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União Brasil busca um candidato, Moro muda alvo, linguagem e estratégia

Eliane Cantanhêde, O Estado de S.Paulo

21 de janeiro de 2022 | 03h00

Praticamente todos os partidos, grandes, médios e até pequenos, têm candidatos à Presidência em outubro, seja para valer, seja para esquentar a cadeira até o baile de fato começar. Já o União Brasil, fusão de DEM e PSL, não lançou nenhum nome e passa a ser um “partidão” disputado na eleição. Mas nada a ver com o velho partidão, hein!

Com 81 deputados, os 52 do PSL e os 29 do DEM, o União Brasil tem a maior bancada da Câmara e R$ 1 bilhão de fundo eleitoral e partidário. Um dote e tanto para uma noiva indecisa que, neste momento, parece mirar Sérgio Moro, do Podemos.

Em terceiro lugar nas pesquisas, mas sem atingir dois dígitos, Moro é por enquanto candidato a ser a terceira via numa eleição polarizada entre o favorito Lula, do PT, e Jair Bolsonaro, do PL, que tem a vantagem de disputar a reeleição. E Moro fez uma guinada e tanto na campanha, no discurso e no alvo.

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Em terceiro lugar nas pesquisas, mas sem atingir dois dígitos, Sérgio Moro é por enquanto candidato a ser a terceira via numa eleição polarizada entre o favorito Lula e Jair Bolsonaro. Foto: Dida Sampaio/Estadão

A previsão era de que ele mirasse Bolsonaro, para colher o eleitorado conservador desiludido com o presidente, enquanto fechava uma espécie de pacto com João Doria, do PSDB, e Luiz Henrique Mandetta, do então DEM: o mais bem colocado nas pesquisas e com mais capacidade de chegar ao 2.º turno levaria o apoio dos outros.

A realidade, no entanto, é mais forte do que avaliações e estratégias. E a realidade foi mostrando a consolidação de Lula na dianteira e a insistência de Bolsonaro em dar tiro no pé sozinho e em afugentar o eleitorado que é conservador, mas não brucutu, negacionista ou absurdo. Logo, Moro trocou de alvo e de linguagem.

Quando Lula o chamou de “canalha”, Moro devolveu: “Canalha é quem roubou o povo brasileiro”. E engrenou: “Deveria estar preso”. Poderia ser só um rompante, mas é pragmatismo. Moro vê que sua chance é bater de frente com Lula e tirar de Bolsonaro a condição de grande adversário do petista no 2.º turno. Além dos bolsonaristas arrependidos, quer atrair os antipetistas de todas as cores.

As crescentes divisões do bolsonarismo contribuem para a estratégia: Abraham Weintraub e Ernesto Araujo atacando o Centrão, Eduardo Bolsonaro e Fábio Faria tomando as dores, Damares Alves disputando vaga ao Senado com Janaina Paschoal. E esses rachas se refletem no próprio União Brasil.

De outro lado, uma aliança de Lula com Geraldo Alckmin atrapalha Moro, assim como a determinação de Doria. Alckmin é o ímã de Lula para atrair o centro e a direita equilibrada e Doria quer ser o candidato desse centro e dessa direita. Quanto mais todos racham, mais Lula trabalha pela união e o União Brasil exercita a paciência, para escolher o noivo certo, na hora certa.

*COMENTARISTA DA RÁDIO ELDORADO, DA RÁDIO JORNAL (PE) E DO TELEJORNAL GLOBONEWS EM PAUTA

 

Ciro adota discurso de rebelde com causa e Lula tenta atrair Marina

Vera Rosa, O Estado de S.Paulo

20 de janeiro de 2022 | 17h02

Caro leitor,

Com dificuldade para decolar na campanha, o ex-ministro Ciro Gomes lançará sua pré-candidatura à Presidência da República pelo PDT, nesta sexta-feira, 21, disposto a  transformar o que é visto como defeito em qualidade. O estilo explosivo virou “rebeldia”, palavra que dará a tônica do ato político. O discurso de Ciro marcará a nova etapa desta temporada, definida nos bastidores como a da rebeldia com causa.

