Busque abaixo o que você precisa!

Bolsonaristas fazem cerco à agenda de Lula, e PT evita expor ex-presidente

BRASÍLIA e SÃO PAULO

A pouco mais de dois meses do início oficial da campanha eleitoral, apoiadores de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) dão amostras nas ruas do clima de polarização que permeia a disputa presidencial deste ano.

A preocupação com a segurança, que já era uma constante na cúpula do PT, intensificou-se neste último mês e ficará evidenciada nos próximos eventos.

O ex-presidente cancelou, por exemplo, a viagem que faria a Santa Catarina na quinta-feira (2). Uma das razões foi a ausência de local adequado para realizar os eventos que gostaria, segundo a equipe de segurança do petista.

Nesta quarta-feira (1º), Lula vai ao Rio Grande do Sul e também teve de adaptar a agenda para evitar lugares em que ficasse muito exposto.

Desde que aumentou o número de viagens, no início de maio, o pré-candidato petista convive com protestos de bolsonaristas.

Mesmo que esparsas, as manifestações de aliados do presidente da República são agendadas com antecedência e já obrigaram a pré-campanha de Lula a reorganizar rotas do ex-presidente previamente marcadas, como ocorreu em ida a Juiz de Fora (MG).

A vereadora Carla Ayres (PT-SC) conta que Lula gostaria de fazer um ato aberto em Florianópolis, mas a previsão de chuva e a recomendação da equipe de segurança para que o evento fosse em local fechado brecaram a agenda. Isso porque não foi possível achar um lugar mais amplo.

Segundo o presidente estadual do PSB, Cláudio Antônio Vignatti, a equipe de segurança do ex-presidente visitou a associação de servidores da Eletrosul, onde ocorreria uma das agendas —e desaconselhou a realização ali.

Uma das causas, segundo ele, é que a área tinha capacidade para 1.000 pessoas e já havia 3.000 cadastrados.

No caso de Santa Catarina, um fator político também pesou para o cancelamento.

O PSB decidiu recomendar o adiamento devido à falta de consenso acerca do candidato ao governo do estadual da coligação –lá, Dario Berger (PSB) e Décio Lima (PT) postulam o posto– o que dificultaria a presença de ambos no palanque do ex-presidente.

Em outro caso, Lula havia manifestado desejo de caminhar pelo centro de Porto Alegre. A ideia, porém, teve de ser abortada devido à concentração de prédios no local, de onde pessoas poderiam arremessar objetos.

O grande ato político da agenda do Sul ocorrerá em local fechado, num estádio, com capacidade para 7.000 pessoas.

A recomendação do comando da campanha é que 3.000 fiquem do lado de fora, fazendo um cordão de isolamento na área. O mesmo ocorreu em Juiz de Fora, onde uma reunião com prefeitos foi transferida às pressas de endereço.

O público que participará do ato é previamente cadastrado pelas delegações de partidos. No Rio Grande do Sul, serão sete siglas.

Chegando ao estádio, os participantes serão submetidos a detector de metal, como tem ocorrido em outros eventos da pré-campanha, e passarão por uma fila montada segundo ordem alfabética.

Também receberão uma pulseira que dá acesso a diferentes áreas. No local, será proibido o uso de cartazes com nomes do candidato porque podem ser usados por algum infiltrado para ferir militantes.

Apesar dos cuidados, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, nega que haja alguma diretriz na pré-campanha no sentido de evitar a ida de Lula a ambientes não controlados.

"De jeito nenhum [há diretriz]. Aliás, se fosse diretriz, o presidente não ia cumprir porque ele gosta é de ficar com o povo", diz Gleisi.

No entanto, até o momento o ex-presidente não participou de eventos e agendas com a presença de opositores.

Segundo integrantes da cúpula do PT ouvidos pela reportagem, há na pré-campanha quem defenda justamente que Lula privilegie os ambientes só com a presença de apoiadores.

Este é um debate que ocorre desde o ano passado, mas o ex-presidente sempre rechaça essa ideia quando lhe é sugerida.

Segundo relatos, há ainda representantes da pré-campanha que advogam que o ex-presidente use colete à prova de balas nas suas agendas externas —o que o petista refuta.

Lula tem afirmado que quer viajar pelo Brasil e que sua campanha não será só pelas redes sociais.

