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Sete dos dez governadores já reeleitos iniciam 2022 sem candidato definido à sucessão

Bernardo Mello  o globo

 

RIO — Sete dos dez governadores que já estão em segundo mandato e não podem disputar a reeleição entrarão em 2022 sem candidato definido para a sucessão. Os entraves, causados tanto por influência do cenário nacional quanto pela dificuldade de formar candidaturas que sejam vistas como competitivas por aliados locais, têm de ser resolvidos até abril, prazo máximo para filiações partidárias e desincompatibilização de agentes públicos que queiram se candidatar. Em estados como Pernambuco, Ceará e Alagoas, lideranças locais estão em compasso de espera pela definição dos próprios governadores sobre a possibilidade de renunciar ao cargo atual, no início do ano, para disputar o Senado.

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O número total de governadores que abrirão espaço a sucessores deve chegar a 12, já que dois chefes de Executivo em primeiro mandato — João Doria (PSDB), em São Paulo, e Eduardo Leite (PSDB), no Rio Grande do Sul — dizem não ter o objetivo de se reeleger.

Em Pernambuco, o entrave combina questões nacionais, locais e a hipótese, vista como cada vez mais remota por aliados, de que o governador Paulo Câmara (PSB) dispute o Senado. Como o PSB já decidiu que terá candidato ao governo, partidos aliados como PT e Republicanos esperam ser contemplados com a vaga de senador na chapa. A cadeira em disputa no Senado é ocupada por Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), cujo filho, Miguel Coelho (DEM), prefeito de Petrolina, é pré-candidato ao governo.

Para o PSB, o apoio do PT a seu candidato em Pernambuco é condição para um acordo nacional entre as siglas. O ex-presidente Lula (PT), porém, acenou com o endosso a candidaturas majoritárias do senador Humberto Costa ou da deputada federal Marília Arraes, ambos do PT, o que contraria os planos de Câmara.

O ex-prefeito do Recife Geraldo Julio (PSB), hoje secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, era tido como nome natural para a disputa no estado, mas tem se afastado do debate interno. Outro nome cogitado é o da presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Ana Arraes, que pode antecipar para março sua aposentadoria na Corte. Uma eventual candidatura acrescenta questões familiares ao entrave partidário: tia de Marília e avó do atual prefeito do Recife, João Campos, a presidente do TCU repreendeu publicamente o tom bélico da disputa eleitoral entre os primos em 2020.

Ela também já defendeu mais de uma vez o filho Antônio Campos, o Tonca, rompido com a cúpula local do PSB, e que apoiou Marília no segundo turno da capital pernambucana. Pela posição de antiguidade na família, a movimentação de Ana Arraes é tratada com cautela. O prefeito do Recife, por exemplo, desconversa quando perguntado sobre a hipótese de uma chapa liderada pela avó.

— Tenho relação de neto. Pelo exercício da presidência do TCU, ela hoje é vedada de fazer política — afirma Campos.

Consenso entre rivais

Em Alagoas, Renan Filho (MDB) hesita em renunciar para concorrer ao Senado depois que perdeu seu sucessor natural. O vice, Luciano Barbosa (MDB), decidiu disputar a prefeitura de Arapiraca em 2020, à revelia do clã Calheiros, e se elegeu. Se o governo ficar vago, a Assembleia Legislativa elege um mandato-tampão. O presidente da assembleia, Marcelo Victor (Solidariedade), tem um acordo eleitoral costurado com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), adversário dos Calheiros no estado e que apoiou a candidatura de Barbosa em Arapiraca.

Para se viabilizar ao Senado, onde pode se unir ao pai, o senador Renan Calheiros, e evitar que o governo caia nas mãos da oposição, Renan Filho costura uma candidatura de consenso. O nome do deputado estadual Paulo Dantas, que é do MDB, de Renan, e tem boa relação com Lira e Victor, tem sido levado às conversas. Parlamentar de primeiro mandato, o próprio Dantas vê como um ativo a chance de ser candidato consensual entre rivais locais.