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Arte da nova campanha de Ciro Gomes; há um movimento dentro do PDT para que o ex-ministro desista da candidatura à Presidência. Foto: Divulgação

No pronunciamento, o ex-ministro dirá que é necessário ser rebelde para enfrentar o desgoverno de Jair Bolsonaro, lutar contra quem não aceita a ciência e para mudar o quadro de polarização entre o atual inquilino do Palácio do Planalto e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Criado pelo publicitário João Santana, o slogan “A rebeldia da esperança” já vem sendo criticado no mercado da política por lembrar o livro A audácia da esperança, do ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama.  A estratégia que apresenta Ciro como um candidato inconformado com o sistema foi construída com base em pesquisas qualitativas, que a nove meses da eleição captaram sentimentos de desencanto e falta de alternativas, principalmente entre os jovens.

A ideia é atrair esse público para a campanha de Ciro, hoje “espremida” no pelotão da terceira via. Em sua quarta tentativa de chegar ao Planalto, o homem que já foi ministro nos governos de Fernando Henrique Cardoso e de Lula, prefeito de Fortaleza, governador e secretário de Saúde do Ceará, além de deputado federal e estadual, quer se mostrar como  opção a “tudo o que está aí”. Assim, ao mesmo tempo em que procura se aproximar cada vez mais do centro no espectro político, Ciro joga iscas na direção da esquerda não-lulista.

O problema é que no próprio PDT há um movimento para que o ex-ministro desista. Integrantes da bancada federal pedem que o partido não tenha candidato próprio e use o dinheiro do fundo eleitoral para investir no aumento das cadeiras na Câmara. Não é só: deputados estabeleceram prazo até março para Ciro sair das cordas. Caso contrário, ameaçam abandoná-lo. Alguns até dizem que deixarão o PDT, aproveitando a “janela partidária” daquele mês, quando podem trocar de sigla sem perder o mandato.

Marina Silva e uma parte da Rede, por sua vez, querem apoiar Ciro, mas também observam os próximos capítulos da rebeldia para decidir seus passos.  Como se sabe, Marina não pode nem ver João Santana, que hoje é marqueteiro de Ciro, mas produziu os ataques mais virulentos contra ela quando assinou a campanha de Dilma Rousseff ao segundo mandato, em 2014.

Enquanto isso, Lula tenta reconquistar Marina, que foi ministra do Meio Ambiente e rompeu com o PT em 2009, após quase trinta anos de filiação. Para atrair esse apoio, o ex-presidente usa como chamariz a promessa de apresentar um programa de governo que dará prioridade à questão ambiental. Lula tem dito que não quer transformar a Amazônia num  “santuário da humanidade”, mas, sim, explorar cientificamente as riquezas contidas na biodiversidade da floresta. Trata-se de um discurso que soa como música para a ex-ministra.

“A Marina é uma referência internacional e é importante que venha conosco”, disse o secretário de Comunicação do PT, Jilmar Tatto. “Ela é fundamental para ajudar no processo de reconstrução do País e na luta do meio ambiente, tanto aqui como no exterior.”

A Rede, porém, está rachada. De um lado, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) defende a aliança com Lula. De outro, Marina, a ex-senadora Heloísa Helena e outros ex-petistas abrigados na Rede pregam a adesão à campanha de Ciro. Heloísa Helena foi expulsa do PT em 2003 por ser contra a reforma da Previdência apresentada no primeiro mandato de Lula.

A perspectiva de Marina ser candidata a vice na chapa liderada por Ciro já foi batizada no PDT como “Cirina”. Até agora, porém, as negociações não avançaram. Na prática, a Rede precisa do guarda-chuva de uma federação com outros partidos para sobreviver à cláusula de desempenho, mas também está negociando com o PSOL.