"Tem gente que acha que não precisa mais fazer campanha com comício, é só pela rede social. Quem quiser ficar na rede social, que fique. Eu vou viajar o Brasil, quero conversar com o povo brasileiro", disse em evento da executiva nacional do Solidariedade, no começo de maio.

De acordo com o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que irá atuar na pré-campanha, é preciso ter cuidado no deslocamento do petista em suas agendas. "Todo deslocamento será uma dor de cabeça grande. É um ajuste que vamos ter que fazer sempre na campanha", diz.

"Não estamos antagonizando com um candidato em circunstâncias normais, mas sim com um criminoso. O Bolsonaro é vocacionado ou a matar ou a incitar contra a vida das pessoas. Ele ficará o tempo todo incitando um atentado contra o Lula", continua.

Uma ala do PT minimiza os protestos bolsonaristas, dizendo que até então eles têm sido pequenos, e afirmam por ora não ver caráter de atos organizados.

Isto é, a avaliação é que os apoiadores de Bolsonaro tomam conhecimento das agendas de Lula por reportagens na imprensa, e não por redes de infiltrados na pré-campanha petista.

O tema da segurança foi abordado na primeira reunião com Lula, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), que será seu vice na chapa presidencial, presidentes e representantes dos partidos aliados, na semana passada.

O presidente do Solidariedade, Paulinho da Força (SP), disse na ocasião que está preocupado com a exposição de Lula e de Geraldo Alckmin e que é necessário reforçar a segurança do ex-presidente. Outros presentes à reunião concordaram. Lula, porém, ficou em silêncio.

Aliados do ex-presidente argumentam que Bolsonaro e seus apoiadores farão o possível para tumultuar o processo eleitoral vão se utilizar da violência como um instrumento.

Por isso, acreditam que os atos violentos só tendem a aumentar conforme o andamento do processo eleitoral e diante das seguidas declarações de Bolsonaro.

Segundo o ex-governador Wellington Dias (PT-PI), a ordem é "não entrar na onda de provocações, mas também não descuidar". "A tensão, o espalhar de ódio e as mentiras levam a riscos. Não abrimos mão de ir ao povo, mas cada vez com mais cuidados", diz ele.

O ex-governador também afirma que governos estaduais têm colaborado nas agendas externas de Lula, assim como a polícia. "Ao contrário do que dizem, muitos policiais federais e estaduais, civis e militares atuam de forma profissional, na inteligência, prevenção e para evitar atos de violência", diz.

O próprio Lula tem reforçado em conversas reservadas e eventos públicos a orientação para que os seus apoiadores não provoquem, nem caiam em provocação. O ex-presidente tem aproveitado essas oportunidades para lançar o mote de que essa será a campanha do "amor" contra o "ódio" de Bolsonaro.

No último dia 5 de maio, durante viagem a Campinas, o carro em que estava Lula foi cercado por bolsonaristas.

A manifestação ocorreu em frente a um condomínio onde Lula esteve no local para um almoço. O incidente ocorreu no momento em que ele deixava o local.

Em 11 de maio, Lula foi a Belo Horizonte, onde também enfrentou protestos bolsonaristas. Depois, em Juiz de Fora, uma das agendas teve de ser alterada. Lula se reuniria com líderes locais em um hotel, vizinho a uma concentração de bolsonaristas, mas o encontro foi transferido.

Houve clima de tensão. Um policial militar apontou arma a um grupo do MST que esperava por Lula na cidade, mostra vídeo publicado nas redes.

Reportagem da Folhamostrou que a polarização eleitoral entre Bolsonaro Lula e a perspectiva de uma disputa acirrada levaram a Polícia Federal a reforçar o esquema de segurança de candidatos à Presidência para este ano.

Nesta terça (31), a PF se reunirá com as equipes de cada pré-candidato para apresentar o plano de proteção de presidenciáveis.

União Brasil libera apoio a Bolsonaro mesmo com lançamento de pré-candidatura de Bivar

Por Lauriberto Pompeu / O ESTADÃO

 

BRASÍLIA – O presidente do União BrasilLuciano Bivar, vai lançar oficialmente sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto em ato nesta terça-feira, 31, no momento em que a terceira via tenta acordo em torno do nome da senadora Simone Tebet (MDB). Até mesmo em seu próprio partido, porém, Bivar é considerado um nome que entra no páreo apenas para negociar a retirada mais adiante.

