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Josias de Souza
 

Colunista do UOL

23/12/2021 11h09

O Orçamento da União para 2022 prevê investimentos de R$ 44 bilhões. O governo nunca investiu tão pouco. No comando da análise e aprovação da lei orçamentária no Congresso, a oligarquia política reservou um montante praticamente igual para investir na sua própria sobrevivência política: R$ 44,3 bilhões. Isso inclui o fundão eleitoral (R$ 4,9 bilhões), o fundo partidário (R$ 1,1 bilhão), a renúncia tributária de emissoras de rádio e TV pela veiculação de propaganda de candidatos (R$ 738 milhões) e as emendas orçamentárias dos congressistas (R$ 37,6 bilhões).

O regime democrático, como se sabe, tem um preço. Entretanto, a destinação de um volume recorde de dinheiro público para o financiamento da atividade política é escandalosa, constrangedora e lesiva. Escandaliza porque a fome o desemprego indicam que o país tem outras prioridades. Constrange porque a verba pública é direcionada para candidatos que condenam o eleitor a optar entre o lamentável e o impensável. Lesa porque o contribuinte paga caro por uma democracia feita de três Poderes e 213 milhões de impotências.

Promovido pelos dirigentes partidários, o rateio das verbas eleitorais virou uma ação entre amigos. Os maiores beneficiários são os próprios donos das legendas e quem já dispõe de mandato. Isso eterniza o atraso, inibindo a renovação. Quanto às emendas enganchadas no orçamento federal, a maioria dos congressistas utiliza a verba para comprar a simpatia dos prefeitos que se engajarão nas suas campanhas.

Sob Bolsonaro, surgiram as emendas de relator, que pioraram o soneto. No ano eleitoral de 2022, elas custarão R$ 16,5 bilhões. São distribuídas sem transparência num cercadinho VIP que inclui a nata do centrão e oposicionistas que têm o diâmetro do cérebro inferior ao do seu bolso. Juntos, os fundos e as emendas transformam as eleições brasileiras numa loteria sem prêmio.

Os presidenciáveis reagem à anomalia com um silêncio que soa como cumplicidade. Lula e Bolsonaro, primeiro e segundo colocado nas pesquisas, negociam alianças partidárias com as mais ricas caixas registradoras, acima de R$ 1 bilhão.

'Terceira via teria de tirar votos de Lula ou Bolsonaro’, diz Márcia Cavallari, diretora do Ipec

Bernardo Mello / o globo

 

RIO — A diretora do Ipec — instituto de pesquisa que sucedeu o Ibope —, Márcia Cavallari, vê pouco espaço para candidatos de centro atraírem eleitores que votam em branco e nulo. Segundo Cavallari, as pesquisas indicam que, para crescer, o candidato da terceira via tem que tirar votos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou do presidente Jair Bolsonaro (PL). A diretora do Ipec também afirma que muitos eleitores estão hoje com Lula por não verem outra alternativa a Bolsonaro e que a pauta anticorrupção perdeu fome para outros problemas, como a fome e a miséria. Leia a entrevista:

Retrospectiva de 2021 em frasesrelembre as declarações que marcaram o ano

A pesquisa do Ipec feita em dezembro mostrou que eleitores mais pobres e moradores da periferia que votaram em Bolsonaro são os que mais mostram intenção de migrar para Lula. O que explica esse movimento?

De modo geral, Bolsonaro está perdendo um eleitor que já foi de Lula e do PT em um momento anterior. Com tudo o que mobilizou a campanha de 2018, que teve um forte apelo anticorrupção e um mote de ir contra o status quo, esse eleitor saiu do PT e foi para o Bolsonaro. Agora, ele retorna às origens, de certo modo.

Esse eleitorado já está cristalizado com Lula, que hoje tem ampla vantagem nas intenções de voto?