Nesta temporada de rebeldia, Cabo Daciolo vai se filiar ao PDT e declarar apoio a Ciro. Detalhe: na disputa presidencial de 2018, o candidato nanico – então no Patriota – ficou à frente de nomes tarimbados, como Marina e Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda.

Com uma Bíblia na mão, o pastor Daciolo desistiu de se lançar novamente ao Planalto, mas continua querendo expulsar o demônio da Praça dos Três Poderes. Glória a Deus!

Alas do MDB e do PSDB pressionam para união entre Doria e Simone

Lauriberto Pompeu, O Estado de S.Paulo

19 de janeiro de 2022 | 14h01
Atualizado 19 de janeiro de 2022 | 16h26

BRASÍLIA - As pré-candidaturas ao Palácio do Planalto do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e da senadora Simone Tebet (MDB-MS) têm enfrentado pressões de alas dos dois partidos para que se unam em uma candidatura única ou deixem a disputa. Com desempenho considerado fraco nas pesquisas de intenção de voto até agora — Tebet tem 1% e Doria tem 2%, de acordo com levantamento do Ipec —, os dois chegaram a conversar no mês passado, mas ainda não há uma definição sobre eventual aliança.

O ex-presidente Michel Temer (MDB) é um dos que tentam atrair Doria para a campanha da correligionária. Em dezembro, ele esteve com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), que perdeu para o paulista a indicação nas prévias presidenciais.

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Defensores do apoio à candidatura de Simone Tebet argumentam que ela tem menos rejeição que João Doria e, portanto, teria mais chances de se consolidar como um nome da terceira via. Foto: Gabriela Biló/Estadão e Dida Sampaio/Estadão

Na semana passada foi a vez de o ex-presidente receber o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), adversário de Doria no PSDB. Segundo relatos de integrantes dos dois partidos, o senador disse que Tebet pode ser "uma surpresa positiva" na corrida eleitoral. O parlamentar foi um dos apoiadores de Simone quando ela tentou ser presidente do Senado, no início de 2021. Procurada, a assessoria do senador evitou dar detalhes sobre o que foi discutido com Temer.

Defensores do apoio à candidatura de Simone argumentam que ela tem menos rejeição que Doria e, portanto, teria mais chances de se consolidar como um nome da terceira via — ela tem 5%, enquanto o tucano registra 23% no levantamento do Ipec. A senadora, porém, enfrenta resistência de setores do próprio partido – especialmente do Nordeste e do Norte – que preferem uma aliança do MDB em torno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Simone Tebet disse ao Estadão que tem proximidade com Tasso, mas afirmou desconhecer articulações do PSDB para apoiá-la. "Com Tasso falo sempre. Somos colegas, mas não sei de movimento algum", afirmou. Os dois atuaram juntos na CPI da Covid, que ajudou a projetar a emedebista.

Do outro lado, o entorno de Doria trata Simone como opção de vice. A avaliação interna é de que a campanha do governador paulista deve ganhar tração nos próximos meses, quando a população começar a associar avanços na vacinação e na economia do Estado à candidatura presidencial. O tucano tem como bandeira eleitoral o empenho na imunização contra covid-19, que começou por São Paulo há um ano, após o presidente Jair Bolsonaro ignorar e protelar ofertas de farmacêuticas.

Aliados rebatem também a crítica sobre a rejeição lembrando que o índice tem relação com o conhecimento do candidato. Lembram, ainda, que Doria, quando conquistou a Prefeitura de São Paulo, em 2016, também não apresentava bons resultados nas pesquisas meses antes de eleição, mas foi eleito.

O presidente estadual do PSDB em São Paulo e secretário de Desenvolvimento Regional do governo paulista, Marco Vinholi, descarta qualquer recuo de Doria sobre concorrer ao Planalto. “Nenhuma chance de não ser candidato e será o próximo presidente do Brasil”, disse. "Doria esta avançando a cada dia, seja na mobilização do partido, na unidade, na montagem de candidaturas nos Estados. Ontem mesmo, no Paraná junto com Beto Richa filiou o nosso pre candidato a governador, Cesar Silvestre Filho vindo do Podemos”, afirmou.