 

Integrantes do União Brasil dizem que receberam aval do partido para apoiar o presidente Jair Bolsonaro (PL) logo no primeiro turno. Afirmam, ainda, que a ofensiva para ter Bivar como candidato reflete uma estratégia que tem como objetivo rachar a terceira via e auxiliar na tentativa de reeleição de Bolsonaro.

 

“Apoio ao Bolsonaro permanece. O acordo que fiz com o partido foi para que ele me deixasse livre para apoiá-lo”, afirmou ao Estadão o governador do Amazonas, Wilson Lima, que trocou o PSC pelo União Brasil e vai tentar a reeleição.

Deputado federal por Pernambuco, Bivar já foi candidato a presidente em 2006, quando ficou em último lugar, com 0,06% dos votos válidos. Dono do maior fundo eleitoral e partidário, com uma cifra que se aproxima de R$ 1 bilhão, e do maior tempo na propaganda eleitoral gratuita, o União Brasil, porém, é alvo da cobiça de vários pré-candidatos a presidente, que vão de Ciro Gomes (PDT) a Bolsonaro.

Em mais de uma ocasião, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, manifestaram o desejo de ter o novo partido - fruto da fusão entre o DEM e o PSL - na coligação do presidente.

Na prática, o União Brasil já abriga muitos apoiadores de Bolsonaro. A deputada Clarissa Garotinho (RJ), por exemplo, é uma delas. Em diversas postagens nas redes sociais, ela elogia o atual governo.

Assim como o governador do Amazonas, Clarissa afirmou que Bivar não proibiu o apoio a Bolsonaro. “O Bivar tem deixado a bancada muito à vontade. Ele entende que todo mundo tem uma posição construída até aqui”, disse a deputada. “Se o Bivar for candidato, o partido no Rio, enquanto instituição, vai apoiar a candidatura oficial do partido, mas o Bivar tem deixado a bancada liberada.”

Inicialmente o União Brasil fazia parte do grupo da terceira via, composto pelo MDB, PSDB e Cidadania - legendas que se autointitularam como “centro democrático” - e dizia estar interessado em construir uma candidatura única para se contrapor a Bolsonaro e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

No início deste mês, no entanto, o União decidiu sair do grupo e anunciou que lançaria a pré-candidatura de Bivar, mesmo sem acordo com os outros partidos. O MDB e o Cidadania já anunciaram apoio à pré-candidatura de Simone Tebet e a tendência é que a cúpula do PSDB siga o mesmo caminho.

Como mostrou o Estadão, a iniciativa de não se aliar às outras siglas da terceira via ocorreu após pressão do Palácio do Planalto, que ameaçou retirar cargos controlados por dirigentes do União.

O líder do partido na Câmara é o deputado Elmar Nascimento (BA), padrinho político do presidente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), Marcelo Moreira Pinto. Relator do orçamento de 2021, o senador Márcio Bittar (União-AC) também é, atualmente, um dos principais aliados de Bolsonaro no Congresso. Bittar foi um dos mais beneficiados pelo orçamento secreto. O esquema, revelado pelo Estadão, consiste no pagamento de emendas de relator a redutos eleitorais dos parlamentares, em troca de apoio ao governo no Congresso.

Uma aliança formal com o PL de Bolsonaro, porém, é considerada muito difícil pela cúpula do União Brasil por causa de arranjos estaduais. O ex-prefeito de Salvador ACM Neto é um dos que mais tentam se descolar da imagem de bolsonarista. Pré-candidato a governador da Bahia, onde Lula tem altos índices de popularidade, e rival histórico do PT no Estado, Neto já disse que não dará palanque a nenhum candidato a presidente.

“Essa pré-candidatura não conflita com a posição de independência de cada Estado”, afirmou o ex-prefeito de Salvador, que é secretário-geral do União Brasil. “No nosso caso aqui na Bahia, (a decisão) é de não ter candidatura à Presidência oficial. É deixar o palanque aberto.”

Na prática, a ideia de lançar Bivar à sucessão de Bolsonaro atende aos interesses de diferentes alas da legenda. Com uma candidatura própria, líderes do partido não ficam obrigados a dar palanque para candidatos da terceira via e nem para Bolsonaro no Nordeste, região que é majoritariamente petista. Mesmo assim, os parlamentares e candidatos a governos estaduais têm aval da cúpula da legenda para apoiar Bolsonaro logo no primeiro turno.

