correção do salário mínimo, aprovada pelo Congresso no pacote de contenção de gastos do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Não há indicações de mudanças, de acordo com os técnicos.
Um decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) será publicado nos próximos dias no Diário Oficial da União com o novo valor, que passará a vigorar a partir de 1º de janeiro.
Se a antiga regra ainda estivesse valendo, o salário mínimo subiria para R$ 1.528 (sem arredondamentos para cima). Com a revisão da regra, haverá uma perda de R$ 10.
Pela lei anterior, os reajustes eram feitos com base na variação do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) acumulada nos 12 meses encerrados em novembro, mais a variação do PIB de dois anos antes.
O limite ao ganho real do salário mínimo é o pilar central do pacote e representa um recuo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na política de valorização que seu próprio governo implementou.
A medida foi considerada uma vitória de Haddad no processo de ajuste fiscal e contenção do crescimento das despesas obrigatórias. Haddad obteve consenso no governo para a revisão da regra e a alteração passou sem dificuldades no Congresso.
O valor do mínimo é um indicador fundamental para elaborar o Orçamento, porque a maior parte das despesas obrigatórias, como aposentadoria, pensões, BPC (Benefício de Prestação Continuada) e outros benefícios, está atrelada ao seu valor.
O governo prevê uma economia de R$ 15,3 bilhões como a revisão da política nos anos de 2025 e 2026.
Governadores avaliam ir ao STF contra decreto de uso de força policial, e Planalto acelera regulamentação
Por Luísa Marzullo e Sérgio Roxo / O GLOBO
O decreto do Ministério da Justiça sobre o uso da força por policiais em todo o país se tornou mais um impasse entre o governo federal e os governadores de oposição na área de segurança pública. Publicado na última terça-feira, o texto que prevê o uso da força e de armas de fogo apenas em último recurso foi criticado pelo chefe do Executivo do Rio, Cláudio Castro (PL); de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil); e do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB). Já o ministro Ricardo Lewandowski voltou a demonstrar descontentamento com ações violentas da polícia, depois de uma jovem ser baleada na cabeça por um policial rodoviário federal, na véspera de Natal, no Rio. O caso deve levar a pasta a acelerar a regulamentação e detalhamento do texto, antes previsto para 90 dias.
As críticas dos governadores giram em torno dos repasses financeiros aos estados. Apesar das medidas do decreto não serem obrigatórias, elas servirão como condição para o repasse de verbas do Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP), principalmente na aquisição de equipamentos. Desta forma, o governo pretende fazer com que as regras sejam implementadas pelos 27 entes.
Castro prometeu ir ao STF para sustar os efeitos da medida. “Nós do Rio vamos entrar imediatamente com uma ação no STF para cassar esse absurdo. Por fim, espero que a população cobre dos responsáveis por esse decreto quando bandidos invadirem uma residência, roubarem um carro ou assaltarem um comércio”, disse o governador.
O decreto prevê que agentes policiais só devem usar armas de fogo em último recurso, em caso de risco pessoal. O uso da força física também deve ser evitado. Para implementar essas medidas, os profissionais passarão por capacitação.
— A força letal não pode ser a primeira reação das polícias. Só podemos usar a força letal em última instância. É preciso que a abordagem policial se dê sem qualquer discriminação contra o cidadão brasileiro — justificou o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, que vem enfrentando resistência de governadores, especialmente do Sul e Sudeste, na PEC da Segurança Pública.
O prazo para regulamentar o decreto com o detalhamento dos procedimentos é de três meses, mas Lewandowski já vinha manifestando a intenção de fazer isso em janeiro. Com o episódio do dia 24, o ministro revelou internamente que pretende acelerar a regulamentação.
“O lamentável incidente ocorrido no Rio demonstra a importância de uma normativa federal que padronize o uso da força pelas polícias em todo o país”, disse o ministro em nota.