Talvez esse eleitor esteja hoje com Lula porque não vê outra alternativa a Bolsonaro. A pesquisa serve para retratar o momento, não para projetar o que acontecerá lá na frente. Lula hoje não está sendo tão atacado como tende a ser na campanha, quando resgatarão com mais força assuntos como a Lava-Jato e os desvios na Petrobras.

Elio Gaspari: A insatisfação do privilégio a policiais

Qual deve ser o tamanho da pauta anticorrupção na campanha?

Só a bandeira da corrupção não será suficiente para um candidato crescer, até porque essa pauta perde força hoje frente a outros problemas. Fome e miséria aparecem hoje entre os cinco principais problemas do país para os eleitores, algo que não acontecia desde 2002 nas pesquisas. Não é que o brasileiro não se importe com corrupção, mas um discurso monotemático nessa área não bastará.

Diante do desempenho estável de Lula e Bolsonaro, há espaço para uma terceira via?

O desafio atual da terceira via, que não é simples, é ter votação mais alta do que Bolsonaro. Vamos supor que o mínimo dele seja 19%, que é hoje seu patamar de aprovação. Então, esse candidato da terceira via teria que ultrapassar este número. Só que, somados, todos os outros candidatos marcaram 17% na pesquisa de dezembro. E há pouco espaço para crescer no eleitorado que vota em branco ou nulo, que hoje está em 9%. Este é o patamar de brancos e nulos que historicamente aparece na eleição. Ou seja, para crescer, o candidato da terceira via tem que tirar votos de Lula ou de Bolsonaro.

Bolsonaro e Lula têm alimentado uma polarização entre si. Isto se reproduz em algum estrato do eleitorado?

Lula é muito mais forte no Nordeste, o que pode dar uma certa clivagem geográfica, similar ao que ocorreu em 2014, quando a polarização entre PT e PSDB ficou mais regional do que social. Mas creio que a questão central em 2022 será a clivagem social, que de certo modo veio acompanhando as últimas eleições presidenciais. Inclusive em 2018, em meio a esse apelo da bandeira da corrupção, (Fernando) Haddad teve melhor desempenho entre os menos escolarizados e com menor renda. Hoje, o voto de Bolsonaro aumenta à medida que crescem as faixas de renda, chegando ao mesmo patamar de Lula entre os mais ricos. Lula, por sua vez, tem mais votos quanto menor a renda familiar. As eleições de 2006 e 2010 tiveram desenhos semelhantes.

As pesquisas do Ipec no ano mostram que a avaliação positiva do governo vem caindo — de 28% em fevereiro, chegou a 19% em dezembro —, mas o voto em Bolsonaro segue estável, em torno de 20%. Isso significa que esse é o piso do presidente?

Há uma diferença muito pequena, no caso do Bolsonaro, entre pesquisa espontânea e estimulada. Sai de 20% na espontânea (quando o entrevistado só é perguntado em quem votaria) para 21% a 23% na estimulada (quando é apresentada uma lista de opções). Bolsonaro tem um núcleo duro que torna bem difícil que caia abaixo do patamar atual. É um voto consistente, de pessoas que avaliam o governo como ótimo e bom, aprovam sua maneira de governar e dizem confiar em Bolsonaro. São eleitores cujo apoio não se deve a um fator específico, mas sim porque comungam das ideias dele. O próprio Lula também varia pouco, de 40% na espontânea para 48% na pesquisa estimulada. Normalmente, a um ano da eleição, você tem um número maior de indecisos, mas agora as pessoas já têm falado de cara em quem pretendem votar.

Com um cenário econômico adverso, há perspectiva de crescimento para Bolsonaro?

O que temos visto nas pesquisas é que a preocupação da população é com a sobrevivência, em como vai lidar com a inflação e o aumento do custo de vida em geral. Bolsonaro, em tese, pode melhorar se puder atenuar esse problema, e também com a entrada do Auxílio Brasil, que ainda é muito recente para ter seu impacto medido nas pesquisas, mas é preciso ver também o quanto e como conseguiria crescer. Em setembro de 2020, ele estava num momento de queda e se recuperou com o auxílio emergencial de R$ 600. Quando cortou o valor e a pandemia recrudesceu, caiu de novo.

