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Lula foca combate à fome, busca evangélicos e tenta conter avanço de Bolsonaro

SÃO PAULO e BRASÍLIA

A campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) traça estratégias para conter a recuperação bolsonarista no Rio de Janeiro e em São Paulo, além dos impactos do auxílio concedido pelo governo federal.

A ideia é que Lula repise o discurso adotado até então com foco em temas relacionados à economia, como a fome e a pobreza.

Pela lei, o período eleitoral começa oficialmente nesta terça-feira (16) —apesar de o clima eleitoral já estar instaurado desde o começo do ano. Neste mês, também terá início a propaganda de rádio e televisão obrigatória.

A orientação na campanha é manter a luz sobre a pauta relativa à "vida do povo", como pobreza, miséria, fome e desemprego, comparando o atual governo com as gestões de Lula, sem cair na agenda do presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados, na seara dos costumes.

A ideia é insistir na candidatura de Lula como fruto de um movimento amplo. A coligação reúne nove partidos: PT, PSB, PSOL, Rede, PC do B, PV, Solidariedade, Avante e Agir.

Lula deverá concentrar sua campanha no Sudeste, região que reúne cerca de 42% do eleitorado. Como a Folha mostrou, a campanha petista constatou uma ofensiva do bolsonarismo em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde o ex-presidente deverá intensificar a agenda.

Os primeiros comícios de Lula serão no Sudeste. Estão previstos atos em Belo Horizonte (Minas Gerais), na próxima quinta (18), no vale do Anhangabaú, em São Paulo, no dia 20, e no Rio de Janeiro (ainda sem data definida).

Para mitigar resistência do eleitorado paulista, a campanha conta com o vice de Lula, Geraldo Alckmin (PSB), que governou o estado por 16 anos. O ex-tucano deverá investir em segmentos como o agronegócio, o empresariado e setores religiosos mais conservadores.

A campanha também fará um esforço para atrair o voto evangélico, em que Bolsonaro avançou. A última pesquisa Datafolha, divulgada em julho, mostra que o presidente conseguiu uma dianteira de dez pontos em relação a Lula nesse segmento: 43% a 33%.

pastor Paulo Marcelo Schallenberger, convocado pelo PT para dialogar com o setor evangélico, afirma que se reuniu com Alckmin nesta semana, a pedido da campanha, e sugeriu um contra-ataque.

Primeiro, que Lula organize uma conversa nas redes sociais para "desmontar as teses" propagadas contra ele e para que o petista mostre como foi o tratamento dele ao setor evangélico durante os seus governos.

"Há uma narrativa que está sendo espalhada dentro das igrejas de demonizar a figura do ex-presidente Lula. Considero isso o novo kit gay. É preciso que a campanha faça um contra-ataque e um aceno mais direto aos evangélicos", diz o pastor.

"A história do Lula é mais forte que qualquer fake news. Foi o Lula quem, em 2003, regulamentou a lei da liberdade da organização de igrejas. Mais do que qualquer mentira, é uma demonstração clara que o respeito que o Lula tem pela liberdade religiosa e em especial pela comunidade evangélica", afirma o prefeito de Araraquara, Edinho Silva, um dos coordenadores de comunicação da campanha.

O pastor Paulo Marcelo também sugeriu a realização de um grande culto pentecostal em São Paulo com lideranças evangélicas e que conte com a presença de Lula e Alckmin. Na avaliação dele, é preciso que a campanha também use as propagandas de televisão para fazer um aceno a esse segmento.

Representantes da coordenação da campanha de Lula têm afirmado que é preciso fazer a campanha nas ruas, e, para isso, é preciso ter alto engajamento da militância, mostrando a força da candidatura.

Em outra frente, também avaliam que é preciso fortalecer a campanha nas redes sociais.

apoio da cantora Anitta à candidatura de Lula e a chegada do deputado federal André Janones (Avante-MG), que desistiu de concorrer à Presidência, são apontados como exemplos para fortalecimento da campanha nas redes sociais, onde bolsonaristas têm forte atuação.

As conversas com a cantora, que tem 63,1 milhões de seguidores no Instagram e 17,9 milhões no Twitter, têm sido intermediadas pela socióloga Rosângela da Silva, a Janja, que é casada com Lula.

Além de alto engajamento nas redes, Janones também tem sugerido elementos que podem ser incorporados à comunicação da campanha, como a adoção de uma linguagem mais direta e informal.

"O apoio do Janones é fundamental para nossa campanha. Ele é uma liderança política que tem uma audiência fortíssima nas redes sociais e ele dialoga principalmente com a população que recebe de 0 a 5 salários mínimos, que também é a base do presidente Lula", diz Edinho Silva.

Neste sábado (13), por exemplo, Lula fez um live com Janones em que falaram sobre o Auxílio Brasil e disseram que o presidente não dará continuidade ao benefício com esse valor, o que Bolsonaro nega.

Candidato à Presidência com maior tempo de televisão, Lula deve ter cerca de 3 minutos e 20 segundos a cada bloco de 12min30seg, além de uma média de 7,5 inserções diárias de 30 segundos veiculadas nos intervalos comerciais das emissoras.

campanha já tem em mãos uma peça publicitária que irá atribuir a Lula a gênese dos programas sociais do Brasil. Ela diz que o auxílio de R$ 600 do governo Bolsonaro tem hora para acabar e é de caráter eleitoreiro. Em contraposição, numa eventual gestão petista, ele seria permanente.

Apesar do desejo de vitória no primeiro turno, membros da coordenação da campanha reconhecem que é grande a chance de haver segundo turno.

Na tentativa de ampliar sua vantagem, uma estratégia do partido é atrair votos de indecisos. Segundo o ex-governador do Piauí, Wellington Dias, pesquisas mostram que, dentre os 27% que não votam em Lula nem em Bolsonaro, um terço tem o petista como segunda opção.

A intenção é atrair já no primeiro turno uma fatia desse grupo, que representam votos nulos e em branco, além de eleitores de outros candidatos.

Segundo o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que integra a coordenação da campanha, os movimentos em defesa da democracia poderão contribuir para o voto útil em Lula.

Ele diz acreditar que eleitores de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) poderão migrar para Lula, caso Bolsonaro siga com discursos golpistas.

 

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