‘Chantagem explícita’
Assim como Castro, Ronaldo Caiado chamou o texto de “presente de natal” ao crime organizado e afirmou que a medida promove um maior engessamento das forças policiais. Sobre o repasse às unidades da federação, Caiado subiu o tom:
“O decreto impõe aos estados que, caso não sigam as diretrizes do governo do PT para a segurança pública, perderão acesso aos fundos de segurança e penitenciário. Trata-se de uma chantagem explícita contra os estados, que acaba favorecendo a criminalidade”, disse.
Na mesma linha, Ibaneis Rocha, do Distrito Federal, caracterizou o decreto como intervenção federal. Segundo o titular do Distrito Federal, a segurança pública deve ser responsabilidade dos governos estaduais.
—Interferência total. Uma pena que o governo federal, ou melhor, o presidente Lula não saiba seu espaço. Quem faz segurança pública são os estados — disse à CNN Brasil.
Deputados ligados à bancada da bala incorporaram o coro dos governadores contra o decreto. Rodolfo Nogueira (PL-MS) anunciou que irá apresentar um projeto de lei para sustar o decreto, logo após o retorno das atividades legislativas, em fevereiro. Segundo ele, a medida do governo federal representa uma grave ameaça à segurança e favorece a criminalidade.
— Essa medida é mais um exemplo de como o atual governo está mais preocupado em combater a polícia do que o crime — disse Nogueira.
A reação foi seguida por outros colegas, como Sanderson (PL-RS), que afirmou que a medida é um entrave no combate ao crime.
Aumento da violência
Segundo o decreto, o governo irá oferecer capacitações sobre o uso da força para os profissionais de segurança pública, que deverão fazer treinamentos, obrigatoriamente, ano a ano. A pasta também terá o papel de “formular, implementar, monitorar e avaliar ações relacionadas ao uso da força que incluam diagnósticos, padronização de procedimentos, doutrina, capacitação e aquisições de equipamentos, entre outros aspectos para todas as forças de segurança do país”.
A criação de regras para uso da força ocorre em meio a episódios de abusos cometidos por alguns policiais militares de São Paulo. Dois deles acabaram sendo presos e outros 45 foram afastados das ruas.
A segurança pública no governo Lula tem despertado insatisfação com os governadores. Antes do decreto, o principal impasse se deu pela Proposta de Emenda à Constituição (PEC). Os governadores do Consórcio de Integração Sul-Sudeste (Cosud) foram contra.
“A segurança pública deve ser construída com base na colaboração, no respeito às diferenças regionais e no fortalecimento das capacidades locais, e não por meio de uma estrutura centralizada que limita a eficiência e amplifica a burocracia”, diz a Carta de Florianópolis, assinada por Jorginho Mello (SC), Cláudio Castro (RJ), Tarcísio de Freitas (SP) Romeu Zema (MG), Renato Casagrande (ES) e Ratinho Júnior (PR).
No fim de outubro, Zema e Jorginho Mello recusaram convite do presidente Lula (PT) para participar de reunião que discutiu o tema. Em ofício no qual justificou sua ausência, Zema detalhou pontos em que o Cosud queria alterações.
O consórcio acredita que poderia ser possível o compartilhamento de informações da tornozeleira eletrônica sem autorização judicial, caso haja violação do uso. Os governadores do Sul e do Sudeste também sugerem que membros de organizações criminosas sejam incorporados na Lei de Crimes Hediondos, prolongando suas penas. (Com Karolini Bandeira)
O novo ministério de Lula 3.0
Com os maus ventos da economia, Lula. preencheu o vazio do período de Festas e o início do recesso com a novidade de uma reforma ministerial. Como ela acabará, não se sabe, mas começou mal.
Paulo Pimenta, o ministro-chefe da Secom, deverá ser substituído pelo marqueteiro Sidônio Palmeira. Essa mudança parte da premissa de que o governo se comunica mal. É uma meia verdade. A outra metade está na falta de ações e de criatividade que marcaram o Lula 1.0. O pacote de contenção de gastos foi envenenado por bruxarias da ekipekonômika plantando as virtudes do confisco de parte do seguro-desemprego, sem ouvir o ministro do Trabalho.