Doria tem dito que deseja ter uma mulher na sua chapa. Procurado, o governador de São Paulo afirmou, por meio de sua equipe de pré-campanha, que ele e a senadora estarão juntos na eleição.

Em São Paulo, as duas legendas fazem parte do mesmo grupo político. O PSDB é da base do prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB), e o MDB integra o governo Doria. Nunes diz estar esperançoso que Tebet ganhe musculatura e atraia o apoio de outras legendas. "Estou confiante que a população verá as qualidades da Simone, ela irá crescer. As consequências são naturais", afirmou ao Estadão.

No plano nacional as duas siglas também já foram aliadas. O MDB fez parte da base de apoio do governo do ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e indicou a ex-deputada Rita Camata como vice de José Serra (PSDB) na eleição presidencial de 2002. No governo de Michel Temer (MDB), tucanos exerceram cargos importantes, como os ministérios das Relações Exteriores, das Cidades e da Secretaria de Governo.

Pós-prévias do PSDB

Doria venceu a eleição interna do PSDB em novembro após uma disputa agressiva, que mostrou publicamente as divisões internas do partido.

No último dia 13 de janeiro, em entrevista à rádio O Povo CBN, de Fortaleza, Eduardo Leite declarou que Doria deve desistir da eleição caso não decole nas pesquisas. Ao Estadão, Leite reforçou a avaliação de que o paulista não deve buscar ser obrigatoriamente candidato ao Planalto. "Não pode a aspiração pessoal de qualquer pessoa, por mais legítima que seja, prejudicar a viabilização de uma alternativa à polarização que aí está", disse ele.

Considerado o principal opositor do governador de São Paulo dentro da legenda, o deputado Aécio Neves (MG) deu o tom que agora é repetido por Leite. "Se nós chegarmos extremamente isolados, obviamente que o PSDB vai discutir a conveniência ou não de ter essa candidatura", disse o mineiro em entrevista ao Estadão menos de uma semana após o resultado das prévias. 

EXAME/IDEIA: Lula tem 41% no 1º turno, contra 24% de Bolsonaro

Por Fabiane Stefano / EXAME

 

Se as eleições presidenciais fossem hoje, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) receberia 41% dos votos no primeiro turno, seguido pelo atual presidente Jair Bolsonaro (PL), com 24%, e pelo ex-juiz Sergio Moro (Podemos), com 11%. Já o ex-governador Ciro Gomes (PDT) teria 7% dos votos e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), receberia 4%.

 

Os dados são da mais recente pesquisa EXAME/IDEIA um projeto que une EXAME e o IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública. A sondagem ouviu 1.500 pessoas entre os dias 9 e 13 de janeiro. As entrevistas foram feitas por telefone, com ligações tanto para fixos residenciais quanto para celulares. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral com o número BR-03460/2022.

Disputas regionais travam federações a menos de três meses do prazo final

Lauriberto Pompeu, O Estado de S.Paulo

17 de janeiro de 2022 | 15h56
Atualizado 17 de janeiro de 2022 | 18h48

BRASÍLIA - Com dois meses e meio até o prazo final para o registro no Tribunal Superior Eleitoral, partidos ainda patinam no debate sobre as federações, uma das principais novidades das eleições deste ano. Diferenças regionais, como disputas para indicar candidatos a governador e divergência sobre apoio na corrida presidencial se tornaram obstáculos para que as alianças sejam fechadas tanto entre legendas de esquerda quanto de centro.

Um dos casos que está "travado" é a eventual aliança entre PT e PSB, que ainda discutem quem terá o direito de indicar o candidato ao governo de São Paulo, Pernambuco e mais quatro Estados. As discordâncias também acontecem em outros grupos que querem se aliar, como PSDB e Cidadania, e até entre membros do mesmo partido, caso do PV.

