Otimismo de apoiadores de Lula com atos do 11/8 contrasta com avanços de Bolsonaro
O otimismo gerado pelos atos que marcaram a leitura de cartas pró-democracia nesta semana contrasta com dados pessimistas que bateram à porta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Levantamentos analisados pelo partido mostram avanço do principal alvo do manifesto: Jair Bolsonaro (PL) cresceu em Minas Gerais e São Paulo.
É claro que a leitura dos documentos definitivamente não foi notícia boa para o atual presidente.
O texto elaborado por ex-alunos de direito da USP (Universidade de São Paulo) reuniu mais de um milhão de assinaturas, incluindo banqueiros, empresários, advogados e sindicalistas, entre tantos outros.
O movimento foi um rechaço retumbante aos arroubos autoritários de Bolsonaro. No mínimo, serve para ampliar o isolamento do chefe do Executivo em parcela do eleitorado que o apoiou em 2018, antes refratária a Lula.
Por outro lado, não encontra eco em necessidades urgentes da população de baixa renda mais atingida pelos efeitos nocivos da alta de preços.
Foi justamente nesse segmento que a campanha de Lula constatou alta de Bolsonaro e teme evolução ainda maior.
Dado que aliados do petista sentem a consolidação do voto no Nordeste, tudo indica que a disputa mais ferrenha se dará no triângulo do Sudeste (Minas, São Paulo e Rio), e a senha será o discurso da economia.
Já o tamanho do estrago que o discurso golpista terá na campanha de Bolsonaro dependerá do próprio presidente.
Ele promete reação no dia 7 de setembro. Se o presidente dobrar a tática de questionamento às urnas, pode alimentar contra si uma onda capaz de levar setores médios hoje resistentes a Lula a optar pelo petista em nome da estabilidade.
Resta saber se um recuo estratégico pode conter um movimento que outrora ficaria ainda maior.
Instintivo, Bolsonaro influenciará o tom da orquestra a ser tocada a partir do Dia da Independência.
Pacotaço em ação
Neste agosto, o governo Jair Bolsonaro (PL) gastará R$ 12,1 bilhões com o novo Auxílio Brasil de R$ 600 —um salto repentino ante os R$ 7,3 bilhões mensais até então desembolsados pelo programa. No ano eleitoral de 2018, o Bolsa Família gastava não mais de R$ 3,3 bilhões ao mês, em valores corrigidos.
Conforme as estimativas oficiais, o valor ampliado chegará a 20,2 milhões de famílias. Segundo a mais recente pesquisa Datafolha, 1 de cada 4 brasileiros aptos a votar recebe ou mora com alguém que recebe o benefício assistencial.
Também em agosto, os índices de preços ao consumidor devem mostrar nova deflação, repetindo, ainda que em menor intensidade, o que ocorreu em julho. A guinada no custo de vida foi obtida por meio de um corte brutal de impostos sobre combustíveis e energia elétrica, de caráter, em princípio ao menos, temporário.
Na quinta-feira (11), enquanto Bolsonaro minimizava os atos em favor da democracia que reuniram os mais diferentes setores da sociedade, a Petrobras —que passou por duas trocas de comando somente neste ano— anunciava uma queda do preço do diesel, aproveitando-se também de um momento mais benigno no mercado global.
A percepção de melhora material é favorecida, ademais, pela queda consistente do desemprego, que independe de ações de governo e é impulsionada pela recuperação de setores fundamentais como serviços e construção civil.
Difícil imaginar que o pacote descomunal de medidas lançado a três meses do pleito presidencial não vá ter impacto nas pesquisas de intenção de voto. Trata-se, decerto, da maior intervenção econômica num ano eleitoral desde o Plano Real, lançado em julho de 1994.
A comparação, porém, termina por aí. À diferença do programa que controlou a inflação há quase três décadas, o conjunto de providências ora em vigor —que inclui até benesses para caminhoneiros e taxistas— foi instituído às pressas e sem planejamento. Ninguém sabe se e como tudo será mantido depois de fechadas as urnas.