Oficialmente, no entanto, há os que rejeitam o rótulo de candidatura de fachada do partido. “Bivar será o presidente de todos os brasileiros, não só dos filiados do União Brasil. Nós, inclusive, vamos contar com o apoio de simpatizantes de outros partidos, nesta construção de uma alternativa viável para o Brasil”, disse o deputado Celso Sabino (PA).

Em 2019, Bivar presidia o PSL, então partido de Bolsonaro. Após uma disputa pelo comando, o presidente deixou a legenda. Tentou criar um partido, o Aliança pelo Brasil, mas não conseguiu.

O União Brasil também sepultou a pré-candidatura do ex-juiz da Lava Jato Sérgio Moro à Presidência. Após rápida passagem pelo Podemos, Moro se filiou ao União no fim de março ainda falando em construir uma candidatura ao Planalto. Teve, porém, sua pretensão enterrada por ACM Neto e pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado. Os dois ameaçaram até mesmo pedir a desfiliação dele, caso insistisse na pretensão de ser candidato a presidente pelo União.

A avaliação de Neto e Caiado, as duas principais apostas do União nas eleições estaduais, é a de que a vinculação a uma possível candidatura de Moro atrapalharia tanto quem concorre em um Estado no qual Bolsonaro tem maioria de votos quanto quem disputa numa região considerada lulista.

Pesquisa FSB/BTG: Lula sobe 5 pontos e vai a 46%; Bolsonaro se mantém estável, com 32%

Por Gustavo Queiroz / O ESTADÃO

 

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conquistou um número maior de potenciais eleitores no último mês, enquanto os demais concorrentes permanecem estáveis, mostra levantamento do Instituto FSB Pesquisa, encomendado pelo BTG Pactual. Na rodada de entrevistas publicada nesta segunda-feira, 30, a primeira sem o ex-governador João Doria (PSDB), o petista aparece com 46% das intenções de voto, cinco pontos a mais que um mês atrás, enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PL) se manteve no mesmo patamar anterior, com 32%.

 

Na sequência, Ciro Gomes (PDT) tem 9%, Simone Tebet (MDB) aparece com 2 % e André Janones, com 1%. Os demais candidatos, juntos, somam 1%.

Em um segundo cenário avaliado, retirando os candidatos que menos pontuaram do páreo e incluindo nome do ex-governador Eduardo Leite (PSDB) na disputa, Lula teria 41% das intenções de voto, seguido por Bolsonaro, com 31%, Ciro, com 13% e Leite, com 3%. Tebet e Janones ficam empatados, com 2% cada. Entre os entrevistados, 72% dizem que não pretendem mudar de ideia quanto ao voto.

Na pesquisa espontânea, Lula também cresceu cinco pontos porcentuais, subindo de 36% para 41% e Bolsonaro perdeu um, sendo lembrado por 29% das pessoas. Ciro é escolhido por 3% dos eleitores. Felipe D’Ávila (Novo) e Simone Tebet têm 1 cada.

No segundo turno, a vantagem é do petista. Ele vence Bolsonaro por 54%, a 35%.

O levantamento também mostra que a maioria dos eleitores que disseram votar em Ciro e Janones na pesquisa estimulada votariam no ex-presidente em um segundo turno contra Bolsonaro. Já o eleitorado de Tebet pretende anular ou votar em branco se este cenário se confirmar.

Nesta segunda-feira, 30, o Estadão lançou um agregador de pesquisas eleitorais, que usa dados dos levantamentos de 14 empresas, considerando suas peculiaridades metodológicas, para calcular a Média Estadão Dados - o cenário mais provável da disputa a cada dia. Veja mais aqui.

O levantamento foi realizado por telefone, entre os dias 27 e 29 de maio de 2022. Foram entrevistados 2 mil eleitores. A margem de erro é de 2 pontos porcentuais, com intervalo de confiança de 95%. A pesquisa está registrada na Justiça Eleitoral sob o número TSE: BR-03196/2022.