— Tenho ótima relação com o governador e com Arthur (Lira). Somos um estado pobre, pequeno, então o caminho é buscar diálogo e moderação — diz Dantas.

 

Também existe o eleitor corrupto

É comum falar em políticos corruptos. No entanto, pouco se fala sobre o "eleitor corrupto". Afinal, todo político foi eleito por determinada quantidade de votos suficientes para sua escolha, ainda que por quóruns/quocientes que podem ser aperfeiçoados.

 

Importante destacar que o crime de corrupção eleitoral está definido no artigo 299 do Código Eleitoral, que prevê a figura do corruptor, bem como a do corrompido. Logo, é uma forma diferente da adotada no Código Penal em que o crime do corruptor é previsto em artigo/capitulação penal diferente da prevista para o corrompido (artigos 317 e 333 do Código Penal). Um dado interessante é que no caso dos crimes de corrupção, tanto comum, como o eleitoral, não incluem a figura do verbo "entregar", ou seja, se o candidato ou servidor público pede vantagem, e a pessoa entrega a mesma não é considerado como "dar" (ato espontâneo). Neste caso, o cidadão não cometeria crime.

 

Porém, o crime de corrupção eleitoral tem uma delimitação temporal e conceitual bem restrita, ou seja, mais próximo às eleições e voltado exclusivamente para compra de voto. O crime de corrupção eleitoral, não é necessariamente crime de corrupção política (vantagem política). Nem se pode confundir o crime de corrupção eleitoral, com o de boca de urna, pois este não precisa ter uma vantagem expressa, embora tenha um limite temporal ainda mais restrito, pois ocorre apenas no dia da votação, a partir da meia noite.

 

Outro aspecto é que para a corrupção eleitoral a vantagem não precisa ser apenas financeira, pode ser um cargo, pode ser de natureza sexual, ou de mero espaço político, ou seja, qualquer vantagem indevida.

 

No entanto, pouco se fala sobre a estrutura de como se faz compra de votos. Na prática o modelo predominante tem se dado da seguinte forma: a venda de votos é realizada de forma estratégica e com participação ativa do eleitor. Em documentos apreendidos em investigação foi identificado que os valores pagos como corrupção variam de R$ 50,00 a 100,00 para o eleitor corrupto, e para os líderes locais em torno de R$ 200,00, ou seja, um valor até pequeno. Particularmente achava que o valor de venda era maior. Geralmente a compra é feita nos dias próximos às eleições (quanto mais próximo maior fidelidade do eleitor corrupto).

 

Em alguns casos também feita com fornecimento de combustível ou pagando para usar adesivos em veículos, por exemplo. No entanto, o que tem mais impacto é o pagamento na véspera da eleição. Este modelo cria um elo entre eleitor corrupto e candidato corrompido, uma espécie de ética reversa (antiética).

 

Observa-se que geralmente o candidato aproxima-se do eleitor fazendo propostas de cunho mais coletivo. No entanto, quase sempre, em mais de 90% dos casos, o eleitor é quem inicia o seguinte diálogo: "mas isto que você está falando é para todos, eu quero saber o que você propõe para mim e minha casa". E continua o eleitor: "eu preciso de cerveja para aniversário do meu filho ou também pedidos de pneus, pagamento de contas, materiais de construção, emprego em órgão público (mas deixam claro que querem o emprego, ou status, mas sem trabalhar) e outros similares". Geralmente, o candidato registra o pedido e pode atender posteriormente, ou não, depende do controle de "fidelidade". Alguns candidatos tentam ser politicamente corretos e alegam sorrindo que isto é crime e que não podem atender. No entanto, o eleitor responde, em resumo: "Ora, mas todos fazem isso, não tem cadeia para prender todo mundo".