De mais imediato, o pacotaço eleitoreiro dá nova configuração à corrida ao Planalto às vésperas do início oficial da campanha, marcado para terça-feira (16). Bolsonaro, tudo indica, vai temperar sua pregação golpista com propaganda dos feitos econômicos, e a intensidade da primeira dependerá dos resultados dos últimos.
Seu principal adversário, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), se verá compelido a defender os novos benefícios e, ao mesmo tempo, explicar como pretende reequilibrar as finanças públicas em um eventual governo. Nesse cenário, a margem para um debate mais qualificado se mostra estreita.
Ministros do TSE veem 'precedente perigoso' em decisão que mandou excluir vídeos de Lula sobre Bolsonaro
Por Mariana Muniz — Brasília
A decisão do ministro Raul Araújo, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de determinar a remoção de vídeos em que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chama de "genocida" o presidente Jair Bolsonaro (PL), causou preocupação entre demais integrantes da Corte. Na avaliação de magistrados ouvidos reservadamente pelo GLOBO, o argumento usado pelo ministro pode abrir um precedente para o tribunal ser acionado por candidatos em qualquer situação em que se sintam ofendidos, sob o risco de ferir o direito à liberdade de expresão, além de uma enxurrada de ações durante a campanha eleitoral.
Na decisão em que mandou o YouTube excluir os vídeos de Lula, o ministro afirma que "a palavra ou expressão 'genocida' tem o sentido de qualificar pessoa que perpetra ou é responsável pelo extermínio ou destruição de grupo nacional, étnico, racial ou religioso". Araújo escreve, na decisão, que "o genocídio é crime e está previsto na Lei no 2.889/1956, que foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988".
Ministros do TSE ouvidos pela reportagem afirmam, contudo, que a remoção de conteúdos deve ser considerada uma medida extrema e pontual, sobretudo na época da pré-campanha. No entendimento desses magistrados, o adjetivo "genocida" está inserido dentro de um contexto político e, por isso, não deveria ser considerado uma "ofensa à honra". Comparam, por exemplo, a candidatos que chamam seus adversários de "ladrão", como o próprio Bolsonaro costuma se referir ao ex-presidente e adversário na disputa ao Palácio do Planalto.
A questão da ofensa à honra de Bolsonaro por Lula foi justamente um dos pontos considerados por Araújo na decisão de quarta-feira. "Ainda em juízo de cognição sumária, é possível detectar aparente ofensa à honra e à imagem de pré-candidato ao cargo de presidente da República, porquanto a conduta de imputar a determinado adversário político o atributo de genocida poderia, em tese, configurar crime de injúria ou difamação", afirmou o ministro.
Caso Lollapalooza
Esta, porém não foi a primeira vez que uma decisão de Araújo envolvendo manifestações na pré-campanha gerou incômodo na Corte. Em março, o ministro classificou como propaganda eleitoral antecipada manifestações políticas da cantora Pabllo Vittar no festival Lollapalooza. Na ocasião, o PL, partido de Bolsonaro, acionou a Corte após a artista levantar, durante o show que fez no evento, uma bandeira com a foto de Lula. O ministro também determinou uma multa de R$ 50 mil por cada ato de descumprimento da decisão.
No caso do Lollapalooza, Araújo avaliou que os artistas fizeram "comentários elogiosos" a Lula e "pediram expressamente que a plateia presente exercesse o sufrágio em seu nome, vocalizando palavras de apoio e empunhando bandeira e adereço em referência ao pré-candidato de sua preferência". A decisão do ministro foi alvo de críticas na época e considerada como "censura" por juristas. Diante da repercussão negativa da medida, o PL acabou desistindo da ação.
Votar em 'a' ou 'b'?
