Quaest: Lula tem 46% contra 30% de Bolsonaro no primeiro turno
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aparece com vantagem sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL) em pesquisa Genial/Quaest publicada nesta quarta-feira (8). Em um dos cenários pesquisados, o petista tem 46% das intenções de voto contra 30% do atual mandatário.
Ciro Gomes (PDT), ex-governador do Ceará, aparece em terceiro, com 7%, seguido por André Janones (Avante), com 2%, Simone Tebet (MDB), com 1%, e Pablo Marçal (Pros), com 1%. Os demais pré-candidatos não pontuaram.
Com esse resultado, Lula seria eleito presidente no primeiro turno, já que supera a soma de todos os demais candidatos.
Para ganhar no primeiro turno, é necessário que o candidato some 50% dos votos válidos mais um. A votação será em 2 de outubro —o segundo turno está previsto para o dia 30 do mesmo mês.
O percentual de votos válidos, que exclui brancos e nulos, é o considerado pela Justiça Eleitoral para declarar o resultado final.
A pesquisa foi feita entre os dias 2 e 5 de junho com 2.000 pessoas com 16 anos ou mais. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. A pesquisa está registrada na Justiça Eleitoral sob o número BR-03552/2022.
- Lula (PT) 46%
- Jair Bolsonaro (PL) 30%
- Ciro Gomes (PDT) 7%
- André Janones (Avante) 2%
- Simone Tebet (MDB) 1%
- Pablo Marçal (Pros) 1%
- Indecisos/Branco/Nulo 6%
- Não vão votar 7%
Em um eventual segundo turno, Lula venceria Bolsonaro por 54% a 32%. Também bateria Ciro Gomes, por 52% a 25%. Contra Simone Tebet, a vitória do petista seria de 56% a 20%.
A pesquisa Genial/Quaest ainda perguntou o que os entrevistados mais temem nessas eleições. 52% disseram ter medo da continuidade do governo Bolsonaro. Outros 35% responderam que têm medo da volta do PT. Temem os dois 5%.
Em rejeição, Bolsonaro lidera, com 60% dizendo que não votariam no presidente de jeito nenhum. Ciro tem 52% e, Lula, 40%.
A pesquisa da Quaest é financiada pela corretora de investimentos digital Genial Investimentos, que é controlada pelo Banco Genial.
OS PLANOS DE LULA PARA A JUSTIÇA
MARCELO GODOY / O ESTADÃO
No dia 12, os italianos vão às urnas votar em cinco referendos sobre a Justiça. Em um deles, pretende-se revogar a Lei Severino, espécie de Lei da Ficha Limpa da Itália. Em outro, deseja-se acabar com a possibilidade de prisão preventiva para financiamento ilícito de partidos e quando há risco de o acusado voltar a cometer o mesmo delito, o que revogaria a lei de 1988 que permitiu a Operação Mãos Limpas.
As propostas apresentadas aos italianos têm seguidores aqui. Impedir outra operação como a Lava Jato parece uma preocupação desde sempre em Brasília. O procurador-geral da República, Augusto Aras, é inimigo do modelo da força-tarefa de Curitiba. Foi escolhido por Jair Bolsonaro – alvo de dezenas de representações e inquéritos – fora da lista tríplice da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), ao contrário do que antes fizeram Lula, Dilma e Temer. O atual presidente ignorou a escolha dos procuradores, mesmo quando a lista da associação foi encabeçada pelo moderado Mario Bonsaglia.
A autonomia do Ministério Público Federal (MPF) se tornou um desafio. Lula e advogados ligados ao PT também a criticam. Se a garantia do devido processo legal é um dos fundamentos das sociedades modernas, também é verdade que a impunidade parece ser a lei desta terra.
Por isso, muitos procuradores estão preocupados com o que Lula propôs em documento recém-divulgado: “A contaminação político-partidária de setores do Ministério Público e do Judiciário, e sua resistência em submeter-se a controles democráticos e legais, evidenciados pela Operação Lava Jato, demonstram que a reafirmação da democracia brasileira implicará, necessariamente, a realização de uma ampla reforma que assegure que esses órgãos se pautem estritamente pelos princípios constitucionais da impessoalidade e da neutralidade”.