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Presidente gasta bilhões para tentar salvar a reeleição

Com a popularidade em queda nas pesquisas, o presidente Jair Bolsonaro prepara um pacote de medidas populistas para tentar salvar sua reeleição. O preço será amargo e vai ser pago por todos os brasileiros: custará mais de R$ 90 bilhões aos cofres públicos – valor que seria suficiente para cobrir o rombo de R$ 42 bilhões previstos para as contas da União em 2022. A estratégia prevê novos benefícios aos mais pobres, como o Auxílio Brasil e o vale-gás, linhas de créditos e reajustes salariais para categorias aliadas do Planalto, com uso político dos bancos públicos.

O Planalto quer usar o Fundo de Garantia dos Trabalhadores (FGTS) para financiar um novo plano de microcrédito da Caixa Econômica Federal e ajudar pessoas com o nome sujo no SPC e no Serasa. Serão cerca de R$ 13 bilhões do fundo, patrimônio dos trabalhadores e principal financiador da habitação no País, remanejados para garantir empréstimos de até R$ 4 mil a cerca de 20 milhões de pequenos empreendedores com o nome negativado. O Centrão, no entanto, quer mais: tenta cavar R$ 30 bilhões no Orçamento para ampliar o número de beneficiados.

DE OLHO NO VOTO João Roma, minitro da Cidadania: governo planeja pagar benefício de R$ 400, mas o Centrão quer aumentar esse valor (Crédito:Max HaacK)

“O governo Bolsonaro é populista desde o seu início. As linhas de crédito dos bancos públicos têm ligação com a base do presidente no Congresso. Lá na ponta, o financiamento tem impacto direto no deputado federal. Isso será usado para fazer marketing do governo na campanha”, afirma Paulo Baia, professor de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Bolsonaro escalou o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, para recuperar a imagem do governo no Nordeste, onde o mandatário perde força dia após dia. A Caixa ampliou a atuação na região e aumentou a fatia de operação de crédito para os nordestinos. O banco também tenta viabilizar crédito e perdão de devedores que estão inadimplentes no Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), programa que libera empréstimos a estudantes de escolas particulares.

Bolsonaro anunciou ainda que vai usar a Caixa para dar privilégios a policiais. Uma linha de crédito imobiliário especial concederá R$ 100 milhões para que profissionais da segurança pública possam financiar imóveis. O Banco do Brasil também destinará R$ 10,5 bilhões para o financiamento rural, com o objetivo de ajudar grandes produtores do agronegócio. “Bolsonaro demorou demais para fazer isso. Faltou competência e criatividade. Agora só pensa em 2022 porque está caindo nas pesquisas”, disse o deputado Fausto Pinato, deputado federal do (PP-SP), partido do Centrão.

“O governo federal é populista desde o início. As linhas de crédito têm ligação com a base no Congresso” Paulo Baia, professor de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

As medidas populistas de Bolsonaro não param por aí. O Auxílio Brasil, coordenado pelo ministro da Cidadania, João Roma, só se tornou viável porque o governo deu um calote nas dívidas judiciais por meio da PEC dos Precatórios. Com isso, o presidente terá R$ 54,4 bilhões para pagar a bolsa de R$ 400 à população carente. Para tentar reverter a rejeição a Bolsonaro, que já bate na casa dos 55%, Valdemar Costa Neto, líder do PL, partido do presidente, quer aumentar o valor para R$ 600 – o que traria mais caos para as já desarrumadas contas públicas. O governo federal também reservou R$ 1,9 bilhão a fim de cobrir as despesas do vale-gás, por meio do qual o Planalto pagará a metade do valor da conta de gás das famílias de baixa renda. Isso tudo sem contar os bilhões em verbas destinadas a parlamentares por meio do orçamento secreto.