No mundo da comunicação, a única novidade, com que Pimenta nada teve a ver, foi a constatação de que as fotografias postadas pelo Planalto sofrem uma discreta manipulação. Com a ajuda de filtros, Lula aparece sempre corado e fagueiro. Seus visitantes acabam cobertos por uma velatura cinzenta. Disso resultou que Fernanda Torres e Chico Buarque ficaram com uma aura vampiresca. Malvadeza.
Por enquanto, a principal mudança no ministério não se relaciona com um hierarca que Lula quer tirar, mas com o ministro da Defesa, José Mucio, que pediu para sair. Mucio e os três comandantes militares deram a Lula a joia da primeira metade de seu mandato.
Receberam tropas contaminadas pela presunção e pelo golpismo de um presidente que se julgava dono do “meu Exército”. Longe dos holofotes, aplainaram arestas e restabeleceram a disciplina. (Faça-se de conta que não existiu o vídeo impertinente da Marinha, retirado do ar em poucos dias.)
A saída de Pimenta quer dizer pouca coisa, mas o desembarque de Mucio tem grande significado. Como ele não fala, desconhecem-se as joelhadas que tomou. Pode-se intuir, contudo, que algumas delas partiram de companheiros palacianos.
Afora essas duas mudanças, a reforma ministerial de 2025 tem o contorno das anteriores. Nenhum nome da nova equipe tem a marca do mérito. De uma forma ou de outra, são figuras abençoadas (ou amaldiçoadas) pelo Centrão. Fazem parte de um bloco parlamentar para quem um ministério não é importante pelo que lá se pode fazer. O atrativo é o tamanho do orçamento.
A prova do pudim estará no destino da ministra Nísia Trindade, da Saúde. Nos últimos dois anos, ela se equilibrou, com uma equipe parcialmente aparelhada do PT. Um ministério arruinado por Bolsonaro durante uma pandemia com o general Eduardo Pazuello e o doutor Marcelo Queiroga pelo menos saiu das páginas policiais.
A cobiça de parlamentares em cima da Saúde nada tem a ver com o bem-estar da população. O que eles querem é o orçamento.
Durante o atual governo, o ministério produziu um edital para a compra urgente de 60 milhões de kits com escovas de dentes (com o logotipo do programa Brasil Sorridente), dentifrício e fio dental. Coisa de R$ 400 milhões. O Tribunal de Contas e o Judiciário suspenderam a gracinha.
Se é para mexer na Saúde (e no seu orçamento), a questão é saber quem entra. Um gafanhoto petista, que ralou um tempo na cadeia, defendia a ida do deputado Arthur Lira para a cadeira. Felizmente, até agora, Lira diz que não pensa nisso.
Relatório de 2020 do Dnit apontava fissuras em pilares, inclinações e rachaduras em ponte que caiu
Por Mariana Carneiro / O ESTADÃO DE SP
BRASÍLIA - Um relatório concluído pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) em 2020 apontava 19 tipos de danos estruturais na ponte que caiu no domingo, 22, entre os Estados do Tocantins e Maranhão. Duas pessoas morreram e catorze estão desaparecidas.
O relatório técnico, a que o Estadão teve acesso, reuniu informações e fotografias sobre o mau estado de conservação da ponte Juscelino Kubitschek, construída nos anos 1960.
Foram relatadas fissuras em 14 dos 16 pilares, nas paredes de travamento e nos blocos de fundação, além de falhas de concretagem e até inclinações observadas a olho nu nos reforços colocados nos pilares. O texto fala em “nível elevado de danificação da estrutura”, mas não menciona risco de colapso. O conteúdo do relatório foi revelado pelo site Metrópoles.