 

A medida faz sentido, inclusive eleitores criminosos têm tratamento especial e diferenciado, pois quando presos no dia da eleição, ficam em ginásios, fóruns ou similares, em vez de serem conduzidos ao presídio e são liberados automaticamente ao final da eleição, sem nem mesmo pagarem fiança ou cumprirem outra medida cautelar. Este tratamento diferenciado não faz o menor sentido e nem tem previsão legal, mas é feito com naturalidade pelo sistema jurídico.

 

Por outro lado, não raro é comum ver candidatos de "primeira viagem" começarem a chorar para conhecidos, em virtude do desencanto com o eleitor, pois o candidato realmente acreditava em propostas coletivas e ficou constrangido e decepcionado com a atitude do eleitor que iniciou uma barganha.

E em razão disso, muitos prováveis e potenciais candidatos desistem até mesmo de tentar candidatar, pois desiludem com o eleitor.

 

E não se trata de vitimismo para justificar e dizer que pobre tem nesta oportunidade um momento para conseguir ser ouvido. Afinal, o que varia por classe social é a natureza do pedido, pois pobre pede menos, e classe média pede emprego no setor público (mas com muito pouco trabalho) e se for classe alta pede um contrato empresarial (até faz doações para a campanha por "acreditar nas propostas").

 

Um outro ponto que alguns candidatos mais experientes falam é que o apoio mais caro, se for eleito, é dos apoiadores que não receberam pagamentos durante a campanha. Pois depois da eleição, se o candidato apoiado foi eleito, este "apoiador voluntário" acredita que foi o responsável pela eleição e deseja tudo, e ainda faz chantagens veladas ou até diretas mesmo.

 

Para atender aos pedidos do eleitor corrupto durante a eleição é preciso haver uma certa rede de investigação. Logo, líderes de bairros ou de associações identificam quem seria "fiel" para receber os valores e votar. Mas, como saber se cumpriu a promessa? Isto não é tarefa fácil. Mas, citando o caso de uma eleição municipal como exemplo. O candidato a prefeito terá votos em todas as urnas, o que seria difícil de comprovar a fidelidade corruptiva do eleitor. Então mede-se pelo voto do candidato a vereador, por isso, a compra de votos tem que ser casada entre candidato a vereador e prefeito, onde presume-se que se o candidato a vereador teve votos na urna X, então também o eleitor votou no candidato a prefeito. Inclusive, quanto mais votos tem o candidato a vereador maior a possibilidade de receber mais recursos para pagar as despesas de campanha.

 

No entanto, o curioso é que quase nunca a proposta de corrupção parte do candidato, e sim, do eleitor.

 

Além disso, são feitas pesquisas não registradas na Justiça Eleitoral para identificar onde há votos favoráveis e contrários, os endereços e dados dos eleitores são repassados, sem autorização dos eleitores, para aliados políticos, e fingindo ser uma pesquisa, fazem é uma investigação ilegal, inclusive para identificar indecisos.

 

Temos também aquela compra de votos mais sútil, na qual os cidadãos ficam reféns de serviços públicos sem um critério objetivo de atendimento, e então os políticos usam esta espécie de "fura fila" para manter o eleitor cativo. No entanto, este cidadão/eleitor não se preocupa em melhorar o serviço em si, pois basta ser atendido individualmente (predador social) e não importa o outro, logo o serviço continua ruim, em um círculo vicioso.

Além disso, há programas sociais, que não exigem um esforço pessoal, e acabam sendo uma moeda permanente de barganha e dependência que também gera voto, em que o eleitor acomoda-se em um círculo vicioso.

O que impressiona é o descaso e descompromisso do eleitor com a importância do voto, e depois quer reclamar dos serviços públicos estatais, embora sempre tenha como visão "mais Estado". Este é um paradoxo da "cabeça do brasileiro", pois critica Estado, mas sempre vê como solução "mais Estado", o que decorre provavelmente até mesmo de aspectos religiosos de determinada religião que critica o lucro, ainda que decorrente do trabalho. Além disso, e com base ainda no esteio tecnocrático também fortalece a visão de "servidores públicos" não são ambiciosos e não visam lucro, apesar de carreiras públicas terem salários maiores que na iniciativa privada.