“Faltou competência e criatividade: Bolsonaro só pensa em 2022 porque está caindo nas pesquisas” Fausto Pinato, deputado federal (PP-SP)

QUADRILHA Pedro Guimarães, presidente da Caixa, dança em festa junina: benefícios a aliados e linhas de crédito com critérios políticos (Crédito:Divulgação)

O pacote eleitoral engloba ainda o reajuste salarial do funcionalismo público. Como anunciou reajuste aos policiais, Bolsonaro sofre pressão de outras categorias. A tendência é que pelo menos R$ 2,8 bilhões sejam gastos para atualizar a folha dos servidores no ano que vem. Em outra frente, o mandatário prorrogou a isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) a taxistas e pessoas físicas na compra de carros novos – com a medida, o governo federal deixará de arrecadar R$ 1,8 bilhão. Outra promessa no radar do Planalto é o bolsa- caminhoneiro, benefício que deve custar R$ 4 bilhões aos cofres da União.

“Essa linha populista bate de frente com a política econômica do Banco Central e de Paulo Guedes. O presidente do BC vem aumentando os juros para conter a inflação, mas aí o crédito fica mais difícil”, afirmou. “Se a política econômica torna o crédito mais difícil, fica nítida a estratégia populista dos bancos públicos, que rompem essa barreira de financiamento com créditos especiais. E faz uma linha de crédito política para fortalecer sua base de deputados estaduais, federais e senadores. Já estamos em campanha eleitoral.”

ISTOÉ / Ricardo Chapola

De Bolsonaro à terceira via: para onde vai a direita nas eleições de 2022

Por Alessandra AzevedoCarolina Riveira / EXAME

 

Líder em todas as pesquisas de intenção de voto recentes, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aparece como a única opção viável da esquerda para as eleições presidenciais de 2022 até agora. Já a direita está fragmentada. Entre os pré-candidatos, ainda falta um nome ou uma chapa de peso que tenha tração para disputar com o petista. 

 

Por enquanto, a direita se divide entre um lado mais radical, que conta com apoiadores fiéis do presidente Jair Bolsonaro (PL) e parte dos simpatizantes do ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro (Podemos), e alguma opção que possa vir da chamada terceira via. No centro e à direita, estão João Doria (PSDB), Rodrigo Pacheco (PSD) e Simone Tebet (MDB), por exemplo.

No cenário atual, os nomes mais competitivos para disputar com Bolsonaro o eleitorado de direita são Moro e Doria, destaca o gerente de análise política e econômica da Prospectiva Consultoria, Adriano Laureno. Embora considere cedo para avaliar o potencial de crescimento de cada um, ele não descarta que um desses dois consiga despontar e até chegar a um patamar que desbanque o presidente no campo da direita. 

No caso de Moro, no entanto, será preciso mais estrutura de campanha. Filiado ao Podemos, um partido menor do que o dos adversários, o ex-juiz e ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro precisará de mais tempo de TV e verbas para conseguir angariar votos tanto da centro-direita quanto da direita mais radical. 

“É central na estratégia do Moro uma aliança, por exemplo, com o União Brasil ou com Doria ou Pacheco. Ele precisa de mais palanques nos estados e de base eleitoral para competir com Bolsonaro, que, dessa vez, vai ter tudo isso”, afirma Laureno. Para ele, Moro entra na disputa como candidato de direita, mas não tão extrema como Bolsonaro. 

Dizer que Moro é de centro é “forçar a barra”, acredita Laureno. “As falas políticas recentes dele o colocam na direita tradicional”, considera. Já para a doutora em ciência política Carolina Botelho, pesquisadora da Universidade Mackenzie, Moro está na extrema-direita, assim como Bolsonaro.

Na visão de Botelho, a direita hoje está rachada entre a extrema-direita, representada pelo presidente e pelo ex-juiz, e a direita democrática. “Bolsonaro e Moro vieram do mesmo grupo, que apenas foi dividido em dois por disputa política e projeto de poder. Estavam juntos até o ano passado”, lembra.