Relatório gerencial de infraestrutura rodoviária, que o Dnit mantém na internet, classifica como “ruim” o estado de conservação da ponte. Em uma graduação que vai de 1 a 5, em que o 5 é considerado excelente, a ponte JK aparece com 2.
Quatro anos depois da vistoria in loco, em 2024, o Dnit lançou um edital para contratar uma empresa para reabilitar a ponte ao valor de R$ 13,320 milhões. Não houve interessados.
“As condições atuais da Obra de Arte Especial (no jargão técnico, uma ponte) merecem atenção, pois verifica-se vibrações excessivas e desgaste visual de suas estruturas e do seu pavimento”, afirma o documento do Dnit que convocou a licitação, em maio deste ano.
Nesta segunda-feira, 23, procurado para comentar as informações sobre o estado de conservação da ponte, o Dnit informou que, entre 2021 e 2023, gastou R$ 3,5 milhões em um programa de manutenção de estruturas no Estado do Tocantins, que previam reparos em vigas, lajes e passeios. O órgão não detalhou, porém, o que foi feito na ponte JK.
A ponte ligava Aguiarnópolis (TO) a Estreito (MA). Agora, o Dnit informa que pretende gastar entre R$ 100 milhões e R$ 150 milhões para reconstruir uma ponte no local. Antes, terá que demolir o resto da estrutura da ponte que desabou, o que fará sob situação de emergência.
Vereador em Aguiarnópolis, Elias Cabral Júnior disse ao Estadão que os danos na ponte eram tão evidentes que poderiam ser constatados por uma criança. Ele gravava imagens da ponte quando ela caiu, neste domingo, 22.
“Era uma coisa que estava visível até para uma criança. Buracos com ferragens expostas, fendas, desnível nas junções. E a ponte balançava quando a gente passava de carro”, afirmou.
Brasil tem 727 pontes em mesma situação crítica de estrutura que caiu entre TO e MA
André Borges / FOLHA DE SP
A tragédia causada pela queda, na tarde de domingo (22), da ponte Juscelino Kubitscheck de Oliveira, na divisa do Tocantins com Maranhão, corre o risco de não ser um fato isolado, se a situação de sua estrutura for comparada à de muitas pontes federais do país.
A Folha fez um levantamento detalhado sobre a situação da infraestrutura de todas as pontes federais que são administradas pelo Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes). Os dados, atualizados até maio de 2023, revelam que 727 pontes em todo o país se encontravam nas categorias crítica ou ruim, sendo 130 delas na pior condição possível, e outras 597 na categoria ruim.
Isso significa que 12,5% das pontes brasileiras estão enquadradas em um destes dois cenários.
Ao todo, o órgão responde pela manutenção e fiscalização de 5.827 pontes nos 26 estados e no Distrito Federal. Esse dado se restringe a pontes, sem incluir outras obras como viadutos, túneis ou passarelas. O panorama expõe um cenário preocupante.
Conforme revelou a Folha, a ponte Juscelino Kubitscheck de Oliveira, que desabou, estava na categoria 2, que reúne pontes com estrutura em condição ruim. Na avaliação do Dnit, há cinco categorias de classificação sobre o estado das pontes federais, sendo 1-crítico; 2-ruim; 3-regular; 4-bom; e 5-ótimo.
O levantamento aponta 1.538 pontes na categoria regular. A categoria de estruturas em bom estado soma 2.220 pontes, enquanto a categoria mais alta (5), com nível ótimo de qualidade, é a realidade para apenas 67 pontes federais em todo o território nacional. Um volume de 1.275 pontes aparece como situação "não definida".