Diferentemente das coligações - proibidas nas eleições proporcionais já em 2020 -, as federações vão muito além da disputa eleitoral: criam uma “fusão” temporária entre as siglas envolvidas, que precisam permanecer unidas por pelo menos quatro anos. De acordo com o calendário do TSE, partidos e federações que tenham o desejo de participar das eleições de 2022 precisam estar registrados até 2 de abril deste ano, seis meses antes do primeiro turno da eleição presidencial. O apoio às candidaturas ao Planalto, contudo, tem mais tempo para ser discutido, até 15 de agosto.

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Os presidentes do PSDB e Cidadania, Bruno Araújo e Roberto Freire; diferentemente das coligações - proibidas nas eleições proporcionais já em 2020 -, as federações vão muito além da disputa eleitoral. Foto: Dida Sampaio/Estadão e Alex Silva/Estadão

O presidente do Cidadania, Roberto Freire, afirmou que as conversas com o PSDB, que começaram ainda no ano passado, estão avançando e que o tema será debatido nas próximas reuniões do diretório e executiva nacionais da sigla. "Estive com Bruno Araújo (presidente do PSDB) e os nossos respectivos secretários-gerais estão analisando todos os Estados, suas convergências e seus problemas", disse ao Estadão. "Há boa perspectiva, mas nada ainda definido."

O principal entrave está na Paraíba, onde o PSDB faz oposição a João Azevedo, único governador filiado ao Cidadania e que concorrerá à reeleição. Em dezembro, os tucanos aprovaram a pré-candidatura de Pedro Cunha Lima ao governo estadual, deputado federal e filho do ex-senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB).

Questionado sobre a discordância entre as duas legendas no Estado, o presidente nacional do PSDB afirmou que a federação "é possível", mas deixou claro que os debates precisam ser aprofundados. "Os partidos estão iniciando as conversas", disse.

O senador Alessandro Vieira, pré-candidato do Cidadania à Presidência, afirmou desconhecer o debate sobre a federação: "Não existe nenhuma discussão interna sobre isso. É preciso estabelecer critérios". Um dos efeitos da formalização do grupo seria o apoio do partido ao PSDB, que apresentou o nome do governador de São Paulo, João Doria, ao Palácio do Planalto, e a consequente retirada de Vieira do páreo.

Freire também abriu diálogo com o Podemos, de Sérgio Moro. O presidente do Cidadania declarou que a presidente do partido, Renata Abreu, o procurou para falar sobre o assunto. Os dois se reuniram no último sábado, 15, e ficaram de aprofundar a ideia internamente nas legendas. O assunto vai ser debatido em reunião da Executiva Nacional do Cidadania na próxima quarta-feira, 19.

Apesar dos pontos de divergências, a união seria vantajosa para os dois partidos no Congresso. Os tucanos têm perdido representação na Câmara. Com 29 deputados federais eleitos em 2018, a legenda costumava formar uma bancada de 50 a 60 nas legislaturas anteriores. Já o Cidadania elegeu apenas 8 deputados na última eleição.

A exemplo das coligações, a federação obriga que os partidos atuem em conjunto no período eleitoral, inclusive somando os votos para conquistar mais vagas na Câmara e nas assembleias. A nova regra foi aprovada pelo Congresso em setembro do ano passado e é vista como uma espécie de "bote salva vidas" de partidos pequenos ameaçados de extinção.  

Com a criação da cláusula de desempenho, que determina uma votação mínima para os partidos terem acesso ao fundo eleitoral e tempo de propaganda de rádio e televisão, e o fim da coligação para as eleições proporcionais, legendas como Rede, PCdoB, PSOL,  PV e Cidadania viram na federação uma maneira de garantir a sobrevivência. Na eleição de 2022, para atingir a cláusula de desempenho, as siglas terão que eleger pelo menos 11 deputados federais. 

Já PT, PSB e PSDB, que não estão ameaçados de ficar sem o fundo e o tempo de propaganda, usam as alianças com outros partidos como forma de ampliar as bancadas no Congresso.