Taxa de acerto de pesquisas eleitorais é 'coelho tirado da cartola' pelo Congresso contra institutos, dizem especialistas

Por Flávio Tabak — O GLOBO

 

Em análise no Senado sob a relatoria de Alexandre Silveira (PSD-MG), o projeto de lei complementar que altera as normas eleitorais vem chamando a atenção dos institutos de pesquisa por uma série de novas regras que podem atrapalhar os estudos de opinião pública. Uma delas é a obrigação de as empresas informarem, no ato da divulgação de seus levantamentos, "o percentual de acerto das pesquisas realizadas pela entidade ou empresa nas últimas cinco eleições", conforme o artigo 571 do projeto aprovado na Câmara.

Sem detalhes, o texto busca estabelecer um conceito considerado obscuro e sem sentido pelo mercado de pesquisa e também estudiosos. Em reunião com representantes da área na semana passada, Silveira sinalizou que poderia reavaliar outras normas também criticadas, como a proibição da publicação de pesquisas na véspera das eleições, estabelecendo como data-limite do último levantamento a sexta-feira pré-votação; e a divulgação, um dia antes, do roteiro do entrevistador, o que poderia resultar em intimidações e tentativas de fraudar ou atrapalhar o trabalho dos profissionais.

No entanto, segundo participantes da reunião com o senador, a previsão do "percentual de acerto" foi considerada a mais difícil de ser retirada, o que deixou os especialistas em alerta. Sociólogo e cientista político, Antonio Lavareda explica que não há paralelo, no mundo, de uma previsão imposta por lei que obrigue pesquisadores de opinião pública a registrar um índice de resultados "certos". Segundo ele, o texto em análise no Senado ignora a real dinâmica da opinião pública, que não pode ser congelada a partir de um levantamento para um juízo de valor, dias depois, sobre sua confirmação ou não.

— O Congresso está numa vendeta contra os institutos de pesquisa. Tem um ânimo punitivo e quer exibir à sociedade os erros, equívocos das empresas nas próximas eleições. Foi um coelho tirado da cartola pela Câmara. Existe uma tentativa de desacreditar sobretudo os institutos mais tradicionais — afirma o cientista político.

Em artigo publicado recentemente sobre o assunto, Lavareda chama a atenção para a diferença entre pesquisa de opinião e prognóstico. Agregadores de pesquisa, por exemplo, usam modelos estatísticos sofisticados para calcular o próximo ponto da curva da opinião pública em uma eleição, por exemplo. Sites como os americanos RealClearPolitics, que existe há mais de 20 anos, ou o FiveThirtyEight, fundado em 2008, trabalham com esse método e buscam, a partir da reunião de diferentes bases de dados, tanto calcular a média entre várias pesquisas quanto apontar qual será o comportamento da opinião pública em um futuro próximo.

No entanto, os grandes institutos de pesquisa do Brasil, que são o alvo de um bloco inteiro do novo código eleitoral, não fazem esse tipo de trabalho. A partir de diferentes métodos, que envolvem pesquisas presenciais, por telefone, digitais ou híbridas, capturam as opiniões dos entrevistados naquele momento. No dia do encontro dos eleitores com as urnas, porém, inúmeros fatores entram em jogo, como o chamado "voto estratégico" e os efeitos conhecidos e estudados há décadas como bandwagon underdog, que nada mais são do que tendências a apoiar o líder nas pesquisas ou o voto em solidariedade ao candidato que está perdendo, respectivamente.

As abstenções e votos nulos e brancos também são um fenômeno difícil de ser estimado com precisão, argumenta Lavareda. "O elevado comparecimento na última presidencial americana surpreendeu os analistas. Em Portugal também. Em direção oposta, na França, poucos dias atrás a abstenção foi recorde. Em países de voto obrigatório, extrair isso das pesquisas é ainda mais difícil", escreveu no artigo.

Boca de urna em baixa

Estabelecer um rigor técnico por lei para o que é acerto ou erro de pesquisas, argumenta Lavareda, confunde conceitos que estão relacionados, mas não podem ser igualados. Quando um eleitor responde a uma pesquisa na rua a um mês ou dois dias de uma eleição, o que está em pauta é sua atitude política naquele momento. Quando modelos estatísticos buscam cravar o resultado das urnas, a análise da vez é sobre o comportamento das pessoas, o que elas efetivamente apertaram ou não apertaram nos locais de votação.

A única pesquisa que se propõe a prever o resultado da eleição é a boca de urna, mas, em função da celeridade da apuração dos votos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), esses levantamentos estão ficando cada vez mais raros.