Os estados com maior quantidade de estruturas em situação crítica ou ruim são Ceará (77 pontes em estado crítico ou ruim), seguido por Pernambuco (60), Minas Gerais (59) e Pará (56). Se forem considerados os estados que mais concentram pontes em situação crítica, a lista é liderada por Minas Gerais (22), seguido por Bahia (18) e Ceará (16)
A classificação ruim indica que a ponte pode apresentar problemas estruturais ou funcionais que requerem atenção prioritária. Esses problemas podem incluir situações como danos no concreto, fissuras ou exposição de armaduras, falhas em fundações ou pilares ou desgaste em juntas de dilatação ou sistemas de drenagem, entre outros.
A Folha questionou o Dnit sobre eventuais pedidos de interdição de pontes que estejam em análise pelo órgão federal ou se houve pedidos desse tipo realizados ao longo de 2024. Não houve resposta até a publicação deste texto. Cabe às coordenações estaduais do órgão informar a sede sobre a necessidade de obras ou interdições emergenciais.
Ao ser informado sobre os dados de inspeção da ponte, o ministro dos Transportes, Renan Filho, disse que a pasta já tomou as medidas cabíveis para averiguar a situação. "Uma sindicância vai apurar causa e responsabilidade", afirmou o ministro à Folha.
A reportagem apurou que, provisoriamente, uma balsa fará o transporte de passageiros e de carros que precisem cruzar o rio Tocantins, entre as cidades de Aguiarnópolis (TO) e Estreito (MA). Caminhões com cargas terão de se deslocar por outras quatro rotas já informadas pela Polícia Rodoviária Federal.
O governo trabalha para que o serviço seja iniciado ainda nesta semana.
A ponte Juscelino Kubitscheck de Oliveira era uma das principais rotas de ligação entre os dois estados. É por ela que passa a Transamazônica (BR-230), que liga a região Nordeste à Amazônia. Nas proximidades da ponte também estão localizadas a Ponte Ferroviária do Estreito, que compõe os trilhos da Ferrovia Norte-Sul, e a hidrelétrica de Estreito, em operação no rio Tocantins.
Por meio de nota, o Dnit disse que, entre novembro de 2021 e novembro de 2023, manteve vigente um contrato de manutenção desta e de outras pontes do Tocantins, por meio do Programa de Manutenção e Reabilitação de Estruturas (PROARTE), no valor de R$ 3,5 milhões.
"Nesse período, foram realizadas em todas as OAEs (Obras de Arte Especiais, como são chamadas as pontes) do contrato, diversos serviços de reparos nas vigas, laje, passeios e pilares da estrutura", afirmou.
Segundo a autarquia, outro contrato de manutenção da BR-226/TO ainda está em vigência, até julho de 2026, que prevê a execução de serviços com o objetivo de melhorar a trafegabilidade e dar mais segurança aos usuários da rodovia.
"O Dnit informa, ainda, que em maio de 2024 lançou um edital, no valor de aproximadamente R$ 13 milhões, para a contratação de empresa especializada para elaboração dos estudos preliminares, projeto básico e executivo de engenharia e execução das obras de reabilitação da ponte que sofreu o colapso no último domingo (22). A licitação, no entanto, foi fracassada, sem que nenhuma empresa tenha vencido o certame", afirmou.
Na noite desta segunda-feira (23), subiu para 16 o número de pessoas desaparecidas na tragédia. Bombeiros dos dois estados confirmam ao menos uma morte, de uma mulher de 25 anos. Um homem de 36 anos foi resgatado com vida por pessoas próximas e deu entrada em um hospital com fratura na perna.
A Polícia Militar do Tocantins registrou o desaparecimento de duas crianças, de 3 anos e 11 anos, duas mulheres, um mototaxista e sua passageira, um motociclista, um motorista de um carro de passeio, três ocupantes de uma caminhonete e quatro motoristas de caminhão. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lamentou o acidente via redes sociais.
Governo Lula paga R$ 8,3 bi em 20 dias, e dezembro vira mês 'top 3' com mais emendas
Mateus Vargas / FOLHA DE SP
O governo Lula (PT) acelerou a distribuição de emendas e já atingiu a cifra de R$ 8,28 bilhões pagos em dezembro. O mês se tornou o terceiro com mais indicações parlamentares desembolsadas neste ano.