 

Mas, este descaso com o coletivo e com o próximo também está em classes sociais mais abastadas, não se trata de apenas pobreza e falta de ensino formal. Em determinado condomínio fechado de classe média a preocupação em grupos de rede social é com furtos de orquídeas e também fezes de cachorros nas portas das residências, mas praticamente nada se preocupam com as áreas de uso comum, principalmente se foram as áreas verdes/ecológicas. As áreas comuns destinadas a esportes até há uma preocupação maior, embora bem menor que o espaço do terreno da residência em si. Esta pequena abordagem demonstra um indicativo forte do descaso do eleitor brasileiro com as questões coletivas e de interesse macro, e isto reflete na eleição.

 

As dificuldades para se combater a corrupção eleitoral são enormes até mesmo pelo fato de que nos Tribunais Eleitorais há advogados, juízes temporários, mas não há promotores, o que acaba violando a paridade de armas, mas isto é pouco debatido.

 

Em outro giro, registra-se que já foi informado ao TSE que a figura de fiscais de partido e até mesmo das formiguinhas estão sendo meio de compra de votos, pois diluem a fiscalização e muitos não estão trabalhando. No entanto, o corpo técnico do TSE informou que não tem estrutura para fiscalizar. Porém, foi rebatido que basta exigir que o candidato /partido cadastre seus fiscais e os "formiguinhas" no sistema antes do dia da eleição e que este dado fique público e de fácil consulta. Então alegaram que não há previsão legal para isso. Ora, isso poderia ser feito com base no poder normativo do TSE. Afinal, o caso de suspender verbas de empresas privadas foi feito com base neste poder normativo, embora não exista previsão expressa em lei.

Na prática da corrupção eleitoral é comum que se apreenda o dinheiro no dia da eleição, mas o candidato/partido alega que a verba é para pagar seus fiscais ao final do dia, e como não é possível saber oficialmente quem é fiscal de partido, então o dinheiro tem que ser devolvido ao candidato.

 

Tem muita gente que supostamente recebe como fiscal de partido, mas não vai trabalhar, ou trabalham apenas poucas horas, e assim, cria um rodízio para atender a um grupo maior de pessoas. Isso tudo com a conivência do cidadão eleitor que finge ser fiscal, uma função remunerada pelo partido, sem transparência alguma. A lei nem afirma que possa ser remunerada, embora também não vede.

 

Isto leva a outra conduta como no caso de o candidato ser vencedor, então acreditar que apenas venceu um jogo individualista e que tudo pode, como se tivesse ganho na mega sena e o dinheiro público lhe pertencesse para seus fins privados.

Ou seja, é uma espécie de corrupção moral que também chamam de "corrosão do caráter". Em que se retira a responsabilidade individual pelo todo, isto ocorre ao se fortalecer a figura do "Estado babá" ou até mesmo 'Deus-babá" (para algumas seitas), onde Deus e o Estado é que deve servir às pessoas, e não, o contrário. E como no caso do condomínio, o "eu" passa a ser o centro do universo, e não há mais esta relação entre esforço pessoal, responsabilidade individual e solidariedade, o que é pregado pelo Cristianismo, e ao se perder os valores ocidentais tradicionais, o que se tem é um "vale tudo" decorrente do caos social e que permite esta visão reducionista de espaço e reflete na venda de votos, por exemplo, além de outros comportamentos sociais abusivos.

 

Combater a corrupção não é ato fácil, por exemplo, um servidor público que não tenha produtividade, está cometendo uma corrupção, pois é uma vantagem indevida.