Ao criticar o dispositivo que prevê o percentual de acertos, o presidente da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep), Duílio Novaes, cita que o artigo veio sem detalhes da Câmara:

— O que seria essa taxa? Incluiria a margem de erro? Não dá para saber o que querem com essa taxa de acerto. O conceito das pesquisas não é acertar, mas retratar a opinião daquela amostra e generalizar para o universo. Em outras palavras, não precisa tomar a sopa inteira para saber se está salgada ou não. Duas colheres bastam.

Novaes diz que existe a tendência de tentar deslegitimar resultados de pesquisas quando não se está de acordo com os números finais, principalmente por políticos. No entanto, isso acontece até com clientes que contrataram estudos e, depois, discordaram dos resultados.

— Fica aquela situação difícil, mas temos como argumentar, mostrar os questionários, os métodos — explica Novaes.

Ao mesmo tempo em que tenta estabelecer uma taxa de acerto, a legislação que ainda será votada pelo Senado inclui também a restrição da divulgação das pesquisas na véspera da eleição, o que tornaria a missão de "acertar" o resultado final das urnas ainda mais improvável.

LULA PRECISA VIVER UMA CAMPANHA DOS SONHOS PARA VENCER NO PRMEIRO TURNO

Mestre em ciência política pela UNB e diretor da consultoria Eurasia Group

última rodada de pesquisas eleitorais reacendeu a discussão sobre uma vitória de Lula no primeiro turno. O cenário ficou evidente no levantamento do Datafolha, que indicou 54% dos votos válidos para o ex-presidente, acima da margem de erro da pesquisa.

Ganhar no primeiro turno está sim ao alcance de Lula, mas não é o cenário mais provável. Para que isso aconteça, é preciso uma conjunção de vários fatores: praticamente uma campanha dos sonhos para o PT. Dentre eles, Lula precisa escapar incólume de ataques cada vez mais duros; Bolsonaro tem que fracassar no esforço de melhorar a imagem de seu governo; e a terceira via - especialmente Simone Tebet e Ciro Gomes - precisa continuar muito fraca.

No primeiro ponto, a rejeição a Lula, a tendência é de haver algum aumento ao longo da campanha à medida que aumente o volume de peças negativas contra o ex-presidente. A lembrança ruim da crise econômica iniciada no governo de Dilma Rousseff, por exemplo, pode ser um calcanhar de Aquiles importante, pois mancha a reputação de Lula e do PT justamente no tema mais importante dessas eleições - a economia.

É preciso tomar cuidado para não exagerar na expectativa de um forte sentimento anti-PT durante a campanha. Mesmo quando Lula estava preso, em junho de 2018, sua taxa de rejeição era apenas 3 pontos superior à atual, segundo o Datafolha (36% vs 33%). Mas a campanha negativa deve surtir algum efeito, e o aumento de alguns pontos porcentuais na rejeição a Lula tenderia a jogar a eleição para o segundo turno.

Sobre o segundo ponto, a aprovação de Bolsonaro, é preciso reconhecer que candidatos à reeleição normalmente conseguem elevar suas taxas de aprovação na reta final da campanha. Os governos concentram as bondades no ano eleitoral, e a propaganda oficial ajuda a lembrar os eleitores das realizações do governo.

Foi o caso de Lula em 2006 e de Dilma em 2014, por exemplo. De fato, está sendo também o caso de Bolsonaro: ainda que o Datafolha mostre um pequeno aumento da rejeição ao presidente em maio, a tendência em relação ao segundo semestre de 2021 tem sido de melhora, puxada em parte pela geração de emprego em alta. A inflação persistente, especialmente em combustíveis e alimentos, é seu maior desafio.

Por fim, para ganhar no primeiro turno, Lula precisa contar com uma terceira via muito fraca. Hoje, Ciro e Tebet não parecem competitivos, e por isso muitos eleitores consideram o voto útil em Lula para derrotar Bolsonaro. Mas isso pode mudar mais à frente, quando Tebet se tornar mais conhecida dos eleitores. Se ela subir nas pesquisas a ponto de parecer uma candidata viável, pode tirar alguns pontos porcentuais de eleitores de Lula que não têm afinidade com o PT. Tebet terá muitas dificuldades para ir ao segundo turno, mas pode se tornar o fiel da balança para evitar uma vitória de Lula ainda no primeiro. O GLOBO

Compartilhar Conteúdo

444