Bolsonaro e Moro, juntos, contam com 37% das intenções de voto quando são citados os nomes dos candidatos — 27% vão para o primeiro e 10% para o segundo, pela pesquisa EXAME/IDEIA mais recente, divulgada em 10 de dezembro. Os dois, somados, têm exatamente o mesmo percentual que diz que votaria em Lula, se as eleições fossem hoje.

Mesmo se for considerado opção de terceira via, Moro ainda não se consolidou como uma alternativa forte o suficiente para superar Bolsonaro no campo da direita. Embora conte com 10% das intenções de voto quando são listados os candidatos, apenas 2% dizem que votarão no ex-juiz quando não são apresentados os nomes, segundo a pesquisa EXAME/IDEIA.

Com uma opção de esquerda e duas de direita liderando as pesquisas, a dificuldade da centro-direita e da direita mais moderada será achar um nome competitivo, em um cenário em que nenhum, até agora, tem tido grande projeção. O quarto pré-candidato que se destaca na pesquisa estimulada é o de Ciro Gomes (PDT), com 6%, seguido de Doria, com 4%.

No primeiro turno, a direita menos radical tende a votar em alguma das opções postas na lista da terceira via. Além de Moro, Doria, Tebet e Pacheco, estão colocadas as pré-candidaturas de Alessandro Vieira (Cidadania), Luiz Felipe D'Ávila (Novo) e André Janones (Avante), o que evidencia o nível de fragmentação desse grupo.

Ciro Gomes, apesar de estar na esquerda, pode atrair alguma parcela de centro-direita ou da direita mais moderada. Recentemente, o pedetista tem se engajado na busca desses votos, observa Laureno. “A estratégia dele, vendo que Lula está consolidado em primeiro na preferência da esquerda, é tentar votos mais de centro. Ele fez acenos à direita, mas é difícil dissociá-lo da imagem de alternativa à esquerda”, diz.

“A esquerda se concentra no Lula, que hoje é o símbolo maior. Já a direita, na verdade, pode ser chamada de ‘as direitas’, porque está bem dividida”, avalia o cientista político André César, da Hold Assessoria Legislativa. Segundo ele, tudo indica que parte dos candidatos que hoje estão entre Lula e Bolsonaro vão se organizar em chapas próprias, o que pode mudar o curso das eleições.

Moro, por exemplo, pode realmente se juntar a Doria, e o mais provável é que o ex-juiz assuma a cabeça de chapa. “A direita tradicional, que pode se acoplar em alguma outra candidatura, quer se desvincular dessa imagem radical. Vejo Moro e Doria como as opções mais viáveis hoje no mercado eleitoral nesse campo", diz César.

Para o cientista político da Hold, a direita tradicional não migra mais para Bolsonaro, como aconteceu em 2018, com o apoio de Doria ao atual presidente, por exemplo. “Isso não deve se repetir. A direita menos radical e a centro-direita se descolaram de tal forma de Bolsonaro que hoje não há o mínimo diálogo”, afirma.

No segundo turno, porém, a situação é mais difícil para a direita tradicional, caso não emplaque um candidato forte. Se chegar um momento em que será preciso escolher entre Bolsonaro e Lula, como indicam as pesquisas, a extrema-direita irá, naturalmente, para o atual presidente. Mas a direita moderada, apesar de todas as críticas aos governos petistas, pode embarcar na candidatura de Lula, principalmente se o vice for de centro-direita ou de direita.

É nesse cenário que uma chapa com o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin poderia beneficiar o ex-presidente. “No primeiro turno, tem opções para a direita. Ela pode querer não embarcar em uma chapa Lula-Alckmin. Mas, no segundo turno, tem peso simbólico a união de dois grupos que até pouco tempo estavam em lados opostos, mas que se juntaram para fazer frente ao que representa Bolsonaro”, acredita Botelho.