 

Em pesquisa ouvindo o setor empresarial foi constatado que para os mesmos a ineficiência estatal gera mais prejuízo que a corrupção. Um dado interessante é que a legislação brasileira não prevê a corrupção empresarial, apenas existe corrupção criminal se envolver o setor público.

 

Todo partido político, como recebe verba pública, deveria ter um portal da transparência e não apenas prestar contas à Justiça Eleitoral, pois no portal haveria mais publicidade, o que não existe no sistema atual.

 

Contudo, o que move a sociedade são dois fatores básicos: recompensa e punição. No caso as punições no campo eleitoral estão muito focadas no candidato, e tratam o eleitor com mera vítima da sociedade ou do sistema. No entanto, são muito mais responsáveis do que imaginamos, e urge que os sistemas punitivos ampliem as punições para o eleitor corrupto, e permitindo vias mais rápidas para se punir e que não sejam apenas criminais.

 

Portanto, é preciso que a lei estabeleça sanções administrativas mais graves para o eleitor corrupto, como impedir de votar, e assumir cargos públicos, perda de benefícios fiscais, por no mínimo oito anos, inclusive se cometer o crime por meio de pessoa jurídica, o que seria estendido à empresa, além de restrição de uso de alguns serviços públicos, isto para eleitores que cometerem ilícitos de natureza eleitoral, pois isto daria um temor maior, e embora os garantistas aleguem que punição não funciona, a população sabe que funciona, pois aumenta o risco e todas as pessoas fazem este cálculo antes de cometerem o crime (Teoria Econômica do crime).

 

 é promotor em Minas Gerais, doutor em Direito Constitucional pela PUC-SP, mestre em Direito pela Unifran e associado do Movimento do Ministério Público Democrático.

Revista Consultor Jurídico, 23 de dezembro de 2021, 16h38

Inventar a própria roda

A falta de opções na disputa presidencial pode ser definida pela atual situação refletida nas pesquisas de opinião, especialmente as das empresas mais bem equipadas, IPEC ( ex-Ibope), e Datafolha. O brasileiro votou em Bolsonaro para tirar o PT, e está votando no ex-presidente Lula para para tirar Bolsonaro do governo. Não apareceu alternativa, a famosa terceira via, que permita acabar com esse jogo de empurra de um lado para outro, que acaba dando errado.

Sempre estamos escolhendo o “menos ruim”, que se revela posteriormente inevitavelmente ruim. Desde a redemocratização, só elegemos candidatos populistas, como Collor, Lula, Dilma, Bolsonaro. Com exceção do Plano Real que elegeu Fernando Henrique Cardoso, que não foi feito para ser populista, mas atingiu o bolso dos cidadãos ao conter a hiperinflação. Já havíamos tido uma experiência anterior com o Plano Cruzado, que, ao derrubar a inflação temporariamente, deu a vitória ao MDB de Sarney em todo o país.  

O diretor do DataFolha, Mauro Paulino, diz que o eleitor vota pragmaticamente, naquele que vai ajudá-lo no sofrido dia a dia. A prioridade do brasileiro médio é o bolso e a sobrevivência, e essa situação hoje está muito agravada. Cerca de 15 milhões de brasileiros estão desempregados, a inflação dos mais pobres já ultrapassa os 10% da inflação oficial, 27 milhões de brasileiros vivem abaixo da linha de pobreza, cerca de 50 milhões são tecnicamente pobres, a fome nos dá diariamente exemplos terríveis de gente disputando ossos com resto de carne e famílias inteiras morando nas ruas das grandes cidades.

Num ambiente desses, mesmo que houvesse um grande político à disposição da terceira via, não há espaço para grandes discussões. A questão vira, para a maioria dos eleitores, “quem vai me ajudar", “quem pode me ajudar”, ou quem convence mais pessoas que é a solução milagrosa para resolver os problemas. Na campanha, existe um milagre prometido, hoje é o que leva Lula a poder vencer no primeiro turno: promessa de picanha e cerveja para todo mundo, a volta a um tempo que nunca houve.