O Executivo ainda empenhou R$ 3,28 bilhões em emendas no mês —o empenho é a primeira etapa da execução e reserva o dinheiro para determinada ação. A liberação da verba foi retomada no fim do ano após meses de discussões e crise entre os Poderes sobre os critérios e a transparência dos repasses.
O governo também se comprometeu a quitar as emendas autorizadas no Orçamento para destravar as votações de interesse do Executivo, como o pacote de contenção de gastos discutido nesta semana no Congresso Nacional.
Desde janeiro, o governo quitou R$ 39 bilhões em emendas. Cerca de R$ 8 bilhões são de indicações feitas nos anos anteriores e que estavam inscritas nos chamados restos a pagar, incluindo R$ 9 milhões pendentes desde 2014.
No último dia 13, o governo pagou R$ 5,8 bilhões em emendas, maior valor liberado em um único dia neste ano.
Já as maiores cifras no mês foram pagas em maio (R$ 9,44 bilhões) e julho (R$ 9 bilhões), antes das eleições municipais. O ritmo de desembolsos caiu nos meses seguintes, quando as regras eleitorais restringem a liberação das emendas.
Ainda houve crises entre os Poderes sobre estas verbas no segundo semestre. O ministro Flávio Dino, do STF (Supremo Tribunal Federal), chegou a suspender a execução das indicações parlamentares por processos que questionavam a falta de transparência da distribuição das emendas. No último dia 10, o governo editou uma portaria com adequações nas regras de execução desta verba para destravar os empenhos e pagamentos.
Em dezembro, foram pagos cerca de R$ 3,2 bilhões das chamadas emendas "Pix", modalidade em que o parlamentar direciona o recurso diretamente ao cofre do estado ou município.
As emendas são uma forma pela qual deputados e senadores conseguem enviar dinheiro para obras e projetos em suas bases eleitorais e, com isso, ampliar seu capital político. A prioridade do Congresso tem sido atender seus redutos eleitorais, e não as localidades de maior demanda no país. As indicações parlamentares ainda estão no centro de suspeitas de corrupção em todo o país.
Dos R$ 49,16 bilhões em emendas orçamentárias indicadas em 2024, cerca de R$ 40,65 bilhões foram empenhados até a quinta-feira (19). Ainda há R$ 8,5 bilhões para encaminhar, mas R$ 1,3 bilhão está bloqueado —o que ainda pode ser revertido até o fim do ano.
É comum que parte dos empenhos de emendas fique concentrada nos últimos dias do ano. Em geral, os valores distribuídos nos primeiros meses são de transferências de verba para os cofres de estados e municípios, principalmente na saúde, enquanto o dinheiro para contratações de obras e maquinários é encaminhado mais tarde.
O Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, uma das pastas que distribuem asfalto e trator com emendas, ainda tem cerca de R$ 1,7 bilhão a empenhar —sem descontar os R$ 418 milhões bloqueados no órgão. A cifra representa praticamente metade das indicações parlamentares disponíveis no ministério, que também abriga a Codevasf e o Dnocs.
Já a Saúde, que concentra o maior volume de emendas (R$ 25,1 bilhões), tem cerca de 6,5% das indicações ainda livres, percentual que fica ainda menor se forem mantidos os bloqueios.
O Congresso, aliado ao governo, ainda tem burlado exigências de dar transparência aos autores das emendas, exigência do STF. Na terça-feira (17), a Casa Civil do governo Lula deu aval para uma manobra promovida por líderes de 17 partidos da Câmara, e revelado pela revista Piauí, que se qualificaram como os solicitantes de um amplo rol de emendas das comissões da Casa.
O valor empenhado até quinta-feira (19) é praticamente o mesmo encaminhado em julho. O mês com mais recursos empenhados foi junho, com R$ 13,8 bilhões.