13 de agosto de 2022 | 03h00
As eleições de outubro aproximam-se a passos largos. Em destaque, no interesse geral, está a campanha presidencial, e até parece que as eleições para os Executivos estaduais e a renovação do Parlamento nos níveis federal e estadual são secundárias. A disputa vai se acirrando e a aposta, na prática, acabou sendo plebiscitária, envolvendo duas candidaturas com posições ideológicas opostas. Os principais focos são os nomes de candidato a e candidato b. É votar à direita ou à esquerda. Em torno desses polos acabam se abrigando as agremiações partidárias menores, jogando com time a ou com time b, apostando na condição de vencedores ou arriscando-se a ficar na posição dos opositores.
No entanto, é mal que se pergunte, quais são, de fato, as propostas e os programas de cada um desses lados para o Brasil? Votaremos no candidato por simpatia ou aversão, ou por propostas e promessas convincentes que, depois, possam ser efetivamente implementadas e cobradas?
A eleição dos deputados e senadores é, certamente, subestimada e a composição do Congresso Nacional e das Assembleias Legislativas dos Estados mereceria maior atenção, pois o presidente e o governador não governarão sozinhos – assim se espera! A menos de dois meses das eleições, quem conhece os candidatos já definidos para as Casas legislativas?
Enquanto isso, aumentam os preços do leite, da carne, do feijão, do arroz, do transporte, do remédio e de tanto mais que se faz necessário para viver e fica cada vez mais fora do alcance da população pobre. O desemprego mantém-se na população mais carente, que sobrevive graças a programas assistenciais e emergenciais. Triste é constatar que a fome voltou a bater à porta de mais de 30 milhões de brasileiros, que precisam fazer uma ginástica sofrida para sossegar o estômago a cada dia. Aumentam os números de moradores de rua e dos que precisam optar entre pagar aluguel, água e luz ou comer, realidade sempre mais constrangedora também na poderosa economia de São Paulo.
Crescem a violência, a insegurança, a crise ambiental e a falta de confiança nas instituições. Tudo culpa da pandemia de covid-19? Da guerra na Ucrânia? Não se desconhece nem se subestima a influência de tais fatores circunstanciais, mas nosso problema não é novo e a atual crise social brasileira é mais velha que esses fatores. As eleições seriam um momento privilegiado de exercício da cidadania e para implementar a convivência democrática. Que pena, estamos desperdiçando energias na reafirmação da confiabilidade das urnas eletrônicas, em vez de empenhá-las, bem melhor, na discussão daquilo que realmente importa para melhorar o Brasil e para abrir horizontes de esperança para os descartados e sofridos, que precisam lutar pela sobrevivência de cada dia.
O que ganha a população pobre com a atual disputa eleitoral? Que perspectivas melhores terá o desempregado, quem faz bico nas calçadas e esquinas movimentadas de nossa cidade? Pode o morador de rua, aquele que vive nas extensas e carentes periferias de nossas metrópoles, ou no profundo interior do Nordeste e da Amazônia, esperar que sua situação mude para melhor com a vitória de time a ou de time b?
O atual clima de polarização ideológica vivido no Brasil não traz boas perspectivas de futuro. Seria tempo de olharmos as eleições como ocasião para mudar o foco para os problemas reais do povo brasileiro no presente e do futuro. Lembro, aqui, palavras do papa Francisco na encíclica Fratelli tutti, sobre a fraternidade e a amizade social (2020). Os problemas atuais, entre os quais a pandemia de covid-19, deveriam ajudar-nos na busca solidária e fraterna de solução, superando agressividades destrutivas e a afirmação individualista. Sem exceção, dependemos uns dos outros e ninguém se salva sozinho. Em vez de construir mundos fechados e levantar muros, é preciso construir pontes e acreditar na colaboração. Populismos messiânicos, de qualquer matiz, já se mostraram danosos e ineficazes para resolver os problemas dos povos. É perigoso acirrar a polarização ideológica, jogando cidadãos contra cidadãos. Que se debatam propostas e projetos.