O petista não explica o que seria a “ampla reforma” e como ela atingiria o MPF e o Judiciário. Lula poderia começar dizendo como vai escolher o novo procurador-geral. Seguirá Bolsonaro e terá um Aras ao seu gosto ou usará a lista da ANPR? Depois, poderia contar quais critérios pretende usar para indicar ministros do STF. Os candidatos terão o perfil de Kassio Nunes Marques ou de Joaquim Barbosa?
Por enquanto, o segredo paira sobre o futuro. Em seu Tratado Político, Baruch Spinoza alertava que governantes que “podem tratar secretamente dos negócios do Estado têm-no inteiramente em seu poder e em tempo de paz, estendem armadilhas aos cidadãos como as estendem ao inimigo em tempo de guerra”. É a transparência e o debate que permitem à cidadania desarmar essas armadilhas, se possível, antes do voto.
Programa de governo de Lula cheira a naftalina..
O esboço do programa de governo de Lula tem dois problemas. O primeiro é que a peça da coligação liderada pelo PT, despejadas sobre 17 páginas, ameaça inundar a conjuntura política com ideias que não dão água pela canela. O segundo problema é que novo mesmo nas 90 propostas enumeradas no documento só coisa muito antiga. Ainda sujeito a emendas, o conjunto da obra exala um incômodo cheiro de naftalina.
Na parte mais rasa, o programa pode ser atravessado por uma formiguinha de joelhos. Menciona, por exemplo, a pretensão de revogar a reforma trabalhista e o teto de gastos —já destelhado por Bolsonaro— sem oferecer detalhes sobre o que será colocado no lugar.
A alturas tantas, o texto sugere que os acertos trabalhistas ocorram por meio de "negociação tripartite, que proteja os trabalhadores, recomponha direitos, fortaleça os sindicatos sem a volta do imposto sindical, construa um novo sistema de negociação coletiva e dê especial atenção aos trabalhadores informais e de aplicativos". Mais um pouco e a coligação garantirá aos trabalhadores chope gelado e tira-gosto quente.
Entre as novidades mais antigas, o documento reitera a aversão à privatização de estatais. O texto insinua que a privatização da Eletrobras, na bica de ser efetivada, pode ser revista. Requenta um truque da sucessão de 2006, quando Lula disputou o Planalto contra Geraldo Alckmin, agora seu candidato a vice..
Naquela campanha, o petismo encurralou o tucanato acusando o PSDB de tentar privatizar a Petrobras. Era lorota. Mas o encolhimento de Alckmin fez parecer que se tratava de uma verdade.
Hoje, Bolsonaro fala em vender a Petrobras a quatro meses da eleição. É mentira. Mas o PT se apresenta novamente como defensor da estatal. Age como se nada tivesse sido descoberto sobre a petro-roubalheira orçada em mais de R$ 6 bilhões num balanço divulgado durante o governo de Dilma Rousseff..
A proposta de plataforma de governo anota: "A Petrobras será colocada de novo a serviço do povo brasileiro e não dos grandes acionistas estrangeiros, ampliando nossa capacidade de produzir os derivados de petróleo necessários para o povo brasileiro, expandindo a oferta de gás natural e a integração com a petroquímica, fertilizantes e biocombustíveis.".
Nos governos do PT, a Petrobras foi colocada a serviço da patifaria política, e não do povo brasileiro. Ampliou-se a capacidade de produzir desvios. No lance mais explícito, a construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, foi orçada em US$ 13,4 bilhões. Segundo o TCU, a refinaria custou US$ 26,2 bilhões. Processaria 230 mil barris de petróleo. Produz metade do óleo previsto.
Noutro lance escabroso, o Comperj, Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, orçado em US$ 8,4 bilhões, permanece inacabado. Há quatro anos, o TCU estimou que o empreendimento resultou em prejuízo de US$ 12,5 bilhões. Coisa decorrente de superfaturamento.