Quando começa o governo, a realidade se impõe a essas promessas vãs, a esses sonhos de que uma pessoa só resolverá o problema do Brasil. Estamos numa situação muito complicada. Você elege qualquer um que venda ilusões, que consiga passar para a população uma expectativa de melhoria. Foi assim em 2018 com Bolsonaro, e está sendo assim em 2022 com Lula, que aparece como o grande salvador da Pátria. Não é à toa que o ex-juiz Sérgio Moro já está dando uma guinada em sua proposta de governo, pondo mais ênfase na criação de um projeto nacional contra a pobreza, deixando o combate à corrupção como necessário, mas não suficiente para governar o país de hoje, pois a emergência é outra.

Se o governo Bolsonaro seguisse os rumos que prometia, de apoio a políticas anti corrupção, não haveria clima no país para a reviravolta jurídica que beneficiou o ex-presidente Lula e todos os condenados pela Operação Lava Jato. Também não é por acaso que Lula busca o ex-tucano Geraldo Alckmim para vice, é um aceno para o eleitor de centro. Difícil vai ser Alckmim encontrar uma justificativa para passar por cima de seus discursos inflamados contra Lula e os corruptos do PT na campanha de 2016.

O Lula do primeiro governo, que levou tucanos para postos chaves como o Banco Central e outros do ministério da Fazenda, não é o verdadeiro Lula. O PT foi muito intolerante com todos os tucanos que estavam no governo Lula. Se Antonio Palocci não fosse tão forte politicamente na ocasião, tinham saído todos os tucanos que estavam lá ajudando a fazer um governo equilibrado financeiramente, que deu chance, num momento econômico bom do mundo, de Lula avançar nos programas sociais.

Quem será o petista que assegurará a Geraldo Alckmim um papel não decorativo num eventual governo Lula? Ele terá mandato, estará protegido, mas não será ouvido nem cheirado se a ala radical do petismo dominar o governo. Quando o PT resolveu fazer a sua política econômica, começou a derrocada que deu na tragédia do governo Dilma. O problema é que nunca há governos seguidos com uma política de estado. Cada um quer inventar sua própria roda.

Lula tem 44% contra 24% de Bolsonaro, aponta pesquisa Ipespe

BRASÍLIA (Reuters) – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera a disputa ao Palácio do Planalto no próximo ano com 44% das intenções de voto, seguido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), com 24%, segundo pesquisa Ipespe divulgada nesta segunda-feira.

Atrás dos primeiros colocados aparecem o ex-juiz Sérgio Moro (Podemos), com 9%, e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), com 7%.

A sondagem foi feita entre os dias 14 a 16 de dezembro por telefone com 1.000 entrevistados acima de 16 anos. A margem de erro é de 3,2 pontos percentuais.

Nesse primeiro cenário da pesquisa, ainda aparecem o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), com 3%, Felipe D’Ávila (Novo), com 1%, e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), também com 1%.

Em outra sondagem de primeiro turno, quando mudam alguns candidatos da chamada terceira via, Lula tem 43%, Bolsonaro, 23%, Moro, Ciro e Doria se mantém, respectivamente, com 9%, 7% e 3%. Em seguida, todos com 1%, aparecem Cabo Daciolo (PMB) –que já anunciou que não vai concorrer; a senadora Simone Tebet (MDB); Rodrigo Pacheco (PSD); e o senador Alessandro Vieira (Cidadania).

Nas simulações de segundo turno, Lula vence todas as disputas. O petista registra 53% ante 31% contra Bolsonaro; Lula tem 52% ante 33% contra Moro, e o petista alcança 52% contra 25% de Ciro Gomes e 53% contra 24% de Doria.

Rejeição

A pesquisa do Ipespe também levantou a rejeição dos candidatos à Presidência. Bolsonaro lidera com 62% dos entrevistados, que não votariam nele “de jeito nenhum”. Lula tem 44% de rejeição, Moro 53%, Ciro 45% e Doria 55%.