Há dois modos de enxergar o embate eleitoral que se aproxima: pelo lado dos concorrentes, que envidam suas energias para ganhar o preito. E o olhar do eleitor, que espera mudanças e melhoras em sua vida. É justo que o eleitor se pergunte: que ganho eu com a eleição? Minha situação vai melhorar? A situação do Brasil vai melhorar? Não me refiro à vantagem miúda de um benefício ocasional, eventualmente fruto de corrupção eleitoral. O que importa é perguntar: quem deveria sair mais beneficiado nas próximas eleições? Grupo a ou o grupo b?
Quem, finalmente, deveria ganhar com o resultado das eleições é o Brasil, saindo-se mais apaziguado e esperançoso. Sobretudo o Brasil descartado, pobre, faminto, doente, sem casa, sem trabalho, sem escola, sem esperança. O Brasil de todos os brasileiros, solidário e fraterno, sem derrota nem exclusão. Isso é esperar demais?
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CARDEAL-ARCEBISPO DE SÃO PAULO
Os ‘nomes malditos’ dos governos do PT que Bolsonaro vai trazer para o horário eleitoral
Por Rafael Moraes Moura — Brasília O GLOBO
A campanha de Jair Bolsonaro à reeleição planeja resgatar no horário eleitoral a memória de escândalos de corrupção que abalaram os governos do PT para aumentar a rejeição à figura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O petista lidera as pesquisas de intenção de voto, mas o atual ocupante do Palácio do Planalto tem demonstrado poder de recuperação.A estratégia do marketing de Bolsonaro se baseia em sondagens internas da campanha que mostram que o eleitor que se diz inclinado a votar em Lula hesita e até muda de ideia ao ser exposto a vídeos sobre a corrupção nos governos petistas.
O objetivo é ressuscitar na lembrança popular os escândalos de corrupção do mensalão e do petrolão – principalmente entre os jovens, que eram crianças e não têm muitas lembranças dos governos Lula. Foi com base nessas sondagens internas da campanha que aliados de Bolsonaro definiram a relação de “nomes malditos” associados ao PT que devem ser exaustivamente explorados no marketing eleitoral. Os ex-ministros José Dirceu e o ex-presidente do PT José Genoino, derrubados no esquema do mensalão, e o ex-ministro Antonio Palocci, defenestrado do governo Lula após a quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, deverão ser “estrelas” do programa do PL na TV. Outro personagem considerado explosivo e que vai ser lembrado pela campanha à reeleição de Bolsonaro é o delator Pedro Barusco, ex-gerente da diretoria de Serviços da Petrobras.
Barusco afirmou em delação premiada que, no período de 2003 a 2013, o PT recebeu entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões em propina de 90 contratos firmados pela estatal. O partido rechaça as acusações. “Não é tirar os esqueletos. Eles estão vivos ainda, né?", disse à equipe da coluna o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). "Os efeitos da roubalheira do PT estão vivos ainda no Brasil, tem que lembrar a população qual é a realidade com o PT no governo.” O famoso áudio em que a então presidente Dilma Rousseff fala com Lula sobre a sua nomeação para a Casa Civil também deve ser usado na campanha de Bolsonaro.
Na época, com o governo abalado pelos sucessivos escândalos de corrupção revelados pela Lava Jato e a crescente ameaça de impeachment, Dilma tentou uma última cartada para se manter no cargo, indicando Lula para o cargo mais importante do primeiro escalão. Um grampo telefônico em Lula detectou a conversa de apenas um minuto e trinta e cinco segundos, em que Dilma fala com Lula sobre o termo de posse. "Seguinte, eu tô mandando o 'Bessias' (referência a Jorge Messias, então subchefe de assuntos jurídicos da Casa Civil) junto com o papel pra gente ter ele, e só usa em caso de necessidade, que é o termo de posse, né?", disse Dilma.
O grampo foi interpretado como uma tentativa de Dilma de evitar a prisão de Lula, que teria foro privilegiado ao assumir o cargo. A nomeação do petista acabou sendo suspensa pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o que foi a pá de cal no governo Dilma.