O segundo turno das eleições tende a ser uma disputa de rejeições. Resta saber como a direita se posicionará nesse contexto. Embora a rejeição de Bolsonaro, hoje, seja maior do que a de Lula, esse quadro pode mudar. "Por enquanto, Lula está em um momento de lua de mel, não está sendo tão atacado ainda, e Bolsonaro está no pior momento. O antipetismo pode aflorar na campanha", ressalta Laureno.

 

PARTE 2- Sete dos dez governadores já reeleitos iniciam 2022 sem candidato definido à sucessão

No Ceará, o governador Camilo Santana (PT) vem sinalizando disputar o Senado e apoiar um candidato ao governo do PDT, sigla do presidenciável Ciro Gomes, seu aliado. O PT, que estimulou a candidatura de Camilo, resiste a um palanque com Ciro, devido às críticas a Lula.

O entrave é causado também pela ausência de sucessor natural no PDT. O senador Cid Gomes (PDT-CE), irmão de Ciro, descarta concorrer. Ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio tem apoio interno, mas outros pedetistas, como a vice-governadora Izolda Cela, tentam se cacifar. Em 2020, quando deixou para a última hora a escolha do candidato a prefeito de Fortaleza, o PDT teve dificuldades para vencer, com Sarto Nogueira, o segundo turno contra Capitão Wagner (PROS), hoje pré-candidato ao governo pela oposição.

— Há uma alternância no Ceará: o senador Cid Gomes governou por dois mandatos, depois veio Camilo, pelo PT, e agora entendo que a vez é do PDT — afirma o presidente do PDT, Carlos Lupi.

A equação envolve ainda uma disputa entre Camilo e Wagner para atrair o União Brasil, formado pela fusão entre DEM e PSL, a seus respectivos palanques. Aliados de Wagner já assumiram o PSL, enquanto o DEM é dirigido pelo senador Chiquinho Feitosa, suplente em exercício na vaga do senador licenciado Tasso Jereissati (PSDB). Próximo a Camilo, Tasso tem dito que não disputará novo mandato, mas abriu caminho para o suplente tentar se fortalecer. Antes de assumir como senador, Feitosa planejava tentar vaga na Câmara.

Bases fragmentadas

No Sergipe, a indefinição na escolha do sucessor de Belivaldo Chagas (PSD) já gerou uma fissura na base. O PT apresentou como pré-candidato ao Executivo o senador Rogério Carvalho, que tem feito críticas a Belivaldo. A cúpula do PSD tenta emplacar a candidatura do deputado Fábio Mitidieri, mas há movimentações nos bastidores por outros postulantes, como o prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira (PDT).

A dificuldade para chegar a um denominador comum ameaça ainda fragmentar as bases de Flávio Dino (PSB), no Maranhão, e Eduardo Leite (PSDB), no Rio Grande do Sul. Em ambos os estados, a escolha do sucessor encontra-se afunilada entre duas opções, mas movimentos recentes abrem pouca margem para concessões.

Leite, que se diz contrário à reeleição, filiou ao PSDB seu vice, Ranolfo Vieira Jr., lançado pelo partido como pré-candidato ao governo. O MDB, também da base, reivindica o apoio do governador a seu candidato, com a hipótese de enfrentar o PSDB caso não haja acordo. Em disputa interna para definir seu nome ao Executivo estadual, o MDB tem no deputado federal Alceu Moreira e no presidente da Assembleia Legislativa, Gabriel Souza, nomes mais próximos a Leite, o que facilitaria uma composição. Uma ala do partido, contudo, tenta convencer o ex-governador José Ivo Sartori a concorrer.

No Maranhão, há uma disputa velada desde 2020 entre o senador Weverton Rocha (PDT-MA) e o vice-governador Carlos Brandão (PSDB) pelo posto de sucessor. Como Dino deve deixar o governo para disputar o Senado, Brandão assumirá o cargo por ao menos seis meses. Weverton, por outro lado, tem como trunfo a aproximação com Lula, que também estará no palanque de Dino.

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