O problema de um candidato que reivindica o terceiro mandato é que o eleitor sabe o que ele fez nos verões passados. O programa de Lula promete para quatro anos reformas que o agora candidato não entregou nos oito anos que passou no Planalto. Entre elas a reforma política e a reforma tributária.
A proposta acena com a hipótese de taxação dos muito ricos e colocação dos pobres novamente no Orçamento. Como a peça orçamentária é inelástica e o dinheiro é curto, faltou explicar como Lula fará para tirar o centrão do orçamento, abrindo espaço para a reacomodação dos pobres.
TRE anula mudança de domicílio de Moro e ex-juiz da Lava Jato não pode se candidatar a nenhum cargo por São Paulo
Rayssa Motta e Pepita Ortega / O ESTADÃO
07 de junho de 2022 | 19h06
O Tribunal Regional Eleitoral do Estado de São Paulo (TRE-SP) anulou nesta terça-feira, 7, a transferência de domicílio eleitoral do ex-juiz Sérgio Moro (União Brasil) de Curitiba para a capital paulista. Com a decisão, ele não poderá sair candidato pelo Estado.
Por maioria de votos, o tribunal concluiu que Moro não conseguiu provar “vínculo” com a capital paulista. A Justiça Eleitoral exige a comprovação de “vínculos políticos, econômicos, sociais ou familiares” pelo menos três meses antes da mudança. O ex-juiz ainda pode entrar com recurso no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O TRE julgou um recurso do diretório municipal do Partido dos Trabalhadores (PT), que pediu o cancelamento da transferência do título eleitoral do ex-juiz.
Ao justificar a mudança, Moro disse que São Paulo virou seu “hub” para voos. O ex-juiz também afirmou que, desde dezembro do ano passado, um hotel na zona sul da capital paulista passou a ser “sua residência primária e base política”. Ele juntou recibos de hospedagens e do aluguel de salas de reunião. Também apresentou honrarias recebidas no Estado.
O juiz Maurício Fiorito, relator do processo, argumentou que, embora o conceito de domicílio eleitoral seja mais “mais amplo e flexível” que a residência, a transferência do título demanda “comprovação mínima” de laços com a cidade.
“A Justiça Eleitoral não pode chancelar qualquer pedido de transferência”, defendeu. “Não se está aqui a afirmar que o recorrido [Moro] agiu ou não com má fé ouro mesmo dolo no sentido de ludibriar a Justiça Eleitoral, mas tão somente que não restou comprovado nos autos que este, de fato, possuía algum vínculo com a cidade de São Paulo a tempo e modo quando solicitou a transferência do seu domicílio eleitoral.”
Rascunho de programa de Lula traz museu de grandes novidades do PT
Documentos preliminares de projetos de governo para apreciação de aliados são, por definição, peças destinadas ao espancamento retórico. Como não significam nada real, esses rascunhos servem para a correção de rumos e a orientação do marketing eleitoral dos candidatos.
O texto petista revelado pela Folha tem como virtude apontar como questão central da eleição de outubro os impactos da crise econômica na vida cotidiana: inflação, perda de renda, subemprego, volta da fome. A resistência das franjas mais desassistidas da população em voltar a apoiar o presidente Jair Bolsonaro (PL), como mostrou a mais recente pesquisa do Datafolha, são testemunho dessa leitura.Isso dito, os 90 pontos divulgados pelo PT a seus companheiros na nova candidatura de Luiz Inácio Lula da da Silva à Presidência trazem uma ode inequívoca ao passado —com a sugestão não exatamente criativa do recurso a instrumentos obsoletos para lidar com a realidade.
Nesse sentido, a famosa Carta ao Povo Brasileiro, pela qual Lula beijou a cruz do mercado e antecipou a política econômica que marcou seu primeiro mandato (2003-2006), soa até mais atual.
No corrente texto, ícones petistas como pré-sal e Bolsa-Família estrelam, como se fosse 2010, e o PT do não dá as cartas. Quer revogar a reforma trabalhista de Michel Temer (MDB), até aí seu direito, só que esquece de dizer o que colocaria no lugar num cenário em mutação. No máximo, a surrada menção aos Cristos desse novo Evangelho, os trabalhadores da selva dos aplicativos.