(Reportagem de Ricardo Brito) ISTOÉ

Pesquisas Datafolha e Ipec são bombas para a disputa da Presidência em 2022

Janio de Freitas

Jornalista / FOLHA DE SP

Difícil saber se mais impressionantes foram as pesquisas Ipec e Datafolha, duas bombas com intervalo de 48 horas, ou as explosões de excitação que disseminaram entre a euforia e o aturdimento, o alívio e o susto. Dos próprios pré-canditatos não pôde sair recepção diferente, com certeza. O que faz esperáveis, para breve, modificações em várias campanhas e, daí, na configuração da disputa de Bolsonaro para baixo.

Os dados mais eloquentes das pesquisas cabem ao ex-presidente Lula e os mais críticos são de Moro, em inversão da adversidade que o perseguidor impôs ao perseguido no frente-a-frente anterior. O dado mais forte, igual nas duas pesquisas, está nas citações espontâneas, em que o eleitor menciona o preferido sem consultar a lista oferecida. Moro tem aí a preferência de não mais do que 2%. Situação pouco observada e, no entanto, acachapante para alguém tão conhecido (por 88%, no Datafolha) e celebrado pela imprensa e a TV.

Se também nos seus domínios ideológicos, os estados do Sul, o melhor índice de Moro foi o de 13% gaúchos, nisso Doria encontrou esperanças e Bolsonaro achou mais uma ilusão. As duas pesquisas pulverizaram a convicção generalizada de que o Sul seria absoluto pró-Moro. Ainda poderá ser, mas à custa de empenhos que outros também poderão fazer, Doria em particular.

A compaixão pelo país permite arriscar que, entre os 47% de empresários da ultradireita, não faltem abalados pelas pesquisas. Não é simples aceitar que metade do empresariado veste-se mentalmente de papagaio como Luciano Hang. É o sectarismo incapaz até da memória, ou da honestidade, de reconhecer os ganhos de todo o empresariado com a melhoria da vida em geral no governo Lula, razão dos extraordinários 82% de aprovação ao fim do mandato.

A própria queda de Bolsonaro lhe acarretará mais queda ou, ao menos, ainda maior dificuldade de recuperação estável. Os bilhões do "auxílio" e outros bilhões podem lhe dar ganhos transitórios, a evaporarem na economia de Paulo Guedes. Como toda decepção tem seu custo, e a causada por Moro foi grande, as pesquisas lhe trouxeram problema duplo. Um, é obter programa e discurso que atraiam atenção, em vez de repetições tediosas. O outro é subir com rapidez, antes que, desacreditado, seu potencial se desloque. Doria espera, nos arranjos da campanha que promete barulho.

Não só por precipitação é incabível a ideia, originária do meio acadêmico, de que a eleição presidencial "é um plebiscito entre Bolsonaro e Lula". Esse confronto já está resolvido, em todos os planos. De tudo, neste momento de preliminares e não de conclusões, ficam a atenção lúcida do povão sobre Bolsonaro e mais uma demonstração da vitalidade política de Lula, em seu quarto reerguimento depois de alvejado por cercos destinados a eliminá-lo.

INAUGURAÇÃO

Foi de seis horas o tempo decorrido da entrevista de Ciro Gomes a Roberto D’Ávila, forte e farta, até a entrada da Polícia Federal na casa do pré-candidato. E de oito anos o intervalo do episódio alegado pela PF até a busca na casa.

Ciro Gomes e sua longa reputação de probidade estão submetidos a uma situação em que tudo está fora dos padrões. Ainda mais por se tratar de pré-candidato à Presidência, a conduta da PF foi agressiva também com a opinião pública, faltando-lhe com a explicação necessária. Ou não podia dá-la, o que é pior e provável.

À parte a razão alegada pela PF e pelo juiz Danilo de Almeida, foi o primeiro ato de anormalidade (também) eleitoral.

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