Mudança

Em relação ao PV, que elegeu apenas quatro deputados em 2018, o partido tem procurado se distanciar do centro e da centro-direita e agora age por uma aproximação com a esquerda. Em 2014, a sigla declarou apoio a Aécio Neves (PSDB) contra Dilma Rousseff (PT) no segundo turno da eleição presidencial, mas agora anunciou apoio a Lula para 2022.

Tradicional aliado do PSDB em São Paulo, tendo inclusive assumido a Secretaria do Meio Ambiente em gestões tucanas no governo estadual, o presidente nacional do PV, José Luiz Penna, justificou a mudança de posição. "O PSDB hoje é outra coisa. Nunca tivemos essa aliança automática. Na última vez nós tivemos candidato ao governo (de São Paulo). Sempre preservamos a nossa identidade", afirmou.

O apoio ao PT, no entanto, não é unanimidade no PV. O ex-deputado Eduardo Jorge, que foi candidato a presidente pela sigla em 2014, se manifestou nas redes sociais contra a formação da aliança e anunciou que vai tentar fazer a legenda mudar de ideia até a convenção que definirá a posição presidencial, prevista para acontecer entre julho e agosto.

Penna descarta uma mudança de posição e diz que há maioria para aliança com o PT. "Ninguém vai radicalizar por questões de aliança. Na verdade, a vontade da maioria se impõe e o minoritário acompanha naturalmente", disse.

Além do PT, a sigla também discute uma federação que inclua PSB e PCdoB. "Nosso interesse é fazer uma frente democrática para tirar essas ameaças autoritárias que ocupam o poder hoje. Estamos trabalhando em uma frente ampla para conseguirmos esse intento, que é retomar a vida democrática do Brasil fortificando suas instituições", afirmou Penna.

Chapa Lula e Alckmin

O impasse entre PT e PSB para formar uma federação tem refletido também na discussão da chapa presidencial. O partido socialista tenta atrair o ex-tucano Geraldo Alckmin para que ele seja candidato a vice do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No entanto, o PSB tem colocado como condição para isso o apoio do PT à sigla nas eleições estaduais de São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Pernambuco, Acre e Espírito Santo. 

O principal empecilho na aliança está em São Paulo, onde o PT tem sinalizado que não abre mão de concorrer com  o ex-prefeito Fernando Haddad e o PSB quer lançar o ex-governador Márcio França.  No Rio Grande do Sul, o PSB tem o ex-deputado federal Beto Albuquerque como pré-candidato ao governo estadual, enquanto os petistas já aprovaram o nome do deputado estadual Edegar Pretto.

Em Pernambuco, Estado onde as duas legendas são tradicionalmente aliadas, o PT indicou o senador Humberto Costa como pré-candidato ao governo. Apesar disso, o parlamentar deixa claro que pode abrir mão da disputa caso uma aliança com o PSB se demonstre mais viável. "É uma candidatura para o grupo de partidos que compõem a frente popular, não é uma candidatura que a gente queira que seja meramente do PT", afirmou.

O PSB tinha o ex-prefeito de Recife Geraldo Júlio como principal aposta para a sucessão do governador Paulo Câmara (PSB-PE), mas ele tem dito que não quer participar da eleição. Entre os nomes apontados para concorrer pela legenda estão os deputados Tadeu Alencar e Danilo Cabral, que já foram líderes da sigla na Câmara.

Alencar afirmou que a eleição de Pernambuco não será obstáculo para a formação da federação e defendeu a união como estratégia para reduzir a dependência de Lula do Centrão caso ele seja eleito. "Eu tenho uma visão positiva da federação, inclusive para criar um bloco político que faça que um eventual governo progressista tenha uma base parlamentar que diminua a dependência das forças que não querem mudar o Brasil, que estão sempre no entorno de qualquer governo", afirmou.

No Rio, apesar dos acenos constantes de Lula à pré-candidatura de Marcelo Freixo (PSB) ao governo, há também empecilhos. O presidente da Assembleia Legislativa, André Ceciliano (PT-RJ), quer ser candidato ao Senado, algo que esbarra na intenção do deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ), que almeja o mesmo cargo.

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