Também diz não a privatizações, quase retomando a campanha do Petróleo é Nosso. Aqui o caldo adensa porque defender o que os governos do PT fizeram com a Petrobras está bastante longe de representar a pureza republicana desenhada no texto.
Se não houve malfeito, falta explicar por que a estatal e o erário receberam de volta R$ 6,5 bilhões em acordos de leniência com envolvidos na corrupção que emergiu na Lava Jato —operação caída em desgraça tanto pelos seus abusos quanto pela conveniência política, que vai do PT a Jair Bolsonaro (PL).
O texto questiona também a venda da Eletrobras, o que gera questões de mercado pertinentes caso o processo esteja concluído antes da virada do governo, e promete proteger Correios e bancos públicos. Se o padrão for o mesmo aplicado por todos os governos desde a redemocratização, o centrão terá muito a agradecer.
Da prateleira do nacionalismo vem também a promessa de investimentos em infraestrutura, algo natural em qualquer país em desenvolvimento. Resta saber, contudo, de onde virá o dinheiro: o atual nível de recursos aplicados pelo Estado está em cerca de 2% do Produto Interno Bruto, um dos menores da história.
Seguindo a lógica dos parágrafos, a solução é enterrar o teto de gastos, outra obra de Temer vista como palavrão por Lula. Como não é explicado o que será feito com a implosão de expectativas que tal medida traria sem uma alternativa coerente, resta especular. O velho método de prometer justiça fiscal, tributária e previdenciária só não veio com o selo reformas porque isso pega mal na esquerda.
O mesmo se diz com outro fetiche que remonta à mentalidade desenvolvimentista anos 1970 que domina o PT, a prioridade dada no papel à reindustrialização. Num mundo abalroado pela disrupção de cadeias globais de comércio pela pandemia e pela Guerra da Ucrânia, é evidente que o tema tem de ser pensado.
Mas aqui tudo o que se vê é um aceno à fórmula dos campeões nacionais, que deu no que deu por aqui. Inserção internacional, que implica decisões políticas, e compreensão das mudanças na globalização sob as égides digital e da Guerra Fria 2.0 entre China e EUA não passam nem perto do debate. Restam menções, sete delas, à ideia de fomento estatal.
Do ponto de vista macro, institucional, o texto traz platitudes corretas sobre foco em políticas para a Amazônia e outras biomas, recuperação do desmonte bolsonaristas em áreas como saúde e educação, proteção de populações vulneráveis e combate à intolerância. Tudo correto, bonito, mas protocolar.
A política externa, que vive a relativa boa notícia de ser inexistente depois da tragédia da era Ernesto Araújo no Itamaraty, voltaria a ser "altiva e ativa" como nos tempos de outro chanceler notório, Celso Amorim. Se o multilateralismo merece uma chance após seu fracasso, parece difícil que isso será alcançado dando choques elétricos no Mercosul ou na Unasul.
Mais curiosa é a citação ao Brics —qual seria mesmo o papel da Rússia de Vladimir Putin no grande plano do seu amigo PT para o mundo em 2023? Mas isso é digressão acadêmica em termos eleitorais, quase, dado que ninguém ganhou ou perdeu um voto com o tema.
A peça evita vespeiros e não repete os recentes ataques de Lula às Forças Armadas. Cita o óbvio, o que se faz necessário em tempos de golpismos explícitos: elas devem respeitar a Constituição.
Simbolicamente, fecha o acervo o tema da liberdade de expressão. Aqui, o DNA intervencionista petista nem se disfarça e remete aos tempos do Conselho Federal de Jornalismo proposto por Lula. Ela "não pode ser um privilégio de alguns setores, mas um direito de todos, dentro dos marcos legais previstos na Constituição, que até hoje não foram regulamentados, de modo a garantir princípios como a pluralidade e a diversidade".
Ante a complexa crise e a ausência programática no deserto radioativo deixado por Bolsonaro, o rascunho petista é um começo de discussão. Mas por ora está mais para um museu de grandes novidades.