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Lula descumpre promessa e faz campanha 'cheque em branco' sobre plano de governo

SÃO PAULO

A 12 dias do primeiro turno das eleições, a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda não colocou no papel propostas que vêm sendo citadas nos discursos e programas de rádio e televisão do petista.

Na prática, Lula tem pedido uma espécie de cheque em branco em troca do voto, apresentando em troca poucos números e detalhes e mais um alegado compromisso a partir do legado de seus dois mandatos no Palácio do Planalto (2003-2010).

Segundo cronograma original divulgado pela campanha em 6 de junho, a expectativa era a de elaborar um "programa de governo aos moldes das candidaturas modernas, enxuto, didático e inovador, com cerca de 50 páginas" que seria consolidado até 10 de agosto para registro da candidatura junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) —o que, até o momento, não ocorreu.

Ao descumprir essa promessa, a equipe petista apresentou ao tribunal um documento de 21 páginas com diretrizes sobre temas diversos. Nele, por exemplo, não consta a promessa já divulgada pelo próprio ex-presidente Lula da isenção do imposto de renda para o trabalhador que ganha até R$ 5.000.

O documento também não apresenta fonte de recursos para bancar acréscimo de R$ 150 por criança de até seis anos beneficiária do programa Auxílio Brasil, divulgado no horário eleitoral.

Segundo o coordenador de programa da chapa, Aloizio Mercadante, a campanha está apresentando o programa por temas, "com as propostas de maior impacto e respondendo todas as demandas, especialmente da imprensa".

"O programa segue vivo, recebendo propostas e acolhendo sugestões, que foram mais de 13 mil pela plataforma digital e mesas de diálogo com todas as entidades nacionais que nos procuraram. Estamos preparando relatórios temáticos para todas as equipes de transição, se vencermos as eleições", diz.

Um dos argumentos da equipe de Lula é a falta de informações durante o governo Jair Bolsonaro (PL).

Debruçada sobre números do auxílio emergencial com vistas à expansão do programa, a ex-ministra Tereza Campello afirma que "o cadastro único está bastante fragilizado". "Precisamos entrar primeiro. Compreender o cenário e iniciar a reorganização do cadastro único", diz ela.

Já o deputado Alexandre Padilha afirma que Lula tem a plena noção que qualquer detalhamento de propostas nesse cenário de instabilidade poderia fazer com que elas não durassem "nem uma semana a partir de alguma atitude irresponsável por parte de Bolsonaro".

Padilha é um dos que tem sido escalado pela campanha presidencial para dialogar com setores da economia.

Integrantes da equipe de programa afirmam estar produzindo cadernos específicos com propostas a serem encaminhadas à transição em caso de eleição de Lula.

Ao falar sobre economia, Lula nega que esteja pedindo um cheque em branco sobre suas propostas de governo, afirmando que ele tem um legado de seus dois governos para apresentar à sociedade.

Em entrevista a uma rádio em maio, por exemplo, o petista afirmou que aprendeu com o ex-deputado Ulysses Guimarães que "não se fala muito de economia antes de chegar ao governo", porque se falar "nem ganha nem faz".

Lula lidera as pesquisas de intenção de voto. Levantamento do Datafolha de quinta-feira (15) mostrou o petista com 45% ante 33% de Bolsonaro, seu principal adversário na corrida eleitoral.

O ex-presidente tem se amparado com frequência em três palavras que, segundo ele, irão pautar seu eventual governo na área econômica: previsibilidade, credibilidade e estabilidade.

Em seus discursos, também tem citado dados da economia no Brasil antes de ele assumir a Presidência e depois que deixou o cargo. A campanha do ex-presidente também tem explorado a comparação do legado petista e da situação do atual governo federal.

Apesar de indicar algumas propostas em discursos e, mais recentemente, em peças publicitárias na propaganda eleitoral, o petista não se aprofunda em como pretende implementá-las.

Em uma peça publicitária, divulgada no último sábado (17), além do programa Desenrola Brasil aparecem menções a um "salário mínimo forte", com reajuste acima da inflação, e investimento em grandes obras para gerar empregos.

Nessa peça, Lula afirma que irá incentivar o microempreendedorismo e que o "BNDES vai, agora, financiar pequenas e médias empresas". "Nunca este país teve um presidente com tanto respeito e com tanta responsabilidade em tratar a economia como o nosso governo" continua o petista na peça.

O prefeito de Araraquara, Edinho Silva, que integra a coordenação de campanha, diz que Lula é "uma figura pública que todos conhecem" e que o país "sabe que ele governa com responsabilidade, jamais faria propostas que não tivessem viabilidade".

Ele diz que, primeiro, é preciso ganhar as eleições, construir uma governabilidade e, "após isso, estudar o orçamento e ver os possíveis remanejamentos".

"Outras propostas dependem de vontade política e de produtos, plenamente viáveis, que os bancos públicos podem induzir o mercado. Na hora certa, cada proposta prioritária será detalhada", diz Edinho.

O ex-presidente também tem evitado se comprometer com outros temas caso seja eleito.

No debate presidencial realizado em agosto, Lula não assumiu compromisso de indicar mulheres para chefiar ao menos metade dos ministérios em um eventual governo, ao ser questionado.

"Olha, primeiro, eu não sou de assumir compromisso, de me comprometer a fazer metade, a indicar religioso, a indicar mulher, indicar negro, indicar homem. Ou seja, você vai indicar as pessoas que têm capacidade para assumir determinados cargos (...) eu não vou assumir compromisso de que eu tenha que ter determinada pessoa obrigatoriamente porque se não for possível, passarei por mentiroso", respondeu.

Ele também se esquivou de responder em entrevista ao Jornal Nacional, da Globo, se respeitará a lista tríplice na hora de indicar o procurador-geral da República. Lula disse que não queria "definir agora o que eu vou fazer".

"Esse negócio de a gente ficar prometendo fazer as coisas antes de a gente ganhar, a gente comete um erro", disse Lula.

Ainda sobre esse tema, o petista afirmou que não busca um "procurador leal a mim" e que, caso eleito, terá reuniões com o Ministério Público para discutir "os critérios que eu acho que é importante para eles e para o Brasil".

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